Homilia

Jesus traz os oprimidos ao banquete do Reino
22/11/2020
Este evangelho[Mt 25, 31-46] traz um ponto de reflexão constante para nossa vida cristã. Foi baseado neste evangelho que Frederico Ozanan fundou os Vicentinos. São Vicente de Paulo, duzentos anos antes, vivia dessa espiritualidade: do serviço ao pobre, ao que sofre. Hoje em dia, continuamos, infelizmente, tendo tantas situações de sofrimento e de injustiça no mundo. Nós vimos, dois dias atrás, um homem espancado em um mercado, depois de agredir um vigia. Ele cometeu um erro, mas isso não justifica que a pessoa seja espancada até a morte. E este homem que foi morto era negro. Então nos vem a pergunta: “se fosse um homem branco, teriam feito aquilo?”. Temos que nos fazer estas perguntas.
Um dia, uma pessoa me perguntou: “por que que fala tanto de negro? Para de falar tanto, fala de branco também”. Mas o que não se percebe é que de branco se fala o tempo inteiro. Quando você assiste novela, a maioria é branco. Agora que começaram a mudar, mas antes você podia contar dois ou três artistas negros. Tudo é baseado na cultura branca. Nós não temos o racismo segregacionista da África do Sul, no qual os negros ficavam em lugares separados dos brancos durante o período do Apartheid. Isso não existe no Brasil. Nós também não temos o mesmo segregacionismo americano, mas não podemos dizer que não temos racismo no Brasil.
Vocês já ouviram falar das conversas que os pais negros têm com os filhos quando tem 10, 11 ou 12 anos? A conversa do pai é – prestem atenção nas palavras –: “filho, quando você for parado pela polícia (não é “se”, é “quando”; ele sabe que vai ser parado porque ele é negro), olhe para o chão, entregue os documentos, seja educado, responda às perguntas, se estiver com tênis novo, leve a nota fiscal na carteira”. Se isso não se chama racismo, eu não sei o que vai chamar. Qual pai branco teve essa conversa com o filho quando tinha 11 ou 12 anos? Nenhum. Isso nem passa na nossa cabeça. E os negros são pouco mais da metade da população brasileira.
Não adianta alguns senhores que se sentam em certas cadeiras dizerem que, no Brasil, não há racismo. Não tem como aparece nos EUA e na África do Sul, mas tem. Pergunte a um negro. Tem a história da moça que foi com a amiga negra fazer comprar no shopping. Ela queria comprar sutiã. Chegaram no shopping e a vendedora se dirigiu somente à branca, nem considerou a negra que estava com ela. Só quando foi informada que a moça negra era a cliente é que se dirigiu a ela. A moça negra disse que queria um sutiã cor da pele. A vendedora pegou todas as variações de bege. Por quê? Porque pensamos que cor de pele é só branca. Isso se chama racismo introjetado e nós fazemos isso todos os dias. A vendedora, que não é mais culpada do que nós, deveria ter perguntado: “é para você? Qual a cor de pele da pessoa?”. Racismo introjetado é isso: se você vai comprar uma tinta e quer tinta cor de pele, ela vai ser bege.
Isso está na nossa cabeça e se chama racismo estrutural. E nós somos culpados? Não! Mas temos que ligar o sinal vermelho e saber que não está certo. Que cor você quer pintar a pessoa? Se for São Benedito, a pele é escura; se for Santa Clara de Assis, então a pele é clara. Do mesmo modo, se é uma mulher negra, as cores de sutiã cor de pele serão dentro do cinza, do negro, do marrom. Nós temos que ligar o sinalzinho vermelho.
Padre, e o que isso tem a ver com o evangelho? Tudo! Porque se o Evangelho não nos incomoda, não nos cutuca, é porque estamos lendo errado. Hoje, no Brasil, amar o próximo é respeitá-lo na sua diferença, é considerar o outro, um cidadão como eu. A lei leiga, ou seja, que não é confessional, reconhece isso: “todos os cidadãos são iguais diante da lei”. Mas, algumas semanas atrás, uma juíza escreveu em uma sentença: “pela raça desta pessoa, a gente já vê que tende ao crime”. Isto é falso e absurdo. Ser cristão, hoje, no Brasil, é ter uma mentalidade antirracista. “Eu era negro e você me respeitou” é o que o evangelho nos fala hoje. Eu era negro e você não fez piada. Eu era gay e você não ficou fazendo chacota da minha cara. Eu era loira e você não me chamou de burra. Inclusive, atualmente, estas coisas dão até cadeia. O Evangelho se atualiza nas várias realidades, por isso é Palavra de Deus. E hoje, no Brasil, ele pede respeito, justiça e honestidade. Olha que coisa horrorosa! A que nível nós caímos! Alguns anos atrás, isso eram coisas quase descontadas pois assumia-se que as pessoas eram honestas. Hoje em dia, ser justo e respeitar o outro virou valor cristão. O evangelho incomoda e nos obriga a tomar atitudes. O que podemos fazer? Parar de fazer piadas sobre negros, sobre gays, loiras. E você vai ver como é difícil parar. Você vai ver como isso entrou dentro da sua cabeça. E para mudar, precisa de esforço.
Vamos aprender: quando estou chegando perto do farol e eu vejo um rapaz negro, eu fecho o vidro? Eu faria a mesma coisa se fosse um branco? Ou a gente faz com os dois ou não faz com nenhum! São coisas para pensar. É o evangelho do julgamento. E isso não é política. Esse é o evangelho que incomoda em uma situação que nós vemos todos os dias. Vamos pedir ao Senhor que Ele nos ajude a nos limpar destas ideias e conceitos podres que colocaram dentro da gente. E que nós não temos culpa. Cuidado. Foi colocado dentro da gente. Anos e anos pensando assim. Mas temos que ter consciência e começar a limpar, olhando para Jesus que, na cruz, que foi o Seu trono, perdoou e levou para junto de si nada menos que um assassino.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade de Cristo Rei (Ano A) – 22/11/2020 (Domingo, missa às 10h).

Fazei o bem com os dons que Deus nos dá
15/11/2020
Tanto o Evangelho da semana passada das virgens, como este de hoje, nos fala da vinda do Senhor e fala aos discípulos de Jesus. Jesus monta esta parábola em volta de um fato histórico: o rei Herodes, o grande, que matou os inocentes, ele foi para Roma e comprou o título de rei. E um grupo de inimigos dele foi logo atrás, só que chegaram atrasados e o rei já tinha comprado o título. Quando eles voltaram para trás, o rei mandou cortar a cabeça de tudo mundo. Jesus usa este fato e conta essa parábola. O rei foi para um país estrangeiro e confiou os seus bens aos seus servos. Ele chamou os servos – este “chamou” é a mesma palavra que se usa quando Jesus escolhe os apóstolos, Jesus passou a noite rezando e, ao amanheceu, chamou os seus discípulos e escolheu 12 entre eles. Esse “chamou” então é uma escolha do Senhor.
Deus nos chama e Deus nos dá talentos: a vida, as nossas aptidões, os nossos sentimentos, nos dá a vida e isso tudo é graça. Se nós nos convencermos de que nós não somos donos nem de nós mesmos, tudo o que temos e somos é graça de Deus, nós vamos começar a cuidar muito melhor disso. E o que somos não é para nós é para a vida do mundo, para que o mundo seja melhor, mas o que é o mundo? Minha família, minha vizinhança, minha comunidade, minha cidade, meu estado, meu país, este é o mundo. Dar frutos: paz, justiça, solidariedade, honestidade, estes são os frutos que Deus quer para nós, além do fato de também testemunhar o Evangelho, testemunhar o nome de Jesus e as opções de Jesus – isso é ser cristão, isso é ser discípulo de Jesus.
Este Evangelho não está falando de problemas bancários de inflação, a preocupação desse Evangelho é outra. Um talento, naquela época era muito dinheiro, eram 6 mil diárias de dinheiro, imagine mil dias são três anos, seis mil é o trabalho com o salário de 18 anos. Um talento é muito dinheiro, então ele entregou esse dinheiro na mão desses servos, para cada um segundo a sua capacidade, pois nós não somos iguais: tem gente que sabe falar bem, tem gente que sabe consertar as coisas, tem gente que sabe ajudar os outros, tem gente que sabe curar feridas, tem gente que sabe fazer comida e tem gente que sabe construir paredes. Cada um segundo a sua capacidade e foi embora e o rei confiou neles, veja só confiança! Quem é este rei? Nesta parábola, é Jesus que confiou aos seus discípulos a Palavra do Evangelho, confiou a nós os mandamentos do Evangelho amai o próximo a ponto de dar a vida por ele e amai a Deus sobre todas as coisas, Deus que é pai de todas as coisas, Deus que é pai de todos, Deus quer que todos tenham vida. E Jesus volta, Ele vai voltar, essa é a nossa fé: Ele prometeu que volta. “Na casa do Pai tem muitas moradas, eu vou e vou preparar para vós uma morada para que onde eu esteja vocês também estejam”, essa é promessa de Jesus e Jesus é fiel. Aqui tem fidelidade: Ele volta! E, quando Ele voltar, Ele vai pedir o que é Dele. “Eu confiei a vocês essa missão, eu dei para vocês os dons necessários para cumpri-la, como que vocês fizeram isso?”, essa é a pergunta. Qual que é o coração dessa parábola? Fidelidade! Ser fiel ao Senhor e ser fiel significa produzir, colocar em prática aquilo que o Senhor nos ensinou, lutar para que os valores de Jesus sejam implantados no mundo, que nós aprendamos que a pessoa que está do meu lado, que todas as pessoas do mundo, começando sempre pelas periferias, pelos últimos, todas são meus irmãos e irmãs! Este é o caminho.
E hoje é dia de eleição e a gente tem que se perguntar: este candidato realmente se preocupa com o povo? Esse candidato realmente se preocupa com as periferias da cidade? Esse candidato está cuidando das coisas básicas para o nosso povo, especialmente, para o povo pobre: escola, educação, saúde? E durante os próximos quatro anos, você tem a obrigação de ir procurando para ver o que está fazendo, se está fazendo esse mundo melhor. É isso que a gente tem que fazer: procurar que este mundo seja melhor, em todos os campos. Tem gente que tem a vocação da vida pública, da vida política, isso é graça de Deus também. Nem todos nós podemos ser políticos, mas todos nós podemos nos preocupar com a vida do povo, isso é política também.
Precisamos ser fiéis. E o que aquele terceiro homem fez? Gente, tem uma situação muito estranha se prestar a atenção no que o rei falou: “você deveria ter pego o dinheiro e colocado no banco”, é o mínimo de interesse por aquilo que era do rei. Você pega o negócio e entrega para o banco, você não faz nada, o banco pensa por você. Se você aplica o dinheiro na poupança, você não precisa ir lá todo mês colocar mais dinheiro, a poupança vai sozinha. Você nem precisa se preocupar, a única preocupação é você dizer: vamos guardar esse dinheiro num lugar seguro, o banco é um lugar seguro. Mas o que este homem fez? Abriu um buraco no chão e enterrou ali aquele talento. Existia um costume hebraico, naquele tempo, que se você caminhasse e por um acaso de repente batesse lá num saco de dinheiro, você podia pegar aquele dinheiro para você, ou seja, isso demonstra que o servo não teve cuidado nenhum com o dinheiro. Ele enterrou lá e se qualquer outra pessoa descobre, leva embora. Ele não mostrou nenhuma preocupação, chega ao desprezo. Ele podia ter chego no fim e falado para o patrão: “eu enterrei, mas acho que alguém levou embora, eu não achei mais”, isso é total desprezo.
Não podemos desprezar o Evangelho de Jesus. Ou nós somos discípulos e discípulas fiéis ou nós estamos na infidelidade. Isso não significa as nossas fraquezas, debilidades, porque Deus sabe tudo isso. Quando Ele nos chama, ele dá segundo a capacidade de cada um. Tem quem tem o ombro fraco, Ele não vai dar peso muito grande. Tem quem tem a mão torta, Ele não vai mandar essa pessoa fazer um bordado. Ele dá segundo a capacidade de cada um.
Vamos fazer o bem, querer bem as pessoas, nos importar com elas, nos preocupar com os pobres, nos preocupar com a nossa esposa, com o nosso esposo, com os nossos filhos. Nos preocupar, nos ocupar deles, conversar com as pessoas, ser honestos. Que coisa horrorosa, gente, temos que chamar as pessoas a honestidade. Que coisa triste. Honestidade tem que ser de todo dia. Temos que aprender a ser pessoas honestas: esse é caminho de Jesus e aprender que o outro e a outra é meu irmão e minha irmã, eu não sou melhor do que eles, estamos todos no mesmo barco e vamos chegar todos na casa do Pai. E o Pai vai perguntar para nós: “que bem que você fez com os dons que Eu te dei?”. É isso que Ele vai perguntar. Ele não vai perguntar dos seus pecados: “que bem você fez?”
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 33° Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 15/11/2020 (Domingo, missa às 10h).

Vigiai e preparai vossas lâmpadas
08/11/2020
Nós estamos no chamado "quinto sermão de Jesus", que também é conhecido por "discurso escatológico", ou seja, discurso sobre as últimas coisas, os últimos dias. E o que acontece? Na primeira parte, Jesus lamenta-se sobre Jerusalém. Esta cidade onde havia o templo. Esta cidade que não acolheu a Palavra e nem os convites de Deus. Esta cidade que matou os profetas e que vai matar o próprio Filho de Deus, que o Pai enviou para anunciar – primeiro aos Hebreus e depois para todo o mundo – a Salvação.
Nesta primeira parte, Jesus vai falar do fim do mundo, do juízo final. Já na segunda parte, que nós vamos ouvir hoje e domingo que vem, qual é a mensagem? Nos primeiros anos do cristianismo, esperava-se que Jesus voltasse em pouquíssimo tempo, antes mesmo que aqueles que conheciam Jesus morressem. O próprio Jesus, na cruz, esperava o fim do mundo. Quando a gente fala que "a esperança é a última que morre", podemos fazer uma analogia com o momento em que Jesus jogou fora essa esperança e falou: "Pai, está em Tuas mãos; é Você quem sabe". Então Jesus morre. Ele entrega tudo para o Pai.
Os primeiros cristãos acreditavam que, realmente, o mundo iria acabar logo. Porém, passam-se algumas dezenas de anos – este Evangelho de Mateus [Mt 25,1-13] foi finalizado por volta do Ano 80, ou seja, cerca de 50 anos após a morte e ressurreição de Jesus. E já aí, a comunidade tinha percebido que o mundo não ia acabar tão logo não.
Então eles encontram nos vários escritos que havia sobre Jesus, esta parábola que fala sobre vigilância, não sobre divisão. Para entendê-la, primeiro nós temos que pensar como era o casamento daquele tempo. O texto não fala de 10 jovens, como traduzimos aqui neste Evangelho. O texto fala sobre 10 virgens. Quando a pessoa lê "dez virgens acompanhando o noivo", logo vem a pergunta na cabeça: "Dez? Vai casar com as dez?". Não. A esposa está esperando ele e as demais jovens são as amigas da noiva que vão acompanhar o noivo em procissão para a casa da noiva. Olha só que interessante: elas irão acompanhar o noivo.
E isso aconteceu de fato. Foi a história de um príncipe daquela época. Ele veio de muito longe, de outro país, e teve um grande problema no caminho. Em vez de chegar às 6 horas da tarde, ele chegou no meio da madrugada. Jesus pegou este fato e contou esta parábola. As amigas da noiva tinham que esperar o noivo a uma certa distância da casa para acompanhá-lo até a casa da noiva. Elas iam com lâmpadas a óleo. E o que acontece? Algumas falaram: "vai que o homem chega tarde... está marcado para as 6 da tarde, mas e se acontece alguma coisa? vamos cuidar". E, de fato, algumas pensaram e se prepararam. Reparem nesta ideia: pensaram e se prepararam. Mas outras pensaram: "Não... ele é um príncipe! Ele vai chegar na hora marcada." E o fato é que ele não chegou. E elas tinham razão: "se a gente colocar óleo na lâmpada de vocês, daqui até a casa da noiva, as nossas lâmpadas vão apagar também. Não tem jeito, vocês terão que ir comprar".
E qual é a mensagem deste Evangelho? Jesus está falando para os discípulos que a vida cristã é vida de perseverança, todos os dias. Nós não sabemos quando o Senhor vai chegar. Enquanto eu estou neste mundo, seja muito ou seja pouco, eu vou fazer de tudo para ser fiel à Palavra de Jesus. O amor ao próximo não é alguma coisa "de vez em quando". O amor ao próximo tem que ser uma disposição do nosso coração sempre. Isso é a vigilância: estar sempre seguindo os passos de Jesus. Porque você não vira discípulo de um momento para o outro. É um caminho, que não se faz instantaneamente. Caminho se faz com um passo após o outro, enfrentando, a cada dia, suas dificuldades, sendo fiel ao Senhor e amando os outros, todos os dias da nossa vida. Isso sim é colocar "óleo na lâmpada".
Jesus diz: "Vós sois a luz do mundo". Como é que nós somos luz do mundo? Perseverando todos os dias, no amor a Deus e no amor ao próximo. Assim, nós somos a luz do mundo. "Ah! Deixa tudo para última hora". E se você não perceber que chegou a última hora, o que você faz? Se você se distrai, se você não tem tempo? Essas moças não tiveram tempo de comprar óleo. Elas tinham que ter pensado nisso antes. Aí vem a pergunta: Nós vivemos realmente esperando a volta de Jesus? Nós acreditamos nisso?
Antes de tudo, nós temos que perguntar se nós acreditamos na ressurreição dos mortos. São Paulo, na primeira carta aos Tessalonicenses [1Ts 4,13-14] – o texto mais antigo do novo testamento –, fala sobre a expectativa das pessoas. "Vai vir? Mas quando vai vir? As pessoas estão morrendo. A primeira geração está morrendo". E São Paulo tenta dar uma resposta. Mais para frente, São Paulo também vai se dar conta que não iria ser naquele momento. A mesma coisa para nós: Jesus pode voltar e a história pode terminar, de um momento para outro. E ela termina na morte de cada um de nós. Este é o modo mais comum de nós nos encontrarmos face a face com o Senhor. E, na hora da morte, nós aparecemos exatamente como somos diante de Deus.
E o olhar de Deus é transparente. Ele vê nas profundidades. E ali nós somos trigo ou joio. Ali nós temos ou a lâmpada acesa ou a lâmpada sem óleo, ou seja, apagada. E não tem desculpa. O tempo que nos é dado é graça para amar e servir. É tempo para nós trabalharmos o nosso coração a fim de melhorarmos como pessoas. Para isso que serve o tempo.
E Deus quer nos encontrar em meio a este trabalho. "Ah, ele morreu com 14 anos". Mas estava neste trabalho, da lâmpada acesa. Morreu com 100 anos e passou a vida inteira buscando Deus e amar ao próximo. Está com a luz acesa, estava caminhando. É isso que Jesus pede a nós e é isto que Ele nos fala no Evangelho.
Vamos pedir a Deus que nos ajude, e puxe a nossa orelha de vez em quando, para que acertemos o passo, e possamos nos preparar para ir colocando óleo na lâmpada.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 32° Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 08/11/2020 (Domingo, missa às 10h).

Em Cristo, ressuscitaremos
02/11/2020
Quando a nossa fé é colocada à prova? Na hora em que somos perseguidos por causa do Evangelho, na hora do sofrimento e na hora da morte. Não da nossa morte, mas na do outro – perder pai, mãe, filho, parentes, amigos... Aí é colocada à prova a nossa fé. E a coisa que mais entristece é ouvir da boca de um cristão: "Padre, mas será que tem mesmo?". A nossa fé nasce da ressureição de Jesus; se nós não cremos na ressureição de Jesus, a nossa fé não vale nada! Rezar, vir à missa, todas as práticas religiosas são vãs, não valem nada, se você não acredita na ressureição de Jesus. É a ressureição de Jesus que dá sentido à nossa fé. Sem ela, nós somos pobres idiotas, nada mais do que isso. Como diz São Paulo, se não tem a ressurreição dos mortos, nós somos as pessoas mais lastimáveis do mundo, pois gastamos a nossa vida esperando pela ressurreição ou por algo em que, na verdade, não acreditamos [ref. 1 Cor 15, 12-19]. É só a ressurreição que dá sentido a todos os nossos gestos, a todos as nossas opções como cristãos, e nos dá forças para superar o sofrimento na hora da dor, da doença e da morte daqueles que amamos. E da nossa morte? É a ressurreição de Jesus que vai nos dar confiança na hora da nossa morte. Porque morrer, todos nós vamos. Os velhos morrem, os mais novos podem morrer; mas, da morte, nenhum de nós escapa.
O que é se preparar para a morte? É, conscientemente, agora – porque nós não sabemos quando vamos morrer – nos colocarmos diante de Deus e, de coração sincero, professar a nossa fé e nos entregarmos à Sua misericórdia, como se este fosse o último momento da nossa vida. Nós não sabemos se vamos estar conscientes no momento da morte, a maioria das pessoas não está. É agora: "Jesus, eu me entrego nas Tuas mãos como se este fosse o último momento da minha vida. Chamo, diante de Ti, aquele último momento, que eu não sei quando será e não sei como virá. Professo a minha fé na ressurreição e me entrego, confiante, à Sua misericórdia. Tem piedade da humanidade, porque somos todos pecadores". Essa é a nossa fé.
"Padre, como é que vai ser depois?". Ah, se inventa muita coisa! E, infelizmente, a nossa cultura ocidental é condicionada por dois textos: um é da cultura greco-romana, do autor Virgílio, e o outro de Dante Alighieri, nos anos 1300, que se calca sobre o texto de Virgílio e mostra e fala e delira sobre como vai ser o inferno, o purgatório, o céu... Puro delírio! Nós temos que olhar para o que Jesus nos diz, o que a Escritura nos diz. Ali está a revelação de Deus, e não em poesia, não em mitologia. O que Jesus nos fala? De um juízo em que seremos julgados pelas nossas ações, em que cada um será julgado pelas suas ações. E seremos julgados sobre o que? Sobre o amor. Você fez o bem para alguém durante a sua vida? Essa é a pergunta. E Jesus mostra isso no Evangelho: "Eu tive fome, você me deu de comer? Você deu de beber para quem estava com sede? Era Eu quem estava sofrendo. Você visitou os doentes? Visitou as pessoas que estavam sofrendo com um parente preso? Ou você excluiu as pessoas? Você deixou de amar, deixou de fazer o bem? O que você fez?" [ref. Mt 25, 31-46]. Essa é a pergunta, não tem outra, é essa.
Depois, o profeta Ezequiel nos fala uma visão maravilhosa. Ele está falando do povo de Israel, que está destruído como se fossem ossos secos. Mas nós, cristãos, à luz da ressurreição, reinterpretamos esse texto. O profeta vê essa planície enorme, infinita, cheia de ossos secos, e o Espírito diz a ele: "Profetiza para que estes ossos se unam e, depois, se forme carne". Mas os corpos ainda estavam "sem vida". Não mortos, olha que engraçado, "sem vida". E aí o Espírito de Deus diz a ele: "Filho do homem, ordena ao espírito que venha dos quatro cantos da terra e sopre sobre estes corpos", e todos aqueles corpos retomaram vida [ref. Ez 37, 1-11]. E a continuação dessa passagem: "Meu povo, naquele dia [que é o dia do juízo] Eu vos chamarei dos vossos túmulos [nós podemos dizer "das vossas cinzas", "do vosso nada"] e vocês sairão dos vossos túmulos. E vocês verão [se vê é porque está vivo] que Eu sou o Deus Fiel, digo e faço" [ref. Ez 37, 12ss]. Aqui está a grandíssima fé do povo de Israel, que é a nossa fé. A fidelidade de Deus: Deus não mente. Deus foi fiel no Antigo Testamento; Jesus é Deus que se fez um de nós. O Pai é fiel; o Filho Eterno do Pai, que se fez um de nós, é fiel até a morte. E Jesus nos promete: "Aquele que o Pai me deu, ninguém pode roubar da minha mão. E eu darei a vida eterna àqueles que o Pai me deu" [ref. Jo 6, 37-40]. E quem são os que o Pai deu? Aqueles que fazem a vontade de Deus: que amam os outros, que fazem o bem. Esse é o caminho, não tem outro.
Qual a diferença entre ressurreição e reencarnação? Por isso que quem acredita em reencarnação não é cristão, seja quem for – acreditou na reencarnação, não é cristão. A reencarnação é uma doutrina muito antiga, estranha ao hebraísmo, estranha ao cristianismo, estranha ao mundo islâmico – nós somos as três religiões abraâmicas. Nenhuma dessas três religiões acredita na reencarnação, porque ela prega a chamada "autorredenção": eu me salvo, por meio das várias reencarnações. Que não existe reencarnação, nos diz a carta aos Hebreus: "A vida é uma só, depois da qual vem a morte e o juízo" [ref. Hb 9, 27s). Não tem reencarnação. E o que é a ressurreição? É a revelação de Deus para nós de que, terminada esta vida, por graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, nós entraremos na vida eterna. Por graça. Não é por nossa força, é por misericórdia Dele. Por isso nós dizemos que Jesus é nosso Salvador, nosso Redentor. É Ele que nos salva, é Ele que nos dá vida eterna. Não nós, por meio de reencarnações purificatórias. Graça de Deus. São Paulo vai dizer: "Por graça fostes salvos" [ref. Ef 2, 8a]. Por graça, por misericórdia, por bondade. Caso contrário, morreríamos e acabou. "Por graça fostes salvos". Por graça. Essa é a nossa fé.
"E o que vai ser, padre?". Jesus fala de um banquete, e o livro do Apocalipse nos fala de uma cidade maravilhosa, onde não é necessário nem luz do sol nem luz da lua nem luz artificial: a luz de Deus vai ser a nossa luz! Essa é a imagem que Jesus nos dá, que a Escritura nos dá. Porque o mundo de Deus é de Deus, e o que quer que nós falemos termina no delírio, porque nós não vimos, nós temos que crer na Palavra de Jesus. Maria Madalena, os apóstolos, mais de 500 discípulos viram Jesus ressuscitar; é a partir do testemunho dessas pessoas que nós cremos na ressurreição. Eles viram, experimentaram e nos dão testemunho: o Senhor ressuscitou e, Nele, nós ressuscitaremos também!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Comemoração dos Fiéis Defuntos (Ano A) – 02/11/2020 (Segunda-Feira, missa às 10h).

Amar a Deus amando o irmão
25/10/2020
É muito interessante nós prestarmos atenção, antes do último grande discurso de Jesus – no Evangelho de Mateus, vai ser o discurso escatológico, o discurso das últimas coisas, do juízo. Antes desse discurso, tem esta briga: Jesus debate com o povo, o pessoal fica brigando com Ele o tempo inteiro. E o Evangelho de hoje [Mt 22, 34-40] narra um desses confrontos. Jesus havia calado a boca de um grupo muito feroz, que eram os saduceus, o pessoal dos sumos sacerdotes; agora, são os fariseus que querem encostá-Lo na parede. E perguntam sobre a lei.
A lei tinha mais de 360 preceitos; os fariseus multiplicavam ao infinito cada uma dessas leis – era uma coisa absurda – e davam o mesmo peso para todos os preceitos. Chegou um momento em que certos grupos diziam: "Espere aí, a gente tem que tentar resumir esse negócio". Então encostam Jesus na parede exatamente com essa mentalidade. E Jesus vai dizer: "Pois bem, o primeiro mandamento e maior de todos: 'Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!'". Esse mandamento é tão importante que os hebreus o rezam três vezes por dia, ao amanhecer, ao meio-dia e ao cair da noite. Eles chamam essa oração de Shemá, que significa "escuta" – Shema Yisrael Adonai Elohenu Adonai echad: "Escuta, Israel: o Senhor é o teu Deus, o Senhor é único".
Mas qual pode ser o grande problema desse mandamento? Que nós criemos um Deus à nossa imagem e semelhança. Quantos dos grandes assassinos do mundo não acreditavam em Deus? Quase todos acreditavam, e seriam capazes de repetir esse mandamento de cor. Por quê? Porque nós podemos nos enganar sobre a imagem de Deus, podemos fazer com que as nossas ideias sejam apresentadas como vontade de Deus. Por isso Jesus vai, imediatamente, ligar esse texto que está no Êxodo com outro texto, que está no Levítico: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Por quê? São João vai nos ajudar: "Ninguém jamais viu a Deus" [ref. 1 Jo 4, 12a]. Quem viu Deus? Ninguém! Você já viu Deus passeando por aí? Eu nunca vi. Ninguém vê Deus. Como você pode dizer, então, que ama a Deus, que você não vê, se você não ama o teu próximo, que você vê? [ref. 1 Jo 4, 20]. No Evangelho, Jesus liga as duas imagens: você só ama a Deus se você se compadece do teu irmão que sofre, porque senão o teu Deus é um Deus falso. E o Deus do Evangelho, Pai de Jesus – e o próprio Jesus, que também é Deus –, Ele constantemente "quebra nossa cara" e nossas seguranças.
Papa Francisco, no dia 04 de outubro, assinou uma encíclica chamada "Fratelli tutti", que significa "todos irmãos". Nela, ele faz uma análise muito interessante da realidade atual e mostra qual é o mal do nosso tempo e dos seres humanos. Medo, que é o veneno do maligno; a desconfiança do outro e o individualismo; e a vingança: essas são as três desgraças do nosso tempo, e nós vivemos dentro dessa mentalidade. Nós somos chamados, constantemente, a olhar para essas raízes, que estão dentro dos nossos corações, e limpá-las com o jeito de agir de Jesus. E o Papa vai dizer: "O único caminho possível para a humanidade é considerar o outro, na sua diferença, irmão e amigo". É o único caminho possível para a humanidade, único.
Na missa, nós falamos muitas vezes: "irmãos e irmãs", e nós achamos que isso já é suficiente, que já consideramos todo mundo como irmãos. Mas eu, muito chato, pergunto: você é irmão mesmo? Você perguntou o nome da pessoa que está ao seu lado na missa? Fica sentado quase 1 hora – ou mais de 1 hora – rezando para Deus, e não sabe nem o nome da pessoa que está ao seu lado... Que irmandade é essa? Passa na rua, vê um sofredor de rua e isso, simplesmente, não te diz nada; pior, ainda é capaz de chamá-lo de vagabundo, bêbado. Vai viver naquela situação para ver se você consegue sem "encher a cara"... Temos que aprender a ver os outros como irmãos. Às vezes, nós nem nos preocupamos com o outro, nem pensamos, e fazemos enormes diferenças entre as pessoas. E quando alguém nos chama a atenção, dizendo que isso é um modo de marginalizar as pessoas, a gente se revolta.
Esses dias, o Papa falou sobre a necessidade de respeitar os homoafetivos. Isso virou uma polêmica! Grupos católicos se revoltaram contra o Papa: "Como? Nós temos que excluir pessoas". Estes grupos não entenderam nada do que é o Evangelho, nada! O mundo hoje está simplesmente com os olhos fechados. A comunidade internacional está com os olhos fechados sobre o que estão fazendo na Armênia, que já foi massacrada no começo do século passado. Estão para fazer outro massacre, porque aquilo ali é uma pequena faixa de cristãos no meio de um mundo mulçumano. Os grandes do mundo estão fazendo de conta que não vai acontecer nada, mas está acontecendo horrores por lá. Qual é a ideia? Armênios podem ser exterminados. Mas a gente não precisa nem ir para a Armênia, basta olhar para o Brasil: nas florestas que estão pegando fogo, quantos índios não estão sendo mortos? Não são poucos. Mas índio vale alguma coisa? Nós falamos com desprezo sobre os índios, nós mesmos.
Papa Francisco nos alerta para isto: nós não vemos as pessoas como irmãos. Porque se nós víssemos as pessoas como irmãos e amigos, nós cuidaríamos delas. O mundo, a economia não se sentaria em cima do lucro, desprezando e massacrando as pessoas, empobrecendo as pessoas; a economia funcionaria de um modo mais humano. A política não seria essa guerra idiota, medíocre, mentirosa, que está levando nosso povo a um verdadeiro genocídio. Ninguém está preocupado com o povo. Por quê? Não se olha as pessoas como irmãos e irmãs, como amigos. Só quando você o olha como irmão, como amigo, é que você vai se preocupar com o outro. A vida do outro, conta; a vida do outro é importante. Não os meus interesses pessoais, não o interesse do meu grupinho, não o interesse dos "ricões" que me garantem uma vida boa, fumando charuto – como certos ministros que agora dizem que não têm nem dinheiro para apagar o fogo. Deixa queimar... Depois, as terras queimadas, nós damos aos latifundiários. É uma coisa terrível, gente!
"O mundo olhado pelo sonho da fraternidade". O Papa Francisco fala: "Eu ouso sonhar com isso, porque eu vejo uma realidade onde as pessoas não aprendem a ser irmãos". Eis aí o mandamento de Jesus: ame a Deus amando o irmão. Nós temos que aprender a agir e pensar como Jesus, senão seremos aliados dos fariseus, saduceus, herodianos, sumo sacerdotes – que mataram Jesus porque não aceitaram ser irmãos.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 30º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 25/10/2020 (Missa das 10h).

Como Deus, promover a vida para todos
18/10/2020
Nesses domingos, até os próximos, nós vamos ver Jesus num confronto terrível com os vários grupos que estão no comando de Jerusalém. Hoje são os fariseus – que eram gente muito religiosa, muito observantes e que apontavam o dedo para os outros, dizendo “nós fazemos certo, vocês não fazem” e iam mais longe, diziam “aqueles lá estão excluídos da salvação, aqueles lá não vão entrar no Reino de Deus”. Uma arrogância total religiosa e em pensar que hoje tem gente que faz igual na Igreja Católica, viu gente? É um perigo isso. Jesus fala: “cuidado com o fermento dos fariseus”, porque isso é um mal que pode entrar na nossa vida e na vida da comunidade cristã. É um problema, é um perigo!
Bom, os fariseus são muito religiosos, já os herodianos são a favor da dominação romana sobre a Palestina. Os fariseus não querem os romanos e os herodianos querem. Olha que absurdo, esses dois grupos que são inimigos entre si se juntam para armar uma cilada contra Jesus – isso é perversidade, é maldade, não tem busca pela verdade de nenhum jeito! Eles querem encontrar um modo de condenar Jesus a morte. A Lei de Israel, a Torá, proibia o culto das imagens, porque o povo hebreu era cercado por povos pagãos que adoravam imagens e estátuas – não é a nossa veneração por imagens não, viu gente? A coisa era diferente. E os hebreus então proibiam de fazer qualquer tipo de imagem que reproduzisse as feições de pessoas e de animais. O único animal que às vezes eles colocavam na moeda era uma pombinha, mas na maioria das vezes era um simples ramo de oliveira. Se você vai numa sinagoga, suas paredes são decoradas com ramos, pássaros, flores... você não vê nem animais, como leão, touro, esses animais grandes que outros povos adoravam como deuses; você vê apenas essas decorações mimosas, mas não que lembrem alguém.
Então essas pessoas chegam para Jesus e perguntam – e essa pergunta é terrível – nós temos que prestar atenção: “é lícito ou não pagar imposto?”. Olha a pergunta, pagar imposto à César, César é o imperador, ele ocupou a Palestina e cobrava pesados impostos dos vários povos, Israel não era excluído disso. Então, fizeram a pergunta de tal modo que se Jesus responde deve pagar, ele é a favor de César e vai ser desacreditado pelo povo, principalmente pelos fariseus que querem a expulsão dos romanos. Se ele falar que não deve, ele cai na inimizade de Herodes. Vão dizer a Herodes: “esse sujeito aqui está levando o povo para não obedecer ao imperador”. Qualquer resposta que ele desse sim para um lado, não para o outro, ele estava danado! Jesus percebe o jogo e os chama de hipócritas, a pessoa hipócrita não é preocupada com a verdade, é preocupada consigo mesmo e em se autojustificar. Ela não está nem um pouco se importando com o outro. Aí Jesus fala – tem que prestar atenção, porque é sutil essa coisa: “tragam uma moeda do imposto”. Algum deles enfia a mão no bolso e tira uma moeda romana, que tem o rosto do imperador que era adorado como Deus. Então, Jesus vai desmascarar a falsidade daqueles homens: “de que é essa imagem, que é proibida pela Lei, e que vocês religiosos estão usando?”. Pela Lei, eles não podiam nem tocar numa moeda dessa. “É de César”. Então devolve para ele, mas para Deus, deem o que é de Deus. Aqueles homens estão ali para tentar matar Jesus, Deus quer a vida e vida para todos. Então dê para o imperador o que toca ao imperador e para Deus, deem a autenticidade da vossa vida. Isso é a promoção da vida humana, mesmo que estejamos sobre regime de opressão, cuide da vida humana e não tente destrui-la. Porque o que eles estavam fazendo era tentar encontrar um jeito de condenar e matar Jesus. Olha a contradição que tem nessa passagem. Esse texto serviu para muita coisa ao longo da história: para justificar que a Igreja e o Estado são unidos, que a Igreja e o Estado são separados, foi rolo que não acabou mais. Porém o texto quer dizer isso.
Nós comemoramos o Dia dos Professores, no dia 15, e nós sabemos como está degringolada a educação no Brasil, especialmente nas chamadas escolas públicas. E agora, com a pandemia, teme-se a evasão, ou seja, que muitos estudantes da periferia não voltem para as escolas. Os professores e professoras estão se desdobrando como podem, nos trabalhos on-line, para tentar manter de algum modo a educação possível dos nossos alunos. Possível, porque não é todo mundo que tem internet, não é todo mundo que tem celular, então o negócio é bem complicado. Os nossos professores são verdadeiros heróis! Mas hoje existe um mal, um mal que vem da família, nós facilmente delegamos aos nossos professores e à escola a missão de educar os nossos filhos, ou à catequista a obrigação de introduzir os nossos filhos na fé e na religião. Isso é um erro! A escola, na educação, faz um serviço complementar, fundamental e importante, mas complementar, porque a educação tem que ser dada em casa. O que nós encontramos hoje é a total falta dessa educação de casa nos nossos alunos. Os catequistas e as catequistas fazem um trabalho complementar àquilo que é o trabalho dos pais, que é levar os filhos e filhas ao conhecimento de Deus, a rezar, a participar das celebrações da missa sobretudo. Então nós estamos com um grave problema nas escolas, na catequese, mas por quê? Porque na família, nós estamos faltando com aquilo que é o nosso primeiro dever. Os pais são os primeiros professores e os primeiros catequistas. Por isso, nós vemos os nossos professores hoje cada vez mais estressados, porque tem que enfrentar problemas que não competem a eles, isso deve vir de casa! Mas se em casa não fazem, a gente chega a ver até delinquência dentro de algumas escolas – e não é só escola de periferia não, viu gente? Qualquer escola.
Muito bem, vou fazer só mais um comentário porque fiquei louco da vida com esse comentário essa semana. Pessoal, quando um governo ou um grupo é fraco ou começa a dar sinais de fraqueza, o que ele faz? Isso é estratégia, ele começa a achar um inimigo comum para tentar reunir em volta disso a opinião pública. Atacar esse inimigo comum para criar consenso em volta do líder. Na Argentina, isso ficou bem claro na época na Ditadura, quando fizeram aquela estupida guerra pelas Ilhas Malvinas, que hoje se chamam definitivamente Ilhas Falckland. Em 1989, aquelas ilhas iam passar para a Argentina, era um acordo internacional. Mas a popularidade do governo ditatorial argentino estava indo para o lixo, o que que fizeram? Fizeram uma guerra contra a Inglaterra e perderam. E, naqueles pequenos combates, quatro soldados ingleses morreram. Por lei de guerra, sangue derramado numa terra é teu. A Inglaterra tomou as ilhas e o acordo foi jogado no lixo. Então a Ditadura na Argentina quebrou a cara duas vezes, mas o que eles queriam com tudo aquilo que era uma coisa insana era conseguir a opinião do povo junto deles de novo. Esses dias nós vimos a tentativa da Procuradoria Geral da República, acho que é Procuradoria, não sei como chama... Eles estão tentando descriminalizar a chamada LGTB+ fobia e estão alegando um motivo religioso, para que? Toda vez que um governo (ou até a Igreja, viu?) começa a perder ibope, a gente começa a entrar no campo moral. Se você não tem mais bala no cartucho, não tem mais nada, então você começa com esse tipo de coisa, discurso moral. E os gays são a população mais fácil de perseguir, que dá um ibope danado, porque existe um preconceito terrível dentro da população. Junta vários discursos religiosos, que não são evangélicos, ou seja, não são do Evangelho e ataca um inimigo que praticamente não se vê. O que se vê do pessoal chamado homoafetivo? Travesti? Pouquíssimas pessoas que trocam de sexo? De 5 a 10% da população são homossexuais e isso não é sem-vergonhice. As pessoas nascem assim e se nascem assim é porque Deus quis. E não é da conta de ninguém, nem do padre, nem do Presidente da República, nem do pastor evangélico com quem as pessoas vão para a cama, isso é problema das pessoas. O que conta é que as pessoas sejam honestas, trabalhadoras e, para o Estado, que paguem os impostos. Por que a população não se levanta? Porque nós somos extremamente preconceituosos. Se tirassem, por exemplo, a lei que condena o racismo contra os negros, seguramente o Brasil pegava fogo. Toda vez que você ataca esse grupo é porque você está fraco. Isso é racismo, isso é nojento, isso não é de Deus. Uma religião, seja ela qual for, até católica, não pode excluir pessoas. Todos somos filhos e filhas de Deus. Deus nos salva começando pelas bordas, começando pelos marginalizados, por aqueles que nós jogamos fora. Deus salva a todos, sobre isso nós não temos o que temer, mas começando de lá, de quem tá fora, de quem sofre, de quem morre. O Brasil é o país com maior número do mundo de assassinatos desse pessoal trans, LGBT. São primeiros lugares que a gente não tem que ter orgulho.
Vamos pedir para Deus que nós, cristãos, promovamos a vida. “Dai a Deus o que é de Deus”. Deus quer a vida. E a César, o que é de César. O Estado deve ser amado e defendido naquilo que é bem do povo, a vida do povo, mas não nessas ideologias baratas de um Estado que começa a se mostrar muito degringolado. Alguém pode não concordar, mas ao menos com a primeira parte do sermão concordem porque é a explicação do Evangelho.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 29º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 18/10/2020 (missa às 10h).

Nossa Senhora está ao lado dos que sofrem
12/10/2020
Nestes três textos da liturgia de hoje, temos a "mulher". No Evangelho [Jo 2, 1-11], Jesus não chama Maria de mãe nem a chama pelo nome, mas "mulher". Nas bodas de Caná, acontece o primeiro sinal do Evangelho de João. Jesus diz para sua mãe: "Mulher, o que isso tem a ver comigo? Ainda não chegou a minha hora". Nós temos um outro capítulo do Evangelho de João que vai usar estas mesmas expressões – "mulher" e "hora". Jesus está na cruz e vê, perto Dele, Maria, Sua mãe, e o discípulo amado; e Ele diz: "Mulher, eis aí o teu filho". A cruz é "a hora" de Jesus. No início dos sinais, a mulher está presente – nesse caso, Maria – e ele se refere à Sua hora. Lá, era o início; na cruz é o cumprimento.
Na segunda leitura [Ap 12, 1. 5. 13a. 15-16a] temos, também, a "mulher" do Apocalipse, "vestida de Sol, com 12 estrelas sobre a cabeça e a Lua sob os pés". Essas três figuras de mulher na liturgia representam o povo hebreu fiel. Povo hebreu que continuou esperando na promessa de Deus. Deste povo, Maria é a pedra preciosa. E olhando o Evangelho, vemos Maria – que representa o povo de Israel – chegar para Jesus e dizer: "Não tem mais vinho". O que quer dizer isso? Será que Maria está se intrometendo na festa dos outros? São João, um grande teólogo, está falando muito mais do que isso. Maria, que é a representante do povo fiel que espera nas promessas de Deus, vai dizer: "Não tem mais vinho" – acabou a festa, não tem mais alegria, as nossas esperanças acabaram.
"Estavam ali seis talhas de pedra". A lei de Moisés era chamada "as pedras". Nas bodas, as talhas de pedra estavam vazias – ou seja, a lei antiga não dava mais vida, não tinha mais sentido, tornou-se estéril, vazia. Porém, o povo fiel continua esperando e vai à única pessoa que pode dar vida nova, "vinho novo". Por isso Maria diz: "Acabou" – nós não temos mais vida, não tem mais alegria; a lei antiga não nos dá mais nada nem deu o que deveria dar: paz, justiça, solidariedade entre as pessoas, respeito... Nós não nos tornamos um povo livre por dentro, nos tornamos escravos de nós mesmos; criamos uma religião que é tão escravizadora quanto o Egito. Nós não temos mais nada.
Jesus diz: "Encham-nas com água". Onde nós temos água, na Sagrada Escritura? Primeiríssima página da Gênese: "No início, o Senhor criou o Céu e a terra. A terra era informe, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas" [ref. Gn 1, 1s]. Jesus está recriando o mundo! Jesus vai dar ao povo a água viva! Ele vai falar sobre isso lá para a samaritana: "Aquele que crê em mim terá em si a água da vida" [ref. Jo 4, 14]. Não mais a lei externa, não mais a lei que não cumpriu o que deveria; mas a "lei da liberdade", como diz São Paulo, a lei que nos faz todos irmãos e irmãs, a lei do mundo novo – mundo novo que já pode começar aqui, se nós, realmente, vivermos como irmãos e irmãs.
E nós temos esse mordomo, que experimenta o vinho e diz: "Nossa! O vinho bom a gente dá ao povo quando chegam à festa. Vão elogiar o noivo: 'Nossa, que vinho ótimo'. Depois, quando já estão todos meio embriagados, damos o vinho menos bom. Mas não, o vinho bom você guardou até agora". "Agora" é a hora da alegria, da alegria do Reino! A vida nova chegou "agora"! E é interessante como termina essa passagem do Evangelho: Jesus volta para casa e, com Ele, vão Maria e Seus discípulos. O Reino de Deus começa de uma forma pequena, e vai se tornar vida nova para o mundo.
Nossa Senhora Aparecida é sempre a única e mesma Maria de Nazaré. Em 1717, o Estado de São Paulo estava quase abandonado, e o rei de Portugal mandou um novo governador, o Conde de Assumar, que fez uma verdadeira peregrinação por toda a província, a capitania de São Paulo, que ia até Minas Gerais. Ele passou por São Bernardo – que foi revitalizada por esse conde, depois de ter quase desaparecido – e foi indo para o interior até chegar perto de Guaratinguetá. Lá, ele parou para ficar por apenas um dia. O prefeito da cidade, então, quis servir-lhe um superbanquete, com peixes do lugar. Só que aconteceu uma desgraça no fim da tarde: uma chuva acabou com toda a estrada – e, naquele tempo, não tínhamos rodovias, era tudo lama, barro. Então o conde, que ia ficar só para uma janta, acabou ficando por 15 dias, porque não dava para seguir caminho enquanto as estradas não secassem. E não era tempo de peixe – para uma vez, se conseguia; para duas, talvez; mas para 15 dias, não. E o prefeito ficava em cima dos pescadores...
Então nós temos esta história, que nos lembra muito a da pesca milagrosa [ref. Jo 21, 1-6]. Esses três homens passam a noite pescando e, ao nascer do sol, não têm peixe nenhum. Um deles, diz: "Lancemos a rede uma última vez, em homenagem à Mãe de Deus". Jogam as redes e recolhem essa estátua pequena, terracota, enegrecida das águas sujas, lamacentas do Rio Paraíba do Sul. Entusiasmados, jogam a rede de novo, quase num ato de loucura, e pescam uma quantidade absurda de peixes, juntamente com a cabeça da imagem. Com grande devoção, um deles enrola aquela imagem nos trapos que eram sua camisa e a leva para casa. Por 20 anos, essa imagem fica guardada na gaveta da casa do pescador, até que o filho dele a encontra, arruma e faz um pequeno oratório ao lado da casa. E as pessoas começam a ir lá rezar, à tardinha; por volta das 18h, se reuniam para rezar o terço...
Naquela região, havia muitos escravos, que fugiam em bandos, muitas vezes; quando eram capturados, pegavam o chefe do bando, cortavam a cabeça e jogavam dentro daquele rio. Olha que interessante! Nossa Senhora, toda preta da lama do rio, com a cabeça cortada: Maria se solidariza com os sofredores do mundo, os sofredores daquele lugar, com os últimos dos últimos – que eram os escravos. E Maria faz o primeiro milagre exatamente com um escravo, que vinha acorrentado, trazido pelo seu senhor e pelo capataz. Ele passa em frente àquele lugar humilde, aquele casebre, e vê a imagenzinha no oratório; então grita à virgem Maria, e a Mãe de Deus rompe as correntes do escravo!
Maria é solidária com os que sofrem, com os últimos. A Mãe de Jesus não vive atrás de palácios. Palácios também acolhem sua imagem – foi a princesa Isabel quem deu a coroa que temos na imagem que está no Santuário de Aparecida. Uma "vidente" disse a ela: "Saiba, você não será imperatriz do Brasil", e ela respondeu: "Eu posso não ser, mas farei uma miniatura daquela que seria minha coroa e darei à imagem de Nossa Senhora Aparecida". Nos palácios, Maria também entra, mas é na casa dos pobres que ela está. São os humildes que se identificam com a Virgem Maria preta, mãe do nosso povo, a mesma e única Maria de Nazaré que, com os brasileiros, se solidarizou com os sofredores. E, hoje, continua se solidarizando, num tempo em que se está pouco ligando para o povo – haja vista como foi conduzida esta situação de pandemia. Para vermos como nossos governantes não estão se preocupando nada com nosso povo, já estão decretando "fase verde" – que verde, se não temos nem vacina para esse vírus? Só para garantir a eleição? Converse com quem trabalha nos hospitais públicos para ver o que eles contam... Não as lorotas que têm coragem de contar, de mentir até para a ONU! E ainda tem gente que acredita nisso... Há uma pessoa que Jesus chama de "mentiroso e assassino desde o início"... Cuidado com quem mente! Isso não é ter cuidado com o povo. Para piorar, quantos são os projetos para tirar o título de "Padroeira do Brasil" de Nossa Senhora Aparecida. Dizem: "Que seja padroeira dos católicos". Mas em que ofende aos outros Maria ser chamada de Padroeira do Brasil? São tolices...
Vamos pedir a Deus que ao menos a nossa Mãe olhe por nós. Ela que é solidária conosco, seu povo; ela que, na hora do sofrimento, está ao lado de quem sofre. "Onde está Deus no meio desta pandemia?". Com quem sofre, com quem passa fome. Mesmo que "o grande mentiroso" diga que "No Brasil não tem fome". Que vergonha! Que insulto!
Que a Mãe de Deus nos ilumine para que possamos fazer deste Brasil um lugar de vida para todos: católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas, candomblé, ateus, fiéis das várias religiões e filosofias orientais... Que seja um lugar de paz e respeito para todos, debaixo desse grande manto azul de Nossa Senhora Aparecida.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Ano A) – 12/10/2020 (segunda-feira, missa às 16h).

Humildade e serviço nos levam ao Reino
11/10/2020
Esse Evangelho [Mt 22,1-14] precisa de uma explicação ou, então, a gente pode fazer uma confusão danada. Esta frase: “muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”, que vem logo após a parábola, ajuda a não interpretar direito o texto. O evangelista, provavelmente, tinha várias frases de Jesus e colocou esta logo depois da parábola, mas foi uma colocação não muito feliz. O rei, ou qualquer grande senhor, quando tinha uma grande festa mandava os seus empregados convidarem as pessoas 1 mês antes da festa, 1 semana antes e no dia da festa, pela manhã. Então, este rei mandou convidar amigos, generais e outros. Mas estas pessoas vão se descuidando, não querem saber de nada. E o que acontece? Está tudo pronto e ele manda o último convite. Mas as pessoas além de não irem à festa, ainda matam os embaixadores. Isso o enfurece e ele manda matar todos.
Então, ele manda trazer para a festa todos que forem encontrados nas encruzilhadas. E quem encontramos na encruzilhada, perdidos na rua? Gente rica e poderosa? Não! Encontramos pobres, mendigos, sofredores de rua, prostitutas, travestis. E esta foi a gente que o dono da festa mandou chamar. Mas, às vezes, o sofredor de rua está sujo ou até cheirando mal. Então ele manda preparar essas pessoas, dar banho e vesti-los com as roupas dos servos da casa. Então, todos que entraram na festa aceitaram tomar banho e usar as roupas dos servos da casa. De repente, o rei vem passar no meio dos convidados, como acontece nos casamentos de hoje em dia. Porém, o rei encontra uma pessoa que não estava vestido com a roupa dos servos. Todos os pobres convidados aceitaram tomar banho e trocar de roupa, menos esse. Então, sabe-se que essa pessoa não foi encontrada na rua.
Olhe bem como o rei se dirige a ele: “amigo”. Este sujeito é um daqueles que havia dito que não queria ir à festa e, sabe-se lá por qual sorte, não foi morto. Chega na festa um sujeito rico, muito bem vestido e os servos falam para ele tomar banho e trocar de roupa. E ele não quis porque era rico e não queria vestir uma roupa de servo. “Vou entrar assim mesmo”. É muito engraçada a arrogância deste homem que primeiro desprezou o rei ao negar o convite e, agora, despreza de novo: “ah, sobrou um tempinho, então agora vou na festa comer de graça”.
O rei vem ver as pessoas e sabe quem são os que foram trazidos da rua conversando com as pessoas. De repente vê esse sujeito diferente e diz: “você desprezou minha festa assim como desprezou a ordem que dei para meus servos que somente quem tomasse banho e trocasse de roupa que entraria. Fora daqui!”.
Essa é a parábola do rei e dos convidados. Os grandes do povo de Israel, no tempo de Jesus, desprezaram o anúncio do Senhor, mataram os profetas, perseguiram os justos e mataram o filho de Deus. Deus tirou o reino deles e deu para um povo que ninguém esperava que ele desse: os pagãos. Nós somos Igreja e temos que estar atentos, constantemente, ao convite de Deus, aceitando as regras de humildade e serviço deste Reino, que é o de Jesus. Vamos pedir ao Senhor que ele nos ajude a abraçar, com fé, a Sua palavra de serviço e humildade
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 28º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 11/10/2020 (missa às 10h).

O Evangelho é vida para todos
04/10/2020
Este Evangelho de hoje [Mt 21,33-43] é um Evangelho perigoso. Por quê? Ele derruba as nossas pretensões. Nós pensamos "Ah, nós somos o povo eleito! Jesus veio, Jesus nos salvou, nós somos seus discípulos, nós carregamos o nome de Jesus, nós somos a sua igreja fundada em cima dos apóstolos". Cuidado! Nada disso garante nada, por quê? Deus faz tudo isso procurando um povo que pratique a justiça, o amor, a igualdade entre os irmãos, a solidariedade com os que sofrem. Dentro de uma sociedade cristã, fazer de modo que a miséria e a pobreza sejam superadas, para que todos possam ter vida digna. Se nós não fazemos isso, Deus vai procurar um povo que faça, porque Deus quer fruto, fruto de justiça!
É interessante ver, em várias passagens da escritura, o profeta Isaías fala que a vinha é devastada, porque ela não deu bons frutos. No Evangelho, se fala de vinha que produz fruto, mas os que cuidam da vinha não são pessoas boas, então isso aqui serve para todos nós... Eu tremo quando leio este Evangelho – todos nós, padres, bispos, até o papa deveríamos tremer quando lemos este Evangelho, porque nós somos os vinhateiros. O povo de Deus produz seus frutos, mas nós não guiamos o povo numa prática verdadeira da justiça. Deus tira isso da gente. Nós temos que cuidar muito no trabalho do anúncio do Evangelho, ele tem que ser um anúncio que produza vida. Então nós temos sempre que nos policiar. Nós estamos realmente defendendo a vida? Ou nós estamos defendendo outros interesses? São perguntas pesadas, este Evangelho é muito ‘empenhativo’. E olha bem que Jesus termina falando da própria situação dele: o dono da vinha mandou o filho, e o que fizeram? Pegaram o filho e mataram fora da vinha. Como Jesus foi morto? Fora dos muros de Jerusalém. Levaram-no para fora da vinha, isso quer dizer desprezo: "você não pode morrer pisando esta terra que é nossa". Terrível, isso é uma coisa horrorosa, não é? Um total desprezo por aquilo que é a vontade de Deus. E nós temos que sempre nos perguntar: mas eu estou mesmo produzindo fruto ou estou me enganando? Ou estou me deixando enganar? Às vezes nós nos deixamos enganar, viu gente? O que Jesus disse mesmo? Não adianta dizer que é cristão e promover a morte, o racismo e mentir para as pessoas. Isso não é ser cristão. Não adianta dizer que é cristão e quando vê um necessitado vira as costas ou é totalmente indiferente – pior ainda quando o acusa de "vagabundo". Com as tuas palavras, você está se condenando.
Os padres, muitos padres, estão hoje nessa história de tradicionalismo, um monte de pano em cima, missa em latim, missa velha, missa de antes do Concílio, críticas ferozes ao Papa Francisco, porque ele nos chama a viver o Evangelho. Cuidado! Cuidado! Podemos estar sendo enganados por lobos vestidos de muitas roupas brilhantes e muito latim perfumado, viu gente? Isso é engano, engano ao povo de Deus, porque nem se quer a prática da justiça, essas pessoas se escondem por trás de panos e línguas incompreensíveis para não se comprometer com o Evangelho de Cristo, fazem polêmicas, brigas enormes, “mas tem que abrir os braços assim, tem que fechar os braços assado, tem que rezar Ave Maria ajoelhado não sei de que modo...”, e o teu irmão que está morrendo de fome do seu lado? “Isso não é do Evangelho, isso é comunismo”. Não se deixe enganar por esses lobos, viu gente? Não se deixem enganar por esses lobos. Ouçam o Papa Francisco que hoje lançou uma nova Encíclica sobre a amizade, o respeito, o amor, a acolhida do outro como irmão. Se nós queremos um mundo novo, esse mundo novo tem de ser um mundo novo de irmãos, não de concorrência, não de exploração, não onde o dinheiro conta mais, não onde o dinheiro passa por cima das pessoas. Se queremos um mundo novo, tem que ser onde o ser humano vale, onde a vida humana vale. E quando a vida humana vale, a vida do mundo vale.
Por que nós estamos com essa pandemia terrível? Não foi feito em laboratório coisa nenhuma. Nós matamos os animais, nós estamos devastando o ecossistema do mundo. As doenças que esses animais seguram dentro deles, nós matando esses animais, temos essas doenças todas livres, para quem? Para nós! Nós não podemos matar, por exemplo, todos os ratos do mundo, porque se não nós morremos rapidinho. A maioria das doenças que deveriam vir para nós, vai para os ratos. Vocês sabiam disso? Sem rato na face da terra nós não sobrevivemos. E não basta somente um não, precisa de trinta ratos por pessoa. Então, em vez de ficar gritando quando vê rato na cozinha de casa, fala "oi amiguinho, obrigado por estar salvando a minha vida". Isso se chama ecossistema. Se eliminar os ratos, nós morremos, mas se tem ratos demais, nós morremos também, tem que ter um equilíbrio. Um mundo de respeito, isso é o Evangelho e, quem foge disso, Deus tira da vinha. Não nos deixemos enganar por lobos vestidos de muita roupa e falando muita língua estrangeira. Língua estrangeira não, língua morta, porque latim é língua morta. E ouçamos a voz dos verdadeiros pastores, que hoje é o nosso Papa Francisco.
Essa semana também é a Semana da Vida. Madre Teresa dizia: "Quando uma mulher, luta para destruir a vida que está dentro dela, nós podemos esperar todas as monstruosidades do mundo, pois o templo mais sagrado foi violado". Nós estamos em momentos difíceis, porque, por exemplo, no Brasil nós temos que fazer uma legislação sobre a questão do aborto, e não basta só dizer "é crime" que não resolve. Os nossos legisladores vão ter que legislar sobre esta questão. Tem milhares de mulheres que morrem em clínicas clandestinas e, ao mesmo tempo, nós que condenamos o aborto, não oferecemos alternativa nenhuma... É muito grave, é irresponsável! Então nós temos que realmente pensar de uma forma que considere o outro na sua situação, para poder dar para essas pessoas uma verdadeira possibilidade. Se eu sou contra o aborto, eu tenho que encontrar meios para que essas mães possam ter esses filhos, mas eu tenho que encontrar os meios, eu tenho que criar estruturas, eu tenho que facilitar as adoções, percebem? Porque senão nós somos pura ideologia. Dizer não para o aborto significa nós católicos pensarmos seriamente o que nós vamos fazer para que essas mulheres não abortem? Para que elas possam encontrar uma solução que seja outra que não o aborto?
Vamos pedir a Deus que nos dê coragem para ser bons vinhateiros, pessoas que ajudem os outros a dar fruto, porque o povo dá fruto, para apresentar a Deus esse fruto, fruto de justiça e de paz.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 27º Domingo do Tempo Comum (Ano A) –04/10/2020 (missa às 10h).

Assumir a missão de ser discípulo de Jesus
01/10/2020
Hoje, dia 1º de outubro, nós temos também a abertura deste mês missionário para nós. E temos aqui a padroeira das missões como padroeira desta paróquia. A liturgia de hoje nos faz convite para a missão, para a vida de missão, para a saída dessas portas. Aqui nós nos alimentamos, nos sustentamos para, quando nós sairmos daqui, viver esta igreja de missão.
A Primeira Leitura, o livro de Jó, que, para nós é muito conhecido como aquele que sofreu tanto, e a gente fala “sofri como Jó”, talvez, é a leitura de alguém que fez uma profunda experiência de fé. Mesmo diante da dor, diante do sofrimento, diante de tantas situações de adversidades, nós temos nesta leitura e neste livro a narrativa de alguém que não voltou atrás, manteve-se firme no seu projeto. Aqui o grande desafio para todos nós: nós nos provamos – nós, não Deus – nós nos provamos nas horas mais difíceis das nossas vidas. O momento de maior adversidade é quando nós podemos ser capazes de avaliar o nosso projeto de vida, a maneira como nós vivemos o nosso cristianismo. Falar de cristianismo é muito fácil; viver o projeto cristão é o grande desafio. E a gente percebe que, na experiência que Jó faz com Deus, apesar de todo o sofrimento, de tudo aquilo que se perde, ele tem convicção. E a convicção, então, gera permanência. A convicção gera constância. A experiência de fé é frutuosa quando traz em nós perseverança e convicção nas horas mais difíceis.
No Evangelho de hoje, nós temos aqui o projeto de pastoral de Jesus para os seus discípulos. Toda orientação está aqui no dia de hoje! Mostra como deve ser e fazer para quem quer ser seguidor de Jesus – o ser e o fazer do discípulo. O ser está em “não vai sozinho, não, vai junto com alguém”. O ser está em “não leve muita coisa, seja mais simples”. O fazer é: para as pessoas que vocês encontrarem, seja paz. Onde vocês entrarem, seja paz. Por onde vocês passarem, ajudem as pessoas, curem, levantem as pessoas, tragam esperança para o povo. E se alguém não quiser receber vocês, segue adiante. Esse é o projeto pastoral de Jesus, esse é o projeto de vida para quem quer ser discípulo.
E todos nós que estamos aqui para alimentar a nossa fé, a nossa espiritualidade, nós estamos aqui porque somos discípulos e queremos ser discípulos. Mas aí vem a nossa convicção quando a gente abraça esse projeto. É um projeto que primeiro nós temos que ser! Ser cristão, viver essa mística cristã como Santa Teresinha nos aponta. Não é uma mística alienada, não é uma fé desencarnada. É uma fé concreta, é uma fé de atitude. Porque, às vezes, tem gente que confunde espiritualidade mística como se fosse ficar o dia inteiro rezando. Isso é muito fácil. É fácil ficar o dia inteiro rezando, ou disfarçando que reza. O desafio está quando eu transformo tudo isso em conduta de vida, em prática de vida. E Santa Teresinha prova isso com as suas atitudes, com o seu jeito de ser, com o seu jeito de fazer. Me impressiona quando ela diz “me deixa para o último lugar, lá ninguém vai disputar comigo.” Exemplo de serviço!
Eu acredito que a Paróquia de Santa Teresinha aqui da nossa região pastoral Utinga, quando a gente olha para a sua padroeira, pode nos ensinar muitas coisas no serviço. O serviço que não há disputa, o serviço que é gratuito, o serviço que é serviço para o outro... Nas coisas mais simples, mulher simples, e é reconhecida como doutora da igreja, um dos títulos mais nobres que os santos recebem, porque apontou para o Cristo. Sua vida foi sinal para o Cristo, sinal de humildade, de simplicidade, e não de arrogância nem de prepotência. Eu acredito que esses homens e mulheres, e hoje, de maneira
especial, Santa Teresinha tem muito a nos ensinar. Padre João Aroldo me contava umas coisas na sacristia que agora eu vou pesquisar, para entender mais sobre a vida de Santa Teresinha. Então a gente tem aqui uma mística que poderíamos aprofundar muito, isso seria uma catequese mística para nós que nos falta, sabia? Como que, para nós, cristãos, nos falta essa mística da vivência cristã? Porque a mística tem que ser encarnada, ela tem que estar no meu jeito de ser. Depois ela transparece no meu fazer. Mas para fazer essa experiência mística com Deus primeiro tem que ser muito humilde, e isso é um exercício, porque todos nós somos um pouquinho arrogantes, todos nós somos um pouquinho orgulhosos demais, e se alguém disser para mim assim “ah, não, eu acho que eu não sou”, então a gente tira a Santa ali e coloca você. Eu não me arrisco falar.
Todos nós estamos aqui porque nós precisamos crescer nessa mística. Santa Teresinha das coisas simples, das coisas pequenas, tem muito a nos ensinar para a nossa conduta, para a nossa prática. E, olhando hoje para esse projeto que Jesus apresenta no Evangelho, projeto de missão, que devemos ser e fazer, apesar da Primeira Leitura nos lembrar que existem dificuldades, adversidades – mas a experiência de fé é força para as nossas vidas.
Que, pela intercessão de Santa Teresinha, nós possamos bem viver esse mês de saída, esse mês que a igreja nos convida a pensar na sua natureza, que é ser missionário. Que Santa Teresinha nos inspire e nos ajude! Amém.
Homilia: Padre Eduardo Calandro - Festa de Santa Teresinha (Ano A) - 01/10/2020 (missa às 19h45)

Despojar-se, perseverar e ter Deus em primeiro lugar
30/09/2020
Meu irmão e minha irmã, a você que nos acompanha através das redes sociais, que alegria podermos nos encontrar! E também encontrar, presencialmente, com alguns que também estão preparando a liturgia de hoje. Que alegria poder retornar a esta comunidade que faz parte da minha história, onde pude aprender muito sobre a vivência em comunidade e a vida do ministério sacerdotal.
Nos encontramos para celebrar o terceiro dia do Tríduo em louvor a Santa Teresinha do Menino Jesus. Rogando a ela, para que possa levar ao coração de Jesus as nossas orações, as nossas preces, súplicas e esperanças. Neste dia, também fazemos memória de São Jerônimo, padroeiro dos biblistas. Ele que foi o responsável pela tradução da bíblia do grego para o latim. Ele era um homem de temperamento enérgico, muitas vezes, com dificuldades de diálogo. Mas, ao mergulhar nos mistérios das Sagradas Escrituras, o seu trabalho cotidiano de oração, aprofundamento da Palavra, Deus foi moldando o seu coração. E deste mesmo modo, nós também somos convidados a sempre rezar a partir das Sagradas Escrituras e deixar que a Palavra de Deus possa molhar a terra seca de nosso coração e moldar os nossos sentimentos. Assim como moldou o coração de nossa padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus, que, desde muito jovem, procurou consagrar a sua vida a Deus. Entendeu que a sua vocação era o amor, o serviço, a vida consagrada, a vida religiosa. Entendeu que a sua vocação era rezar por todos os homens e mulheres, para que pudessem ser missionários, levando amor, esperança, justiça, misericórdia e todos os demais valores do Santo Evangelho.
E como ouvimos na Primeira Leitura [Jó 9,1-12.14-16], Santa Teresinha sentiu que não podia mais competir com Deus. Não podia mais fechar o seu coração ao amor transbordante de Deus na sua vida, na sua história. Deste mesmo modo, o Evangelho de hoje [Lc 9,57-62] também nos ilumina para que possamos seguir o Senhor, a exemplo de Jó, de São Jerônimo e de nossa padroeira Santa Teresinha do Menino Jesus. No Evangelho, nós temos Jesus indo em direção a Jerusalém e chamando seus discípulos. Três jovens. E cada um com uma perspectiva diferente do que significa ser discípulo missionário de Jesus. E vemos, neste Evangelho, três pontos fundamentais que devem tocar nosso coração e a nossa vida de cristão.
O primeiro: o despojamento de vida. Nós devemos nos despojar para poder seguir o Senhor na liberdade. Santa Teresinha é modelo de despojamento para nós. Tem algo ou alguém que te prende para que você não seja um discípulo do Senhor? Quais são as amarras da sua vida? Quais são as prisões sem grades, as correntes espirituais, afetivas, emocionais que podem estar lhe prendendo?
O segundo aspecto é o primado de Deus. Porque, em primeiro lugar, sempre deve estar o Senhor. A família é importante, assim como os amigos são importantes. O trabalho se faz necessário para dignificar o ser humano, mas nada está acima de Deus. Santa Teresinha nos ensina a colocar Deus sempre em primeiro lugar em nossas vidas. Você tem alguma pessoa, ou uma situação, ou um sentimento que está acima de Deus? Então deve descer na prioridade. Santa Teresinha tinha prazer de se libertar dessas situações.
E o terceiro e último: a perseverança na caminhada, pois a vida se faz caminhando. Não existe discipulado fixo. Existe uma Igreja, corpo místico de Cristo, alimentando-se da Palavra de Deus e do Corpo Eucarístico para peregrinar na história, ser sinal de esperança, de justiça, de amor e de salvação.
Em nossas vidas, assim como Santa Teresinha, enfrentaremos obstáculos, sejam eles familiares, legais ou de outra ordem, mas quando temos nossos olhos fixos em Jesus, diz Paulo Apóstolo que: "nada e ninguém pode nos separar do amor do Senhor". Santa Teresinha foi capaz de viajar uma longa distância para pedir ao próprio Papa para entrar no Carmelo. Nós, muitas vezes, fazemos corpo mole diante de pequenas situações que vão, de certo modo, nos impedindo de seguir a Jesus no amor, no despojamento, no primado de Deus e na perseverança da caminhada.
Que Santa Teresinha do Menino Jesus derrame uma chuva de rosas, uma chuva de graças, uma chuva de bênçãos a todos nós, que nos colocamos em oração na presença do Senhor, como diz o Salmo 87 da liturgia de hoje. Que nossa devoção e nosso discipulado a Jesus contem sempre com a palavra e o exemplo desta pequena mulher, mas uma grande intercessora para todos nós, os seus devotos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Dia do Tríduo da Padroeira (Ano A) – 30/09/2020 (missa às 19h30).

Sorrir a alegria verdadeira
29/09/2020
É um momento importante a Festa da Padroeira da comunidade, porque neste momento é organizada a festa com celebrações, festas e missa, com louvores. Quando não é pandemia, no tempo normal, se faz até festa de comes e bebes e barracas, comidas e bebidas para alegrar e se confraternizar. É um momento de comunhão, mas mais do que isso é o momento de celebrar a liturgia, a Palavra de Deus, viver a oração, conhecer mais a vida do santo padroeiro, se aprofundar mais para ser seta indicativa a Jesus, que nos ensina, nos aponta para Jesus que foi o sentido da vida daquele santo e daquela santa e que é também o sentido e o centro das nossas vidas. Quão bela foi a vida dessa jovem que pouco tempo viveu aqui na terra! Como vocês sabem, Santa Teresinha faleceu com 24 anos, depois de 9 anos de vida de convento, no Carmelo, na vida de oração e contemplação e não contemplando outra coisa, contemplando Jesus, ter os olhos fixos em Jesus.
No Evangelho de hoje [Jo 1,47-51], Jesus disse a Natanael — que é Bartolomeu, que foi apóstolo de Jesus: “antes que você me visse eu te vi”. Devemos manter os olhos fixos nesse Jesus, nesse Deus que nos vê primeiro. Somos atraídos por esse Deus que já nos viu e já nos amou primeiro, que nos chama primeiro, esse Evangelho de hoje é o chamado vocacional de Natanael que depois vai ser São Bartolomeu. Santa Teresinha que fixou naquele que já a amou primeiro. Em sua vida de tão pouco tempo, ela viveu na obediência, na humildade a este Jesus, a quem ela amou tanto e colocava como o amor da sua vida, e que não foi tão fácil, quem conhece a história dela sabe que mesmo no convento, ela foi perseguida e injustiçada, sofreu bastante, mesmo doente, mas ela procurava sempre oferecer esse sofrimento as injustiças como sacrifício a Jesus, uma vida doada como Jesus também deu sai vida por nós na cruz, mas, para Santa Teresinha, dizia ela “ó sim, aqui na Terra tudo pra mim é sorriso” mesmo perseguida. Mas não é esse sorriso dos dentes, mas o sorriso da alegria verdadeira, é o sorriso da pessoa que se sente amada primeiro que sabe que suas alegrias não consistem nas coisas materiais e nas coisas do mundo, mas sim na sua amizade, na sua obediência, no seu sacrifício, na sua entrega a Jesus, por amor a Jesus.
A espiritualidade da pequena infância e o amor ao Jesus menino: “quero ser um brinquedo”, o mais simples, a bolinha, não o mais caro e sim o mais simples ela dizia, não precisa ser nada sofisticado, mas simples que pode jogar na parede, jogar para lá e para cá, deixar jogado em um canto, mas também quando tiver vontade aperte contra seu peito. A dinâmica do reino de Deus desse possuir, desse ser amado primeiro e deixar ser amado é a dinâmica dos pequenos e Santa Teresinha entendeu isso se baseando no Evangelho. Jesus aos seus discípulos, quando eles discutiam quem seria o maior, pegou uma criança colocou no meio deles e disse “se vocês recebem essa criança, recebem a mim e quem me recebe, recebe aquele me enviou”. Como o Evangelho de ontem disse, em outro momento Jesus diz “quem não for como criança não entrará no reino dos céus”. Grande no reino de Deus, meus irmãos e irmãs, é quem se faz pequeno no mundo e o pequeno é aquele humilde, aquele que serve. Santa Teresinha entendeu tudo isso na sua espiritualidade e na sua contemplação nesse amor e nesse se deixar ser possuída por ele, por isso que a Festa da Padroeira é o momento de a gente retomar o exemplo e testemunho baseado nos textos sagrados e na palavra de Deus.
Então contemplemos Jesus Cristo olhando esse exemplo de vida que nos ajuda a ser mais Dele, a estar mais com Ele, porque é Ele o sentido de nossa vida, foi Ele que nos salvou, se rebaixou, se fez pequeno e servo de todos, e é Ele, como disse no Evangelho, que nos dá acesso ao céu e Santa Teresinha disse “viverei o meu céu aqui na Terra”. Foi Ele que deu acesso a ela, é Ele que nos dá acesso, porque Deus abriu o céu que ela tanto almejou para nós, com sua morte e ressurreição. Não é pecado nós desejarmos o céu, o que a gente não pode é ser arrogante e autossuficiente, se achar melhor que os outros e achar que está salvo. Temos que ser pequenos, humildes e servos e é por isso que Jesus diz a Natanael “coisas maiores que essa verás”. O que será que Natanael viu em Jesus? Porque Jesus disse “eu te vi debaixo da figueira antes de você me ver”, qual é o enigma que tem atrás dessas palavras de Jesus? Você verá os anjos de Deus subindo e descendo para dizer que quem dá acesso a glória é Ele, que é o senhor dos anjos, Jesus Cristo, os anjos que estão a serviço Dele. Os anjos que são mensageiros e hoje celebramos os arcanjos então vamos contemplar esses seres celestiais que servem a Deus.
Como Santa Teresinha entendeu tudo isso e se colocou em serviço, nós também devemos nos colocar a serviço dos outros com simplicidade, humildade e pequenez, assim estaremos no caminho certo de Jesus, de santidade, almejando as coisas do alto, mas com simplicidade como seu exemplo nos motiva. Que Deus nos ajude pela intercessão de Santa Teresinha e que seus anjos também nos ajudem e protejam nesse caminho de conversão em direção as coisas do alto, amém!
Homilia: Pe. Francinaldo de Souza Justino - 2° dia do Tríduo de Santa Teresinha (Ano A) - 29/09/2020 (missa às 19h30)

Nada é pequeno se feito com amor
28/09/2020
Queridos irmãos e irmãs, que alegria de poder estar aqui novamente, nesta casa! Num primeiro momento um pouco triste porque os bancos aqui estão vazios, mas o coração traz você que nos acompanha de uma forma muito pessoal, muito presencial. Que bom que nós temos esse momento! Deus nos dá essa graça de pelo menos nos vermos, e com isso celebrar, como irmãos, esse momento agraciado de fé. Que legal ver a turma, a cerimoniária, o animador, o pessoal do canto, o pessoal da liturgia que preparou essa liturgia tão bonita para iniciarmos a nossa jornada.
É muito interessante perceber, celebrar um padroeiro a cada dia. A paróquia-comunidade é chamada a se identificar com ele. Hoje nós nos identificamos com Santa Teresinha, e uma das frases que eu sempre rezo chama a atenção naquilo que ela significa para toda a igreja; dentre tantas outras que ela diz, uma me chama muita atenção: “nada é pequeno quando é feito por amor”. Ou seja, por menor que seja, existe um significado muito grande! Por menor que seja um gesto, muitas vezes, aquele gesto é a própria grandeza de Deus que é manifestada por meio de nós. Por aí a gente entende até mesmo o próprio Evangelho de hoje [Lc 9,46-50] e a Primeira Leitura [Jó 1,6-22], que nos conta a história de Jó.
A história de Jó não é para encontrarmos ali explicações do sofrimento. Quantos sofrimentos estão acontecendo agora, durante todo esse período tão difícil que estamos passando? Eu mesmo estou passando por um terrível. Mas, diante de tudo isso, onde que Deus está? Jó não é para explicar, mas Jó é aquele que nos ensina a conhecer, saber onde Deus está no momento que mais nós sofremos, porque no sofrimento nós ficamos cegos, a gente não enxerga nada, somente a dor que acontece. Mas Jó nos ensina onde Deus está para ir nos dando aquele alento. Por isso que é muito importante nessa leitura que ele vai dizer: “Deus deu e Deus tirou”.
Quantas vezes a gente escuta quando alguém diz, na partida de alguém: “foi Deus que quis que a pessoa morresse”? Deus não é um Deus da morte. Mas por que, então, aconteceu isso? Deus dá, Ele dá com Seus braços, dá o Seu coração, dá tudo que Ele tem e possui para nós. Mas o que Ele tira, Ele tira com uma pequena pinça, onde Ele vai tirar a amargura, a tristeza, a falta de esperança, muitas vezes a entrega que coloca diante daquele momento difícil. É isso que Ele vai tirar. Por isso que as respostas que vamos tendo para o sofrimento não são respostas lógicas, mas a nossa vida, nossa história vai se identificando com as situações, e ali Ele mesmo vai respondendo aos nossos anseios.
Por isso que Jesus no Evangelho diz hoje: “temos que ser como uma criança”. Para poder compreender temos que nos colocar diante da situação como um pequenino, uma pequenina. Mas por quê? Para mostrar essa grandeza de Deus que existe em nós. É muito interessante a criança; quem nunca se apaixonou quando vê um pequeno, não é? Quem nunca se apaixonou por uma criança, e, muitas vezes, a pessoa começa a criar um vínculo de amizade a partir da própria criança junto à família. Mas a criança é aquela que vai conhecendo o mundo, vai se abrindo, e aquilo vai, cada dia, se tornando um encanto onde quer que esteja.
É isso que Jesus chama a atenção. E isso nos leva a perceber que quanto mais nós vamos conhecendo, mais nós temos que transmitir àqueles de uma forma muito singular, muito particular. Não porque somos melhores do que os outros, mas porque é necessário e essencial para que a vida e caminhada da pessoa possam continuar. Por isso, por mais que você ache que a sua fé é pequena, ou, às vezes, não tem sentido nenhum, pode ter certeza: é esta fé que mostra grandeza no momento de maior sofrimento que a pessoa possa estar tendo.
É que nem outro dia: eu fui parado no trânsito e ali um rapaz pediu um dinheiro, infelizmente quase que eu pedia também, junto com ele. Mas, diante do vidro aberto, ele falou uma coisa muito interessante: “eu quero agradecer ao senhor porque o senhor não fechou o vidro para poder olhar a mim, e, mesmo dizendo que não tinha, pelo menos conversou comigo”. São esses gestos que muitas vezes falam muito, que às vezes a gente não entende, só depois que a gente analisa e percebe a sua grandeza.
Então vamos pedir que essa Eucaristia nos fortaleça e nos ilumine. E, que cada dia, Santa Teresinha possa ser o sinal de luz e graça a você que continua a sua caminhada. Continue caminhando, persista! Não se sinta menor que os outros ou insignificante, mas leve sempre essa grandeza que Deus te deu, do jeito que você é. Sendo cada dia um sinal de graça e de ternura, levando sempre a esperança e a paz a tantos corações que, nesse momento necessitam da presença e da luz do Senhor.
Louvado seja o nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado.
Homilia: Pe. Flávio José dos Santos – 1° dia do Tríduo de Santa Teresinha (Ano A) – 28/09/2020 (missa às 19h30).

Humildade e obediência: caminhos para a conversão
27/09/2020
No Evangelho de hoje [Mt 21,28-32], Jesus está se confrontando com a nata do judaísmo, sacerdotes e os anciãos eram juízes, legisladores, administravam o templo. Jesus chama a atenção deles que não acreditaram nem vendo João Batista e mais, vendo que os chamados pecadores públicos acreditavam em João Batista e se convertiam, nem assim eles se puseram a pergunta: “Mas será que o que João Batista está falando não é pra mim também? Olha o resultado, pecadores públicos que nós desprezamos, eles estão se convertendo”. Esse é puxão de orelha que Jesus dá neles, e é sério, muito sério!
Jesus, então, conta essa parábola: eram dois filhos e o pai precisava de trabalhadores na vinha, mandou o primeiro e ele respondeu bem mal educado que não iria, mas depois caindo em si se arrependeu e foi, quem é que no Evangelho cai em si e muda de caminho? O filho pródigo! Ele volta para o pai, aqui esse primeiro filho cai em si e faz a vontade do pai. O segundo filho dá logo a resposta que o pai quer ouvir, mas, na verdade, não vai até a vinha. Nós facilmente reconhecemos assim como também os sacerdotes e anciãos também reconhecem que o segundo filho é quem não fez a vontade do pai. Quem fez foi o primeiro, que mesmo tendo respondido que não iria, caiu em si e mudou de caminho.
Quando nós ouvimos essa parábola, de que lado nos colocamos? Com qual desses dois filhos nos identificamos? Muito facilmente nos identificamos com o primeiro, só que só conseguimos fazer como igreja – e aqui o padre está incluído – só conseguimos fazer um caminho de conversão constante se eu me coloco no lugar do segundo filho, que está sempre dizendo “sim, senhor”. A gente vai à igreja, é bom, tenta isso, tenta aquilo, mas muitas vezes não percebemos que estamos sendo bem pouco discípulos de Jesus.
Se pegamos a Segunda Leitura [Fl 2,1-11], temos um dos hinos cristológicos mais bonitos que existem no planeta e ele fala que onde tem um espírito tem amor, acolhida e bem querer, os valores do Reino, e qual é o problema? Quando nós na comunidade nos achamos melhores que os outros “eu sei mais, eu posso mais, eu sou mais amigo do padre, eu vou na igreja todo dia, eu sei rezar” e achamos que isso é um grande tesouro que nos faz melhor que os outros. São Paulo vai dizer: tenha diante dos olhos sempre Nosso Senhor Jesus Cristo que mesmo sendo Deus igual ao Pai não ficou dando glória de si mesmo, mas se esvaziou, tirou de si a própria glória, se fez um de nós e foi obediente ao Pai e aceitou morrer na cruz, morte infame e como Santa Angela disse “desceu ao frio do túmulo” por isso o Pai o exaltou e lhe deu um Nome que está acima de qualquer outro nome. É o Pai que exalta, onde ouvimos algo parecido? No Magnificat, “o poderoso fez em mim maravilhas (...), Ele olhou pra humildade de sua serva”. Só uma pessoa de coração humilde, capaz de não se achar melhor que os outros, mas chamada a ser servo dos outros, é capaz de constante conversão. E, nesses discursos de Jesus e São Paulo, muitas vezes nós somos o segundo filho e essa é a grande chance que temos de nos converter.
Senhor, me ajude a ver onde eu não sou convertido, quebra minha cara, mostra o Seu caminho, que é Jesus crucificado.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 26º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 27/09/2020 (missa às 10h).

Ter o pensamento de Deus
20/09/2020
Este é um Evangelho [Mt 20,1-16] muito intrigante. Jesus fala deste patrão. Naquele tempo, há cerca de 2000 anos, nós temos 99% das pessoas que trabalham ou na agricultura ou cuidando de animais lá nos confins da Palestina. E o que acontece? No tempo da vinha, muitas pessoas têm que ser contratadas para recolherem as uvas. Você não pode levar 3 meses para recolher as uvas porque é muito rápido o processo de amadurecimento. Então, temos lá estes trabalhadores que oferecem seus serviços, que nem nossos boias-frias. E estes homens são contratados logo de manhã e o patrão concorda em pagar uma diária, que naquela época era uma moeda de prata. Durante o dia, ainda tem muito trabalho na vinha e ele vai outras vezes chamar trabalhadores. Chega a um ponto de chamar gente faltando uma hora para acabar o trabalho.
Chega o fim do dia, e ele pede para chamarem os trabalhadores de trás para frente: primeiro, os que começaram a trabalhar mais tarde e, assim, trabalharam menos horas. Estes trabalhadores saíram com a moeda de prata, um dinheiro com o qual dava para se alimentar por um dia. Ou seja, você trabalhava por um dia de alimentação. E o que começa a ser apresentado aqui? Jesus está revelando como é o coração de Deus e como é o nosso coração. O coração de Deus dá tudo o que ele tem. Deus não se dá para nós em pedacinhos. Deus se dá inteiro.
A nossa justiça, quando ela é boa, ela é retributiva: dá a cada um o seu. Mas, na maioria das vezes, a nossa justiça é punitiva e vingativa. Nós vemos na atitude dos trabalhadores que começaram a trabalhar na primeira hora: “como que é isso? Isso é injusto! Eu trabalhei o dia inteiro. Você tem que se vingar deste sujeito que só trabalhou uma hora. Você não pode dar para ele o mesmo que vai dar para mim”. Acreditam em uma justiça torta. Mas Deus não pensa assim. Deus se dá inteiro. Porque o homem que trabalhou uma hora tem que comer por aquele dia. É um ser humano.
O pensamento de Deus é muito diferente. Nós, cristãos, muitas vezes, e em especial em tempos de crise como a pandemia, somos tentados a pensar como o mundo: “ah, o que importa é ter o dinheiro. As pessoas? Não importam. Pode mandar embora. Deixa passar fome, isso não é problema meu”. Isso é pensamento do mundo e não pode ser pensamento de um cristão. As pessoas vêm em primeiro lugar. O que eu estou disposto a sacrificar pelo bem das pessoas? O pensamento de Deus é diferente e nós, cristãos, temos que aprender a pensar como Ele.
Vou contar uma breve história de um filme, que era a segunda parte da história da Alice no país das maravilhas. Havia a rainha vermelha que tomou o poder. E a Alice foi ajudar a rainha branca, que era toda boazinha, muito poderosa, que tinha o poder enorme de dar a vida. Era seu único poder: ela só podia dar a vida. No fim, há uma guerra danada e a rainha vermelha perde e vai ser mandada para a prisão junto com seu maior protetor. E ele fala: “não, me mate. Prefiro ser morto do que viver sempre perto desta mulher perversa”. Daí a rainha branca diz: “isso eu não posso fazer; eu só posso dar vida; este é meu poder”. A vida que Deus dá é vida para todos. Não tem quem mereça mais e quem mereça menos. O nosso horizonte é a casa do Pai. Na casa do Pai, não dá para guardar tesouros. Na casa do Pai, nós temos a mesa comum dos irmãos, onde todos têm o necessário. Não falta e não sobra a ninguém. Não dá para acumular porque não tem sentido. Porque ali nós temos a presença de Deus. E nós temos que aprender a pensar como Deus. E a justiça de Deus é a bondade. Nós podemos dizer até que Deus não sabe dar outra coisa que não seja vida, bondade, misericórdia e acolhida.
Vamos nos perguntar em que lugar desta fila que vai receber o pagamento nós estamos. Cuidado, pois cristãos, muitas vezes, podem estar lá reclamando de Deus porque Ele está sendo bom. Não caiamos no mesmo erro destes trabalhadores nos quais Jesus dá um puxão de orelha. E Jesus dá para eles a vida e não um castigo por meio desta lição. O patrão deu a moeda que foi prometida. As pessoas estão reclamando de ter sido cumprido justamente aquilo que foi prometido.
Vamos pedir que o Espírito Santo inflame o nosso coração para que possamos ter o coração cada vez mais semelhante ao de Deus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 25º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 20/09/2020 (missa às 10h).

Perdoar sem limites
13/09/2020
Semana passada, nós ouvimos o evangelho da correção fraterna: "Quando teu irmão pecar contra você, vai e conversa com ele" [ref. Mt 18, 15-20]. Hoje, o Evangelho está nos falando sobre o perdão ao teu irmão que peca contra você [Mt 18,21-35]. São Pedro diz: "Quantas vezes devemos perdoar? Até sete vezes?"; Jesus vai responder: "Não sete, mas setenta vezes sete". Falava-se muito com linguagem de números naquele tempo, e sete era um número perfeito. Mas Jesus quer que vamos além da perfeição. Sempre! O teu perdão não pode ter limite! Por quê? Nós temos que ser como filhos e filhas do Pai. O perdão de Deus não tem limite, somos nós que colocamos limites nas coisas. Nós somos vingativos, nós queremos que a justiça se vingue das pessoas. Deus não quer isso. Deus pensa de outro jeito, e Ele age de outro jeito. Se nós pensarmos nas últimas palavras de Jesus na cruz, no Evangelho de São Lucas: "Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem" [ref. Lc 23, 34]. Jesus não fala isso para um ou dois pecadores; Ele está pedindo perdão para os monstros que criaram toda aquela armação para destruí-Lo de uma forma cínica e que ainda estão ali, debochando Dele, aos pés da cruz. É um absurdo! E Jesus pede perdão por esses.
Nós somos chamados a pensar como Deus, a agir como Ele, a acreditar no ser humano. "Nossa, padre, mas não dá para acreditar em todo mundo". Não mesmo, ser cristão não é ser bobo. A justiça, neste mundo, tem que ser feita, mas de forma justa, para educar, para reinserir as pessoas na sociedade. Uma pessoa que comete um crime grave tem que pagar pelo crime, porque fez um mal para o tecido social; mas, como eu disse, para ser reeducada e reinserida no sistema social.
Em uma sociedade em que existem tantas injustiças, tantos preconceitos, nós temos que sanar muita coisa, e o perdão é uma guia para o ressanamento social. Se nós olhamos o grande número de portadores de drogas – hoje está em um debate político essa questão –, as nossas cadeias estão com uma população absurda de encarcerados por porte de droga. Não por tráfico, por porte. E a maior parte são jovens e negros. Isso é uma doença, um pecado da nossa sociedade: estigmatizar o preto e o pobre. O que é preciso fazer? Mudar a lei, melhorar as condições de vida das pessoas, garantir educação básica a essas pessoas para que nós possamos, realmente, ter uma sociedade reconciliada.
Nós, cristãos, temos que arrancar do nosso coração a palavra e o sentimento da vingança. Isso não é de Deus! Isso não é da Sagrada Escritura! O coração de Deus é um coração que ama, um coração que perdoa. Vingança, ódio, não podem estar no coração de um cristão. E quando nós percebermos isso no nosso coração, vamos pedir ao Senhor que nos converta, que coloque no nosso coração o coração Dele, para que nós possamos amar e sentir como Deus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 24º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 13/09/2020 (missa às 10h).

Somos todos irmãos
06/09/2020
Vocês se lembram que eu falei que no Evangelho de São Lucas existem cinco grandes pregações, cinco grande sermões de Jesus para lembrar os cinco livros do Pentateuco, a Lei? O Evangelho é a nova e definitiva lei de Deus, a revelação de Deus. E nós estamos no quarto discurso que é sobre a comunidade dos discípulos, onde nós encontramos uma situação, que é uma situação humana também dentro da comunidade e Jesus nos ensina como fazer... Papa Francisco tem insistido muito nisso também ‘se teu irmão’ - não é qualquer pessoa, não é uma pessoa que não te conhece, que não tem nenhum afeto por você, o teu irmão, irmão na fé, é um irmão da comunidade, - ‘pecar contra você, vai e conversa com o teu irmão’, você e ele. Não fique falando para os outros, não fique cutucando os outros, não fique levando notícias para todo mundo, menos para a pessoa. Está errado. Vá e converse pessoalmente com a pessoa. O falar do outro, falar que estamos ofendidos e chateados, só cria mais mal estar entre as pessoas. Vai e resolve com a pessoa, não fale por trás, resolva com ela, é teu irmão, é tua irmã na fé. E muitas vezes, essas situações se resolvem, porque você dá a outra pessoa a possibilidade de se explicar.
O que o Evangelho diz: ‘se essa pessoa, até na conversa pessoal você com ela, não percebe, não quer ver o erro que ela esta cometendo contra você, vai e fale para duas pessoas, não para a comunidade inteira, duas pessoas, para que elas venham junto com vocês tentar conversar com a pessoa. Se nem assim essa pessoa escuta, fala para assembleia, não é falar mal da pessoa, é quase chamar a pessoa em juízo. Você está errando, você está me passando a perna, isto não é cristão, se nem assim a pessoa escuta, deixa de lado, Deus vai cuidar dela.
Falar do outro, sem confrontar a pessoa, destrói a comunidade, destrói a família, destrói o ambiente de trabalho, destrói a vizinhança. Tem problema, vai e resolve com a pessoa. Nós chamamos isso de sinceridade, pessoa que não tem duas caras. O cristão não pode ser uma pessoa de duas caras, não pode ser uma pessoa que fala por trás dos outros, que arma por trás das pessoas, é muito grave, porque nós temos que construir uma comunidade de irmãos e irmãs, e entre irmãos e irmãs existe sinceridade, perdão e correção.
Depois Jesus, nos diz esta grande frase de consolação: ‘Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estou aí no meio deles. Peça para o Pai, e o Pai concederá ao seu tempo, ao seu modo, no tempo de Deus, mas Deus escuta’. Por isso que nos neste tempo de pandemia, rezamos juntos mesmo estando longe, mesmo estando cada um na sua casa, aqui na igreja hoje, com o distanciamento, pra que? Por que? Nós cremos que Jesus está aqui, nós cremos que Jesus está unido com todos nós que estamos aqui participando desta missa pelos meios de comunicação. Jesus se faz presente, Deus nunca nos abandona, nós não podemos desistir sem o sustento radical do poder de Deus. Nada em nós pode escapar da mão de Deus, nós estamos mergulhados em Deus e isso para nós deveria ser uma grande consolação. E depois está outra frase: ‘tudo que ligares na terra, será ligado no céus e tudo que desligares na terra, será desligado nos céus.’ que a comunidade dos fiéis junto com seus pastores crer, e iluminado pelo Espírito Santo. A comunidade dos fiéis.
Vamos pedir a Deus que Ele nos ajude a ser sincero, conversar com as pessoas se nós temos problemas com elas. Nesse tempo agora no Brasil, está difícil as vezes até conversar com as pessoas, temos que aprender a dialogar. E o diálogo se dá no respeito, mesmo com opiniões diferentes. Aprender a conversar com outro, aprender a respeitar o outro, porque o que nos move é o amor de Jesus Cristo. O outro para mim é um irmão, a outra para mim é uma irmã, é isto vale mais do que qualquer posicionamento. O outro e a outra são irmãos.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 23º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 06/09/2020 (missa às 10h).

O caminho de Jesus é serviço
30/08/2020
Domingo passado, nós ouvimos a profissão de fé de Pedro. Jesus perguntou: "Quem vocês dizem que eu sou?", e Pedro respondeu corretamente: "És o Cristo, o Filho do Deus Vivo". Então Jesus confirma a fé de Pedro e, logo depois, faz este discurso: "O Filho do Homem irá para Jerusalém, vai ser processado, flagelado, morto e ressuscitará ao terceiro dia". Jesus não está falando como um visionário, como um "bruxo" que lê as cartas. Quando você coloca a mão em uma caixa com fios de alta tensão, você sabe que, mais dia, menos dia, irá se queimar; não precisa ser visionário para saber disso. Todos os profetas foram assassinados, todos; nenhum deles morreu tranquilo, na própria cama; João Batista tinha sido morto por ordem de Herodes poucas semanas antes – por isso Jesus fugiu de Herodes. Então Jesus sabe que a vez Dele vai chegar, e ele mostra: "O futuro é este, e esse futuro dará em morte, porque o que eu prego, o mundo não aceita".
Pedro, quando reagiu a essa Palavra, mostrou que a profissão de fé que ele acabava de fazer – "Tu és o Cristo, Filho de Deus" – não tinha o mesmo conteúdo que Jesus entendia. Pedro falava do messias que o povo esperava, um messias político, que ia reunir o povo de Israel, subjugar as outras nações, expulsar os romanos da Palestina e fazer com que Israel fosse a maior nação do mundo. Essa era a ideia doida que eles tinham – um país minúsculo, com ideias megalomaníacas. E foi essa ideia que destruiu o povo de Israel 40 anos depois. Jesus vai logo responder para Pedro: "Esse pensamento não é de Deus. Suma daqui! Você não pensa como Deus". Porque Deus pensa diferente, a salvação de Deus é outra.
Jesus vai dizer: "Quem quer ser meu discípulo, tome a sua cruz todos os dias e me siga. Renuncie a si mesmo". O que quer dizer isso? Que temos que pegar um chicote e ficar batendo nas costas? Colocar pedras no sapato para machucar, para sofrer? Isso é masoquismo, bobagem. Jesus está falando para renunciar a si mesmo, fazer-se servo dos outros, servir aos outros. Não é renunciar à própria inteligência, aos próprios talentos; é usar tudo isso para o bem do próximo, para o bem da comunidade. Ser servidor, e não se valer de tudo isso para crescer e pisar nos outros. Este é o grande desafio que Jesus nos faz: ser servos. Tomar a cruz todos os dias é exatamente isso, porque a renúncia a esse desejo enorme que nós temos de ser deuses – o grande pecado de Adão e Eva – é algo que temos que lutar contra todos os dias, mudando de mentalidade, como diz São Paulo.
Que nós tenhamos, descubramos em nós esse tipo de pensamento, de desejo, não é o problema. O importante é olhar para Jesus, para sua mentalidade, seu modo de agir, e ir acertando nossos passos com os passos Dele. Olhar para Jesus e acertar meu passo com o Dele dói, mas isso é a cruz. "Ah, mas se eu sou servo dos outros, depois não vou ter reconhecimento". Esse é o caminho de Jesus. E quem é que vai reconhecer o que você fez? O servo por excelência, que é Jesus, quando Ele vier na glória dos Seus anjos e santos. Porque o sentido da nossa vida, do nosso empenho neste mundo, é medido e pesado pelo momento do encontro com Jesus. Naquele momento, nós apareceremos diante de Jesus como somos – ou como fomos, porque o único que "É", é Deus.
Construir, dia após dia, o caminho do discipulado; mudar a mentalidade; a isso nós chamamos "conversão", para agir e pensar como Jesus. É isso que nós temos que fazer. Parar de chamar, por exemplo, os pobres e sofredores de "vagabundos"; parar de acusar as pessoas que nos param no farol, que lavam o vidro do carro, vendem bala ou até aqueles que pedem mesmo alguma coisa – aqueles são nossos irmãos que sofrem. Se você não tem nada de material para dar, ao menos dê respeito! Todos nós podemos dar respeito para os outros, e não acusar as pessoas porque são diferentes. Temos que abraçar o outro por aquilo que ele é, porque Deus faz assim, Jesus fazia assim. Amar e respeitar o outro na sua diferença, sem julgar, pois a Deus cabe o juízo. Esse é o caminho de conversão, caminho de mudança.
E quando nós aceitamos seguir Jesus, pode acontecer o que aconteceu com o profeta Jeremias. Jeremias é um profeta dolorido. Se o profeta Isaías era luminoso – ele anunciou que Jerusalém não seria invadida e viu essa promessa de Deus ser cumprida, viu as tropas da Síria sumirem do dia para noite dos arredores de Jerusalém e não voltarem; ninguém podia acreditar naquilo, mas Isaías viu a promessa luminosa de Deus –, por outro lado, Jeremias só anunciava desgraça. "Esta cidade será invadida, não sobrará pedra sobre pedra, vocês todos irão para o exílio". Ele fazia sinais terríveis – abria brechas nos muros e passava à noite, falando que era aquilo que aconteceria com o povo, que seriam todos exiliados e sairiam pelos muros da cidade, humilhados, com a cabeça coberta, expulsos daquela terra. E o que o povo falava? Que Jeremias era tonto, e o ameaçavam. O anúncio que ele fazia era amargo, mas, tempos depois, Jerusalém foi invadida, o rei foi deportado, os grandes do povo foram levados embora e o templo foi destruído. Jeremias, provavelmente, foi deportado para o Egito e assassinado. E ele disse: "É terrível ser anunciador disso, mas Deus me seduziu. Ele me mostrou o caminho, e eu não consigo não seguir por ele, mesmo que as pessoas riam de mim, mesmo que me chamem de bobo, mesmo que digam: 'Você não vai aproveitar a sua vida'. Eu não posso deixar de anunciar o que meu Senhor mandou, porque Ele é como um fogo dentro de mim, e Sua Palavra queima em meus ossos".
Quem encontra o caminho de Jesus se encontra nessa situação de Jeremias: sabe que o caminho é aquele, que a via é aquela; mesmo que os outros riam da minha cara, que as pessoas até tramem minha morte por não gostarem de ouvir o que eu falo, eu não posso deixar esse caminho. É igual ao homem que vende tudo porque encontrou um tesouro num terreno; os outros vão chamá-lo de louco, mas ele sabe que não é loucura; ele vai, compra aquele terreno e, ali, tem um tesouro. São as mesmas palavras do profeta Jeremias: "O Senhor me seduziu, eu não posso abandoná-Lo. Eu sei que isso me custa, mas esse fogo me guia pelo Teu caminho"; "Eu não vou abandonar este caminho. Eu vou vender tudo para ficar com este tesouro, que é a Palavra de Deus".
Hoje, no encerramento do Mês Vocacional para a Igreja no Brasil, nós celebramos o Dia do Catequista. Os catequistas e as catequistas são o braço direito da Igreja, que pregam o Evangelho e ensinam a conhecer, amar e seguir Jesus. Só ama quem ouve falar; só ama quem conhece, então é preciso alguém para anunciar – isso é São Paulo. Quem ama, segue. Então a grande missão dos catequistas é levar a conhecer Jesus e, desse modo, acender o amor por Ele e o desejo de segui-Lo. O batismo é a porta desse caminho. E esse caminho é ouvir a Palavra, conhecer a Palavra, conhecer Jesus. Conhecer Jesus para viver, no dia a dia, no nosso estado de vida, o Evangelho. Este caminho guia toda a nossa vida. Todas as vocações são unidas e guiadas pela Palavra, pela fé que nos é dada no batismo.
Todos nós somos chamados a seguir o Evangelho, todos nós somos chamados à conversão. Conversão é mudar nosso modo de agir e de pensar conforme o jeito de Jesus. Jesus é servo. Jesus é fiel. Jesus não faz acepção de pessoas. Jesus ama, com um amor que não mede consequências; o amor de Jesus não tem limite! Dá vida. Esse é o modelo. A Catequese nos ajuda a conhecer, amar e seguir esse caminho. Vamos pedir a Deus que ajude todos nós a viver o serviço e o amor que Jesus nos propõe no Evangelho.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 22º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 30/08/2020 (Dia Nacional do Catequista, missa às 10h).

O Papa é o escolhido para guiar o povo de Deus na terra
23/08/2020
Hoje nós ouvimos esta passagem do Evangelho de São Mateus [Mt 16,13-20]. É a mesma passagem que se lê no dia em que o Papa inicia seu ministério "Petrino". Antigamente, se dizia "a coroação do pontífice". A partir do Papa João Paulo II, não existe mais a "coroação do Papa". Existe o início do ministério "Petrino". O Papa recebe o ministério no momento em que, diante dos eleitores, ele diz "eu aceito". É um carisma dado, diretamente, por Jesus Cristo. É um carisma, não uma ordenação, da qual o próprio pontífice pode renunciar, como o Papa Bento XVI fez. Um sacerdote, um diácono ou um bispo podem até deixar o ministério, mas nunca se dissolve o sacramento da ordem porque ele imprime um sinal na alma. O Papa carrega esse sinal porque ele é bispo, é diácono, sacerdote, presbítero e também epíscopo. Mas o ministério Petrino é um carisma dado por Jesus, confirmado e mantido pela força do Espírito Santo.
Quando o Papa exerce esse poder? Quando ele prega o Evangelho de Jesus Cristo. Quando ele confirma a fé dos seus irmãos e irmãs. Nós podemos dizer que todos os papas desde São Pio Décio são santos. Mesmo o Papa Pio XI, para o qual não sei se foi aberto o processo de beatificação, foi um homem que enfrentou grandes ditaduras ideológicas do tempo – o nascente fascismo e o nascente nazismo. Ele as enfrentou de uma forma rigorosa e foi responsável por uma grande expansão missionária da Igreja no século XX. Papa Bento XV foi o Papa das "entreguerras". Foi um grande homem, visionário, muito progressista para seu tempo. Depois, nós temos essas figuras maravilhosas: Pio XII, o Papa da Segunda Guerra Mundial e, depois, estes 3 santos – João XXIII, Paulo VI e João Paulo II – que coroaram a segunda metade do século XX, especialmente, com o Concílio do Vaticano II que, muitas vezes, tem sido afrontado por grupos tradicionalistas.
É interessante como nós manipulamos palavras do Papa. O Papa Paulo VI uma vez disse: "a fumaça de Satanás entrou por brechas na parede da igreja. E esses são os que não aceitam o Concílio”. Essa segunda parte da frase quase ninguém usa. Quem não aceita o Concílio não trabalha pela unidade da Igreja. O Papa é, para nós, sinal de unidade. Assim como o bispo na diocese. O clero e o povo de Deus estão em volta dessas duas figuras: o Papa, para toda a Igreja; e o bispo, para a Igreja local. Para Igreja Católica, o Papa Francisco. Para Igreja Católica local, em Santo André, o bispo Dom Pedro. Então o Papa, para nós, é essa figura que nos lembra Pedro.
A igreja de Cristo nunca saiu do mar do mundo. Caminhando, às vezes com mais dificuldade, às vezes com mais facilidade. Quando nós temos homens santos que guiam a igreja, o povo também tem vantagens com isso. O povo se anima. Quando temos pecadores, o povo fadiga mais. Porém, Jesus está sempre nesse barco, e prometeu para Pedro sobre a Igreja: "As portas do inferno não vão destruí-la".
Nós vemos fraquezas, pecados, escândalos. E se nós olhamos a história da Igreja, nós achamos absurdos. Porém, por mais absurdo que seja, nenhum desses homens ensinou algo que fosse contra o Evangelho de Jesus. Sobre eles paira, ao menos, esta graça: guiar o povo de Deus no caminho do seguimento de Jesus, na fé em Jesus. Que ele seja santo ou pecador, mas guie e aponte o caminho de Jesus.
Na Primeira Leitura, do profeta Isaías [Is 22, 19-23], há esse grande mordomo do palácio do rei, que era praticamente o Primeiro Ministro. Era ele que fazia as pessoas se apresentarem diante do rei. Era ele que concedia muitas graças, cuidava da cidade de Jerusalém. E o Sobna não era um bom mordomo, era um péssimo homem. Então, o profeta Isaías fala sobre uma profecia terrível: "você vai ser destituído e um outro honesto e justo será colocado no seu lugar. E ele vai ser chamado de 'Pai do povo' porque ele será um justo administrador da casa do rei. O que ele abrir, ninguém fecha; e o que ele fechar, ninguém abre”. É a mesma coisa São Pedro e o Papa. No processo de guia do Evangelho de Jesus, a palavra do Papa é infalível, no que diz respeito à fé. Há várias questões de moral não condicionados pelo tempo. Existem períodos em que se acredita em uma determinada coisa e, depois, a ciência e o conhecimento humano demonstram algo diferente. Já as questões de fé são mais claras.
É interessante ver como o Papa realmente anima o povo. O Papa João XXIII, no dia em que abriu o Concílio, fez o grande discurso da Lua. Era muito interessante porque o Papa, naquele dia, tinha aberto o Concílio de manhã, e havia cerimônias o dia inteiro. O povo viu o papa duas vezes e isto foi uma coisa de outro mundo. Essa hora então, o Papa estava jantando - era mais de 21h - e o povo não queria ir embora. O povo ainda estava na Praça de São Pedro. Então veio o secretário e disse: "Santidade, o povo ainda está na praça; vai lá falar para o povo ir para casa; fala alguma coisa para o povo". Ele fez um dos mais belos discursos que um papa tinha feito nos últimos 100 anos. Ele falou assim, de coração: "Olhem a lua, que linda ela cheia, uma maravilha”. Disse também que a Igreja se abria para a renovação. E a última frase foi: "Vão para a casa, façam carinho em seus filhos e digam que isso é um carinho do Papa".
Era de uma luminosidade, de um otimismo, de um brilho que só pode vir da inspiração divina. Este ânimo, este encorajamento é a grande missão do Papa. Nós, alguns meses atrás, vimos Papa Francisco, mesmo com um problema no andar, subindo sozinho as escadas da Basílica que levam para o átrio de São Pedro, em meio à chuva, rezando e abençoando o mundo, pedindo a Deus que o mais rápido possível passasse a pandemia. Eu acredito que um homem sozinho nunca tenha reunido em torno de si tantas pessoas. Sozinho, naquela praça, pedindo a Deus com gestos muito eloquentes, simples. Um velho subindo uma escada; um velho rezando; um velho que se dirige à imagem de Nossa Senhora da Saúde, salvação do povo romano.
Depois, aos pés de Jesus, naquele crucifixo. E, se nós prestarmos atenção, atrás dele estava o cerimoniário, que estava se segurando. Porque aquele era o momento do velho rezando pela Igreja e pelo mundo, toda nossa esperança ali, naquele gesto. Depois a bênção para uma praça vazia, mas para um mundo cheio de esperança. Essa é a missão do Papa: nos dar esperança, aumentar e confirmar nossa fé no caminho de Jesus. Vamos pedir a Deus que ilumine o Papa, sucessor de Pedro. Este Pedro que, mesmo na sua fraqueza, conseguiu manter viva a sua fé. Que Deus confirme sempre, através dos sucessores de Pedro, a fé de todos nós no seguimento de Jesus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Ano A) –23/08/2020 (Domingo da Vocação para os ministérios e serviços na comunidade, missa às 10h).

Maria: o primeiro anúncio da Boa Nova
16/08/2020
Hoje a igreja celebra a Assunção de Nossa Senhora. Maria foi a primeira discípula de Jesus, desejada por Deus desde a eternidade, no momento eterno em que Deus, a Trindade, quis a encarnação do Verbo, da segunda pessoa da Santíssima Trindade. Lá, na eternidade, Deus quis uma mãe para o seu filho. Na eternidade, Deus decide a sorte humana. Na eternidade! Deus não criou o mundo para a destruição, Deus não criou o mundo para a falência. Deus criou o mundo para que todos sejam salvos e possam gozar da felicidade eterna de Deus. No tempo, o verbo toma carne no ventre da Virgem Maria, e a presença de Jesus, uma pequena célula, no ventre de Maria, faz com que essa mulher seja a primeira anunciadora de Jesus.
Naquele tempo, havia muitas caravanas, que iam e vinham. A terra de Israel é uma terra de passagem entre os grandes impérios do norte e o Egito, no sul. Então Israel era terra de passagem, então tinha muita caravana. Então, provavelmente, Maria vai, em uma dessas caravanas, até a Judeia. A terra santa, a Palestina, é muito pequena. Ela é quase exatamente do tamanho do nosso estado de Sergipe. Pequena, 21 mil km². Então é rápido se locomover naquela terra. Maria vai, e tem essa frase do Antigo Testamento que diz “como são belos os pés da mensageira que anuncia Sião eis aqui o teu Rei” [IS 52:7]. Essa imagem de Maria caminhando é maravilhosa! Maria vai andando nessas colinas, montanhas da Judeia, carregando em si a promessa de Deus para a humanidade, o Salvador. A própria presença dela é o anúncio “eis aqui o teu Rei, eis aqui o teu Salvador”. Maria vai à casa de Isabel, que também tinha recebido uma graça de Deus. Essa mulher, que provavelmente casou-se com uns 12, 13 anos como qualquer mulher daquele tempo, durante toda a sua vida, não pôde ter filhos, agora quem sabe, lá nos 45, quase 50 anos, quando as esperanças são praticamente zero para uma mulher ter filhos, vamos pensar, no fim da menopausa, e, de repente, esta mulher engravida. Ninguém pode acreditar nisso! “Mas que coisa absurda, no tempo da fertilidade ela não ficou grávida e agora que está acabando tudo, acontece esse verdadeiro milagre”. E o anjo tinha falado disso para Maria, então Maria vai levar o anúncio da fidelidade de Deus para Isabel: “Olha aqui, o Salvador mostrou fidelidade para você. Ele mostra fidelidade para o nosso povo. A promessa que Ele fez desde o início está sendo cumprida agora!” Então Isabel, quando escuta a saudação de Maria “Shalom!”, exulta no Espírito Santo e louva Maria com as palavras que nós todos os dias repetimos na Ave Maria: “bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre”. Louvor a essa mulher que traz em si a Salvação. Ela não é a salvadora, mas ela leva, ela anuncia aos outros o Salvador que ela mesma tem no seu ventre.
E o Evangelista coloca na boca de Maria este canto maravilhoso que é o Magnificat, que é um pré-anúncio das bem-aventuranças do Evangelho de Lucas. O Senhor dispersa os soberbos, derruba poderosos, salva famintos, salva os pobres. Deus ama no avesso da história! Essa é a grande mensagem do Evangelho. O nosso Deus não é um deus desse mundo, e quando nós falamos desse mundo não quer dizer terra, sol e lua, esse mundo é da mentalidade que nós humanos criamos. Ele não é da nossa mentalidade não, Ele é diferente! Ele vira o mundo pelo avesso, Ele olha o mundo por aquilo que a nossa mentalidade despreza: os humildes, os pobres, os famintos. Ali está o olhar de Deus, e é a partir dali que Deus vai salvar toda a humanidade, de baixo, a partir daqueles que são o refugo do mundo. Maria nos ensina a louvar a Deus e reconhecer que toda obra da salvação é graça Dele. Maria não canta nada para si mesma: “eu sou uma serva humilde, Ele olhou para o meu pouco, para aquilo que eu não valho. Eu sou nada.” É interessante dizer que Jesus, no Evangelho de Mateus vai dizer: “vinde a mim porque sou manso e humilde de coração.” A humildade é uma característica de Deus. Maria também vai dizer: “olhou para a minha humildade, para a minha humilhação, para o meu nada”. Nós, cristãos, somos chamados na nossa vida a viver sempre na humildade de Deus.
E nós temos depois a vida de Maria. A um certo momento ela se torna discípula de Jesus, nós não sabemos quando, mas, lá no Pentecostes, Maria está com a comunidade dos discípulos e Maria estava perto da cruz. E nós cremos que, no momento da sua morte, ela foi assumida na Glória de Deus, em corpo e alma. Ela brilha para nós como garantia da promessa de Deus para nós. E a promessa de Deus está lá no Antigo Testamento: “meu povo, quando eu abrir os vossos túmulos, quando eu vos chamar dos vossos túmulos, naquele dia vocês verão que eu sou o Deus fiel, digo e faço” [Ez 37:12]. A Assunção de Maria é, para nós, um sinal que Deus nos dá de que esse é realmente o nosso destino. A ressurreição de Jesus é a porta que abre esse caminho para a casa do Pai – Jesus é o caminho! Maria, para nós, mostra que, por esse caminho, todos nós passaremos, essa é a nossa grande esperança, a força para o nosso caminho, a força para enfrentar as dificuldades da vida, as dificuldades desse momento. Tem muita gente que está deprimida, tem pessoas que estão desesperadas. Nós, cristãos, somos o povo da esperança. Quantas desgraças se abateram sobre a humanidade? Sobre povos inteiros! E a humanidade consegue se refazer, mudar as estradas tortas da vida. Às vezes cai em estradas mais tortas ainda, mas muda esses momentos. Nós, nesse tempo de sofrimento, quando a gente fica perdido para todos os lados, não sabe quem está falando a verdade – nós, cristãos, não podemos perder a esperança! Nós somos o povo da esperança. Para quê? Para que nós possamos construir um mundo melhor, um mundo verdadeiro. Maria, para nós, brilha como uma estrela que nos diz “sigam Jesus como eu segui e vocês vão construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais verdadeiro!”. Hoje nós temos as desgraças dessas fake news que nos fazem não acreditar mais em quase nada, não é? Então Maria nos aparece como esse sinal, essa garantia: “sigam Jesus e vocês conseguirão construir um mundo de paz, de verdade, de diálogo, de justiça, de solidariedade”.
Muito bem, hoje também nós celebramos junto à Assunção de Nossa Senhora, o dia dos religiosos e religiosas. Quem são os religiosos e religiosas? São pessoas chamadas por Deus a seguirem Jesus seguindo as regras de vida – nós chamamos formas de vida – propostas por alguns santos e santas, pessoas que fundaram esses movimentos. Como nascem os religiosos? Os religiosos nascem no início do quarto século, logo depois que o imperador Constantino dá a liberdade religiosa para os cristãos. Desaparece o martírio, os cristãos não são mais perseguidos, e alguns homens e mulheres começam a achar “mas a vida cristã virou água com açúcar, que negócio é esse?”. Alguns, não poucos, homens e mulheres vão para regiões desérticas, montanhas, vales, para, ali, viver uma vida muito austera. “Como nós não somos mais perseguidos pelo Estado, não somos mais martirizados por causa de Jesus, nós vamos procurar viver uma vida austera para manter dentro do povo de Deus esse sentimento de levar muito a sério o Evangelho”. Dessa forma nasceram as formas monásticas, os beneditinos, os basilianos, várias ordens monásticas dos primeiros séculos quatrocentos, quinhentos do Cristianismo. Essas primeiras formas de vida vão evoluir e depois vão se tornar as ordens religiosas de nós conhecemos por volta de 1200. Depois, nós vamos ter um grande florescimento da vida religiosa nos anos 1500 e, novamente, nos anos 1800. Um número enorme de congregações religiosas voltadas, sobretudo, para a educação, para os hospitais, para as prisões. Naquele tempo, quem cuidava das cadeias eram os religiosos, não era a polícia. Antigamente não tinha escola pública, tinham essas escolas que os padres e as freiras organizavam, e geralmente para as crianças pobres. Também hospitais eram guiados e cuidados por religiosos. Então, os religiosos são para nós esse sinal. Ser cristão é levar a vida cristã a sério. Um pai, uma mãe de família, que levam a vida cristã a sério, são, também, luz para toda a comunidade – são luz para os próprios religiosos, são luz para os padres. Um padre que leva a sério a sua consagração, a sua ordenação, é luz para o povo. Um leigo, uma leiga não casada que leva a sério a sua vida cristã, é uma luz para a comunidade. Nós temos sempre que lembrar que não existe um modo, um cristão de classe A, de classe B, isso não existe. Nós somos todos povo de Deus. Temos várias formas diferentes de viver o cristianismo, a nossa fé, mas não existe classe A ou classe B. O padre não é classe A, os religiosos classe B, e os leigos classe C, isso não existe! O que existe são irmãos, irmãs, discípulos e discípulas de Jesus. Não há classes dentro da igreja, por isso nós somos católicos. Não tem classe, não é exclusividade de uma nação, não é exclusividade de uma língua, não é exclusividade de uma população particular. Ela é chamado para toda a humanidade, católico, todo, totalidade. É chamado a todos serem irmãos e irmãs sem ter distinções e classes.
Vamos pedir ao Senhor que nos ajude a ser anunciadores do Evangelho como Maria foi anunciadora do Evangelho, e a levar muito a sério a nossa consagração batismal para que nós possamos ser luz, os religiosos possam ser luz, os leigos possam ser luz, os sacerdotes possam ser luz. Todos irmãos e irmãs em Jesus Cristo.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Ano A) –16/08/2020 (Domingo da Vocação para a Vida Consagrada, missa às 10h).

Coragem. Sou Eu. Não tenham medo
09/08/2020
Nossa igreja ainda está vazia. Nestes próximos dias, nós vamos treinar o pessoal para acolhida, para guiar as pessoas. E, se não mudar nada, em setembro vamos voltar, devagarinho, às missas presenciais. A gente diz "se não mudar nada" porque não se sabe como esta pandemia é. Os números não diminuem, eles se estabilizaram nos 1.000 – e isso não é uma estabilização: 1.000 pessoas que morrem por dia de covid-19, além das outras doenças, é um número assustador! Teme-se que alcancemos 200 mil mortes até o fim de outubro... São números assustadores! E perceber o esforço mínimo – para não dizer quase desprezível – do nosso Executivo com a covid-19, com esta pandemia que está matando, está tirando tantas vidas de forma totalmente desnecessária... Isso é um absurdo.
Muito bem! Nós ouvimos dois textos muito interessantes. No livro dos Reis [1Rs 19, 9a. 11-13a], o profeta Elias tinha sido perseguido pela terrível rainha Jezabel, depois de fazer sinais potentes contra os sacerdotes pagãos. Ele escapa, foge. Chegando no deserto, para embaixo de uma árvore e pede a Deus: "Deixe-me morrer!". Mas um anjo aparece e lhe dá, três vezes, pão e água. E, com esse alimento, ele caminha 40 dias no deserto, até chegar ao monte Horeb. Lá, entra numa gruta, e Deus fala para ele: "Venha até a minha presença". Então ele escuta este vento terrível, terremoto, fogo... Mas ele sabe que Deus não está nessas coisas. Depois o texto é muito interessante! Nós falamos "Ouviu o murmúrio de uma brisa leve", mas não: "Ouviu o silêncio de uma brisa leve". Nesse momento, ele cobre o rosto, porque ninguém pode ver a face de Deus. O único que vê a face de Deus é o Verbo Eterno, que se esvaziou de si mesmo e entrou em nossa história: Jesus Cristo, Ele vê o rosto de Deus, o rosto do Pai, porque Ele é igual ao Pai, nós não somos iguais a Deus. E aí, então, Deus vai dar uma nova missão para o profeta. Elias tinha pedido para morrer, mas Deus dá uma bronca nele, e Elias vai, unge um rei, unge Eliseu como profeta... Ele tinha outra missão para cumprir.
A presença de Deus. O "Deus Terrível" não é o Deus de Israel; o "Juiz Implacável", o "Deus do Medo" não é o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo! Nós temos que colocar muito bem isso na cabeça. Deus não ameaça, Ele mostra as evidências dos fatos. "Se vocês não se convertem, se vocês não se tornam verdadeiros seres humanos, do que valeu a vida de vocês? Que sentido tem a vida desse jeito?". Perder o sentido da vida é como viver uma vida de lixo. Deus mostra a evidência do viver. "Vocês, na vossa vida, têm que se humanizar". E ser humano é ser que ama, é isso que nos distingue dos animais, é isso que nos distingue do Universo enorme que está em volta de nós. Nós somos capazes de amar! E é no amor ao próximo que se mostra a nossa semelhança com Deus. Uma vida gasta pelo bem dos outros, e nós encontramos pessoas felizes.
Depois, nós temos este Evangelho muito interessante [Mt 14, 22-33]. Jesus ouviu falar que Herodes tinha matado João Batista e fugiu, foi para um lugar deserto, longe. Ali, as multidões foram atrás Dele. Jesus fez o sinal do Pão da Vida, deu pão ao povo, pão no deserto; esse povo foi convidado a não viver mais de uma memória do passado, mas abraçar Jesus, que é o verdadeiro Pão da Vida. Depois, Ele despediu a multidão e falou para os discípulos atravessarem o mar da Galileia e irem para o outro lado, enquanto ele ia se retirar para rezar. Eram horas de travessia no mar da Galileia, um lago gigantesco – tanto que era chamado de mar. E no mar da Galileia existe uma situação muito perigosa, que são os ventos. Como lá é baixo, os ventos descem a 90º e levantam ondas terríveis, que podem realmente afundar barcos, fazer desastres. E elas acontecem de um momento para o outro. Então os discípulos estão ali, driblando como podem essas ondas, quando veem Jesus se aproximar. Depois, Jesus vai entrar na barca e eles vão conseguir se salvar desse mar bravio.
O evangelista pegou esse milagre que Jesus fez para nos ensinar muita coisa sobre Deus, muitas coisas sobre a Igreja e sobre a nossa fé. Jesus subiu para a montanha; Ele não estava com os apóstolos, Ele os mandou: "Vão. Vão pelo mar". Uma ordem de Jesus. Isso lembra Jesus que sobe ao Céu depois da Ressurreição e os apóstolos são mandados a anunciar o Evangelho no mundo, um mundo hostil, que vai matar muitos cristãos, que pensa muito diferente do Reino de Deus. E esses homens estão nessa barca pequena – comparada ao gigantesco mar da Galileia, a barca não é nada. Como é que você vai enfrentar os horrores do mundo? A tempestade simboliza isto, o mar revoltado. Deus é aquele que comanda sobre as águas, que manda que as águas se abram para que passe o povo de Israel a pé enxuto. Deus tem o comando sobre os elementos e sobre a maldade do mundo. O faraó estava correndo atrás do seu povo para exterminá-lo, e o povo, de repente, se encontra com a muralha do mar. "O que nós vamos fazer agora? Estamos perdidos! Só temos o mar a nossa frente e o faraó, louco, atrás de nós". Aí Deus fala: "Não. Eu sou o Senhor da história!", e Ele abre o mar e o povo passa; os egípcios entram atrás, o mar se fecha e morrem todos. Jesus mesmo já tinha acalmado uma outra tempestade no mar da Galileia, comandando os ventos como se comanda um cachorro. Jesus estava no barco, dormindo; a água começou até a entrar no barco, os discípulos se desesperaram, chamaram Jesus. Ele se levantou e disse: "Quieto!" – igualzinho nós fazemos com um cachorro: "Vá para a casinha! Vá embora!". Do mesmo jeito, Ele comanda as forças adversas; e, estas, calam, porque a voz de Deus é soberana.
Então os apóstolos estão lá, no mar, e Jesus vai até eles. Num primeiro momento, pensam que é um fantasma (quando Jesus ressuscitou e apareceu aos apóstolos, Tomé duvidou: "Enquanto eu não tocar a marca dos cravos, não vou acreditar"); eles veem essa figura andando em cima do mar – que coisa mais absurda – e gritam de medo! E Jesus diz: "Coragem! Sou Eu. Não tenham medo". Três vezes. Jesus vai quebrar o ferrão que o maligno colocou no nosso coração no dia do pecado das origens. Primeiro, Jesus chama à coragem: "Não tenham medo, não se desesperem. Coragem! O mar está feio? Vão em frente!". Sou Eu. "Sou Eu" é o nome de Deus. Jesus é Deus como o Pai, e o poder de Jesus está acima do poder do mal. E Jesus vai mais adiante: "Não tenham medo". Para o medo e a desconfiança da bondade de Deus ("mas será que Deus nos ama mesmo?"), Jesus diz: "Não tenham medo. Confiem!". A grande consequência do pecado das origens é perder a confiança em Deus, achar que Deus está nos enganando, está mentindo para nós; não confiar também no outro, começando a vê-lo como inimigo – como Caim e Abel, inveja do outro; e, ainda, a desconfiança sobre nós mesmos. É a desarmonia do coração humano com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Jesus vai dissolver esse veneno, dizendo: "Não tenham medo. Não desconfiem de Deus. Não duvidem de Deus. Porque Deus é fiel!". É isso que Jesus está nos ensinando, é isso que vai acabar com o veneno que o maligno colocou no nosso coração, com o joio que ele semeou na nossa vida. Deus é mais que isso, e a confiança radical em Deus vai nos garantir caminhar no meio dessa tempestade.
Aí nós temos Pedro, este homem espontâneo, cabeça dura, orgulhoso e covarde. Porém, é um grande líder. E Ele diz: "Senhor, se é você...". Atentos! "Se é você". A fé de Pedro ainda não é total, ele quer sinais. É uma fé que ainda está fraca, bem fraquinha. Mas é uma fé suficiente. Jesus vai dizer: "Vem", e Pedro começa a andar sobre as águas, indo em direção a Jesus, sob o comando de Jesus. Mas Pedro – que deveria ter os olhos fixos em Jesus, confiar Nele, não duvidar, jogar fora do coração o veneno do maligno – se assusta; ele olha, vê o mar, vê as ondas... Aí a fé fraqueja. "Quem vai conseguir vencer tudo isso?". E é interessante que o Evangelho diz: "Pedro começa a afundar". Mas não é afundar devagarinho... Não, começa a afundar como uma pedra pesada! Pedro é pedra nisso também. Essa pedra é como certas rochas lá do mar da Galileia, que são todas pintadinhas de branco e preto. Pedro é este homem que parece um barco que vai, mas vai balançando, um homem que constantemente tem que se confrontar com sua fraqueza, com sua traição; e, constantemente, gritando a Deus: "Senhor, salva-me! Senhor, salva-me!". A fé de Pedro é fraquinha, mas suficiente para ainda, no desespero, gritar: "Salva-me, Senhor!". E interessante também é o gesto de Jesus, que mostra a fidelidade absoluta de Deus. Jesus, imediatamente, segura Pedro, mostrando, nesse gesto, a sua fidelidade radical. Deus não vai nos abandonar! Nem que nós tenhamos que caminhar pelo vale escuro da morte, porque nem a morte é um problema – nós vimos isso na ressurreição de Jesus, nem a morte. Confiem!
Então Jesus pega Pedro e pergunta: "Por que você duvidou? Homem de pouca fé! Não duvide". E Jesus está falando isso também para nós. Ele não está prometendo um mundo maravilhoso se nós rezamos, se vamos à missa; Ele está nos dizendo: "Não tenha desconfiança de Deus, em qualquer situação adversa da vida, por mais terrível que possa ser". Deus não vai tirar as dificuldades da vida, mas estará sempre próximo de nós. Essa é a fidelidade de Deus. Deus não está "acima de todos", como certos doidos falam por aí; Deus está no meio do seu povo. Cuidado com as bobagens nazistas e neonazistas que nós escutamos da boca de muitas pessoas... Deus está no meio do seu povo, Deus caminha conosco, Deus está presente nas situações de dor e sofrimento do mundo. Deus está no meio de nós.
E aí vem a promessa de Deus, que é esse barco chegar no porto para o qual ele estava destinado. Teve uma santa mística, Santa Emmerich, que teve uma visão da humanidade, e ela ficou aterrorizada. Ela tinha Jesus ao seu lado e falou: "Meu Senhor, mas que horror! O que o pecado fez com a humanidade?!". E Jesus disse: "É verdade. Mas, no fim, tudo vai dar certo". Essa é a confiança serena dos discípulos de Jesus. A realidade pode nos destruir, pode nos esmagar, pode nos matar; mas a fidelidade de Deus nos fará chegar ao porto seguro da Salvação. Nós temos um exemplo disso na vida de Dom Pedro Casaldáliga. Ele não teve medo de enfrentar desprezo, calúnia, perseguição – até do alto escalão, até da Igreja! – para permanecer fiel: "Deus está no meio do povo pobre, Deus está no meio dos indígenas perseguidos, Deus está no meio dos camponeses que estão sendo massacrados pelos grileiros. Eu tenho que ir ao encontro desses sofredores, dar voz a eles, estar com eles, viver a vida deles". Por quê? Ganhou grandes títulos? Não. Foi promovido para uma grande diocese? Não. Recebeu chapéu cardinalício? Não. Porém, gastou a vida fazendo o bem, porque acreditava na fidelidade de Deus. Esta vida, nós podemos gastar! Esta vida, podemos colocar toda a serviço dos outros. Não nos preocupar com títulos, com poder, com dinheiro; gastar a vida pelos outros, porque a chegada no porto da Salvação é segura.
Os pais são, para nós, essa figura. A mãe é o sonho do paraíso perdido – eu gosto muito dessa imagem. É uma imagem muito psicológica, mas diz muito sobre a figura do pai e da mãe. A mãe é esse paraíso que nós perdemos na hora do nascimento e para onde sonhamos a vida inteira em voltar: não tem trabalho, a gente não precisa nem respirar, tem tudo, é quentinho, não tem nenhum problema. O pai é aquele que nos ampara quando esse mundo maravilhoso colapsa com o parto e nós somos jogados fora. A primeira coisa que a criança sente quando nasce não é a necessidade de respirar; o primeiro choque que a criança leva é a queda da temperatura: frio. Muda, o espaço cresce de modo infinito. Esse é o primeiro choque da criança. E a imagem psicológica é a do pai que está ali e recebe essa criança que sai do útero da mãe. Ele é o primeiro que vai acolher essa criança e levá-la, educá-la para enfrentar as adversidades do mundo, enfrentar o mundo. Esta é a missão do pai: ajudar seus filhos a enfrentarem o mundo. Como a águia, no alto do abismo; mal dá para se mexer no ninho; chega uma hora que os filhotes ou aprendem a voar ou morrem. Os pais vão nutrir, vão ficar voando em volta, devagarinho, para as aguiazinhas olharem, verem como é, até o momento em que elas vão se jogar de cima do abismo. Para esse momento, os pais nos prepararam: para o momento de abrir as asas e se jogar na vida, com aquilo que os pais nos deram, com os valores, com as lutas que os pais nos deram. E nós não podemos delegar essa função para a escola, para os catequistas, para a televisão. São vocês, pais e mães, que têm que dar esses valores para os filhos. Vocês têm que educar. Na escola, vossos filhos vão receber informações, formação; mas não substitui a vossa responsabilidade, que é um drama hoje nas escolas – os pais que delegam para a escola uma função que é deles. Vocês têm que educar, vocês transmitem valores, vocês têm que aprender a gastar tempo com os vossos filhos; não dar o celular o tempo inteiro, mas vocês falarem, dialogarem, se confrontarem, brincarem com vossos filhos. Vocês, pais e mães. É uma grande missão! Deus chama, Deus pede. Para que? Para que nós possamos fazer com que este mundo, este aqui, seja o mais parecido possível com aquele paraíso com o qual nós sonhamos a vida inteira. Essa é a via que vai nos conduzir ao porto seguro da Salvação. E nós não temos que ter medo das ondas da vida, das tempestades. Não. Deus está conosco! Não está acima de nós, Ele está conosco, caminha junto conosco, quer o nosso bem, quer a nossa salvação.
Queridos pais, feliz Dia dos Pais! Bendito seja Deus pela vossa missão, pela vossa vocação maravilhosa. Vocação primordial, que está no momento da criação dos homens. A maior de todas as vocações: a maternidade e a paternidade. Deus abençoe todos vocês e dê a vocês, realmente, coragem, fé na fidelidade de Deus. Sejam, vocês mesmos, sinal desta fidelidade para vossos filhos, e nós teremos, realmente, um mundo melhor.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 19º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 09/08/2020 (Domingo da Vocação Familiar e Dia dos Pais, missa às 10h).

Lutar contra as desigualdades é papel de todos
02/08/2020
Na bíblia, imediatamente antes deste Evangelho [Mt 14,13-21], nós temos o relato da morte de João Batista. Esta morte acontece durante um banquete dado pelo Rei Herodes para os poderosos de sua corte: os generais, os nobres, a sua esposa Herodíades. Muitas vezes, para que os grandes se banqueteiem eles precisam criar multidões de famintos. Assim como ocorria nas demonstrações de poder do império romano e de todos os impérios, criando acúmulo nas mãos de poucos e miséria para milhões. E nós não estamos muito longe disso não. O nosso país está em uma situação triste.
Jesus fica sabendo disso e vai para um lugar deserto e distante porque Herodes era terrível. Ele parecia ser bonzinho, mas ele era tremendo. Em todo grupo que ele achava que iria fazer um barulho qualquer na sociedade, ele pegava o líder e cortava a cabeça para dispersá-lo. Fez exatamente isso com João Batista e depois vai ajudar a fazer com Jesus. Jesus sabe disso e então escapa e vai para o deserto, onde encontra a multidão. O deserto não é a corte, a multidão não são os nobres. E quando é dito no Evangelho que Jesus curou os doentes no deserto, a Palavra também pode ser traduzida por “fracos”. Os pobres, as pessoas sem voz na sociedade, as vítimas de tanta miséria não têm voz, são fracos diante dos poderes que os esmagam. E Jesus vai ao encontro deles e sente compaixão. Deus se coloca no lugar de quem sofre pois Deus está com quem sofre.
Hoje temos pessoas que perguntam: onde está Deus nessa pandemia? Deus está no hospital com quem está sofrendo; está na cracolândia com o pessoal que tem sofrido muita violência e pobreza; junto com os miseráveis. Do mesmo jeito que Jesus fez com estes miseráveis.
Chega a hora da tarde e lá estavam 5 mil homens, mulheres e crianças. E os apóstolos, com a mentalidade do mundo, orienta que mandassem essa gente embora para comprarem comida. Mas então Jesus mostra a mentalidade de Deus, que é desconcertante, e diz: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Não tem que mandar o povo embora. E os discípulos se perguntam como. A multidão não é só as 5 mil pessoas. Entre eles estão representados todos os discípulos de Jesus que virão em todos os tempos. De algum modo, podemos dizer que estamos no meio daquela multidão. E Jesus, do mesmo modo que, no deserto, o povo reclamou pra Moisés que estavam passando fome sem pão e Deus mandou maná (o maná era um grão que aparecia no começo da manhã, com o qual conseguiam fazer um tipo de pão, o pão do Céu), Deus alimentou o seu povo. Jesus pega o pouco que os discípulos tinham. Às vezes, a gente vai passear, vai no parque e coloca um lanche ou uma fruta na bolsa para comer. Às vezes, a criança vai brincar com o amiguinho e a mãe manda um lanche junto. E então Jesus, naquele tempo, fez a mesma coisa: pede aos discípulos para juntar o que eles têm: 5 pães e 2 peixes secos. E então Jesus pede para o povo sentar-se.
Devemos prestar atenção nos 4 verbos que ouvimos aqui. Jesus pegou o pão, olhou para o céu e deu graças, repartiu o pão e deu aos discípulos para que distribuíssem. Esses 4 verbos são exatamente os mesmos que nós pronunciamos quando celebramos a Eucaristia. O pão da vida é o pão da partilha. É o pão que nos faz todos irmãos. E não é comer um pedacinho de pão. O Evangelho diz que comeram até saciar-se. É a palavra do profeta Isaías que se torna realidade presente. Deus está aqui, o Reino de Deus está aqui e Jesus apresenta isso como um sinal: a partilha, o repartir o pão, que é o caminho de Deus. Quando partilhamos, todos podem ter com abundância. É assustador ver, por exemplo, que no mundo menos de 1% da população tem mais da metade do que se produz no mundo, ou seja, dinheiro. Os outros 7 bilhões e meio tem que se contentar com o resto. Tem alguma coisa errada nisso e essa proporção não é diferente no Brasil. E com a pandemia, a coisa piorou. Tem gente que se aproveita até disso e tira a ajuda que o governo dá para os necessitados, pessoas que estão sem emprego. Primeiro, o governo queria dar só R$ 200 e o Congresso brigou para dar R$ 500. Depois, para se apoderar e se aproveitar disso como dele, o Executivo colocou R$ 600 e apresenta isso como coisa dada por ele, mas não é verdade. É uma conquista do Congresso Nacional. O Executivo está se apropriando do que não é dele em outras coisas também. Vai inaugurar coisas no Nordeste para tentar convencer os nordestinos a votarem nele com obras feitas por outros. Isso é o poder do mundo que engana o povo, mente. Esse é o poder de Herodes, a corte que mata. Essa é a corte que toma do povo e não pensa nele pois, se pensasse, a situação em que estamos hoje não seria o que é.
Nós sabemos disso: o pão que Jesus partilha é o pão da vida, do cuidado pelo outro. Jesus se aproxima do fraco e o cura. Deus não precisa se preocupar com rico pois ele já tem o bastante. É a partir do fraco que Ele salva o mundo. Deus não foi multiplicar o pão de Herodes - o pão da iniquidade, que mata a voz daqueles que proclamam a verdade. Olha como os Evangelhos são atuais. Estamos enfrentando uma onda de “fake news” (notícias falsas), que tentam agora destruir o nome de pessoas que denunciam os absurdos que estão acontecendo no nosso país, contra o nosso povo. E quem denuncia é destruído. Esse é o mundo da iniquidade, o banquete de Herodes. O banquete de Jesus é o da partilha, onde todos têm vida.
Mas não tem conversão para Herodes? Uma das discípulas de Jesus era nada menos que a mulher do ministro da economia de Herodes. Há possibilidade sim, mas tem que entrar na mentalidade do reino que é compaixão, aproximar-se de quem sofre e viver do pão da partilha, da igualdade e do respeito. Este é o caminho de Jesus e é disponível para todos! Jesus não exclui. Quem exclui é a corte de Herodes. Quem faz as pessoas fugirem é a corte de Herodes. Quem mata é a corte de Herodes. Quem difama é a corte de Herodes. No banquete de Jesus, todos são irmãos, todos têm o seu espaço, todos ficam saciados, não tem excluídos.
Essa é a novidade do Evangelho. E dizer que o Evangelho não fala nada para a vida é uma idiotice. O Evangelho está mostrando quase um caminho de economia, um verdadeiro caminho de política social, a partilha que todos tenham e não migalhas como estão querendo fazer por aqui, com a continuidade de uma política de 60 anos atrás. Ninguém mais acredita nessa política absurda que está sendo feita, que faliu em muitos países que tentaram implantá-la. Só enganando o Brasil e só torturando a nossa gente. A corte de Herodes não serve. O único lugar é o Reino de Jesus e sua prática de partilha, solidariedade e compaixão.
Hoje também começa o mês de agosto e vamos refletir sobre as vocações. No primeiro domingo, refletimos sobre a vocação sacerdotal e, aqui na Diocese, estamos celebrando o ano vocacional. E Deus nos deu a pandemia no ano vocacional para nos lembrar disso: o sacerdote é o animador da comunidade. Ele também tem que fazer o mesmo caminho de todos os discípulos de Jesus. Não somos mais que ninguém. Nós somos discípulos e também temos que estar em constante caminho de conversão para que a Eucaristia que celebramos se torne vida concreta do nosso dia a dia. Que o nosso ministério seja partilha da vida para que os outros sejam consolados, ajudados e alimentados.
As pessoas podem perguntar onde foram parar aqueles 12 cestos. Eles são um símbolo do pão que Jesus continua distribuindo para o seu povo ao longo dos séculos através dos seus apóstolos. Lá eram doze, hoje são muito mais. Que o Papa Francisco, os nossos bispos, todos os sacerdotes e Jesus “deem esse pão, anunciem o reino, defendam a vida para que todos tenham vida, para que todos possam ser saciados”. É esse o mundo que Jesus quer, é esse o mundo que nós podemos começar a construir aqui nessa sociedade. O padre pode falar de política na missa pois o simples fato de ser humano e estar com outra pessoa já nos coloca em uma situação política. Isso é o Evangelho. O Evangelho de Jesus não é só para criar um conforto na alma da gente. Isso qualquer balela ou qualquer conversinha mole consegue. O Evangelho de Jesus é para que nós comecemos aqui e agora, com nossas opções e ações, a mudar esse mundo.
É possível que este mundo seja diferente. Vai demorar sim. Vai precisar de muito caminho sim. Passo a passo. Mas nós podemos ser o primeiro passo de um caminho de quilômetros. E, às vezes, vamos ver somente o primeiro passo, mas já nele estará o Reino de Deus. Esse reino vai ser pleno no dia da glória eterna, mas o Reino de Jesus começa aqui. Jesus quer que esse mundo, que muitas vezes parece um deserto, comece a ser um mundo de partilha e deixe de ser uma corte que gera morte. Que aprendamos com este Evangelho a olhar o mundo de outro jeito: partilha, proximidade com os que sofrem, compaixão. Estas são as palavras-chave que devem nos guiar a partir desse Evangelho. E nós, sacerdotes, somos chamados a anunciar o Evangelho de Jesus inteiro. Se nós mutilamos o Evangelho, calamos Jesus e somos servos de Herodes que, mais uma vez, cala a voz dos profetas. Vamos pedir ao Senhor que nos ajude a sermos fiéis ao Evangelho e que dê a nós, sacerdotes, na nossa fraqueza e miséria, a graça de poder anunciá-lo com coragem.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 18º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 02/08/2020 (missa às 10h).

Valorizar o verdadeiro tesouro da vida
26/07/2020
Essas três parábolas [Mt 13, 44-52] são o final do Capítulo 13 de São Mateus, do terceiro sermão de Jesus. E o que nós temos? Nós temos a história deste homem, provavelmente pobre, que estava andando pelo campo, procurando alguma raiz, alguma fruta, ou até recolhendo algum trigo que sobrou da colheita de outros. E de repente, ele olha no chão, e encontra um pote, cheio de dinheiro ou de joias. Que coisa gozada, não é? A gente sair pelo meio do campo e achar um pote cheio de ouro, pois é. Essa prática era muito comum entre os judeus, na Antiguidade. Tanto que quando Roma invadiu e destruiu Jerusalém, quando cavavam nos campos e terrenos, encontrava-se muitos tesouros, porque o pessoal tinha costume de enterrar os tesouros. E o que acontece? Este homem pobre encontra esse tesouro e não pode carregar para casa dele, então o que ele faz? Ele vende tudo o que tem – o pouco que tinha – vendeu tudo, foi lá e comprou aquele terreno. Ele diz ao dono: "Olha, quero comprar este terreno, o dinheiro está aqui". O terreno custava 10 mil reais, e o tesouro valia 1 milhão e meio de reais. Esse é o homem pobre, o tesouro é o Reino dos Céus. Então nos ensina a ter a coragem de jogar tudo o que temos para seguir o caminho do Reino.
Aí Jesus conta a segunda parábola: uma parábola interessante de um mercador de pérolas. O pessoal do "mundo das vendas" era muito mal visto pelo povo de Israel, porque eles sempre "passavam a perna" nas pessoas: põe umas gramas a menos no pacote, vende trigo de má qualidade, tenta empurrar sandálias que não prestam para os pobres, era um embrulho só. Então, esse homem estava lá fazendo as compras dele e, de repente, bate o olho e vê no meio de muitas coisas uma pérola, e ele pensou "Se eu descascar essa pérola, vai valer uma fortuna". Vocês sabiam que as pérolas são semelhantes a uma cebola? Elas vão sendo formadas em películas e, quando nós tiramos a pérola da ostra, a película é muito feia. Então você tem que ir devagarzinho descascando a película da pérola até chegar na casca que é limpa e brilhante. Então este homem, visto que o comerciante não percebeu que era valioso, vendeu tudo o que ele tinha e comprou a pérola. Chegou no comerciante e disse: "Ah eu quero esse negócio aí, deve valer uns 10 reais" e, na verdade, vale 10 milhões.
Se vocês lerem aquele romance histórico "Chica" – não a novela, mas sim o livro. O livro começa com a história de um casal que recebe um português rico, dono das terras. O português vai até a casa deste casal, e percebe que tem uma pedra igual um ovo de galinha que a moça colocava para segurar a porta para a porta não bater. O sujeito olha e pergunta: "Que pedra diferente, não é?", a mulher responde, "Pois é, é um cascalho que achamos por aí". O homem tinha um olho muito bom, e perguntou novamente: "Posso ficar com essa pedra?", ela responde: "Claro, é cascalho, tem um monte de cascalhos por aqui igual esse". Então esse português enfia a pedra no bolso, leva de volta para Portugal e manda pra Holanda para lapidar a pedra. E o que aparece? Um diamante, de primeiríssima qualidade. Aí ele pensa: "Opa, a moça falou que tem um monte de cascalho igual esse, perto do rio seco, no meio da minha terra". E aí começa o ciclo do diamante no Brasil. Depois tem a história toda da extração dos diamantes e a corrupção terrível que existia no tráfico dos diamantes e do ouro – foi uma situação terrível. Mas ali nós vemos esta história que é muito parecida com a história do negociante que tinha o olho bom. Para a moça era um cascalho, mas para o homem que tinha o olho bom, era um local que tinha muita coisa valiosa. É a mesma história do homem das pérolas, ele tem o olho fino, ele era uma pessoa que procura, era um homem esperto.
Jesus vai elogiar, também em outro lugar, um sujeito esperto. Ele metia a mão, não nos bens do seu senhor, porque nesse ele não podia meter as mãos, mas ele cobrava juros absurdos. A pessoa ficava devendo 10 barris de óleos para o senhor dele e ele falava: "Tá bom, eu te empresto, mas você vai ter que pagar mais vinte de volta". Era um agiota terrível – hoje em dia é crime: emprestar dinheiro a juros é crime e se chama agiotagem. Então, aquele sujeito fazia exatamente isso. Na hora que o patrão descobre isso, diz: "Espere, juros sob meu patrimônio não, pode sumir daqui". Então ele vai lá e muda as contas. Ele não mexe em nada o que era do patrão, mas ele tira tudo o que era de juros, que na verdade era para ele. Então ele fala: "Quanto você está devendo para meu patrão?" e a pessoa responde: "Olha, com o juros que vocês puseram, eu estou devendo 20 barris", então ele responde: "Não tem problema meu amigo, você vai pagar só 10, que era o que você estava devendo". E esse homem vai virar amigo desse administrador. E o outro devia muitos sacos de trigo, tipo uns 50, e o sujeito colocou com o juros dando 80 sacos (onde 30 era pra ele); o administrador chama a pessoa e diz "Olha, quanto você deve?", e a pessoa responde "Eu pedi 50, mas com o juros que vocês pediram, eu estou devendo 80", nisso ele responde: "Não, meu amigo, o que é isso... você vai pagar só os 50". E esse homem sai todo contente pensando em como o administrador é bom. Aí o patrão ouve e diz "Olha só que sujeito esperto, jogou tudo fora, porque depois ele iria procurar esses que ele tinha dispensado dos juros e, seguramente, o homem iria contratá-lo como o administrador dele também. E aí ele ia continuar fazendo a mesma história. Mas Jesus não elogia a sem-vergonhice do homem, Jesus elogia a esperteza e o olho bom. Na parábola do semeador, Jesus diz que a pessoa que tem a terra boa que é a terra que foi trabalhada, é a mesma coisa seja do homem que vai achar o tesouro, seja do mercador esperto, eles encontram essa novidade: o Reino de Deus, essa palavra de vida nova, de jeito novo de viver. E eles ficam tão entusiasmados que eles percebem que a vida deles pode mudar, que eles arriscam tudo, sabendo, inclusive, que seguir esse caminho pode até levá-los a morte. Mas eles ficam tão entusiasmados que aceitam até isso. Esse jeito de viver é tão bom, tão maravilhoso: amar os outros, não explorar as pessoas, viver na justiça, viver na paz, amar o outro como irmão. Isso aqui é uma coisa nova e é isso que eu quero, abandonando tudo que me impede de abraçar esse caminho.
Depois nós temos a última parábola, que vai nos lembrar da parábola do trigo e do joio. Tem esses pescadores, que trabalham a noite toda, pegam os peixes – figurativamente, Jesus está falando ali do mar da Galileia. Depois que as redes estão cheias, eles puxam as redes para a praia, e o que fazem? Separam os peixes bons dos peixes ruins, ou seja, os peixes que são comestíveis dos outros. Tem peixe que não dá para comer, mesmo que seja peixe. O povo de Israel não comia vários tipos de peixes, só alguns tipos. Ele nos lembra que, no mundo, os peixes estão todos misturados, bons e maus: é a vida, é o mundo. Mas a última palavra da vida, não é dos grandes e potentes desse mundo, a última palavra é do pescador, que vai separar os peixes. Na hora que vai pescar, ele não vai dizer: "Ah não, pega esse, deixa aquele, pega aquele ali". Não dá para fazer isso enquanto está pescando, você simplesmente joga a rede, a vida é assim, vai indo, nessa confusão que é o mundo, mas nessa confusão do mundo, todas as pessoas que seguem o Reino são peixes bons. E na hora da morte, na hora do juízo universal, os bons brilham como o sol. Os maus são podres, como brasa pegando fogo: não valem nada. Então é muito fácil para Deus, na hora da morte, nos julgar. Porque ali nós somos peixe bom ou peixe ruim.
Quando a gente pensa nesse tesouro que ouvimos nessas parábolas, podemos imaginar uma caixinha de tesouro com a Bíblia dentro. Na Bíblia, nós temos Jesus crucificado, o caminho de Deus e a Palavra de Jesus. Quem segue Jesus tem a vida. A vida de Jesus é o tesouro. Mas não basta falar que segue Jesus, seguir Jesus é promover a vida para todos, começando dos mais pobres, dos que são chutados pelo mundo, é por aí que Deus começa a salvação. Assim é seguir o caminho de Jesus, encontrar este tesouro, escondido no campo da vida, ou nas barracas perdidas da vida, que nem o homem da pérola, encontrará o caminho de Jesus.
Hoje nós celebramos a memória de Santa Ana e São Joaquim, os pais da Virgem Maria. Na imagem da Santa Ana, ela ensina os mandamentos para a Nossa Senhora. Nós celebramos também o dia dos avós hoje. Os avós são a tradição e a memória de nossa família. E, hoje em dia, muitos deles foram chamados a continuar a educação não só dos filhos, mas de muitos netos para que os pais da criança possam trabalhar. Isso para não dizer, os avós que têm que cuidar dos netos porque os pais se separaram, vivem brigando ou tem problemas, e quem tem que assumir a responsabilidade são os avós. Então a sociedade nossa hoje colocou de novo nas costas dos avós o peso da educação das novas gerações. Isso é, num certo sentido, um bem, mas em outro sentido, um grande mal, porque os avós estão dentro da família com uma missão particular, não aquela de ser pais dos próprios netos. Estamos numa sociedade que desvaloriza o relacionamento humano, que desvaloriza o matrimônio e os problemas vão sobrando para os avós. Isso cria uma série de distorções, porém é muito bonito ver os avós que assumem, com tanta responsabilidade, essa tarefa que não é deles, mas sim imposta por uma sociedade que acaba explorando mais os trabalhadores. Então vamos pedir a Deus, pelos nossos avós que, de um modo ou outro, nos transmitem e nos lembram que nós não somos que nem cogumelo na história, nós somos continuação de geração em geração. Nós levamos a diante os grandes valores que recebemos de nossos antepassados. E um dia seremos, se Deus quiser, aqueles que transmitem essas tradições boas – porque as ruins nós jogamos fora – e, sempre iluminados pelo Evangelho, que deve sempre iluminar nossas tradições, para que ao transmitir aos nossos netos e bisnetos, elas sejam sempre mais luz do Evangelho. Vamos louvar a Deus por aqueles que nos transmitem a fé e a tradição da nossa família e do nosso povo.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 17º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 26/07/2020 (missa às 10h).

Minhas ações são trigo ou joio?
19/07/2020
Estamos ainda no capítulo 13 do Evangelho de São Mateus, e este é o terceiro grande discurso de Jesus, agora como Mestre. Ele vai revelar os segredos do Reino, e continua usando os exemplos que o povo daquele tempo conhecia – vai falar de plantação, de cuidar de ovelhas, cuidar da casa... Ele dá sempre exemplos da vida, porque o Reino de Deus se manifesta no dia a dia da nossa vida. É no nosso dia a dia que manifestamos o Reino de Deus. Dos grandes eventos religiosos, grandes acontecimentos, nós até podemos pegar muitas luzes e sementes do Reino; depois, é no dia a dia que essas sementes têm que ser plantadas, crescer e dar fruto.
Das três parábolas do Evangelho de hoje [Mt 13,24-43], Jesus explica uma. O semeador vai plantar suas sementes, e são sementes boas, que ele mesmo escolheu. Ele preparou bem o terreno e jogou suas sementes. Durante a noite – e é muito importante este elemento: "durante a noite" é o mundo das trevas –, veio o inimigo e espalhou, no meio do campo, uma outra semente, o joio. O joio é uma planta que se parece muito com o trigo – as sementes, inclusive; só que elas são escuras, avermelhadas, e o trigo é diferente. Mas quando a planta está crescendo, elas são iguais, engana direitinho. É quando aparece a espiga – o fruto – que você vê que não é trigo, e sim joio.
Então foram falar para o dono do terreno: "Como é que tem joio, se o senhor comprou a melhor semente?". E ele respondeu: "Foi algum inimigo que fez isso". Nós percebemos a imagem do inimigo em nossa vida de muitas maneiras: quando mentimos, quando somos invejosos e deixamos a inveja tomar conta das nossas ações. Quantas pessoas fazem o mal para os outros... Há pessoas capazes de destruir a vida do outro, com invenções, com fofocas, e vão envenenando a vida do outro. Uma mentira constantemente repetida, na cabeça de muita gente, vira uma verdade, mas ela continua sendo mentira. O grande inimigo, Jesus o chamou de "mentiroso e assassino", homicida, desde o início. Estas são as estratégias do mal – a mentira, a difamação, a inveja – para destruir, tirar a paz das pessoas.
Algo que deve nos chamar a atenção é que Jesus diz que o campo é o mundo. O campo é a igreja, o campo é a nossa comunidade, o campo pode ser a nossa família. E no meio da nossa vida, há pessoas que realmente fazem o mal. O mal é um mistério. Pessoas que querem o mal do outro, maquinam o mal do outro... E, muitas vezes, nós perguntamos: "Por que Deus permite isso?", "Por que Deus não acaba logo com a covid-19?", "Cadê Deus?". Deus está doente, com covid-19, lá nos hospitais de campanha... Deus está morrendo onde o Governo não está ajudando... Jesus está lá, com os doentes. A nossa vida, é pequena; o mundo, é muito grande; para Deus, um dia é como um milhão de anos, mas um milhão de anos são como um sonho da noite que passou. É muita arrogância nossa querer perguntar para Deus: "Cadê você?", "O que você está fazendo?", "Por que você não intervém?". A história é nossa! Somos nós que estamos neste campo. Deus deu para nós construir a história humana. Deus não tira de nós as nossas responsabilidades, porque senão seríamos sempre tolas crianças irresponsáveis, e Deus não quer isso.
Jesus diz: "Espera. Deixa o joio e o trigo crescerem juntos. Porque se você for arrancar o joio, pode acontecer de tirar também coisas boas. Deixa crescer. Na hora da colheita, aí é muito fácil descobrir qual é o trigo e qual é o joio. É bem diferente, não tem como se enganar. E, então, você colhe primeiro o joio e joga-o no fogo. O trigo, recolha no meu celeiro. Isso aqui vai dar pão, aquilo ali dá doença, então eu vou queimar". O joio é uma semente que causa náusea, ânsia de vômito, é uma planta que faz mal. Não só é diferente do trigo, mas ela faz mal. A nossa vida, diante de Deus, é muito breve. E tem um provérbio no Antigo Testamento que diz: "Para Deus, julgar na hora da morte é muito fácil, porque na hora da morte nós aparecemos diante de Deus exatamente como nós fomos" [ref. Pr 20, 8-11]. Exatamente. Não há desculpa. Nós somos, diante do olhar transparente de Deus, realidade. "Eu sou isto. Estes são os frutos". Ou é trigo ou é joio, não existe meio termo. As nossas ações ou criam vida, respeito, solidariedade, acolhida, paz, justiça... Ou criam morte. Não tem meio termo! Ou somos humanos ou desumanos.
Nós poderíamos também ficar assustados. "Meu Deus, às vezes olhamos em volta e só vemos trevas". Deus não se preocupa com isso, e Jesus vai contar duas outras parábolas. O Reino de Deus é como a semente de mostarda – não a mostarda que vemos e compramos no supermercado; na Terra Santa, naquela região do Oriente Médio, a mostarda é um tipo de cacto, e a semente parece pó. Ela é fina, parece poeira, você não dá nada por aquilo. Se uma pessoa traz um punhado daquela semente, é capaz de você jogar fora, em qualquer canto. Mas quando se dá conta, começa a nascer uma planta com raízes tão profundas, um cacto que cresce tanto... Você corta e ele brota de novo. As rolinhas amam fazer ninhos no meio de suas ramas – por isso Jesus fala: "Os pássaros do céu". E Ele diz que o Reino de Deus é como essa semente: uma sementinha de nada que dá uma planta forte, nada pode acabar com ela. Porque é de Deus, e o que é de Deus não se destrói.
Jesus também compara o Reino de Deus com uma mulher que mistura, na farinha, o fermento. Naquele tempo, não havia fermentos químicos, mas sim o que eles chamavam de "semente de fermento" – você coloca uma quantidade de farinha em uma garrafa ou vasilha com água, essa farinha azeda, vai produzindo uma série de bactérias e, então, cria essa força; você pega um pouco disso, põe na farinha nova, vai misturando, põe água, leite e faz o pão. O pão demora para crescer, mas essa força do fermento não para, não dá para parar, e ele faz o pão crescer. É a mesma ideia: o Reino de Deus tem essa força, então toda boa ação que uma pessoa faz, que uma comunidade faz, que um país faz, gera vida. E é uma vida que permanece, porque ainda que a história passe, para Deus, a história é presente – tudo, todos os nossos atos e ações. Na hora da morte, Deus irá ver, diante do olhar Dele, as nossas ações – ações que, diante de Deus, aparecem como o Sol. Durante a noite, nas trevas, o inimigo semeou joio; mas os filhos do Reino brilharão como o Sol". Esta é a imagem do Evangelho.
Toda vez que nós mentimos, que faltamos com a verdade, que enganamos os outros, nós estamos criando morte. Hoje temos uma situação horrorosa, não só no Brasil, no mundo todo: as fake news. Fake quer dizer mentirosa: notícias mentirosas, notícias falsas, que você espalha dizendo que é a maior verdade do mundo, mentindo, alterando números, inventando mil e uma coisas para difamar as pessoas. E com que finalidade? Esconder os teus crimes. Isso é muito grave! Pessoas que inventam, falam as maiores barbaridades como se fossem os maiores gurus do mundo; são capazes de influenciar grupos políticos, ministérios, até mesmo o presidente da República. Não dê ouvido! A mentira mata! A mentira leva à morte. Dizer que cloroquina não faz mal é mentira, ela pode fazer mal sim. Uma pessoa pode ser tratada com cloroquina, mas em hospital, sob responsabilidade médica, com controle cardíaco constante. Você não pode dizer que "se não faz bem, mal também não faz". Isso é mentira! A OMS falou: "Descartem". Então dizer que não faz mal, é mentira. E muita gente que acredita na mentira pode se dar mal com isso...
Esses são os criadores de morte, esse é o "mentiroso e assassino". Mentirosos e assassinos nós encontramos em todos os lugares, só que alguns podem fazer mais mal que outros... Vamos sempre ficar atentos à verdade, buscar fazer o bem, buscar a vida. Vida, não ódio, não violência, não armamento. As pessoas têm que se respeitar e se amar, ao menos se tolerar. Mas não sair por aí atirando nos outros – nem a polícia poderia fazer isso. Se nós criamos uma sociedade de respeito, de tolerância, os frutos aparecem, a violência diminui, a saúde das pessoas aumenta, o nível do povo se eleva. Com o bem, nós construímos; com o resto, vem só destruição. E nós estamos vendo muita destruição...
Vamos pedir a Deus pelo nosso Brasil. Que esses inimigos, essa gente das trevas, dos "gurus da morte", não prevaleçam sobre o nosso povo, sobre este "campo bom" que é o povo brasileiro – povo que tem como patrona, como padroeira, a Virgem Negra Aparecida. Que não prevaleça, sobre o nosso povo, as forças do mal.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 16º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 19/07/2020 (Missa às 10h).

Que seu coração seja terra fértil!
12/07/2020
Hoje nós temos o início do terceiro grande sermão de Jesus. O povo hebreu tinha os cinco livros do Pentateuco como base e guia da sua fé. Esses livros são a Gênesis, o Êxodo, o Levítico, Livro dos Números e o Deuteronômio. Esses livros compõem o que eles chamavam de Pentateuco, a lei. Então, São Mateus que vê em Jesus aquele que dá a lei verdadeira do Pai, que comunica a Palavra do Pai, vai, no seu Evangelho, mostrar 5 grandes sermões de Jesus. O primeiro é o das bem-aventuranças. O segundo, o missionário. E agora, no capítulo 13, as parábolas. E a primeira dessas parábolas é a do semeador.
Só que nós temos que perceber uma coisa muito interessante no início desse trecho que nós passamos batido, porque corremos logo para ver a parábola. Do mesmo jeito que, no início do Sermão da Montanha, Jesus sobe na montanha, se senta, os discípulos se colocam em volta dele, e é interessante ver como o texto fala: “abrindo a boca, falou” – a gente fala “ai, que gozado, só pode falar abrindo a boca”, mas isso, naquele tempo, era para dizer que a coisa que Ele ia falar era muito importante. De fato, Jesus vai fazer nada menos que o Sermão das Bem-Aventuranças. Aqui [Mt 13,1-23] nós temos mais ou menos a mesma coisa: Jesus sobe num barco, se senta, os discípulos estão perto dele, e dali Ele fala para a multidão, que está toda em pé – e o que significa em pé? Prontidão. Na missa nós fazemos alguma coisa parecida? Fazemos! Quando, logo depois do Evangelho e da homilia, nós ficamos de pé e proclamamos o Creio. É a adesão da fé. Então, aquelas pessoas estavam de pé ouvindo Jesus que ensina. Jesus, lá no Sermão das Bem-Aventuranças, é o legislador – Ele vai dar a nova lei, a lei eterna do Reino. Agora, Jesus é o mestre, aquele que ensina, com modelos e exemplos. Muitas dessas parábolas vão ter uma explicação depois. Essas explicações nascem das comunidades cristãs que anunciavam o Evangelho para outras pessoas, então eles tinham um “roteirinho”. Então esses “roteirinhos”, quando o Evangelho foi escrito, foram colocados junto e aí aparecem como se fossem um grande discurso de Jesus.
Então, Jesus fala do semeador – por que Jesus fala do semeador? Ué, porque era uma língua que aquele povo entendia. Jesus podia falar de astronauta? Não! Nem Jesus sabia que ia ter astronauta, não é? Jesus fala da vida e dos costumes do povo. Usa, inclusive, muitos exemplos da história de Israel. E aqui ele usa uma imagem, uma situação que todo mundo conhece: todos os anos, mais de uma vez por ano, às vezes, aquele povo fazia plantação. Então, eles entendem bem o que Jesus está falando, e Jesus conta desse semeador. Quando Jesus fala do semeador, aquele povo entende, e Jesus também, que antes de semear a semente, aquele homem trabalhou a terra. Aquele homem passou o arado, e o arado, naquele tempo, era triste. Se a pessoa era rica, ou tinha alguma coisa, ia um burrinho puxando o arado. Se não, quem ia puxando o arado era a mulher! Um arado de madeira enfiado na terra, a mulher ia puxando e o marido ia guiando o arado. Então, preparavam a terra e, no preparar a terra, o que você faz? Você tira os tocos, você tira as pedras, e vai amontoando no canto, vai amontoando nas bordas do campo, não deixa lá no meio do campo, vai colocando lá fora, não é? E você arou todo o campo, o que você vai fazer? Você vai ficar andando em cima do campo todo? Não, você vai caminhar só num lugarzinho para não ficar pisando no campo inteiro e esse caminho vai ficando meio de terra batida. Aí o sujeito vai jogar a semente. Eles faziam toda uma série de orações quando iam, antes de ir e quando jogavam a semente. Tem um salmo que fala disso, não é? “Nós vamos chorando jogando a semente e voltamos cantando com os braços cheios depois dos feixes da colheita!” [Sl 126]. O homem enfiava a mão nesse – no interior de São Paulo a gente falava bornal, é uma sacolinha de pano – enfia a mão, pega aquele monte de semente e joga. Naquele tempo não tinha máquina para semear, era jogando mesmo. Você joga aquele monte de semente. Você joga onde? Na terra boa! Ninguém vai jogar a semente lá no meio do mato. Mas quando você joga, algumas sementes chegam a cair lá onde você amontoa as pedras. Algumas chegam a cair nesse caminho que você fez ali de terra batida para não estragar o campo para lá e para cá, algumas caem até ali. Lá onde tinha os tocos, começa a nascer um matinho, uns espinheiros, tem até uma terrinha boa porque era a terra que você preparou, algumas sementes que caem por ali também vão crescer. E Jesus vai falar que, na nossa vida, ouvir a Palavra de Deus é que nem esse homem que semeia. Ele joga abundantemente – o semeador. Ele não é pão-duro com as sementes. Se ele quer uma colheita boa, ele tem que pôr muita semente, senão não nasce. Então ele enche a mão e joga para que a terra fique cheia de sementes. E essa semente começa a brotar. Então, abundância, não ter medo de anunciar o Evangelho – o Evangelho vai anunciado sempre! São Paulo vai nos dizer: “oportuna e inoportunamente”. Não ter medo de falar do Evangelho! Então, anunciar o Evangelho, e não só de boca, viu? Anunciar de boca é conversa mole. Temos que anunciar com as nossas ações, levando a sério as palavras do Evangelho.
Então esse semeador vê que caem sementes lá. Ele não vai correr atrás daquelas sementes porque não dá, não tem sentido. Ele sabe que, muitas vezes, o trabalho que ele fez vai ser inutilizado. Quantas vezes nós fazemos projetos, planos, tantas vezes não dão certo. Nós temos que continuar sendo generosos em anunciar a Palavra de Deus, e viver o Evangelho, porque essas sementes darão fruto. E Jesus alerta para os perigos para a semente – a semente somos cada um de nós, é o coração de cada um de nós! Ou, vamos dizer assim: o terreno é o nosso coração. Nós, muitas vezes, temos um terreno que não foi trabalhado, então está lá todo cheio de mato, cheio de espinhos, a terra não foi afofada, a terra fica fraquinha... Ou, então, fica uma terra dura, a semente bate e fica ali, seca. Ah, passarinho ama semente seca! Então, nós temos que olhar o nosso coração. Jesus vai dizer que há pessoas que se entusiasmam, mas é só da boca para fora, é só ali dois dias, acabou o retiro, dois dias depois não lembra mais, vem na missa “ah, não lembro mais o que o padre falou”, estão nem aí com nada. Tem outros, ainda, que recebem a Palavra, mas, na primeira dificuldade, “ah, eu escutei essa palavra, eu li essa palavra no Evangelho, olha que bonito” e a outra pessoa “ah, deixa isso para lá”, aí já desiste. Primeira oposiçãozinha já desiste! Existem outros que escutam o Evangelho, escutam a Palavra de Deus, mas estão tão preocupados com as coisas da vida, do dia-a-dia, que não dão nem tempo para ouvir direito a Palavra, para rezar, para colocá-la profundamente no coração. Daí os problemas da vida fazem esquecer de tudo, mas Jesus vai nos mostrar que a Palavra de Deus é potente. Do mesmo jeito que nós ouvimos lá na Primeira Leitura [Is 55,10-11], em que o profeta Isaías nos fala que Deus diz “a minha Palavra é como a água da chuva que desce, cai do céu, faz brotar a semente, e dá colheita e alimento para o agricultor”. A minha Palavra é a mesma coisa! Eu a mando para o mundo e ela não vai deixar de produzir fruto porque é a Palavra de Deus. Por isso, quando o semeador joga, a semente cai no terreno bom e ela dá fruto segundo a capacidade de cada um. Para alguns, uma semente vai dar cem sementes novas. Para outro, sessenta. Para outro, trinta. Deu trinta, tem que ter inveja do que deu cem? Não! Ele deu tudo que ele podia. O que deu cem, tem que desprezar o que deu trinta? Não, porque ele deu tudo que ele tinha, e ele sabe que o de trinta também deu tudo e o melhor que ele tinha. Esse é o caminho. Isso é buscar, no dia-a-dia, colocar em prática o Evangelho, refletir: “Jesus disse isso. Como é que eu estou fazendo isso? Eu estou imitando essa Palavra de Jesus? Ela está realmente transformando a minha vida?”.
Uma questão que continua muito forte, e espero que continue mesmo, é essa contra o racismo – racismo contra os negros, mas que pode ser também ampliado, todos os tipos de discriminação contra as pessoas. Tem uma Palavra de Jesus: “Vosso Pai é um e vós sois todos irmãos, herdeiros do mesmo Pai”. Jesus não disse “os bons, os honestos” – ou aqueles que se supõem honestos, não disse “os amarelos” ou “os que têm muitos filhos”, não. Todos. Todos vós sois irmãos. E aí a gente vem para a vida, porque sem a vida, o Evangelho é conversa mole! Se o Evangelho não muda as nossas ações, não questiona as nossas ações, os nossos pontos de vista, o Evangelho, na nossa vida, está sendo como aquelas sementes que ficam caindo aí, lá no meio da pedra, do espinho, do terreno seco que morre e vem o diabo e carrega embora, nem deixa dar raiz nem nada. Nós temos que cuidar para não ser esse tipo de semente. A semente boa é aquela que afunda na terra, bebe a água, lança raízes, não tem medo de morrer, e nasce, dando frutos de igualdade, solidariedade, serviço, acolhida, justiça, paz. Esses são os frutos. Então quando eu ouço “vós sois todos irmãos” – isso é o Evangelho – e eu começo a achar que tem gente de segunda classe, que preto vale menos que branco e que pode ir para a favela que dá lá mil tiros “pode matar, não tem problema”: isso não é cristão, isso não é do Evangelho. Eu não mudei o meu coração se eu aceito isso. Não mudei meu coração. Eu tenho que aprender que eu tenho que ser como Jesus. “Vós sois todos irmãos”: todos. Não existem pessoas de segunda classe. Eu não posso, como cristão, aceitar uma pessoa, aceitar um governante que prega a morte, o ódio, o racismo, a LGBTfobia, e vê as mulheres como gente de segunda classe. Eu não posso ser como semente que cai lá nos cantos, e morre. “Isso aqui nunca vai dar flor porque a terra não é boa, está no meio do espinho, isso aqui nunca vai dar flor!”. Pior ainda se você é coração duro. A terra dura faz isso: vem os passarinhos e comem toda a semente, nem chega a dar raiz! A Palavra de Deus, nesses campos assim, é inútil, perdida. Nós temos que ser como terra boa. Como eu disse, ser terra boa dói, custa. Nós temos que abandonar muita coisa. Nós temos que abandonar às vezes até as nossas convicções! “Mas foi meu pai que me ensinou assim, meu avô sempre falava isso, e agora eu escuto Jesus que diz que eu não posso pensar desse jeito! Como que eu vou fazer?”. Joga fora o que seu avô ou seu pai disse, que muitas vezes pode ser, por exemplo, racismo, e abrace a Palavra de Jesus, porque é na Palavra de Jesus que você vai encontrar a vida! “Ah, eu desprezo as pessoas, eu acho que tem que matar esse bando de vagabundo mesmo, esse povo aí só vive dando miséria para o Brasil...”: isso não é do Evangelho.
“Vós sois todos irmãos!”, então se pergunte: o que essa Palavra está pedindo para eu mudar? “Mas eu sempre ouvi isso, sempre aprendi isso!”, mas Jesus, o que Ele fala? A porta estreita nos obriga a jogar fora tudo aquilo que não serve. Se você tem que atravessar uma porta estreita, de repente você tem que largar para trás mochila, sapato, às vezes até a sua roupa você tem que ir largando para trás para conseguir passar naquele vãozinho danado que vai te esfolando todo – mas se você não passar por ali o bicho te pega lá atrás – para você conseguir a liberdade e a vida lá longe. O Evangelho custa. O Evangelho não é barato, não. O Evangelho não é conversa mole. Por causa do Evangelho muitos e muitas, velhos, homens e mulheres, e muitas crianças morreram. Para seguir Jesus, aceitaram a morte. Quanto nós realmente aceitamos nos questionar? Quanto nós realmente aceitamos jogar fora para ser realmente discípulos de Jesus, capazes de dar fruto e flor? Essas são perguntas que têm que ficar no nosso coração, porque, sem essa pergunta, nós nunca aprenderemos a ser terra boa e Jesus quer que todos nós sejamos terra boa.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 15° Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 12/07/2020 (domingo, missa às 10h).

Exerçamos o poder de servir aos irmãos
05/07/2020
Nós estamos diante de uma das páginas mais bonitas do Evangelho [Mt 11, 25-30]. Jesus faz o discurso missionário que nós até começamos a ouvir no domingo passado. Ele envia os discípulos em missão e eles voltam felizes, contando tudo que aconteceu. E Jesus, vendo a alegria deles, louva e exulta o Pai. É interessante ver que esta mesma palavra foi usada no caso da Virgem Maria: “meu espírito exulta em Deus, meu Salvador”. Jesus nos ensina a louvar o Pai. Ele olha a realidade e vê a ação do Pai nesta realidade. E onde Ele reconhece a ação do Pai? Justamente na pequenez. Eu te louvo, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estas coisas aos pequenos e as escondestes aos sábios.
Não podemos nos enganar nunca. Deus mostra a Sua Salvação através daqueles que, no mundo, “não contam”. Estes dias, eu vi um vídeo realmente pedante. Talvez alguns de vocês também tenham visto. Duas senhoras, muito bem vestidas, falando que não devemos dar marmita ou ajudar os sofredores de rua porque são pessoas que devem ser responsabilizadas, pessoas que gostam de estar na rua. Só pode falar uma asneira dessas pessoas que nunca sofreram na vida. E se dizer que sofre, é mentira. As pessoas não vão para a rua porque querem. Elas vão para a rua porque não são aceitas mais pela família, porque estão sozinhas na vida, porque não conseguem mais pagar aluguel, perderam emprego, perderam tudo. Temos também o problema do pessoal que usa drogas, que bebe demais. E isso não é sem-vergonhice, isso não é vagabundagem. Só um mundo horroroso cria isso. Existe uma frase terrível de um profeta que fala: “vai vir o extermínio para estas vacas de Basã, que vivem nas maravilhas e não estão nem aí com os pobres”. Pelo contrário, ainda os chamam de irresponsáveis. Deus não faz isso.
Nós podemos nos perguntar hoje: onde está Deus? Deus está doente, Deus está com COVID-19. Deus está nos hospitais. Deus está abandonado nas ruas. Deus está nas comunidades. Deus está em toda pessoa que sofre. Mas todos nós não somos imagem de Deus? Somos. Mas somos imagem de Deus quando nós agimos como Ele. Quando nos esquecemos de nós mesmos e nos aproximamos de quem sofre, de quem precisa de nós, sem outras justificativas. Sem quês nem porquês. Porque o coração de Deus é assim. Jesus diz “bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra”. E nisto, Jesus está falando de exercício de poder. A mansidão, no exercício do poder, significa entender o poder como serviço.
Por que nós temos tantos problemas de corrupção no Brasil? Porque muitos dos nossos políticos não têm a consciência da distinção clara (que nem luz e noite, que nem água e óleo) do que é o bem público (o bem comum) e o bem próprio. Com o que eu ganho, eu faço o que eu quero. Mas com o que é do povo, eu não posso tocar nem uma moeda. O que é do povo deve ser administrado para o bem do povo, pois é do outro. Essa distinção, muitas vezes, não é clara na cabeça de muitos de nossos governantes. Toda vez que ouvimos falar de corrupção é porque estas pessoas não fazem o correto. E na maioria das vezes, não fazem porque não querem. E aí está a gravidade da coisa, e isso é crime: não fazer a distinção e se apropriar do que é do outro.
Exercer o poder na mansidão é ser todo voltado para as necessidades do outro. Mas não de qualquer outro, senão poderiam dizer sobre um rico empresário. Mas não, porque este já tem os meios dele. O manso olha a parte de baixo da sociedade. Olha o que o COVID revelou, mas que todos nós já sabíamos. Olha a gravidade do saneamento básico. Nós temos milhões de brasileiros vivendo sem água encanada, sem água potável, sem esgoto. Fazendo ainda palafitas em cima de esgoto. São questões terríveis. O SUS, que é o melhor sistema de saúde pública do mundo, ele capenga. Por quê? Possivelmente, porque a gestão não é a mais adequada. Tem gente que ainda acha que aquilo é deles. Mas é do povo. E deve ser administrado para o bem do povo.
Olha que engraçado: estamos falando, inicialmente, do Sagrado Coração de Jesus e a gente vem falar de Administração Pública. A mansidão de Jesus mostra que um discípulo Dele que esteja no poder – porque nós temos que administrar a sociedade humana, o cristão tem que estar dentro da política, os católicos tem que estar dentro da política – exerce isso em função do povo, sem se apropriar das coisas do povo. Quer escândalo maior que esse de querer pegar a verba destinada para uso com o COVID? Ainda tivemos outra denúncia de gente metendo a mão no dinheiro da merenda escolar. Que coisa absurda! Aquilo é do povo. Ninguém pode tocar o que é propriedade do outro. Do contrário, você justamente deveria ir para a cadeia. Você não pode pedir para um funcionário fantasma assinar uma folha de pagamento que recebeu um salário e te entregar parte. Isso é crime. Você está enganando o povo ao dizer que precisa daquele funcionário e não precisa de coisa nenhuma, pois é apenas uma forma de enfiar dinheiro no bolso de modo criminoso. Você está roubando o povo. E isso não é menos crime do que roubar milhões porque a estrutura é exatamente a mesma. É diabólica do mesmo jeito.
Nós temos, como pessoas, como católicos, que fazer a diferença diante de um mundo desse, diante de situações deste tipo. Não é só punir os culpados – e têm que ser punidos mesmo –, mas nos negar a compartilhar e desculpar situações deste tipo. Ser mansos e humildes de coração. Ser devoto do Sagrado Coração de Jesus significa olhar o mundo e toda ação de comando como serviço ao outro. Especialmente ao outro que sofre.
Adorar o Sagrado Coração de Jesus é se colocar no caminho de Jesus, manso e humilde. Um discípulo de Jesus, que quer segui-lo, coloca-se neste caminho. E se possui qualquer tipo de comando – e pode ser o padre, o bispo, o papa, um deputado, um vereador, um coordenador de uma associação de bairro, o dono de uma empresa, de um pequeno negócio aqui da nossa rua –, um católico tem que fazer a diferença. Porque nós professamos a nossa fé em Jesus. Como disse São Paulo, você tem o espírito de Jesus se você age como ele. Do contrário, pode pendurar 500 crucifixos no pescoço que, se não age como Jesus, você não é Dele. O Espírito Dele não está em você se, no exercício do poder, seja ele qual for, você não é uma pessoa preocupada com o bem do outro, se você não se nega a se apropriar do outro. Ou nós somos honestos e vivemos estes valores ou não somos cristãos. O Sagrado Coração de Jesus nos chama a viver de um determinado modo. E quando nós traímos isso, nós não somos Dele. Nós temos que ter isso sempre muito claro.
Depois, temos a outra fala de Jesus que vai terminar este pensamento. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai. E ninguém conhece o Pai senão o Filho”. Jesus diz “ninguém”. Nem Moisés, nem Buda, nem Isaías, nem Jeremias, nem Gandhi. Ninguém. Somente Jesus. Jesus é a revelação do Pai. Com as atitudes de Jesus, nós vemos quem é Deus Pai. Porque Jesus tem as mesmas atitudes do Pai, Ele é igual ao Pai. Então o Pai exerce autoridade Dele na mansidão, como Jesus.
O poder de Deus é a humildade. E olha que outra coisa engraçada: a Virgem Maria, em seu canto, vai dizer “olhou a humildade de sua serva”. Nós não podemos nunca nos enganar. Nosso Deus é o Deus da cruz. Nosso Deus é o Deus dos pequenos e dos últimos deste mundo. Como disse um sacerdote outro dia, nosso Deus é um Deus falido. Não é Júpiter. Não é Krishna. É Jesus crucificado. Este é o nosso Deus, que desce nos porões da humanidade e que quer salvar ela toda, inclusive as vacas de Basã. Porque Deus é misericordioso. E Ele salva lá de baixo para não excluir ninguém. Ele tem os olhos e o coração com os que estão em posição inferior para que o mundo inteiro seja salvo.
Vamos pedir ao Senhor Jesus que Ele nos ensine, como cristãos, a sermos mansos e humildes. Para aqueles que têm, exercer o poder e autoridade como serviço aos outros. E o humilde é aquele que é capaz de escutar, que é capaz de não buscar só os seus pontos de vista, mas procurar sempre o bem do povo.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 14° Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 05/07/2020 (domingo, missa às 10h).

Pedro e Paulo: alicerces da nossa fé
28/06/2020
Nós estamos no último domingo de junho, mês das Festas Juninas e destes três grandes santos: Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. E hoje a Igreja celebra a Festa de São Pedro e São Paulo, que a tradição diz que morreram no mesmo período, entre o ano 64 e 67 d.C., sob o império de Nero, que fez uma terrível perseguição contra os cristãos. Esse imperador se tornou modelo dos tiranos que, ao longo da história, perseguem os cristãos. Quando lemos, no livro do Apocalipse: "Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta, porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis" (Ap 13, 18b), e pegamos o nome de Nero em grego, ao somar as letras temos o número 666. Todos aqueles que perseguem os cristãos, que fazem mal e destroem o povo, que não amam o povo, não se preocupam com as dores do povo, todos eles são a besta fera. Todos. Nero é o modelo, mas todos os perseguidores são bestas feras. Nosso povo está morrendo; no Brasil, já passamos de 56 mil mortos. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas... Para bom entendedor, meia palavra basta.
Vamos falar de São Pedro. Pedro foi o primeiro apóstolo chamado por Jesus, segundo os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Dentro do grupo dos apóstolos, ele sempre teve uma grande liderança. E Jesus reconhece e consagra esta liderança. Pedro, depois da morte de Jesus, vai reunir os apóstolos e ser o ponto de referência para as igrejas nascentes daquela época. São Paulo, quando estava nas primeiras comunidades convertidas do paganismo, teve um problema com os cristãos vindos do hebraísmo, que queriam que os cristãos que vinham do paganismo abraçassem a lei de Moisés, com todos os seus ritos, todas aquelas cerimônias, purificações e, sobretudo, a circuncisão dos homens. Paulo dizia: "Isso é coisa da lei antiga", e houve uma grande polêmica. E qual foi a decisão da comunidade? "Vamos a Jerusalém conversar com Pedro e os outros".
Pedro foi, depois da ressurreição e da ascensão de Jesus, imediatamente, reconhecido pela sua liderança, autoridade dada pelo mesmo Jesus: "Guia os meus discípulos; confirma a fé dos meus discípulos". Essa é a missão de Pedro. E não só de Pedro, mas também de seus sucessores. Nós temos 265 sucessores de Pedro. O Papa Francisco é o 265º de uma sucessão ininterrupta que, ao longo dos séculos, fez ver muitas luzes e sombras. Na história dos papas, nós encontramos muita luz, muita santidade, grandes nomes, mártires, beatos, santos; encontramos também muita miséria, pecados, brigas... Por outro lado, vemos a coisa mais importante: a fidelidade de Deus por seu povo. Na santidade ou na fraqueza, Deus guia sua comunidade na unidade reconhecida em torno desta figura, o Papa. Às vezes, a comunidade caminha mais devagar; às vezes, mais depressa; às vezes, há grandes avanços, ela se abre para as missões; às vezes, se fecha muito; às vezes, se atualiza, como no Concílio Vaticano II; depois, parece que puxa um pouco os freios... Porém ela é sempre guiada pelo Espírito Santo, que assiste este homem que se torna sinal de unidade para toda a Igreja. "Vamos até Pedro", "Vamos conversar com Pedro". E é muito interessante ver como São Pedro e a comunidade que estava junto com ele definem: "Decidimos o Espírito Santo e nós".
Jesus prometeu a Pedro – e nós cristãos, católicos e ortodoxos, acreditamos que também ao Papa e aos bispos – a missão de confirmar, guiar a fé do povo cristão para que não erre, para que não caminhe contra o Evangelho. Às vezes, podemos até ser lentos, mas nunca nos desviarmos do caminho. Esta é a promessa que Jesus fez: "As portas do inferno" – as portas do mundo, da maldade, das trevas, da corrupção, dos pecados mais baixos que podem existir – "não prevalecerão", não serão capazes de destruir a comunidade dos discípulos de Jesus. Essa é a promessa alicerçada em uma pessoa: Pedro, e em seus sucessores – Pedro e o colégio dos apóstolos; o Papa e os bispos. Nós temos um ditado antigo na Igreja: onde está Pedro, aí está a Igreja. Porque o Papa e os bispos não vivem sozinhos; a Igreja é a comunidade. Quando esta comunidade está reunida com aqueles que Jesus colocou para serem mestres e guias do Seu povo, ela não se perde do caminho do Evangelho.
Hoje também temos a celebração do martírio de São Paulo. Paulo é uma figura fulgurante, uma maravilha de pessoa. Ele era um homem muito convicto, fanático do judaísmo, um fariseu formado em uma escola muito autorizada, a escola de Gamaliel. E começou a perseguir os cristãos, ir atrás, descobrir os ninhos desses "hereges" para colocá-los na cadeia, mandar torturá-los. Quando mataram Santo Estevão, ele estava lá; colocaram nos pés dele os mantos do povo que estava ali para apedrejar Estevão; ele estava de acordo com aquela morte. Porém, os caminhos de Deus são bem diferentes dos nossos... E no meio do caminho de Paulo, Jesus deu uma bela rasteira nele. De perseguidor, ele se transforma em grande anunciador do Evangelho da Salvação, do Evangelho da liberdade dos filhos e filhas de Deus!
Se a Igreja é o que ela é hoje, devemos isso a São Paulo. Ele rompeu barreiras! Em uma atitude realmente profética, mas um profetismo que talvez "fure" toda a história da Igreja, ele anunciou a liberdade que Jesus nos trouxe, a liberdade de filhos, não escravos de leis, de doutrinas: livres filhos de Deus. Há uma imagem de Jesus que diz: "Aquele que me segue, que passa pela porta" – e Jesus se coloca como a porta, o dono de toda essa realidade que é o Reino de Deus – "entrará e sairá, e encontrará pastagem". Esta é a imagem que está no coração de São Paulo: liberdade. O Reino de Deus, o Reino anunciado e vivido por Jesus até a morte, é um reino que não cria escravos, não cria fanáticos, não cria monstros capazes de matar o outro para defender suas ideias. Era isso que os fariseus faziam, era isso que os hebreus da época faziam, matavam quem não seguia a lei. Jesus prefere morrer a matar, e São Paulo vai anunciar essa liberdade. O Reino de Deus é liberdade: a porta está sempre aberta e sempre tem pastagem. Liberdade! E ninguém escapa desta bondade infinita de Deus, nem as ovelhas que estão ali dentro, no aprisco, nem as ovelhas que caminham em volta, no campo livre, porque tudo é o Reino de Deus, a liberdade é o Reino de Deus.
Segundo a tradição, São Paulo foi condenado à morte e decapitado. Esse era um privilégio dos cidadãos romanos. Mas se Paulo não era de Roma, e sim da cidade de Tarso, como ele era cidadão romano? As tropas romanas, quando saiam para a guerra, passavam por várias cidades. Naquela época, as cidades não eram como as nossas. Nós vamos para São Paulo, voltamos para Santo André, passamos por São Bernardo, por Mauá... Isso não existia. Primeiro que as cidades eram bastante longes umas das outras, e elas também eram fechadas com muros. Então, quando uma tropa estava passando, se fechassem os portões, a tropa tinha que ir embora, não podia entrar na cidade para se abastecer com água e comida. Era um verdadeiro ato de guerra. E se essa tropa voltasse vitoriosa, ai daquela cidade! Algumas cidades, porém, abriam as portas, davam comida, repouso e água para os soldados. E se eles voltassem vitoriosos, davam prêmios a esta cidade. Foi o que aconteceu com Tarso. As tropas romanas passaram por lá e eles abriram suas portas, deram ajuda aos romanos, e as tropas seguiram com esta promessa: "Se nós formos vitoriosos, a vossa generosidade não será esquecida". Os romanos eram muito leais ao que falavam, e quando voltaram, vitoriosos, deram a todos os cidadãos de Tarso o título de cidadãos romanos.
Ser cidadão romano significava um mundo de privilégios. Um deles, era poder ser julgado pelo imperador – como se fosse o Supremo Tribunal Federal aqui no Brasil, a Corte máxima. Era um privilégio dos romanos. Por isso São Paulo, lá no fim dos Atos dos Apóstolos, quando o governador pergunta: "Você quer ir para Jerusalém ser julgado?", vai dizer: "Não. Eu sou cidadão romano, apelo para Cesar", usando de um direito que ele, como cidadão de Tarso, tinha. Infelizmente, esse direito também era um modo de dizer: "Nós somos melhores que os outros"... Mas isso garantiu a São Paulo a possibilidade de morrer decapitado – sem sofrimento, como eles acreditavam.
São Pedro, porém, era judeu, e não tinha privilégio nenhum. Ele foi crucificado – segundo a tradição, de cabeça para baixo – em um monte próximo ao Vaticano. E os restos dos ossos encontrados perto de 1950, nas escavações da Basílica de São Pedro, são muito curiosos, porque não temos nenhum osso dos pés de Pedro. Os romanos se importavam com a pessoa enquanto ela estava viva; após a morte, o corpo era de quem estava por ali. E, nas execuções, o povo, os amigos podiam estar perto. Mas eles tinham pouco tempo para resgatar os corpos, senão os romanos iam lá, arrancavam todos dos suplícios e enterravam em valas comuns. Na pressa, eles cortavam os pés e carregavam o resto do corpo. Provavelmente, foi o que aconteceu com São Pedro. Ele, então, foi enterrado em uma colina que tinha ali perto, chamada Collis Vaticanus, próxima ao circo de Nero. E, em torno deste pequeno túmulo, simples, dos pobres, imediatamente começa o que hoje chamaríamos de devoção: os cristãos de Roma e de outros lugares vão visitá-lo. Mais para frente, no ano 320, quando o imperador Constantino dá liberdade religiosa aos cristãos, ele manda construir uma grande Basílica em cima desse túmulo; faz um trabalho gigantesco, mas não mexe no túmulo. Depois, nos anos 1500, quando aquela Basílica já estava a ponto de cair, o Papa Júlio II manda derrubar tudo e começa a nova Basílica Vaticana, aquela que nós conhecemos hoje. Não temos grandes registros; provavelmente, mexeram nos ossos e, muito possivelmente, colocaram-nos em um local perto do túmulo original. No fim dos anos 1940, início dos anos 1950, reencontram esses ossos e fazem o reconhecimento. Papa Paulo VI disse: "Nós temos a certeza de que os ossos de Pedro estão aqui". Lá, debaixo do altar da Basílica do Vaticano, ali está o que restou dos ossos de São Pedro.
Pedro representa a Igreja de Jerusalém, o judaísmo que se converte, o povo hebreu que esperava nas promessas de Deus. Aos pés da cruz, Maria representa esses hebreus. Maria era judia e, em algum momento, ela abraçou o discipulado de Jesus. E ali, aos pés da cruz, ela mesma representa esta comunidade dos hebreus fiéis, dos pobres de Deus que esperavam na promessa feita a seus pais. Já São João Evangelista vai representar a nova comunidade, que veio depois do paganismo. Os dois, debaixo da cruz; os dois que se dirigem a Jesus: Maria e João – os judeus convertidos e os outros povos que se converteriam ao cristianismo. De algum modo, podemos dizer que, ali, debaixo da cruz, nós também estamos.
A nossa fé se apoia sobre a fé e o testemunho dos discípulos e destes dois apóstolos: Pedro, os judeus; Paulo, os pagãos. Dois apóstolos, dois discípulos de Jesus, cada um a seu modo, que são coroados com a coroa do martírio: poder derramar o próprio sangue por causa do seguimento de Jesus. Essa é uma graça que não é dada a todos. Porém, seguir os passos de Jesus é uma graça que o Espírito Santo nos dá. Vamos pedir ao Espírito de Deus que possamos, realmente, seguir o Evangelho que esses dois apóstolos e os outros discípulos anunciaram e que, hoje, o Papa e os bispos nos garantem, e confirmam a nossa fé nesse seguimento.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos (Ano A) – 28/06/2020 (domingo, missa às 10h).

Não tenham medo!
21/06/2020
Hoje, 12° Domingo de Tempo Comum, nós estamos lendo o Evangelho de Mateus e São Mateus tem uma compreensão sobre Jesus: para ele, Jesus é o novo e definitivo legislador. O primeiro legislador foi Moisés e, na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento, se diz ‘até hoje não apareceu um profeta como Moisés’. Mas São Mateus vai dizer: apareceu um profeta, não igual, mas infinitamente maior que Moisés, porque ele é Deus conosco. Então, ele vai fazer um paralelo. A lei do povo hebraico constava de cinco livros, chamados Pentateuco: Genesis, Êxodo, Números, Livro de Josué e Deuteronômio. São Mateus vai apresentar Jesus com cinco grandes discursos. O primeiro e o mais conhecido é o Sermão da Montanha. Nós estamos agora, no capítulo 10 de São Mateus, lendo o Discurso da Missão, um dos cinco grandes discursos de Jesus no Evangelho de Mateus.
Jesus envia os apóstolos para anunciar o Evangelho, dá várias instruções e depois vai dizer essas frases que lemos nesse Evangelho: vão e não tenham medo! Vocês têm que anunciar a Palavra de Deus, para isso, vocês foram chamados. Tem uma passagem do profeta Jeremias em que Deus diz para ele: eu coloco as minhas palavras na tua boca e você vai, diante de quem eu te mandar, e não tenha medo, porque se você tiver medo deles, eu farei você ter medo. São as mesmas palavras de Jesus: não temam os homens, não temam as autoridades desse mundo, não temam as pessoas que estão fora do caminho, anunciem o Evangelho sem medo, porque se vocês tiverem medo, se vocês se desviarem para salvar a própria pele, vocês vão ter que acertar as contas comigo. É a mesma ideia de Jeremias. Por quê? A vocação que Deus nos dá não é nossa. Quando Jesus nos chama para pregar o Evangelho, Ele não está nos dando uma honra, não está fazendo com que sejamos melhores que ninguém, Ele está nos dando uma missão: anuncie para a comunidade em que eu te colocar, anuncie ali o Evangelho sem medo, porque sou eu que estou te mandando para anunciar a minha palavra, não os seus interesses, não os seus medos, não as suas inseguranças, mas o Evangelho! E isso pode custar a sua vida, porque Jesus não engana... Se Jesus contar só a parte bonita da história, Ele é um enganador, mas Ele não engana, Ele diz: vocês vão receber 100 por 1 nesse mundo, muita gente vai escutar vocês, o povo de Deus é generoso, mas, escutem bem, vai ter quem persegue, vai ter quem mata e muitos de vocês serão perseguidos, expulsos das igrejas, vão ser mortos e, até depois da morte, ainda vão ser amaldiçoados. Jesus não esconde, porque Ele mesmo é o exemplo. Jesus, para fazer a vontade do Pai, para ser fiel ao Pai, não faz pactos nem conchavos, não procura os centrões da vida. Jesus é fiel mesmo que seja abandonado por todos, mesmo que seja acusado falsamente, mesmo que seja contado entre os piores criminosos do seu tempo. Jesus não está preocupado com honra, com nome ou fortunas, Jesus está preocupado com a fidelidade do Pai. A fidelidade do Pai é que todos tenham vida e anunciar e promover isso pode te levar a cruz. Esse é o anúncio de Jesus. E Ele nos diz: não tenham medo! A nossa vida está nas mãos de Deus. A nossa vida é salva em Jesus. A nossa vida não acaba aqui, por isso a ressureição de Jesus para nós é a garantia de que nós estaremos nas mãos de Deus. E, se nós estamos nas mãos de Deus e a nossa vida é vida gloriosa nas mãos Dele, podemos gastar a vida desse mundo pelo bem dos outros. É isso que Jesus nos diz: não tenha medo, promova a vida, faça o que você pode para que as pessoas sejam felizes, tenham comida, tenham instrução, tenham casa. A vida cristã é uma vida muito concreta, porque se o nosso anúncio não toca a vida concreta no nosso dia a dia, então é conversa mole. E conversa mole, eu posso escutar em qualquer lugar, ainda mais agora que o pessoal fica em casa nessa pandemia, basta ligar a internet. Tem até que nisso saber escolher bem para não se vender para lorotas que anunciam por aí. Então, tenham a coragem de anunciar o Evangelho!
Esses dias eu recebi uma notícia de um pessoal de Brasília que dava solidariedade aos bispos auxiliares – sabem que Brasília está sem arcebispo, né? Ele foi transferido para Salvador como Primaz do Brasil. E os bispos auxiliares, então, estão lá na diocese sem um arcebispo. E eles mandam, diz, essa nota de solidariedade aos bispos auxiliares que não permitiram que um grupinho de baderneiros, dos 300 que não passam de 30, se acampassem diante da Catedral de Brasília. Os bispos foram ameaçados por esse grupo, um grupo armado, que produz mentiras, que ataca os poderes constituídos do nosso país. Não aceitar compromisso com essa gente pode criar, para você, perseguição. Quem defende a morte, não pode ter lugar entre os discípulos de Jesus, não porque nós não aceitamos – Jesus quer salvar a todos, inclusive essas pessoas –, mas essas pessoas sozinhas se excluem do caminho do Reino, porque o Reino quer vida para todos, vida igual para todos, começando pelas periferias do mundo, por aqueles que mais sofrem, por aqueles que menos tem, por aqueles que são marginalizados e excluídos pela sociedade. O Evangelho fala para a vida e é só falando para a vida que nós podemos transformar a nossa realidade.
Hoje também é dia de São Luiz Gonzaga. Ele é um santo dos anos 1500, foi de uma família muito rica e poderosa do norte da Itália. Era um nobre e renunciou tudo para se tornar jesuíta, religioso e, no seu tempo, explodiu a peste. Ele era muito novo, tinha não mais que 24 anos, e foi ajudar a cuidar das pessoas – naquele tempo, não existiam os conhecimentos mínimos de higiene sanitária que nós conhecemos, um dia ele encontrou um homem morrendo, pegou o sujeito, colocou para dormir e ele morreu ali, na cama dele. Depois, ele pegou o homem, foi enterrar e tudo isso e voltou a dormir na mesma cama, pegou a peste e morreu. Isso é para ver que o que vale é o bem do outro, a tua vida vale quanto o bem do outro. E São Luiz Gonzaga é também chamado padroeiro dos seminaristas. Hoje no fim da missa, nossa comunidade vai enviar para a Paróquia Santo Antônio o ícone vocacional. Nós, neste ano, estamos pedindo a Deus vocações. Nós falamos e pedimos a Deus por todas as vocações, mas, neste ano, especialmente nós estamos pedindo a Deus vocações sacerdotais. Nossa diocese precisa de sacerdotes e a comunidade dos jovens da Paróquia Santa Teresinha é chamada, a comunidade dos jovens da Paróquia Santo Antônio é chamada, porque Jesus é fiel ao seu povo, Ele chama. Jovens, tenham a coragem de se colocar ao menos uma vez na vida essa pergunta: será que o Senhor Jesus está me chamando para o ministério sacerdotal? Se Ele estiver, e você vai saber se está, não tenha medo, tenha confiança. Servir o povo de Deus é uma graça, é um bem, realiza a nossa vida, dá sentido ao nosso caminho. Vamos ouvir a palavra, vamos pedir ao Espírito Santo que nos fale, que nos dê coragem. E se você, pai e mãe de família, tiver um filho ou uma filha que te diz eu gostaria de ser padre ou eu gostaria de ser religiosa, apoie! ‘Ah, mas é meu único filho’. Se Deus chama, é Dele! Apoie as vocações. A mãe e o pai de um sacerdote é mãe e pai de todos os sacerdotes. Você não vai perder um filho ou uma filha, você vai ganhar centenas de filhos e filhas. Vamos pedir a Deus que ele mande muitas vocações para a nossa diocese e que dê a nós, sacerdotes, a graça de poder anunciar o Evangelho sem medo.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 12º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 21/06/2020 (missa às 10h).

Seguir os passos de Jesus
14/06/2020
Com a segunda-feira depois de Pentecostes, nós entramos novamente no Tempo Comum. "Comum" não significa que ele vale menos; este é o tempo da Igreja enquanto povo que caminha seguindo os passos de Jesus.
Na Igreja, temos o Tempo do Advento, que é a preparação para a vinda de Jesus, um tempo de alegria contida, como nos últimos dias do oitavo mês de gravidez de uma mulher. Naqueles dias, nós caminhamos com Maria, que está para dar à luz. Nasce Jesus! Cantamos com os anjos "Glória a Deus nas alturas e paz aos seres humanos" – que Deus ama. Depois vêm os magos. E, então, nós entramos no começo deste Tempo Comum, vamos seguir Jesus passo a passo. Depois vem o Tempo da Quaresma e da Páscoa, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina com o Domingo de Pentecostes. Nesses 90 dias, nós acompanhamos as últimas semanas de Jesus; na Semana Santa, quase dia por dia, acompanhamos os passos do Senhor; no Tríduo Pascal é praticamente hora por hora; na Sexta-Feira Santa celebramos a Paixão do Senhor; passamos o sábado com o altar desnudo, sem flores, sem nada, lembrando o frio do túmulo onde Jesus foi colocado para, então, explodir de alegria na noite do Sábado de Aleluia, que encerra aquele momento, pouco antes do nascer do sol, quando Jesus triunfa da morte! E continuamos nessa alegria por mais 50 dias até chegar Pentecostes, a efusão do Espírito e a Igreja que é enviada pelo mundo – Tempo Comum, tempo de caminho.
Nós também usamos cores diferentes. Nos tempos do Advento e da Quaresma, as vestes do padre são roxas; no Tempo Comum, a cor é verde; no Tempo do Natal e na Páscoa, a cor é o branco; no dia de Pentecostes, vermelho, o fogo de Deus e o sangue dos mártires. E durante o ano todo nós também celebramos as várias memórias daqueles cristãos e cristãs que chamamos de santos: gente como nós que levou a sério o Evangelho, e que a Igreja nos propõe como modelos. O primeiro de todos, sem igual, é a Virgem Maria, que é, para nós, sempre, a primeira seguidora de Jesus, aquela que mostra para a Igreja e para cada um de nós, o tempo todo, os passos de Jesus. Ela está sempre nos dizendo: caminhe por aqui, o caminho de Jesus é este, siga estes passos, Ele está andando por aqui. Os santos e as santas são cristãos, como nós, que viveram colocando em prática os valores do Evangelho. E a Igreja diz: se você imitar essa pessoa na sinceridade, vai aprender a seguir os passos de Jesus. Porque, seja no culto e devoção à Virgem Maria, seja no culto aos santos, tudo o que nós queremos é aprender a seguir os passos de Jesus.
Jesus é o nosso Salvador, é Ele quem nos salva. Maria e os santos cantam a salvação de Jesus; Maria e os santos nos apontam: caminhe por aqui, porque aqui estão os passos de Jesus. Isso nos ajuda a entender a devoção à Mãe de Jesus e aos santos e santas da Igreja. Tem muita gente santa e têm muitos santos no céu. Santa Teresinha – essa monja que morreu com 24 anos e é doutora da Igreja, uma moça tão jovem que é luz para a Igreja – dizia: "Há muitos santos que nós não conhecemos; e, talvez, muito maiores do que aqueles que conhecemos". A vida de santidade está espalhada no meio do nosso povo. Toda pessoa que ama Jesus, que ama o próximo, que se interessa pelo bem da vida do outro – seja cristão ou não cristão – está no caminho de Jesus, às vezes até sem saber. Quem faz o bem, desinteressadamente; quem faz o bem seguindo sua consciência – isso nos ensina o Concílio Vaticano II – está no caminho de Cristo; de algum modo, é Igreja de Cristo.
Seguir Jesus é a finalidade de todo o nosso caminhar, de toda a nossa liturgia, de todas as nossas devoções, de todos os nossos sacramentos: seguir Nosso Senhor Jesus Cristo! O que nos une a todos os cristãos é a fé em Jesus, nosso único Salvador. E é um absurdo, ao afirmarmos isso, quando alguns católicos vêm dizer: "E Nossa Senhora?". Maria não salvou ninguém; Santo Antônio não salvou ninguém; Santa Teresinha não salvou ninguém. E isso não é invenção do padre João, está lá nas cartas de São Paulo: "Quem morreu por vocês? Pedro? Paulo? Apolo? Não, o único que morreu por nós foi Jesus". Maria nos ensina a seguir Jesus, e se queremos ser realmente devotos da Virgem Maria, temos que levar muito a sério o Magnificat, que é um canto revolucionário, quente como as bem-aventuranças de Jesus. Tal Mãe, tal Filho! Como dizia São Paulo VI, o maior Papa dos últimos 500 ou 600 anos: "A verdadeira devoção à Virgem Maria é seguir os passos de Jesus". Maria é toda de Jesus, e ela nos diz: siga os passos de Jesus, caminhe deste jeito aqui, seguindo os passos Dele. Essa é a verdadeira devoção mariana. Se nós, católicos, tivéssemos muita clareza nisso, não haveria tanta confusão na cabeça dos nossos irmãos protestantes.
Jesus, como nos conta o Evangelho de hoje [Mt 9, 36 — 10, 8], mandou seus 12 apóstolos anunciarem a chegada do Reino. E é muito interessante: doze. Doze eram as tribos de Israel. Jesus, claramente, está iniciando um novo povo de Israel. E o que nos chama a atenção é que Ele não manda seus discípulos falarem primeiro com os sumo-sacerdotes ou com o grupo dos fariseus, os bons religiosos daquele tempo; não, Jesus não está preocupado com essa gente. "Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel". A salvação de Deus começa pelas margens. Hoje, podemos dizer que a salvação de Deus começa pelas periferias. A salvação de Deus começa pelos excluídos porque é só desse jeito que todos podem ser salvos, mudando do avesso nosso modo de compreender: comece na periferia a ensinar a liberdade, a justiça, a paz, a solidariedade; e, assim, todo o corpo terá paz, justiça, solidariedade. Quando nós começamos pelas bordas nós vamos mudando o mundo! E vamos nos tornando aquilo que era missão dada por Deus ao povo de Israel no deserto; Jesus vai dizer que esse povo traiu sua própria vocação: a vocação daquele povo era ser santo, ser uma luz para os outros povos. Mas eles se tornaram escravizadores, como os outros povos; adoradores de ideologias; venderam-se ao deus mamona – não todos, mas muitos. E, assim, traíram a vocação que Deus havia dado a eles.
Nós também temos que ficar atentos, porque corremos o risco de nos afastar deste que é o grande chamado de Deus para nós, cristãos de hoje. Jesus fala para nós – eu, você, para nossa comunidade: anuncie aos outros que o Reino de Deus está próximo. Próximo significa que está aqui, no meio de nós. Como? Quando eu amo as pessoas, quando não faço discriminação, quando eu não sou racista. No Brasil, há um grande racismo velado, que nega suas raízes. Olhe as periferias: quantas pessoas negras estão lá? Mais de 54% da nossa população é negra ou descendente de negros, não é possível que um número tão alto seja tão discriminado! Nós temos que ter consciência disso. Olhando as periferias, lembre-se: "Vão às ovelhas perdidas". Hoje: olhem a situação das periferias. Lá existe violência, a educação é fraca, o saneamento básico é péssimo, a saúde é pouca; vamos trabalhar nisso, vamos melhorar essas situações, vamos dar vida digna a essas pessoas e reconhecê-las como irmãos e irmãs, com os mesmos direitos e dignidade que nós. Assim, estaremos curando nossa sociedade e expulsando os demônios que vêm criando sofrimento no meio do povo. Toda vez que a Igreja anuncia isso, está anunciando o Reino de Jesus.
O Reino de Deus começa aqui! E se não o plantarmos e tivermos coragem de anuncia-lo aqui, que frutos colheremos depois? Uma planta só nasce e dá fruto se plantamos a semente; se você não colocar nenhuma semente aqui, que fruto vai querer colher lá? Vamos ter a coragem de colocar sementes do Reino no nosso meio, e vamos pedir a Deus que nos ajude a fazer esse caminho.
O Evangelho de hoje também chama nossa atenção para as vocações. Jesus chama os doze para anunciar o Evangelho ao povo, à nossa comunidade, à nossa Diocese, a esta paróquia! E Ele diz: "Peçam ao dono da vinha que mande operários para sua messe". Vamos rezar! Nossa Diocese, neste ano, o ano da pandemia, está celebrando o Ano Vocacional Extraordinário. Parece que Deus nos deu mais tempo para rezar... Então vamos pedir, implorar a Deus, a Jesus, o Bom-Pastor, que cuida das suas ovelhas – as mais fracas, Ele mesmo carrega; as mais fortes, caminham junto Dele. Vamos pedir que Deus mande vocações entre os nossos jovens. Eu tenho 59 anos; mais 15 anos e faço 75; cadê o outro padre? Tem que sair desta comunidade o meu sucessor! Jovens: Deus está chamando vocês! Jesus lhe chama pelo nome: Pedro, João, Tadeu. Jesus chama pelo nome, do mesmo jeito que Ele me chamou pelo meu nome. Ele sabia que eu era pecador, ele sabia meus defeitos. Ele conhece tudo isso, mas não somos nós que escolhemos, é Ele que escolhe. E se é Ele que escolhe, Ele vai lhe dar força! Ele vai lhe dar força para você contar para sua mãe, para o seu pai... Jesus nos dá coragem para enfrentar pai e mãe. Às vezes demora; eu levei 6 anos para ir para o seminário – Jesus me chamou quando eu tinha 15 anos e só entrei para o seminário aos 21; trabalhei em banco, fiz Tiro de Guerra, comecei a fazer Faculdade de Filosofia por conta, participei do grupo vocacional... Porque Jesus chama! Sem mérito nosso, Ele chama para o povo Dele. Tenha coragem! Se Jesus lhe chama para o sacerdócio, não tenha medo. E Ele chama! Jesus não vai deixar sua Igreja sem padres, não vai deixar nossa Diocese sem padres, não vai deixar esta paróquia sem um sucessor. Coragem! Se Jesus lhe chama, tenha a coragem de dizer: "Senhor, eu estou aqui. Fraco, pecador, limitado; mas a obra é Tua. Envia-me".
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 11º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 14/06/2020 (missa às 10h).

A Eucaristia está em nosso dia a dia
11/06/2020
A Eucaristia é um milagre de Deus. Deus quer estar entre nós de uma forma sensível, de modo que nós possamos experimentá-lo. E a vida de Jesus é toda de entrega e de doação por nós, porque Deus nos ama. São João vai dizer: “Deus amou tanto o mundo, que mandou Seu filho para que todo que nele crê tenha vida eterna”. E Jesus quer permanecer, profundamente, unido conosco e Ele nos dá esse sinal que é também presença real. Por exemplo, uma placa de contramão somente indica, mas ela não é a contramão. A Eucaristia não é apenas um sinal, é a real presença de Jesus. Jesus, na última ceia, nos dá essa garantia: “eu estarei convosco presente”.
Primeiro, ele já havia dito que onde dois ou mais estiverem reunidos em Seu nome, Ele estaria no meio deles. A Sua Igreja, a Sua comunidade de discípulos está reunida onde duas pessoas ou mais estão unidas em nome Dele. Aí está a Igreja e Jesus quer estar presente no pão que esta comunidade celebra e divide, não sendo apenas uma memória do passado. A Eucaristia não é uma simples repetição de um gesto de dois mil anos atrás. A Eucaristia se faz presente aqui e agora, na nossa vida do dia a dia, no isolamento da pandemia, com a nossa vida, os nossos sofrimentos, as nossas alegrias. Jesus se torna presente e, no pão e vinho que oferecemos, ele assume toda a nossa realidade, entra em contato conosco. E tudo isso nós apresentamos ao Pai para que esse pão e vinho se tornem Jesus entre nós.
Jesus não é uma memória, é agora! É ato, não é uma coisa do passado ou uma tradição. Jesus disse “os seus pais comeram o maná do deserto e morreram”. Isto no passado. O pão que Jesus dá é vida agora. E dar o sangue não significa cortar o braço e colocar o sangue de um lado e carne do outro e comer. Não, essa é uma forma de expressão. Comer o Corpo e beber o Sangue significa ter, em si mesmo, a própria realidade de Jesus. Pedir para si mesmo que tenhamos os mesmos sentimentos, os mesmos desejos, as mesmas indignações, as mesmas compaixões, a mesma acolhida que Jesus tinha pelas pessoas. Comer o Corpo e beber o Sangue significa assumir, na própria vida, a vida de Jesus. Então, a Eucaristia não é simplesmente um corpo, é a vida de Jesus. Claro que o Corpo também faz parte, mas é toda a vida Dele que se entrega para nós para que aprendamos com Ele, que se faz pão para nós, nos convida a sermos pão para o outro, a ser vida para os irmãos. Porque tudo isso é muito bonito, mas se não se encarna na nossa vida, não tem sentido nenhum.
Hoje, por exemplo, no meio de uma pandemia, o que é dar a vida pelo outro? Uma forma é ficando em casa, evitando o contágio, não só por mim, mas também para não ser uma ameaça para o outro. Estar atento para alguém da minha família, da minha vizinhança. Às vezes, alguém que está na porta da frente do nosso apartamento pode estar precisando de alguma coisa. Às vezes, é uma pessoa de idade que não pode sair e não tem ninguém que possa fazer uma compra para ela. Às vezes, a pessoa não tem nem o que comer. Preocupar-se com o outro neste tempo difícil é viver, no hoje, a Eucaristia. Doar-nos para os outros e lembrar que Jesus não faz distinção de pessoas. Nós que fazemos. Ousamos dizer: “você pode e você não pode”. E Deus não faz isso. Se Jesus não faz isso, nós temos que aprender a não fazer também e acolher as pessoas, começando pelos últimos porque, facilmente, nós nos esquecemos deles.
Deus quer salvar a todos, acolhe a todos e quer vida para todos. Começando pelos que mais sofrem, dos que têm menos vida. Para que todos tenham vida. A vida da Eucaristia tem que chegar para todos. Esse é o amor de Jesus. Não é uma memória, é um fato. Nos convida e nos desafia sempre. Toda vez que nós comungamos, Jesus nos chama outra vez: “faça o que eu fiz, mude o seu coração, jogue fora o que não presta, abrace o caminho da vida que vai desabrochar em vida eterna, porque já começou a ser vida nova nesse tempo”. Essa é a verdade de Jesus e é isso que celebramos na Eucaristia: a vida nova, que é vida verdadeira de Jesus. Jesus está aqui, nos chamando à conversão, a amar como Ele.
Deus é bem espertinho. Amar é muito mais fácil do que odiar. Dar a vida é muito melhor do que matar. Deus quer a vida, a alegria, a abundância. E a Eucaristia que celebramos sobre esse altar nos lembra isso e realiza isso em nós todas as vezes que Jesus se entrega. Ele se dá todo para nós, sem reservas e sem medo. Ele se entrega e nos convida a nos entregarmos para os outros, no amor e no serviço. Uma pequena gota de catequese: na Eucaristia, no momento em que o sacerdote consagra, por graça de Deus e por força do Sacramento da Ordem, o sacerdote, naquele momento, misteriosamente, age na pessoa de Jesus. É Jesus que age ali! Existe uma oração de império, um pedido: “Pai, manda o Teu Espirito para que este pão e este vinho sejam Corpo e Sangue de Cristo”. A Eucaristia é obra da Santíssima Trindade. Pai, que envia o Espírito para que o pão e vinho se tornem Corpo, Sangue, vida total de Jesus, que se entrega para nós e para vida do mundo inteiro. É isto que nós celebramos aqui no altar.
Vamos pedir ao Senhor que possamos amar como Ele ama, servir como Ele nos serve na Eucaristia para que possamos, realmente, sermos Corpo de Cristo, comunidade reunida no Seu amor.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo (Ano A) – 11/06/2020 (missa das 19h30).

Trindade Santa: Deus é amor
07/06/2020
Hoje a Igreja celebra o mistério da Santíssima Trindade. Nós podemos ficar divagando sobre a Santíssima Trindade com altos conceitos de teologia, mas que, no fim das contas, tentam só escavar um mistério que vai sempre muito além de nós. Mas nós podemos também nos dobrar sobre o Evangelho, que, aliás, é a pedra fundamental de toda a vida e doutrina cristã. O que sai disso, vira e mexe, dá problema.
Quem nos revelou a Santíssima Trindade? A Santíssima Trindade é uma revelação de Jesus. No Antigo Testamento, não adianta procurar a Santíssima Trindade, porque essa revelação nos foi feita por Jesus! A partir da revelação de Jesus, nós vamos olhar o Antigo Testamento vendo ali sinais que podem indicar isso que depois Jesus vai nos revelar. Essa revelação é de Jesus. Deus são três pessoas: ao Pai, que nós chamamos primeira pessoa da Santíssima Trindade, nós atribuímos a criação; ao Filho, nós atribuímos a redenção, a salvação do mundo; e, ao Espírito Santo, a santificação ou plenificação de todas as coisas. O Espírito Santo leva o mundo com todas as suas mazelas, dificuldades, grandezas, alegrias, esperanças, pecados; vai nos levando, devagarinho, àquela altura que Jesus e que o Pai querem que a humanidade chegue. O Espírito Santo é essa força de Deus que cumpre a vontade do Pai. Nós falamos a vontade do Pai como se Jesus e o Espírito não tivessem vontade, mas as três pessoas divinas sempre agem juntas. O Pai cria o mundo, cria o universo, cria todas as coisas no Filho, com o poder do Espírito. Jesus é a palavra eterna do Pai, e, pela força do Espírito, se esvazia, se torna um de nós, caminha pelas nossas estradas, é morto, ressuscita e retoma a glória que tinha antes da criação do mundo. Esse é o mistério da salvação, da redenção. E Jesus faz isso obediente ao Pai, com a força do Espírito. E o Espírito Santo é a força que cria o universo. Ele é a força que faz com que a Virgem Maria tenha um filho que é, também, divino. O Espírito Santo é o poder de Deus que age através de Jesus nos milagres, é o Espírito Santo que dá forças para Jesus suportar a Paixão, a morte, e opera em Jesus a ressurreição. Ele leva ao universo a união com Deus.
São Paulo nos diz que o Pai quer que o mundo, todos os poderes, sejam colocados debaixo dos pés de Jesus. O último poder a ser submetido aos pés de Jesus será a morte. E, por fim, Jesus mesmo se entrega ao Pai. Isso tudo na força do Espírito: o Espírito que abraça o Pai e o Filho e, com eles, forma uma única divindade, único Deus. O Espírito vai nos ter junto com a Trindade neste grande abraço divino, por misericórdia, por graça, porque Deus é bom. No Antigo Testamento, para Moisés, Deus se revelou como aquele que é, aquele que foi, aquele que será. O que significa isso? O Deus fiel, o Deus que não volta atrás, o Deus que paga até a conta de quem está devendo para Ele – isto é fidelidade.
São João vai nos dizer que Deus é amor. Jesus vai dizer: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei; não há amor maior que dar a vida por aqueles que se ama. Eu e o Pai somos um. Eu sou o caminho verdadeiro para a vida. A vida é o Pai, na força do Espírito.” Então, quem ama, já vive em Deus, porque Deus, que é amor, está agindo em nós, agindo na comunidade. E Deus é luz, onde não existe sombra nenhuma. E o Evangelho mesmo de São João vai dizer que a luz brilha no meio das trevas, e todo aquele que se aproxima da luz, que é Jesus, tem a vida. Esse é o mistério da Santíssima Trindade. Não existe outro Deus acima da Trindade; Deus é um. Não existem outros deuses. Deus é um!
Nós, com a nossa filosofia, com os nossos pensamentos humanos, elaboramos ideias sobre Deus; porém, sempre projetando as nossas ideias, as nossas falhas, os nossos defeitos em Deus. Nós somos fracos, Deus é forte. Nós somos limitados no nosso conhecimento, Deus é onisciente. E assim a gente vai fazendo: olha a nossa fraqueza, vê nossa grandeza. A gente vê a glória dos poderosos e diz que Deus é glorioso. Isso é tudo invenção nossa. Deus é Jesus. Olhando Jesus, agindo como Jesus age, amando como Jesus ama, procurando, realmente, ser entrega de vida para os outros, nós conhecemos Deus. Não na teoria, não na nossa imaginação, não na nossa filosofia. Mas o Deus da vida que Jesus, e só Ele, pode revelar, porque só Ele vê o rosto do Pai na eternidade. Vamos pedir a Deus poder sempre, sempre, sempre adorar a Trindade, Deus uno em três pessoas. Nós iniciamos todas as nossas orações invocando a Santíssima Trindade: “em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo” sempre. Nós abençoamos sempre em nome da Trindade. Ele é o nosso Deus. Nosso Deus é a Trindade.
Muito bem, vamos fazer os nossos comentários. Essa semana aqui é uma semana estranha. Mais uma triste notícia que chegou aí esses dias foi que alguns padres de algumas emissoras católicas foram lá conversar com o presidente para pedir verba em troca de apoio. A CNBB soltou uma nota de repúdio a esse tipo de atitude. A Igreja Católica não faz barganha. Nós preferimos fechar uma rádio a nos associar a um regime que se mostra genocida. A Igreja Católica, a CNBB, não autorizam ninguém a isso. Então, nós queremos manter a nossa liberdade diante do Estado para poder anunciar o Evangelho, porque o Evangelho é livre, o Evangelho não se compra, não se vende. Jesus não tem preço. E é grave que alguns padres, alguns grupos tenham tido essa atitude vergonhosa.
Nós também estamos vendo um aumento constante do número de mortos com COVID-19. Nós estamos, já, a quase um morto por minuto. Mil quatrocentos e quarenta minutos nós temos em 24 horas. Nós passamos da marca de mil e duzentos, quase um morto por minuto, por causa do COVID-19. Vamos pedir a Deus que tenha piedade do seu povo. Hoje também vamos falar do documento que nosso bispo emanou na semana passada (30/05), com 60 normas para uma possível reabertura de nossas paróquias. O bispo não mandou reabrir. Nosso bispo, com muito bom senso, diz para cada padre ver a realidade da sua comunidade: a realidade, a situação, a saúde do próprio padre, a situação de idade, a situação sanitária da própria comunidade, para que, com segurança, se possa reabrir as igrejas. Nós temos lá 60 regras para poder agir. Nós, aqui na nossa comunidade, fizemos uma reunião virtual com os coordenadores do conselho pastoral, e com os coordenadores das várias pastorais que estão ligadas à Liturgia, à celebração das missas nos domingos. E, por unanimidade, nossa comunidade decidiu não abrir. Nós vamos fazer uma reavaliação em primeiro de julho, nós vamos tomar uma série de providências, vamos preparar a igreja para o momento da reabertura. Nós decidimos não fazer isso antes de agosto. Então, antes do primeiro de agosto, a comunidade Santa Teresinha não reabre. Por quê? Nós temos muitos anciãos, muitos membros das equipes de Liturgia têm mais de 60 anos, também não podemos arriscar crianças e jovens. A nossa igreja teria capacidade, seguindo as regras, de colocar aqui 150 pessoas, mas 150 pessoas já é uma grande aglomeração. O padre, mesmo, tem quatro elementos de risco, então vamos devagar. E o critério é a curva. Enquanto os números continuarem subindo, e cada dia está subindo mais, nós não vamos reabrir. Se, em agosto, a curva já estiver abaixando, nós vamos esperar para ver quando a coisa é mais segura. Então, no começo de agosto, nós vamos reavaliar. Nós vamos ter duas reavaliações: dia primeiro de julho, depois, imediatamente antes do início de agosto. Se a curva continuar ascendente, nós vamos continuar fechados. É melhor nós estarmos seguros em casa, seguros celebrando e poder continuar alimentando a nossa fé do que ter a responsabilidade e o medo de contaminar pessoas. Os critérios de reabertura são muito bem feitos e muito exigentes. A necessidade de usar máscaras, as pessoas ficarem todo o tempo sentadas, distantes, com medida de segurança, não pode ter mais do que um número específico. Se tiver 50 pessoas lá na porta esperando e deu o número limite, o pessoal tem que voltar para casa, volte semana que vem. Por exemplo, uma família não poderia ficar sentada toda num mesmo banco. Cada um na distância de um metro e meio a dois metros um do outro. Também há a necessidade de higienização da igreja depois de cada missa. Higienização significa o que? Passar desinfetante nos bancos, passar pano na igreja inteira. A gente fala “nossa, dá para fazer!”. Aí a gente pergunta: quem vai fazer? Se as senhoras que ajudam a limpeza da igreja têm mais de 60 anos? Aí a coisa fica complicada. Então, avaliando todas essas questões, vendo direitinho, nós chegamos a essa decisão. Nessa semana próxima, nós vamos nos reunir com os padres da região sobre as medidas que cada um de nós está tomando. Vamos rezar.
Vamos aproveitar esse tempo para ler a Escritura. Várias pessoas me pediram: “Padre, quando é que o senhor vai falar de Bíblia para nós?”. Ainda não temos o dia, mas essa semana eu vou começar a gravar capítulos sobre a Escritura para que nós possamos, devagarinho, conhecer um pouco mais da Bíblia. Isso pode demorar ainda muito tempo; não muito tempo para começar, mas muito tempo para continuar. Se a gente fizer 5 minutos, 10 minutos por semana, falando um pouco da Bíblia, um pouco do mundo da Bíblia, tentando explicar os livros... nós temos capítulos até o ano 2050! Muito bem! Então, vamos agradecer a Deus pela sua bondade. A bondade do Pai em nos revelar, em Jesus, o mistério do próprio coração de Deus. Três pessoas. Uma única divindade.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Santíssima Trindade (Ano A) – 07/06/2020 (missa das 10h).

A força do Espírito nos conduz
31/05/2020
Festa de Pentecostes! Vamos falar um pouquinho de doutrina? O Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade; é Deus, como o Pai e o Filho. Ele é o dom de Deus, é o amor de Deus que se doa. E é esta potência, esta pessoa que abraça o Pai e o Filho de uma forma tão intensa que os três são um só Deus. Esse é o mistério da Trindade. Nós, na teologia, dizemos uma frase: "O Espírito Santo é a personificação de todos os atributos divinos: é a divindade em Deus, a onisciência em Deus, a onipresença em Deus, a onipotência em Deus". O Espírito perscruta as profundezas, o íntimo da própria Trindade.
É a potência do Espírito que cria. A ordem é do Pai: o Pai cria no Filho pela força do Espírito. O Espírito permeia toda realidade, a criada e a eterna; Ele perpassa tudo. Ele é a força divina que mantém todo o Universo, do mesmo modo que é a unidade na Trindade. O Espírito Santo opera em cada uma das criaturas de Deus, para que, em cada um de nós, possa aparecer a imagem de Jesus. "Criemos o ser humano à nossa imagem e semelhança". À imagem de Cristo: viver e amar como Cristo amou, a ponto de dar a vida por aqueles que amamos. À semelhança da Trindade: vivermos na unidade, um só coração, uma só alma, todos procurando o bem comum – como diz São Paulo na segunda leitura [1Cor 12, 3b-7. 12-13]. Esse é o projeto de Deus para nós.
O Espírito Santo é ação. Ele é dinâmico. Está além. O Espírito se manifesta em ações: Ele esquenta, Ele amolece, Ele refrigera, Ele se hospeda na nossa vida, na nossa alma. Ele nos transforma. Ele nos leva a agir como Cristo. Ele acende o amor de Deus em nós. Ele guia a Igreja para o fim que Deus Pai quer. O Pai quer que todos se salvem, e o Espírito Santo guia a humanidade a isso. Estamos em processo, e o processo é longo. Cada um de nós sabe como é difícil o caminho de conversão, mas é o Espírito de Deus que vai trabalhando até que, em nós, transpareça a imagem de Jesus. Para isso, temos que abrir o nosso coração; temos que buscar, constantemente, a conversão: ler o Evangelho, observá-lo, confrontar-nos com as ações, os pensamentos e as falas de Jesus, e permitir que essas ações, falas e pensamentos quebrem o nosso coração de pedra e façam, realmente, com que ele se converta em um coração de vida. Todo esse caminho é feito pela força do Espírito Santo.
A Igreja é impulsionada, no decorrer da história, pela força do Espírito. Muitas vezes, a Igreja aparece, para o mundo, como uma enfermeira agonizante. Agonizante porque temos pecados, falências, misérias, traições... Quantas vezes, até como Igreja, não nos esquecemos do Evangelho? O Papa Francisco insiste em nos chamar: "Voltemos ao Evangelho, mudemos nossas ações". E, dentro da própria Igreja, temos muita gente que diz: "Não, isso é conversa mole". Como pode ser "conversa mole" voltar ao Evangelho? Então nós vemos todas essas dificuldades; mas, se olharmos ao longo da história da Igreja, vemos também que existe uma força que leva esta comunidade a anunciar o Evangelho da Salvação.
Os Atos dos Apóstolos dizem que os apóstolos falavam "em línguas" [ref. At 2, 1-11] Nós temos que lembrar que os Atos dos Apóstolos foram escritos por volta dos anos 80, 90, cerca de 60 anos depois da morte e ressurreição de Jesus. E, já nesse momento, tínhamos cristãos espalhados por todo o mundo conhecido, o chamado Império Romano. Em todos os lugares, o Evangelho começava a ser anunciado, com pessoas e para pessoas de cada lugar. São Lucas descreve a totalidade do Império Romano, que era praticamente todo o mundo conhecido do Ocidente, para mostrar que o Evangelho estava sendo anunciado nesses vários lugares pelas pessoas desses lugares. O Evangelho entra na vida das pessoas onde quer que elas estejam para, ali, naquela situação, transformar esse anúncio de amor, de paz, de união, de serviço, de solidariedade em realidade eclesial, uma comunidade de irmãos e irmãs que buscam seguir sempre os passos de Jesus. Essas são as línguas: o mundo inteiro, que ouve e anuncia Jesus.
O Espírito Santo é essa força. Ele age na Igreja também por meio dos sacramentos e dos seus ministros consagrados, especialmente o Papa e o colégio dos bispos. Não existe o colégio dos bispos sem o Papa nem o Papa sem comunhão com o colégio dos bispos: eles são uma só realidade. E todas as vezes que o Papa e os bispos rezam e atualizam o anúncio do Evangelho e a vida da Igreja para o tempo presente, eles são guiados pelo Espírito. Isso nós vemos desde o começo da Igreja, já no Concílio de Jerusalém, que é relatado nos Atos dos Apóstolos, mas também em todos os concílios. Em cada época, o Evangelho se encarna, e o Papa e os bispos buscam essa encarnação. Hoje nós temos alguns grupos tradicionalistas, saudosistas, que se reportam ao Concílio de Trento, um dos maiores concílios da Igreja. Ele respondeu muito bem às necessidades dos anos 1500 – tanto que é chamado de Contrarreforma Católica, quando a reforma protestante estava incendiando o norte da Europa e a Igreja precisava pensar essa realidade; então ela fez esse grande concílio e respondeu para aquele tempo. Nós tivemos também o Concílio Vaticano I, que tentou responder a um problema grave, também do seu tempo, que era a unificação dos estados italianos e o desaparecimento do chamado Estado Pontifício (graças a Deus!); naquele momento, também era importante reafirmar a autoridade do Papa, então o Papa Pio IX, em comunhão com os bispos, proclama a infalibilidade pontifícia.
E em 1962, realmente iluminado pelo Espírito Santo, o Papa João XXIII decidiu convocar o Concílio Vaticano II para atualizar a Igreja. As respostas de 1500, ótimas para aquele tempo, já não estavam respondendo mais. Aquela liturgia de corte respondia para aquele tempo; para os homens e mulheres do séc. XX, já não respondia mais. Jesus é o mesmo, a liturgia é a mesma, a eucaristia é a mesma; mas têm que ser celebrados de modo que respondam às necessidades de hoje. Temos que abraçar os desafios deste tempo. E o Espírito de Deus guia a Igreja, apesar de termos algumas pessoas que gostam de colecionar velharias... De vez em quando, nós encontramos pessoas que têm mania de guardar tranqueiras; infelizmente, também dentro da Igreja temos que ter paciência com alguns grupos que gostam de guardar quinquilharias que já não dizem mais nada. Porém, o Espírito Santo, com paciência, vai renovando tudo, com os movimentos de atualização, de modernização da vida; movimentos reacionários não resolvem. E o Espírito Santo renova sempre! O Espírito Santo nos mantém sempre vivos, sempre aptos a responder, hoje, aos desafios da nossa realidade com a Palavra do Evangelho. O Evangelho não muda; a eucaristia é sempre a mesma; os sacramentos, imutáveis; sempre respondendo às necessidades e às realidades do tempo atual.
Hoje também vamos falar do documento que nosso bispo emanou ontem (30/5), com 60 normas para uma possível reabertura de nossas paróquias. As condições são muitas, de muita prudência e, em alguns casos, muito restritivas. Por quê? Porque estamos em um momento terrível da pandemia. O número de casos não está baixando, e as projeções de estudiosos são que, em agosto, tenhamos mais de 120 mil mortos por causa da covid-19 no Brasil. Isso é um desastre! Nós estamos vendo a incompetência, o descaso, o deboche do governo federal sobre essa questão, enganando o povo com a história da cloroquina, medicamento que está mais do que provado que não serve, que é perigoso... Isso é enganar o nosso povo! Nós temos que pedir que o Espírito de Deus ilumine nossos governantes, ilumine o Supremo Tribunal Federal, dê coragem aos nossos deputados e senadores, para que possam realmente buscar o melhor para o Brasil, pensando no povo.
Meus discursos, às vezes, são levemente políticos, mas houve um sinal muito feio, horrível, que tem conotações realmente autoritárias, ditatoriais: beber leite em público. Esse é um sinal nazista, uma linguagem assustadora! Nós não podemos, como cristãos, aceitar uma situação dessa. O nazismo e o fascismo se baseiam na doutrina de que existem pessoas melhores do que outras. No mundo alemão da época de Hitler, essas pessoas melhores eram os arianos, grandes consumidores de leite. Esse é um sinal nazista! Vamos nos conscientizar de que estamos diante de uma situação grave, muito grave. Vamos pedir a Deus que tenha piedade do seu povo.
Jesus diz no Evangelho: "Que todos tenham vida". Todos. Jesus não diz: "que os brancos tenham vida", "que os ricos tenham vida", "que os donos da tecnologia tenham vida", "que os senhores que podem mandar astronaves para o espaço tenham vida"; Jesus diz: todos! E todos quer dizer todos: brancos, negros, amarelos, vermelhos; homens, mulheres; todas as raças, todas as nações, todos os seres humanos. Se nós, cristãos, católicos sobretudo, não somos capazes de nos confrontar com o Evangelho nessa frase, não somos católicos na prática; temos só um verniz católico, mas não o somos. Jesus diz: "Que todos tenham vida"; nenhum governo autoritário defende a vida de todos, nenhum. E quando esses governos dão sinais e símbolos claros da sua ideologia, nós católicos, nós cristãos não podemos aceitar! Nós temos uma consciência; nós responderemos diante de Deus sobre essa consciência. O Evangelho está diante de nós, e nós não podemos brincar com isso. Mas o Espírito de Deus há de guiar o nosso povo! Há de iluminar aqueles que podem, com sua autoridade, ajudar o povo a ter, realmente, uma democracia, onde todos possam viver de forma digna.
Voltando às instruções do nosso bispo, são 60 normas de muita prudência: só 30% do espaço da igreja poderá ser ocupado, as celebrações devem ser curtas, pessoas do grupo de risco (com mais de 60 anos, pressão alta, diabetes, em tratamento de câncer, que foram operados a menos de dois anos, bem como jovens com 15 anos ou menos) devem ficar em casa... Nós ainda vamos avaliar como e se iremos reabrir a Paróquia Santa Teresinha, porque um dos critérios é o próprio padre, e o padre da vossa paróquia está com 59 anos, é diabético e hipertenso, o que justificaria a não reabertura da igreja. Mas, em todo caso, ainda vamos conversar com nossos ministros. Nossa comunidade também tem um grande número de idosos, então temos que, realmente, pensar, com prudência e bom senso, sobre como abrir, de que modo abrir, se abrir.
Enquanto não tivermos uma vacina, o risco de contágio é permanente. No Brasil, temos quase meio milhão de infectados, o que significa que muita gente ainda vai morrer... Os números são alarmantes. Vamos pensar, vamos rezar e vamos, juntos, buscar o que é melhor para nossa comunidade, para cada um de vocês.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Domingo de Pentecostes (Ano A) – 31/05/2020 (missa das 10h).

Jesus: conosco até o fim dos tempos
24/05/2020
Hoje a igreja celebra o Domingo da Ascensão. A ascensão de Jesus marca o final da Sua presença física entre nós. Jesus passou a Sua vida terrena vivendo como nós. Deus desceu das alturas, se esvaziou de si mesmo até se tornar um de nós. Caminhou pelas nossas estradas; um de nós! Amou com amor humano, com coração humano. Sofreu com dor humana. Deu a vida humana para todos nós. Com a ascensão, Jesus retoma a Sua condição anterior à encarnação. Esse é o mistério do verbo encarnado. Deus, que desce do céu, se esvazia – nós chamamos de kenosis, esvaziamento – se torna um de nós, morre; é morto, assassinado! Depois ressuscita e retoma a glória que tinha antes da criação do mundo.
Esse momento marca, também, o início da vida da comunidade enquanto guiada pelo Espírito de Jesus. Semana que vem, nós vamos celebrar Pentecostes – aí é o momento que a igreja sai para o mundo. Mas a ascensão de Jesus deixa esta comunidade com uma presença misteriosa. Jesus diz: “Eu estarei convosco. Eu estou convosco até o fim dos tempos!”. A comunidade dos discípulos de Jesus nunca fica sozinha, nunca fica abandonada, porque Ele está presente no nosso meio. Ele está presente na Sua palavra, Ele está presente na Eucaristia, Ele está presente na Sua comunidade reunida, Ele está presente em todo ser humano que sofre. A igreja é chamada, por vocação, a ser testemunha dessa presença constante de Jesus no meio dela. Nós dizemos, na teologia, na Pastoral, nos Documentos do Concílio: a igreja, constantemente chamada à conversão, significa constantemente buscar ouvir e seguir Jesus que está aqui, no nosso meio; nos chama, nos desmascara, para indicar para nós o único caminho, que é Ele mesmo. Nós muitas vezes pensamos “ah, Jesus isso, Jesus aquilo...”, mas quando nós vamos nos aprofundar na Sua Palavra, nós descobrimos quanto nós estamos longe e quanto nós não conhecemos Jesus. Por isso, devemos colocar as Suas palavras na nossa vida para que Ele realmente possa ir tomando forma em nós – esse é o poder de Jesus entre nós: transformar-nos, com a força do Espírito, à sua imagem.
Hoje a igreja também celebra o 54º Dia Mundial da Comunicação Social. Por isso, nós lembramos hoje, aos pés do Círio Pascal – Jesus é a luz do mundo – os meios de comunicação, que são essa maravilha que Deus permitiu que a inteligência humana construísse, descobrisse, aprimorasse; nos leva informações, instrução, evangelização. Como tudo nas mãos do ser humano, servem para o bem, e, infelizmente, podem ser usadas de um péssimo modo. Porém, isso não tira o valor e a qualidade desses meios. Graças a esses meios de comunicação, hoje, no meio de uma pandemia como esta, talvez a maior pandemia da história, nós podemos nos comunicar, nos fazer presentes. Quantos de nós já tinham um pouco deixado de vir na Missa, não é? Estão nos seguindo. Quantos de nós não conheciam o nosso Bispo? E quantas transmissões ao vivo nós estamos tendo aqui com o nosso Bispo Diocesano, com outros padres da Diocese, com outros padres do Brasil, com outros padres do mundo? Anos atrás, nós não podíamos ver o Papa Francisco ao vivo como nós vimos no dia da bênção Urbi et Orbi, na Praça de São Pedro. É uma maravilha o que Deus concedeu ao nosso conhecimento. E esse nosso conhecimento, esses meios de comunicação, estão indo fora, não estão mais na Terra. Nós temos um satélite, uma pequena nave, o Voyager 1, que já passou dos limites de Plutão. Está indo no espaço; nós não sabemos para onde mais. E vai captando notícias, informações, mandando para nós. Meios de comunicação. Maravilhas. Vamos pedir ao Senhor que nós possamos sempre buscar o melhor desses meios.
Hoje, aqui no Brasil, em meio à pandemia, especialmente, se torna fundamental o uso dos meios de comunicação. Como dizia, infelizmente o ser humano pode fazer bom uso de tudo e mau uso de tudo. Hoje nós temos o desafio das fake news, notícias falsas, notícias inventadas, mentiras feitas e construídas para enganar e distrair o povo, criar opinião errada, justificar monstruosidades. Nós temos que, sempre mais, verificar o que nós estamos ouvindo, verificar o que nós estamos recebendo para saber se isso é verdade ou não. Essa é a dupla face de tudo nas mãos dos seres humanos.
Vamos pedir ao Senhor que nos dê discernimento para podermos sempre buscar a verdade, notícias certas, notícias seguras, para poder fazer o bem e ajudar as pessoas a encontrar a verdade. Verdade que é uma só: Jesus Cristo morto e ressuscitado.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Ascensão do Senhor (Ano A) – 24/05/2020 (domingo, missa às 10h)

Espírito Santo, vinde iluminar-nos!
17/05/2020
Nós continuamos lendo o discurso de despedida de Jesus na última ceia no Evangelho de São João. E Jesus promete enviar-nos o Espírito, o Defensor, o assistente judicial. Um assistente que nos defende contra a maldade deste mundo. Nós temos que pensar que estes textos, especialmente o Evangelho de São João, terminaram de ser escritos por volta do ano 90 d.C. E, neste período, as comunidades cristãs eram perseguidas duramente. Segundo a história, o único apóstolo que ainda estava vivo era São João. E, mesmo assim, não foi porque ele não sofreu martírio – a tradição diz que São João teria sido jogado dentro de óleo fervendo e, milagrosamente, não teria morrido. Já havia passado a perseguição de Nero, nos anos 60, quando morreram São Pedro e São Paulo e vários outros cristãos. Então nós temos grande perseguição contra os cristãos já neste período.
E o Espírito Santo é a presença de Deus em nós, que nos defende do mundo. Jesus diz: “quando vos levarem para os tribunais, não fiquem preocupados com o que vocês irão dizer, como vão se defender, pois o Espírito Santo falará por vós”. Então, nós precisamos sempre abrir o coração, pedir a Deus que mude nossa vida, que transforme as nossas ações para que nós possamos realmente seguir o Senhor. Nestes dias, nós também temos visto, aqui no Brasil, toda essa dificuldade e polêmicas como, por exemplo, de um Ministro da Saúde que, novamente, sai do cargo no meio desta pandemia. Estamos vivendo também uma crise política vergonhosa. Nenhum país do mundo, no meio de uma verdadeira guerra que está sendo esta pandemia, procura e cria uma crise política. Orientações de ministros, governadores e prefeitos de um lado e do Executivo do outro, com coisas contraditórias. O povo fica completamente perdido. Nossa imagem e reputação, no mundo inteiro, está indo para o lixo. O Brasil, que era respeitado por sua diplomacia, que buscava acordos e pacificar as situações, agora é lugar de piada.
Vamos pedir a Deus que mande o Seu Espírito para abrir o coração dos nossos governantes, para que pensem no povo e deixem de lado questões e polêmicas. Pensem na vida do povo, porque é isso que importa e os governantes estão lá para isto: para agir em nome do povo como um todo e não somente de alguns que se manifestam na frente do Planalto.
Basta olhar o nosso povo, os hospitais entrando em colapso, as mortes chegando sempre mais perto de nós. Não cuidar do povo é vender-se ao Espírito do mundo. O mundo não conhece o Espírito porque não conhece Jesus. Jesus não só respeita o povo. Jesus está disposto a dar a vida pelo povo. A força para defender o povo, para fazer o bem pelo povo, vem do Espírito. Então vamos pedir ao Senhor que ilumine o nosso povo, ilumine os nossos governantes, para que busquem o bem de todos nós.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 6º Domingo da Páscoa (Ano A) – 17/05/2020 (domingo, missa às 10h).

Deus é Jesus
10/05/2020
O Evangelho de hoje [Jo 14, 1-12] é muito denso. Nele, temos duas revelações de Jesus. Primeiramente, Ele está com seus discípulos na última ceia e dá Suas instruções finais. Ele sabe que o cerco se fechou; que, entre Seus apóstolos, um já O traiu; Ele sabe que é o fim. São Suas últimas palavras, e Ele diz: "Eu vou para o Pai e vou preparar um lugar para vocês. Se não fosse assim, eu vos teria dito". Esta é uma revelação de Jesus: a morte nos conduz para o lugar do Pai – não um lugar como aqui e ali; o lugar é a presença do Pai, estar na presença Dele, na eternidade. Nossa vida não é cancelada com a morte, não desaparece com o último suspiro; nossa vida permanece diante do Pai. Esse é o lugar de Jesus, Ele está à direita do Pai. Então nós, no momento da morte, entramos no lugar onde Jesus está. Ele é a porta, Ele nos coloca diante do Pai. Essa é a fé dos cristãos! Isso nos anima, até mesmo, a dar a vida pelos outros, pois a morte, para nós, não é mais um problema, um limite; o nosso destino é a presença do Pai.
Tomé, então, pergunta: "Se não conhecemos o caminho, como vamos para lá?". E Jesus diz esta frase: "Eu sou o caminho verdadeiro para a vida". Pode ser que você conheça de outro jeito: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Esse modo de falar é grego; um hebreu nunca poderia dizer essa frase, da mesma forma como nós, brasileiros, não podemos usar algumas expressões americanas. Nós não falamos, por exemplo, vou "mercadar", e sim "vou ao mercado". Assim, em grego, pode-se dizer: "Eu sou caminho, verdade e vida", mas em hebraico se diz: "Eu sou o caminho verdadeiro para a vida".
Mas, afinal, o que Jesus está nos dizendo com essa frase? Que não existe outra via. Na semana passada, Ele disse: "Eu sou a porta", e que todos que vieram antes Dele eram ladrões que não amavam as ovelhas. É a mesma coisa: não existe outro caminho! Serviço, humildade, fraternidade, solidariedade, acolhida do outro, justiça, paz, vida digna, "vida em abundância": esse é o caminho de Jesus. Todos aqueles – todos! – que proponham outra via que não seja essa estão fora do caminho de Jesus, mesmo que se confessem cristãos – e pior ainda, cristãos católicos. O caminho de Jesus é somente este: amor, serviço, solidariedade, justiça, paz, vida em abundância para todos – não para uma classe, não para minorias ou maiorias, não para metade da população: para todos! Essa é a via de Jesus. E, em Seu modo de agir, Ele mostrou que era isso o que buscava.
Depois, Felipe, que simboliza o mundo grego, diz: "Mostra-nos o Pai". Querer ver Deus: esse era o anseio de todos os povos, não só do povo hebreu. Moisés ousou pedir a Deus: "Mostra-me o Teu rosto", e Deus falou: "Ninguém pode ver o Meu rosto e permanecer vivo, nenhuma criatura pode ver o Meu rosto e permanecer viva". O próprio Elias, quando Deus se manifesta para ele, cobre o rosto, pois não se pode olhar para Deus. Todos os povos falaram sobre Deus, projetando Nele as nossas limitações. Nós somos fracos; Deus é imensamente forte, Ele conduz o Universo. Nós somos limitados; Deus não tem limites. Nós somos finitos, morrermos; Deus é infinito! Conhecemos pouco as coisas; Deus é onisciente. Mas, com isso, só estamos projetando uma imagem de nós mesmos elevada a um nível absurdo. E, muitas vezes, cometemos o erro de querer colocar o que inventamos com nossa filosofia, nossas religiões e teologias dentro de Deus, dentro de Jesus, o que gera uma grande confusão...
Jesus diz: "Felipe, estou há tanto tempo com vocês e ainda não me conhecem? Quem me vê, vê o Pai; eu estou no Pai e o Pai está em mim; eu e o Pai somos um". Jesus revela o Pai: Deus é Jesus. Suas ações, Seus pensamentos, Suas opções, Seu modo de agir, as pessoas de quem Ele se aproxima, as coisas que Ele desmascara: isso é ação de Deus. Jesus é Deus. Então nós não temos que criar uma "superimagem" de Deus e colocá-la sobre Jesus. É o contrário. Devemos olhar para Jesus e dizer: "Deus é assim". Nos gestos, palavras e opções de Jesus: aí está Deus. Mesmo que isso não nos agrade; mesmo que isso nos deixe completamente confusos e perdidos. Por exemplo, quando pensamos no trono de Deus; o trono de Deus é a cruz! Onde está o coração de Deus? Junto dos pobres, dos doentes que Jesus se aproximou, das pessoas que eram colocadas de fora até pela religião. Jesus está perto do estrangeiro, dos doentes, das pessoas que os "bons religiosos" olham com maus olhos e excluem, daquelas pessoas que os "bons religiosos" desprezam e chamam de pecadores. Jesus está lá, junto delas. Essa forma de agir de Jesus quebra o nosso modo – errado – de pensar que Deus só gosta dos bons, das pessoas "de bem"; que, perto Dele, o pecado e o pecador não chegam. Jesus mostra exatamente o contrário! Ele acolhe, ama o pecador. Jesus nos encoraja! Jesus quebra a mentira que o maligno colocou em nosso coração. Ele diz: "Não tenham medo, tenham confiança! Creiam no Pai, creiam em mim". Jesus derruba a mentira que o pecado original colocou em nosso coração quando desconfiamos de Deus e do outro. "Confiem no Pai, confiem no próximo". E Jesus mostra: Ele perdoa Pedro, Ele acolhe os pecadores, Ele salva um assassino. Qual desconfiança ter? Que medo ainda ter de Deus?
É muito interessante ver, no Antigo Testamento, que Deus diz ao profeta: "Eu amo meu povo como uma mãe. As minhas vísceras tremem de amor pelo meu povo". Só uma mãe sabe o que é isso, pois ela tem útero. Deus nos ama com esse amor materno, um amor forte, indestrutível – ainda que haja mães que não amem seus filhos desse jeito. E Deus diz isso ao profeta, pois conhece o coração humano: "E ainda que houvesse uma mulher na face da terra que não amasse o fruto de suas entranhas, Eu não deixo de amar o meu povo". Essa é a mensagem, é isso que Jesus faz e mostra. Deus nos ama com amor de mãe e nos dá confiança para seguir os passos de Jesus.
Vamos pedir ao Senhor a graça de poder ver sempre a verdadeira imagem de Deus, que é Jesus. Aprender Dele quem é Deus. Ter força e coragem para poder fazer os mesmos gestos – não repetir gestos de dois mil anos atrás em outro lugar e outro tempo, mas ser, hoje, pessoas que amam, acolhem, são solidárias, lutam pela justiça e pela paz. Hoje e todos os dias nós podemos fazer isso, e assim estaremos fazendo a vontade de Deus – até os que não creem em Jesus. Quem pratica a justiça, o bem e a solidariedade está no caminho de Jesus.
Vamos pedir à Virgem Maria; ela, que teve a coragem de abraçar a vontade e o caminho de Deus, um caminho que a levou por estradas dolorosas; ela teve coragem porque confiou em Deus, não duvidou: Deus é fiel! Vamos pedir a ela que nos mostre o caminho de Jesus e nos ajude a caminhar por ele.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 5º Domingo da Páscoa (Ano A) e Dia das Mães – 10/05/2020 (domingo, missa às 10h).

Ser como o Bom Pastor
03/05/2020
Gosto muito de fazer perguntas para o povo, mas como não tem povo, eu vou fazer a pergunta e eu mesmo dou a resposta... Qual é o nome de Jesus? Jesus poderia ter um nome da época, eles chamavam assim os filhos “Jesus bar-José”, Jesus filho de José, e todo mundo acreditava que José era o pai de Jesus, ou então Jesus de Nazaré. Na cidade de Nazaré, ele era conhecido como Jesus o carpinteiro. E o que quer dizer Jesus Cristo? Cristo não é o sobrenome de Jesus? Não! Cristo é um título. Cristo significa ungido. Dizendo Jesus Cristo, nós estamos dizendo Jesus, o ungido. Ungido de quem? O ungido do Pai. Ungido com o que? Com o Espírito Santo. O Espírito Santo é a unção do Pai. Jesus é aquele que tem o Espírito. Jesus Cristo, Jesus o ungido, Jesus aquele que nos dá o Espírito. Isso é um pequeno esclarecimento sobre o nome de Jesus: Jesus Cristo não é nome e sobrenome, Jesus Cristo é nome e título. Um título messiânico, ungido de Deus.
Nós ouvimos hoje essa leitura muito bela, a Segunda Leitura [1Pd 2,20b-25] mostra quais são as atitudes do pastor. O pastor cuida mesmo sofrendo e não ameaça, ele dá a vida pelos seus. O pastor assume as dores que o seu povo está sentindo, sente na sua carne as dores daqueles que sofrem. Só Deus poderia inspirar Pedro a dizer essa frase maravilhosa: “Pelas suas feridas, pelas suas chagas nós fomos curados”. O Bom Pastor sofre, se dedica, às vezes é perseguido, porque ele quer cuidar bem das suas ovelhas. E, no caso de Jesus, não só perseguido, mas assassinado, com uma morte infame, por amor aos seus, porque Ele ama os seus. E Jesus diz “Eu sou a porta”. Perguntamos, porta? Esse sentido de porta é uma linguagem simbólica: quem tem a porta de um lugar, tem todo o lugar. Isso quer dizer que Jesus é o céu, Jesus é a vida, Ele é a porta, quem entra tem vida, porque Ele dá vida. Ele não tem só a porta, não é porteiro, vamos dizer assim, da vida eterna ou da nossa vida, mas Ele é toda a nossa vida.
Uma coisa interessante do Evangelho [Jo 10,1-10], Jesus fala que o Bom Pastor chama as ovelhas pelo nome. Deus não é como os grandes deste mundo – hoje especialmente, mas estranhamente no tempo do Rei Davi se fez a mesma coisa, as pessoas são números. Davi mandou fazer um recenseamento, porque queria saber quantos hebreus tinham e Deus o puniu. Os filhos e filhas de Deus tem nome e sobrenome, não são números de estatística, não são mais 3 mil mortos, mais 250, são pessoas, são vidas, são histórias... Quando nós dizemos que Deus conhece cada um de nós no mais íntimo do nosso ser, nos nossos pensamentos, nos nossos desejos, nos nossos pecados, na parte mais obscura que nós trazemos dentro de nós, isso é para dizer que Deus nos ama e nos conhece. Para Deus, para Jesus, nós não somos um número, nós somos filhos e filhas. Como a mãe e o pai conhece o nome de cada filho, conhece o caráter de cada um, mas se você perguntar para uma mãe ou para um pai qual deles você ama mais? Eles vão dizer que amam a todos, mas você vê que, para cada um, esse amor se manifesta de um modo e todos os filhos vão dizer sou amado pelos meus pais. Triste é a pessoa que não tem essa experiência, mas ela vai ficar na saudade dessa experiência. Deus é assim, Ele ama a cada um e se importa com a vida cada um. Deus não diz “ah tem 20 milhões vamos acabar com 200 mil”. Deus não é um monstro. Os governantes deste mundo são monstros às vezes, quando pensam e agem como Davi que quis contar os hebreus para cobrar impostos e saber com quantas pessoas ele podia contar no caso de guerra. Não era sinal de amor. Do mesmo modo, muitas vezes nós percebemos as atitudes dos nossos governantes que não são de amor nenhum pelo povo: descaso, deboche, falta de iniciativa, não se preocupar se o número dos desempregados aumentam ou não, se todos tem casa ou não, se a educação está melhorando, se a saúde pública está chegando a toda a população, incluindo aquela mais pobre que não tem outras condições para cuidar da própria saúde. Podem me dizer: “mas, padre, isso não tem nada a ver com o Evangelho!”. Tem, e tem muito, porque Jesus, o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas, que se compadece de cada uma de suas ovelhas, mostra a todos os pastores, a todos os governantes, a todos os líderes religiosos como ser pastor. E se nós não estamos sendo pastores: Jesus diz quem não é pastor é ladrão, não tem meio termo. E quanto mais responsável você é, tanto mais grave a sua culpa se você não cuida do seu povo, se você não ama seu povo. Quem cria divisão, ódio, quem impede as pessoas de pensar, é ladrão, não é pastor, não sabe guiar as suas ovelhas.
Vamos pedir a Jesus, especialmente neste tempo terrível que estamos passando, de pandemia, onde nós nem podemos ir à igreja, que Ele nos dê bons guias, bons pastores, que pensem no povo, que pensem na quantidade de cidadãos brasileiros que estão morrendo, que isso doa coração deles, que eles não demonstrem por nós pouco caso e deboche. Como eu disse outras vezes, o nosso povo não merece isso. O nosso povo é bom, o nosso povo é trabalhador, o nosso povo precisa de bons dirigentes e o modelo é Jesus, que se compadece pelo povo e é capaz de dar a vida pelo povo. Vamos pedir ao Senhor que nos ajude.
Vamos pedir também que a nossa população se conscientize do perigo que nós estamos correndo em não usar os vários modos de cuidado diante desta pandemia: usar máscara toda vez que sair de casa, ficar em casa, lavar as mãos, ajudar uns aos outros... Nós temos o WhatsApp, nós temos a possibilidade de mandar uma mensagem, às vezes, nossa avó está sozinha e precisa ficar sozinha, porque nós podemos ser uma ameaça para ela, mas mandar uma mensagem, fazer uma chamada de vídeo. Não podemos esquecer as pessoas, principalmente aquelas que estão sozinhas, e devemos nos ajudar do melhor modo possível pedindo a Deus, especialmente pelos mais pobres, para os quais esta situação de ficar em casa pode significar ficar num cubículo de 2 m x 2 m, ou para aqueles que a palavra casa não existe, porque vivem na rua. Vamos rezar e fazer o que podemos por essas pessoas. O modo que temos aqui na paróquia é ajudar com os mantimentos para as famílias pobres, é uma pequena ajuda. Nós não conseguimos dar aqui na igreja uma habitação melhor, mas ao menos um pouco de comida nós podemos. Procuremos fazer aquilo que podemos fazer.
Que o Bom Pastor que é Jesus, nos ensine todos os dias a seguir os seus passos.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 4º Domingo da Páscoa (Ano A) – 03/05/2020 (missa às 10h).

A eucaristia é a presença viva de Jesus
26/04/2020
Este Evangelho [Lc 24, 13-35] é muito conhecido: o Evangelho dos Discípulos de Emaús. O que estava acontecendo? Eles viram o fracasso; seguiram Jesus (não eram os apóstolos, mas estavam entre os outros discípulos de Cristo), colocaram Nele muita esperança – tanto que vão dizer: "Ele era aquele que nós pensávamos que iria libertar Israel, mas já faz três dias que essas coisas aconteceram". Esses homens, como Maria Madalena, quando foi ao túmulo prestar homenagem a um cadáver; como o discípulo amado e Pedro, que correram e viram os panos caídos no chão, mas, no fim das contas, sabe-se lá o que aconteceu... Todos estavam, no primeiro momento, voltados às suas ideias antigas, fixas; não conseguiam, de jeito nenhum, abandonar o olhar daquele túmulo, daqueles pensamentos, ilusões, sonhos que tinham. E esses discípulos disseram em que acreditavam: "Nós esperávamos que Ele fosse o libertador de Israel". Eles continuavam com a velha ideia: Ele ia reformar o culto do templo, ia transformar Israel na maior nação da Terra, ia subjugar os povos, começando pela expulsão dos romanos.
Velhas ideias. Velhos desejos. Velhos ideais. Talvez até justos – que povo gosta de viver na opressão? As ideias não eram más, eram justas; o templo estava cheio de sacerdotes que nem acreditavam na vida eterna... Eles esperavam coisas boas, mas coisas muito pontuais: nesta realidade, neste mundo. Jesus trouxe algo novo! E é compreensível que esses homens não conseguissem entender imediatamente, apesar de Jesus ter falado várias vezes: "Eu não vim para ser servido, Eu vim para servir, para dar a vida". Era difícil romper essa mentalidade velha.
Jesus caminha com eles, sabe-se lá por quantos quilômetros. Naquele tempo, as pessoas andavam a pé, em estradas de terra – a região da Judeia é um deserto. Esses homens não estavam passeando, estavam indo embora: "Acabou o sonho, foi tudo uma ilusão... Vamos voltar para nossas antigas coisas, nossas antigas tarefas. Vamos baixar novamente a cabeça e viver sob o jugo de Roma, de Herodes". Jesus caminha com eles, e o coração deles está tão angustiado por esses sonhos que se acabaram, pelo "aqui e agora" de todas as coisas, que não conseguem nem mesmo reconhecer Jesus.
E Jesus diz: "Como vocês são lentos". Este texto nos dá uma chave de interpretação. Se você perguntar a um hebreu ortodoxo se determinada passagem é sobre Jesus, ele irá responder: "Não, é sobre outra coisa". Para eles, os salmistas, os profetas, Moisés... Todos estão falando de outra coisa, porque eles não acreditam na ressurreição. A ressurreição de Jesus vai jogar uma luz completamente nova nas escrituras. O que antes estava escondido, o que antes não era claro, o que antes talvez nem fizesse sentido, agora faz! É uma luz nova, é uma interpretação viva! E basta uma frase da escritura se cumprir para que toda a escritura se cumpra.
Então Jesus vai ensinar os discípulos a reler a Palavra – e esta é a experiência cristã: reler a escritura dos hebreus com a luz da ressurreição, uma luz que eles não têm, porque não creem em Jesus. Aqueles homens vão, então, perceber essa luz: "Olha, ele está falando isso, mostrando aquilo, demonstrando aquela outra coisa... Nossa, ele tem razão!". E continuam andando até chegarem em casa. Para os hebreus, a hospitalidade é um dever sagrado; todo bom hebreu acolhe o peregrino. E diz a escritura que a noite vinha chegando, estava entardecendo. Nós temos que pensar no que significava viajar à noite, 2 mil anos atrás, sem luz, no meio de um deserto: você está à mercê de tudo! Se não tiver lua, você não vê nada, fica no breu. É importante lembrar disso. Então eles falam: "Está caindo a noite, fique conosco".
Esse convite nos lembra outra passagem: Abraão, meio-dia, deserto. Na hora mais quente do dia, ele vê três homens vindo, lá longe. Ele morava perto de uma árvore enorme, um tipo de oásis. E o que ele faz? Corre, ajoelha-se diante daqueles homens e pede: "Por favor, sentem-se aqui, na sombra desta árvore, vou preparar algo para vocês". É o bom hebreu, que acolhe o hóspede. Recebendo-os, Abraão acolheu anjos. Na tradição cristã, isso vai ser diferente: "Acolhendo o pobre você está acolhendo Jesus". Temos também a história de São Martinho de Tours, que era um soldado cristão. Ele estava andando a cavalo no meio da neve quando viu um pobre na estrada, quase nu, batendo o queixo de frio. São Martinho, então, cortou seu manto pela metade e deu àquele pobre. Durante a noite, viu o mesmo pobre em sonho, mas com as chagas de Cristo, todo vestido com pedras preciosas, dizendo: "Naquele pobre, você me acolheu". Temos ainda a história de São Francisco com o leproso. Ele tinha horror a leprosos! E, um dia, um leproso pediu: "Misericórdia, me dê uma moeda!". São Francisco, vencendo a si mesmo, desceu de seu cavalo, deu a esmola e deu um beijo no leproso antes de subir de volta no cavalo. Quando se virou para ver o leproso, não o viu mais. A tradição franciscana sempre viu neste leproso o próprio Jesus. Então esse gesto de acolher o peregrino, acolher o necessitado, ajudar o pobre, é ajudar a Jesus. Isso entrou para a tradição cristã de forma muito forte, em nossas ações.
Depois, os discípulos sentam-se com Jesus. Era um gesto de acolhida oferecer repouso, alimento, água para o hóspede. E era um gesto de grande honra pedir ao hóspede que abençoasse os alimentos. E o que acontece? Pode ser que esses homens até estivessem lá na última ceia, nós não sabemos... Fala-se dos 12, mas não se sabe quantas pessoas a mais poderiam estar ali ou se os apóstolos contaram a outras pessoas como foi. O importante é que ali, na hora da bênção, essa pessoa que eles não tinham reconhecido faz um gesto que, agora, eles reconhecem! Um gesto feito várias vezes: na multiplicação dos pães, na última ceia... E na hora em que Jesus reparte o pão e o entrega, os olhos deles se abrem. Isso é uma graça de Deus! Ninguém chega à fé sem a graça de Deus. É só a misericórdia de Deus que nos dá a fé. Porém, todos podemos fazer o bem, isso está no coração humano. E Deus nos julgará pelo bem que fizemos, como diz a carta de São Pedro [1Pd 1, 17-21].
Então esses homens reconhecem: "É Jesus!". E naquele instante, Jesus não está mais com eles. Está, mas de outro jeito: no pão repartido. A eucaristia, para nós, é a presença viva de Jesus! Não é só corpo e sangue; nós não temos um cadáver dissecado em cima de um mármore. É a vida Dele, é tudo! Está ali, na eucaristia que nós recebemos, no pão que esses homens viram Jesus partir. E o interessante: a essa hora, a noite já tinha caído, e esses homens, iluminados por essa luz nova, "a luz que brilha nas trevas", vão voltar 11 km até Jerusalém. Eles contam para os apóstolos o que aconteceu: "Nós vimos!", e os apóstolos confirmam: Ele apareceu a Pedro! Sobre esta aparição a Pedro, nós sabemos apenas a afirmação dos apóstolos. Provavelmente, nesta aparição, Jesus concede a Pedro o perdão, confirma sua fé e lhe dá a autoridade sobre a Igreja: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja".
Vamos pedir ao Senhor que nos dê esta graça de ver Jesus. Nós nos enganamos tantas vezes com o modo de pensar deste mundo, com todas as coisas que nos acontecem... E perdemos de vista o sentido da nossa fé. A nossa fé não olha só para esta realidade, a nossa fé ilumina esta realidade, com esperança, com o amor de Deus e com a busca por fazer o que nos é possível dentro das várias situações. Às vezes, como agora, neste tempo de pandemia, eu não posso sair por aí; mas alguma coisa eu posso fazer: posso rezar com minha família, posso ler mais a Bíblia; posso estar atento para saber se a vizinha ou o vizinho do lado, que às vezes moram sozinhos, às vezes são idosos... Se eles precisam de alguma coisa. Podemos fazer tanto! Nós temos tantos meios de comunicação. Quantas pessoas nós podemos encorajar com uma palavra? Um "bom dia", neste tempo, é um respiro: "Nossa, aquela pessoa lembrou de mim!". Quanto nós podemos fazer... E cuidar uns dos outros: ficar em casa! Fazer o possível para estar em casa!
Nós também estamos diante de um momento muito difícil para o Brasil. Muito! Vamos rezar para que nossos governantes, realmente, pensem no bem do nosso povo. Tem um filme que fala sobre a Rainha Elizabeth I, da Inglaterra; diante dos vários problemas, ela sempre coloca esta frase: "O bem do meu povo". Não o dela, mas o do povo. Que nossos políticos, que nosso Judiciário, que nosso Executivo e os próprios brasileiros busquem o bem DO POVO, e somente o bem do povo.
Jesus entregou a própria vida pela salvação de todos. Não poupou nada, nem Sua própria vida. Vamos pedir ao Senhor esta graça de poder usar a nossa vida para o bem dos outros.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 3º Domingo da Páscoa (Ano A) – 26/04/2020 (missa às 10h).

Felizes aqueles que acreditaram sem terem visto
19/04/2020
As leituras de hoje nos chamam a olhar para nossa fé, para nossa esperança. A Primeira Leitura [At 2,42-47] fala de um primeiro momento na vida das comunidades de Jerusalém. É um momento que mostra solidariedade. Todos tinham tudo em comum: vendiam o que possuíam, depositavam tudo aos pés dos apóstolos. As coisas eram repartidas segundo as necessidades de cada um, e não havia necessitados. Eles viviam em oração, eram bem queridos por todos porque mostravam a alegria da salvação. Isso foi um primeiro momento. Mas um momento, podemos dizer, de extrema ingenuidade. Este modelo econômico – se podemos chamar assim –, ou modelo comunitário, funcionou bem por um tempo porque depois que ninguém tinha mais nada, veio uma escassez enorme sobre a região da Judéia e as comunidades começaram a passar grande necessidade. E aí, então, nós temos o outro modelo econômico que é aquele proposto por São Paulo.
São Paulo promoveu uma grande coleta entre as várias comunidades cristãs espalhadas no mundo pagão e enviou isso para os irmãos de Jerusalém. São Paulo dizia: “cada um dê segundo a alegria do seu coração.” E essa forma deu resultado. Assim, muitos vieram em socorro, ajudaram com o que era necessário, e esta se tornou a forma como a Igreja sempre cuidou das pessoas, dos fiéis, dos pobres: buscando sempre a solidariedade entre os irmãos, de modo que cada um possa contribuir com aquilo que pode, com aquilo que pede o seu coração, estando alegre nesta doação. Colaborando para que todos possam ter o necessário.
A carta de Pedro [1 Pd, 1,3-9] nos coloca a questão da grande misericórdia de Deus, que nos fez renascer pela morte e ressurreição de Jesus. E é bonito ver essas palavras: “sem ter visto o Senhor vós O amais, sem O ver ainda, Nele acreditais. Obtereis aquilo em que acreditais, a vossa salvação.”
Crer. A fé não precisa de sinais. A fé não é colocar Deus à prova. A fé é entregar-se, confiante, nas mãos de Deus. Não é uma fórmula para nos livrarmos das dificuldades e das dores da vida, afinal, estas virão sempre! Basta ver a vida do próprio Jesus: foi a vida de uma pessoa pobre. A pessoa que foi perseguida já na infância, a qual viveu em uma cidade pequena e que, depois, quando sai para anunciar o Evangelho, é hostilizado por muita gente. Muitas pessoas creram Nele, mas muitos rivalizaram com Ele, difamaram-no e, no final, mataram-no. Nós sempre temos que ter isso diante dos olhos porque senão nós caímos em uma fé muito mágica: “rezei um rosário, Deus tem que me dar isso.”; “Como é que eu rezo sempre e Deus não me dá aquilo?”. Essa magia é caderneta de poupança espiritual e isso não tem o menor sentido. Isso não é fé, isso é barganha. E Deus não se compra.
Depois, nós temos o Evangelho de João [Jo 20, 19-31], que fala de São Tomé, o primeiro fruto da ressurreição. Jesus aparece para os apóstolos e já tinha aparecido para Maria Madalena, na manhã do domingo. Mas eles não acreditaram muito! Jesus aparece, estando eles com as portas fechadas, mas Tomé não estava no local. Vale ressaltar a questão das portas fechadas. Ele não entrou pela porta, Ele não atravessou a parede. Jesus não era um fantasma. Jesus está no meio deles. Isso nós chamamos de teofania, manifestação de Deus. Deus surge em nosso meio, nessa realidade que não é o mundo de Deus. O mundo de Deus é a transcendência. E diz aos apóstolos: “a paz esteja convosco.” Paz, em hebraico, é shalom, o shalom de Deus. É alegria, é fartura, é bem social, é casa, é comida. Na época, é curral cheio de filhotes, é colheita boa, é viver bem com a esposa, viver bem com os filhos, viver bem com os amigos, não ter guerras, é todo o bem que se pode desejar para uma pessoa. Não é só esse sentido vazio quase que damos para a paz atualmente. Paz não é a ausência de guerra entre um país e outro. Não! A palavra hebraica diz muito mais que isso. E através de Jesus ressuscitado, essa paz passa a ser a paz de Deus.
Jesus ressuscitado é algo diferente. Não é esse corpo comum nosso. Tem algo diferente. Por exemplo, os discípulos de Emaús não O reconheceram imediatamente, andaram quilômetros conversando com Ele. Maria Madalena, no início, conversou com Ele e não viu quem era Ele. Mas algo nos faz ver que é Ele. “Olhem as marcas nas minhas mãos, olhem o furo no meu lado – a lança que abriu o coração de Jesus – sou eu!”. Os santos místicos dizem que Jesus está eternamente crucificado diante do Pai. A glória que Jesus carrega consigo não anula os sinais da crucifixão. O ressuscitado é o crucificado. E Ele intercede por nós diante do Pai, com o sangue da Sua crucifixão, que está glorioso diante do Pai.
É interessante também ver que Jesus sopra sobre os apóstolos: “recebei o Espírito Santo.” Nós temos que lembrar que cada pessoa divina manifesta a trindade toda. Jesus é a imagem do Pai e é aquele que dá o Espírito. A Sua presença nos comunica o Espírito. E, aqui, Jesus transmite o Espírito com autoridade divina. Dizer “a quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados. A quem não perdoardes, não lhes serão perdoados” não significa uma atitude mecânica de perdão. “Ah, o padre ou o bispo escutam os pecados e decidem se vão perdoar ou não!” Isso é uma leitura mecânica, fraca, teologia de migalhas. Jesus dá aos seus apóstolos a plena autoridade divina para perdoar os pecados. Jesus é o perdão dos pecados. Ele dá para a Sua Igreja, na pessoa dos seus ministros, bispos e sacerdotes, o Seu poder. É o poder de Deus de perdoar os pecados. A Igreja depois vai disciplinar como fazer isso, mas é o poder divino. Deus dá à Sua igreja o maior dom Dele mesmo, o perdão dos pecados.
Nós temos, por força da ressurreição, o perdão de Deus. E isso não é pouco: é poder realmente confiar em Deus, como irmãos e irmãs, como filhos e filhas. Depois nós temos São Tomé que, como bom judeu, não aceita palavras. Ele está amarrado nas suas antigas tradições. Ele quer um sinal, faz um desafio. Ele duvida: “eu quero ver o sinal!” E Jesus novamente se manifesta aos apóstolos, com Tomé junto. Aparece, mostra para ele os sinais da ressurreição. E nós temos aqui a maior profissão de fé dos evangelhos. Tomé chama Jesus de “meu Deus”. Tomé proclama Jesus igual ao Pai. É a maior profissão de fé que nós temos. E Jesus lhe disse: “acreditastes porque Me vistes? Bem aventurados os que creram sem terem visto.” Essa frase se coliga imediatamente com a carta de São Pedro: “sem ter visto o Senhor vós O amais; sem O ver ainda, Nele acreditais.”
Jesus se manifesta na nossa vida em acontecimentos, na Sua palavra, na eucaristia, na reunião dos irmãos, na fé com que Ele está nos unindo neste período de quarentena. Talvez nós estejamos muito unidos, mais do que possamos pensar. A nossa fé em Jesus está nos reunindo de uma forma silenciosa, recolhida, nos fazendo pensar e refletir o que significa poder encontrar os irmãos e as irmãs. E ao mesmo tempo que sentimos essa profunda união entre nós, sentimos também que Jesus está em nosso meio. Mesmo estando distantes, Ele não nos abandona e Ele nos reúne em comunidade com aqueles que creem Nele. Vamos pedir ao Senhor que nós realmente possamos viver como discípulos do crucificado ressuscitado.
Jesus carrega consigo a nossa história e ela está ressuscitada diante do Pai. Jesus, com Seu Sangue, implora a misericórdia do Pai. E o Pai não nega nada que Jesus lhe pede. Essa tem que ser a nossa alegria. Essa é a nossa fé e isso tem que nos animar também durante este tempo estranho. Não digo difícil, mas sim estranho, de quarentena. Nós estamos há pouco mais de um mês em quarentena. Vamos pensar que existem pessoas no mundo que ficam quatro ou cinco meses dentro de casa porque não podem sair, porque fora de casa tem três metros de neve e nada se move. E não é o fim do mundo. O nosso caso é para o bem dos irmãos e das irmãs. E se a comunidade de Jerusalém repartia os seus bens e foi ajudada pelas coletas das comunidades cristãs do paganismo, vamos lembrar também que nós precisamos, ainda e muito, da solidariedade de todos para com os pobres. Ontem, nós entregamos 114 cestas para os pobres. Existe muita necessidade. Nós, às vezes, não nos damos conta. Às vezes, para nós, 50 reais não é nada. Minha irmã é uma diretora de escola estadual. E são as escolas estaduais que estão entregando o valor dos 50 reais da merenda das crianças. E ela estava nos falando que dá realmente uma dor profunda ouvir pais e mães de família dizendo “muito obrigado, esses 50 reais vão nos ajudar muito”. Nós não temos ideia do que é a necessidade das pessoas mais pobres. Vamos ajudar, meus irmãos. O pouco, que seja, é grande, é muito nas mãos de Deus. Com a vossa caridade nós conseguimos alimentar estas famílias. Não vamos deixar nossos irmãos sem a necessária ajuda neste momento.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 2º Domingo da Páscoa (Ano A) – 19/04/2020 (domingo, missa das 10h)

A alegria da vida eterna
12/04/2020
O que temos nesse Evangelho [Jo 20,1-9]? Essa mulher, Maria Madalena, que seguiu Jesus por muito tempo e foi curada por ele. A escritura diz que Jesus expulsou dela sete demônios e esta mulher vai ao túmulo, como muitas vezes, nós também voltamos ao túmulo dos nossos falecidos, para prestar culto a uma memória de alguém que se foi. Ela foi também para fazer a última homenagem àquele corpo, levou perfumes para jogar em cima do corpo, mas Maria procura um cadáver, um morto, um defunto. Na experiência humana, essa é a nossa possibilidade, somos limitação e fraqueza, queremos conhecer, saber, nos interrogamos sobre muitas coisas – inclusive agora, nesse tempo do coronavírus, quantas perguntas, quantas insinuações e invenções existem, alguns falam até mesmo de um complô internacional, isso é tudo delírio e é tudo o que nós podemos, no máximo, deliramos.
Maria Madalena vai visitar esse túmulo e se surpreende quando vê que a pedra foi atirada fora. Ela entra em um túmulo e procura um cadáver, como nós fazemos, mas não o encontra. Se o cadáver não está ali, roubaram: esse é o nosso modo de pensar, é a evidência da nossa vida. Ela corre e vai avisar os apóstolos que roubaram o corpo, Maria continua na evidência da nossa vida. Jesus tinha anunciado várias vezes que iria ressuscitar, mas isso é algo novo que nós nunca tínhamos visto, portanto ela vai e diz aos apóstolos. Eles voltam ao túmulo e constatam que de fato o cadáver não estava lá. Estavam lá as faixas, do modo como os judeus enterram seus defuntos, o pano que estava sob o rosto de Jesus, mas o cadáver não está. Tendemos a insistir na nossa experiência, porém o Evangelho diz que o discípulo amado creu e acreditou, algo de novo aconteceu ali. Ele intuiu: Deus fez alguma coisa diferente, que ele não sabe o que é, mas fez.
Encontrar simplesmente um túmulo vazio realmente não significa nada, se não fossem as experiências com o Ressuscitado que os apóstolos e mais 500 discípulos tiveram depois com Jesus Ressuscitado. A vida de Deus é diferente da nossa. Deus nos revela o que é Dele. Nós, por nós mesmos, conseguimos decifrar sinais da vida, sinais de Deus e Ele deixa os seus rastros: na beleza da natureza, na beleza do ser humano, na beleza da Palavra, dos ensinamentos de Jesus, porém a verdade de Deus só Deus pode revelar, e essa verdade Jesus nos dá, pois Ele é Deus como o pai. Esta revelação, eis o último dia da criação, que é a ressurreição, a vida desse mundo continua em Deus, não acaba aqui. O túmulo vazio não é sinal de roubo, é sinal de vida nova. Todos nós em Cristo ressuscitamos na morte, essa é a novidade. Agora eu sou a ressurreição e a vida. “Hoje estarás comigo no paraíso”, Jesus não diz “a tua alma estará comigo no paraíso”, e sim “hoje você estará comigo no paraíso”. Hoje, não daqui um mês ou daqui um ano, não daqui 500 anos, hoje! Pois a morte nos abre para a eternidade de Deus. O hoje de Deus não conhece fim, essa é a revelação que Deus nos faz em Jesus e essa revelação vai nos iluminar, todo o caminho do povo hebreu, toda escritura, todo o caminho da humanidade e, nós podemos dizer, toda a existência do cosmo. Deus e a sua realidade aparecem dentro da nossa vida e nos faz participantes da vida Dele.
Vamos pedir ao Senhor para vivermos realmente dessa alegria. Quando sabemos que nossa vida é eterna, uma vez concebidos não morreremos mais. A morte, como diz muito bem a
liturgia, é a transformação. Desfeito esse corpo nos é dado no céu um corpo imperecível. Não devemos nunca perder a esperança e, por essa vida nunca ter fim, podemos até arriscá-la a dar mais vida para os que sofrem, pelos que não tem vida, que não tem dignidade, aqueles que estão a margem de tudo que o mundo injusto cria pra sofrer, isso Deus não quer. Deus quer que essa vida, que continua, seja usada e gasta para o bem de toda humanidade, isso Jesus nos ensinou e é isso que devemos fazer. A todos vocês uma boa Páscoa!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor (Ano A) – 12/04/2020 (domingo, missa das 10h)

A ressurreição é a revelação da vida eterna!
11/04/2020
Minhas irmãs e meus irmãos, a ressurreição de Jesus é a novidade de Deus, a revelação do Pai. Jesus, com Sua morte e ressurreição, inaugura o último dia da criação. De propósito, a primeira leitura [Gn 1, 1. 26-31a] termina no 6º dia – "Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia".
Nós vimos Deus irromper na nossa história de um modo que só Ele pode fazer. Só Ele pode nos deixar boquiabertos com algo que nós nunca poderíamos imaginar. É a ressurreição que vai nos fazer reinterpretar toda a vida de Jesus; e não só a vida de Jesus, mas toda a Sagrada Escritura; e não só a Escritura, mas toda a vida do povo de Israel; e não só isso, mas toda a história humana. Tudo agora tem uma nova luz! A ressurreição é o selo, é a revelação do Pai, que aprova perfeitamente, totalmente as ações e gestos de Jesus, Suas palavras, Seus sentimentos, Suas opções. Toda a Sua vida é revelação do Pai. Esta última revelação se mostra na ressurreição. Ressurreição que ilumina não só os hebreus, não só os discípulos, mas toda a humanidade. A Palavra de Deus, a promessa de Deus é para sempre!
Nós esperamos ainda a última revelação, que Jesus já nos anunciou: o dia em que Ele voltará para julgar o céu e a terra. E esta palavra de Jesus, palavra final sobre a história, será uma palavra de misericórdia. Tudo que é diferente disso não é de Deus.
O Pai nos deu Seu Filho, cujo sangue intercede por nós diante Dele. Não há mais medo! É o primeiro anúncio que o anjo faz às mulheres, e que Jesus faz às mulheres: "Não tenham medo!". O novo dia da criação nasce com a total confiança em Deus. A confiança que o pecado, lá atrás, no Éden, tinha destruído; a confiança que foi jogada fora quando Adão manifestou para Deus: "Eu tive medo e me escondi". Esse medo, incutido no nosso coração pelo inimigo, Jesus destrói, dissolve com a Sua ressurreição. A morte não é o fim! A morte é porta para a ressurreição, é vida! A vida neste mundo tem continuidade imediata na ressurreição. Essa é a revelação de Jesus, essa é a revelação do Pai. O que acontece com Jesus, é o Pai que revela. Jesus, sendo Verbo Eterno, mostra quem é o Pai. No Evangelho de João, Ele vai dizer: "Eu tenho poder para dar a vida e retomá-la" [ref. Jo 10, 18]. Deus é o Senhor da vida; Ele tem a chave da vida e da morte, a chave de toda a história; Ele é Aquele que dá sentido a todas as coisas. Essa é a nossa fé!
Por causa da ressurreição, nós proclamamos Jesus como Senhor. Por causa da ressurreição, nós seguimos os passos de Jesus. Por causa da ressurreição, muitos homens, mulheres, até crianças, ao longo da história, morreram, preferindo aderir a Jesus, aceitar Jesus em vez dos poderes e das mentiras deste mundo. Deus nos deu vida eterna, é para isso que nós nascemos. Isto é algo que deveríamos meditar muito: uma vez que fomos concebidos, viveremos para a eternidade. Essa é a revelação que Jesus nos fez, essa é a porta que Ele nos abriu, esse é o caminho que Ele mesmo se faz para nos conduzir ao Pai. Ele é ponte, Ele é via para o Pai.
Vamos pedir ao Senhor que nos dê ânimo, coragem – é por isso que o cristão não é uma pessoa triste, é uma pessoa que não perde a esperança. Nem a morte nos leva ao desespero, porque sabemos: a glória de Deus nos espera! Por isso nos empenhamos no mundo, e nos empenhamos até arriscando a vida, porque não temos medo! Esta vida passa; esta vida pode ser doada; mas a vida de Deus, ninguém pode tirar de nós! Todos nós seremos abraçados pelo amor eterno do Pai no momento da nossa morte.
Vamos pedir ao Senhor que alimente e ilumine sempre a nossa fé no Cristo Ressuscitado. Amém!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Vigília Pascal (Ano A) – 11/04/2020 (Sábado Santo, missa às 19h30).

O inocente foi crucificado
10/04/2020
Ler a Paixão, especialmente segundo João, nos mostra, de uma forma muito viva, as forças que jogaram contra Jesus. O Sinédrio, que seria a corte suprema de Jerusalém, e o povo de Israel já tinham determinado que Jesus iria morrer. Já estava tudo decidido. Desde quando Jesus havia expulsado os vendilhões do templo, eles já tinham preparado as suas artimanhas, talvez preparado o processo inteiro. Essa gente não quer ouvir a verdade. O que essa gente quer é simplesmente se livrar de uma pessoa que poderia ameaçar o poder deles, o poder do templo. ‘Se esse homem continuar a fazer os sinais que faz, ele vai levantar toda a nação, virão os romanos e destruirão o nosso lugar sagrado.’ O povo hebraico era um povo muito religioso, porém o templo não era só lugar de religião, era também lugar de política e de economia. Essas pessoas não queriam perder o seu poder porque eles sabiam e esperavam que um messias fosse reformar o culto e iria mudar toda a estrutura do templo, mas eles não queriam correr risco nenhum.
É muito interessante ver essa coisa terrível que acontece com Judas. Num certo momento, Judas entra para o mundo das trevas, o mundo da noite. Ele sai da luz e aparece esse absurdo: a traição. Dentro do círculo mais íntimo dos amigos de Jesus, dos seus discípulos, dali sai um traidor. Um homem que entrega Jesus de graça. Depois oferecem dinheiro para ele, mas a princípio Judas entrega Jesus de graça. O Evangelho de São Marcos é cru nesse detalhe – de graça. O que teria acontecido no coração desse homem vai ser um mistério que nós conheceremos no dia do juízo. Talvez tenha se decepcionado, talvez quisesse criar uma revolta popular, talvez simplesmente fosse como disse o próprio Evangelho de João: um ladrão que não estava nem aí com nada. Quem sabe? Deus sabe. E o fato é que esse homem entrega o mestre sem nem um quê nem por quê.
A outra figura que nós temos nesse Evangelho é a de Pedro – Pedro entusiasta, Pedro que muitas vezes chega a contrastar com Jesus: ‘Senhor, não fale isso que o você está falando’, quando Jesus anuncia que vai ser morto em Jerusalém. ‘Não faça isso, tire isso da sua cabeça’ e Jesus diz: ‘longe de mim, satanás. Você não fala a vontade de Deus. Você é para mim pedra de tropeço’. Pedro, durante a última ceia, primeiro não quer que Jesus lave seus pés; depois quer que lave os pés, as mãos e a cabeça. ‘Eu vou morrer por ti!’, e Jesus diz ‘hoje, antes que o galo cante, você vai me negar 3 vezes’. É muito interessante nós percebermos – o texto em português não deixa isso claro, mas o texto grego deixa – que as três negações não são iguais. A primeira, quando ele entra no pátio, é quase uma desculpa. A serva pergunta: ‘mas você não é um deles?’ e ele diz ‘eu não’. A segunda é bem mais clara: ‘eu acho que vi você no meio deles’ ‘não, não, não, não, não. Não!’. A terceira vez é até com xingos: ‘você estava no jardim com eles’. Um outro Evangelho diz que Pedro disse insultos: ‘não conheço esse homem! Eu não sei nada disso!’. Ele vai tomando consciência e o seu não vai se tornando cada vez mais radicado. Ele não quer ter nada com aquele homem. Isso nos assusta porque diante da morte, diante da ameaça, até os que parecem mais fortes tremem. Anos depois Pedro vai testemunhar a sua fé em Jesus sendo crucificado em Roma, aproximadamente 30 anos depois. Mas, naquele momento, ele mostra o que pode acontecer com cada discípulo. ‘Não nos deixeis cair em tentação. Livrai-nos do mal.’. Na hora da verdade, quando somos perseguidos, a grande tentação é negar Jesus – seja com uma desculpa, seja de uma forma um pouco mais consciente, ou até livrando-se completamente, amaldiçoando o outro. Às vezes não é fácil seguir Jesus. Nós temos que pedir realmente, de coração: não nos deixeis cair em tentação. Pedro depois será perdoado.
A outra figura dessa tragédia, dessa trama, é Pilatos, o governador da região. Foram colocados ele, seus antecessores e seus sucessores, no lugar do rei. É ele que comanda a Judeia. Porém Pilatos tinha, junto do imperador, um amigo que era quem o protegia – como nós dizemos em português, era ‘as costas quentes’ de Pilatos. Este homem tinha sido conselheiro de Tibério por muitos anos. Mas, de repente, com uma trama de palácio, uma série de acusações, este homem foi posto fora, caiu em desgraça. Então Pilatos não tinha mais o seu protetor junto do imperador. E os romanos eram pessoas muito religiosas também. Pilatos também não era um homem muito bonzinho. Não foi o pior dos governadores – durante o seu governo, a Palestina conheceu um período de relativa paz. Mas também não foi dos melhores, ele mandou crucificar muita gente. Então o homem não era brincadeira. Mas o Evangelho, os evangelistas, se esforçam para mostrar que Pilatos estava disposto a soltar Jesus, porque aquelas acusações que apresentavam contra Jesus eram infundadas. Ele percebeu que o negócio ali era uma jogada, mesmo porque os hebreus podiam apedrejar as pessoas até a morte, era um direito que eles tinham. A lei dele concedia isso. Porém eles não queriam que Jesus fosse morto como um herege, eles queriam que Jesus fosse morto como um inimigo do estado, um inimigo de Roma, um subversivo. Eles queriam acabar completamente com o nome e a fama de Jesus. Então, eles pressionam Pilatos. Nós vamos vendo, ao longo desse diálogo de Pilatos com Jesus, em outros evangelhos: Jesus é mandado pra Herodes, volta e conversam. Por quê? Pilatos não está convencido desses motivos. Porém a máquina do poder tem as suas malhas, as suas forças. E então, os sumos sacerdotes chantageiam Pilatos: ‘esse homem disse que é rei’ e se proclamar rei é um crime contra o estado. Pilatos vai conversar com Jesus, volta e diz: ‘ó, acho que não é isso que vocês estão falando, não.’ Aí eles jogam a última carta: ‘se você não crucificar esse homem, você não é amigo de César.’ Amigo de César era o título, o nome, o apelido com o qual era chamado o antigo protetor de Pilatos que não estava mais junto de Tibério, o imperador e a esse ponto Pilatos cede, ele é fraco. Se ele não entrega aquele homem, ele vai cair nas mãos do imperador. Então Pilatos salva a própria pele e entrega um inocente à morte. Ele tinha visto que aquele homem era inocente. Os jogos do poder são terríveis, monstruosos.
Nós temos sempre que ver isso: Jesus carrega sobre si os nossos pecados. Em Jesus traído, preso, flagelado, acusado, crucificado, aparece, no corpo Dele, a maldade que nós somos capazes de fazer. Nós somos capazes de pegar o inocente e triturar para defender os nossos interesses. Por isso que, na cruz de Jesus, no seu corpo, aparecem os nossos pecados, aparece o que nós somos capazes de fazer com um inocente – e pior: com o filho de Deus. Jesus bebe um cálice amargo, muito amargo. Ele mostra que aceita beber esse cálice. No início, quando Ele diz: ‘quem procurais?’, e o respondem: ‘Jesus o nazareno.’ Ele responde: ‘Sou eu’, essa primeira expressão é a expressão que o sumo sacerdote, uma única vez por ano, pronunciava, no santo dos santos, o nome de Deus. Primeira pessoa do singular do verbo ser: eu sou. Por isso as pessoas caem para trás quando ouvem Jesus: é a presença de Deus e contra Deus ninguém pode ir. Aí Jesus pergunta de novo: ‘quem vocês procuram?’, e eles dizem: ‘Jesus o nazareno’. ‘Já disse, estou aqui, sou eu’, não é mais aquela expressão que Ele tinha usado antes. Ele livremente, conscientemente, se entrega diante dessa maquinação de morte. A sua entrega é uma entrega de amor, de liberdade, mas também de denúncia, porque aquilo que vai acontecer com ele é o que fazem os poderes do mundo. É aquilo que é capaz de fazer o coração humano. Na cruz de Jesus se revela o que nós somos. Os monstros que nós temos dentro de nós aparecem lá. Nas Suas feridas, aparece quem somos. Por isso que a escritura vai dizer ‘pelas suas chagas, fomos curados’. Ali nós encontramos misericórdia, que é exatamente o que não esperamos. Qual pai, vendo o filho ver injustamente massacrado como foi, não destruiria esses monstros? E, ao invés, nós temos essa lógica absurda do Pai que perdoa. E temos essa mesma lógica absurda de Jesus que se apresenta diante do Pai com as suas chagas pedindo perdão para nós pecadores. Que mistério! Que contraste entre a visão e o modo de agir de Deus e o modo de agir do ser humano. Mas como Jesus disse: ‘todos aqueles que buscam, através de um caminho de discípulos, mudar e transformar o seu coração para ser como Jesus, estes e estas serão chamados filhos e filhas de Deus e não temerão, por nada, a morte.’ Porque a vida vivida como Jesus é uma vida que não desaparece com a morte. Ao contrário: se torna vida gloriosa. A cruz é a fotografia em negativo da glória de Deus. Na cruz, somos salvos, revelamos o que nós somos e as monstruosidades que somos capazes de fazer, mas ali já aparece também a fidelidade infinita de Deus. O amor, a misericórdia e o perdão de Deus não têm limites. A última palavra da história será pronunciada pela boca de Jesus Glorioso: essa palavra será misericórdia. Esse é o coração de Deus. No fim, tudo irá bem. Deus tem a última resposta, e a última resposta é resposta de amor e de vida. Porque Deus não pode negar a si mesmo, Deus não trai, Deus não mente.
Vamos nos colocar diante da cruz de Jesus. Jesus que é colocado no sepulcro. E aqui se revela também o coração das pessoas. José de Arimateia e Nicodemos tem que, de algum modo, sair à luz do dia. Um deles vai diante de Pilatos, nada menos do que isso, pedir o corpo de Jesus. E Nicodemos ajuda a preparar esse corpo. É muito estranho que nenhum dos doze está ali, nem as mulheres que seguiam Jesus, só esses dois desconhecidos, talvez judeus muito piedosos que não queriam ver o corpo desses amaldiçoados ali pendurados no dia da Páscoa, pessoas que talvez, mais tarde, provavelmente, se tornaram verdadeiros discípulos de Jesus. Mas, naquele momento, estão ali para tirar, o quanto antes, essa memória.
Vamos permanecer hoje e amanhã na contemplação desse silêncio, desse vazio. O túmulo mostra que não tem mais nada, acabou. Naqueles três dias, sexta à noite, sábado até a madrugada do domingo, uma antiga tradição da Igreja diz que toda a fé da Igreja permaneceu viva apenas no coração da Virgem Maria. Nós não sabemos como Maria viveu aqueles momentos. Vemos Maria de novo em Pentecostes, com os discípulos, 120 discípulos de Jesus. Mas, naquelas horas, a Igreja sempre contemplou Maria nesse momento terrível de dor e solidão. Ao mesmo tempo que Maria é aquela que disse sim à vontade de Deus, ela, mais uma vez, abraça essa vontade absurda e incompreensível, mas ela sabe que Deus é fiel, Deus não nos abandona, a última palavra é Dele. Essa fé sustentou Maria durante aqueles três dias. Essa fé acendeu a fé da igreja quando podem dizer ‘ressuscitou’
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Tríduo Pascal - Sexta-feira Santa / Paixão do Senhor (Ano A) – 10/04/2020 (sexta-feira, celebração das 15h).

Jesus nos torna um dos apóstolos em cada Eucaristia
09/04/2020
Na Última Ceia, Jesus já tinha percebido que o cerco em volta Dele tinha se fechado. Seus inimigos já tinham as cartas todas marcadas, estranhamente. São Marcos apresenta esta passagem de uma forma crua. Judas foi até os anciãos do tempo e disse: “eu vos entrego Jesus, sem pedir nada em troca”. Uma coisa assustadora. Então Jesus sabe que, até entre os seus, um já tinha virados as costas. O cerco estava pronto. Jesus, então, reúne-se com seus apóstolos em uma celebração que não foi a da Páscoa, pois esta seria no dia seguinte. Naquela hora, Jesus, ceando com seus apóstolos, faz algo de novo. Ele toma sinais da ceia judaica – o pão da bênção – e muda a bênção. Aquilo não era mais a lembrança da fuga do Egito. Aquilo é o Corpo de Jesus que, horas depois, será entregue na cruz e três dias depois ressuscitará. Ele pega o cálice – que era o cálice mais importante da celebração e passava de um para o outro – e também a bênção sobre ele é mudada: este não é mais o sangue do Cordeiro, este é o sangue da Aliança Eterna, que seria derramado na cruz horas depois. Sangue que intercede por todos nós diante do Pai, na eternidade. Sangue que lavou os nossos pecados e que nos redime gratuitamente.
Deus nos salva não porque somos bons, mas porque Ele é bom. Ele é misericórdia e bondade. E a Eucaristia que nós celebramos não é uma memória do passado. Ela é aquele momento em que Jesus celebra a Eucaristia com os seus. A morte e ressurreição de Jesus tem esse poder: rompe a barreira do tempo e faz com que a Eucaristia que nós celebramos agora seja uma com aquela celebrada com os discípulos. Nós começamos a fazer parte da vida de Jesus, que se entrega por amor para os seus discípulos. E nós somos aqueles discípulos. Em todos os tempos, em todos os lugares onde se celebra a Eucaristia – o mesmo e único sacrifício sempre. Jesus, de geração em geração, atualiza e realiza este único momento de Salvação que é a entrega de Si mesmo pela Salvação de todos e não somente de seus discípulos.
Hoje nós estamos no dia que chamamos de Lava-pés. E para recordar isto, nós colocamos ali a bacia, a jarra e a toalha. Nós estamos em uma situação realmente difícil. É a primeira vez, em muitos séculos, em que nós não podemos fazer a celebração do Lava-pés. Mas o que significa o Lava-pés? Quando nós lemos a Última Ceia no Evangelho de São João, nós nos damos conta que aqui nos capítulos 13, 14 e 15, nós não temos a instituição da Eucaristia – Este é o Meu Corpo, Este é o Meu Sangue. Por quê? Porque São João fez o seu grande discurso sobre a Eucaristia no Capítulo 6, que nós chamamos de Pão da Vida. São João deslocou a sua genial meditação sobre o mistério da Eucaristia. São João mostra, porém, um outro gesto que Jesus fez naquela última ceia e que mostra o mesmo sentido da Eucaristia. Jesus se levanta, coloca a toalha em volta da cintura e vai lavar os pés dos discípulos. Quem lavava os pés do hóspede naquela época? Normalmente, o escravo velho, que não servia para mais nada pois não tinha mais forças para trabalhar em atividades no campo, com animais, em construções ou, até mesmo, nos trabalhos domésticos. Era o escravo mais inútil que existia na casa. A este escravo se confiava esta tarefa: lavar os pés dos hóspedes. Jesus assume esta posição. Ele não está se colocando em uma situação de distinção. Pelo contrário, está se colocando na situação do servo imprestável.
E começa a lavar os pés dos discípulos. Claro que Pedro se mostra indignado: “Mas como!? Você é para nós Senhor e mestre. Não vai lavar os nossos pés de jeito nenhum”. E Jesus vem com esta frase estranha: “Se eu não lavar os teus pés, você não terá parte comigo”. Jesus está dizendo que os seus discípulos têm que aprender com Ele até o fim. Os discípulos não podem se subtrair aos ensinamentos de Jesus por mais absurdos que eles possam parecer. Do mesmo jeito que aquele gesto de Jesus era estranho, a sua escandalosa morte na cruz vai ser algo absurdo.
A Eucaristia traz consigo todos estes sinais. Inclusive servir como se fosse o último, para todos. Jesus lavou os pés de todos e, entre eles, estava Judas. Jesus lava os pés de todos os pecadores. Nenhum é excluído porque Deus salva a todos. E a misericórdia de Deus é mais justa do que a nossa justiça, que é vingativa. Deus não mede como nós medimos. Deus mede com as suas medidas que, para nós, são absurdas. Jesus, se colocando como o último, Ele está mostrando que a Eucaristia é pão de vida para todos. Jesus está mostrando que a cruz é caminho para todos. Que o Pão da Eucaristia, Pão da Vida e a cruz, que é caminho para a ressurreição, são uma coisa só: Vida Eterna, que é o que Jesus nos deu com Sua morte e ressurreição. E essa realidade nós temos na Eucaristia que nós celebramos. Todas as vezes em que nós celebramos a Eucaristia, Jesus se torna parte das nossas vidas. E nós entramos para o seu convívio, assim como os doze discípulos. Nós somos mais um apóstolo, mais uma discípula, mais um seguidor. Cada um de nós e toda a comunidade dos discípulos estamos em volta daquela única mesa.
Louvemos e agradeçamos a Deus que, na Sua bondade, nos dá a realidade do Seu Filho hoje, não uma memória do passado. Jesus vivo, agora, em nosso meio, com toda a Sua vida. Na humilde espécie do pão. Na humilde gota do vinho. A grandeza de Deus, a Sua glória se faz presente totalmente, de modo que nós dizemos que este pão não é mais pão, é Jesus. E este vinho, não é mais vinho, é o sangue do Senhor entregue por nós. Louvemos e agradeçamos ao Senhor por tão infinita graça.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Ceia do Senhor (Ano A) – 09/04/2020 (quinta-feira, missa das 19h30).

Ser fiel conduz à salvação
05/04/2020
A cruz é um mistério. É tudo o que nós não esperamos como glória de Deus. Mas no Evangelho de Mateus, particularmente nesta passagem [Mt 27, 11-54], aparece o que é o poder deste mundo. O poder que massacra, que destrói, que não é capaz de dar vida; que dá morte, subjuga, escraviza, cria mil e uma armadilhas para o povo, de modo que o povo não pense, corra atrás do que os poderosos mandam e não tenha mais capacidade de ser livre. Os poderosos se apresentam com grandes marchas, grandes paradas... Se fazem proclamar até deuses! E, no fim, não são nada além de pessoas que doam a morte, que criam a justiça como querem, mudam as leis para ocultar e justificar seus próprios crimes. Parece que o mundo não mudou muito...
Jesus, ao contrário, é a justiça de Deus, é o poder de Deus. O mundo não consegue conceber poder que seja humildade, que seja serviço, serviço desinteressado; poder que é capaz de doar a vida pelo bem dos outros. O poder deste mundo não entende isso, não é capaz de aceitar, porque se aceitasse, o mundo seria o Jardim do Éden.
É muito interessante notar que, quando Jesus está crucificado, as pessoas que O desafiam usam a mesma expressão do maligno no momento das tentações: "Se és filho de Deus, desce da cruz". É a mão do maligno que movimenta essas pessoas, que justifica até mesmo suas monstruosidades. Porque eles sabem que estão fazendo um absurdo, sabem que Jesus é inocente. Pilatos é um covarde, que cedeu a uma chantagem, teve medo da revolta. Ele sabia que não tinha nenhum motivo para condenar aquele homem, mas lava as mãos: "Façam vocês". Esse é o poder que não se compromete, que não muda o mal, que só quer se manter na própria cadeira.
Jesus nos ensina, e Deus Pai nos ensina: é na fidelidade até a morte que está a salvação. A salvação do justo está em manter-se fiel Àquele que detém a salvação. A vida neste mundo consiste em servir, em entregar-se, porque a justiça de Deus é maior do que a justiça dos homens, e a misericórdia de Deus é mais justa do que a nossa vingativa justiça.
Jesus se mantém fiel ao Pai, e é esta fidelidade que nos mostra, realmente, que Ele vem do Pai. Nada pode afastar Jesus da vontade do Pai; nisso, Ele nos mostra, realmente, que é o verdadeiro Adão, o verdadeiro homem, aquele que Deus Pai quis desde a eternidade. Jesus mostra o rosto do Pai: o Pai é fiel, Jesus é fiel. E Jesus nos convida, como discípulos, a também nós sermos fiéis, sem medo, com coragem, sendo capazes de sofrer perseguições e até a morte por causa do bem e da justiça. Porque a vida humana vale mais do que todos os poderes deste mundo.
Vamos pedir a Jesus um pouquinho dessa força para podermos ser fiéis, porque a recompensa é a companhia do Pai!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Ano A) – 05/04/2020 (domingo, missa das 10h).

Com Jesus, a vida eterna
29/03/2020
Como em outros evangelhos, Jesus aqui [Jo 11,1-45] desafia Marta a abandonar a velha tradição sobre ressurreição que os hebreus tinham. Os hebreus acreditavam, e acreditam até hoje, que o corpo, na medida que se decompõe, se recompõe em uma dimensão chamada Sheol e ali espera o último dia. Jesus quer que Marta abandone essa velha tradição hebraica. Nós temos que pensar que ainda existem outros grupos judeus que não acreditavam e não acreditam até hoje na ressurreição dos mortos. Isso é viver sem esperança. Porém os outros que creem na ressurreição, creem nesse ato do último dia – esse potente ato de Deus que tirará todo mundo dos túmulos.
Mas Jesus desafia Marta a entrar em uma visão nova. E a visão nova, qual é? A vida de amor que se tem nesse mundo, a vida dos discípulos de Jesus, daqueles que amam o próximo, daqueles que buscam seguir os passos de Jesus não se interrompe nem com a morte. A nossa vida, mesmo na morte, continua. É vida em Deus, é vida em Jesus. Não tem um "depois". O último dia é a cruz de Jesus. Nele, na cruz, Deus julgou o mundo. Deus cumpriu o juízo final, o julgamento está ali. Quem adere a Jesus está na vida. A morte é só um momento a mais na nossa vida. Dói, tem a saudade, a distância, a dor, mas a vida não acaba. Não termina ali, ela continua na vida em Cristo, a vida eterna. Nós entramos na vida de Deus, este é nosso desafio. É um desafio para nós também, não é somente para Marta, porque não é fácil.
Nós muitas vezes passamos a vida inteira esperando a ressurreição sem saber quando vai ser o último dia. Mas o último dia acontece todos os dias na cruz de Jesus. O julgamento final acontece todos os dias na cruz de Jesus. A vida eterna nos é dada todos os dias na cruz de Jesus.
Jesus disse ao assassino que estava crucificado junto com Ele: 'Ainda hoje estarás comigo no Paraíso', porque, para Jesus, a vida não acaba e aqueles que crêem Nele estão com Ele na vida que não termina.
Vamos pedir ao Senhor que Ele nos ajude a realmente abraçar esse desafio que Ele nos faz: a vida não termina, ela continua e se transforma. A vida não acaba porque é vida no amor de Jesus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 5º Domingo da Quaresma (Ano A) – 29/03/2020 (Domingo, missa das 10h).

Enxergar a luz que vem de Cristo
22/03/2020
Esse Evangelho [Jo 9] é um capítulo muito bonito do Evangelho de São João. Nós temos aqui um verdadeiro processo desse jovem cego de nascença que foi curado por Jesus. E curado de um modo muito particular: Jesus faz lama e passa esse barro nos olhos do jovem. O homem foi criado do barro. Jesus fazendo isso é como se ele estivesse dizendo: eu vou terminar a criação deste moço. Desse modo, ele finaliza, como dizendo ‘está faltando um pedaço, a lama que foi posta nesse homem era pouca’. E Jesus nesse ato se declara ele mesmo o criador.
Mas em todo este Evangelho, aparece essa luta entre o cego e os outros. O cego que não via e os outros que veem. O cego que crê em Jesus e os outros que não creem. E o contraste terrível deste pobre desgraçado que vivia de esmolas, cego de nascença, e que desmascara com sua simplicidade o modo de pensar dos fariseus. Os fariseus eram homens piedosos, de muita religião, respeitados, conheciam a Lei, e defendiam a Lei a tal ponto que para defender a Lei maltratavam as pessoas. E aqui nós temos a luta entre a luz que é Jesus, representado por esse jovem, e as trevas que são os fariseus que dizem conhecer, dizem ver, dizem que são discípulos de Moisés. Em outro trecho do Evangelho, Jesus vai dizer “se vocês fossem discípulos de Moisés, vocês seguiriam a sua palavra”. Esses homens não veem e, na cegueira deles, eles querem negar a evidência da luz. E como eles fazem isso? Afirmando que Jesus é pecador e que isso não pode acontecer porque isso é impossível. Mas este homem em sua simplicidade vai desarmando tudo que os fariseus dizem. E finalmente, eles dão o golpe final: expulsam o moço da sinagoga, da comunidade. Se nós prestarmos atenção, esse julgamento lembra o julgamento de Jesus. Jesus fez sinais, curou os doentes, perdoou os pecadores, ressuscitou os mortos, e, no entanto, não quiseram acreditar. A única coisa que eles fizeram era fazer esse homem morrer, era só isso que eles queriam. Não interessava a verdade. Por isso Jesus vai dizer “se vocês fossem cegos, vocês não teriam pecado; mas como vocês dizem que veem, o vosso pecado permanece” [cf. Jo 9:41]. As pessoas não querem ver, muitas vezes, nós também corremos esse risco de nos apegar em tradições religiosas e usar essas mesmas tradições religiosas para justificar a não ajudar os outros, julgar as pessoas, querer vinganças, desejar o mal. Isso é ser cegos.
É necessário aprender realmente a olhar com os olhos de Jesus. E poder dizer como esse jovem: “Senhor, eu creio”. Mas creio em que? Nas suas Palavras e eu as colocarei em prática. Vamos pedir ao Senhor que abra os nossos olhos e nos faça ser realmente discípulos dele.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 4º Domingo da Quaresma (Ano A) – 22/03/2020 (Domingo, missa das 10h).

Amar os irmãos é ser fonte de água viva
15/03/2020
O que encontramos na liturgia de hoje? Primeiro: o povo de Israel fugiu do Egito. Já no Egito, viram muitos sinais de Deus – as dez pragas, a morte dos primogênitos, a celebração da Páscoa... O anjo da morte passou, exterminando os primogênitos, mas quando chegava na casa dos Hebreus e via a porta manchada com o sangue do cordeiro que estavam comendo lá dentro, passava adiante; depois o povo partiu do Egito e o exército foi atrás para pegá-lo, então Deus abriu o mar e eles passaram: Deus salvou o povo; depois eles começaram a passar fome, e Deus mandou o maná; depois o povo reclamou que tinha só aquela comida, e Deus mandou as aves do céu para eles comerem; depois ainda houve as serpentes, e Deus falou para Moisés: "Faz uma haste de bronze com uma serpente; quem olhar para esta serpente será curado". Eram sinais, um atrás do outro, da fidelidade de Deus.
Até que chegou o momento em que o povo, depois de ter visto tudo isso, teve sede e duvidou de Deus. "Deus é fiel ou não é? Deus está conosco ou não está?" – foram perguntas que eles fizeram. Eles se perguntaram: "Deus está aqui ou não está?", e Moisés bateu na pedra também com essa dúvida. A água jorrou, mas Deus ficou furioso e falou: "Nenhum de vocês vai colocar os pés na terra prometida". E o povo ficou andando no deserto por 40 anos, até que todos os que tinham saído do Egito tivessem morrido e só os filhos deles, que já eram adultos, pudessem entrar na terra de Israel. O que a Escritura ensina é isto: Deus é fiel! Não são os nossos problemas que colocam em dúvida a fidelidade de Deus. Deus é maior do que nós; o tempo Dele é maior do que o nosso.
Depois, temos o Evangelho. Há muito o que se falar dele, mas vamos ser breves. Jesus chega no poço – e é importante lembrar que este poço era propriedade de Jacó. Imaginem: Abraão saiu de Ur, da Caldeia, mais ou menos no ano 1.800 a.C.; Jacó era neto de Abraão, então estamos falando de um lugar com uma memória de mais de 1.500 anos. "Jacó esteve aqui! Ele bebeu desta água, deu para nossos animais!". É uma memória forte, uma tradição forte. E o que Jesus vai dizer? "Não é Jacó que dá a água da vida. Quem dá a água da vida é o Filho do Homem".
E há aí um jogo entre água morta e água viva. A água morta é a do poço, que não cresce, não aumenta, mas fica naquele nível, abaixa, sobe, porque não vem da fonte; os lençóis passam por baixo e alimentam o poço, mas ele não é fonte. A fonte jorra água para fora, e jorra sempre; o poço, não. Há até uma história que, se você ficar muito tempo sem tirar água do poço, aquela água fica ruim. Tem que sempre tirar aquela água porque é água morta, não é fonte. Jesus é a fonte! A tradição do povo, a própria religião do povo de Israel era água morta; tinha matado a sede, mas não era a fonte. A fonte viva é Jesus! E o que Ele diz neste Evangelho é isto, um desafio para aquela mulher: esqueça essa tradição velha, abrace a novidade, a vida eterna, que é Jesus mesmo e o Seu Evangelho.
E olha que interessante: mesmo com todas as dificuldades que a mulher tem para entender, como vimos no Evangelho, ela foi anunciar aos outros. "Este homem falou a minha situação, será que não é o Cristo?". Ela já estava professando a fé em Jesus e atraiu aquela cidade, aquele povoado para Jesus com seu testemunho. E eles deixam de beber da água morta e vão beber da água da vida eterna, a Palavra eterna que é Jesus.
Nós também somos chamados, sempre. Jesus fez de nós, batizados, fontes vivas. Ele nos deu a água da vida. E como nós somos fonte de vida? Amando os outros. É o tema da Campanha da Fraternidade, temos que agir como o samaritano: viu, teve compaixão e fez alguma coisa por aquele homem. Isso é ser cristão, não ver os problemas do mundo e não estar nem aí; ou, então, ver os problemas do mundo, até ter compaixão, mas não fazer nada. Ver, ter compaixão e fazer o que pode: isso é ser fonte de água viva, isso é derramar a água do nosso batismo, do nosso coração, sobre os outros que sofrem.
Vamos pedir ao Senhor que nos ajude a caminhar sempre como fontes da água viva que Ele colocou no nosso coração.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 3º Domingo da Quaresma (Ano A) – 15/03/2020 (Domingo, missa das 10h).

Ler a Palavra de Deus para entendê-la melhor
08/03/2020
Vamos fazer uma pergunta fácil para as crianças que ganharam a Bíblia. É fácil porque a resposta está na mão delas. Qual que é o primeiro livro da Bíblia? É só abrir e procurar. Qual é o primeiro? Gênesis! Muito bem! E o último? O último é mais fácil ainda. Apocalipse! Muito bem! Saber isto já é um começo. A gente deveria, ao menos uma vez na vida, ler este livro da primeira até a última página. Quantas páginas têm aí? Cerca de mil e quinhentas nesta edição. Quem já leu ‘Senhor dos Anéis’ aqui? Quem já leu ‘Harry Potter’? Esses dois livros, inclusive o Harry Potter – que são vários livros –, são maiores do que a bíblia. Então ao menos quem já leu isso pode ler muito bem a bíblia. ”Mas, padre, como é que a gente lê? Às vezes, a gente não entende as coisas!”. Leia igual romance... vai lendo, um livro depois do outro. Esta é Palavra de Deus. Se um romance, muitas vezes, consegue iluminar o nosso coração, imagine a própria Palavra de Deus.
Eu gosto muito do ‘Senhor dos Anéis’ porque a primeira vez que estive em Roma foi um período difícil para mim. Eu estava com vontade de arrumar as malas, voltar para o Brasil. Eu queria continuar sendo padre, graças a Deus. Mas eu queria vir embora. E comecei a ler o ‘Senhor dos Anéis’. No filme não aparece essa frase da Galadriel. O Sam olha no espelho, vê a Pompeia sendo destruída e fala: “ah, eu tenho que voltar para lá!” Então Galadriel diz: “é exatamente se você negar o caminho que você começou que você vai fazer acontecer tudo aquilo que você está vendo”. Fechei o livro, fui conversar com um padre lá perto de Roma e continuei em Roma. E Deus me fez ficar lá mais 25 anos! Pois é, repito: se um romance é capaz de, às vezes, mudar a nossa vida, quem dirá a Palavra de Deus!
Quantas luzes nós podemos encontrar aí? Quantas lições? Quantos exemplos? Quantas orações bonitas nós encontramos na Bíblia? Muitas! E é isso que a gente tem que aprender a fazer: vamos ler. Ler igual romance e esperar que a Palavra de Deus vá nos iluminando. “Nossa, olha como isso aqui é importante! Olha como isso aqui é bonito! Olha como isso aqui está respondendo alguma coisa para a minha vida!”. E fazer isso sempre: ler a Palavra e sermos curiosos! “Nossa, o padre leu hoje no Evangelho que Jesus subiu a montanha. E depois, o que aconteceu?” Vai lá, procura o Evangelho de Mateus e tira a dúvida. “Semana passada o padre falou que ‘tem duas narrações da criação’. Como que é isso?” Vai lá, primeira página do livro de Gênesis. O padre falou que, no capítulo 1, é uma narração e no capítulo 2 é outra. “Ah, eu quero ver!” Entenderam? Ser curiosos, procurar. Ter amor pela Palavra de Deus é não deixá-la em um baú mofando, em uma estante perdida na sua casa, que vai ser a primeira coisa que você vai jogar fora quando fizer a próxima arrumação. Portanto, vamos abrir a Bíblia, ler, aprender.
Um comentário rápido sobre a leitura do Evangelho de hoje [Mt 17,1-9]. Jesus sobe nesta montanha e acontece essa coisa muito estranha: ele fica brilhante. Brilhante como o sol, diz o Evangelho. E com ele aparecem duas pessoas que conversavam com Jesus: uma que já tinha morrido há mais de mil e trezentos anos, que é Moisés; e outro que tinha morrido há setecentos anos, que era Elias. E aqui nós já temos a demonstração, no Evangelho, que após a morte nós somos vivos. A nossa morte é só deste corpo. Diante de Deus, nós estamos vivos. E esses dois homens estiveram na presença de Deus. Moisés, no monte Horebe, quando Deus deu as tábuas da Lei. E depois, Elias, no livro dos Reis. Porém, nenhum dos dois viu o rosto de Deus quando eles estavam vivos. Agora os dois estão lá, diante de Jesus glorioso e podem falar com Ele, face a face.
Jesus fala com o Pai face a face. Jesus pode isto porque ele é Deus. Um Deus que se tornou um de nós. Então tudo que Ele fala, tudo que Ele faz, tudo que Ele sente é a mesma coisa que o Pai fala, sente e faz. Porque Jesus é igual ao Pai. E tendo feito esse milagre da transfiguração, Jesus estava dando uma força grande para seus discípulos, porque dali alguns dias ia haver a crucifixão de Jesus. E neste momento, todos os apóstolos abandonaram Jesus, todo mundo foi embora, todo mundo perdeu tudo. O discípulo amado ficou lá perto, talvez porque nem soubesse o que estava acontecendo, porque se soubesse escapava também.
Então a transfiguração ocorreu para dar forças aos discípulos para esse momento difícil. Jesus mostrou a sua glória para fortalecer a fé dos apóstolos. Se a gente ler a escritura, a Palavra de Deus, nós também seremos fortalecidos por Jesus. Viver a Palavra de Deus, ler essa Palavra, para conhecer e saber quem é Jesus, conhecer a fidelidade de Deus, e poder dizer, como os discípulos: ‘Senhor, eu creio!’ Ou, então, como São Tomé: ‘Meu Senhor, e meu Deus.”
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 2º Domingo da Quaresma (Ano A) – 08/03/2020 (Domingo, missa das 10h).

Lutar contra a tentação como Jesus
01/03/2020
Vamos começar a comentar pela leitura do Evangelho [Mt 4,1-11]. O espírito de Deus levou Jesus para o deserto e isso acontece imediatamente após o batismo. Jesus fica lá por 40 dias. Esse número 40 é um número simbólico, pois lembra os 40 anos do povo de Israel no deserto. Mas o deserto é um lugar da prova, como foi para o povo de Israel, mas foi também pra Adão e Eva. No deserto, o povo teve fome, teve sede, doenças, ameaças, guerras. E Deus sempre veio em socorro a esse povo, porque esse povo sempre tinha dúvidas e, ao longo da história, acabou repetindo a situação da qual eles tinham saído do Egito: a escravidão. Uma religião que reprimiu o povo.
Jesus é colocado no deserto e ali ele é submetido às mesmas tentações de Adão e Eva. E se a gente presta atenção no texto, as duas primeiras tentações se apresentam como dois desafios: "você é filho de Deus mesmo? faz um sinal!". Essa tentação vai estar sempre perto de Jesus... Os fariseus, a um certo ponto, dizem a Jesus: "Nós queremos que você nos mostre um sinal do céu". Essa é voz do inimigo na boca dos fariseus. Aí Jesus fala: "Só vão ter o sinal de Jonas, depois de 3 dias na barriga do peixe, ele foi jogado para fora. Também o Filho do Homem depois de 3 dias vai ressuscitar". Mas mesmo assim o povo não acreditou. Não adianta dar sinais. Os sinais não sustentam a fé de ninguém. A fé é algo que nasce no nosso coração por graça de Deus, não adianta forçar. Tantas vezes na nossa vida nós temos situações que de repente mudam e a gente fala "isso foi ação de Deus". A pessoa que não tem fé olha o mesmo fato e dá outra explicação. Se você não tem fé, não adianta nada. Então Jesus vai colocar de lado esses desafios.
“Se é Filho de Deus, transforme essas pedras em pães”. A resposta é fácil: é uma das tentações de Adão [Gn2,7-9;3,1-7]. Comer o fruto e se tornar semelhante a Deus significa não ter que trabalhar no Jardim, não aceitar os limites da vida. Um dos maiores dramas de hoje é exatamente saber dizer NÃO para os filhos. Muitas vezes nós não colocamos limites e, quando os filhos crescem, a vida vai ensinar e eles vão ter que aprender da pior maneira possível. Se você não colocar limites no caminho das crianças e jovens, você vai destrui-los. Se você não os prepara para a vida, o mundo vai dominá-los. E na vida muitas vezes recebemos "não". Quantas vezes queremos coisas na vida e recebemos "nãos". A vida é dura com a gente e a gente tem que superar os problemas, obstáculos. Deus está educando Adão e Eva. Mas Jesus nega aceitar respostas fáceis, porque a vida não é assim.
Depois, o diabo divide você de si mesmo, separa você de Deus. Um perigo muito grande dos dias de hoje são os meios de comunicação. Tantos padres falando por aí, e vendem como se fosse ouro escorrendo nos meios de comunicação, padre com botox, padre com calça agarrada, padre que é tradicionalista... Jesus não aceitou fazer um show religioso. O ponto mais alto do templo era o pináculo, tinha 70 metros de altura, e o diabo disse "Se joga daqui, dê um espetáculo para as pessoas, prova quem você é". Um Deus que se impõe é um Deus da morte. O Pai de Jesus é o Deus da humildade. Onde nós vemos Deus? Deus não aparece, porque é a humildade dEle. Ele não faz espetáculos. Tem uma frase que diz assim: "Deus faz um espetáculo todos os dias com o nascer do sol. A maioria das pessoas estão dormindo e nem por isso Deus deixa de fazer". Isso se chama humildade, gratuidade, abundância. Isso é Deus. "Não importa se as pessoas acreditam em mim, por que eu faço milagres viu? Do mesmo jeito que eu pulo do pináculo do templo e não morro, eu jogo você de lá e você morre.", é o Deus do terror que diz isso, não o Pai de Jesus.
O diabo faz esses dois primeiros desafios para Jesus. E Jesus recusa. E o que o diabo faz? Ele tira a máscara. Como cresce os reinos da terra? Nós temos que nos lembrar dos grandes reinos daquela época: os assírios, persas, egípcios, gregos e romanos. Os romanos estavam dominando todo o mundo ocidental na época. Esse era o poder do mundo e os governantes desses impérios se achavam deuses. Os faraós também eram considerados deus vivo, assim como o rei Alexandre Magno, imperador de Roma. E olha o que esses impérios faziam: ódio, opressão e escravidão. Não é o caminho da vida. O caminho de Jesus, o caminho da vida, é o serviço, a humildade e o fazer a vontade do Pai. Para cumprir a vontade do Pai, Jesus morreu na cruz. As três tentações estão continuamente provocando Jesus ao longo de sua vida, até o último instante, Ele ouve: "Se tu és filho de Deus, desce da cruz". Até na última hora, Jesus foi tentado. Vamos pedir ao Senhor que, nesta Quaresma, Ele nos ensine a buscar o serviço aos outros, a humildade, a não nos acharmos deuses, nós somos pó, e em tudo procurar fazer a vontade de Deus assim como Jesus faz.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 1º Domingo da Quaresma (Ano A) – 01/03/2020 (Domingo, missa das 07h30).

Viu, sentiu compaixão e cuidou dele
26/02/2020
Por volta do ano 160 a.C., aconteceu em Israel uma grande revolta, uma grande revolução chamada "Revolta dos Macabeus". Um grupo de hebreus se revoltou contra o Rei Antíoco Epifânio, que queria transformar o mundo hebraico em mundo grego, negando a religião hebraica. O que aconteceu? Teve uma grande revolta, uma grande briga, e os Macabeus ganharam. Desse movimento, surgiram dois grupos: um que acreditava que o Reino de Deus viria por meio da luta armada e outro que acreditava que o Reino de Deus viria por força da observância da lei. Esse segundo grupo deu origem aos fariseus. E o que esse grupo fazia? Observava estritamente a lei, acreditando que, no dia em que todos observassem a lei do modo como eles observavam, o Reino de Deus viria sobre a Terra.
Qual é a perversão dessa mentalidade? Eles acreditavam que o Reino dependia de nós, das nossas forças, das nossas observâncias, e isso é falso. O Reino de Deus é de Deus e vem quando Ele quiser e como Ele quiser. De fato, Jesus, no meio de nós, é o Reino de Deus – e olha o que fizeram com Ele! Não foram nem capazes de reconhece-Lo... Outro problema com esse grupo é que eles achavam que eram merecedores da salvação; por terem observado a lei, Deus seria obrigado a dar a salvação a eles. Eles negavam que o Reino de Deus é de Deus, eles negavam a graça.
O bom fariseu praticava estes três elementos centrais: oração, jejum e esmola. Só que eles tinham essa atitude de achar que eram mestres, que ensinavam os outros – e aí aparece o orgulho. "Nós é que fazemos certo, vejam como se faz, vocês fazem errado". Por isso Jesus vai dizer: "Rezam nas praças para todo mundo ver". Jesus não está criticando as grandes assembleias litúrgicas, Ele está condenando as atitudes destes que se acham os "professores" dos outros. E cuidado: muitos de nós, católicos e grupos dentro do catolicismo, caímos nesse modo de pensar e agir.
Quando faziam jejum, os fariseus colocavam cinzas na cabeça, vestiam sacos de estopa para todo mundo ver, parecia um teatro... Olha a arrogância que há nessa atitude! Os fariseus também tocavam sinos quando davam esmolas no templo, para se mostrarem e dizerem: "Olha aqui como o bom hebreu faz! Vocês, que não são bons hebreus, observem e aprendam". Jesus condena isso como hipocrisia. Ele vai dizer: "Faça as coisas para o Pai, que vê em segredo". O que isso quer dizer? É a sinceridade profunda. Quando você está sozinho, quando ninguém te vê, você não recebe elogio de ninguém; se você faz algo, faz por pura gratuidade, pois não vai receber nada em troca; você está sendo sincero, e isso Deus vê. E aí a tua oração, mesmo comunitária, vai ter sentido, porque ela nasce da sinceridade.
A tua esmola deve nascer da compaixão para com aqueles que sofrem, mesmo que ninguém veja. Compaixão. A compaixão mostra que nós ainda somos humanos. Uma pessoa que vê um sofredor de rua, um menor abandonado, um depende químico e não sente nada – pelo contrário, diz que essa gente merece a morte –, não é mais humano, muito menos cristão. Compaixão pela miséria humana, pela pobreza, pela doença, pela dor. Compaixão. Atentos! É isso que nos faz humanos. Senão somos monstros. Percebem? É dessa profunda compaixão que deve nascer todo nosso ato caritativo.
Depois, o jejum nos coloca diante da nossa miséria. Na hora da imposição das cinzas, dizemos duas frases. Uma delas é: "Converte-vos e crede no Evangelho", ou seja, caminhe. Até o fim da vida, há um caminho a ser feito; nós nunca chegamos, mas caminhamos a vida inteira para melhorar a cada dia; a conversão pode acontecer até a última hora, na hora da morte, quando caminhamos para Deus. A outra frase acaba com todo o nosso orgulho: "Do pó você veio, ao pó você retornará". Como é educativo, existencialmente, o vazio. Nós nada somos. Qual arrogância podemos ter? Qual orgulho podemos ter? Nada! Pó! Humildade, serviço, compaixão e humilhação diante de Deus: é isso que o jejum deve nos ensinar.
E tudo isso nasce de um coração sincero, de um coração novo, não de pura exterioridade. Porque essas pessoas que querem ensinar os outros, que se acham melhores e acham que Deus deve alguma coisa a elas, pegam Deus e O matam! Foi isso que fizeram com Jesus... Primeiro, chamaram-no de louco, depois de "endemoniado", depois de herege e, depois, O mataram. Os homens que diziam ensinar como seguir a Deus, mataram Deus! Então temos que estar sempre atentos. Isto é conversão: estar atentos aos nossos passos e olhar para Jesus. Eu estou andando nos passos de Jesus? Isto é conversão: pegar meu caminho e colocar nos passos dEle.
Agora vamos falar destes símbolos belíssimos que colocaram sob o presbitério nesta Missa de Cinzas. A cruz, o mistério pascal de Cristo, é a fonte da nossa salvação. Dela, nasce a nossa fé: vida, paixão, morte e ressurreição. Do lado de Jesus brota sangue e água, por isso esta jarra representa a água que dá vida eterna, que dá vida nova; é a água do batismo, a água na qual invoca-se o Espírito Santo. A vela acesa representa a vida humana, o nascimento, a vida que deve ser cuidada e respeitada – é o tema da Campanha da Fraternidade. Se seguirmos Jesus sempre, nós nos tornamos como este sal para a Terra. E a vela apagada representa o fim da nossa vida. A vida eterna é dom de Deus, é graça de Deus, e Jesus nos dá isso por força da Sua ressurreição, não por força nossa. E nós esperamos esta graça, que só Jesus pode dar – e vai dar, porque Deus é fiel e não mente: "Eu vou preparar uma casa para vocês, um lugar. E, quando estiver preparado, eu vou voltar para buscar vocês, para que vejam minha glória e estejam comigo na casa do Pai", essa é a promessa de Jesus. O momento da graça acontece no exato momento da nossa morte. Até lá, temos que ser sal para a Terra e luz para o Mundo, amando e cuidando dos nossos irmãos, dando de comer e beber, cobrindo as pessoas que sofrem frio ou mostram nudez.
Do outro lado, temos o cartaz da Campanha da Fraternidade 2020, com o lema: "Viu, sentiu compaixão e cuidou dele". É o bom samaritano, que não olha religião, rituais, nacionalidade, orientação sexual. Olha apenas o outro que sofre. "Essa pessoa precisa de ajuda", então ele se aproxima e ajuda do modo como pode. Este é o bom samaritano. O tema da Campanha este ano é "Fraternidade e Vida", vida que é dom e compromisso. O bom samaritano não só passou óleo nas feridas do homem, mas se comprometeu: levou o homem para um abrigo, curou as feridas dele e deixou comida para até quando voltasse, ou seja, não acabou naquele primeiro socorro, ele se comprometeu com essa pessoa. É isso o que devemos fazer.
E temos, ainda, no cartaz, esta que vai ser para nós, creio que de hoje em diante, grande modelo para a Igreja no Brasil: Santa Dulce dos Pobres. Nosso País pode se alegrar, pois temos nossa própria Santa Tereza de Calcutá! Irmã Dulce, para nós, é um constante chamado a servir, acolher e se comprometer com os que mais sofrem, por isso ela foi escolhida como símbolo desta Campanha da Fraternidade.
Vamos pedir a Deus que nos guie no nosso caminho.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Quarta-Feira de Cinzas (Ano A) – 26/02/2020 (Quarta-Feira, missa às 19h45).

Oferecer a outra face é ir além
23/02/2020
Uma das leis mais sábias já criadas na história está nesta frase, em que Jesus diz: "Vocês ouviram isto: olho por olho, dente por dente". Essa lei de Hamurabi, que era um rei sumério, coloca limite à vingança. Se vocês olharem lá na Gênesis, um dos filhos de Caim, que se chamava Lameque, dizia: "Por um esbarrão, eu matarei sete pessoas". Isso é a desproporção da vingança. Por isso o código de Hamurabi. O outro lhe cortou um dedo? Você não pode matá-lo, mas pode cortar o dedo dele. O outro lhe roubou um cavalo? Você pode pegar um cavalo dele, mas não vai pegar um cavalo e uma vaca. É o limite na vingança. O grande problema é que estamos falando de vingança, não de perdão. A única força capaz de quebrar o círculo das vinganças é o perdão. Não tem outro jeito. Ou você coloca uma trave no meio e quebra essa roda – e essa trave é o perdão – ou uma vingança irá gerar outra e depois outra e assim por diante, até o momento em que você não sabe nem por que está se vingando, mas continua matando e destruindo do mesmo jeito.
Jesus diz: "Nada disso! Se o teu opressor te obriga a andar 1 km, caminhe 2 km com ele. Se te derem um tapa em uma face, oferece também a outra". Com isso, Jesus não está falando para sermos bobos. Geralmente, é assim que interpretamos: ser cristão é ser bobo. Não! Ser cristão é ser livre! Ser cristão é ir além dos limites que os outros nos impõem. O teu inimigo te obriga a caminhar 1 km; se você se demonstra submisso ao teu inimigo, você caminha 1 km e para – "Fiz o que me obrigaram"; mas se você caminha com ele outro quilômetro, você está dizendo: "Ninguém tira minha liberdade, ninguém tira minha dignidade. Eu ando outro quilômetro porque quero! Eu vou além dos teus limites". Assim você está indo além, e a outra pessoa não tem poder sobre você.
Naquele tempo, quem dava tapa na cara das pessoas eram os reis, os donos de escravos, os patrões nos empregados e os pais nos filhos. Era um gesto de submissão, para colocar ordem. E a outra pessoa paralisava, reconhecendo o poder do outro sobre ele. Jesus diz: "Oferece a outra face", ou seja, "Você não é submisso! Seja livre! Não entregue a sua dignidade. Você é dono de si mesmo". Isso é ir além dos limites que o outro te impõe. Isso é ser livre. Não quer dizer que o tapa que o outro te deu foi bom nem que o caminho que ele te obrigou a andar foi uma coisa boa. Não, podem ser coisas bem ruins. Mas você vai além! Com isso, você demonstra ao outro que tem a mesma dignidade que ele. Por quê? "Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito". Deus vai além!
Existe um modo muito atual de falar isso: não violência ativa. Isso gera, inclusive, ações políticas. O grande modelo disso, no século passado, foi Gandhi. Tem um filme que conta a história dele e, no comecinho do movimento que culminou na independência da Índia, era a Inglaterra que emitia os passaportes; o movimento de Gandhi passou a não mais lutar contra o governo nem pegar em armas, mas queimar o passaporte. Por quê? "Eu não sou dependente do país dominante, eu sou livre". Isso é ir além: a minha dignidade ninguém tira.
Nós somos todos iguais diante de Deus – e não só nós, mas os dependentes químicos também, os assassinos também... Eu não sou melhor que nenhum deles, porque todos nós somos irmãos diante de Deus. Temos uma frase que é, seguramente, da boca de Jesus, porque é um absurdo. Ela coloca dois termos contraditórios em conexão direta: "Amar os inimigos". Inimigo é o contrário de amigo; amor é contrário ao ódio. Ou seja: amor ao inimigo é contraditório, é um absurdo! Mas essa é a medida de Deus. Deus vai além! Este é o único jeito de superar a lógica do ódio – o ódio, que gera a vingança. E é o único jeito de enfiarmos uma trava e quebrarmos esta roda da vingança.
Jesus, Ele mesmo se enfiou no meio da roda. Ele foi a trava. Quando, no Evangelho de São João, chegam os soldados para prendê-Lo, Ele pergunta: "Quem vocês buscam?", e eles respondem: "Jesus de Nazaré". Jesus diz: "Eu Sou". Então, todos caem para trás, porque "Eu Sou" é o nome indizível de Deus, e faz com que a presença de Deus esteja ali. Jesus é a presença de Deus, e diante de Deus ninguém consegue subsistir. Só Deus é o vivente, nós somos sombras e vivemos por misericórdia, por graça. Quando eles caem, Jesus repete: "A quem vocês buscam?", e eles respondem: "Jesus de Nazaré". Jesus, então, diz: "Estou aqui", e aí sim eles pegam Jesus. Ele faz isso como um ato de liberdade: "Não são vocês que me pegam, sou Eu que me entrego, Eu que me faço trave no meio desta roda de vingança, de ódio, de morte. Nem que, para isso, Eu tenha que morrer". Essa é a medida de Deus, isso é ir além.
Agir assim não é fácil, mas nós rezamos justamente para pedir a Deus para sermos iguais a Ele e termos o mesmo coração que Ele. Deus se fez um de nós para que nós pudéssemos imitá-Lo. E Deus, feito homem, assumiu o nosso limite. O limite de Deus não existe, é infinito; já o nosso, tem um fim: a morte. Jesus se fez trave para quebrar a roda da violência. Mais uma vez: ser cristão não é ser bobo; ser cristão é não renunciar a própria dignidade, ir além das ofensas que as pessoas possam nos fazer e buscar ter o coração de Deus, rezar por aqueles que nos perseguem. Isso também é amar os inimigos. Reconhecer, no outro, Jesus Cristo – que pode estar desfigurado, violentado, horroroso diante de nós. Um assassino é Jesus completamente desfigurado na nossa frente, um monstro! Mas é Jesus. Por isso a justiça tem que ser correta, não pode ser corrupta, tem que corrigir, tem que educar as pessoas. É um assassino? Tem que ir preso sim. Mas ele é a imagem de Cristo, tem que ser reeducado e reinserido na comunidade. Para isso, é preciso um sistema carcerário que seja capaz de fazer isso. Olha como este mandamento muda muita coisa na nossa vida! O Estado muda, a política muda, a justiça muda.
Ser cristão tem consequências. Grandes. Vamos pedir a Jesus que nos ajude a ser, realmente, filhos e filhas de Deus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 7º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 23/02/2020 (Domingo, missa das 10h).

Seguir os mandamentos desde o coração
15/02/2020
Como eu disse semana passada, esse Evangelho chamado Sermão da Montanha, (capítulos 5, 6 e 7 de São Mateus) é a Nova Lei promulgada por Jesus. Moisés deu a Lei ao povo, e o povo hebreu esperava um profeta que fosse maior que Moisés. São Mateus está dizendo: ‘eis aqui o novo legislado, Jesus’. Muito bem, Jesus, por ação de seu Evangelho, está nessa frase: se a vossa justiça não superar a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não vão entrar no Reino dos Céus. Os doutores da Lei eram os grandes teólogos daquele tempo, eles interpretavam as escrituras. Imaginem, conhecer as escrituras de cor! Os fariseus eram gente muito, muito religiosa. Observavam todas as vírgulas e inventavam até orações para serem mais rigorosos ainda. Os dois grupos mataram Jesus. Se a nossa justiça não superar a justiça deles, com rigor na lei, mas rigor extremo... Jesus criticou duramente os fariseus e os doutores da Lei e dizia: ‘vocês são como túmulos: bonitos por fora; e por dentro? Um monte de carne podre! Vocês são exatamente iguais a esses túmulos, parecem grandes religiosos, mas dentro estão cheios de mentira, de hipocrisia, de falsidade, de morte.’ Nós temos sempre que estar muito atentos a isso. Especialmente nós que praticamos uma religião. Nós, padres, então, vocês não têm ideia de como a gente tem que estar diante disso, porque facilmente nós caímos numa rede de falsidade extrema. Você segue rituais, você até obedece a mandamentos, mas se não acontece no seu coração, fica só na superfície.
Jesus vai dar os vários mandamentos: não matarás. Quando a gente ouve ‘não matarás’, uma pessoa que é extremamente rigorosa nesse ‘não matarás’, o que essa pessoa se permite fazer? Por exemplo, torturar é matar? Falar mal é matar? Chamar uma pessoa de herege e criar ódio contra essa pessoa é matar? Pois, vamos ver, Jesus vai dizer: se você cria raiva no coração contra os teus irmãos, contra o teu irmão, você começa a criar, depois você começa a falar para os outros, você difama, até que você diz que essa pessoa é um demônio. Desse ponto para matar a pessoa é fácil. É isso que fizeram com Jesus. Primeiro disseram que ele era louco, depois que ele agia com o poder do demônio, depois disseram que ele era um herege. Então Jesus fala: ‘comece a limpar a raiz do teu coração, de dentro, a morte que você dá para essa pessoa começa no teu coração.’ Um discípulo, uma discípula de Deus tem que cuidar para que essas raízes não cresçam dentro do seu coração, porque se você deixa, você vai odiar, e há um certo momento em que você vai estar pronto para matar a pessoa. É que nós não temos a ocasião, mas nós estamos muitas vezes dispostos a matar os outros.
Jesus era muito rígido com a questão do matrimônio. Isso não é uma condenação para as pessoas de segunda união, mas é uma chamada para o matrimônio mesmo. No tempo de Jesus, a mulher, no matrimônio, era propriedade do marido. A mulher, dentro do matrimônio, não tinha direito a nada, e tinha que ser protegida pelo marido. O homem podia se desfazer da mulher e marcava o divórcio. Jesus lembra: ‘no início da criação do mundo não foi assim! Deus criou Adão e Eva com igual dignidade.’ Ninguém era dono de ninguém! Jesus está condenando o fato de colocarem a mulher como inferior ao homem dentro do casamento, olha que interessante. E Jesus vai dizer: ‘cuidado! A Lei fala não cometerás adultério’. Ah, mas até cometer adultério há tanta coisa que eu posso fazer... Mas Jesus diz: ‘quando você já olha com um olhar sedutor para alguma coisa na rua, você já está plantando adultério no teu coração, você tem que queimar essa raiz logo porque ela cresce’.
Jesus era absolutamente contra o juramento. Que coisa interessante... até na igreja, a gente faz um monte de juramento para ser padre, tem que jurar pelo céu e pela terra! E Jesus falou para não jurar, para que o 'sim' seja 'Sim', e o 'não' seja 'Não'! Sinceridade no que você fala, é isso o que Jesus quer dizer. Não faça com que as pessoas tenham dúvida do que você fala. Por que a gente obriga as pessoas a jurarem? A gente tem medo de que as pessoas falhem. Jesus diz ‘que a tua palavra seja firme’.
Por isso, Jesus diz ‘eu não vim para jogar fora a Lei, eu vim levá-la ao pleno cumprimento’. É preciso ir ao coração da Lei, e curar todos os males que nascem dentro do nosso coração. Jesus disse para os fariseus: ‘é no coração que nasce o ódio, o homicídio, os adultérios.’ No coração do homem, no coração da pessoa humana nasce tudo isso. Isso torna o ser humano impuro. Jesus não joga fora os mandamentos de Moisés, Ele nos ajuda a ir à profundidade, de modo que esses mandamentos entrem no nosso coração e façam que a nossa vida seja uma vida nova desde dentro.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 6º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 15/02/2020 (Sábado, missa das 16h).

Amar e perdoar para ser luz no mundo
09/02/2020
A cada ano, nós lemos um Evangelho. Neste ano, estamos lendo o de Mateus, que nos apresenta Jesus como o novo Moisés. O livro do Deuteronômio termina dizendo: "Até hoje, não surgiu um profeta como Moisés", e São Mateus vai nos dizer que Jesus é maior do que Moisés. Moisés subiu em uma montanha – o monte Horeb – para receber as tábuas da lei; Jesus também subiu em uma montanha para falar aos discípulos qual era a nova lei (no sermão da montanha, que começa com as bem-aventuranças), e muitas vezes Ele vai dizer: "Vocês ouviram o que foi dito: 'Olho por olho, dente por dente'. Eu, porém, vos digo: 'Amai os vossos inimigos, rezai pelos que vos perseguem'". Jesus nos dá a lei do amor, a lei do perdão.
O que destrói o ser humano é a vingança. Têm povos no mundo que brigam há milênios, e nem sabem mais o porquê da briga, pois vivem com a mentalidade da vingança. A vingança só destrói: pessoas, vidas, famílias, nações. Jesus fala para perdoar, deixar para lá e começar um caminho novo. O perdão é um modo cristão de ser sal para a Terra, para dar um gosto bom a este mundo.
Jesus fala: "Vós sois a luz do mundo". Se você vier à noite à igreja, vai encontrá-la iluminada, e nem vai olhar para os lustres, pois já tem a luz; você só percebe os lustres quando a luz se apaga. Nós, cristãos, temos que ser para o mundo como a luz: estar presente e transformar a vida das pessoas. Amar os outros como irmãos e irmãs transforma a vida das pessoas! Você não puxa o tapete, não faz fofoca, não difama, não sente inveja se começa a ver o outro como irmão e irmã. E fazendo isso, com essas atitudes, você será como uma luz para as pessoas.
Nos primeiros séculos, os cristãos incomodavam os romanos porque aceitavam todos os filhos, viessem como viessem. Já os romanos, se a criança não vinha como o pai queria, eles mandavam matá-la. Se não quisesse uma menina, por exemplo, ou se o filho tinha alguma deficiência física. O mundo romano era horrível! Então eles achavam um absurdo os cristãos aceitarem os filhos como viessem. "Mas como eles aceitam todos os filhos?". Porque é vida! É dom de Deus! Isto é uma luz: o respeito à vida.
Mas tem gente que te persegue porque você faz o bem... Tem gente que te persegue se você não entra na "rodinha" dos corruptos – alguns funcionários públicos entendem isso muito bem. O pessoal esta lá, roubando dinheiro da merenda; se você não aceita fazer parte da rodinha, eles vão te perseguir. Mas se você persevera, você vai ser uma luz para o mundo! O caminho de Jesus é esse.
E é isso que devemos ensinar para nossas crianças. Os primeiros catequistas são os pais, que devem rezar com seus filhos, falar de Jesus para eles e ter em casa algum símbolo religioso, ao menos um crucifixo. Nós não podemos renunciar a nossos símbolos cristãos.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 5º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 09/02/2020 (Domingo, missa das 10h, com apresentação das crianças da Catequese).

Acolher a Jesus é acolher a Sua Palavra
01/02/2020
Religiosos e religiosas, viemos aqui para esta celebração olhando para Jesus. É Jesus, como a própria iconografia desta igreja, o começo e o fim. Ao entrar nesta igreja, temos o ícone de Jesus – “Jesus, eu confio em vós”, e aqui [sobre o altar] o crucifixo, lembrando-nos que Jesus é o centro de nossa fé. Ele diz “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas” [Jo 8:12].
Hoje, festa da Luz, tanto assim que em sua origem em Portugal se chama festa de Nossa Senhora da Candelária. Nossa Senhora é aquela que apresenta Jesus, junto com São José, mas a festa é de Jesus. Na liturgia de hoje, a igreja coloca como Festa da Apresentação de Jesus. Jesus é apresentado naquele rito judaico no qual o primeiro filho a nascer, o primogênito, é apresentado no templo e consagrado a Deus. Jesus vai ser apresentado uma outra vez, no dia da sua Paixão, quando Ele é julgado e Pilatos apresenta “Eis o homem”, momento dramático no qual a multidão que foi beneficiada por Jesus com sua Palavra, com seu amor, com os milagres diz “crucifica-o”. E nesse relato da apresentação de Jesus, conforme o Evangelho [Lc 2,22-40], já está presente o sinal da Paixão. Simeão diz a Maria: “uma espada de dor atravessará o seu coração”.
Esta celebração de hoje é a festa da luz, porque Jesus é apresentado, mas também é a festa da acolhida de Jesus por Simeão e Ana, dois pobres, anciãos, que aguardavam a manifestação de Deus. Assim também, na Paixão de Jesus, foram poucos os que realmente acreditaram n’Ele. Esta narrativa tão bonita, tão poética: Jesus que vai ao templo com o pai e a mãe é oferecido, essas duas personagens o acolhem, José e Maria oferecem um par de rolinhas como oferta, sacrifício – e isso prova que realmente eram pobres, porque esta era a oferta dos pobres, os ricos ofereciam cordeiros, por exemplo.
Então essa festa diz o que para nós? Diz sobre nossa fé em Jesus. Nós já o encontramos na nossa vida? No íntimo do nosso coração, já encontramos Jesus? Os bispos reunidos em Aparecida dizem que tudo depende... e, também a nossa fé, tudo na vida do cristão depende desse encontro com Jesus! Deus nos apresenta, nos oferece através de Maria e José, o seu Filho Jesus, luz do mundo. Muitos olham, mas preferem viver nas trevas; outros aceitam essa luz sob condição que ela ilumine somente algumas áreas da vida e não toda a vida... Como nós estamos diante da manifestação desta luz, Jesus Cristo, na nossa existência? Nós acolhemos esta luz? Nós queremos estar iluminados por Ele? Nós aceitamos que Ele é o Filho de Deus que se fez homem em tudo semelhante a nós, menos no pecado?
Ele é o filho de Deus, como nos diz a Segunda Leitura [Hb 2,14-18]. Queridos irmãos e irmãs, a luz se manifesta. Deus se oferece, Deus está aí batendo e batendo na porta da nossa casa, do nosso coração. Simeão e Ana tiveram essa sensibilidade de acolhê-lo. Também hoje é dia de nos perguntarmos como nós acolhemos Jesus na nossa vida. O “acolher” Jesus não é uma questão do cérebro, da boca, fazer orações. É uma questão de vida, de atitude. Não é uma questão sentimental, isso é o que mostra a Segunda Leitura. Não é uma questão de sentimento só, mas é uma questão de adesão com a vida. Nós sabemos que Jesus se manifestou em nossa vida, e que nós O acolhemos quando a nossa vida muda, quando isto é determinante nos nossos atos, nas nossas atitudes, no modo de viver, no modo de agir, no modo de encarar a realidade na qual vivemos. Quem é o teu Mestre? É Jesus?
Então a Palavra de Deus hoje coloca-nos não só essa alegria imensa de ver que Deus se manifesta, na Primeira Leitura [Ml 3,1-4], o profeta diz eu vou mandar o anjo preparar o caminho para Ele. Deus já mandou muitos anjos preparando o caminho de Jesus na nossa vida, e Ele se manifesta, e como você vê essa manifestação e como você o recebe? Receber Jesus é deixar se guiar pela sua Palavra. Quem me ama, guarda a minha Palavra. Quem me recebe, dá crédito para que eu ensine a Palavra.
E nós estamos celebrando aqui os 80 anos desta paróquia que tem como padroeira Santa Teresinha. A história desta paróquia é bonita, ela existe antes da criação da nossa Diocese. Quando se criou a Diocese de Santo André, já existia esta paróquia e todo itinerário e foi consagrada a Santa Teresinha, que na época da fundação desta paróquia era a santa que estava logo após a sua canonização, o mundo inteiro falando dela – hoje se fala, mas naquela época era uma grande novidade, era uma santa do dia. Cada época tem algum santo que são mais conhecidos. Mas Santa Teresinha estava dando uma grande mensagem, que ela recebeu Jesus sim, como luz para sua vida, mas levou a sério nas pequenas coisas da vida. descobrindo que a resposta que nós damos à manifestação de Jesus, a acolhida que nós damos é o amor. Porque o amor é a síntese do que Ele nos ensinou, mas um amor não só afetivo, mas efetivo, incidente na nossa vida, nos nossos atos, na nossa realidade. E o sinal desse amor é o serviço aos irmãos, tanto que ela desejou ser missionária e é uma das padroeiras das missões, junto com São Francisco Xavier. O amor nos impele a servir o próximo, a manifestar-se como estar a serviço dos irmãos e da causa do reino de Deus. O amor, portanto, é um colocar-se nas mãos de Deus, com toda a confiança, aquela mesma confiança que a criança tem ao se colocar nas mãos do pai e da mãe. Nós confiamos em Deus? Nós acreditamos que Deus pode, na nossa existência, influir, transformar, dirigir? Existe abandono nas mãos de Deus de nossa parte? É uma boa pergunta que todo esse dia de celebrações tão significativa coloca diante de nós a partir da Palavra de Deus. E o que fez Santa Teresinha foi isso, receber Jesus, luz na sua vida, acolhê-lo, acreditar na sua Palavra e vivê-la como um amor capaz de servir e de se entregar a Jesus para que Ele transformasse sua vida e a dirigisse. E isso para nós é muito difícil. A nossa cultura é uma cultura do individualismo, do narcisismo. “Quem manda na minha vida sou eu”, “não obedeço a ninguém, nem a Deus e nem os seus representantes muito menos”, “eu é que mando na minha vida”, isso é a glória do homem da nossa época.
E nós estamos celebrando o Dia da Vida Consagrada. Não existe vida consagrada sem esta atitude de obediência para com Deus, de deixar a sua vida nas mãos de Deus, de entrega alegre nas mãos de Deus. E quem é um exemplo disso além de Santa Teresinha? Maria e José. Que estavam ali colaborando com o plano de Deus, que mudou os seus planos, colaborando com o plano de Deus que entrou na vida deles e mudou o direcionamento dos seus projetos. José e Maria jamais fizeram projeto de ser o que eles foram: Maria, mãe do Filho de Deus, e José, pai adotivo do Filho de Deus. Acolhida do projeto de Deus para nós, isto é, vida religiosa, a vida de quem se consagrada, tanto no batismo – que vale para todo mundo – como para os consagrados que sentiram o impulso, como Teresa do Menino Jesus, de se consagrar inteiramente a Deus numa vida que não mais lhe pertence. O consagrado é aquele cuja vida não lhe pertence mais. E isto você vê que é para gente corajosa. Corajosa na força do espírito. Que maravilha! Vamos bendizer a Deus pelos religiosos e religiosas que estão aqui.
Vamos continuar nossa celebração, colocando-nos diante de Deus e pedindo a graça de vivermos todos nós a consagração batismal de aceitar Jesus na nossa vida como Luz.
Homilia: Dom Pedro Carlos Cipollini – Apresentação do Senhor (Ano A) – 01/02/2020 (sábado, às 16h, missa solene pelo Aniversário de 80 Anos da Paróquia Santa Teresinha).

Ser paróquia é ser luz para os irmãos
25/01/2020
Nós temos uma frase, nos Salmos, que diz que "a nossa vida é um sofrimento, e quando alguém chega aos 80 anos, isto é um fato notável" [ref. Sl 89 (90)]. Só que eles estavam falando isso há, pelo menos, 2.500 anos... A média de vida era de, mais ou menos, 25 ou 30 anos. Era bem diferente de hoje. Chegar aos 80 anos naquele tempo era coisa rara, muito rara. Hoje não é mais assim, nós temos remédios que não existiam antes, temos dietas, fazemos tantas coisas que permitem que vivamos mais. Então nem nos assustamos mais quando ouvimos que uma pessoa tem 80 anos.
E uma paróquia? 80 anos! Quantas pessoas fizeram 80 anos nestes 80 anos... Um fato notável! E quantas outras pessoas, em todos estes anos, tiveram fatos notáveis nesta comunidade... A paróquia é um território; o bispo marca um território e diz a um padre: "Você vai cuidar das pessoas que moram aí, batizá-las, prepará-las para a primeira comunhão, para a confissão, para a Crisma, preparar os jovens para o matrimônio, convidar os jovens para a vida sacerdotal, casar as pessoas, consolá-las na hora da doença e prepará-las para a hora da morte" – isto é a vida, a nossa vida – "E mais: dar ao povo de Deus o Corpo e o Sangue do Senhor". Jesus nos disse no Evangelho: "Quem come o meu corpo e bebe o meu sangue terá a vida eterna". Então o padre tem esta missão: dar ao povo de Deus os sacramentos, anunciar o Evangelho e, com a comunidade, servir aos pobres. Porque Jesus também disse no Evangelho: "Deles é o Reino dos Céus".
Se nós olharmos a vida de uma comunidade, vamos ver o que marca o seu caminho. E a história desta comunidade aqui é muito interessante! Nós fizemos uma confraternização entre os padres e, lá, um deles estava me contando que esta paróquia de Santa Teresinha foi pioneira em uma série de coisas na Diocese de Santo André, especialmente com os padres franceses. Eles foram os primeiros padres da Diocese a arrancar o altar do fundo e colocá-lo à frente, rezando a missa olhando para o povo. A primeira paróquia na Diocese, seguindo já os ventos novos do Concílio Vaticano II. E, depois, nesta comunidade, eles também iniciaram vários grupos e movimentos que serviram de modelo para muitos outros lugares na nossa Diocese. Nós temos uma história gloriosa! E temos ainda o tempo de sofrimento durante o Golpe de 1964... Nossos padres foram perseguidos, tinham que se esconder em buracos dentro das igrejas. Quantas histórias nesta paróquia... Depois, se olharmos os quase 15 anos do Pe. Jorge aqui, quanto tempo, quanto trabalho...
Há também quem ainda lembre e chore pela demolição da antiga capelinha – até eu me emociono em pensar que aquela pequena joia foi colocada abaixo! Às vezes temos muita pressa em fazer as coisas e, depois, nos arrependemos, mas aí já não há mais o que fazer... Por outro lado, olha a grandeza desta paróquia! Poucas paróquias na Diocese são grandes deste jeito. Vejam o empenho que vocês tiveram – vossos pais, vossos avós... E vocês mesmos, porque há poucos meses terminamos de pintar a igreja. Nós estamos, sempre mais, colaborando com esta herança que é a vida da igreja, a vida da nossa comunidade. Quantas pessoas passaram por aqui, quantas pessoas se aproximaram de Deus por meio de Santa Teresinha, quantas pessoas se aproximaram de Deus por causa de uma palavra ou gesto de vocês... Isso é paróquia! É isso que nós celebramos! As pessoas que estão nela, que nela vivem o Evangelho: isso é paróquia!
Aqui no Brasil, nós só temos 500 anos de história, então a igreja mais velha do País tem mais ou menos essa idade. Se olharmos para a Europa, há igrejas de quase 2.000 anos. Portanto, 80 anos de uma paróquia ainda é um brotinho que saiu da terra... Mas que está indo bem! Do mesmo jeito que olhamos para outros países e vemos árvores grandes, nós também seremos uma árvore grande. Com o empenho de cada um, com a doação de cada um, com a oração de cada um, com o amor de cada um e com o exemplo que cada um der uns aos outros nós nos tornaremos uma grande árvore!
No Evangelho de hoje [Mt 4, 12-23], João Batista foi preso. Ele, que anunciava a conversão lá nas margens do Rio Jordão. Ele nunca saiu perambulando, nunca fez milagres. Deus mandou que ele anunciasse a conversão e foi o que ele fez. Jesus foi visitá-lo, não sabemos por quanto tempo; Ele foi batizado e, depois, foi para o deserto, e ficou lá por 40 dias. Depois, voltou para casa e ouviu que João Batista fora preso. E disse: "A missão continua, e começa agora!". Então Ele começa a anunciar: "O Reino de Deus está entre vós", e o Reino é o próprio Jesus, que dá os sinais: anuncia o Evangelho e cura todo tipo de doença. Estes são sinais de que o Reino de Deus está próximo.
O Reino de Deus tira as pessoas da paralisia. Na hora em que eu estava lendo o Evangelho, vocês devem ter pensado que eu errei uma palavrinha... No texto do folheto está escrito "vivia", e o padre disse "jazia". Jazia significa que estavam parados, como mortos, perdidos; este povo que caminhava nas trevas – e é difícil caminhar nas trevas, pois você não sabe para onde vai –, este povo viu uma luz! A luz é o anúncio do Evangelho, a luz é Jesus. Antes Dele, não havia luz. Atentos: não havia luz. Havia só vozes, que até guiavam o povo, mas agora aparece a luz, que é Jesus!
Jesus anuncia, Ele vai ao encontro. João Batista esperava que os outros viessem até ele; Jesus vai ao encontro do povo. Deus não abandona o Seu povo, Deus cuida do Seu povo, Deus salva, Deus tem carinho. Antes, o povo jazia, estava parado, como morto. Mas o tempo de ficar parado acabou! Jesus coloca o povo para caminhar. E caminhando pelas margens do lago, Ele encontra dois irmãos, Simão Pedro e André. A Palavra de Deus os chama e eles largam as redes. O mesmo acontece com outros dois irmãos, Tiago e João: estavam lá, consertando as redes; Jesus os chama, e eles largam as redes e o pai. Olha que interessante! As redes e o pai: tudo o que pode, de algum modo, impedi-los de seguir Jesus. Para andar, para seguir Jesus, nós temos que abandonar coisas velhas, coisas que nos amarram: raivas, ódio, inveja, vitimismos... Temos que largar tudo isso, abraçar Jesus e começar a seguir o caminho Dele. Amar os outros, porque amar nos coloca em movimento imediatamente. Quem ama se mexe, sai das trevas, caminha. E é isso o que Jesus quer! Isto é a vida de uma paróquia: caminhar atrás de Jesus para ser, neste mundo, neste tempo, uma luz! Luz para este bairro, para nossa rua, para o nosso vizinho, para o nosso irmão, para nossa mãe, para nosso marido ou esposa. Ser luz!
Em 1940, o povo daquele tempo aprendeu a ser luz; em 1950, 1960... Agora, é o nosso tempo! Nós temos que, neste tempo, ser luz. O tempo que passou não era melhor que o nosso, era só diferente. E o tempo que virá também será diferente. Nós temos que responder pelo hoje! Este tempo foi dado para nós, e temos que tentar fazer nosso melhor. Vamos resolver o mundo? Não. Isso é lá com Deus... Mas podemos dar nossa contribuição. É isso que Deus espera de nós. São Pedro já morreu, há quase 2.000 anos; mas ele deu a contribuição dele. São Bento morreu há mais de 1.400 anos; São Francisco, há 800 anos; Santa Tereza D'Ávila, há 500 anos; Santa Teresinha, há pouco mais de 100 anos. Eles deram a contribuição deles. Hoje, nós temos que dar a nossa contribuição. E Deus quer, no nosso meio, muitas Teresas, muitos Franciscos, muitos Bentos, muitos Pedros! Toda pessoa que ama e faz o bem, hoje, é uma outra Teresa, um outro Francisco, um outro Bento, um outro Pedro.
E outra coisa muito importante é a unidade. Na segunda leitura [1Cor 1, 10-3. 17], São Paulo puxa a orelha do pessoal. "Vocês ficam dizendo: 'Eu sou do grupo de Paulo, eu sou do grupo de Apolo, eu sou do grupo de Pedro'... E ainda tem quem diga: 'Eu sou do grupo de Cristo'. Nós temos que aprender que quem morreu por nós na cruz foi Nosso Senhor, Jesus Cristo! Só Ele!". Nós podemos ter muitas espiritualidades, muitas teologias na Igreja... Mas Jesus é o nosso ponto de partida e de chegada. Jesus! Nós temos o Apostolado da Oração, a Renovação Carismática, os Vicentinos e tantos outros grupos. Mas o que conta não é a espiritualidade de cada grupo, e sim que todos queiram seguir Jesus e caminhar junto com os outros! O meu caminho não é melhor que o teu, porque todos nós seguimos Jesus. Isto é muito importante: seguimos Jesus!
Infelizmente, um erro muito grande que está acontecendo é esta quase contraposição entre Jesus e Maria. Isso é bobagem! Jesus e Maria têm uma só vontade. O coração de Maria bate no mesmo ritmo do coração de Jesus. O que Jesus quer, Maria também quer! E não existe contraposição. Maria não é uma corrupta da graça! Tem muita gente que diz: "Se você não conseguir com Jesus, peça para Maria que ela dá um jeitinho". Isso é corrupção! A Mãe de Jesus não é corrupta! A vontade de Jesus é a vontade de Maria. E se você for até ela procurando um jeitinho, sabe o que ela vai te dizer? "Faça o que Ele vos disser!". Não há outro caminho, só o de Jesus!
Vamos pedir a Jesus, adorando à Santíssima Trindade; à Virgem Maria, que cuida de nós como mãe; e à Santa Teresinha, que é padroeira desta paróquia, que nos ensinem a seguir Jesus na humildade; que nos façam ser, para este tempo, uma luz, para que a próxima geração, que vai celebrar o centenário desta paróquia daqui a 20 anos, possa também, animada por aquilo que nós fizemos, testemunhar Jesus!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 3º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 25/01/2020 (sábado, missa das 16h, em Ação de Graças pelo Aniversário de 80 Anos da Paróquia Santa Teresinha).

Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
19/01/2020
Hoje celebramos o dia do Senhor. Vamos compartilhar um pouco aquilo que acabamos de ouvir... A Primeira Leitura [Is 49,3.5-6] apresenta um servo misterioso de Deus, que é enviado para recuperar o ânimo daqueles que se sentiam afligidos pela escravidão na Babilônia, para reconduzi-los a Israel e fazê-los permanecer firmes na aliança, por isso ele é enviado como um espírito do Senhor, mas também como luz, que mostra o caminho que leva a uma vida correta, tranquila e serena. O trecho do Evangelho de hoje [Jo 1,29-34] nos apresenta não um enviado qualquer, mas o filho de Deus, que assumiu a nossa natureza humana e quer caminhar conosco para nos conduzir, não somente ao encontro de Deus, mas também a uma vida digna, uma vida tranquila e serena como filhos de Deus. Ele é apresentado por João como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, mas muitas vezes pensamos que Jesus veio tirar os pecados e veio, mas de um modo espacial o pecado que produz todo o desequilíbrio dentro do ser humano e estraga a vida que Deus colocou: é aquela desobediência, aquela não aceitação de Deus, lá da origem da história da humanidade. Jesus, portanto, vem nos libertar profundamente para que diz São Paulo, no Batismo, emergidos da morte com Jesus Cristo também somos ressuscitados para uma vida nova. Se Jesus é revestido pelo poder de Deus e seu Espírito, também nós fomos revestidos de Deus, não somente no dia da Crisma, mas já a partir do nosso Batismo recebemos o dom do Espírito. Então, nós somos pessoas, não somente criaturas, somos filhos muito queridos por Deus e como tal devemos viver como Jesus viveu, fazendo o bem a todos, procurando em Sua vida e Seus ensinamentos nos orientar sempre para o bem. Assim, em nome da nossa realidade de filhos de Deus revestidos pela plenitude do Espírito do Senhor, devemos viver como Ele: essa é nossa missão.
Muitas vezes me perguntam, como faço para descobrir a vontade de Deus? É vive-Lo no dia a dia, honestamente, com coragem, dedicação e doação. Ele é chamado também Cordeiro, que lembra o cordeiro que foi imolado no Egito, e, através do seu sangue, que foi colocado nas portas foi o sinal que lá tinha um que era amado por Deus e, portanto, deveria ser libertado. Aqui paira o sacrifício de Jesus, que com sua vida e não só com seus ensinamentos, mas de modo especial derramando todo o seu sangue pinga toda a maldade que está no coração do ser humano. Esse sacrifício que estamos renovando hoje, na Eucaristia, não deveria ser somente lembrança, deveria ser a atualização desse grande momento amoroso de Deus para conosco, mas também um compromisso de viver aquilo que estamos celebrando e, portanto, conduzir nossa vida com generosidade. Todos os nossos sacrifícios, todos os nossos gestos pequenos podem ser um grande momento e uma grande descoberta do que Deus faz conosco.
Portanto nos sentimos mais empenhados, a partir da Eucaristia, responsáveis pelo grande dom através do qual o Senhor nos chama, mas Ele também nos envia como Jesus para que outros descubram e vivam com alegria e paz a realidade de filhos de Deus.
Homilia: Pe. Jaime Pellin – 2° Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 19/01/2020 (Domingo, missa das 10h).

Deus caminha conosco no dia a dia
12/01/2020
Na escritura, temos algumas interpretações meio confusas. Às vezes, por erro. Por exemplo, em hebraico, não escrevemos as vogais, só as consoantes. Se está escrito C e S, na tradução, completa-se com as vogais: "Ele tem uma cAsA; mas se trocarem as vogais, pode aparecer: "Ele tem um cAsO", e ficar bem diferente! Em um texto que falava de Moisés, havia uma dessas palavrinhas somente com consoantes: "Moisés, quando vai à presença de Deus, na tenda, sai com o rosto...". No erro de tradução, escreveram: " chifrudo" – e é comum encontrarmos algumas pinturas e imagens de Moisés, inclusive a famosa estátua de Michelangelo, em que ele tem chifres; mas trocando as vogais, temos a palavra certa: "luminoso". Olha que diferença!
Nesta passagem do Evangelho de hoje [Mt 3, 13-17], temos algo parecido. "O Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba". Na verdade, o Espírito Santo não virou um passarinho! O correto é "como se fosse uma pomba". Mas ficamos com essa interpretação errada, e hoje é comum vermos uma pomba representando o Espírito Santo. "Como se fosse uma pomba". E por que uma pomba? A pomba é, sobretudo, um animal pacífico. E quando ela desce do céu, vai direto para o ninho, sem ficar dando voltas. A ideia é exatamente esta: o Espírito de Deus desceu sobre Jesus como uma pomba, direto Nele, sem rodeios, e Nele permaneceu.
No Batismo, nós temos a manifestação da Santíssima Trindade: o Pai, que diz "Eis meu Filho Amado"; o Espírito Santo, que é mandado pelo Pai; e o verbo encarnado, que é Jesus. Não é que Jesus não tinha o Espírito Santo antes do Batismo, nem que Ele não era Deus. Mas esse momento marca o início da missão pública de Jesus. E antes? Jesus passou 30 anos na vida comum do dia a dia. Você já pensou nisso? Uma criança que brinca com as outras, que vai à sinagoga rezar todo sábado, um rapaz que aprende o trabalho do pai, que ajuda quando é tempo de colheita... Era Deus no meio deles! E ninguém via Jesus como Deus, viam-no como outro rapaz qualquer. Deus passa no nosso dia a dia, Deus vive no nosso dia a dia e Deus santifica nossa vida, nossa vida comum. Você não tem que ser um "supermissionário" ou o presidente da república; na sua vida cotidiana, Deus caminha contigo, e te salva aí. Dando o exemplo, anunciando a Palavra e ajudando os outros você é sinal de salvação na vida comum do dia a dia.
No Batismo, o Espírito de Deus mostra o começo da missão pública de Jesus. Ele permaneceu algum tempo com João Batista, mas os estudiosos da Bíblia não sabem ao certo quanto, pode ter sido alguns dias, algumas semanas ou até alguns meses. Depois, Jesus vai para o deserto por 40 dias. Nestes 40 dias, João é preso a mando de Herodes – a quem Jesus chamou de raposa em outra ocasião. Herodes não queria problema com Roma (que comandava a Palestina àquela época), e mandava prender e degolar os líderes de grupos que começavam a se organizar, para dispersá-los. Com João Batista não foi diferente, pois tinha muita gente indo se batizar com ele, inclusive pessoas importantes, como chefes dos sacerdotes e fariseus. Por isso, Herodes não teve dúvida: prendeu-o e, depois, cortou sua cabeça – com Herodíades ou sem Herodíades, o destino de João Batista seria o mesmo.
Com a prisão de João, Jesus volta do deserto e começa a anunciar ao povo: "Convertam-se! O Reino de Deus está próximo". Qual era a ideia de Messias que aquele povo tinha? Um Messias político, que tivesse o exército na mão, que iria subjugar todos os outros povos do mundo e colocá-los debaixo dos pés de Israel, que iria reformar todo o culto do Templo de Jerusalém e trazer de volta a glória da religião hebraica. Só que os planos de Deus são outros... E o que o Senhor tinha anunciado pelo profeta Isaías, na primeira leitura de hoje [Is 42, 1-4. 6-7]? "Nele se compraz minh'alma; pus meu espírito sobre ele; ele promoverá o julgamento das nações". A ideia que o povo tinha quando pensava nisso é que o Messias ia destruir todos que não fossem hebreus. Mas, continuando a leitura, temos um julgamento diferente: "Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas". Que julgamento esquisito... "Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega", ou seja, onde há esperança. Jesus, como juiz, vai procurar em cada um de nós – e procura hoje, porque nós hoje estamos sob julgamento de Jesus –, vai procurar no nosso coração um sinal de esperança. Ele não destrói o pouco de fé que nós temos, mas ampara, cuida, para que este pequeno pavio possa crescer como luz, para que esta cana torta, meio rachada, possa florescer. Esse é o julgamento de Deus, e Ele não precisa de gritaria para julgar. Os juízes do mundo às vezes têm que gritar, têm que bater o martelo. Jesus não precisa disso. Diante da cruz de Jesus não há gritaria. É lá que Ele julga o mundo, cada um de nós somos julgados a cada instante diante da cruz. E lá não tem grito. Diante da cruz do Senhor, cada um de nós aparece exatamente como é, sem máscaras, sem mentiras, sem conceitos nem preconceitos: como nós somos. E não é preciso gritar, não é preciso acusações. Cada um aparece transparente diante da cruz. Para Deus, é muito fácil julgar. Não é preciso dizer nada. Nós somos o que somos diante Dele.
E o que nos dá alegria e esperança é saber que Ele cuida de cada um de nós. Esse é o Messias que o Pai nos deu! O caminho de Deus é outro, diferente do nosso. E o que nós temos que fazer? Temos que pedir a Deus para, em primeiro lugar, ouvir Sua Palavra. Para isso, temos que ler a Bíblia todos os dias! "Ah, padre, mas é muito grande!"... A Bíblia é mais curta que a trilogia de O Senhor dos Anéis, por exemplo. "Ah, padre, mas eu não entendo nada"... Não tem problema, leia, simplesmente leia: a Palavra de Deus tem tanta força que ela vai plantar alguma semente no teu coração! Disto você tenha certeza: a Palavra de Deus é poderosa, ela vai colocar uma semente no teu coração, leia! "Ai, padre, por onde eu começo?". Pela 1ª página. "E onde eu termino?". Na última. Primeira frase da Bíblia: "No princípio, Deus criou o céu e a terra"; e a última: "Maranathá! Vem Senhor Jesus!". Leia! Escutar a Palavra é a primeira coisa. João escutou: "Este é o meu Filho Amado".
Depois, pedir ao Espírito Santo que nós estejamos com o coração aberto para Deus. Deus fala! Pode não falar com a voz, igual à nossa, mas Ele nos mostra as situações, mostra nossa vida, os nossos defeitos, os nossos sonhos, as pessoas que estão em volta de nós, as necessidades dos outros... O Espírito Santo mostra. Mas precisamos pedir: "Abre os meus olhos", porque às vezes Ele mostra mas não queremos ver... "Abre os meus olhos para que eu veja o que Você quer que eu veja". Ser dóceis ao Espírito.
E, depois, confessar Jesus como nosso Senhor. Não só da boca para fora, porque é muito fácil falar: "Jesus Cristo é o Senhor". Jesus é Senhor quando nós colocamos o Seu mandamento em prática: "Amai-vos uns aos outros. Não existe maior amor do que dar a vida por aqueles que amamos".
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Batismo do Senhor (Ano A) – 12/01/2020 (Domingo, missa das 10h).

A manifestação de Deus é a nossa esperança
05/01/2020
Vocês sabem como é que a gente calcula a Páscoa? Todo ano é uma data diferente. Por que será? Porque nós, como os hebreus, para calcular a Páscoa, calculamos através dos ciclos da lua. Jesus morreu na véspera da Páscoa dos hebreus, no sábado, conhecido para nós como “Sábado de Aleluia". Jesus foi assassinado na sexta-feira. Então, como nós calculamos? A Páscoa é no primeiro domingo depois da lua cheia do ciclo lunar que começa em março. Então a Páscoa pode ser do meio para frente de março ou até, no máximo, 25 de abril, porque pode acontecer que o ciclo lunar de março comece no dia 28 de março, por isso que vai pro meio de abril. Às vezes o ciclo lunar começa no dia 01 de março, aí a Páscoa é logo no começo de abril. Então é assim que a gente calcula. Muito bem...
Nos primeiros séculos do cristianismo, o Natal era comemorado junto com a Epifania, dia 06 de janeiro, a manifestação de Deus para os povos. Epifania significa, em grego, "manifestação", é a manifestação de Deus, porque Deus apareceu. Então, a celebração dos magos que vão até Belém, adorar a Jesus, é a grande celebração da luz. Todos os povos são chamados à salvação e não apenas o povo hebreu. O Evangelho de São Mateus vai insistir muito sobre a universalidade da salvação. Todos os povos são chamados à salvação. Os mulçumanos também? Sim! Outras seitas e religiões? Também! Todo mundo! Todos são chamados à salvação! E a partir de onde Deus chama todos à salvação? A partir de baixo! Se nós lermos o Salmo de hoje [Sl 71(72)], ele fala: "Libertará o indigente que suplica e o pobre ao qual ninguém quer ajudar". Olha que frase pesada... “Terá pena do indigente e do infeliz e a vida dos humildes salvará”. O que quer dizer isso? Que Deus vai acabar com os outros? Não! Deus vai cuidar primeiro daqueles que estão sofrendo mais, porque Deus é justo. Interessante. Como você julga se um país tem justiça e honestidade? Você olha o número de pobres e de desempregados. Quanto mais pobres e mais desempregados o país tem, mais injusto e corrupto. Sabiam disso? O que seria do Brasil? De fato, não somos os melhores do mundo, porque aqui tem bastante desemprego e pobreza e nós temos muita gente na miséria também. Miséria significa uma pessoa que vive com muito menos que um salário mínimo por mês, bem menos. Então, o índice de justiça e honestidade em um país é se tiver poucos pobres ou nenhum, pois isso significa que os governantes cuidam do bem de todos: todos têm que ter escola, casa, comida, entenderam? E você deve se preocupar primeiro com quem? Com quem não tem! Percebem? Isso é justiça. Deus nos ensina um modelo econômico e político: cuide primeiro dos pobres; se você distribuir a renda para os pobres, melhorando a vida dos pobres, todo o povo vai nivelar. Entenderam? É o contrário do que a gente pensa: "Vai ajudar os pobres, vai tirar do meu dinheiro", não, pelo contrário! Quanto mais se eleva a situação dos pobres, melhor a sociedade vive. Então, Deus salva a partir de baixo. Chama todos à salvação, Deus cuida a partir de baixo sem excluir ninguém. Quem começa por cima, exclui. A manifestação de Deus é isso: todos têm que entrar para a salvação. Nós, cristãos, temos a missão de ser uma luz e anunciar para todos o amor e a fidelidade de Deus, acolher as pessoas, respeitar as pessoas nas várias diferenças que tem. Quando as pessoas se sentirem acolhidas e respeitadas, elas louvam a Deus: esse é o caminho de Jesus.
Nós temos algumas coisas mais no Evangelho [Mt 2,1-12], uma figura interessante: o rei Herodes. E também, vocês não acham interessante esse fato: “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe”, então perguntamos: onde estava São José? É de propósito que José não aparece nessa parte. Por quê? Eles estão procurando o rei. Em Israel, e em outros países depois de Constantinopla, o rei tem muitas esposas: tem a primeira, que vai dar o herdeiro, e as outras... E quem é a rainha? Não é nenhuma esposa, é a mãe do rei. Entenderam? Maria é a rainha. Então, se eles estão levando esses dons para o rei de Israel que nasceu, quem eles vão homenagear junto com o rei? A rainha! Lógico que Jesus não é rei do nosso modo de pensar e nem Maria é rainha do jeito nosso de pensar. O reinado de Jesus acontece na cruz. Maria é rainha perto da cruz. É a cruz que é o trono de Deus. E esses magos do Oriente, trazem três dons: ouro, porque Jesus é rei; incenso, porque reconhecem nele a divindade; e, a mirra, porque é homem e deve morrer. Então, nos três dons dos magos, nós temos a realeza que Jesus exerce no serviço, a divindade de Jesus que é a revelação do Pai, e a mirra que é a cruz. Os magos já trazem para Jesus aquilo que é sua missão. Entenderam?
Vamos pedir ao Senhor que nos ajude a realmente ter a consciência de que a salvação é para todos. Nós temos que ser anunciadores dessa salvação através dos nossos atos, testemunhos e, depois, nossas palavras e não ao contrário. Hoje em dia a gente vê muita conversa e pouco atos. Precisamos dar testemunho através da vida, dos nossos gestos e depois a palavra para que sejam palavras verdadeiras, justas e que possam iluminar o coração dos outros.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Epifania do Senhor (Ano A) – 05/01/2020 (Domingo, missa às 10h).

Com Maria, aprender o discipulado e contemplar os sinais de Deus
31/12/2019
Os pastores eram pessoas amaldiçoadas, bandidos e alguns até assassinos, tinham um medo terrível de Deus, pois os grandes da religião diziam que eles seriam fulminados no dia da manifestação de Deus. Nessa passagem do Evangelho [Lc 2,16-21], quando os anjos aparecem no céu, eles pensaram que havia acabado para eles, no entanto, o anjo não os destruiu, mas anunciou que Deus os ama e que eles devem procurar esse sinal que Deus deu. Essa gente leva um susto com a manifestação da bondade de Deus. Quantas vezes nós realmente ouvimos para nossa vida essas palavras dos anjos que são dirigidas a nós? “Nasceu pra vocês o Salvador”. Jesus é Yeshua, que quer dizer “Deus salva”! Deus não pede, não julga, não condena, Ele salva. Saber contemplar a Salvação de Deus no nosso dia a dia, nas dificuldades, nos trabalhos, em tantas coisas difíceis, doença, morte, desemprego: isso é a primeira coisa que aprendemos com esses pastores que ouvem a voz do anjos, se surpreendendo, pois Deus não os destrói, mas faz deles anunciadores de uma grande alegria. Os pastores vão lá ver Jesus e voltam louvando a Deus. A vida desses homens se tornou um louvor à Deus, mas a vida deles não melhorou não, eles continuaram pastores no meio de um sofrimento louco, mas com um coração novo, com uma esperança nova, sabendo que não são malditos e sim que foram salvos.
São Paulo nos diz, na Segunda Leitura [Gl 4,4-7], que Deus mandou seu Filho para que nós fossemos adotados filhos, mais do que isso mandou o Espírito do seu Filho. Jesus chama o Pai de Abbá. Como uma criança tem confiança em seu pai, é esse o Abbá, é esse o seu Pai, e o seu Espírito mora em nós para que possamos ser o bem e a luz para os outros. Esse é o grande anúncio que Deus fez aos pastores, que era considerados malditos, e nós também somos chamados a viver dessa alegria.
A outra atitude que observamos no Evangelho de hoje é a de Maria, que via todas as coisas e contemplava tudo no silêncio do seu coração, em oração. Devemos saber contemplar a ação de Deus na nossa vida, então por que o segredo e o silêncio? Porque Deus é maior do que nós, não somos medida para Deus, Ele é maior, por isso devemos ter atitude de escuta e contemplação da ação de Deus. Maria é modelo de discípula. Maria e São José são pessoas que vivem e acreditam na salvação de Deus e contemplam constantemente as ações de Deus em sua vida, na vida da sua família, na comunidade e na vida do povo. No Brasil, perdemos muito o sentido de povo, esvaziaram esses valores do nosso coração, mas o nosso povo também é objeto da salvação de Deus e somos convidados a ver esses sinais e contemplá-los como Maria.
A Primeira Leitura [Nm 6,22-27] é a bênção dos livros dos números, com a qual São Francisco abençoava os frades – muitos a conhecem como bênção de São Francisco, mas é a bênção de Aarão, o primeiro sumo sacerdote: “O Senhor vos abençoe e vos guarde, volte para vós o seu rosto e tenha piedade de vós, faça brilhar sobre vós a sua faça e vos conceda paz”. O Trono de Deus se assenta sobre a paz, que é a abundância em todas as coisas. Alegria, serenidade, comida suficiente, saúde, tudo de bom que se pode pensar, paz com os amigos e até com os inimigos, boa colheita, bom trabalho é o Shalom de Deus nesse tempo, depois seremos mergulhados na paz de Deus.
No último dia do ano, é tempo de olhar pra trás um pouco... Quantas crianças nasceram? Isso nos dá esperança! Quantos se casaram? Mas também quantas pessoas não chegaram ao dia 31 de dezembro? Nós não sabemos, é a vida e Deus passa no meio dessa vida. Contemplar a ação de Deus na nossa vida, louvar a Deus pela sua salvação em nossa vida e fazer isso com Maria, onde celebramos a maternidade divina. Maria é o que é porque é mãe de Jesus, Deus da eternidade preparou uma mãe digna do seu filho, porque ele queria que seu filho tivesse uma mãe, uma mãe como todos nós, mas em Maria foi por uma ação que só Deus pode fazer, o filho que nasceu dela também era Deus – por isso, é uma maternidades divina, pois Jesus é Deus, existia na eternidade, se esvaziou de si mesmo e é gerado no tempo no seio da Virgem. Nasce homem como nós, em um parto que é um mistério de Deus, sem violar sua mãe, mas em um parto humano. No ventre dessa mulher, Deus fez o milagre que até os anjos adoram. Temos que pensar que o Senhor do céu e da terra foi cuidado e amamentado por mãe humana. Isso é uma coisa que deixa a gente de boca aberta, é singelo o amor de uma mãe pelo filho, e Deus quis ter também ele, esse amor de mãe. Por isso nós, cristão católicos, temos tanta veneração pela mãe de Deus. Contemplar essa maravilha que Deus fez nessa mulher e como Deus quis ser amado por essa mulher ao ponto de querer Maria perto do caminho dele. Ela que, muitas vezes, é quase a representante do povo fiel. A ação de Maria espelha aquilo que se espera do povo fiel, nas Bodas de Canaã, aos pés da cruz, e depois, na comunidade dos irmãos. Maria não se coloca acima de ninguém, ela está com os irmãos. A materialidade espiritual de Maria é um estar conosco, indicando o caminho de Jesus. A verdadeira devoção a Maria é seguir Jesus e ter a coragem de segui-lo até a cruz, sem nunca abandonar a comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus, é isso que Maria nos ensina. É a discípula que leva pelo caminho, mas sem mentiras, pode levar para cruz, mas ela estará lá conosco também, e a vida do discípulo se vive em comunidade, com todos os nossos defeitos, com todas as nossas virtudes e valores, isso faz parte do ser humano, Deus nos ama também por isso. Vamos pedir a Maria que ela nos ajude a louvar a Deus por sua ação em nossa vida e a meditar sempre a ação de Deus para seguir os passos de Jesus!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Santa Mãe de Deus (Ano A) - 31/12/2019 (Terça-feira, missa às 19h).

Família: onde se aprende o respeito, o amor e o perdão
29/12/2019
No dia de hoje, relembramos a Sagrada Família de Jesus, Maria e José. E cabe começarmos falando que São José não tinha mais do que 15 ou 16 anos quando aconteceram os fatos narrados no Evangelho [Mt 2, 13-15.19-23]. Maria não tinha mais do que 12 ou 13, que era a idade com a qual as mulheres casavam e logo tinham o primeiro filho. Primeiro, de um dia para o outro, José encontra sua mulher grávida sem ele ter feito nada que justificasse. José pensa: “o que eu vou fazer agora? Vou declarar ela ao público para que a matem a pedradas? Ou eu dou a carta de divórcio e ela pode se casar com quem ela quiser?”. Então o anjo de Deus, em sonho, vem e fala para ele: “calma, não tenha medo, pois isto é obra do Espírito de Deus. Acolha esta mulher como sua esposa e dê a esta criança a sua descendência. Você será como um pai para esta criança”. E José aceitou a vontade de Deus.
Veio o édito de Augusto, já nas últimas semanas desta gravidez e o casal teve que ir a Belém, a quilômetros de distância, indo pelas montanhas em uma grande caravana. Esta mulher chega a Belém e não consegue se hospedar em lugar algum e consegue dar à luz em um estábulo no meio de um campo, chegam os pastores – que não eram muito bem vistos naquela época – glorificando a Deus. Depois ainda chegam magos do oriente, que eram considerados meio “bruxos”.
E José agora precisava criar esta criança e começa a procurar o que fazer. Ele era carpinteiro, profissão que havia aprendido com o pai. Assim como Jesus veio a aprender com São José. E, em uma bela noite, outro sonho aconteceu. “Fuja no meio da noite pois estão querendo matar o menino”. É muito significativa esta imagem de pegar o menino e a mãe e fugir para o Egito. Imaginem nós que temos pesadelos à noite e que, por vezes, acordamos tremendo. Imagine como se sentiu este rapaz, que acorda Maria, coloca o menino no lombo de um jumentinho, junta os poucos itens que possui e, durante a noite, rumam em fuga. Viajar à noite era um perigo, uma loucura. EM uma noite sem lua, isto se tornava ainda pior.
Quando os magos vieram, seguindo a luz da estrela e a ciência que eles tinham, eles estavam procurando Deus. Porque Deus se deixa encontrar. Todos os povos adoravam divindades porque Deus deixa atrás de si um rastro para que nós possamos encontrá-lo. Para que conheçamos o verdadeiro Deus, precisamos ouvir a Sua Palavra. Mas eles chegam em Jerusalém e a estrela desaparece. Jerusalém, que deveria ser a cidade da luz, a cidade que ilumina os povos, se tornou lugar das trevas. Porém, nem as trevas deste mundo conseguem esconder a Palavra de Deus. E então os padres do templo, sacerdotes, teólogos vão falar para estes magos que a resposta está em Belém, pois a Palavra diz: “e tu, Belém, não és a menor das terras de Judá; de ti nascerá o Messias”. Então a Palavra ilumina. Eles saem daquela cidade de trevas e encontram a estrela de novo e a seguem, encontrando Maria, José e o menino e, em sonho, são advertidos pelo anjo que não voltem para a cidade das trevas. Lá só existe quem esteja maquinando a morte.
E, de fato, quando Herodes percebeu que os magos haviam ido embora e “passado a perna nele”, pediu para matarem todas as crianças que tinham menos de 2 anos. Herodes já havia mandado matar uma esposa e quatro filhos que ele havia suspeitado que planejavam dar um golpe nele. Ele morria de medo de perder o governo. Este é o poder das trevas.
É interessante ver que os caminhos de Deus são bem estranhos. Deus não dá uma ordem para os anjos Dele para que matem estes vilões. Deus não faz isso. Deus dá um sonho para São José. “Levanta e foge”. Quantas vezes em nossa vida nós não tivemos sonhos que mudaram o nosso caminho? E a gente sabe que aquele sonho está falando alguma coisa muito profunda para a gente. Por quê? Porque Deus passa no meio das panelas de nossa casa, como dizia Santa Teresa d’Ávila, a quem Santa Teresinha tinha grande devoção. E Deus também passa no meio de nossas folhas no escritório. Deus passa em nossas ferramentas na oficina. Deus passa no meio das nossas coisas, na nossa vida de todo dia. E é capaz de mudar a nossa vida. E nós devemos acreditar nisto.
Então São José pega esta criança e a mãe e passa a noite viajando, atravessando a fronteira com o Egito, onde hoje é a faixa de Gaza, cenário de vários problemas atualmente. Mas eles estavam no Egito e Herodes não poderia fazer mais nada com a criança. Agora pensavam na dificuldade que foi e no que fariam para sua subsistência. E, assim, São José acreditou na Palavra de Deus e puderam viver em paz. Puderam educar este filho. Nós sabemos que quando Jesus completou 12 anos, eles realizaram esta peregrinação para Jerusalém, o que mostra que, quando José morre, Jesus já era maior de idade, com 12 anos. Podia receber herança e testemunhar em tribunal. E se o pai morresse, a mãe se tornava propriedade do filho.
Nós não podemos querer comparar as nossas famílias com a família de Nazaré. Nós temos uma imagem romântica de família, que nasceu depois de 1850, com o chamado puritanismo Vitoriano, da rainha Vitória, na Inglaterra. É o que chamamos de família tradicional: papai, mamãe e filhos. Mas também temos situações em que temos os filhos da primeira união, da segunda união, da terceira união. A realidade atual é essa. E é para essa realidade que nós temos que dar a resposta.
Seja qual for a circunstância, quem vai nos iluminar muito sobre a dinâmica que deve haver dentro da família é essa leitura que nós fizemos de São Paulo [Cl 3,12-21]. Nós, às vezes, chamamos São Paulo de misógino, mas isso não é verdade: São Paulo é um dos homens que mais defende as mulheres. “Revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente”. Nas nossas famílias, estejam elas como estiverem, esses valores aqui nós temos que cultivar: misericórdia; bondade: será que nós somos bons uns com os outros? Dentro da família, nós somos bons uns com os outros? Ou nós só queremos e exigimos?; humildade: ‘ah, eu não dou meu braço a torcer, eu tenho que ter a última palavra custe o que custar’. Nós temos que saber escutar uns aos outros, saber nos confrontar com respeito; mansidão – a mansidão é uma forma de exercer o poder, Jesus é manso e os mansos possuirão a terra.
Poder é serviço. Você está disposto a ser um servo dentro da sua família? Servo e humilde não significa ser bobo, viu? Muita gente pensa que ser manso e humilde é ser bobo, mas não é: é servir! E como é que a gente serve, por exemplo, aos filhos? É fazer tudo o que os filhos querem? Não! Pai e mãe não pode ser amiguinho de filho. Se pai e mãe é amiguinho de filho, estraga os filhos. Pai e mãe têm que ser quem dá regras, limites e orientações: isso é ser pai e mãe. É mais fácil ser amiguinho, deixa fazer o que quer e aí cresce e se depara com muitas dificuldades na vida. Lembrem-se sempre disso.
São Paulo ainda diz “perdoai-vos”. E a família tem que ser lugar de perdão, por quê? Qual de nós é perfeito? Qual de nós não erra? Qual de nós não tem alguma coisa lá no armário? Por que eu tenho que exigir que a outra pessoa seja perfeita ou, pior ainda, que a pessoa mude do dia para a noite se eu levo 20 anos para mudar uma coisinha de nada e, às vezes, nem consigo? É complicado, não é? Perdão é recordar que eu sou limitado e que o outro é limitado também. Mas se tem humildade, se tem paciência, a gente consegue fazer um caminho juntos. Sobretudo, família é lugar de amor. E deixa-me lembrar que amor não é moleza, amor verdadeiro é exigente e nos ajuda a crescer.
Esses valores foram vividos na família de Nazaré nos modelos absolutos daquele tempo: quando mulher e filho eram propriedade do marido, quando o marido podia vender o filho de menos de 12 anos como escravo para pagar as dívidas, quando a mulher passava de propriedade do pai para o marido e, se ficasse viúva, virava propriedade do filho de 12 anos, se tinha um. Era um belo problema. Esse modelo de família hoje é impensável, mas era o modelo da família de Nazaré e eles conseguiram viver esses valores de São Paulo na família daquele jeito. Hoje nós somos desafiados a viver esses valores de São Paulo na família que nós temos porque é possível, sobretudo hoje, aprender a respeitar as pessoas.
A família tem que ser lugar do respeito. A gente assusta quase todos os dias com essa violência absurda contra as mulheres. Isso é resultado da falta de respeito dentro de casa, falta de dar valores para os filhos dentro de casa. Nos assustamos também com o pessoal que continua fazendo bullying e depois matando negros, gays, estrangeiros. Pergunte para os estrangeiros se é fácil viver aqui no Brasil. Nós somos extremamente preconceituosos e isso a gente aprende em casa. O que nós temos que fazer? Nos policiar muito e ensinar os nossos filhos a ter respeito pelos outros e pelas diferenças das pessoas. Não é porque a pessoa tem uma cor de pele diferente que ela tem que ser ridicularizada. Não é porque ela fala o português diferente porque veio do Haiti que eu tenho que achar que ela está vindo aqui roubar o emprego dos brasileiros. É possível que no Brasil ainda matem homossexuais a paulada no meio da rua? Só porque as pessoas são diferentes do que é considerado tradicional. Perguntem para uma criança gordinha o quanto ela sofre na escola. Isso é falta de respeito. E nós deixamos, por vezes, de ensinar para os nossos filhos o respeito às diferenças.
Eu lembro que meu pai falava: não pode rir de pessoas com defeito físico. Eu era pequeno, mas gravei isso. Mas não precisava meu pai falar isso pois está lá no Livro dos Provérbios. Tem uma passagem que diz “não coloque um bastão na frente de um cego” porque ele vai cair. A Bíblia já condenava qualquer tipo de discriminação das pessoas por defeito ou condições próprias.
Família é lugar de respeito, educação ao respeito. Mas aí vem a pergunta: a gente quer mesmo toda essa dor de cabeça? Porque dá dor de cabeça, não é fácil não. É mais fácil ser amiguinho e destruir os filhos. Sim, porque se você é amiguinho, eles vão ser destruídos mais tarde e você só vai ficar se lamentando pois, sem querer, você educou mal.
Olha a responsabilidade que nós temos: falar da Sagrada Família ainda é atual, não é ideia romântica de “Jesus, José e Maria, salva as famílias e a nossa também”. Na verdade, nós precisamos pedir: me ajude a ser um bom pai e uma boa mãe. E os filhos: me ajude a ser um bom filho, me ajude a escutar os meus pais. Esse é o caminho. O caminho de Deus é exigente, mas ele propicia que nos tornemos verdadeiros seres humanos. Caso contrário, vamos ser feito bichos que saem dando paulada nos outros no meio da rua, excluindo as pessoas, dizendo que determinada cor é de segunda classe ou aquela gente de não sei onde não presta. E isto é perigoso. Por isso, vamos pedir a Jesus, José e Maria que nos ajudem a crescer no amor, no respeito e no perdão.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Sagrada Família (Ano A) - 29/12/2019 (Domingo, missa às 18h30).

Deus se Revela entre os Últimos para Salvar a Todos
25/12/2019
O que tem de interessante neste texto do Evangelho? São João está nos dizendo que a revelação de Deus vem por Jesus. Jesus é a revelação do Pai. Deus ao longo da história falou para os seres humanos sobre muitos mortos, e os seres humanos intuíram muitas coisas, tanto que quase todos os povos adoravam deuses, porque intuíam uma coisa maior. Para o povo de Israel, Deus falou pelos patriarcas, pelos profetas, pelos escritores sagrados, pelos salmistas. Deus mostrou sua fidelidade, particularmente com esse povo, fez desse povo modelo, não que os outros povos não fossem importantes, mas fez desse povo modelo, porque Deus ama aquele povo, não porque ele era melhor, mas para que eles servissem como luz que guiaria os outros. Mas isso é sempre sombra: como nós podemos conhecer Deus? Nós, seres humanos, falamos de Deus sempre por analogia: "a luz brilha" e nós dizemos que Deus brilha, "o sol é quente" e nós dizemos que Deus é calor, "a vida floresce" e nós dizemos que Deus é a vida. Mas Deus lhe atingiu? Essa é a questão que São João coloca. Ninguém viu Deus. Existe uma frase, lá no livro do Êxodo, quando Moisés pede para Deus: “Deixa-me contemplar sua face", aí Deus fala para ele: "Eu vou passar diante de ti com todo meu esplendor, mas você vai ficar escondido na rocha". E diz que quando Deus passou, Ele colocou a mão na rocha, tampando a entrada da gruta onde estavam. E Deus disse: "Ninguém pode ver meu rosto e continuar vivo". Ninguém pode contemplar a intimidade de Deus. São João vai dizer: "um pode, que é aquele que é igual ao Pai, que vive na eternidade olhando para o rosto do Pai", por quê? Porque Ele é igual ao Pai. Deus fez tudo através Dele, Deus não fez nada sem Ele. Ele é a luz eterna de Deus. Este, a Palavra, que contempla o rosto do Pai, ou seja, que vê o que ninguém pode ver, que conhece realmente o Pai, desceu do céu e nos revelou quem é o Pai. Só Deus pode revelar quem é Deus. E "esse" é Jesus de Nazaré.
São João diz: "E nós vimos a sua glória, glória do filho unigênito do Pai, vindo da graça da verdade". Moisés nos deu a lei, que é uma sombra, mas a graça da verdade do rosto de Deus, só Jesus nos revela, porque Ele é a Palavra eterna que olha o rosto do Pai. Por isso nós não dizemos "Jesus é Deus", porque se não nós estamos dando qualidades para Deus, Deus é Jesus! Porque é Jesus que revela o Pai. As atitudes Dele são as atitudes do Pai, os sentimentos Dele são os sentimentos do Pai, aqueles que Jesus ama são aqueles que o Pai ama. Se nós queremos conhecer Deus, temos que olhar Jesus. Nós queremos imitar Deus? Imitemos Jesus. "Mas eu não sei a vontade de Deus", Jesus é a vontade do Pai, siga Jesus e você fará a vontade do Pai. E a Palavra eterna entrou na nossa história e, nesse momento, é o início da história. Deus olha o mundo, da eternidade, antes e depois para Deus é diferente de nós. Antes para Deus é o mais importante, não que precede no tempo. O tempo é uma criatura. Deus vive na eternidade, o princípio é o Verbo, é a Palavra, é Jesus.
E o que Deus nos revela no Natal? Simplicidade. Fragilidade. Humildade. Acolhida dos últimos da história. E a partir dele, o anúncio para todos: "Nasceu para vocês um salvador, que é o Cristo Senhor". Olha que coisa engraçada: nós podemos dizer que o mesmo anúncio foi feito para um outro homem? Esse anúncio também foi feito para o rei Herodes, o grande da Terra. "Nós viemos do Oriente para adorar o Rei que nasceu, nós vimos sua estrela". Herodes reúne todos os sacerdotes e doutores da lei e pergunta: "Onde vai nascer o Messias?" e eles respondem: "Em Belém de Judá". Herodes diz "Verdade? Manda me informar onde estará esse menino". A intenção real qual era? Matar. Que interessante, os grandes do mundo, aqueles que governam a vida e a morte das pessoas, diante do anúncio de Deus, optam pela morte. Os outros, os magos do Oriente, que eram amaldiçoados pelo povo de Israel, os pastores, que ninguém gostava daquela gente, assassinos, ladrões. Para aquela gente maldita, Deus anuncia a mesma coisa: "Nasceu para vocês o salvador, o rei, o Messias". Até para Augusto, o imperador, uma bruxa-profetisa pagã falou para o imperador Augusto: "Nasceu no Oriente, o Deus da paz". O que Augusto fez quando voltou para Roma? Construiu um altar para abates, chamado "o altar da paz", em homenagem ao Deus da Paz que nasceu no Oriente. Esse altar existe até hoje. Mas para esses pagãos, malditos pelo povo hebreu, para os pastores odiados, Deus fez o mesmo anúncio, e eles o que fizeram? Foram adorá-Lo. E conseguiram descobrir, num estábulo, um menino dormindo no cocho, a salvação de Deus.
São os pequenos, são os que estão jogados fora, inclusive por muitos de nós religiosos, que acreditam que Deus é salvação. E um Deus pequeno como este bebê recém-nascido! Nós temos que aprender que em um presépio não tem romance, nós temos mania de ver presépio como um romance: "é tão bonitinho, é tão lindinho". Mas você estava lá para ver como foi complicado? O estábulo no meio da noite, a mercê de bandidos, sozinhos, essa menina que está tendo seu primeiro filho, esse rapaz sem saber como iria ajudar a criar o filho. Só tem sofrimento, precariedade. Os "excluídos" sabem como foi o verdadeiro presépio. Uma vez uma pessoa da favela falou "Só canta samba sobre goteira de telhado de zinco quem nunca morou debaixo de uma goteira de telhado de zinco". Nós temos que sempre fazer um esforço muito grande para tirar essas cores românticas do presépio e da cruz, porque os dois são duas faces de uma mesma e única batalha: o amor sem limite de Deus, que acolhe desde baixo para que todos sejam acolhidos. Não é para excluir, mas sim para que todos sejam acolhidos. Temos que colocar isso na cabeça. As pessoas só não são excluídas, se você começa a salvação por baixo. Se você começar por cima, você exclui e Deus não faz isso. Deus acolhe a todos. Um lugar onde um pobre ou assassino entra, geralmente outras pessoas podem entrar. Onde a rainha da Inglaterra entra, muita gente no mundo não pode nem entrar. Não é? Por isso que Deus salva o mundo começando por baixo, para não excluir ninguém. Como é difícil para nós aceitar isso. Como é difícil entender as "loucuras" de Deus, mas as "loucuras" de Deus são mais sábias do que a nossa sabedoria.
Vamos pedir a Jesus, que contemplando a beleza do Natal, possamos também, tirar um pouco desse romantismo daquele momento e ir ao encontro das pessoas que podem ser os primeiros a chegarem lá, os pobres, aqueles que nós mesmos condenamos. Porque a partir dali, Deus vai salvar todos nós, mas é a partir do "lixo do mundo" e não do alto, tá certo?
Homilia: Pe. João Aroldo - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Missa do Dia (Ano A) - 25/12/2019 (Quarta-feira, missa às 17h).

Deus nasce para iluminar todas as trevas
24/12/2019
O Natal é a festa da luz! Nós temos a tradição do Norte, onde a noite de Natal é a mais longa do ano. Estamos no hemisfério Sul, para nós é a noite mais curta... A luz de Deus chega primeiro para nós. Muito bem, tanta espera, o anúncio do Natal mostra tantas datas, séculos depois da criação do mundo – naquele tempo não conheciam astronomia ou o Big Bang que agora também já foi ultrapassado –, começam a dar datas depois do dilúvio, 1800 anos depois que Abraão saiu de Ur da Caldéia, o nosso pai na fé. Graças a fé de Abraão, nós somos um povo: povo hebreu, cristão e islâmico, nós três descendemos da fé de Abraão, esse homem que acreditou na promessa do Pai. Aproximadamente 1200 anos depois que Moisés saiu com o povo do Egito, 1000 anos depois do reino de Davi começa a chegar mais perto, as várias coordenadas daquele ano, o ano das Olimpíadas, o número do ano da fundação de Roma e o ano de reinado do Imperador, tudo isso para dizer o que? Que Jesus não é uma história da carochinha, não é invenção, não é mito!
Jesus é Deus que se fez um de nós, na nossa carne, no nosso tempo, assumiu a nossa vida, experimentou o que é ser humano, do nascimento até a morte, viveu cada instante da nossa vida, tudo, e o fez de um modo muito esquisito. Do Deus do céu e da terra, o que nós esperamos? Que nasça em um palácio? No maior palácio da Terra? Afinal ele mantém o universo no sopro da sua boca, que maior dignidade poderíamos dar para Deus? Um trono de ouro? Mas estes são os nossos pensamentos, mesquinhos, egoístas, orgulhosos. Deus não é nada disso, é tudo menos o que nós pensamos. Aquele que rege o céu e a terra vive na humildade, na total entrega de si, no esquecimento de si mesmo. E Ele nos revela isso em toda a sua vida. Primeiro, chama um povo que não valia nada. Pensem nos grandes impérios do passado, no Egito, na China, 3 mil anos de império, monumentos que sobrevivem depois de 5000 anos, o império de Alexandre, o Magno que dominou o mundo do Ocidente, mas vamos pensar também nos grandes impérios do Oriente, como a Rússia, o grande Império Romano e Deus escolheu um país pequeno no fim do mundo, menos ainda, nem mesmo o centro desse país, mas uma periferia abandonada na serra, com 50 metros de comprimento. Ele não foi falar com uma rainha, como merecia o Verbo eterno, que afinal de contas rege o universo. Deus foi dialogar com uma moça de doze anos, analfabeta, pobre, em uma sociedade que via a mulher como propriedade, primeiro do pai, e depois do marido. As mulheres não tinham voz no tribunal, carregavam o peso religioso da natureza, por causa de um fato biológico, a menstruação. Deus não foi até a mulher de Augusto, ou Quirino como fala no Evangelho, mas a essa menina pobre, que não fez nenhum estardalhaço, apenas silêncio, uma conversa que talvez tenha demorado, quem sabe, segundos, minutos? Mas, para Deus, aquilo era a eternidade, Deus ficou esperando o sim daquela moça. Alguns escritos diziam que até o Espírito Santo ficou com a respiração suspensa, esperando o sim daquela menina. Depois essa menina e seu marido vão para outra cidadezinha perto de Jerusalém e não encontram lugar na cidade, não tinham lugar para eles no albergue, provavelmente tinha muita gente e as pessoas que sobram hoje e ontem são jogadas para fora, chamamos hoje de periferias, se arranjam por aí... José tem que sair do centro de Belém e encontram uma gruta, um lugar onde se abrigavam animais. Temos que pensar que, no meio da noite, na escuridão total, que nos paralisa, ali quem sabe em quais condições, essa mulher está para dar à luz ao Senhor do Céu e da Terra. De fato, nós e nossa história de vida são trevas. Se olharmos o coração humano encontramos orgulho, egoísmo, maldade. Se escavarmos nosso coração com sinceridade, vamos achar essas trevas e são densas. Mas Deus não tem medo das trevas, Ele vem ser luz para nossas trevas, por isso escolhe as trevas da periferia do mundo, lá onde ninguém quer ir. A coisa mais engraçada é que as primeiras pessoas que ouvem o anúncio do nascimento de Jesus são os pastores que estão dormindo com o rebanho, imagine se aquele lugar já era escuro, imagina o que é estar nas colinas, dormindo a noite, cuidando das ovelhas. Mas tem uma escuridão pior, que é a da vida daqueles pastores, eram pessoas temidas, ladrões, rudes, meio bandidos, assassinos, resto do mundo, gentalha que não valia nada, um terror. Diziam que eles, quando se manifestasse a Glória de Deus, seriam pulverizados pelo esplendor da glória de Deus, castigados por seus crimes. É interessante prestar atenção ao que o Evangelho diz: “Os anjos se manifestaram, vão até lá! Glória a Deus nas alturas”, eles morreram! Temos que pensar no terror desses homens quando viram a Glória de Deus, os sacerdotes amaldiçoavam essa gente há séculos, e eles acreditavam que eram malditos. De repente aparece Deus, eles pensam que acabou, que estavam fritos. Que anúncio mais absurdo, “Nasceu para vocês o Salvador” – para vocês, os malditos da história, condenados pelos bons religiosos, vistos como restos humano, gente que não vale nada – para vocês, nasceu o Salvador, pois é lá, no meio das trevas, que a luz brilha mais forte. As pessoas que estão completamente desorientadas, sabem para onde ir quando uma luz se acende na escuridão. Esses homens, sabem lá com o que na cabeça vão atrás desse sinal, uma criança em uma manjedoura, envolvida em panos pobres, não mantos de reis, panos que uma mulher pobre arrumou para seu filho, lá na escuridão. Lá está o Salvador e os anjos dizem: “Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens que Ele ama’’. Deus não quer a perdição de ninguém, Deus ama aqueles homens. “Não tem que ter medo”, os anjos disseram para aqueles homens, e dizem para cada um de nós também: “Não tenham medo!” Não se deixem ser enganados! Nem pelos padres, nem por ideologias políticas e nem pelas conversas moles de mamães e vovós, Deus vos ama! E ama a cada um de nós, com nome e sobrenome.
Quantas vezes estivemos perto de uma criança recém-nascida, e não conseguimos sentir medo e nem raiva. Diante de um recém-nascido, estamos completamento desarmados, como a criança, que precisa de nós e dos nossos cuidados. Esse é o nosso Deus. Não devemos ter medo de um Deus assim, e assim deixo imediatamente de ter medo de mim mesmo porque Deus me ama, Ele conhece meu coração, minhas misérias e as minhas trevas e Ele me ama por tudo isso, e quer ser luz na minha vida. Eu perco o medo de Deus, perco o medo de mim mesmo, mas também perco o medo do outro, então o outro pode ser meu irmão e minha irmã, pode acreditar de novo no ser humano, pois Deus é luz de vida, de esperança e salvação. São Paulo nos diz na Segunda Leitura: “Então nós podemos fazer o bem”. Olha que interessante... O orgulho, o egoísmo, a maldade nos levam a praticar o mal e a injustiça, pois temos medo de Deus, de nós e dos outros. Deus descendo do céu como uma criança pequena faz com que possamos fazer o bem, pois todas as pessoas nas suas próprias trevas são iluminadas pelo amor de Deus, então é possível começar a construir paz e estar sereno com as pessoas, viver bem com as pessoas, Esse é anuncio de Natal: é possível viver na luz de Deus, é possível crer em um Deus bom, é possível ser feliz nessa terra. Feliz Natal!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Missa da Noite (Ano A) – 24/12/2019 (Terça-feira, missa às 20h).

Deus está conosco até o fim dos tempos
22/12/2019
A Primeira Leitura [Is 7, 10-14] se passa, mais ou menos, no ano 700 antes de Cristo. O rei de Israel era o rei Acaz, um homem covarde, falso piedoso. Desceu o exército da Síria e fez um cerco em volta de Jerusalém. Nesses dias, Deus falou com o profeta Isaías: “vai lá e diz para o rei Acaz que o exército não vai entrar nessa cidade”.
O profeta foi, mas como esse rei era covarde, ele mandou para a embaixada, para o rei da Síria, uma grande quantia dinheiro, pagando um tributo para ver se o rei da Síria pegava o dinheiro e ia embora. O rei da Síria falou: “vou entrar na sua cidade do mesmo jeito”. O profeta ficou sabendo disso, foi na frente do rei e fez uma profecia. Mas aqui temos que abrir um parênteses, porque senão a gente não entende a profecia.
Eu já falei que Acaz era um falso piedoso. Mas por quê? Existia um rito no país, naquela região, em que eles ofereciam o filho primogênito para os deuses. De que jeito? Botavam fogo embaixo de um objeto de bronze, e quando o bronze estava vermelho, colocavam o primogênito e ofereciam o cheiro da carne para os deuses. Ou de um outro jeito: pegavam o bebê e levavam para perto das montanhas e, onde as pedras eram rachadas, eles enfiavam a cabeça da criança na pedra e matavam a criança, oferecendo-a para os deuses. E ele tinha feito isso: ofereceu o primogênito do rei.
Agora vocês imaginem: ele cercado pelo exército, já tinha mandado um tributo e o inimigo não tinha aceitado. Um rei covarde, sem herdeiros, que está perdido. Aí o profeta veio: “Deus não falou para você que o exército não vai entrar nessa cidade?”. Então ele desafia o rei: “pede um sinal do alto do céu, ou do fundo do inferno, para acreditar no que o Senhor falou. Pede um sinal!”. Então o falso piedoso disse: “eu não vou tentar o Senhor”. E o profeta: “pois então eu vou te dar o sinal”. E desmascara o rei.
Ele tinha matado o primogênito, o herdeiro do trono. “Pois fique sabendo que a jovem, a rainha, vai dar à luz um filho, e ele vai ser o sinal de que Deus está conosco. Deus está nessa cidade, e a Palavra é Emanuel. Deus conosco, Emanuel”.
Qual o problema dessa profecia? O problema é que se nove meses depois não nasce a criança, a palavra do profeta é falsa. E havia uma segunda profecia embutida: ‘Deus está conosco, os inimigos não entrarão nessa cidade’. O exército faz as trincheiras em volta de Jerusalém. Os historiadores e os arqueólogos não conseguem explicar até hoje. E o que se sabe é que, durante a noite, o exército levantou acampamento e foi embora, sumiu. Voltaram para a Síria e não retornaram mais. A profecia era: eles não vão pôr o pé nessa cidade. E nove meses depois nasce o filho do rei, o Ezequias, filho dele, que foi um rei muito piedoso, muito religioso, muito verdadeiro. Então, duas vezes a profecia de Isaías foi confirmada com sinais realmente potentes.
Então, aquilo que era uma maldição que o profeta Isaías falou, quando eles viram que se cumpriu tudo, aquilo começou a ser interpretado como uma bênção. E, assim, ela foi transmitida para nós nas escrituras – como uma bênção: Deus está conosco. Só que Deus não é escravo. Anos depois, o povo de Israel não se converteu, continuou na bagunça. E achavam que, porque lá atrás Deus protegeu aquela cidade, nada aconteceria. E faziam o que bem queriam, se afundaram na injustiça.
E depois veio o profeta Jeremias que vai dizer: “não vai sobrar pedra sobre pedra nesse lugar, tudo vai ser destruído porque vocês não reconheceram Deus”. A maior crise de fé do povo de Israel. Foi terrível. Porque não se converteram. A mesma coisa nós vamos ver quando Jesus, lá do Monte das Oliveiras, olha para a cidade. Dá para ver a cidade de Jerusalém toda. E chora sobre Jerusalém. “Deus te visitou e você não reconheceu. Você vai ser destruída.”
Quarenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus, Jerusalém foi destruída pelas tropas do general Tito. Cem anos depois da morte e ressurreição de Jesus, o imperador Adriano acabou com tudo. Terrível. Deus protegeu aquela gente e eles não mudaram de vida. Continuaram praticando a injustiça. Deus nos dá muitas graças. Graça em cima de graça, esperando, com muita paciência, que nós tomemos o caminho certo. A gente tem que pedir realmente um coração que saiba reconhecer os símbolos de Deus.
Depois vamos para São José. No tempo de São José, os hebreus tinham um costume: eles se casavam e só um ano depois iam viver juntos. Durante esse ano, viviam com os pais e não tinham contato físico. Se a moça tivesse um namoro com outro, ela era apedrejada em praça pública até a morte. Onde é que a gente tem uma passagem dessa no Evangelho? A adúltera de Jerusalém. Aquela menina tinha 12 anos. Maria tinha 12 anos quando ficou grávida. As mulheres casavam-se com 12 anos. São José não tinha mais que 16. São José, num belo dia, nesse período de um ano, encontra Maria grávida e diz: “o filho não é meu”. Só que São José, Maria e um grande grupo dos pobres daquele tempo, tinham perdido a esperança de que os poderes religiosos do templo, ou dos reis de Israel, fossem salvar o povo. Perderam a esperança em um governo que faz justiça que não é justiça. E nos perguntamos: onde está a fé e a esperança do povo? Na honestidade do povo.
Se os governantes são corruptos, o povo tem que ser honesto. Não se pode renunciar à honestidade. Só desse jeito que nós vamos mudar algo. Assim pensavam os pobres de Javé, que é o movimento religioso do qual Maria e José faziam parte. Eles acreditavam que sendo pessoas religiosas e honestas na religião, eles iriam encontrar a salvação de Deus. Eram pessoas boas que esperavam só da graça de Deus.
Então São José, guiado por essa espiritualidade, teria que denunciar Maria. Mas isso seria morte. Então decide fazer uma carta de divórcio. Ele estava pensando nisso quando o anjo apareceu em sonho e disse: “não temas receber tua mulher como esposa. O que foi feito nela é obra do Espírito. Você vai dar nome para o menino”. Por quê? O pai da criança era quem transmitia a descendência. José era descendente de Davi. É descendente colateral, mas é descendente de Davi. Então, ele dando nome para Jesus, faz dele legalmente descendente de Davi.
Maria era hebreia. É hebreu todo aquele que nasce de mãe hebreia. Então Jesus é judeu porque nasceu de uma mulher judia, e é descendente de Davi porque quem deu nome para ele foi São José, o que permite passar a descendência para o filho. E São José acreditou que Deus está conosco. A esperança do povo, a promessa que Deus fez lá atrás, está acontecendo. Deus está no nosso meio, nessa criança. Deus está no nosso meio, no deserto. Deus está no nosso meio quando Ele nos ensina andando pela Palestina. Deus está no nosso meio quando morre crucificado. Deus permanece no nosso meio até o fim dos tempos.
O Evangelho de São Mateus [Mt 1,18-24] termina exatamente com essa frase: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Deus está conosco. O que lá no passado foi uma bronca para o rei, que logo depois apareceu como uma bênção, foi bênção e realização em Jesus. É bênção e realização na nossa vida hoje, e será também no último dia. Essa é a espera do Natal, é a nossa fé.
Deus está conosco. Deus não nos abandonará, apesar de todas as dificuldades e das revezes da história. Deus não nos abandona se nós somos fiéis. Mesmo se todos os governantes fossem corruptos, o povo tem que ser honesto. É o único jeito de, um dia, termos gente honesta: se nós nos mantermos fiéis à honestidade. Como cristãos, se nós perseverarmos na fé. Deus está conosco e, mesmo nas dificuldades mais absurdas, creia na presença Dele.
E se vier a morte? Nós cremos na ressurreição. A morte foi vencida pela vida. Para o cristão que tem fé, não existe derrota, nem a morte, nem o pecado porque Deus é perdão. Não existe derrota! A última palavra é uma palavra de misericórdia e Salvação, e essa palavra é Jesus Cristo.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 4º Domingo do Advento (Ano A) – 22/12/2019 (Domingo, missa das 18h30).

Mais que palavras, ações!
15/12/2019
João Batista tinha uma missão: anunciar e preparar o povo para a vinda do Senhor. Fazia mais de 600 anos que o povo de Israel não tinha um profeta; e, de repente, aparecem dois: João Batista e Jesus – que, para o povo, também era um profeta. Dois homens potentes! João Batista ficava nas margens do Rio Jordão, vivendo na austeridade dos profetas do Antigo Testamento, especialmente de Elias, o maior dos profetas. Ele vestia roupas de couro de camelo, comia insetos do deserto e mel silvestre, ou seja, uma vida muito rude, muito áspera. E ele anunciava a imediata vinda de Deus: "Preparem-se! Convertam-se! Mudem de vida! Porque já está às portas, o Messias vai limpar toda esta sujeira".
A imagem do Messias de João Batista é de alguém intervencionista – Ele fará, Ele irá arrancar tudo e jogar fora; é uma imagem muito forte. Quando João Batista é preso, Jesus inicia Seu ministério, que é diferente do de João. Jesus também chama as pessoas à conversão, só que Ele não fica parado na beira do rio. Jesus vai ao encontro das pessoas. E olha que engraçado: Ele não só chama as pessoas à conversão como se aproxima dos pecadores. João Batista chamava as pessoas à conversão; Jesus vai até os pecadores, as pessoas que o povo de Israel tinha como lixo. Jesus vai, itinerante, de cidade em cidade. E há ainda outra diferença: Jesus é um grande taumaturgo, uma pessoa capaz de fazer milagres. João Batista não fez nenhum milagre, Jesus fez muitos!
Na prisão, João começa a ouvir falar de Jesus. E se pergunta: "Que Messias é este? Eu pensei que Ele viria para limpar esta sujeira toda... Será que é Ele mesmo?". João, então, manda seus discípulos até Jesus, e olha o que Ele diz: "Os mudos falam, os cegos veem, os coxos andam, os mortos ressuscitam e, aos pobres, é anunciado o Reino de Deus..."; e esta frase enigmática: "Feliz aquele que não se escandaliza de mim". O que isso quer dizer? "Eu sou o Messias. Não sou do jeito que você esperava, mas feliz de você se aceitar este modo de ser". Jesus faz um desafio para João Batista! Só que nós não sabemos se ele chegou a receber esta resposta que Jesus mandou por seus discípulos, porque, logo depois, o Evangelho conta a morte de João Batista...
Jesus, em Sua ação, não faz simples milagres. Os milagres de Jesus são cheios de significado para nós até hoje! Em um deles, Jesus cura uma idosa que, há 18 anos, vivia curvada. Ele estava na sinagoga, a igreja dos judeus; os homens ficavam no corpo da igreja e as mulheres, separadas, em outro ambiente. Por quê? Porque as mulheres eram consideradas impuras por causa da menstruação. E são até hoje. Para uma mulher ofender um hebreu, basta tocá-lo. Ele ficará furioso, porque acha que a mulher transmite a impureza para ele. Esta senhora estava lá na sinagoga, sofrendo com aquele peso insuportável já há 18 anos. Jesus traz a mulher para o meio, impõe-lhe as mãos, e ela fica curada! Será que nós também não temos nossas corcundas religiosas? Temos que nos perguntar isso pois, muitas vezes, a religião nos impõe coisas que não são de Deus. Ao curar aquela mulher no meio da sinagoga, Jesus estava dizendo: "Esta religião de vocês não é de Deus! Vocês oprimem as pessoas, colocam-nas sob pesos insuportáveis". Uma religião que coloca pesos insuportáveis nas costas dos outros não é de Deus, porque Deus quer que as pessoas sejam livres.
Jesus também cura os cegos. A cegueira não está só nos olhos, existem muitas cegueiras. Hoje, vivemos um tempo cheio de notícias falsas – fake news! Isso faz com que nos tornemos cegos, pois não sabemos mais onde está a verdade, não dá para acreditar em mais nada... Ficamos completamente perdidos, sem guia. Nosso guia tem que ser sempre Jesus, e o que Ele nos diz é: escute o outro, quem está perto de você; ame as pessoas; não escute notícias de ódio; não se deixe enganar; olhe à sua volta, abra os olhos, veja o que está acontecendo, não vá atrás apenas do que lhe dizem... Jesus também cura os mudos, e é interessante que, depois de curar um surdo-mudo, ele diz àquele homem: "Não entre na cidade, vá para casa por outro caminho". Por quê? Geralmente, o aglomerado é um lugar de muita falação, opiniões tortas, difamações, fofocas. Jesus diz para ele: "Deixe isso de lado, pare de escutar essas bobagens. Volte para casa por outro caminho. Não dê ouvidos a tantas opiniões loucas".
Ouçamos o Evangelho! O Evangelho do respeito, da acolhida, o Evangelho que não faz distinção de pessoas, que acolhe os pecadores. Olha que engraçado, nós tínhamos que pensar muito nisto: João Batista acolhe os pecadores para a conversão; Jesus vai para o meio dos pecadores. Que interessante! É muito diferente. Nós, pessoalmente e como comunidade, acolhemos os pecadores? Nós acolhemos os pobres? Acolhemos aqueles que são chamados de lixo, de vagabundos? Para Jesus, eles são iguais a nós. E mais: Deus tem uma preferência por eles! Isso dói; e nos desmascara. Mas é esse o caminho da salvação, da cura da nossa vida, do início do Reino do Céu. Este é o caminho: nos aproximarmos do outro, respeitar o outro. É fácil um Messias que vem, arranca o mal pela raiz e joga fora; podemos dizer que o Messias de João Batista era fácil demais... Jesus exige empenho, empenho de cada pessoa – é por isso que Ele chama os apóstolos um a um, nome por nome. Jesus chama a cada um de nós pelo nome para podermos seguir os Seus passos. E do mesmo jeito que Ele nos chama, Ele chama a todos pelo nome, todos.
Descobrir a dignidade e o respeito pelas pessoas é um caminho que exige empenho, exige trabalhando contínuo. Nós não somos robôs, computadores, que basta apertar um botão para mudarem de ação. Se não tivermos disposição e constância, não teremos as mesmas atitudes. Conversão é dia após dia. É esse o caminho que Jesus nos indica. Não um Messias intervencionista, não um salvador da pátria, não um salvador da religião.
Viver o caminho de Jesus todos os dias: esse é o Reino do Céu, esse é o nosso caminho.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 3º Domingo do Advento (Ano A) – 15/12/2019 (Domingo, missa das 10h).

Deus olhou para a humildade de Sua serva
08/12/2019
Celebramos hoje a Solenidade da Imaculada Conceição! E o que significa "Imaculada Conceição"? Significa "concebida sem pecado" – o pecado em que nós nascemos. Nós somos gerados dentro dele – não por culpa própria; culpa própria só quando cometemos um pecado por vontade nossa. Nós nascemos dentro de um mundo que já tem uma mentalidade pervertida. Por exemplo, você já pensou em quanto dinheiro nós gastamos no nascimento de uma criança? E precisa mesmo de tudo isso? Roupa de tal marca, sapato de outra... Isso sem contar a mentalidade torta de que só se pode ter um ou dois filhos, porque "filho é caro". Antes, quando a mulher ficava grávida, nós a felicitávamos pela vinda de mais um filho; hoje, muitas mulheres grávidas ouvem: "Vai continuar com a gravidez ou não?". É uma pergunta diabólica! Isso é para vermos a mentalidade de morte e de pecado que há no mundo de hoje... Nós nascemos em uma sociedade cheia de ódio, de raiva, de exploração, divisões... Este mundo está todo torto! E nós somos gerados dentro deste mundo.
Adão e Eva não são pessoas reais; os 11 primeiros capítulos do livro da Gênesis são mitos, que falam profundamente da realidade humana, mais profundamente do que um nome ou número na carteira de identidade. Eva somos todos nós; Adão somos todos nós. Todos nós que somos amados por Deus, que somos chamados a viver no Paraíso e que, por culpa nossa, queremos ser iguais a Deus: donos do bem e do mal, capazes de dar vida e morte para os outros – olha que coisa horrorosa! Esse é o pecado das origens, esse mal que nos enrola, como enrolou aquela menina. Eva não era mulher feita, era uma criança. Deus disse: "Crescei", pois ela era uma criança, e foi literalmente enrolada pelo inimigo. Maldade; aproveitar-se da inocência, da ingenuidade. Quanto isso não fala de nós, não é? Quando falamos mal dos outros, quando damos nossas opiniões sobre os outros... Nós, às vezes, estamos usando da ingenuidade do outro, da ignorância do outro; nós estamos sendo exatamente como o inimigo! Também quando temos medo de Deus – "Será que tem realmente alguma coisa depois da morte?", "Será que Deus vai mandar todo mundo para o inferno?"... No fim das contas, colocamos em Deus uma imagem terrível, da qual nós temos medo. Deus viu que Adão e Eva O tinham desobedecido exatamente porque estavam com medo! "Eu ouvi os Teus passos no deserto e tive medo". Medo de Deus, desconfiar de Deus, achar que Deus está mentindo para nós: este é o pecado original.
Jesus, muitas vezes, no Evangelho nos fala: "Não tenham medo!". No Evangelho de João, Ele repete muitas vezes: "Tenham confiança!". Nós estamos no Tempo do Advento; o povo de Israel esperou 1800 anos pelo cumprimento da promessa: "Eu vou mandar o Salvador". E Deus mandou o Salvador, porque Deus não mente! Deus é fiel! São Paulo vai dizer: "Se nós somos infiéis, Deus permanece fiel, porque Ele não pode negar a si mesmo". Deus é bondade e misericórdia, e a misericórdia de Deus é mais justa do que a nossa justiça. É com a nossa mesquinhez, com nosso coração pequeno, com nossas vinganças que queremos condenar os outros, nos colocar no lugar de Deus. Por isso que, ainda no mito da criação, Deus diz a Adão: "Você é pó e para o pó vai voltar. Você não é dono da vida e da morte. Você não é Deus".
Outro dia, eu fiz a exumação de três parentes meus. Abriram um caixão e, no fundo, estava cheio de terra. O coveiro falou: "Padre, nós não colocamos terra aqui. O que é esta terra?". Somos nós. Nós somos terra! Nós não somos nada mais do que isso... E é exatamente olhando para este nada que somos, que teríamos que ser mais bondosos com os outros, mais justos, mais honestos, mais caridosos. Porque a mão que se estende pedindo um pedaço de pão para mim é exatamente igual à minha: terra pedindo um pedaço de pão para outro monte de terra. Nós teríamos que ter sempre viva em nossa cabeça essa humildade, e é essa humildade que brilha na Virgem Maria, na Imaculada Conceição.
Nós vivemos dando títulos para Nossa Senhora: rainha disso, rainha daquilo, manto coberto com diamantes, a coroa de Nossa Senhora Aparecida miniatura da coroa imperial que a princesa Isabel usaria se fosse imperatriz... E qual é a primeira joia da Virgem Maria? A humildade. "O Senhor olhou para a humildade de Sua serva". Deus é humilde; Maria vive e nos mostra a humildade de Deus. Jesus vai dizer: "Eu sou manso e humilde de coração". A humildade é característica de Deus. Humildade e transparência. Maria canta e louva a Deus pelo que Ele fez por misericórdia dela. ELE teve misericórdia, ELE olhou com bondade, ELE fez prodígios, ELE fez maravilhas... Desde a eternidade, Deus quis uma mãe que fosse digna do Seu Filho. O Seu Filho é manso e humilde; a mãe desse Filho, humilíssima Virgem Maria.
Vou contar uma história para vocês.... Havia uma menina de 16 anos, chamada Bernadete. Era uma menina pobre, que vivia num porão, em uma cidadezinha da França chamada Lurdes. Certo dia, no inverno, a mãe de Bernadete mandou que ela fosse buscar lenha perto do rio. Como tinha asma, não podia entrar na água; então foram, com ela, sua irmã e uma amiga. As duas outras, que não eram doentes, foram mais rápidas e atravessaram o rio. E Bernadete ficou por ali, perto de uma gruta onde jogavam e queimavam todo o lixo do hospital da cidade. De repente, Bernadete escutou um barulho forte de vento. Ela achou estranho, pois as árvores não estavam se mexendo... Ao ouvir novamente o barulho, ela voltou-se para a gruta. Lá dentro, viu que havia um buraco do tamanho de uma pessoa. Ela se aproximou e viu uma menina de 12 anos, vestida de branco, com uma faixa azul na cintura e duas rosas de ouro nos pés. Bernadete fez uma reverência e pegou o terço que trazia no bolso para começou a rezar, mas não conseguia iniciar sua oração. Até que a moça pegou seu terço e fez o sinal da cruz com a cruz do terço; então ela conseguiu rezar. Enquanto rezava o Pai-Nosso e as Ave-Marias, a moça ficava parada; quando dizia "Glória ao Pai", a moça fazia uma reverência – reverenciava a Santíssima Trindade. Quando Bernardete terminou de rezar, a moça perguntou: "Você não quer vir aqui nos próximos dias? Eu tenho algumas coisas para lhe dizer...". E Bernardete foi mais 15 vezes ao seu encontro. E essa moça nunca dizia o nome dela! Até que, um dia, finalmente, disse: eu sou a Imaculada Conceição. Bernadete foi correndo falar com o padre da cidade, que queria mesmo saber o nome dessa pessoa que aparecia para ela. Quando Bernadete disse "Imaculada Conceição", o padre tentou explicar o significado para ela. No fim da explicação, perguntou: "Você entendeu agora?", e ela respondeu que não. O padre então, falou: "Minha filha, nem os teólogos entendem... Este é um mistério de Deus".
Essa menina era Santa Bernadete, e a moça era Nossa Senhora, que aparecia para ela. Foram 15 aparições. Depois, só voltou a aparecer na hora de sua morte, aos 36 anos. Bernadete foi para o convento, tornou-se freira, e morreu de tuberculose óssea, que hoje chamamos de câncer nos ossos. O corpo de Santa Bernadete está intacto até hoje, incorrupto, é um mistério para a ciência. E Lurdes se tornou um lugar de peregrinação, com pessoas do mundo inteiro. A fonte que Nossa Senhora mandou Santa Bernadete cavar é lugar onde muitas pessoas doentes vão se banhar, e existem mais de 1200 relatos de cura. A Igreja, muito rigorosa, reconhece como milagre apenas 49 deles, mas as curas na gruta de Lurdes foram mais de mil!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade da Imaculada Conceição (Ano A) – 08/12/2019 (Domingo, missa das 10h).

Nós esperamos no Senhor: se Ele prometeu, Ele faz!
30/11/2019
Novamente, nós iniciamos um novo Ano Litúrgico. O Ano Litúrgico é levemente diferente do ano civil. O Ano Litúrgico começa com a preparação para o Natal e vai terminar no 34º domingo do Tempo Comum. Nós teremos a celebração do Natal, depois o breve Tempo Comum, três meses de Quaresma e Tempo da Páscoa e, depois, retomamos o Tempo Comum até o fim de novembro. Neste ano, quem vai nos guiar no seguimento de Jesus é São Mateus. No ano passado, foi São Lucas; até domingo passado, nós ouvimos o Evangelho de São Lucas. No Ano que vem, será o Evangelho de São Marcos. E São João é lido nas grandes solenidades e, especialmente, no ano de São Marcos.
E o que é Advento? Advento é a vinda. Na antiguidade, os pagãos celebravam o dia dos deuses: um dia de Júpiter, um dia de Vênus, um dia de Ísis... Cada dia desses era chamado de Advento do santo, do deus. Também o dia do aniversário do imperador era chamado o Advento do Imperador. E, ainda, quando o imperador visitava as cidades sem avisar – ele chegava com sua corte, chamava o chefe do lugar e fazia julgamentos. Esta ação dele era chamada de Apoteose, uma palavra grega que estamos acostumados a ouvir no Carnaval, que significa essa grande manifestação.
No mundo cristão, o Advento tem três propósitos. Primeiro, nós celebramos a fidelidade de Deus ao longo dos séculos. O povo de Deus esperou 1800 anos pelo cumprimento da promessa: "Deus vai mandar o Salvador". 1800 anos! Não dois dias, não dez anos. 1800 anos! Os tempos pertencem a Deus, não a nós. Deus faz o que Ele quer e leva o tempo que Ele quiser. Não somos nós que dizemos quando será, Deus faz no tempo Dele. Nós somos sombra, somos como um sonho da noite que passou... Deus tem o Seu tempo. E Ele é fiel! O que Deus promete, Deus faz! Ele mandou o Salvador – que não seguia as expectativas do povo. O povo queria um grande rei, um grande juiz, um grande sacerdote, que desse ao povo de Israel poder sobre todas as nações da terra, que reformasse o culto de Jerusalém e que exercesse a justiça. Só que Deus tinha outros planos na cabeça... A realeza de Deus é outra. Deus reina no presépio e na cruz; o poder de Deus é a misericórdia; e a bondade de Deus é a acolhida, começando de baixo. Deus não começa a salvar pelos grandes da Terra, mas nos porões da humanidade, os malditos da humanidade. Deus começa de baixo para salvar a todos!
Depois, nós celebramos Deus presente no meio de nós. Advento: veio, vem! Ele veio há 2 mil anos, mas está presente hoje em nossas vidas, na Eucaristia, na Palavra, nos pobres e sofredores e na comunidade que reza junta. Jesus quer que seus discípulos vivam em comunidade de fé. Uma pessoa que quer ser cristã mas não quer ir à igreja é como um Saci Pererê, falta-lhe uma perna. Jesus quer que nós estejamos em comunidade de irmãos e irmãs.
O Advento também é espera. Espera da última revelação de Deus. Nós ainda esperamos uma revelação – nós, os hebreus e os muçulmanos, as três religiões abraâmicas. Nós esperamos a última revelação de Deus, que virá no dia do juízo. E Deus vai cumprir a Sua promessa! Ele foi fiel ontem, é fiel hoje e será fiel sempre. Ele vai cumprir a Sua promessa! Ele vai ser Senhor do céu e da Terra! Ele vai transformar a realidade humana, a realidade de sofrimento, de dor, de morte, de luto... Vai transformar a nossa realidade em uma realidade de vida, e vida eterna! Essa é a promessa Dele. Prometeu que vai nos arrancar dos nossos túmulos. No dia do juízo, nós saberemos do fundo dos nossos túmulos, porque até os mortos ouvirão a voz de Deus e voltarão à vida. Como vai ser isso? Isso é problema de Deus. Mas que Ele fará, não há dúvidas.
Por isso, nos próximos dois domingos nós vamos ver o chamado pulsante de Deus à conversão. Vamos preparar os caminhos do Senhor, vamos endireitar os nossos caminhos, os nossos passos tortos, vamos fortalecer as nossas pernas para seguir os passos de Deus. E que Ele nos encontre fiéis quando voltar! A volta de Deus, o dia do julgamento, para Deus, é um momento só: é o dia da nossa morte e o dia do juízo universal. Para Deus, é um mesmo momento; para nós, existe um tempo. Então, enquanto estamos neste mundo, endireitemos os nossos passos para seguir os caminhos de Jesus.
E agora, um último ponto: o Ano Vocacional Diocesano. Não é do mundo inteiro. O nosso bispo, como apóstolo da Diocese de Santo André, convocou o Ano Vocacional. Nós vamos rezar, refletir, convocar nossos jovens para o sacerdócio. A nossa Diocese necessita de sacerdotes, necessita! Somos poucos padres, daqui a pouco teremos muitos padres idosos, e quem ficará no nosso lugar depois? Por que Deus chama e os jovens não respondem? Por que os que respondem não perseveram? Por que nós nos preocupamos pouco com as vocações? O que nós estamos fazendo para promover as vocações? Na nossa família, nós temos coragem de falar para nossos filhos: "Você já pensou em ser padre?"? Às vezes, Deus está chamando e nós somos os primeiros a colocar obstáculos, pedras no caminho das pessoas.
Então, este ano, nós vamos rezar para que aqui, em Santa Teresinha, dentre vossos filhos e netos, Deus suscite vocações. A comunidade cristã é responsável pelas vocações sacerdotais; se não rezamos, se não pedimos, se não ajudamos de algum modo, Deus não manda mais vocações. E aí, como fica a Eucaristia? Como fica o perdão dos pecados? Vamos rezar! Vamos pedir! Jovens, perguntem-se ao menos uma vez na vida: "Será que Deus me chama?". E tenha coragem: se Deus chama, Ele garante, Ele sustenta, Ele leva!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 1º Domingo do Advento (Ano A) – 30/11/2019 (Sábado, Missa das 16h).

Permaneçam fazendo o bem
17/11/2019
Estamos no fim do Ano Litúrgico. Ele termina domingo que vem, com a Festa de Cristo Rei do Universo. Depois, começa o novo Ano Litúrgico, com o Tempo do Advento, a preparação para o Natal. Neste ano, nós fomos guiados por São Lucas; o ano que vem será São Mateus; depois, em 2021, será São Marcos; e em 2022 nós voltaremos para São Lucas. E São João? São João é lido nas grandes Solenidades e, especialmente, no ano em que lemos São Marcos, porque é um Evangelho mais curto. Assim, em três anos, se a pessoa vem à missa todo domingo, ela escuta 90% dos quatro Evangelhos. Isso não quer dizer que não precisamos ler o Evangelho em casa! Temos que ler sim, viu? Eu aconselho a começar pelo Evangelho de São Marcos, que é o mais curtinho – dá para ler em 2h, sabia? Depois de São Marcos, siga por Mateus, Lucas, João; depois, Atos dos Apóstolos, as cartas de São João e o Apocalipse. E, então, passe para São Paulo. É todo um caminho que dá para fazer lendo o Novo Testamento.
Voltando para a liturgia de hoje, nos dois últimos domingos do Tempo Comum nós falamos do fim do mundo. Semana passada, já começamos a falar, e hoje nós tratamos em cheio desse tema. Quantas vezes nós ouvimos a expressão "Isto parece o fim do mundo"? Na história, nada dura para sempre. No ano 586 a.C., o rei da Babilônia, Nabucodonosor, invadiu Israel e destruiu o templo de Jerusalém, que tinha sido construído pelo Rei Salomão. Aquilo colocou o povo em uma grande crise. Todas as seguranças do povo foram por água abaixo. Depois, o reino da Babilônia foi conquistado pelo reino Persa, do rei Dário, que mandou reconstruir o templo. Este templo durou até o ano 72 d.C., e Jesus profetizou sua destruição. No fim dos anos 60, começo dos anos 70, teve início uma revolta dos hebreus contra o domínio romano. Mas pense em um elefante e em uma barata; se a barata corre na frente do elefante, o que ele faz? Ele a esmaga! Foi exatamente o que o Império Romano fez, e matou toda a família sacerdotal, toda a descendência de Aarão. Muitos fariseus também foram mortos, mas sobraram muitos outros. Uma comunidade religiosa do deserto, chamada Qumran, foi totalmente dizimada. Nós temos histórias de atos heroicos nesse período... E, então, acabou-se o sacrifício no templo de Jerusalém, porque a família sacerdotal não existia mais. Para os hebreus, o sacerdócio não era transmitido como para nós, cristãos, com a imposição das mãos do bispo; para eles, a linha sacerdotal era transmitida de pai para filho. Logo, se você mata a família toda, acabou, não tem mais sacerdócio. E isso, para eles, foi o fim de um mundo! Eles nunca mais se recuperaram... Como se não bastasse, 40 anos depois, sob o poder do Imperador Adriano, começaram outra revolta! E o imperador não teve nenhuma piedade: "Destruam tudo!". A única coisa que sobrou do templo é o que, hoje, nós conhecemos como Muro das Lamentações. Depois, após o ano 600 d.C., os muçulmanos que conquistaram a Terra Santa construíram duas mesquitas em cima de onde era o templo.
Ou seja, nada permanece igual! Tudo muda, acaba. Os tempos mudam, as ideias mudam. Se olharmos um pouco mais para perto de nós, no fim dos anos 1700, a monarquia era modelo de governo no mundo. Mas alguns reis abusavam muito do poder, especialmente na França. E aí se deu a Revolução Francesa: os pobres, profissionais liberais e agentes do povo não aguentaram mais; em um acontecimento quase inédito, o rei e a rainha foram decapitados. Isso mudou o mundo! Era uma coisa que, antes, não dava nem para imaginar. Olhando ainda mais para perto de nós, depois da Revolução Francesa, esse mundo, que foi reorganizado ainda com o modelo velho, em novos reinos, veio a I Guerra Mundial e destruiu. Nós dizemos que ela acabou com o que chamamos de "antigo regime", que era o regime das monarquias. E vieram as novas repúblicas. A I Guerra Mundial foi algo tão absurdo para a cabeça do povo que as pessoas ficaram completamente perdidas. Foi nessa guerra que se usou pela primeira vez o avião para bombardear adversários. Com isso, até a guerra ficou diferente! Usaram também os primeiros tanques de guerra. Aquilo foi um absurdo, mexeu com a cabeça da Europa, mudou o mundo! Pouco tempo depois, as crises levaram à II Guerra Mundial, aos horrores do holocausto e da bomba atômica. De tudo isso, nasce uma consciência nova: a dos direitos humanos, com a ONU, que procura defender esses direitos.
Tudo isso é para vermos como as coisas mudam, como o mundo muda! A Igreja – que é guiada pelo Espírito Santo e por isso não morre –, também vai se atualizando com os tempos, senão ficaria obsoleta e não atingiria mais o coração de ninguém. Por quê? Cada tempo, cada cultura, cada lugar tem de receber o Evangelho, e eu não posso anunciar o Evangelho no século XXI como anunciava no século VI, nos anos 1000 ou nos anos 1950, com um padre que rezava a missa de costas para o povo e falando em uma língua que ninguém entendia! Não dá para ir contra o tempo. Nós temos que caminhar com os tempos. É a mesma Igreja de Jesus, que muda, ao longo dos tempos, para poder anunciar novamente o mesmo Evangelho. Por isso a Igreja não acaba! É o Espírito Santo que guia a Igreja nessas renovações. E uma grande mudança que tivemos foi o Concílio Vaticano II.
Ao longo dessas mudanças, muitos cristãos, seguidores de Jesus, morreram. Na Revolução Francesa, muitos cristãos foram guilhotinados pelo simples fato de serem cristãos. Conventos inteiros de freiras, de padres... Pais e mães de família foram levados para a guilhotina com julgamentos sumários, sem nenhuma justiça, simplesmente porque eram cristãos. Na Revolução Espanhola, no começo do século passado, milhares e milhares de cristãos, assim como você, que participa da igreja e vai à missa, foram queimados, metralhados. Nós temos milhares de mártires cristãos católicos da Revolução Espanhola! E quantos cristãos morreram – e morrem até hoje – por causa do Evangelho... Aí nós começamos a entender o que Jesus está dizendo: "Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos" (Lc 21, 16).
Nesses dois últimos anos, quem fala que temos que cuidar do direito dos pobres? Que temos que cuidar do direito dos pequenos? Quantas pessoas já não nos chamaram de comunistas... Isso não é comunismo, isso é o Evangelho! Atualmente, muita gente se acha no direito de matar, de envenenar os sofredores de rua... Que monstruosidade! Mas isso nasce da ideia de que "pobre é vagabundo", então "tem que matar". Isso é diabólico! Certas ideias não podem ser faladas, muito menos pela boca de alguém que tem alto cargo dentro do país. Porque você sempre vai encontrar loucos que vão matar os pobres. Como cristãos, nós não podemos dar ouvidos e justificar monstruosidades desse gênero, mesmo que sejamos perseguidos, mesmo que falem que somos de esquerda, que somos comunistas porque defendemos os pobres. Nós defendemos os pobres porque somos cristãos! Porque Deus disse: "O meu olhar está sobre os pobres". E eu quero estar onde os olhos de Deus estão! Podemos pensar que não, mas trazer 1 kg de arroz na missa para doar aos pobres é chamar o olhar de Deus para você. Você não tem ideia das bênçãos que Deus nos dá quando um pobre que recebe 1 kg de arroz diz: "Deus te abençoe"...
Essa é a ação cristã que caminha em meio às mudanças do mundo. O mundo muda; mas o amor e o serviço aos que sofrem, estes permanecem! Em alguns tempos, isso é mais compreendido; têm momentos em que precisamos ajudar menos, porque os pobres estão ganhando um pouquinho mais e estão conseguindo se virar. Em outros períodos, porém, temos que ajudar mais, porque a miséria está se agravando; e porque fazemos isso, muitas vezes somos perseguidos e mortos. Mas Jesus nos diz: "Perseverem fazendo o bem! Nisso está a vida, nisso está o Reino de Deus". Esse amor não acaba! Pode vir terremoto, guerra, o que for – isso sempre existiu e sempre existirá; faça e continue fazendo o bem. Esse é o caminho de Jesus, isso dura para além do fim do mundo.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 33º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 17/11/2019 (Domingo, missa das 10h).

Manter sempre viva a esperança da vida eterna
10/11/2019
O Evangelho de hoje nos fala sobre os saduceus. E eles eram um pessoal muito rico. Eles tinham bastante dinheiro. Só que eles não acreditavam na vida eterna. Eles achavam que a gente morria e virava pó, não havia mais nada. Então eles fizeram uma armadilha para pegar Jesus e de uma forma bem feia pois foi com uma espécie de piada. Mas Jesus, em sua sabedoria, mostrou que eles estavam bem errados, porque existe a vida eterna e a ressurreição dos mortos e, depois que a gente morre, viveremos todos juntos, perto de Deus, lá no céu.
Os saduceus eram ricos e ricos raramente são religiosos. E, se são religiosos, são extremamente rigoristas nas observâncias religiosas porque, no fim das contas, eles não podem deixar de comer pela consciência. Porque eles sabem que o dinheiro deles deveria, de algum modo, servir também para ajudar os outros. Quanto mais você tem, geralmente, menos você quer dividir. Estes eram os saduceus: não acreditavam na ressurreição dos mortos, eram riquíssimos, donos do poder em Jerusalém e, por mais absurdo que possa parecer, eram a família dos sumos-sacerdotes. Imagina que absurdo: o sumo-sacerdote, do templo de Jerusalém, não acreditava na ressurreição dos mortos. É como se o Papa não acreditasse na ressurreição dos mortos.
E, neste contexto, eles se sentem no direito de fazer estas piadas com Jesus. E dizem: afinal de contas, existe esta lei de Moisés que diz que se alguém é casado e não tem um filho homem e morre, o irmão dele tem que se casar com a viúva. E se ele tiver um filho homem com ela, o menino é considerado filho do primeiro. E isto por quê? Para ele receber a herança e o dinheiro ficar sempre dentro da mesma família. Era a chamada lei do levirato. Então ia passando de irmão para irmão e, por isso, eles fizeram essa piada... Por isso, perguntaram a Jesus deste caso em que a mulher se casou com os sete irmãos pois nenhum tinha filho com ela. E queriam saber se, quando eles falecessem e ela também, com quem ela seria casada na ressurreição. Primeiro, eles não acreditavam na ressurreição. Segundo, quando falavam disso, falavam da ressurreição como se fosse nesse mundo, com as leis deste mundo. E Jesus puxa o tapete: a ressurreição supera as leis biológicas. Essas leis não existem mais, nós não nos casamos e nem nos damos em casamento. Somos como os anjos de Deus, filhos de Deus. Nos reconhecemos, nos amamos, mas não somos mais como neste mundo.
E Jesus, no Evangelho de Mateus, vai dizer, nesta mesma passagem: “vocês erram muito”. Este pessoal, realmente, era terrível e será parte daqueles que condenarão Jesus à morte.
Vamos pedir ao Senhor que Ele nos ajude a ter sempre firme, em nosso coração, a fé na ressurreição dos mortos. Na vida plena em Deus que ocorre depois da morte. Porque aquele é o nosso destino. E, se aquele é o nosso destino, nós podemos gastar essa vida terrena fazemos o bem, melhorando este mundo. Porque lá está o nosso coração. Crer na vida eterna não é uma alienação. Ter o coração na vida eterna não é viver mentindo para nós mesmos. Crer na vida eterna é trabalhar e gastar a vida nesse mundo para fazer que ele seja mais parecido com a fraternidade do Reino de Deus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 32º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 10/11/2019 (Domingo, missa das 10h).

A misericórdia de Deus salva a todos
03/11/2019
O livro do Apocalipse de São João é um livro de encorajamento. Encorajamento para quem? Para os cristãos que estão sendo perseguidos. Ele foi escrito por volta do ano 100, e muitos cristãos já havia sido mortos e tinha uma perseguição terrível do Imperador daquele tempo. Então, João estava na ilha de Patmos e teve estas revelações de Jesus.
Todas as imagens que nós vemos no livro do Apocalipse têm sempre essa mensagem: o mundo pode perseguir, tudo pode parecer perdido, mas a última palavra pertence ao Cordeiro de Deus e àquele que está sentado no trono, que é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Então não tenham medo! Deus tem o controle da história. Nós podemos ser perseguidos agora, podemos ter medo, mas Deus é fiel. A última palavra é d’Ele.
Então, acontece essa visão e o anjo diz “vamos exterminar o mundo”, mas antes vamos marcar a fronte dos eleitos. A Primeira Leitura [Ap 7,2-4.9-14] fala 144 mil das 12 tribos de Israel – é o povo hebraico, o povo da antiga aliança. Na Antiguidade, os números eram muito estudados e até venerados como divindades. Temos dois números perfeitos 3 e 4, e os números que derivam deles. Três mais quatro é igual a sete: número perfeito. Três vezes quatro é doze: outro número perfeito. Doze vezes doze é igual cento e quarenta e quatro: outro número perfeito. Mil: outro número perfeito. Por isso, 144 mil é um número simbólico, que significa todos. É um número de totalidade, significa que todo o povo da antiga aliança será salvo por misericórdia de Deus, porque Deus é fiel e prometeu que iria salvar o povo da antiga aliança, o povo hebreu.
Mas logo depois, temos uma outra imagem, João vê uma multidão que ninguém pode contar – nem os anjos podem – uma multidão infinita de todas as raças, línguas e nações. Todos vestidos de brancos, todos carregam palmas, que é o significado da vitória. Um dos Anciãos pergunta a João: “quem são estes?”, e ele responde “são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”. O sangue de Jesus nos purifica, o sangue de Jesus nos salva – este é o sentido de lavar as vestes no sangue do Cordeiro: Jesus é Salvação. Eles são os primeiros mártires, as pessoas que morreram e derramaram sangue por causa de Jesus, mas são todas as pessoas que fizeram o bem.
Será que nós também estamos entre esta multidão que não pode ser contada? Todos nós estamos lá. São Paulo nos diz que todos os batizados são santos. Olha que consolação Deus nos dá: ser salvos por misericórdia, porque Deus é bom. E alegria da salvação nos deve levar a viver isto o que Jesus nos ensinou no Evangelho. Jesus ele subiu a montanha e fez um longo sermão, o chamado Sermão da Montanha. Vocês se lembram de uma outra pessoa que subiu a montanha e trouxe algumas leis? Moisés. Pois então, Jesus é o novo Moisés que traz agora a lei do Pai, a lei da vida. Jesus estava para revelar o segredo do coração dele. Então, nós temos as bem-aventuranças, nós temos o mandamento do amor ao próximo, nós vamos ter o Pai Nosso neste sermão. Estes três capítulos do Evangelho de São Mateus (Mt 5-7) são a nova a lei, que supera a lei de Moisés, é a Lei do Reino. Então, Jesus nos ensina, nós batizados, a viver deste modo, na pobreza, nunca colocar no dinheiro a nossa esperança. “Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino do Céus”, os pobres de espírito são todos os pobres, que não tem dinheiro, que passam fome e todos aqueles também que usam do que tem para o bem dos outros, estes são os pobres em espírito. Deles é o Reino dos Céus. No céu, não existe acúmulo, eu não posso acumular coisas para mim mesmo, cada um terá sua parte. “Bem-aventurados os aflitos”, quantas dificuldades neste mundo, quantas dores... Jesus nos convida a colocar nossa esperança n’Ele, porque nossas aflições têm o tempo que acaba: o tempo de Deus. “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra” – possuir a terra, isso é poder, mas o poder no Reino de Deus é o contrário do deste mundo, o poder no reino de Deus é serviço, não é mandar nas outras pessoas, mas é servir. “Bem-aventurados os que lutam pela justiça” – é pela justiça que nós lutamos neste mundo, para construir a paz, nós construímos este mundo. Nós temos que construir a justiça e a paz aqui. E toda vez que fazemos isso, estamos plantando sementes do Reino de Deus em nosso meio, para as pessoas que estão ao nosso lado.
Hoje uma bem-aventurança que é muito importante, mas que para nós está sendo muito difícil: “Felizes os puros de coração, pois verão a Deus”. A pureza de coração é a capacidade de não ser enganado pelas mentiras do mundo. Hoje existem as mentiras do sucesso, do enriquecimento, da beleza… A pureza de coração é ter sempre diante dos olhos em Jesus e seu Evangelho, esta Palavra que estamos ouvindo hoje, e não deixarmos enganar por estas mentiras do mundo, porque se deixarmos nos enganar, nos desviamos do caminho, nós mentimos para nós mesmos, entramos por uma estrada que não é o caminho de Jesus.
Jesus nunca mente, quem procura viver os valores do Reino de Deus vai encontrar perseguição. Vai encontrar em casa, ou no trabalho, ou nos vizinhos. Por isso Jesus diz: perseverem, porque a última resposta é d’Ele. É na perseverança que vocês se salvarão. Por isso, não podemos ter medo de seguir o Evangelho, mesmo que custe caro – e, em alguns casos, isso pode custar a própria vida – mas Jesus nos garante um lugar na casa do Pai. Essa é a nossa esperança, lá está nosso coração. Podemos até arriscar a nossa vida aqui, porque a nossa esperança está em Jesus.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade de Todos os Santos (Ano C) – 03/11/2019 (Domingo, missa das 10h).

A morte não é a última palavra
02/11/2019
A morte sempre nos alcança: essa é a única certeza que temos. Os povos antigos, de três ou quatro mil anos atrás, acreditavam até que todos estavam mortos. Jesus, porém, pede para nós confiança: “eu vou para junto do Pai e vou preparar-vos um lugar. Depois eu voltarei e vos levarei comigo, para que vocês estejam onde estou: na minha glória, a glória que existe desde antes da criação do mundo”.
Então, por que a morte é um drama para o ser humano? No Gênesis, o que o maligno colocou no coração do ser humano? Qual foi o veneno? A desconfiança de Deus. Deus está dizendo para você a verdade. Mas a serpente disse: “no dia em que comeres dessa planta, seus olhos serão abertos e vocês serão como Deus”. Mas isto é mentira. E essa é a arma do maligno: o engano, a mentira e a desconfiança. Ele quer que tenhamos medo até de que Deus nos fale a verdade.
Jesus repete algumas vezes no Evangelho de João: “tenham confiança; não tenham medo, pois o medo é o inimigo”. Diante da morte, Jesus nos diz a mesma coisa: “não tenham medo, não é esta a última palavra da nossa vida”. A ressureição de Jesus, para nós, é garantida. E é, justamente, o que nos faz seguir adiante, na história, com esperança. No tempo de Jesus, existia um grupo poderoso que não acreditava em ressureição, não acreditava nos anjos, em nada. Este povo era os saduceus. Tentaram até fazer uma piada com Jesus. Disseram que uma viúva havia se casado com sete irmãos e perguntaram de quem ela seria esposa no céu. Jesus responde que eles estavam errados e que ela não seria de nenhum, pois no céu seremos como os anjos de Deus: não nos casaremos; no céu teremos a plena comunhão com Deus.
E a coisa mais assustadora era que estes homens – os saduceus – eram os sumos sacerdotes, e não acreditavam em nada. E quantas vezes ouvimos de cristãos católicos a dúvida se existe mesmo alguma coisa depois da morte, duvidando da própria fé! A nossa esperança está na ressureição de Jesus, uma promessa que já havia sido feita no Antigo Testamento. Deus disse através dos profetas: “meu povo, Eu vos tirarei dos vossos túmulos e, nesse dia, vocês vão saber que eu sou o Deus fiel, digo e faço”.
Deus faz a promessa porque Ele é fiel. Nós somos infiéis, duvidamos e temos medo. Mas devemos confiar, apostando na justiça, no direito e na fraternidade das pessoas. Se a gente não acredita na ressureição, esses valores não são nada. Se a gente morre e não tem mais nada, por que acreditar em Deus? Se a gente morre e não tem mais nada, não terei escrúpulo nenhum e eu farei para os outros tudo que eu quiser.
Jesus disse: “irmãos, fraternidade e solidariedade são sementes do Reino; nossa esperança está lá diante do Pai e nós compareceremos diante Dele”. Os judeus acreditam que vivemos apenas na memória e no coração daqueles que nos amavam depois que morremos. Os cristãos acreditam que a morte nos coloca diante de Deus. Não é a memória humana que garante nossa sobrevivência, mas sim o fato de estarmos na presença de Deus, que cuida de nós, nos incentiva, nos dá coragem.
Não vamos desistir! A morte não é a última palavra! A morte dói, mas a última palavra está na boca de Jesus Cristo, que é a ressurreição. Sendo assim, vamos pedir ao Senhor que aumente, a cada dia mais, a nossa fé.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Comemoração dos fiéis defuntos (Ano C) – 02/11/2019 (Sábado, missa das 16h).

O Espírito Santo habita no coração dos humildes
26/10/2019
Querido povo de Deus, de maneira especial, estes jovens que receberão o Sacramento da Crisma nesta Santa Missa. O Sacramento da Crisma é a unção do Espírito Santo. No Pentecostes, Deus nos deixou um grande sinal, para a Igreja se tornar viva, alegre. O Papa Francisco nos convida, em sua primeira carta, a evangelizarmos por meio da alegria; e, para isso, nada melhor do que os jovens. É próprio do jovem ser alegre. A Igreja precisa dos jovens! Jesus quer precisar da juventude, Jesus quer precisar do povo de Deus.
Sendo ungidos pelo Espírito Santo, vocês não devem agir como aquela história – vocês já ouviram? Certa vez, tinham muitos pombos em uma igreja. O padre, nervoso, foi falar com o bispo. E a resposta foi: "Você quer que eles vão embora? É só crismá-los!". Que triste conclusão: muitos jovens, depois de crismados, vão embora da igreja... O que deveria ser ao contrário! Porque um sacramento deve gerar vida pastoral; o jovem deve assumir o trabalho na igreja e no mundo, para ser luz. Não para ser uma luz arrogante – e aqui nós vamos entrando no tema da Liturgia da Palavra de hoje –, mas para serem evangelizadores que partam da humildade. É preciso ser pequeno; e nós, quando estamos na juventude, geralmente, queremos ser grandes rápido. Jesus vai ensinar para nós o caminho contrário: quando vamos nos tornando pequenos, humildes, aí sim Ele vai nos tornando pessoas grandes.
Vamos acompanhar as leituras de hoje? Olha o que Deus vai nos dizer e quantas comparações o Senhor nos deixa para nos ensinar sobre a humildade. E a coisa mais bonita é vermos, trabalhando na igreja, jovens que ouvem, que são humildes, que se colocam a serviço, que não vivem na arrogância. A arrogância nos leva para longe da salvação; a humildade nos leva para dentro do coração do Senhor, nos faz viver a salvação.
A primeira leitura de hoje [Eclo 35, 15b-17. 20-22a] vai nos falar do valor da oferta; que a oferta feita não depende da quantidade, mas da qualidade, da disposição do coração. O livro do Eclesiástico está falando para nós que o louvor do pobre – não só financeiramente, mas pobre em espírito, aquele que não tem nada, só tem o Senhor Deus – pode penetrar as nuvens e tem mais valor do que o dinheiro e o rico. Ou seja, Deus se deixa abrir para quem é humilde e fecha o Seu coração para o arrogante. O clamor do pobre, do pequeno, atravessa as nuvens mais do que ter muitos bens materiais. E nós estamos falando de um texto do Antigo Testamento, o que significa que não foi Jesus o primeiro a nos ensinar isso, já no Antigo Testamento Deus vai nos apresentando alguns pontos. O livro do Eclesiástico faz parte do conjunto dos textos da Sabedoria de Israel: Eclesiástico, Eclesiastes, Sabedoria e outros.
Vamos pular para o Evangelho de hoje [Lc 18, 9-14], que é a continuação do texto do domingo passado. Jesus nos falava sobre a oração e ensinava que temos que rezar sempre. Hoje, Jesus nos diz, por meio da boca do evangelista Lucas, como temos que rezar. E é tão interessante, querido povo de Deus, pois Jesus vai nos apresentar uma parábola de dois homens rezando. Primeiro, Ele nos apresenta os fariseus, um grupo da época de Jesus que era fiel à lei. O erro dos fariseus estava na arrogância. Eles estavam certos de que eram os justos e agradáveis a Deus. Já o publicano, que era o cobrador de impostos, era um pecador público, um homem impuro, sujo, que ninguém podia ficar perto. Mas ele se apresentou a Deus com humildade. A palavra "humildade" vem de húmus, terra; é ser pequeno, mas, ao mesmo tempo, ser alimento – o que faz a plantinha crescer? A terra. E a humildade que Cristo ensina é não ser arrogante e colocar seus dons, seus talentos a serviço da Igreja. Se você é um bom cantor, você tem que cantar para Jesus; se você é um bom pregador, você deve pregar a Palavra, ser catequista. Mas tudo com humildade.
O publicano, na parábola, espera que Deus aceite seu coração contrito; seu clamor se parece muito com o Salmo 50. O cobrador de impostos não é arrogante, ele se apresenta a Deus com a cabeça baixa, porque sabe que é pecador e precisa da misericórdia. Olha a diferença entre ele e o fariseu... Jesus vai dizer no Evangelho que este último, que é o cobrador de impostos, saiu justificado da sua oração, o outro não. Por quê? Queridos filhos e filhas, o publicano sai justificado porque crê que a salvação é um presente de Deus, é dom de Deus. O fariseu não sai justificado pois ele acha que tem direito à salvação; ele não recebe a salvação porque pensa que merece a salvação, já que ele vive a lei. E, às vezes, nós parecemos fariseus...
Amarrando o Evangelho à segunda leitura [2Tm 4, 6-8. 16-18], temos Paulo, que escreve a Timóteo dando algumas ordens a ele. Este trecho se chama "O adeus do Apóstolo" ou, também, "Testamento do Apóstolo". E olha que coisa maravilhosa: Paulo teve que aprender a ser humilde; teve que cair e ficar cego, lá no caminho de Damasco, pois era muito cheio de si. Jesus o encontrou e disse: "Por que você persegue a minha Igreja?". E ele, da arrogância, aprendeu a ser humilde. E, no fim da sua vida, vai dizer, neste trecho de hoje: "Timóteo, eu combati o bom combate. Agora, está guardada para mim a coroa da justiça, que o Justo Juiz dará àqueles que merecem". Que felicidade, meus irmãos, se no fim da nossa vida, a exemplo de Santa Teresinha, a exemplo de Irmã Dulce – que acabou de ser canonizada –, nós recebermos, do Justo Juiz, a coroa da humildade, a coroa que vem de ser pequeno.
O Espírito Santo só quer morar no coração de quem é humilde. No coração arrogante, o Espírito Santo não tem espaço. O Espírito Santo quer fazer coisas maravilhosas através de nós, batizados e crismados, mas, para isso, é preciso que sejamos pequenos. Como anda o seu caminho de humildade? Como anda sua pequenez diante do Senhor? Pergunte isso ao seu coração. "O pobre clama a Deus e Ele escuta" [Salmo 33 (34)]. O clamor do pobre atravessa as nuvens e alcança o coração de Deus; o clamor do orgulhoso, do arrogante, não pode chegar a Deus... Como anda sua vida nesta caminhada? A partir de hoje, você precisa decidir viver no caminho da humildade, no caminho da Igreja, no caminho de Cristo, a exemplo de Santa Teresinha, de Irmã Dulce, de tantos outros irmãos que entregaram sua vida a Deus.
Oremos: "Espírito Santo de Deus, dai-me o dom da humildade. Eu quero ser pequeno, para que o Senhor cresça na minha vida. Que eu diminua, Espírito Santo, e que Jesus apareça. Dai-me essa graça, essa dádiva do céu, de ser humilde, pequeno, para servir o Reino de Deus. Amém".
O sacramento da Crisma marca nossa fronte com o sinal espiritual e nos marca com o bom odor de Cristo. Que este óleo do Crisma penetre em sua alma. E que, ao sair daqui, você se sinta muito motivado a servir a Cristo, cheio de humildade, de coragem, de alegria e decisão para seguir o amado Jesus!
Homilia: Pe. Renato Fernandez – 30º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 26/10/2019 (Sábado, Missa da Crisma às 16h).

Perseverar na oração
20/10/2019
O Evangelho de hoje [Lc 18, 1-8] não é um elogio para um juiz corrupto. É estranho que Jesus colocar a imagem de uma mulher, é estranho para nós... Jesus está falando com os discípulos sobre a necessidade de rezar, mas rezar sempre, perseverar na oração. Uma viúva que vai procurar o seu direito. Há dois mil anos atrás na Palestina, as mulheres não tinham direito algum: as mulheres não era alfabetizadas, elas não podiam servir como testemunha num julgamento e elas eram propriedades do pai, depois do marido e se ficasse viúva com o filho mais de doze anos de idade, ela seria propriedade do filho. E quem iria defender os direitos dessa mulher? O pai ou o marido ou o filho. Quem nós encontramos aqui? Uma viúva que vai pedir a um juiz pelos seus direitos, ou seja, ela não tem ninguém, nenhum homem que possa reclamar e proteger os seus direitos. Olha a situação horrorosa dessa mulher, uma situação terrível! E Jesus coloca bem essa imagem para dizer o quê? Nós, diante de Deus, não temos direito algum. O simples fato de existir já é de uma bondade infinita de Deus, então devemos nos colocar diante de Deus como alguém que não tem direitos. Essa é a primeira atitude da oração: nós não temos direitos.
Depois esta mulher faz o que ela pode e o que ela pode é insistir. Ela não tem ninguém que pode defendê-la, ela não tem voz nenhuma no tribunal. A única pessoa que pode defender ela é um juiz ladrão, um corrupto. Então essa mulher, todos os dias, procura o juiz na praça que o juiz faz na casa de justiça e não faz nada, ela encontra o juiz fazendo feira com a esposa e esta mulher não deixava o juiz em paz. Já hoje em dia, tem que dar entrada no processo, aí traga esse documento, depois traga este outro, depois daqui dois meses, mas trocou de juiz, agora está em recesso e passa um, dois, vinte anos e não anda... Naquele tempo também era assim e juiz corrupto quer o quê? Dinheiro! A causa dos ricos é lógico que ele faz rápido, tem grana. Mas esta viúva que não tem direito nenhum, que não tem nem homem para defender a causa dela, por que perder tempo com essa mulher? Mas de tanto esta mulher ficar no pé desse juiz, ele falou ‘quer saber de uma coisa? Eu vou dar um despacho nesse processo e vou me livrar dessa mulher de uma vez se não ela vai chegar aqui um dia e vai acabar me jogando pedra’. Então Jesus fala: se um juiz corrupto, que não se importa com ninguém nem com Deus, fez justiça de tanto essa mulher insistir, quem dirá Deus que nos ama como um Pai! Deus que nos ama como o coração de mãe! Esta imagem nós temos também em outra passagem do Evangelho [Lc 11, 11-13]: qual de vós que são maus, se o filho pede um peixe ou um ovo, vão dar um escorpião para o filho? Nem vocês são capazes de fazer mal para seus próprios filhos, quem dirá Deus, que é bom, que ama... Ele faz as coisas boas para quem pedir. Não temos direitos, mas devemos insistir na oração, perseverar na oração, acreditar sempre na bondade de Deus. Isso não quer dizer que não vamos ter dificuldade na vida: dificuldade, doença, dor e morte todos teremos, porque faz parte da vida, mas a injustiça não faz parte da vida. As injustiças temos que combater, mas estas questões – doenças, sofrimento, dor e morte – todos vamos passar, nós somos criaturas frágeis. Então Deus nos pede, Jesus insiste: rezem constantemente, rezem a todo o tempo.
São Lucas terminou de escrever este Evangelho por volta do ano 90, isto é, 60 anos depois da morte e ressureição de Jesus. A primeira geração, as pessoas que conheceram Jesus pessoalmente, já tinham quase todos morrido, todos os apóstolos já tinham sidos assassinados – sobrou São João por um milagre, jogaram ele no óleo quente e ele não morreu, mas era para ter morrido. Mas quantas outras pessoas, 60 anos depois, conheceram pessoalmente Jesus? É difícil, então já tinham morridos todos. Muitos da segunda geração logo do primeiro anúncio do Evangelho também muitos já tinham morrido, e o povo ficava esperando Jesus vai voltar, “nós estamos aqui numa dificuldade danada e quando Jesus vai voltar?”. Já São Paulo começou a falar “Calma, a volta vai ser não vai ser por aqui”. E aí o que acontece? A porca começou a torcer e começaram as perseguições, então muitos cristões começaram a abandonar o caminho de Jesus Cristo. Aí São Lucas, no meio dos documentos para escrever o Evangelho, encontrou esta frase: “Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”. Isso quer dizer o quê? Que quando Ele for voltar, Ele quer ver a fé de vocês. Como vocês acham que Ele quer nos ver? Anunciando o Evangelho com a própria vida, sendo boas pessoas, pessoas honestas, pessoas que fazem o bem para os outros por amor a Deus e não para tirar alguma vantagem; sendo capazes de acolher todos os filhos que Deus nos manda. Isso que Deus quer de nós: perseverar na oração, insistir.
São Paulo diz, muitas vezes nós não somos ouvidos nas nossas orações porque rezamos mal e de forma interessada. Nós queremos ganhar na loteria para ficar rico. Rezamos para não ter sofrimento nenhum na vida, mas o sofrimento faz parte da vida. Nós rezamos às vezes pedindo um milagre desesperados, mas para quem crê em Deus, a morte é um consolo. Nem deveria nos assustar, porque nós acreditamos na vida eterna. A nossa esperança está lá, por isso nos temos que fazer o bem aqui, porque o nosso coração está lá e Jesus Cristo está lá. Por isso vale a pena aqui viver os valores do Evangelho. Persevere, não jogue fora o caminho e acredite sempre que Deus escuta as vossas orações. Mas lembre-se de que Deus tem os tempos dele, Deus sabe o que é melhor para nós. Deus conhece o sentido da nossa história.
Na Primeira Leitura [Ex 17, 8-13], vemos Moisés subindo no monte para rezar. Vocês sabiam que Moisés era assassino? Lá no Livro do Êxodo, Moisés matou um egípcio. ‘Ah, mas ele estava atacando um hebreu’, isso não justifica. Vocês sabiam que Moisés era gago? Por isso ele precisava do Aarão para conversar com o faraó por conta da sua gagueira. Deus fez de Moisés o maior líder do seu povo e maior que Moisés, só Jesus.
Quem é a única pessoa, fora Maria, que nós sabemos que está no céu, que é santo com certeza? São Dimas, e quem é São Dimas? Ele era assassino que depois se converte. Ele estava envolvido em um homicídio e foi contra um romano, porque se não fosse, não morria como Jesus, e nem se fosse ladrão de galinha, porque ladrão não morria como Jesus. Então se Deus salva e chama para grandes missões até assassinos, a gente tem que duvidar do amor de Deus? Por que nos vamos duvidar? Essa é a prova do amor de Deus! Para Ele, as nossas misérias, os nossos pecados, não são um problema. Mas temos que seguir o Evangelho e perseverar no caminho. E Deus nos mantem na fé e nos encontra na fé. Este é o Evangelho de hoje.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 29º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 20/10/2019 (Domingo, missa das 10h).

A nossa esperança está em Jesus
13/10/2019
Caríssimos irmãos e irmãs da fé, o profeta Oséias [Os 2,16] diz: “vem comigo num lugar a parte e falar-te-ei ao coração”. Este lugar a parte hoje é a Paróquia Santa Teresinha, onde Deus fala-nos uma palavra de esperança, de ânimo, de conforto para continuarmos a nossa vida não do nosso jeito, mas do jeito de Deus. O bom filho e a boa filha são aqueles que ouvem a voz do Senhor. Sendo assim, São Tiago fala assim “não sedes meros ouvintes da Palavra de Deus, mas praticantes”. Então aqui nós nos encontramos para rezar – primeiramente para nós ouvirmos a voz de Deus, como ouvimos nas leituras da Santa Missa, que é Deus falando para cada um de nós. O Salmo 94 vai dizer “não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor”, nós ouvimos como bons filhos que ouvem a voz de Deus, assim como Nossa Senhora que ouviu a Palavra, a guardou em seu coração e essa Palavra tornou-se vida em seu ventre. Assim, todos nós, onde quer que nós estejamos, somos chamados, convocados por Deus para ser sinais de esperança em um mundo marcado por tantas coisas contrárias ao projeto Deus para cada um de nós, seus filhos e filhas.
Hoje, de modo especial, vimos dois relatos. Na Primeira Leitura [2Rs 5,14-17], Naamã, o sírio, que quis ser purificado da doença que estava com ele, então ele primeiramente não acreditou que se ele se jogasse no rio seria curado daquela doença. E assim também, quantos de nós não somos alcançados e temos como companheira do dia a dia a insegurança, a dúvida, a incerteza, a incredulidade na Palavra de Deus e duvidamos de Jesus? São Francisco nos diz “aonde houver dúvida, que eu leve a fé”. Então, este homem, Naamã, depois de muita insistência, resolveu banhar-se na água e, a partir do momento que ele entra na água, ele se torna uma criatura nova, ou seja, restaurou a sua pele e também restaurou a sua fé e a sua dignidade. Então ele volta para agradecer ao profeta Eliseu, que disse a ele “não, não é a mim que você deve agradecer, mas ao Pai que está no céu”. Assim também toda vez que nós nos encontramos na Santa Missa, nós recebemos esse banho da regeneração do amor de Deus para cada um de nós. A diferença é com que disposição nós estamos ouvindo e acolhendo a Palavra? Nós acreditamos realmente que toda missa é missa de cura e libertação? Acreditamos na Palavra de Deus? Acreditamos que Jesus realmente está caminhando no meio de nós? Ou nós ainda estamos na dúvida? Não podemos ser igual aos discípulos de Emaús que diziam que a esperança do povo morreu, mas, assim que Jesus ressuscitado passa a ser companheiro deles na viagem, eles disseram assim um ao outro “não ardiam os nossos corações quando Ele nos falava no caminho e nos explica as Escrituras?”. Então, a Palavra de Deus é bálsamo para a nossa ferida interior. A Palavra de Deus restaura a nossa fé e a nossa confiança no Senhor Jesus Cristo.
E o segundo relato é o Evangelho [Lc 17,11-19] que nos diz bem claro que para seguir Jesus, existem dois caminhos. Ali havia dez pessoas que falaram no coletivo “nós queremos ser curados”, então eles foram curados por Jesus no coletivo, mas apenas um voltou para glorificar a Deus, ou seja, apenas um se tornou discípulo de Jesus. Então às vezes, nós temos essas duas dimensões dentro de nós: a dimensão de quem acredita na Palavra e segue Jesus e a dimensão de quem ouve, mas não acredita, acha que não é com ele ou faz diferença da Palavra do Senhor. Mas Deus na sua infinita misericórdia e bondade deseja curar a todos nós da nossa indiferença, da nossa insegurança, da nossa dúvida. Hoje a lepra tem nome diferente, é a nossa incredulidade na Palavra de Deus, a nossa falta de fé, a nossa falta de perspectiva, a nossa forma de isolar e rotular as pessoas. Então Deus hoje quer curar o nosso interior. O Apocalipse de São João [Ap 18] nos diz que é preciso que nós peçamos o colírio do amor e da misericórdia de Deus para nós enxergarmos as pessoas da mesma forma que Deus nos olha, pois Deus nos vê com olhos de ternura e misericórdia e espera que nós também assim o procedamos e possamos ver os outros com olhos de ternura e misericórdia.
Por último, São Paulo [2Tm 2,8-13] vai nos dizer que é preciso que nós confirmemos a nossa participação, a nossa fé em Jesus. Não podemos negar Jesus. Se nós o rejeitarmos, quando passarmos deste mundo para o outro, vamos bater na porta do céu e dizer “oi, Jesus” e Jesus vai dizer para nós “não os conheço”, porque aqui na terra nós vivemos como se ele não existisse. Mas enquanto estamos peregrinando, todo tempo é tempo da graça de Deus, é tempo de conversão, é tempo de voltarmos para Deus.
Peçamos, pela intercessão de nossa padroeira, Santa Teresinha, missionária, que nós também, onde quer que nós estivermos, possamos ser sinais de esperança, sinais de união, sinais de solidariedade e, acima de tudo em um mundo marcado por tanta violência, que sejamos sinais de paciência e sinais de perdão.
Homilia: Pe. Alessandre Marcos Benedito – 28º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 13/10/2019 (Domingo, missa das 10h).

Nossa Senhora: mulher que é sinal de Deus
12/10/2019
Esse é o momento de nós acolhermos a palavra de Deus. Podemos ouvir Deus toda vez que estamos na missa no momento chamado liturgia da palavra, em que Deus fala aos seus filhos, o povo. Deus nos fala através da Bíblia, nos fala através da leitura que nós ouvimos, do livro da vida. E hoje o livro da vida nos fala de Nossa Senhora Aparecida. O que será que Deus quer nos falar? Se alguém perguntasse para você quem é Nossa Senhora Aparecida, o que você responderia? Que é a mãe de Jesus. Tem gente que faz até confusão: ‘quantas mães Jesus têm? Tem Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Lourdes...’. O que você responde? É a mesma mãe de Jesus que tem vários apelidos.
Agora tem outra questão que se coloca: ‘mas você está adorando uma imagem!’. Nós a acolhemos com muita festa, com muita alegria, colocamos o manto e coroamos Nossa Senhora, e há pessoas que dizem: ‘isso está errado, porque isso não é de Deus, não se deve adorar imagem!’. O que você responde? Estamos adorando imagem? Claro que não. Nós somos uma grande família, e toda família tem fotografias em casa, não tem? Dos filhos, das pessoas queridas... e é muito bonito quando você pega uma fotografia para mostrar a uma criança e diz: ‘veja aí o seu avô, você não conheceu o seu avô, mas olha aqui a foto’ e isso te faz ficar contando as histórias: ‘esse é seu tio, essa é sua tia; ele fez isso, ela fez aquilo...’, pois eles deixaram um exemplo para nós, sabe? É muito bonito ficar lembrando. É isso que você deveria dizer para quem questiona essa história de imagem. Nós vemos várias imagens aqui, nas igrejas católicas... são só fotografias, só um álbum dessa grande família. E todas as fotografias que vejo são imagens que me lembram alguma coisa: vejo o Coração de Jesus, me lembra alguma coisa; vejo Santo Antônio, me lembra alguma coisa. Mas todas essas imagens me levam a Jesus: Santo Antônio, que está segurando Jesus; todos os santos também; Santa Teresinha, que é padroeira dessa comunidade... Santa Teresinha do Menino Jesus, não é assim? São todos exemplos que nos levam pelo mesmo caminho: Jesus de Nazaré. Ele é o caminho, Ele é a vida, Ele é tudo para nós. E assim também é Nossa Senhora Aparecida, essa imagem de Nossa Senhora Aparecida, a mãe de Jesus.
Aqui no Brasil, Nossa Senhora se manifestou através dessa pequena imagem, uma imagem misteriosa, que tem um significado muito profundo. Por isso, quando nós olhamos a imagem de Nossa Senhora Aparecida, nós vemos o rosto de Deus. Nós devemos aprender a olhar para Maria, mãe de Jesus, para descobrirmos o rosto de Deus, de modo especial o rosto de Jesus. Um dia, conversando com uma pessoa evangélica, muito amiga minha, eu disse assim: ‘vocês não sabem o quanto vocês perdem por não ter Maria, mãe de Jesus, de modo especial Nossa Senhora Aparecida’. Ele perguntou o porquê. Primeira coisa: a imagem de Maria, mãe de Jesus, diz o seguinte: a presença da mulher na comunidade cristã. A presença da mulher! Como Deus valoriza a mulher. Deus escolheu uma mulher para enviar o seu filho aqui. Se Maria não tivesse aceitado, Jesus não teria vindo. Isso é sinal da presença da mulher, o valor que a presença dessa mulher tem. Uma pena que a mulher não seja valorizada como deveria ser na própria Igreja. E a dificuldade que o Papa Francisco está tendo nesse Sínodo da Amazônia que falamos no começo da missa. Como ele quer a presença da mulher lá na Amazônia, não apenas uma mulher que limpa a igreja, que prepara as coisas, que fica servindo os padres, os bispos... ele quer dar valor, valorizar a mulher. O Papa Francisco quer porque Deus quer. E por que Deus quer? Primeiro, Ele escolheu uma mulher, a mãe de Jesus. Olha o que Deus fala: ‘você será uma mulher importante, não quero que abaixe a cabeça’. Homem e mulher são iguais. Iguais.
Deus nos fala através de Nossa Senhora Aparecida. E todo mundo sabe a história de Nossa Senhora Aparecida. Todos sabem essa história linda. De modo misterioso aparecer essa imagem, uma imagem negra, numa época da escravidão em que os negros eram escravizados, usados. Negra. Por isso que eu falo: olhando para a imagem de Nossa Senhora Aparecida vemos o jeito de Jesus, Jesus que está com os últimos, com as pessoas desprezadas. Na época, os negros eram as pessoas mais desprezadas, e Maria veio e apareceu aqui no Brasil dizendo ‘eu quero ser desprezada como os negros estão sendo desprezados e marginalizados. Eu quero ser negra!’. Se tem algum negro aqui, sinta orgulho de ser negro porque Nossa Senhora Aparecida quis ser negra que nem você. É Deus que nos fala através de Nossa Senhora Aparecida: negra, humilde, pobre... bonita!
Olha essa imagem: pequena, simples, humilde. Esse manto significa o carinho que o povo tem pela Nossa Senhora Aparecida; mas ela apareceu sem o manto nas águas do rio para dizer: ‘eu sou pequena, insignificante’. E Maria, através de Nossa Senhora Aparecida, é do jeito de Deus; Jesus é desse jeito. Por isso se você quer ser como Nossa Senhora Aparecida, se você quer ser uma pessoa de Jesus, uma pessoa de Deus, você sempre deve sentir amor e carinho para com os mais pobres e desprezados. Nunca despreze um pobre. Se você despreza um pobre, você está desprezando Nossa Senhora Aparecida. Olha o que Deus nos fala! Nós colocamos uma coroa, pois Maria é rainha. E Maria aceita esse presente, mas se ela quisesse ela poderia dizer que não quer: ‘eu sou do jeito de Jesus!’. Você está lembrado do jeito de Jesus? Na Última Ceia, quando Ele nos deu esse grande presente de Eucaristia, o grande pensamento que ele deixou para nós: ele se inclinou diante dos apóstolos e lavou os pés deles. Você imagina? Ele lavou os pés. Ele que é o mestre nos ensinou a fazer o mesmo. Agora é o coroinha que abaixa o joelho diante do padre... deveria ser o contrário. E Maria, mãe de Jesus, apareceu desse jeito em Nossa Senhora Aparecida, por isso que quando olhamos essa imagem de Nossa Senhora Aparecida vemos que tem algo misterioso. Por isso essa imagem para nós é sagrada, por causa desse jeito de Deus, que é amor e carinho. Deus não despreza ninguém. Existe algo misterioso dentro de Deus. E desde o momento em que Nossa Senhora Aparecida tem o rosto de Deus, de modo especial o rosto de Jesus, essa imagem se tornou sagrada. Tanto é verdade que ela está no coração de todo o povo. Quem de nós não gosta de Nossa Senhora Aparecida? Eu acredito que também nosso irmão evangélico gosta da imagem de Nossa Senhora Aparecida, só não dizem... porque ela está dentro do nosso coração. Ela é mãe. Através de Deus, é mãe. E Deus é mãe, Nossa Senhora Aparecida nos diz isso. Por isso, quando você olha para essa imagem de Nossa Senhora Aparecida, você vê o rosto de Deus, que é mãe. Uma vez visitei uma senhora evangélica e ela abriu o guarda-roupas e mostrou escondida a imagem de Nossa Senhora Aparecida. ‘Não pode aparecer porque o pastor não gosta’, mas a imagem de Nossa Senhora Aparecida estava lá. Está no nosso coração.
Nossa Senhora Aparecida está no nosso coração, porque nos fala tudo isso que é de Deus. Que coisa bonita! Nossa Senhora Aparecida é o jeito de Deus que está aqui. É por isso que quando você reza à Nossa Senhora Aparecida você sente esse carinho de Deus, que é mãe. Você sente esse carinho de Jesus, que está presente nos mais humildes e pobres. Ela é nossa. Uma salva de palmas para Nossa Senhora Aparecida.
Homilia: Frei Luiz Favaron – Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Ano C) – 12/10/2019 (Sábado, missa das 16h).

Aprender a aceitar a vontade de Deus
06/10/2019
O profeta, na Primeira Leitura [Hab 1,2-3;2,2-4], é enviado para anunciar para o povo a destruição e o exílio. Mas como anunciar isso ao povo? E Deus diz: “anuncie que vai vir a destruição, vai vir o exílio, mas depois virá a restauração”.
Deus não tem que dar satisfação para ninguém do que Ele faz. Muitas vezes, nós, em alguns sofrimentos que temos, perguntamos “por que isso está acontecendo comigo? Com tantas pessoas más e isso está acontecendo justamente comigo?”. Deus não responde porque não precisa dar satisfação daquilo que Ele faz.
Nós temos a injustiça no mundo. A injustiça não é a vontade de Deus. E Deus quer que combatamos a injustiça ao ponto de até pagarmos o preço da nossa vida. Mas é para combater a injustiça, pois existem situações na nossa vida que não são causa de justiça, por exemplo: certos tipos de doenças; certas dificuldades morais que nós temos; certos problemas graves, às vezes, de caráter. Quantas vezes nós dizemos “eu gostaria de ser diferente”?. Eu peço a Deus para ser diferente, mas reclamo querendo saber porque Deus fez isso comigo? E Deus não responde justamente porque essa pergunta é errada. A única pergunta que podemos fazer a Deus, é a mesma que Nossa Senhora fez ao Anjo Gabriel: “Como fazer?”. Buscar entender o que eu posso fazer nessa situação de dificuldade. Esse é o caminho e atitude cristã diante das dificuldades da vida e da injustiça.
Às vezes, temos injustiça que não conseguimos mudar, mas nem por isso as pessoas deixaram de viver. Vamos enfrentar tudo que for possível, baseados na fé. No Evangelho [Lc 17,5-10], temos uma fala interessante de Jesus que devemos recordar. Depois de percorrer o caminho, às vezes com dificuldade por causa do Evangelho, digam “somos servos inúteis, não fizemos mais que nossa obrigação”. Seguir o caminho de Deus, sem exigir nada dele. Porque o que Deus dá é maior do qualquer exigência nossa.
As nossas medidas são pequenas, mesquinhas... extremamente egoístas até quando a gente reza. Havia uma santa – Santa Ângela – que dizia: “Senhor, me perdoe, pois quando eu rezo, eu só sou interesseira.” A gente vive querendo tirar algo de Deus. A nossa oração raramente é gratuita. Devemos aprender a aceitar a vontade de Deus, caminhar nessa condição, fazendo o bem, lutando contra a injustiça, procurando o bem do próximo. Esse é o caminho que Jesus vai dar a todos nós, a vida eterna. Para alguns, por justiça. Para outros, por misericórdia, porque Ele é bom.
E tudo o que Deus nos der será infinitamente maior do que nós podemos pensar ou ousar pedir. Por isso, Jesus nos fala que, ao rezar, devemos pedir o Reino de Deus, deixando de lado nosso egoísmo. Porque o Reino de Deus é a presença dele no nosso meio. É mais do que tudo que podemos pensar.
Muitas vezes, acreditar nisso nos levará até a cruz. Mas Deus é fiel e alcançaremos a ressurreição.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 27º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 06/10/2019 (Domingo, missa das 10h).

Aprender a ser cristão com Santa Teresinha
01/10/2019
Nosso mundo prega que todos nós temos que ser pessoas de sucesso. Todos nós temos que ser os primeiros, mas primeiro é um só. Então nós entramos na loucura da competição, na loucura de passar a rasteira no outro, na loucura das metas... vocês sabiam que hoje em dia o novo nome da escravidão é exatamente a ideologia das metas dentro das fábricas, das indústrias e das lojas? Metas é uma forma de escravidão. E essa mentalidade está dentro do coração humano. Através dos séculos, nós mudamos e melhoramos a nossa tecnologia, mas o coração humano não muda, é sempre o mesmo. Desde que nós acordamos da inconsciência animal, no dia em que o ser humano pela primeira vez sepultou o seu semelhante, naquele momento da história, nós sabemos que somos humanos. Nenhum animal sepulta os próprios semelhantes. E desde aquele momento, o nosso coração é imutável.
E esse coração que procura sempre o primeiro lugar, que procura sempre estar por cima dos outros, nós encontramos também nos doze apóstolos de Jesus. Várias vezes nós vimos os apóstolos discutindo quem é o maior dentre eles. Então, subindo para Jerusalém, Jesus anunciou que ele vai ser crucificado e todos os discípulos correm na frente dos outros e dizem ‘dá o primeiro lugar para nós’. Eles não entenderam nada. Nós sempre queremos ser os primeiros. Jesus, porém, vai dizer que o caminho do Reino é do avesso: você quer ser o primeiro, pois seja o último; você quer ser o primeiro, sirva aos outros; você quer ser o primeiro, lave os pés dos outros... Seja como uma criança. As crianças no tempo de Jesus não tinham direito nenhum. Não existia conselho da tutela dos direitos da criança e do adolescente. Naquele tempo, o pai era patrão, dono das crianças, dos seus filhos e ele podia vender as crianças como escravos para pagar as suas dívidas. Pessoa que não tem direitos.
Só que Jesus está falando do Reino, pessoas que não tem direitos diante de Deus. Aí a gente fala ‘mas eu não fico pedindo os meus direitos diante de Deus’. Mas aí vem uma contrariedade, uma doença e a gente começa ‘mas eu sempre rezei, eu sempre fui à igreja, eu não mereço isso’. Você está cobrando direitos diante de Deus. Você não aprendeu nada do Evangelho. Não aprendemos nada do Evangelho se nós temos essa mentalidade. E se a gente descobre que nós temos essa mentalidade em nosso coração, nós temos que aprender com Santa Teresinha que sempre quis ser como um brinquedo nas mãos de Deus. Um brinquedo é o que uma criança faz o que quer, mas que também pode ser esquecido debaixo da cama por anos e anos e não reclama, não diz para Deus ‘eu não mereço ficar aqui embaixo’.
A outra coisa para criança, por que Jesus pega a criança como exemplo? Não é porque a criança é espontânea, porque a criança dá a mão para o papai. Jesus mostra a criança porque a criança não sabe. A criança olha o pai, olha a mãe para aprender: São José era carpinteiro e seu pai, seu avô também eram. Uma geração ensinava para a outra e os filhos aprendiam olhando o pai fazer. Como que as meninas aprendiam a cozinhar? Olhando a mãe fazer. Essa é a atitude que Jesus quer de nós. Para um hebreu, dizer uma coisa dessas era uma ofensa, porque os hebreus eram orgulhosos de terem a Lei, a história do Êxodo, quando Deus deu a Lei para Moisés; ‘nós temos o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia, que Deus ditou para Moisés; nós temos os Salmos; nós temos os Profetas, nós não precisamos aprender mais nada’, diziam eles. Como essas pessoas podem seguir o Reino de Deus, o Reino de Jesus, se não tem mais nada para aprender? Jesus vai dizer exatamente isso: abandonem isso que vocês acham que sabem e aprendam daquilo que eu digo, daquilo que eu faço. É isso que Jesus diz, mas não pense que só aos hebreus, a nós também... Isso é para mim também. Quantos de nós realmente vivem o Evangelho? Quantos de nós realmente se coloca diante de Jesus e pede ‘me ensina a viver o Teu Evangelho, me ensina a sair do meu mundinho confortável e cheio de preconceitos para aprender de você’? Para aprender, pense uma criança, pense em Jesus, que não era carpinteiro, essa criança não era carpinteiro, a primeira vez que começou a mexer os pauzinhos lá... Vamos pensar em Jesus com o martelo, quantas marteladas deve ter dado Jesus no dedo? Dói. Até você aprender, cria calo, dói, demora, mas é só assim que você aprende. Nós estamos fazendo isso com o Evangelho? E eu não pergunto só para vocês não, eu pergunto para mim, porque o que eu falo, Deus vai me julgar pelas palavras que saem da minha boca, tem que tomar cuidado, entenderam?
Teresa nos ensina a ser crianças ali onde nós estamos. Nós não precisamos ser não sei que coisa do mundo. Não! O Evangelho nós vivemos em casa. Você que é dona de casa, na sua casa, você vive o Evangelho, na sua comunidade, na vizinhança. Você trabalha? Lá no mundo do trabalho você vive o Evangelho, no seu escritório, na sua seção da fábrica, na faxina que você faz... É lá que você vive o Evangelho, não precisa ir lá em cima do Pico do Jaraguá. Na sua casa, na sua família, você pode viver o Evangelho. Santa Teresinha vivia num Carmelo, uma casa de freiras enclausuradas, elas entram ali para rezar, trabalhar e são enterradas lá dentro. Vivem a vida comum de todo dia. E essa moça viveu o Evangelho naquela vida de convento, vida comum de convento, viveu com uma tal intensidade entre as irmãs que ela se tornou uma luz para o mundo. Papa Pio XI proclamou Santa Teresinha padroeira maior das missões, junto com São Francisco Xavier, ele foi um grande missionário: ele foi para Índia, foi perseguido, quase foi mártir, enquanto Santa Teresinha viveu num Carmelo. Mas vivia com o desejo de ser missionaria. Um belo dia, a Superiora falou ‘olha, nós vamos abrir um Carmelo na terra de missão’ – as freiras também vão para terra de missão, abrem um Carmelo lá e vão viver lá do jeito que conseguem, para ser um testemunho de oração no meio das pessoas que não acreditam em Jesus. Santa Teresinha ficou toda contente e estava pronta para dar o nome dela. ‘Eu quero ir, Deus está dando uma resposta para mim, ao meu desejo de ser missionária’, mas, naquela noite, Santa Teresinha vomitou sangue pela primeira vez. A resposta de Deus foi bem dura para ela, a resposta de Deus foi a cruz. O nome de Santa Teresinha é Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. A Santa Face está no Sudário, quando Santa Verônica encontra Jesus, no caminho da cruz. Seguir Jesus, como uma criança segue, prontos a abraçar a cruz com a coragem de Jesus: foi isso que Teresinha fez e é isso que ela nos ensina.
E o seu desejo de ser missionária nunca acabou. Ela mantinha correspondência, ela escrevia para dois missionários, encorajando-os. E depois, outra coisa muito interessante, os missionários, muitos deles, ouvindo falar dessa carmelita e de sua autobiografia, a História de uma Alma, pediam para as freiras um pouco de terra do túmulo de Santa Teresinha. E ela ainda não era beatificada. Mas quando os missionários se reuniam com várias pessoas para falar do Evangelho, eles jogavam a terra do túmulo de Santa Teresinha – que nem jogar sal em cima do povo – e as conversões eram muitas! Eles achavam a coisa mais maravilhosa que existia. É como se essa mulher caminhasse anunciando o Evangelho, depois do convento, depois da morte. Ela nos ensina a escutar o Evangelho como uma criança e a seguir este Evangelho com a força de Jesus, porque Teresinha nos leva para Jesus, morto e ressuscitado, porque a nossa esperança não acaba na cruz, mas está ancorada na ressureição. Por isso, somos capazes de sofrer até a morte por causa do Evangelho. Os mártires sofrem a morte por causa do Evangelho, mas porque o coração deles está além, está em Deus, por isso é possível arriscar toda a vida. Por isso que nós podemos acreditar no ser humano. É por isso que nós cristãos podemos sempre dizer que as pessoas são boas. Podem estar arruinadas, desfiguradas, monstrualizadas, mas são boas. No fundo do coração humano, tem a imagem de Jesus Cristo e os cristãos tentam resgatar isso nas pessoas. Às vezes paga isso com a vida. Isso os santos nos ensinam. Isso Teresa nos ensina: ouvir como uma criança, aprender o Evangelho como uma criança, com a força de Jesus que carrega a cruz.
Santa Teresinha sofreu muito, pois a tuberculose naquele tempo não tinha remédio, não tinha vacina. Era fim de 1800... e por isso ela sofreu muito. Poucas horas antes de morrer, ela perguntou para a Superiora: ‘madre, isso que estou sentindo agora é a agonia’. E a madre falou ‘é, minha filha’. Então, ela respondeu: ‘ainda bem, porque eu não aguento mais’. E ela morreu com aquelas dores, com o rosto angustiado e as irmãs estavam ali em volta... Ela deu o último suspiro e, de repente, foi como se ela acordasse, o rosto dela ficou translucido e ela disse ‘que lindo...’ e morreu. Lá está nossa esperança, não aqui, mas lá. Nós trabalhamos aqui, porque temos o coração lá. Somos capazes de enfrentar a morte aqui por causa dos valores do Evangelho, porque o nosso coração está lá. Vamos pedir que Santa Teresinha nos ensine e nos ajude!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Dia de Santa Teresinha – 01/10/2019 (Terça-feira, missa das 19h30).

A pequenez que leva o outro ao encontro de Jesus
29/09/2019
Deus está aqui. Essa é a certeza que deve permanecer em seu coração. Não somente aqui nesse recinto, mas também em nós. Não somos um povo abandonado e desolado: somos um povo cujo Deus escolheu como herança. E é o que acabamos de ouvir na Primeira Leitura do profeta Zacarias [Zc 8,1-8], em que Deus habita naquela cidade e, não satisfeito, vem morar em nós. São Paulo, inclusive, nos diz que somos morada do Espírito Santo.
Deus habita no meio de nós e habita em nós. É essa certeza que deve movimentar toda a nossa vida para podermos testemunhar essa presença. A começar dentro da nossa casa pois, sendo habitados por Deus, sendo testemunhas de Deus, devemos fazer com que o outro experimente este Deus que age em nós e está em nós. Mas qual o modo que eu posso fazer isso? Observando o Evangelho de hoje [Lc 9,46-50], dizemos que é buscando a pequenez. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia, constantemente: “o que agrada a Deus e minha pequena alma é que eu ame minha pequenez, a minha pobreza”.
Ser testemunha que Deus é isso e buscar a pequenez é perseguir a pobreza e, na simplicidade, fazer o outro experimentar o Deus que age em nós. O problema é que nós preferimos, muitas vezes, usar máscaras e nos revestirmos de uma falsa piedade onde, dentro da igreja, somos bons. Mas lá fora não conseguimos transparecer essa santidade. Por isso que o profeta vai dizer “Deus habita essa cidade” para que, assim, os homens e mulheres se santifiquem. E ainda não satisfeito, por meio do exemplo de Jesus, Deus nos pede que testemunhemos não somente com palavras pois, muitas vezes, são vazias. Ele nos pede gestos concretos, atitudes, uma postura sincera de cristão que não fique somente fechado entre paredes, mas vá às ruas. Que saia da igreja, mundo afora, contagiando todos, mostrando que Deus habita e age em nós. Por isso, deixemos que a Palavra de Deus, que arde e inquieta o nosso coração, nos leve a uma profunda e sincera conversão fazendo-nos sair das aparências e das máscaras e a assumirmos a dinâmica de Jesus, que quer que sejamos mansos e humildes de coração.
Como já dizia a pequena flor do Carmelo, Santa Teresinha do Menino Jesus: busquemos a pequenez e a simplicidade. Pois Deus se cansa dos grandes reinos, mas nunca das pequenas flores. Deus enjoa dos prepotentes e arrogantes, mas nunca dos humildes e pequenos. Por isso a necessidade de conversão, de deixar que o Evangelho se encarne em nós e nos leve a agir diferente, saindo assim das aparências. No Evangelho de hoje, Jesus percebe que aquele povo não tinha assimilado ainda a dinâmica da pequenez, do renunciar. E os discípulos ainda estavam brigando por posições e títulos para aparecer. Assim, Jesus chama a atenção deles dizendo que quem quer segui-Lo, quem quer ser santo, seja como uma criança, pequena, simples, que passa despercebida, mas que leva alegria.
Sejamos essa doçura que leva Deus ao outro. Não queiramos ser os grandes reinos prepotentes e orgulhosos sejamos que nem essa criança, pequena, simples, que passa desapercebida, mas que leva alegria, que leva presença. Sejamos irmãos essa doçura que leva Deus ao outro. Não queiramos ser como os grandes reinos prepotentes, orgulhosos, que Deus não visita. Mas queiramos ser as pequenas flores que enaltecem e embelezam o belo jardim de Deus para que, por meio de nossa pequenez, o outro possa experimentar Deus.
E, assim, vou encerrando a minha reflexão. A nossa missão aqui é esta: proporcionar que o outro experimente Deus em nós porque somos a Palavra de Deus que aqueles que estão lá fora irão ler através das nossas atitudes. Se nós, que somos homens e mulheres de fé, homens e mulheres de igreja, não conseguimos testemunhar o amor, a misericórdia e a presença de Deus, quem será então que vai fazer este povo, que não conhece Deus, se aproximar Dele? Por isso a existência da palavra conversão, que significa mudança. Mudança não no discurso, mas nas atitudes, nas práticas para podermos, assim, levar o outro a conhecer, amar e adorar Jesus.
Que Santa Teresinha do Menino Jesus, a flor do Carmelo, interceda por mim, por você e por nossas famílias para que possamos assimilar e colocar em prática a dinâmica da pequenez a fim de que o outro, vendo-nos, estando conosco, ame e conheça Jesus. E, amando e conhecendo Ele, não se afaste dele jamais.
Homilia: Pe. Rene José de Sousa – 3º Dia do Tríduo de Santa Teresinha – 30/09/2019 (Segunda-feira, missa das 19h45).

Como cristão, preocupar-se com o bem de todos
28/09/2019
A Paróquia Santa Teresinha foi fundada nesse bairro e a primeira capelinha, o primeiro lugar de encontro era numa várzea perto do rio. Passaram-se 80 anos, melhorou muita coisa, cresceu uma cidade em volta. Nós podemos dizer que essa região de Utinga é quase, ou se não for, o segundo pulmão da cidade de Santo André. Nós temos só aqui, na nossa região, 30% do eleitorado de Santo André. Essa região de Utinga é uma região muito grande. Demorou para refazer a ponte que caiu, mas enfim foi feita. Têm uns projetos que pode ser que ainda melhorem muito a região, como o dos viadutos, mas o problema do nosso bairro continua sendo as enchentes. A última, esperemos que realmente tenha sido a última, foi bastante desastrosa. Eu não estava aqui na Santa Teresinha, mas estava lá na Santa Rita – claro que a Santa Rita está bem alta; para encher a Santa Rita, precisa inundar São Paulo inteira até cinquenta metros de altura. Porém, nós estivemos sempre em contato e ajudando a região do Bom Pastor, que também é região de várzea. E o desastre lá também foi grande. Por três dias e três noites, várias pessoas estiveram lá na cozinha da paróquia preparando comida para os desabrigados. Nós pudemos ver a solidariedade do nosso povo. O nosso povo é muito bondoso! E é exatamente essa bondade do povo que faz com que nós nos indignemos ainda mais com esse tipo de situação que não se resolve.
Na abertura da Festa da Primavera, o pessoal do Centro Cívico falou algumas coisas com o prefeito sobre resolver a situação desse piscinão que não esvazia e, não esvaziando, se torna foco de doenças. E pediram, também, para definir claramente a situação do pesqueiro. É uma situação pública ou não é? Como funciona isso? A questão das enchentes é uma questão de saneamento básico. Todo lugar de várzea chama insetos e ratos. A nossa paróquia para ficar livre de ratos tem que ser dedetizada a cada 6 meses, e temos que estar atentos. Então nós temos que olhar tudo isso aos olhos de Deus e aprender a exercer as nossas responsabilidades de cidadãos. E uma delas foi exatamente aquilo que fizeram no dia da Festa da Primavera: cobrar essas situações diante das autoridades – e qual que é a autoridade maior na cidade do que o prefeito?
Hoje em dia, por causa de muitos percalços da política brasileira, o que não é só de hoje – hoje, claro, está uma loucura – mas vem já de muito tempo que o nosso povo está abandonando o interesse político. Política significa ‘pólis’ e ‘pólis’ significa cidade: a vida na cidade. Quais são as nossas necessidades comuns? Porque rato afeta a todos, não só católicos: os ratos não são devotos só da igreja, eles são devotos das casas, dos barracos, das ruas... Nós temos sempre que estar atentos ao bem do lugar. E isso é um modo de viver o nosso cristianismo. Os santos nos ajudam e nos ensinam a ter interesse e compromisso com o bem-estar do próprio lugar onde vivemos. A gente pergunta: “mas padres e freiras também sabem dessas coisas?” Sabem um pouco. Muita gente aqui vem da roça, não é? Já ouviram o termo ‘meieiro’? Quem que é o ‘meieiro’? A pessoa que trabalha no terreno de outro, planta no terreno do outro, “meio eu, meio ele”: metade é dele, metade é do patrão. Quem que inventou isso? Os monges beneditinos, na Idade média, mil anos atrás. Porque antes, como era? Você planta na terra do patrão, o patrão pega tudo e te dá o que ele acha que é necessário para você viver. Então você nunca tinha a possibilidade de deixar de ser pobre trabalhador daquela terra, pois estava sempre em dívida, sempre trabalhando naquela terra, porque não tinha como sair dali. Os monges beneditinos inventaram esse jeito: você trabalha nossa terra e metade do que você produz é para nós, a outra metade é para você. “Ah, mas é muito!”. Problema teu. Vende, melhora a tua casa, melhora as tuas roupas... Quem sabe você até consegue colocar um filho para estudar. E isso há mil anos. E a situação dos trabalhadores da terra, a partir dessa invenção dos beneditinos, mudou.
O controle contra a usura também faz parte da tradição cristã: emprestar sem pedir juros. É claro que os bancos emprestam com juros, porém, não fazem agiotagem. E isso é consciência cristã: não emprestará dinheiro com juros. O ser cristão nos leva a nos empenhar pelo bem material da comunidade, entenderam? Isso é ser cristão. E isso é ser político. Ser político não é só participar da câmara dos vereadores. Ser político é se preocupar com o bem da comunidade. Hoje na nossa comunidade nós temos o problema dessa ameaça de enchentes e precisamos que os nossos políticos resolvam essa situação.
Muito bem, esse é o tema de hoje: saneamento básico, nosso bem pelo bem comum. Mas não podemos pensar que o Evangelho [Lc 16,19-31] está muito longe disso. Nós temos esse rico que nós, por um acaso, estranhamente não conhecemos o nome. Olha que coisa engraçada: geralmente a gente conhece o nome de rico. Nós conhecemos o nome de um pobre. Quem conhece o nome dos pobres? Quase ninguém. ‘Ah, é o moço que fica ali na praça. É o moço que cuida do carro. É o rapaz que passa aqui uma vez por semana pedindo alguma coisa’. Só que nessa parábola é o pobre quem tem nome, Lázaro, e ele é sempre chamado pelo nome. O rico não tem nome. Lázaro fica lá na porta. A casa dos ricos era que nem a entrada aqui da igreja, tinha esse telhado ali na frente. Os pobres ficavam ali, sentados, esperando receber alguma coisa: ou dos convidados, pois o senhor dava festa todos os dias e rico só da festa para rico, ou os restos que caíam das mesas dos patrões da casa – aquela ponta de pernil que ninguém quer comer, aquele osso de coxa de galinha que sobrou um pedaço; era isso que davam para essa gente. Mas o que acontece nessa história? Esse homem dá a festa e lá aquele pobre não recebe nada. Existe uma distância enorme entre este homem e aquele pobre. E, para os dois, é dado o destino que é a coisa mais justa desse mundo: todos morrem. No Livro dos Provérbios, ele diz: ‘para Deus, na hora da morte, é muito fácil julgar, porque na hora da morte nós aparecemos exatamente como nós somos: ou trigo ou joio, e não tem como confundir’.
E nós encontramos esses dois personagens de novo, depois da morte. Lázaro junto de Abraão, quer dizer, na casa de Deus. E esse rico, que nós nem sabemos o nome, atormentado no fogo. Essas imagens são imagens muito próprias daquele tempo. As nossas concepções de hoje são diferentes, nós falamos em estado da pessoa, então nós dizemos que o céu e o inferno não são um lugar, mas um estado, um modo de estar. E o que nós vemos? Nós, primeiro de tudo, vemos um homem extremamente arrogante. Preste atenção: este homem continua arrogante depois da morte! Em nenhum momento, ele se dirige àquele pobre desgraçado ao qual ele nunca se dirigiu. Ele fala ‘Padre Abraão, manda Lázaro... Diz para ele...’. Aqui está o grande abismo que se estabeleceu entre este homem e a salvação: aquela distância que ele criou do pobre é o abismo que ele viveu depois. Esse homem não criou pontes. Esse homem não se aproximou dos outros. E, nem depois da morte, é capaz de mudar essa situação.
E retomando a questão do cuidado com o bem público, com o bem comum, com o bem da comunidade: preocupar-se com o outro, com as necessidades do outro e com as necessidades comuns é um modo de criar pontes entre nós, abrir caminhos e superar abismos. Ser cristão é fazer isso: nos aproximar dos outros, nos aproximar daqueles que precisam, nos preocupar com as necessidades que o outro tem. Esse é o nosso caminho. É isso que Jesus nos ensina nesse Evangelho. É isso que os nossos santos ensinam. É isso que Santa Teresinha ensina.
A via de Santa Teresa é chamada a pequena via. Santa Teresinha não tinha problema com os operários da terra, pois o convento dela não tinha operários. Talvez até não tivesse problemas com saneamento básico... Mas ela aprendeu a construir pontes com as pessoas. É interessante o fato muito simples, mas que às vezes ilumina até os nossos gestos, porque os santos são colocados pela igreja como modelo para nós. Existia, no Carmelo que Santa Teresinha pediu para entrar, uma freira velha, gorda, chata e manca. Não que as velhas sejam ruins, não que as gordas sejam ruins, mas os chatos são chatos, não é? Pois é, e a freira era chata e tinha um grande defeito: ela caminhava com muita dificuldade, ela mancava, tinha uma perna mais curta que a outra. E elas iam várias vezes no dia rezar no coro, e Santa Teresinha falou ‘eu tenho que me aproximar dessa freira, eu tenho que criar pontes, diminuir as distâncias’. Então ela ajudava a freira a entrar na capela, ela levava a freira até o coro, o lugar onde as freiras rezavam, e, depois, ela ainda escreve: ‘e eu tentava fazer o sorriso mais bonito que eu podia’, mas a freira não deixava de ser chata, a freira não deixava de ser mal agradecida. Mas Santa Teresinha fez de tudo para superar a distância que essa freira colocava entre as pessoas. E conseguiu.
Vamos nos preocupar com o bem-comum, vamos nos preocupar com o outro que sofre do nosso lado para que o céu seja para nós um lugar de comunhão, um lugar de festa, e não um lugar cheio de abismos e de separação. Vamos pedir a Santa Teresinha que nos ajude a fazer isso.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 2º Dia do Tríduo de Santa Teresinha – 29/09/2019 (Domingo, missa das 18h30).

Reconhecer o outro como nosso próprio irmão
27/09/2019
Caros irmãos e irmãs, nosso profeta Amós – que não era um profeta –, quando tentaram silenciá-lo, ele não hesitou: “Eu não sou profeta, não sou parente, nem nada disso. Sou criador de ovelhas e vou falar, vocês gostem ou não gostem”. E o profeta Amós vem chamado por Deus e não por alguma promessa para um povo que estava sofrendo. Havia muito amor, muita colheita. Todo mundo passando bem, tudo bom. Interessante que isso se deu há, aproximadamente, 750 anos antes de Cristo. E eu tive impressão que estava vendo a imagem do nosso querido e amado Brasil hoje.
Você sabe que o feijão e o arroz que nós comemos, e o café que nós tomamos são os piores servidos porque os melhores vão para fora? E quando aqui os itens chegam, quando nos é passado, chega o “refugo” do trigo, e é o que nós comemos. Isto ocorria 750 anos antes de Cristo. E hoje Amós está bravo “Ai dos que vivem despreocupadamente, que se sentem seguros nas alturas da Samaria, com seus palácios”. É muito bonito estar lá nas alturas, lá em cima. E continua: "os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho". Aqui ele fala sobre exploração: quem tem, quer mais; e quem não tem, acaba tendo menos ainda. “Não se preocupam com a ruína de José. Por isso, eles irão agora para o desterro, na primeira fila. E isso acabará com esse bando de gozadores, isto será desfeito”. Hoje, isto também serve para nós. Pena que hoje nos falte Amós. Quem são os Amós de hoje? Não se vê ninguém com esta força. Estamos precisando de profetas. O mundo precisa de profetas.
E aí vamos para o Evangelho. O Evangelho de hoje é um dos mais difíceis. Se eu perguntasse "o que a leitura está trazendo?", cada um diria uma coisa, até porque não teríamos a coragem de dizer tudo o que ele nos diz. Porque revoltaria até, quem sabe, alguém aqui entre nós. De certo modo, Jesus disse para os fariseus, "quais os bens que vocês têm?". Ele contou a história do homem rico e do pobre Lázaro, na qual o desfecho é que o rico vai pro inferno e Lázaro vai para o céu. E é interessante que o rico não fez mal nenhum. Qual foi o mal que ele fez? Nenhum. E qual foi o bem que o Lázaro fez? Nenhum. E nem procurou se mexer para melhorar de vida, ficou esperando. Então nem o rico tem algo que lhe convém e nem Lázaro algo que alcançou. Então o que Jesus quer nos ensinar com esta parábola aqui? Na verdade, aqui são dois pontos: primeiro, a partilha. A seguir, a partilha da Palavra de Deus. Dois pontos que viveu plenamente aquela jovenzinha, Teresinha do Menino Jesus. Viver a Palavra de Deus e a simplicidade. Deus a usou para isso.
Eu só vi 2 ou 3 santos falando sobre riqueza. Um deles diz assim: "Se você dá algo pra alguém que está precisando, você não está dando o que é seu: você está devolvendo a ele aquilo que é dele". Então ele vem nos dizer que os bens desse mundo pertencem aos filhos de Deus. Pode até ser que, durante a vida, um seja mais esperto do que o outro. Mas não mais querido. Portanto, os bens deste mundo pertencem ao povo que está neste mundo. Alguns têm tanto, e outros nada. Esses dias, prenderam um assassino que matou um homem de rua aqui em Santo André e hoje ele já foi solto. E sabe por que ele matou? Porque o morador de rua "enfeiava" o comércio dele.
Então este trecho do Evangelho é muito difícil, porque a visão que temos é essa: "o que eu tenho é meu, o que você tem é seu". Eu faço o que eu quero e você também. Essa era a visão que, no tempo de Amós, já havia e hoje acontece 99,99% das vezes. E aí? O que vamos fazer? Veja bem: não vamos apenas dar esmola para as pessoas. O nosso irmão não precisa de esmola, ele precisa de um irmão. Que a gente se sinta irmão.
Lá na minha paróquia, já servi por muitos anos e hoje sou emérito. Então um dia eu perguntei: "Você sabe o nome desse rapaz aí?" E eles não sabiam. Sabem por quê? Porque ele era morador de rua. E a gente pensa que a dor do morador de rua é dormir na rua, dormir no relento. Não, a dor para ele é não ser visto por nós. Nós não o vemos. Passamos por ele e talvez reclamamos até do mau cheiro. E aí vamos para a igreja. Cantamos, batemos palmas, levantamos os nossos folhetos, comungamos... mas não vimos nosso irmão. É isso que Jesus nos mostra hoje. E é importante compreender isso para se preparar para celebrar o dia de Santa Teresinha, essa nossa jovenzinha que, sem sair do Carmelo, tornou-se padroeira das missões. Porque ela aguentou aquelas freiras de comportamento muito complicado. Coitada de Santa Teresinha. Ela sofria lá.
Precisamos olhar para os outros como nossos irmãos. Olhar como irmão pois assim, quando eu tiver alguma coisa a mais, isto me levará a partilhar. Uma coisa muito comum que acontece, inclusive em época de Natal, é um morador de rua chegar no portão e pedir um pão velho. Porque ele já sabe que não vai ganhar um novo. "O senhor não tem uma roupa velha para me dar?". E eu recebia várias doações na paróquia. Mas eu sempre dava uma olhada, porque às vezes as roupas vinham sem lavar e, outras vezes com certas sujeiras que não sou nem capaz de falar.
E eu queria finalizar esta homilia pedindo que a gente vá para a casa pensando neste Evangelho de hoje. Que a gente, verdadeiramente, se ame. Não apenas brinque de se amar. Porque Deus conhece o que está no profundo de nossos corações. Que a gente possa olhar para o outro e dizer "eu te amo". Porque Jesus não só disse que nos ama: ele chegou ao ponto de ter dado a vida por nós.
Homilia: Pe. Antonio Moura da Silva – 1º Dia do Tríduo de Santa Teresinha – 28/09/2019 (Sábado, missa das 16h).

Fazer o bem para criar amigos no céu
22/09/2019
Cuidado com o Evangelho de hoje [Lc 16, 1-13]... Pode parecer que Jesus está elogiando um trambiqueiro, mas, na verdade, Ele elogia a rapidez com que este homem pensou um jeito de se salvar. O que Jesus disse foi: "Os injustos são mais espertos em fazer o mal do que os filhos de Deus, que demoram a fazer o bem".
Naquele tempo, os ricos senhores tinham um administrador. Os administradores não recebiam salário, eles comiam da mesa do patrão. Geralmente, as pessoas pediam empréstimo para os administradores. Só que, às vezes, como neste caso do Evangelho, o administrador cobrava um valor bem acima do que fora emprestado e embolsava a diferença para ele. Isso é roubo, agiotagem! E quem ficava mal-afamado? O patrão!
Quando essa situação chegou aos ouvidos do patrão, o administrador foi demitido. E o que ele fez então? Jogou fora tudo o que ia ganhar. Por quê? Para ficar bem visto com os devedores. Assim, quando ele fosse pedir emprego, as pessoas o receberiam. Olha a esperteza desse homem! Joga tudo fora para conquistar amigos. E Jesus usa essa história para puxar a orelha do seu povo, seus discípulos, de nós batizados: vamos ser mais espertos em fazer o bem!
Não sejamos ingênuos: de toda moedinha de 1 real, algum sangue escorre... Dinheiro mexe com muito sofrimento neste mundo, muito. E Jesus fala: "Usem isso para conquistar amigos no céu". O que significa isso? Quem são nossos amigos no céu? Os santos e os pobres. As pessoas que sofrem, estes são os amigos que nós conquistamos para o Reino do Céu. Quem são os santos? Pessoas que aprenderam a jogar fora suas riquezas – às vezes até dinheiro! Tem muito santo que era rico, deu tudo aos pobres e foi viver uma vida de pobreza. Isso é o que Jesus quer. "Usai o dinheiro iníquo para fazer o bem àqueles que sofrem. Criem amigos no céu".
Só que, para criar amigos no céu, eu preciso, pelo menos, ouvir as pessoas. E nós estamos vivendo um tempo em que se faz de tudo para que nós não ouçamos mais as pessoas... Os poderes das trevas estão nos isolando uns dos outros. E nós temos um instrumentinho que é o mestre do isolamento: o celular. Quantos de vocês já não foram em um jantar ou almoço de família em que um, dois, três, até todos estão grudados no celular, sem falar uma palavra com os outros?
Como eu vou conhecer as necessidades do outro se eu me isolo? Não tem como. Às vezes, a gente se desespera com algo que acontece lá longe de nós, mas não se atenta com o irmão que passou a noite toda com dor de dente... Ou que está meio deprimido... Como nós vamos conhecer as necessidades do outro se nós nos isolamos e não furamos o isolamento do outro? Para furar o isolamento do outro, uma ideia: o prato vazio no almoço de domingo; um prato para colocar todos os celulares para que, pelo menos durante o almoço do domingo, a gente olhe um para o outro. Somente se eu escuto o outro, só se eu furo o isolamento do outro é que eu posso cuidar do outro.
Como eu vou fazer amigos no céu, como eu vou ouvir as necessidades dos outros, se eu me isolo, se eu deixo que as pessoas se isolem, se eu vejo as pessoas como uma ameaça? Se eu vejo um sofredor de rua caído e julgo... Como é que eu julgo as pessoas desse jeito? Que vida essa pessoa teve? Que possibilidade de vida essa pessoa tem? "Ah, ele vive enchendo a cara"... Vá viver a vida dele! É fácil julgar... Vá viver na rua para você ver! Ninguém quer viver na rua; ninguém quer viver em favelas. Se os impostos fossem mais justos, todo mundo poderia ter sua casinha popular. Bastava não ter que pagar 60% a mais do que a gente gasta que ia sobrar dinheiro... O Brasil é um dos países mais caros do mundo! Nós pagamos aluguel para ser brasileiro – e um aluguel bem caro...
Como eu posso criar amigos no céu se eu não encontro as pessoas? Se eu não sou capaz de dar um voto de confiança às pessoas? Como? Impossível! Então o nosso testemunho cristão hoje também é dizer para nossos filhos e netos: "Ponha o seu celular neste prato e não pegue antes de terminarmos o almoço". E você estará ensinando seus filhos e netos a serem pessoas que escutem. E os filhos também podem puxar a orelha dos pais e ensiná-los!
O que Jesus está falando é isto: se preocupe com o bem do outro, faça o que você pode. Às vezes, nós podemos mais do que pensamos. Não ache que se trata só de dinheiro. Muitas vezes, é escutar as pessoas, dar uma informação que a pessoa não sabe... Há muitos modos de ajudar as pessoas. E mesmo se estivermos de cama, ainda podemos fazer uma coisa: rezar! Se ao menos isso fizéssemos...
É isto que Jesus está dizendo: se preocupe com o outro. E então o outro vai rezar por você quando estivermos todos diante de Jesus, no trono de Sua glória.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 25º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 22/09/2019 (Domingo, missa das 10h).

Amar o próximo é amar a Deus
15/09/2019
No Evangelho de hoje [Lc 15,1-32], Jesus nos mostra uma imagem Sua muito bonita, tão bonita que os primeiros cristãos usaram-na para fazer a primeira pintura de Jesus, ainda no tempo em que rezavam a missa nos subterrâneos dos cemitérios, escondidos, porque senão eram perseguidos. É a imagem do Bom Pastor! Nesses cemitérios, os cristãos faziam suas capelinhas e colocavam pinturas – uma pombinha, às vezes um ramo de oliva, às vezes o pão repartido... E a figura de Jesus era a do Bom Pastor, esse jovem muito bonito carregando a ovelha nos ombros.
Nós temos que aprender isto desde cedo: nosso Deus é assim, Ele cuida da gente, Ele nos ama, Ele nos coloca em seus ombros. Não é um Deus de quem temos que ter medo, é um Deus que nos ama. E exatamente porque Ele nos ama, nós podemos ser felizes! Uma pessoa feliz quer que todas as outras sejam felizes; é por isso que os cristãos, sabendo que Jesus os ama, querem que as pessoas que sofrem parem de sofrer; é por isso que o cristão se preocupa com os pobres, com os drogados, com os doentes... Nós não achamos que essa gente é lixo! Não! Eles são irmãos e irmãs que Deus ama. E porque Jesus nos quer bem, nós queremos que eles também estejam bem. Jesus quer carrega-los nos ombros, e às vezes nossos ombros são os ombros de Jesus para carregar as pessoas que estão sofrendo no mundo.
Quando recebemos a eucaristia, Jesus nos dá a Sua força para que possamos amar aos outros. Nós comungamos para aprendermos a ser iguais a Jesus. Muitas vezes, quando vamos receber a comunhão pela primeira vez, podemos pensar que vamos ver "luzinhas amarelas" ou que vamos escutar alguma coisa... A gente não escuta nada nem vê luzinha alguma! Deus é muito discreto, silencioso, não quer chamar a atenção; mas Ele cuida muito da gente. Esse é o nosso Deus, e é essa força que nós recebemos na comunhão para poder amar e cuidar dos outros. Porque Deus não precisa ser amado! Ele quer que nós nos amemos uns aos outros. Esse é o amor que nós podemos dar a Deus. Chega a ser engraçado: para amar a Deus e mostrar a Ele que nós O amamos, Ele quer que nós amemos as outras pessoas!
É este amor que Jesus quer nos dar hoje, um amor para darmos aos outros. E lembre-se de nunca ter medo de Deus: Ele é bom, Ele perdoa, mas Ele quer que nós amemos aos outros. Se você se lembrar desta frase pelo resto da vida, você será um bom cristão: Deus nos ama para que nós possamos amar aos outros!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 15/09/2019 (Missa de Primeira Eucaristia das Crianças, às 10h).

Carregar nossas cruzes com humildade
08/09/2019
Jesus não nos engana. E é muito bonita a pregação de Jesus, Ele fala “sede irmãos, Deus é Pai de todos, temos que aprender a nos perdoar, a superar”. Faz você caminhar e dar a outra face também, para ter superação. Seja generoso, bom com os outros. Esse discurso é muito bonito, porém, no mundo, existe competição... Todo mundo quer ser melhor que o outro, todo mundo quer ser campeão em alguma coisa ou aparecer na televisão. No tempo de Jesus, não tinha televisão, mas a mentalidade humana é sempre a mesma. Nesse mundo, falar de fraternidade pode trazer muito problemas.
Nós que estamos aqui realmente nos sentimos irmãs e irmãos uns dos outros? A gente passa a missa inteira sentados e não sabemos quem é a pessoa que está do lado, então para explicar quem é Jesus já é complicado. O grande problema é quando você começa a levar o caso mais a sério em um mundo de competição, onde todo mundo tenta passar a perna um no outro, como no mundo da política e da administração, falar de fraternidade pode dar muito problema.
Jesus alerta: aceitar esses ensinamentos que dou podem te custar muita raiva, você está disposto ou disposta a ser perseguido pelos seus pais? Você está disposto a ser perseguido por seus irmão e amigos? Disposto a ser denunciado por ser cristão? Isso acontecia naquele tempo. As primeiras comunidades eram perseguidas dentro da família e não foram poucos perseguidos por pais, irmãos, esposa, marido... O discurso é bonito, mas as consequências podem ser tremendas. Jesus não mente, Ele mostra os dois lados do caminho. Jesus reuniu multidões, fez milagres, mas carregou a cruz e morreu de um jeito horrível por causa de Sua pregação.
As ideias de Jesus cutucavam as feridas dos governantes da época, então temos que nos perguntar: será que eu estou levando a sério o Evangelho? Sou capaz de viver a fraternidade e o respeito às pessoas? Com todas as pessoas? Eu me comovo quando passo na rua e vejo um morador de rua? Meu coração dói ao ver um irmão nessa situação? Se o seu coração não dói, você está longe de Jesus e tem um caminho longo a percorrer. O caminho de Cristo é esse: ter cuidado com as pessoas e respeitá-las. Pode te custar caro, mas este é o desafio do Evangelho de hoje [Lc 14,25-33]: ‘‘Com efeito, qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar.’’.
Essa pregação de Jesus sobre fraternidade, solidariedade e perdão é alicerce, mas a construção da casa pode levar a uma piscina profunda muito dolorosa e isso muito se viveu nas primeiras gerações do Cristianismo. Hoje somos desafiados a viver esses valores no nosso dia a dia e isso pode nos custar muita coisa. Vamos pedir ao Senhor que ele nos ajude a viver o Evangelho até as suas últimas consequências.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 23º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 08/09/2019 (Domingo, missa das 10h).

Bem-aventurados os humildes
31/08/2019
Jesus gosta muito de se encontrar com as pessoas na hora de comer. O momento mais importante da vida de Jesus aconteceu durante uma janta, que foi a Última Ceia, onde Jesus, a gente pode dizer que, criou a Eucaristia, que é a presença dele no meio de nós. Pois então, um belo dia, um fariseu, um homem muito religioso, que seguia a Lei até os últimos risquinhos da Lei, convidou Jesus para uma janta e Jesus foi... Só que muitas vezes quando a gente é convidado por alguém, a gente fica com meias palavras, às vezes tem alguma coisa torta e a gente não fala, às vezes temos algum problema com a pessoa e a gente não fala, não é? Isso por educação, mas com Jesus não tem isso não... Jesus fala o que Ele tem que falar e é complicado, o que é que acontece? Jesus foi neste jantar, mas uma frase disse logo no começo “E eles o observavam.”. Eram todos fariseus. Quem condenou a Jesus a morte? Os homens da religião. Quem perseguiu as comunidades cristãs do primeiro século? Os fariseus, especialmente depois da destruição do templo de Jerusalém. Este pessoal várias vezes bateu boca com Jesus e várias vezes tentaram fazer armadilhas para tentar pegar Jesus com uma palavra para acusá-lo e matá-lo. Então, Jesus sabe que Ele está num ninho de cobras. Mas Jesus não mede palavras. Ele anuncia a salvação até no ninho de cobras. E Ele vai dizer: olha, não é se achar eu sou o bom observante da lei, eu sou uma pessoa religiosa, eu vou à igreja, eu participo de tudo, não é isso que te faz melhor que os outros, isso não te coloca numa situação melhor que os outros, porque, diante dos olhos de Deus, todos nós somos iguais.
Vocês já pensaram onde estão os olhos de Deus, neste momento, exatamente agora? Naquele morador de rua que está lá fora. Os olhos de Deus olham onde nós não olhamos. Então nós não podemos dizer nunca o primeiro lugar é meu. Não, o primeiro lugar é para quem Deus escolhe! Por isso que Jesus fala não se coloque no primeiro lugar, quem te disse que você é o mais importante da festa? Você pode ser bem útil na festa e nem se dar conta, não é? Pense no Evangelho quando Jesus está subindo com os apóstolos, no caminho para Jerusalém, onde Ele vai ser crucificado dali poucos dias e Ele fala: “O Filho do homem vai subir para Jerusalém, e lá Ele vai ser humilhado, vai sofrer, vai ser morto e ressuscitar no terceiro dia” e então dois dos apóstolos espertinhos vão e pedem para Ele: “Dá para nós o primeiro e o segundo lugar para sentar do Teu lado”. Eles estão pensando que Jesus vai fazer um reino político, e aí os outros brigam com os dois, não porque eles estavam falando isso, mas porque eles queriam o primeiro lugar, esse é o problema. Como é difícil para nós arrancar essa raiz do mal do nosso coração, como é difícil! Mas é o caminho de Jesus.
Maria diz: “O Senhor olhou para a humildade da sua serva”. Por isso que Ele fez grandes coisas: é Ele que o faz! Ele que é grande! “Eu sou uma escrava”, entenderam? Deus olha lá embaixo e depois Jesus chama a atenção deles para isso: façam as coisas para que Deus dê a recompensa. Jesus nos dá outras comparações desse tipo... Quando você for rezar, reza escondido. Quando você dê esmola, não faça publicidade para os outros, dê esmola escondido. Quando você fizer jejum ou uma penitência, não fique falando para todo mundo, faça escondido. Deus vê as coisas escondidas. Ele vai te dar a recompensa. Aqui é a mesma coisa, você quer dar um jantar ou quer alguma coisa para alguém? Dê para quem não pode te dar de volta. Dê para o pobre. Ele não pode te pagar, mas Deus vai te pagar no dia do juízo, porque os pobres no dia do julgamento serão os nossos advogados, sentados do lado de Jesus, no trono da glória e, naquele dia, eles irão dizer esse cuidou de mim, essa fez o bem para mim, ou então exatamente o contrário eu pedi e essa pessoa não fez nada para mim, podendo ter feito. A gente tem que pensar nisso, gente. O Evangelho de Jesus é exigente e, ao mesmo tempo, muito simples. Essa é a nossa fé.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 22º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 31/08/2019 (Sábado, missa das 16h).

Passar pela porta estreita exige esforço e empenho
25/08/2019
O Evangelho de hoje [Lc 13, 22-30] nos dá duas tremendas puxadas de orelha. Primeira: a "conversa mole" religiosa. Muitas vezes nós caímos nesse erro. Neste texto, por exemplo, uma pessoa da multidão pergunta a Jesus: "É verdade que poucas pessoas se salvam?". Isso é conversa mole! E se olharmos os Evangelhos, existem outras "conversas moles" nas quais Jesus dá logo um "chega para lá". Uma delas é aquela da mulher que, após uma pregação de Jesus, grita: "Bendito o seio que te amamentou"; e Ele diz: "Bendito é quem segue a Palavra de Deus!". A outra é a do jovem rico, que pergunta: "Senhor, o que eu tenho que fazer para ganhar o Reino?"; e Jesus responde: "Vai, vende tudo que você tem, dá aos pobres e me segue", mas ele vai embora. Ele não estava interessado em nada, era só conversa mole, só perda de tempo... E Jesus não prega a Palavra de Deus para perder tempo.
À pergunta do Evangelho de hoje – "É verdade que poucas pessoas se salvam?" –, Jesus responde: "Se esforce para entrar na porta estreita. Pare de conversa mole! Se empenhe! Tente mudar algo na sua vida, veja onde você está caminhando errado, se você está caminhando fora do trilho, fora do Evangelho. E tente melhorar, se esforce para melhorar!". Isso é passar pela porta estreita. No Reino de Deus, não dá para mudar a porta para uma maior. Então o que temos que fazer? Fechar a boca e emagrecer! Um dos principais regimes que temos que fazer na vida de comunidade, na família, no trabalho, entre os amigos... É o regime da língua, da fofoca, de falar mal dos outros. Se aprendermos a fazer uma dieta de língua e procurarmos não falar mal do outro, estaremos entrando pela porta estreita. E como uma virtude puxa a outra, você começa a caminhar no caminho de Jesus, começa a enxergar a necessidade do outro. Não é se meter na vida das pessoas, mas cuidar dos irmãos, estar atento às necessidades do outro. Isso é porta estreita, porque eu começo a pensar um pouquinho menos em mim, a sair da minha zona de conforto. Ir, por exemplo, na casa da vizinha que você sabe que foi operada e perguntar: "Você está precisando de alguma coisa? Tem alguma louça que você precisa que lave?". Ou então, lá no trabalho, oferecer ajuda a um colega que você percebe que está com problemas. Estar atento às pessoas, sem falar mal, sem criticar; abandonar os nossos preconceitos, deixar de falar mal... Isso é uma bela dieta para entrar pela porta estreita.
Quer ver um exemplo? Eu comecei a praticar isto e percebi o quanto é difícil! O tema da Campanha da Fraternidade de 1988 era sobre os negros, e um dos atos concretos era não fazer piadas sobre negros. Então eu comecei a lembrar de quantas piadas eu sabia... E aprendi a me calar e a respeitar as pessoas. Neste contexto, temos também as piadas sobre loiras; não devemos fazer piada sobre uma característica da pessoa, isso é desrespeito. Outro exemplo: não aceite fazer piada sobre gays! Não aceite! Não fale mais! Você vai aprender a respeitar as pessoas. E se você deixar de fazer piada de um, você vai aprender a não fazer piada do outro também. Respeito! Esse é o caminho estreito. Temos que nos empenhar. Outro empenho que tenho é não fazer piada com a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus tem que ser respeitada. Um dos jeitos de destruir coisas importantes é fazer piadas com elas. Então, esse é o primeiro passo.
O fim da segunda leitura [Hb 12, 5-7. 11-13] vai nos dizer isso: "Você manca? Persevere e se esforce, para que você seja curado no seu esforço". É bem isso. Temos que olhar para nossa vida, para que o Evangelho comece a ter sentido. Porque senão ficaremos superficiais, e a superficialidade é o que o nosso tempo prega; a superficialidade, que é a porta larga, por onde todo mundo entra fácil, que não nos compromete, que não nos obriga a pensar para melhorar. "Jesus não falava mal dos outros, então eu não vou falar mal dos outros, custe o que custar!" – e vai custar!
Outra coisa com a qual os hebreus ficaram bravos com Jesus – e que, muitas vezes, está na nossa cabeça também – é que eles "se achavam", eram extremamente nacionalistas: "Nós somos o povo eleito! Deus vai nos salvar, vai perdoar tudo! Os outros povos não valem nada, são como pó em uma balança, como gota em um balde d'água". Jesus vem e chama a atenção deles – e o profeta Isaías, lá na primeira leitura [Is 66, 18-21], já deixa claro: "Terão sacerdotes e levitas vindos do estrangeiro!". Naquela época, só podia ser sacerdote quem fosse descendente de Aarão, o irmão de Moisés; e levitas, que seriam mais ou menos os sacristãos de hoje, só podiam ser da tribo de Levi. Quando Isaías diz isso, o povo Hebreu começa a questionar: "Que absurdo é esse? E o nosso sangue, não vale nada?". Mas Jesus vai dizer pior ainda: "No dia do banquete, vocês podem ser excluídos do Reino de Deus!" – Ele estava falando para os hebreus, mas cuidado, porque ele pode estar falando para nós também – "E as pessoas que você acha que não valem nada, às vezes vão ocupar o lugar que era para ser de vocês". É bem dura essa Palavra!
Então o que conta é amar e servir, pois no dia do juízo Jesus não vai perguntar se você é católico, se foi à missa, se é brasileiro, homem, mulher, negro, branco ou amarelo. Não! Jesus vai perguntar só uma coisa: "Eu estava com fome! O que você fez para me ajudar? Eu estava doente! Você fez alguma coisa para mim?". O Evangelho tem que ser levado a sério, muito a sério, porque nós professamos que o Evangelho é a única via de Salvação, e o Evangelho é Jesus. Jesus é o Salvador, então temos que pegar esse caminho, senão é conversa mole.
Vamos pedir ao Senhor que nos ajude; vamos pedir à Nossa Senhora e à Santa Teresinha que nos ensinem, por meio da vida delas, a fazer os nossos regimes: de língua, de piada... E a esvaziar nossa mochila, ajudando os que necessitam.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 21º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 25/08/2019 (Domingo, missa das 10h).

Fazei tudo o que Ele vos disser
18/08/2019
Hoje nós celebramos a assunção de Maria. E o que é assunção? Assunção é ser elevada. Há diferença entre a assunção de Maria e a ascensão de Jesus? Sim. A diferença que existe entre nós e Deus. Jesus sobe ao céu por poder próprio. Ele ressuscita também por poder próprio. Maria é uma de nós, humana como nós. Ela não é Deus. Então tudo que acontece com ela é por Graça, como conosco também. Por Graça de Deus. Por Graça, nós fomos criados; por Graça, nós fomos salvos; por Graça, nós seremos ressuscitados dos mortos. Então, por Graça de Deus, Maria foi ressuscitada dos mortos. E elevada para a glória de Deus, não só em corpo e alma. Uma pessoa não é só corpo e alma. Ela é a vida dela, os sentimentos, as alegrias. Tudo o que essa pessoa construiu na vida, seus relacionamentos humanos. Isso é a vida de uma pessoa. Estar junto de Deus é isso: é ser mais que um pedaço de carne, uma alma. É a vida da pessoa. Isso tudo é assumir o coração da Santíssima Trindade.
Maria aparece para nós como sinal de esperança. A promessa que Deus fez lá no antigo testamento para seu povo. Falava assim na boca dos profetas: “meu povo, no dia em que eu tirar vocês dos vossos túmulos; no dia em que eu chamar vocês de novo à vida; quando vocês saírem de vossos túmulos, naquele dia você saberão que eu sou o Deus fiel. Digo e faço”. No Evangelho de São João, Jesus diz aos discípulos: “eu vou para junto do Pai e lá eu vou preparar para vocês uma morada. E quando eu estiver preparado este lugar, eu voltarei para que vocês estejam comigo onde eu estou. Se não fosse assim, eu vos teria dito”. Jesus não mente. Então Maria assunta ao céu é um sinal de Deus para nós, que mostra onde todos nós vamos estar: no coração da Santíssima Trindade. Comunhão total com Deus. Isso é o que Deus quer para nós. E isso vai acontecer no momento de nossa morte, que coincide com o juízo particular e o juízo universal porque, para Deus, não há tempo. Para nós, sim. Mas, para Deus, não. Estes três momentos – a nossa morte, o juízo individual e o juízo universal – são um só momento para Deus.
Alguém sabe qual foi a única ordem que Nossa Senhora nos deu no Evangelho? Maria nos deu uma ordem só. “Façam a vontade dele” nas Bodas de Canaã [Jo 2,5]. Isso quer dizer que eu espero que depois vocês peguem este trecho do Evangelho para ler, que tenham gosto pela Palavra de Deus. Neste casamento, Maria vai falar para os servos: “façam tudo o que Jesus vos disser”. É a única ordem que Maria nos deu. Sabem por quê? Porque o único caminho é Jesus, não existe outro. Não existe outra via. Muita gente por aí apresenta Jesus como Trono da Justiça. Maria, como Trono da Misericórdia. E não existe asneira maior que essa. Saibam disso. Porque o coração da mãe bate no mesmo ritmo que o coração do filho. E não existe misericórdia maior do que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós e seu Sangue intercede por nós junto ao Pai.
De outra forma, Maria nos diz: “façam o que Ele fala; obedeçam ao que Ele diz; vivam o Evangelho; amem-se, uns aos outros, como irmãos e irmãs; ajudem-se uns aos outros”. Porque o caminho é aquele, porque nossa casa é lá. Por isso nós, cristãos, temos que viver de um jeito diferente nesse mundo. Porque nós sabemos o que vale a pena falar. A gente constrói o bem, a justiça e a honestidade neste mundo. Esse é o caminho. Mesmo que tenha gente que ache que ser bom, honesto e justo seja desnecessário. Mesmo que todo governo de um país seja corrupto, o problema é deles. Quem é autêntico cristão, vive estes valores: amor, honestidade, justiça e solidariedade. E isso porque nós sabemos que são estes os valores da casa do Pai. E a gente já começa a viver isto agora. E isso vale tanto a pena que tem gente que morre por causa disso, da nossa fé. Então olhamos para Maria, assunta ao céu, contemplando a promessa já cumprida nela e, para nós, será realizada no último dia. Para estarmos todos juntos na casa do Pai. Essa é nossa fé, esta é nossa esperança. Esperança não sentido de achar que vai ser, mas no sentido de espera no tempo. Saber que isto vai acontecer, mas no seu tempo. Viver com o coração lá, mas agir de um jeito novo aqui, neste mundo.
Note que há pessoas que questionam as outras porque elas são honestas, se muitas pessoas são corrompidas. E a resposta é: “porque eu creio em Jesus Cristo”. “Por que você ajuda as pessoas, se elas não merecem?”. Eu ajudo as pessoas porque aprendi com Jesus. “Por que você tenta ser uma pessoa justa?”. Essa pessoa merece ajuda, essa pessoa falou a verdade e essa pessoa vai ser defendida na verdade. “Por que você não aceita propina e dá ganho de causa para o outro se muita gente faz isso?”. Eu não faço porque sou cristão. Creio em Jesus.
Isto é ser discípulo de Jesus. Isso é plantar o Reino de Deus aqui. Porque nós esperamos lá e, assim, nós agimos de um jeito novo aqui.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 20º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 18/08/2019 (Solenidade de Assunção de Nossa Senhora, missa das 10h).

Vigiar, orar e viver como irmãos e irmãs
11/08/2019
A palavra de hoje é vigilância. O que significa vigilância? Vigilante é uma pessoa que cuida. E Jesus, nesse Evangelho [Lc 12, 32-48], está falando para ficarmos sempre de prontidão, esperando por Ele.
Jesus vai voltar um dia, e Ele quer que aprendamos a fazer o bem, a querer bem as pessoas, a gostar dos outros, a ajudar os irmãos... Não fazer mal a ninguém e nem desejar o mal aos outros. Às vezes, alguém faz uma coisa torta para nós e nos deixa chateados; mas, em vez de desejar que a pessoa escorregue ali na frente, temos que aprender a pedir: "Jesus, abençoe essa pessoa. Cuide dela, para que ela seja uma pessoa melhor". Assim, aprendemos a seguir Jesus o tempo inteiro, e seguir Jesus o tempo inteiro é ser vigilante.
Vou dar mais um exemplo: hoje é Dia dos Pais. Daí você prepara uma surpresa para o seu pai enquanto ele está trabalhando; você pensou que ele chegaria às 5 horas da tarde, mas ele não vem, teve que fazer hora extra; então você fica esperando... 6 horas, 7 horas, 8 horas... Você se irrita e vai dormir. Seu pai chega 8h05 e não acha mais a surpresa. Mas se você esperar até ele chegar, nem que seja à meia-noite, ele vai ficar muito contente de ver que você ficou esperando por ele! Isto é ser vigilante: esperar, mesmo que demore.
Ser cristão não algo com tempo marcado. Amar não é coisa de tempo marcado. É para toda a vida e até o limite máximo que o ser humano pode: a cruz. Jesus amou até o fim! O amor de Deus não tem limite! Deus se fez homem e viveu o amor até o máximo do limite humano, entregou até a vida! E é isto o que Ele ensina para nós: amor ao próximo, serviço, cuidado com o outro. São coisas que se faz até o fim. O cristão não diz: "Já fiz e basta" – para o cristão, isso não existe. Não há limite!
E olha que coisa engraçada: uma das coisas que Jesus nos ensina é que nós somos irmãos e irmãs; mas a gente leva isso a sério? Não, né... Quer ver um exemplo: na igreja, você diz o seu nome para a pessoa que está ao seu lado na missa? A pessoa está sentada ao seu lado a missa inteira, vai participar da mesma comunhão que você, mas você nem pergunta o nome dela... Como seremos irmãos assim? Nós temos que aprender! Se na comunidade – que é o lugar onde aprendemos a ser irmãos e irmãs, o lugar onde nós somos uma alternativa para o mundo – nós não aprendemos a dizer "bom dia" para a pessoa que está ao nosso lado na missa, como seremos irmãos e irmãs? Temos que exercitar a fraternidade aqui, e a fraternidade é uma das coisas que Jesus espera que nós estejamos fazendo na hora em que Ele vier.
Podemos pensar que isso é bobagem, mas se o outro é meu irmão, eu começo a mudar um monte de atitudes. Eu começo a mudar o mundo! Começo a respeitar as pessoas, aprendo que não dá para entrar no elevador e não dar "bom dia" para as pessoas. Ao menos na comunidade, vamos aprender a nos conhecer. Não é se meter na vida dos outros, só nos conhecer. É um primeiro passo. E tem que virar uma constante. Por quê? Jesus nos chama "irmãos e irmãs", e Ele quer nos encontrar assim, nos esforçando para isso, trabalhando para isso. Isto é ser vigilante: insistir nesse caminho.
Tem uma frase muito, muito bonita nesse Evangelho, uma frase realmente comovente: "Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino". Olha a bondade de Deus! Nós só conseguimos ser irmãos uns dos outros, só conseguimos servir as pessoas e fazer o bem se realmente deixamos de ter medo – medo do outro, medo de Deus e de nós mesmos. Quem colocou o medo no coração das pessoas foi o maligno, o inimigo, lá no tempo de Adão e Eva. Quando Adão come o fruto proibido, ele fica estranho, alguma coisa muda. Ele viu que estava sem roupa e se escondeu; Deus foi passear no jardim, chamou por Adão e o encontrou escondido atrás de uma moita; Adão disse que ficou envergonhado por estar sem roupa e sentiu medo; e quando Adão diz que sentiu medo, Deus percebe que ele comeu o fruto proibido. Isto é o mal que o inimigo colocou no nosso coração: medo! Medo de Deus, medo de nós e medo dos outros. E aí começamos a duvidar de Deus...
Jesus vem quebrar isso: "Não tenham medo! Deus é bom e vai cuidar de nós! O que o inimigo falou é mentira!". É isto que Jesus vem nos mostrar: não precisamos ter medo de Deus. Então, se não precisamos ter medo de Deus, podemos ser bons; se podemos ser bons, o mundo pode ser melhor. E nunca cansaremos de querer ser bons! Por isso Jesus diz: "Não tenham medo! Foi vontade do Pai dar a vocês o Reino". Já pensou nisso? O Pai quer a nossa salvação! Ele quer e vai fazer de tudo para conseguir isso! Entregou até o Filho Dele... Ele vai fazer de tudo, e o que espera de nós? Colaboração, amando-nos uns aos outros como irmãos e irmãs. Primeiro passo: cumprimente as pessoas. Devagarinho, Jesus vai mostrando para nós o que precisamos fazer.
Hoje é Dia dos Pais. Quando falamos dos pais, costumamos compará-los às mães. Isso é um erro. A mãe tem o que é próprio dela, o pai tem o que é próprio dele. Mãe: paraíso perdido; pai: braço que nos acolhe no mundo hostil. Essa imagem é primordial! Quando estamos na barriga da mãe, é tudo maravilhoso: é quentinho, não temos que respirar, a comida vem de graça... Mas esse mundo que conhecemos até então entra em colapso, e nós somos jogados fora – paraíso perdido. Qual é o primeiro choque que a criança tem, antes mesmo de respirar? O frio. E é o pai que pega essa criança e, por primeiro, dá o calor a ela; é o pai que vai ensinar a criança a enfrentar este mundo hostil; é o pai que vai ensinar os filhos a dominarem a Terra.
Pai e mãe não são amigos dos filhos; pai e mãe são pai e mãe! Aqueles que regram, guiam, muitas vezes têm que colocar balizas, muitas vezes têm que colocar barreiras e muitas vezes têm que dizer não. Por quê? Porque o mundo vai dizer não. E é muito melhor o "não" amoroso dos pais do que os "nãos" terríveis do mundo. Mas é em casa que somos educados a enfrentar as dificuldades da vida. É missão dos pais. E está cada vez mais difícil, porque ninguém mais quer essa missão, ninguém mais quer dizer "não". E é preciso dizer "não", é preciso mostrar que a vida tem limites. Nosso tempo está tentando nos dizer que não existe limite para nada. O mundo sem limites é mundo do caos, do nada! O caos não é capaz de gerar vida.
Deus abençoe os nossos pais. Deus abençoe os pais que amam seus filhos. Mas Deus abençoe também os pais que não sabem amar os seus filhos. Que Deus tenha piedade dos pais que não são bons pais, dos pais que matam, dos pais que não se interessam por ser pais. Vamos pedir por todos os nossos pais, porque os nossos pais nos ensinam a ser vigilantes, nos ensinam a viver os valores do Reino, nos ensinam a construir um mundo melhor.
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 19º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 11/08/2019 (Mês Vocacional: Vocação para a Vida em Família e Dia dos Pais, missa das 10h).

Buscai no céu a verdadeira riqueza
04/08/2019
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos. Nós estamos celebrando o 18° Domingo do Tempo Comum. Nesse mês vocacional, todos nós somos chamados a buscar as coisas do alto, como nos diz Paulo escrevendo, na Segunda Leitura de hoje [Cl 3,1-5.9-11], à comunidade de Colossenses. Nós somos chamados a morrer para o pecado e, assim, ressuscitar com Cristo, buscando sempre as coisas eternas. Nós nascemos para a eternidade, mas, para chegar à eternidade, é necessário percorrer o caminho da história humana e aí, no dia a dia da nossa vida, podermos fazer as escolhas certas.
Hoje, de modo particular, o Senhor nos fala sobre o acumular bens materiais. Trabalharmos não para ter, não para vivermos no sentido de estamos constantemente em busca de aparecer para os outros ou de acumularmos tesouros nesta vida onde a felicidade não deve consistir nos bens materiais, mas sim para vivermos o projeto de Deus para a nossa vida. Assim como no Evangelho de Lucas [Lc 12,13-21], nós temos um contexto interessante, em que Jesus estava pregando para a multidão, quando um jovem se aproxima e grita “Mestre, dize ao meu irmão reparta a herança comigo”. Aqui nós estamos numa situação em que, no tempo de Jesus, os sacerdotes e os mestres da lei, muitas vezes, faziam o papel de juiz. E ali, em praça pública, aquele jovem reconhece em Jesus um sacerdote, alguém que entende da lei de Moisés e pede para o Senhor, esperando que o Senhor lhe desse uma resposta clara e objetiva, mas o Senhor faz a pergunta: “Quem me fez juiz das pessoas? Quem me fez juiz das ações? Quem me fez juiz dessas situações?”. Jesus aproveita a situação para recordar que nós não somos chamados a acumular tesouros nesta vida, mas acumular tesouros nos céus. E aqui vale a pena a reflexão, porque muitos acabam dizendo que Jesus nos pede para sair dando tudo que temos, mas Jesus não está dizendo isso.
E aí é importante nós escutarmos a Primeira Leitura, do Livro do Eclesiastes [Ecl 1,2;2,21-23], quando começa dizendo: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.”. Quando você chegar em casa, procura lá o Livro de Eclesiastes e depois você vai lá no último versículo do livro, ele termina dizendo a mesma coisa: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.”. E aí, uma leitura superficial da Palavra de Deus vai nos levar a uma compreensão muitas vezes equivocada, acreditando que a vaidade é um pecado e não é. O ser humano precisa de um pouco de vaidade, se não ele acorda de manhã e não escova os dentes, não penteia o cabelo, não toma banho, não se arruma. A vaidade é importante porque senão a gente vai ficando relaxado e ninguém gosta de gente relaxada ou gosta?! A gente gosta das pessoas que se cuidam, zelam por sua saúde, por seu bem-estar. Agora isso não pode ser para nós uma religião, um objetivo de vida de cultuar o próprio corpo, porque alguns colocaram no lugar da igreja as academias, como o novo templo moderno. E ali fica diante do espelho vendo qual massa muscular que está crescendo mais, muitas vezes não pela sua própria saúde, mas para aparentar algo para as pessoas.
A vaidade, meus irmãos e irmãs, é importante para nos sentirmos bem. É importante estarmos bem com a gente mesmo. E se você trabalha, você tem direito de comprar algo que goste, que vai te dar um certo prazer. Se você tem um dinheiro para comprar um sofá confortável que dá para relaxar, que você o faça, qual o problema? Se você precisa de um celular para o seu trabalho, qual o problema de você comprar um celular de última geração? Mas se você o compra para dizer “Olha o que eu comprei”, porque tem gente que sai desfilando com celular novo, o computador novo, às vezes, com o carro novo... E isso que é o pecado: quando você compra algo não para o seu próprio bem-estar, mas sim para se aparecer os outros.
Assim, meus irmãos e irmãs, a liturgia de hoje nos convida a colocarmos Deus em primeiro lugar, depois sermos capazes de tomarmos conta de nossa vida, tendo um bem-estar suficiente para estarmos livres para cuidar das pessoas que nós amamos e para viver o projeto de Deus. Este projeto do Senhor que nos convida sempre a sermos missionários, o Senhor que nos pede em várias circunstâncias para irmos anunciar a Boa Nova. Quando os bens materiais nos aprisionam, eles se tornam para nós um verdadeiro obstáculo para vivermos o projeto de Deus.
Neste mês em que nós nos dedicamos a refletir e rezar pelas vocações – vocações sacerdotais, vocações religiosas, vocações missionarias, mas também a vocação matrimonial, a vocação familiar –, nós queremos pedir a Deus que faça do nosso coração, um coração mais amadurecido, capaz de compreender a vaidade como algo que nos levará a contemplar o mistério do Senhor, a nos deixar bem conosco mesmo para vivemos a nossa missão. Que nesta Eucaristia o Senhor que nos purifique de toda e qualquer situação que nos impeça de estarmos livres para viver o projeto do Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 18º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 04/08/2019 (domingo, missa das 7h30).

A semente da oração está plantada em cada um
27/07/2019
Celebrando esta eucaristia, meus irmãos e irmãs, do 17º Domingo do Tempo Comum, a Igreja nos convida a rezar sobre o significado da oração em nossas vidas. Vemos no Evangelho de hoje [Lc 11,1-13] que os discípulos pedem a Jesus para lhes ensinar a rezar, como João o havia feito. Enquanto eu preparava esta reflexão de hoje, não podia deixar de recordar da minha vó me ensinando a rezar o rosário. “Filho, vem aqui. Vem rezar com a vó”. Então me dava um tercinho e me ensinava a rezar. Como é bonito ver quando o vovô ou a vovó trazem os netos na igreja. Hoje de manhã eu estava aqui atendendo e vi três avós que vieram de mãos dadas com os netos, paravam perto dos santos e explicavam sobre cada um deles. E, em nossa sociedade atual que está caminhando contra a religião, o vovô e a vovó são responsáveis por manterem viva a chama da fé de nossas crianças.
Pode ser até que elas não cheguem a frequentar uma comunidade de fé, mas aquela sementinha foi plantada no seu coração. Quantas crianças chegam em nossa comunidade e o pai e a mãe não ensinaram sequer a rezar as orações do Pai Nosso ou Ave Maria. Mas o vovô e a vovó ensinam. Então, para os avós aqui presentes, eu digo: continuem insistindo com os seus netinhos. Continuem na alegria, no sorriso, apresentando o lado positivo de Deus. Não falar de um deus carrasco (por exemplo, falando “não faça isso que Deus vai te castigar” ou “porque Deus não gosta”). Fale do amor de Deus e das maravilhas que Ele realizou na história da humanidade. Este Deus para o qual nós devemos nos colocar em oração para agradecermos tudo que Ele nos faz, que é a oração de louvor ou a oração de agradecimento. Mas também que é um Deus que acolhe todas as nossas súplicas, as nossas necessidades na oração de petição, como a chamamos.
Jesus, quando ensina a rezar, ensina os seus discípulos a pedir a Deus. Nós podemos sim pedir ao Senhor. Pedir por nossa vida, por aqueles que nós amamos, pela recuperação da saúde de nossos entes queridos. Pedir pelos nossos filhos ou netos. Pedir pela nossa pastoral, pela nossa comunidade, pelo nosso trabalho. Não há nenhum problema nisso. Mas o que nós não podemos deixar é de agradecer a Deus tudo que Ele realiza em nossa vida. Quem aqui já recebeu uma graça de Deus? Pela quantidade, é um testemunho grande. Mas a real pergunta é se nós agradecemos o que Ele realiza em nossa vida.
Estou passando por um momento de transição em minha vida, com novas atribuições, novas responsabilidades. E o coração fica inquieto, fica angustiado porque a transição não é fácil para ninguém. Mas eu não posso deixar de agradecer a Deus tudo o que Ele me concedeu: pessoas maravilhosas que eu conheci, ensinamentos novos que tive a oportunidade de aprender, novos desafios que eu pude superar. Quantas coisas para agradecer... e por que ficar triste, se eu posso ficar alegre? Porque Deus está continuando a nos dar novas possibilidades para que possamos crescer, amadurecer e colocar a sua missão sempre em primeiro lugar. A você, meu irmão e minha irmã, que hoje pode estar triste, por qualquer motivo que seja – você que reza pela sua família, que traz no seu coração alguém que já esteja desenganado pelos médicos, um casal que esteja se separando, alguém de sua família que esteja com dependência química, seja o que for –, a Primeira Leitura de hoje [Gn 18,20-32], nos traz a figura de Abraão na situação em que o Senhor resolveu exterminar Sodoma e Gomorra. E Abraão se coloca a interceder por aquelas pessoas. “Senhor, se houver cinquenta justos, pouparias a cidade?”. “Sim”, responde o Senhor. E se houvesse quarenta e cinco, trinta, vinte? E ali Abraão consegue salvar aquelas pessoas. Tudo começando pelo diálogo com Deus. O diálogo que tanto falta em nossos lares, em nosso corações. Hoje, nestes tempos em que todo mundo parece ter virado jornalista, como notamos ao abrirmos os perfis em redes sociais. Os sites com matérias venenosas, agressivas e de opiniões enviesadas. Todo mundo já tem sua concepção do ‘mundo de Deus’ parece que fechada. E esquece de se abrir ao diálogo. Nós somos construtores de pontes e não de muros.
Abraão, através do diálogo, estabelece uma ponte com Deus. E neste diálogo recíproco entre Abraão e Deus muitos são salvos. A sua oração deve ser dialogada com o Senhor. Muitas religiões pregam a oração apenas de repetição. A nossa fé, cristã e católica, nos ensina a oração dialogada. Se algum dia você tiver a oportunidade, estude a liturgia da missa da Igreja Católica. Ela é, do começo ao fim, um diálogo entre Deus – na pessoa do padre, que age em Persona Christi – e a comunidade. Celebramos a eucaristia de forma dialogada. A nossa oração, ainda que pessoal, deve ser dialogada. A nossa oração em casa, com nossa família, deve ser também assim. A você que está triste, cansado, desanimado, lembre-se: você pode ser intercessor por aqueles que estão se perdendo. Não deixe roubarem a sua esperança. O pecado que Paulo escreve à comunidade de Colossenses[Cl 2,12-14], e que Cristo sepultou, é para ficar sepultado. Não devemos trazer da mansão dos mortos os pecados que nos desviam do caminho do Senhor. Por mais pecadores que sejamos, quando sepultamos algo, é para deixarmos sepultado.
Deixemos que aquele sentimento de falta de esperança, de falta de alegria nos nossos corações, sejam verdadeiramente sepultados. No Salmo de hoje [Salmo 137], nós cantamos: “Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó Senhor.”
Nós somos sempre chamados a abrir nossos corações ao Senhor, por nossas necessidades ou daqueles que amamos, da Igreja e do mundo. Nós somos uma obra inacabada diz o Salmo: “completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!”. E por mais que sejamos frágeis, limitados, nós somos humanos. E na nossa humanidade, o Senhor nos socorre, nos ampara. Que a nossa oração, a partir de hoje, seja mais fervorosa, mais dialogada com o Senhor, abrindo o nosso coração, rasgando nossos sentimentos, sorrindo para o Senhor, chorando com o Senhor, mas permitindo que Ele sempre conduza a nossa vida.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 17º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 27/07/2019 (sábado, missa das 16h).

Acolher traz bênçãos à nossa vida e à dos irmãos
21/07/2019
Irmãos e irmãs, a liturgia de hoje, de modo resumido, nos convida a refletir sobre a hospitalidade, a acolhida. Nós sabemos que, na Sagrada Escritura, a acolhida é algo muito importante porque quem acolhe o deve fazer como se estivesse acolhendo o próprio Deus em sua casa. Uma das recomendações que Jesus fez quando enviou seus discípulos foi essa: “ide de casa em casa e, onde vocês forem bem acolhidos, que a minha paz desça sobre aquele lugar”. Ou seja, quem acolhe uma pessoa em sua casa e a trata bem, receberá bênçãos e graças. Às vezes, nós não acolhemos bem nem quem está do nosso lado. Então, muito menos, quem é de fora. Já ouvi muito frases como esta: “padre, eu tenho casa, mas eu vivo nela como se eu fosse um estranho. Não me sinto bem, não me sinto acolhido”. Essa é uma realidade muito presente em nossas famílias, atualmente.
Na Primeira Leitura [Gn 18,1-10a], nós vemos Abraão e Sara acolhendo três homens de Deus. E Abraão fez uma acolhida muito bonita, não permitindo que eles continuassem a viagem sem antes entrarem em sua casa. Abraão, juntamente com Sara, preparou um grande banquete para aqueles homens. E, no final, qual foi a bênção que eles receberam? Um filho. Acolher bem lhes trouxe bênçãos do céu.
No Evangelho que acabamos de ouvir [Lc 10,38-42], também temos a acolhida de Jesus na casa de Marta e Maria. E aqui, qual foi a bênção que se destaca nesta acolhida? A situação de Maria, que acolhe Jesus e se coloca a seus pés, como aquela que quer aprender e ser discípula, desejando ser uma pessoa melhor. E falando em ser alguém melhor, na Segunda Leitura [Cl 1,24-28], Paulo nos faz este convite. Temos que buscar, a cada dia, a santidade, a perfeição. Ele usa a palavra perfeição dizendo que a cada dia devemos nos aperfeiçoar à pessoa de Jesus Cristo. E, através das atitudes que temos em relação aos outros, nós vamos atingindo este objetivo. Esta busca da perfeição deve ser constante. Nós só vamos alcançar isto na plenitude. Mas, enquanto aqui estamos vivendo, como nos fala Paulo, temos que ir nos aperfeiçoando cada vez mais, tratando de viver aquilo que Jesus nos ensina na Palavra.
Eu devo querer ser igual a Cristo. No comportamento, no falar, no ouvir, no pensar. Hoje mesmo, no batizado destas crianças, qual é o papel dos padrinhos e dos pais? É fazer com que estas crianças cresçam e se aperfeiçoem a Cristo. Que elas sejam cristãs de fato. Cada um deve ter a consciência de que determinada atitude não é uma atitude de Cristo e, por isso, não é adequado ir por este caminho pois Jesus não ensinou isso. Isto é se aperfeiçoar.
Que Deus nos ajude a sermos pessoas melhores assim como Abraão e como Maria, que acolheram em suas casas. Assim como Maria que estava atenta, aprendendo, se aperfeiçoando em ser igual ao Cristo. E que, assim, nós também possamos levar cada vez mais a sério os ensinamentos de Paulo na Segunda Leitura.
Não é uma tarefa fácil, mas nós temos, todos os dias, que nos aperfeiçoar. Quando estiver diante de uma situação difícil, faça a seguinte pergunta: “o que Jesus faria se estivesse em meu lugar?”. Faça uma oração, pense como Jesus agiria no aqui e no agora. Seja dentro da sua casa, com seus filhos ou esposo(a), no trabalho ou com os vizinhos, sempre que estiver diante de um problema ou uma crise, pergunte-se isto. Eu tenho certeza que você vai encontrar a resposta.
Homilia: Pe. Júlio César Caetano – 16º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 21/07/2019 (domingo, missa das 10h).

Ser humilde como Cristo Jesus
14/07/2019
Neste domingo, chamado domingo do bom samaritano, é colocada diante de nós a Palavra de Deus, o decálogo, as 10 palavras dadas ao povo no Monte Sinai para que o povo viva. Essa palavra é dada ao povo para formar essa aliança para que o povo tenha vida. O povo de Deus enfrentou a escravidão e a morte, vítima dos ídolos do Egito, foram libertados e no Monte Sinai receberam as 10 palavras. Deus, como diz a Palavra no Livro do Deuteronômio, não é um deus ausente, não é um deus dos oráculos inacessíveis, como outros deuses que traziam ameaças e que ninguém sabia direito o que diziam, mas Moisés lembra que a lei dada por Deus no Sinai é uma palavra inteligível, compreensível e não é pesada.
A palavra de Deus é suave e, quando é revelada a Moisés, dá a certeza ao povo de que Deus caminha no meio de seu povo, em meio as lutas, as alegrias e o sofrimento, como vai dizer o Concílio Vaticano II. Deus é um deus que vê, escuta e desce para ajudar seu povo, e dessa consciência, dessa presença firma uma aliança no Sinai, de modo que essa palavra é leve e pode ser encontrada. Moisés apresenta a palavra para o povo e diz que essa palavra não é inacessível. Essa palavra está na tua boca e no teu coração, por isso converta-te ao Senhor Deus para que vivas. É uma palavra que se deixa encontrar, que está no meio do povo. Ela “está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir” [cf. Dt 30, 10-14], então, quem escuta essa palavra viverá em todos os sentidos. Mas, meus irmãos e minhas irmãs, para encontrar essa palavra é preciso ter uma atitude de humildade [cf. Sl 68]: “Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá!”. Para que a palavra de Deus em nossa boca produza efeito, é preciso buscar com o espírito de humildade. Só os humildes sinceramente buscam a Deus, se alegram e vivem. Damos graças, Senhor, Pai do céu e da terra, pois escondestes essas coisas aos sábios e revelastes aos humildes.
‘’Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá!’’. A palavra tem que estar na boca e no coração e, frente a esta palavra, é preciso assumirmos uma atitude de humildade, é o que vai dizer o salmo. Essa humildade está naquele que sofreu a Paixão e ressuscitou e que é glorificado, e está ao lado de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. São Paulo nos diz na Carta aos Colossenses [Cl 1,15-20]: “Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois, por causa dele, foram criadas todas as coisas no céu e na terra (...)”. Por meio dele, foram criadas todas as coisas e todas as coisas só se mantem vivas, só mantem sua consistência em Jesus Cristo. Mas essa grandeza de Jesus Cristo, essa igualdade com Deus Pai não fez dele cheio de si mesmo, como queria o diabo. O diabo queria que Jesus fizesse milagre a torto e a direito. Jesus Cristo, poderoso, glorioso filho de Deus podia fazer tudo, mas sua atitude foi de humildade. Ele humilhou-se e obedeceu, rebaixou-se, assumindo a missão que o Pai lhe revelou, e a missão que o Pai lhe revelou era não fez a vontade dele, mas a vontade do Pai. Jesus foi o humilde, obedeceu até a morte e morte de cruz, por isso Deus o elevou, lhe deu um nome que está acima de todo nome e agora está sentado ao seu lado, e por isso merece louvor. Sendo Deus, ele não se aproveitou disso. Mas tem cristão que se aproveita, diz que é tão servo de Deus que eu pode expulsar demônio, isso é falta de humildade. Jesus não se comportou assim. E a cruz daquele que sofreu a Paixão e é glorificado pela vontade do Pai e por sua própria atitude mostrou aos cristãos que é assim que se deve ser. Jesus crucificado vem para nos lembrar da sua obediência e humildade. ‘’Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá’’, ressuscitará; ainda que esteja morto, viverá. Meus irmãos e minhas irmãs, nessa teologia da humilhação, rebaixamento e elevação, São Paulo mostra a comunidade de Colossenses que Jesus é humilde e obediente por excelência, ele é o cumpridor da lei. A lei tem que estar na boca e no coração, lugar dos sentimentos que levam a ação, tua palavra deve se transformar em ação. Santo Antônio dizia que a palavra só será eficaz para mim e para o outro quando ela falar pelas obras. Por isso, Santo Antônio dizia para não falar muito, cesse as palavras, que falem as obras. Santo Agostinho dizia se eu for obrigado a me calar, por algum motivo, se eu for proibido de falar a palavra de Deus, que a minha vida seja um grito, seja um testemunho a Deus e aos irmãos. Pois bem, Jesus se rebaixou, se fez um de nós e por isso Deus o glorificou e exaltou e Ele se tornou a ponte pela qual nós subimos a Deus.
Os mestres da Lei eram os defensores das regras, do que podia e do que não podia, da pureza e da impureza, cumpriam à risca a lei e vai ser com eles que Jesus vai ter seus confrontos mais terríveis, pois eles falavam e não praticavam, se achavam melhores do que os outros, não tinham humildade, por isso um deles que está dialogando com Jesus lhe faz uma pergunta capciosa no Evangelho de hoje [Lc 10,25-37]: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?”. Mas Jesus lhe devolve a pergunta “O que está escrito na Lei? Como lês?” e ele responde “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!” e, quando ele pergunta quem é o próximo, Jesus conta a parábola do bom samaritano, que era uma pessoa que os judeus consideravam pecadora, impura, mas foi o único que ajudou o homem que foi atacado por bandidos, enquanto nem o sacerdote nem o levita não o ajudam. O samaritano foi tomado de compaixão e não de pena, ele se reconheceu naquele homem e pensou “poderia seu eu”. E, então, Jesus devolve a pergunta: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”. Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então, Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa’’. Não basta, então, só conhecer a palavra de Deus, não basta ser doutor e mestre na palavra, tem que ter o espírito da palavra, e Jesus mostrava isso com seus sinais, dava pleno cumprimento a Lei, e mostra que ele é o bom samaritano da humanidade. A Igreja vai dizer que nosso pecado nos jogou na lama, e a vinda de Jesus nos salvou, então devemos ser iguais ao samaritano, ter a palavra transformada em ação e é isso que Jesus demonstrou. Para Jesus Cristo, a figura do bom samaritano é aquele que muito amou, mas só os humildes reconhecerão isso. É preciso então que nós retomemos essa atitude, como São Camilo, o bom samaritano, que cuida dos doentes, olhando para o verdadeiro Salvador que é Cristo, colocou na sua vida aquilo que a palavra diz: a palavra tem que estar na nossa boca, no nosso coração e nas nossas ações. Tudo isso foi Jesus quem nos deu o exemplo, mas só quem reconhecerá isso são os humildes. Os pecadores são humildes, o samaritano, o cobrador de impostos, a mulher adúltera, na boca do povo não valiam nada, mas são essas pessoas que são capazes de entender a verdadeira palavra. Não é difícil, mas só os humildes de coração que entendem, e não basta só dizer, tem que demonstrar com atitudes de humildade. Se buscarmos Deus com o coração arrogante e PhD na palavra não vamos encontrá-lo, tampouco se alegrar. A glória de Deus é o homem vivente, o samaritano. Onde aparentemente não existia nada é lá que se dará o cumprimento da lei, e Jesus disse que o próximo é aquele que usou misericórdia. Jesus diz que não basta conhecer a palavra, ela deve estar na boca e no coração para se transformar em obras. “Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá!’’ e só revive quem já morreu, e o que nos faz morrer? O pecado, do qual o bom samaritano da humanidade nos salvou, graças a sua humildade. Queriam que Jesus mostrasse poder, mostrasse serviço e ele poderia ter feito, mas foi grande por causa de sua humildade. A palavra de Jesus estava em sua boca, a ciência e a sabedoria do Pai, e estava em seu coração, porque Ele tomado de compaixão chorava e perdoava. Ele é o bom samaritano, porque Ele cumpre plenamente a palavra.
Meus irmãos e minhas irmãs, aprendamos de nosso Senhor o que é a humildade que se demonstra pelas ações. Que a palavra esteja em nossas bocas e em nossos corações, portanto converta-te a ela e viverás, porque humilde é Jesus Cristo, igual em natureza a Deus Pai não se fez igual, instigado para fazer apoteoses, milagres e curas não se rendeu e Ele vai dizer no último dia: nem todos aqueles que me dizem Senhor, Senhor entrarão no Reino dos Céus, mas os que são humildes diante da vontade do Pai. Que o Senhor Jesus, samaritano da humanidade, nos dê essa graça, convertamo-nos ao Senhor, humildes, para que nosso coração reviva e possamos viver tendo como exemplo nosso Senhor, o bom samaritano.
Homilia: Pe. Antônio Araújo de Souza – 15º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 14/07/2019 (domingo, missa das 10h).

Jesus nos envia em missão
07/07/2019
Nós estamos celebrando o 14º Domingo do Tempo Comum, em que a Igreja nos convida a recordar nossa missão de ser missionários. "Ide pelo mundo inteiro, anuncia o Evangelho a toda criatura, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" [ref. Mc 16, 15; Mt 28, 19]. Essa é a missão de todo batizado. E na vida pública de nosso Senhor, Jesus Cristo – que iremos acompanhar até o 34ª Domingo do Tempo Comum –, iremos ouvi-Lo nos enviando em missão de muitos modos, porque pelo nosso batismo e por aceitarmos Jesus como nosso Salvador, somos chamados a ser missionários.
No Evangelho de hoje [Lc 10, 1-12. 17-20], o Senhor envia 72 discípulos, dois a dois, em missão, para irem preparando os corações para a chegada, para a presença do Messias. Se, no passado, João Batista era aquele que preparava os corações para o batismo de conversão, agora os 72 irão preparar os povoados, irão preparar os corações das famílias para receber a presença física do nosso Messias, nosso Salvador. Assim como os 72 discípulos, você e eu também somos enviados em missão, a sermos missionários não apenas na África, na Ásia, na Amazônia, mas aonde o Senhor nos enviar: em casa, no trabalho, na comunidade em que vivemos, na igreja que nós frequentamos. Quantos corações ainda não conhecem Jesus... Quantas pessoas ainda não fizeram a experiência pessoal, real e profunda da presença de nosso Senhor, Jesus Cristo.
Assim, meus irmãos e irmãs, a Igreja nos recorda hoje dessa missão, nos recorda que o Senhor nos envia a uma missão que não é fácil, uma missão que requer de nós muita coragem, muita ousadia para sermos capazes de abandonar tudo aquilo que nos impede de viver na liberdade. "Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias" para a missão; em outras palavras, o Senhor está nos pedindo para deixar tudo aquilo que nos impede de sermos livres. Quantas pessoas eu já ouvi dizendo que não têm tempo de ir à igreja porque têm muita coisa para fazer em casa ou no trabalho... Se Jesus, se Deus é prioridade na minha vida, que lugar Ele está ocupando nas minhas escolhas? Quantas pessoas arrumando situações em casa, no trabalho, com os amigos, e colocando Deus em segundo plano na sua caminhada. Será que tem algo te atrapalhando de viver o projeto de Deus, de colocar Deus à frente da sua vida, da sua família? Se tiver, meus irmãos e irmãs, hoje você é chamado a repensar e, se necessário, renunciar tudo aquilo que te atrapalha, que te faz perder tempo. Quantas coisas vão atrapalhando, no dia a dia, a nossa jornada; pessoas que se preocupam demais com o seu computador, com a sua roupa, com o seu carro, sua casa... E, assim, a missão vai ficando em segundo plano em nossa caminhada.
Meus irmãos e irmãs, o Senhor nos diz: "Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos". Significa que a missão não é fácil; a missão é difícil. Às vezes, a missão é dolorosa, às vezes ela nos deixa tristes, cansados, abatidos. Por isso, a Igreja nos propõe este trecho de Isaías na primeira leitura de hoje [Is 66, 10-14c]: "Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei". Quando estamos cansados, tristes, abatidos, duvidosos, chorando, o Senhor nos acalenta como uma mãe que pega seu filho no colo e cura as suas feridas. Este Deus da Misericórdia, meus irmãos e irmãs, está constantemente buscando conduzir a nossa história, os nossos passos, mas muitas vezes nós não permitimos que o Senhor nos console, que o Senhor nos ampare, que o Senhor cure as nossas feridas.
Ao recordarmos que somos missionários, somos chamados a relembrar que anunciamos Jesus como nosso Salvador. Nós não anunciamos a nós mesmos. Nós não nos gloriamos por nossa palavra, por nosso testemunho, por nossas ações; nós nos gloriamos por apresentar o Senhor. Os discípulos voltaram da missão entusiasmados, porque até os espíritos maus os obedeciam. Muitas vezes, nós ficamos iludidos por situações que gritam diante dos nossos olhos, situações que às vezes não compreendemos; atualmente, na TV, há uma variedade de shows religiosos, mas muitas vezes é um homem que aparece, e não Jesus, o nosso Senhor. Por isso a Igreja recorda a carta de São Paulo à comunidade de Gálatas na segunda leitura [Gl 6, 14-18]: "Irmãos, quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo". Se, por um lado, a missão é difícil, é pesada, por outro, recordamos que somos chamados a assumir a nossa cruz de cada dia. Se alguns missionários se gloriam por sua palavra, por expulsar demônios, o Senhor nos recorda que Ele deve crescer e eu diminuir. A nossa alegria está em saber que nosso nome está escrito nos céus! Não é para os homens que trabalhamos, que nos apresentamos, mas para Deus.
Que nós, meus irmãos e irmãs, ao celebrarmos esta eucaristia, possamos reafirmar nosso compromisso batismal de sermos missionários do Senhor. Aonde o Senhor nos enviar, que possamos ir com o coração livre, com o coração confiante de que o Senhor nos ampara, nos sustenta, cura nossas feridas, enxuga nossas lágrimas. Que não deixemos nosso ego nos envaidecer, mas permitamos que o Senhor sempre cresça e nós diminuamos, para que a graça de nosso Senhor, Jesus Cristo, possa ser anunciada por mim e através de mim, nos gestos mais puros, simples e coerentes com o Evangelho da Salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 14º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 07/07/2019 (domingo, missa das 10h).

Os apóstolos são o alicerce da Igreja
30/06/2019
Estimados irmãos e irmãs, a Solenidade que celebramos hoje, dos santos apóstolos São Pedro e São Paulo, é para nós o fundamento da nossa fé em Jesus Cristo. Nós celebramos, de fato, o fundamento da nossa fé, pois ela é, essencialmente, uma fé apostólica. Nós não vimos Jesus Cristo com nossos olhos nem O ouvimos quando estava presente fisicamente nesta terra, mas os apóstolos sim, de modo que o que nós sabemos sobre o Verbo da Vida, nós recebemos dos apóstolos. Nós nos alimentamos do Pão da Palavra e do Corpo do Senhor, que foram transmitidos e chegaram até nós por meio dos apóstolos. Por isso, a fé apostólica é o fundamento da nossa fé.
Os apóstolos são chamados de "colunas da Igreja", o sustentáculo da Igreja; a Igreja do Cordeiro está alicerçada sobre os 12 apóstolos, que também, como Jesus Cristo, deram suas vidas em nome da Boa Nova da Salvação que chegou até nós. Por isso, a Igreja acredita firmemente na sagrada tradição apostólica que deu, nas comunidades, origem às escrituras. Antes mesmo do livro, veio a tradição, a pregação dos 12 apóstolos. Os conhecimentos que nós temos sobre Jesus são de fundamento apostólico. Portanto, nossa certeza de seguridade, a nossa certeza de verdade deve estar alicerçada sobre a comunhão apostólica.
O Santo Padre, o Papa Francisco, hoje é Pedro na sucessão ininterrupta da Igreja; os bispos são sucessores dos apóstolos, como Dom Pedro é, aqui nesta Diocese, verdadeiro apóstolo de Cristo – não porque ele se autoproclamou, mas porque a Igreja, na tradição apostólica, o tornou apóstolo verdadeiramente. Pois bem, meus irmãos e minhas irmãs, a nossa certeza e seguridade de fé deve estar fundamentada na comunhão e na oração dos apóstolos.
O destino da Igreja, a vida da Igreja tem o mesmo parâmetro da vida do Seu Senhor. As alegrias, perseguições, martírio... Tudo deve estar alicerçado no exemplo do Senhor, do qual os apóstolos participaram. Se, antes da ressurreição, eles não entendiam bem e pensavam de modo muito humano – quem ia ser maior, quem ia ser grande, quem sentava à direita ou à esquerda; Pedro até vai querer livrar Jesus para que Ele não experimente a morte e a cruz –, depois da ressurreição, o Espírito Santo abre a mente dos apóstolos para que eles entendam as escrituras, e eles se tornam agora verdadeiras testemunhas.
A primeira leitura [At 12, 1-11] já nos dá uma imagem do que se sucedeu com os apóstolos. O desejo e a tentação dos homens é sempre agradar aos outros, principalmente àqueles que exercem o poder. Como aconteceu com Jesus Cristo, a prisão e a morte se repete com os apóstolos. Herodes, vendo que a prisão dos apóstolos agradava alguns, manda encarcera-los. Mas longe de a Igreja se sentir derrotada, porque a força da Igreja está na oração! Jesus, ainda neste mundo, não deixava de orar; a vida de Jesus era um constante diálogo com o Pai. Até quando escolheu os 12 apóstolos Ele rezou; antes de sofrer a paixão e a cruz, se recolhe em oração; vendo que muitos queriam fazê-Lo rei, retirava-se para orar. Então, a vida de Jesus era uma constante oração, e a Igreja só vai encontrar a Sua força se ela for orante – e quando eu digo "Igreja", digo cada um de nós batizados, porque pelo Batismo nos tornamos Igreja.
Quando os apóstolos estão presos, os fiéis estão unidos em oração – neste caso, a Pedro. A comunidade e o próprio apóstolo preso colocam sua esperança, sua força na oração. E a oração é representada pelos Atos dos Apóstolos como a força capaz de fazer aparecer o Divino em meio às dificuldades – o anjo do Senhor vem libertá-lo –; a oração é entendida como aquela que sacode as estruturas e faz libertar das prisões e das cadeias – caíram as correntes ao chão. O anjo do Senhor, então, vai guiar o apóstolo para fora da prisão. A oração da Igreja liberta das prisões e indica o caminho a seguir. Como no batismo: somos libertados do pecado original e nos tornamos discípulos e discípulas de Jesus.
Pois bem, meus irmãos e minhas irmãs, é esta oração que vai fazer com que não sintamos medo. O salmista vai dizer: "De todos os temores me livrou o Senhor Deus" [Sl 33(34)]; de TODOS os temores. Qual é o temor da sua vida? O que mais lhe aterroriza? O salmista, após sua experiência profunda de oração, diz: "De todos os temores me livrou o Senhor Deus"; de todos os temores NOS livrou o Senhor Deus. A esta confiança e a esta certeza Paulo chegou após sua conversão, a ponto de deixar aquilo que era mais importante para ele – uma carreira brilhante como fariseu, o judaísmo, ser um homem de prestígio... Ele vai dizer: "Considero tudo isso uma perda, tendo em vista a salvação que adquiri em meu Senhor. Eu não O alcancei; antes, foi Ele que me alcançou".
Cada um de nós, meus irmãos e minhas irmãs, não alcançamos Cristo, mas, pela Sua misericórdia, Ele nos alcançou. E agora, depois de ter fundado as comunidades e passado por inúmeras dificuldades, Paulo sofreu naufrágios, sofreu a rejeição, uma vez apanhou e o consideraram como morto, foi flagelado... Tudo por causa do nome do Senhor, a ponto de, no fim de sua carreira, ele dizer: "A partir de agora ninguém me moleste mais, porque eu já trago no meu corpo as marcas da paixão de Cristo". Agora Paulo está preso, indo para Roma, onde deverá testemunhar o Senhor perante os tribunais, e ele vai refletindo sobre a sua vida. Paulo sabe, como ele diz: "O que me espera são ferros e cadeias". Mas ele está em paz no Senhor. Ele diz: "Eu tenho certeza que o Senhor me libertará".
Neste contexto da segunda leitura [2Tm 4, 6-8. 17-18], Paulo diz: "Eu combati o bom combate". Que combate é este? É o combate da fé. O mundo não ama aquilo que é de Deus; o demônio não ama aquilo que é de Deus. A Igreja é perseguida de todas as formas, mas nós, unidos na comunhão apostólica, em oração, poderemos também dizer, como São Paulo: "Combati o bom combate". São Paulo também diz: "Guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa". As crianças são batizadas na fé dos pais, mas todos nós, agora maduros na fé, devemos também combater este bom combate, guardar a nossa fé; a coroa da justiça é da santidade, é da fidelidade, que o Senhor dará àqueles que forem Suas testemunhas fiéis – e todos nós somos chamados a sê-lo, onde quer que o Senhor nos tenha chamado por vocação.
Para que entendamos essa verdade, meus irmãos e minhas irmãs, é necessária uma coisa importante, que dá sentido a toda nossa vida: quem é Jesus para você? Na minha vida, na sua vida, Jesus tem o primeiro lugar ou não? "A quem nós iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna" [ref. Jo 6, 68]. Na época de Jesus, já existiam várias versões sobre quem Ele era. Alguns achavam que Jesus era Elias, que foi arrebatado num carro de fogo e voltou; outros diziam que era João Batista, que era tão santo que Deus permitiu que voltasse; outros diziam que era um profeta que ia restaurar o reinado, como Davi em Israel. Como hoje, que as pessoas dizem: "Jesus é um grande psicólogo", "Jesus é a mente mais brilhante", "Jesus foi um grande filósofo" ou "Jesus não é nada", "Jesus é uma invenção da Igreja". Quem é Jesus para você? Se nós formos capazes de responder a isso, nossa vida terá outro sentido! Uma comunidade que entende isso torna-se forte no Senhor.
Pedro, no Evangelho [Mt 16, 13-19], diz: "Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo". E Jesus o proclama feliz! Não foi a carne nem o sangue, não foi o homem que revelou isso, mas o Pai que está no céu. "Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la". Pois bem, meus irmãos e minhas irmãs, essa é a promessa que temos do próprio Senhor, essa é a certeza que temos por fé apostólica. Rezemos hoje, portanto, de modo especial pelo santo padre, o Papa Francisco, sucessor de Pedro; por Dom Pedro, sucessor dos apóstolos; e por todos nós que, como Igreja de Deus, nos reunimos e crescemos por meio do batismo, da fé, da liturgia.
A experiência do Senhor, por excelência, é no domingo, Dia do Senhor, quando nos alimentamos para o combate da nossa vida com o Pão da Palavra e com o Pão do Corpo e Sangue do Senhor, onde Ele mesmo se faz presente em nosso meio. Tudo isso é graça da tradição, da missão apostólica. Rezemos agradecendo a Deus por sermos uma comunidade apostólica, que testemunha, em meio aos combates, a alegria da vitória em Cristo Jesus, nosso Senhor. Que possamos dizer, com Pedro: "Tu és o Messias, filho do Deus Vivo", que dá sentido à nossa vida cristã e fidelidade, a partir dessa verdade que os apóstolos transmitiram e anunciaram.
Homilia: Pe. Antônio Araújo de Souza – Solenidade de São Pedro e São Paulo (Ano C) – 30/06/2019 (domingo, missa das 10h).

Seguir firme em nossa missão
23/06/2019
Depois de celebrar o Tempo Quaresmal, o Tempo Pascal e as grandes festas solenes deste período forte da Igreja, retomamos o Tempo Comum - a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo. Hoje é o 12º Domingo do Tempo Comum e vamos até o 34º, acompanhando Jesus, semana a semana, buscando nos identificar com este Cristo, buscando termos um coração semelhante ao coração do Senhor, em uma Igreja que, neste mês de junho, dedica-se ao Sagrado Coração de Jesus.
Para isso, meus irmãos e irmãs, é necessário que saibamos reconhecer e compreender quem é Jesus para nós. Ouvimos, na Segunda Leitura [Gl 3,26-29], que os cristãos - aqueles que aceitam Jesus - devem se configurar a Ele. Depois do batismo, nós nos tornamos cristãos e, assim, não devemos pensar mais em judeus ou gregos, escravos ou livres, homens ou mulheres, mas sim que todos formamos uma única família, um único corpo em Jesus Nosso Senhor.
Anrigamente, assim como nos dias de hoje, as pessoas tinham dificuldade em compreender quem é Jesus. E como buscar, nos identificar, nos configurar a Jesus? A nossa meta é termos um coração como o de Jesus: um coração que ama, que perdoa, que luta e que jamais desiste da pessoa amada.
Assim, a Igreja nos coloca o Evangelho de Lucas [Lc 9,18-24], no qual Jesus vai refletir junto com os discípulos. Jesus, se retirando para rezar num povoado distante de Jerusalém, na intimidade com os discípulos, pergunta: “o que dizem os homens que Eu sou?”. Esta pergunta deve ressoar, profundamente, em nossos corações porque, no passado, diziam que era João Batista, que era Elias ou que era algum dos profetas. E hoje? Alguns dizem que é um espírito evoluído; outros dizem extraterrestre; outros dizem, ainda, que é um “pop star”.
Quantas pessoas estão falando sobre Jesus, mas sem compreender de fato quem Ele é! Pedro, no entanto, diz: “tu és o Messias, o ungido de Deus”. Para nós, Jesus é o nosso Salvador. Isto deve ser claro para todos nós. Somente em Jesus encontramos a salvação e o caminho.
O Senhor Jesus proíbe severamente os seus discípulos de dizerem quem Ele era naquele momento. Por que Jesus faz isso? Porque os discípulos, ou a maioria daqueles que o seguiam, acreditavam que o Messias viria para uma revolução armada, para uma guerra. E a revolução de Jesus não é com armas ou bombas. A revolução de Jesus é a revolução do amor, da misericórdia, da justiça. Se Jesus quisesse uma guerra, Ele a teria feito no dia em que entrou em Jerusalém, triunfantemente, quando o povo o aclamava dizendo “Hosana ao Filho de Davi”. Mas o Senhor entra montado em um jumentinho, símbolo de humildade, de pureza.
Quantos hoje estão com a mentalidade daqueles judeus, esperando o Messias que venha causar uma revolução armada.
Não é esta revolução que Jesus nos ensina. Jesus não nos ensina a ter ódio no coração, nem ensina a criar guerras, inimizades. Jesus nos ensina a transformar o mundo através do amor, do perdão, da justiça, da solidariedade. Através da luta constante para transformar as realidades que não estão de acordo com o projeto de Deus àquilo que o Criador espera de cada um de nós. Por isso, Jesus diz no final do Evangelho de hoje: “Aquele que quiser me seguir, renuncie a si mesmo e me siga. Aquele que não aceita a sua cruz não é digno de mim”.
Ouvimos, na Primeira Leitura [Zc 12,10-11;13,1], que depois de uma situação de catástrofe ou guerra, o Senhor lá está, amparando e guardando seu povo, curando os que estão feridos. O Senhor está sempre conosco. Mas, meus irmãos, não podemos abdicar da cruz à qual todos nós somos chamados a assumir, diariamente, em nossa vida. E, à medida que não entendo quem é Jesus, o que significa ser cristão? O que significa ser ungido de Deus? Neste cenário, qualquer cruz que apareça, por menor que ela seja, eu abandono, eu desisto.
Quantas pessoas abandonando a cruz da sua fé, do seu matrimônio ou de cuidar de uma pessoa enferma. Quantas pessoas abandonando a cruz da responsabilidade civil e social que o Senhor lhes apresentou. Até mesmo no campo político: quantas pessoas desistindo porque perderam a sua esperança na nossa sociedade cada vez mais fragmentadas por valores líquidos que vão se perdendo à medida que outra doutrina, outra teoria, outra filosofia vai se sobrepondo.
Hoje nós nos questionamos qual é a verdade sobre Jesus. Deste Deus que se encarnou na história da humanidade. Deste homem que é cem por cento Deus e deste Deus que é cem por cento homem. Homem-Deus, humanidade e divindade, na única pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele, que viveu tudo na condição humana, menos o pecado. E que nos ensinou a amar sem medida.
Que ao celebrar a liturgia de hoje, busquemos nos configurar a Jesus Cristo, Nosso Senhor. Que o Seu sangue possa purificar nossa inteligência, nosso comportamento, nossas escolhas que ainda não refletem, verdadeiramente, a pessoa de Jesus, o Filho de Deus, encarnado na história da humanidade para nossa salvação.
Que o Senhor nos purifique da tentação de mudar de igreja, de mudar de religião. Que o Senhor nos livre da tentação de abandonar as cruzes das dificuldades que se apresentam no dia a dia de nossa história.
Que o Espírito Santo do Senhor nos seja favorável para que a Palavra de Jesus aos discípulos ressoe constantemente em nossos corações: “o que dizem os homens que Eu Sou?”.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 23/06/2019 (Domingo, missa das 10h).

Eucaristia: sustento e alimento da nossa fé
20/06/2019
Meus irmãos e irmãs, hoje nós celebramos a festa do Corpus Christi, a festa do Santíssimo Sacramento. A Eucaristia é o maior sacramento da Igreja, não existe maior. Por isso mesmo, a chamamos desde muito tempo de augusto e Santíssimo Sacramento. Assim, esta festa está intimamente ligada à festa da Instituição da Eucaristia, na Quinta-feira Santa, unindo Cenáculo, Calvário e Altar. É o mesmo mistério que celebramos. Talvez seja diferente apenas o clima desta celebração, porque na Quinta-feira Santa pesava sobre nós, sobre nossos sonhos, sobre nosso coração, mas, sobretudo sobre a nossa consciência, pesava na celebração a advertência de Paulo: “Na noite em Jesus que foi traído” (cf. 1Cor 11,23) e pesava, sobretudo a previsão da Sexta-feira Santa que se aproximava. Hoje tudo é alegria, louvor, adoração e agradecimento. Na Quinta-feira Santa, Jesus foi levado amarrado, como um criminoso, às autoridades judaicas e romanas. Hoje eu e você, meus irmãos e irmãs, levamos Jesus Eucarístico triunfante pelas ruas de nosso bairro. Ao redor do mundo, Jesus sai pelas ruas de modo triunfante, como o nosso Rei, nosso Pastor, nosso Salvador. Jesus é o nosso Senhor, Jesus é o nosso Pastor, Jesus é o nosso Salvador! Isso deve ser cravado no nosso coração e nas nossas atitudes, não apenas na Quinta-feira Santa, não apenas quando vamos à igreja, mas em todos os momentos da nossa vida.
Com Santo Agostinho, hoje podemos exclamar: “No sangue de Cristo saturou-se o nosso sangue; e no sangue de Cristo revigorou-se o nosso corpo”. Quantas e quantas pessoas saturaram seu sangue, suas feridas, suas dores, seus medos e suas angústias em Jesus Cristo nosso Senhor. Ele é o Pastor que apascenta as suas ovelhas, mesmo as ovelhas desgarradas, as ovelhas maltratadas. O sangue de nosso Senhor, Jesus Cristo, revigorou e revigora o coração de todos aqueles que buscam em Jesus refúgio para as suas dores, as suas angústias, o seu cansaço. Quantas pessoas vemos em nossa comunidade cansados às vezes de seu matrimônio, mas não desistem. Quantas pessoas cansadas de educar os seus filhos rebeldes, mas não desanimam. Quantos filhos cuidam de seus pais em idade avançada, outros nem tanto assim, mas que passam por enfermidades, o cansaço bate, mas em Jesus encontram força e alento. Quantas e quantas situações vemos pessoas vindo rezar nesta igreja pedindo a Jesus força para continuar lutando por suas convicções, para colocar em prática os valores do Evangelho.
Assim, meus irmãos e irmãs, nesta festa da Santíssima Eucaristia, celebramos a festa desse Corpo e desse Sangue Santíssimos. Festa que não é apenas de Cristo, porque nós já vivemos enxertados nele e nós nos alimentamos da Santa Eucaristia que recebemos na Missa. Assim como algumas pessoas enxertam um ramo de planta em outra, numa árvore, numa planta mais robusta, como uma orquídea em uma árvore, e aquela orquídea vai se alimentando daquela árvore. Nós, meus irmãos e irmãs, que somos enxertados no coração de Jesus Cristo, nosso Senhor, e é Dele que nós nos alimentamos quando participamos da Santíssima Eucaristia. Como aquela planta não pode viver destacada daquela planta maior, nós também não podemos viver se nos destacarmos de Jesus Cristo, nosso Senhor.
É na Eucaristia que a Igreja se ancora em Cristo como o navio no porto. Se o navio não se ancorar, ele se perde. Se não estivermos ancorados em Cristo, como a Igreja está ancorada em Cristo, também nós nos perdemos. Quantas pessoas perdidas nas doutrinas, na visão de um Cristo que não é o Cristo histórico, o Cristo encarnado na história da humanidade, o Cristo apresentado pelas Sagradas Escrituras, o Cristo apresentado pelo Magistério da Santa Mãe Igreja. Exatamente na Eucaristia a Santa Igreja Católica atinge o seu significado maior de comunidade e de sacramento de salvação. É na Eucaristia que nós nos tornamos uma comum unidade. Se sua casa está dividida, apresente-a a Eucaristia. Se sua família está dividida, apresente-a a Eucaristia. Se a nossa pastoral está dividida, coloque na Eucaristia. Se a nossa comunidade – que graças a Deus já superou tantos obstáculos – possa estar dividida, coloquemos na Santa Eucaristia. Busquemos na Eucaristia este sacramento de salvação. Não são os artistas que vão nos salvar, não são os grandes poetas que irão nos salvar, é Jesus que é o nosso Salvador.
É em torno da Eucaristia que o povo de Deus se reúne esperançoso e alegre para alimentar-se na grande caminhada, porque a nossa caminhada não é curta, a nossa caminhada não é fácil, ela é longa, é difícil, mas ela há de nos levar ao Pai, à morada eterna. O Concílio Vaticano II anunciara que a Eucaristia é a fonte e o ápice da vida cristã. Eu já disse inúmeras vezes nos encontros pastorais: “Tudo começa e termina na Eucaristia”. Como é triste ver uma pastoral, catequistas, pessoas trabalhando na quermesse que não participam da Santa Missa. Tem muitos que preferem trabalhar na quermesse, se alegram de diversos modos, mas não buscam na Eucaristia, enxertados neste Cristo, alimento para continuar a nossa caminhada. Repito: “Tudo começa e termina na Eucaristia”. Se você não participa da Eucaristia, você pode estar fazendo muita coisa na igreja, mas não está em comunhão com ela e com Cristo Jesus.
Dirá mais ainda o Conselho Vaticano II, escrevendo para os padres, chamados presbíteros: a Eucaristia é a raiz e o centro da comunidade, conteúdo de todos os bens da Igreja, porque nela está contido o próprio Cristo, nossa Páscoa, o pão vivo que dá a vida através de sua carne vivificada e vivificante. A Eucaristia dá vida a nossa fé. A Eucaristia dá vida a nossa Igreja. Por isso, nosso encontro semanal em torno da Eucaristia. Nada deve ser mais precioso do que participar no domingo da Santa Missa.
Meus irmãos e irmãs, Eucaristia é igual à Comunhão que é o contrário de divisão, de separação, do individualismo que tantas pessoas ainda insistem em viver. A comunhão é partilha, é partilhar nossas alegrias, nossas tristezas, nossas angústias, nossos medos, nossas esperanças. É colocar tudo diante da Eucaristia. Comunhão que nos faz um só corpo em Cristo, uma só Igreja, uma só comunidade de fieis, porque uma só é a comunhão com Deus: a Eucaristia. E eu peço, como pároco, que a Eucaristia continue a lavar e purificar os nossos corações de qualquer tipo de individualismo, de qualquer tipo de noção de Jesus e da Igreja que não corresponde à verdade por Ele revelada.
Meus queridos irmãos, na Santa Missa, Deus vem ao encontro do desejo humano de participar da vida divina. Todos nós cremos em Jesus queremos e desejamos participar da vida divina. Por isso, vamos dar graças a Deus repetindo a sequência antes do Santo Evangelho de hoje: “O que Cristo fez na ceia manda à Igreja que o rodeia repeti-lo até voltar. Seu preceito conhecemos: pão e vinho consagremos para a nossa salvação. Amém!”. Que a Santa Eucaristia seja sempre para nós sustento e remédio.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade do Corpo e Sangue de Jesus Cristo (Ano C) – 20/06/2019 (Quinta-feira, missa às 9h).

Formar a unidade perfeita a exemplo da Santíssima Trindade
16/06/2019
Estimados irmãos e irmãs, hoje a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Tudo que nós fazemos tem seu início e seu término com a invocação da Trindade Santa. Quando nascemos para vida da graça, quando nascemos para a Igreja, nos tornamos discípulos e discípulas de Jesus Cristo. Nós nascemos na pia batismal em nome da Trindade Santa. Fomos batizados nas três divinas pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e, assim, são também todos os sacramentos que nós recebemos, dos quais o batismo é o início de tudo.
É em nome da Trindade Santa que concluímos toda oração que fazemos. No sacrifício eucarístico, o vinho se torna verdadeiro sangue e o pão se torna verdadeiro corpo, carne de Cristo, e é tudo obra da Trindade Santa, que não são três deuses, mas um único Deus comigo em comunhão, no que a Igreja chama de unidade perfeita. Unidade esta que a nossa comunidade eclesial e as famílias aqui presentes, filhos e filhas de Deus, somos convidados a espelhar, refletir na nossa vida e nas nossas ações para ser uma comunidade perfeita, unida, sem exceção, nem divisão, mas que seja sinal da presença da Trindade Santa, que é o que dá vida, o que sustenta a vida de cada um e a vida da comunidade. Os carismas e dons devem ser colocados em comunhão para a construção do corpo místico de Cristo, a Igreja, para o anúncio do Evangelho da Salvação.
Nós escutamos na Primeira Leitura de hoje do Livro dos Provérbios [Pr 8,22-31] quando fala da Sabedoria criadora. A Sabedoria que é eterna, a Sabedoria não tem início nem fim, por isso que tem esta Sabedoria personificada, que nos dá atributos de Deus. A Sabedoria eterna é a Sabedoria triunfal, a Sabedoria aqui diz que está junto de Deus quando nada do que era físico existia, mas já na eternidade esta Sabedoria já estava junto a Deus. No Livro dos Provérbios, a Sabedoria fala: “eu estava junto de Deus, eu estava junto do Altíssimo quando Ele criava a abóbada celeste, quando Ele criava todas as coisas”. Esta Sabedoria estava brincando enquanto eram criadas as coisas, por isto esta Sabedoria vai ser conhecida como a Palavra de Deus, o “Logos” de Deus encarnado, que é esta Sabedoria de Deus. Para os judeus é escândalo, loucura, mas para quem reconhece esta Sabedoria e é salvo por ela, esta Sabedoria é Jesus.
São João diz no prólogo de seu Evangelho [cf. Jo 1,1] nos diz: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus”. Ali esta Palavra é identificada com a Sabedoria, a Sabedoria criadora, Sabedoria eterna. Ela é o atributo de Deus. Enquanto Deus cria todas as coisas, esta Sabedoria é como uma criança, que se deleitava junto ao criador, formulando castelos, fazendo brinquedos com barro e argila, sempre ao lado do Criador. E esta Sabedoria diz uma coisa bonita: “Alegrando-me em estar com os filhos dos homens”. A Sabedoria se alegrava em estar ao lado dos filhos dos homens. Meus irmãos e minhas irmãs, a tradição cristã no Novo Testamento, logo viu esta Sabedoria encarnada em Jesus Cristo. Nós somos tão falhos que tínhamos pecado contra Deus, ofendendo a Deus, mas mesmo assim esta Sabedoria Divina e Eterna entra no templo, assume a nossa natureza e se alegra em estar conosco. Jesus Cristo se depõe da Glória Eterna e se põe no meio de nós, torna-se um de nós, não obstante de como nós somos, e Ele se deleita, Ele se alegra em estar conosco. A Sabedoria se alegra em estar com os filhos dos homens.
Mesmo se alegrando em estar com os filhos dos homens, muitas vezes somos tão ingratos... Vejam o que os filhos dos homens fizeram com a Sabedoria Eterna, com aquele que se alegra em estar conosco. E não obstante, as nossas falhas e pecados, esta Sabedoria divina estando no mundo amou os seus até o fim e continuará amando para que não se perca nenhum daqueles que o Pai lhe deu. Esta Sabedoria, lá no Antigo Testamento, em uma leitura cristã desta sabedoria que se alegra em estar com o filho dos homens, que deu a vida pelos filhos dos homens, é o “Logos”, a Palavra encarnada da Sabedoria que é Jesus Cristo. Por isso, digo que fizeram por ignorância, se soubessem de fato, não teriam crucificado o Senhor da Glória. Ele é o amigo e esposo. Ele é a Sabedoria, é o Senhor, esta Sabedoria que se alegra em estar conosco. O Senhor sente alegria, porque nós estamos aqui reunidos em nome da Trindade Santa. O Filho do Homem, a Sabedoria eterna, Jesus Cristo, Ele se alegra, Ele deu a vida por nós, e espera que nós voltemos sempre a Ele. A Sabedoria se alegra em estar com os filhos dos homens.
Esta Sabedoria eterna é criada, mas está presente quando Deus cria as coisas, e, no Novo Testamento, esta Sabedoria veio para os seus, mas os seus não quiseram receber exatamente Jesus Cristo, a Palavra, o verbo, a Sabedoria encarnada, que se alegra em estar conosco, se alegra em nos alimentar com o pão da Palavra, se alegra em dar sua própria vida, seu corpo e seu sangue dados verdadeiramente para a vida do homem. Por isso, São Paulo vai dizer que somos justificados por esta sabedoria, por meio da fé. “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho, batizai os povos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” e nós temos pais e mães que trazem seus filhos para que sejam incorporados na vida da graça, na vida da comunidade, na unidade santa que é a Igreja. E a gente vê a responsabilidade de catequizar, que é missão principalmente dos pais e das mães. Não devemos trazer as crianças à missa apenas no dia do batismo, mas sempre, principalmente na missa dominical. Como é bonito ver alguns pais e mães com os seus filhos, vem à igreja e os trazem: isto é catequese, isto é ensinamento para as coisas da graça.
Pela Trindade Santa e pelo batismo somos incorporados à igreja e São Paulo diz que nós somos justificados em Jesus Cristo, que nos torna justos, que nos torna santos, graças a Sua morte e ressurreição, pois o espírito de Deus, o Espírito Santo foi derramado sobre os nossos corações no dia de Pentecostes e todos os dias Ele permanece conosco. Por isso, meus irmãos e minhas irmãs, o Espírito Santo no mistério da Trindade é quem nos faz não temer as coisas. Antes da ressurreição do Senhor, antes do Espírito Santo ser derramado sobre os discípulos, na comunidade reunida no cenáculo, e a cada um de nós pelo nosso batismo, os discípulos não entendiam muito bem o que Jesus queria dizer. O Senhor subindo para Jerusalém dizia: “Olha... o Filho do Homem vai sofrer, vai ser rejeitado, vai ser morto, mas ressuscitará”, mas os discípulos não entendiam estas coisas, porque eles buscavam facilidades, aquilo que é puramente humano. Quando Jesus vai dizendo isso, os discípulos vão atrás querendo saber quem será maior na comunidade, quem será maior diante de Jesus e Jesus pergunta: “vocês estão prestando atenção a mim?” e eles estavam tristes porque estavam falando quem era o maior. Aquela mãe bondosa se ajoelha na frente de Jesus e implora para os seus filhos: “Senhor, quando estiverdes na tua glória, faça que um de meus filhos se sente a tua direita e outro, a tua esquerda”, buscando privilégio e Jesus diz: “ Não sou eu quem vai dar este lugar, meu Pai os reservou”. Jesus vai dizer a Pedro: “quando eras jovem, cingias e perfumavas e ia para onde o homem queria; quando ficardes velho outro te cingirá e te levará.”. Antes da ressurreição os discípulos pensavam puramente naquilo que é nosso, na vida da comunidade, na vida pessoal, bem nosso isso. Quando aparecem as dificuldades, as reprovações por causa do nome de Jesus a gente vai saindo de fininho, só ficou Maria e João... Depois da ressurreição, foi enviado o Espírito Santo e então os discípulos começam a entender, por isso Jesus diz no Evangelho de hoje [Jo 16,12-15]: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido”. O Espírito Santo é o Espírito do Pai e do Filho. Ele está em perfeita comunhão. O Espírito do Pai e do Filho ali estará e fará entender toda a verdade. “Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará”. O que o Espírito Santo faz entender é aquilo que é vontade do Pai e o projeto realizado por Jesus Cristo. “Não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou”. Logo depois da Ressurreição, depois de enviar o Espírito Santo, os discípulos entendem. Pedro agora ficou velho. A velhice aqui no Evangelho não é só a idade, a velhice é a maturidade. Tem gente com 15 anos e tem a maturidade de um ancião, e tem ancião com 80 anos que é um rapazinho de 17 anos. A maturidade do Evangelho é aquele que entendeu que não é a minha vontade, mas a vontade de Cristo, a vontade de Deus para a nossa salvação. E todos os evangelistas e os santos da igreja se tornaram maduros, a ponto de muitas vezes dar a própria vida para santificar o Senhor, assim como São Sebastião, Santa Teresinha do Menino Jesus, e tantos santos que não pensam na própria vontade, mas no amor a Cristo, na unidade e fraternidade, pois entenderam que para ser seguidor de Jesus não se busca somente as glórias, os privilégios, os primeiros lugares que os discípulos almejavam antes da ressurreição, eles agora entendem que morrer no Senhor, o maior dos servos, é o que se coloca disponível, o que mantem firme, no alto da Concórdia e da comunhão, que é o mistério da Trindade Santa, uma comunidade perfeita. O Pai e o Filho se amam e este amor é o Espírito Santo, que não conhece divisão de nenhuma maneira, por isso aquilo que o Pai quer é o que o Filho quer e se realiza por ação do Espírito Santo. A Trindade Santa é o mistério que não adianta explicar, não se explica, mas o Pai eternamente é Pai, o Filho eternamente tem atributo de ser filho, da eternidade de existir antes de tudo. Eternamente gerado pelo Pai, por isso é a Sabedoria eterna e o Espírito Santo é aquele que une o Pai e o Filho e se derrama sobre nós. Por isso, a comunhão e a concórdia são o sinal perfeito da ação da contradição que cada um de nós, somos feitos do Espírito Santo e a comunidade reunida deve respeitar então essa luz, esta comunhão que brota da Trindade Santa. Trindade Santa que nos faz entender um único Deus, não três Deuses. Três pessoas com seus atributos definidos, mas um só Deus, uma só essência. O Espírito Santo no espírito do Pai e do Filho derramado sobre nós pelo qual nós formamos a nossa comunidade com Cristo Vivo.
Meus irmãos e minhas irmãs, nessa solenidade da Santíssima Trindade, descemos a nossa comunidade que é, sobretudo, comunhão; somos diferentes, mas mantemos a concórdia, guardamos a comunhão que é sinal da Trindade Santa. Nossa comunidade existe por causa de Jesus, por causa do Evangelho da Salvação, é que nós nos reunimos na comunhão da Mesa da Palavra e do Corpo e Sangue do Senhor. Nesta comunhão, fazemos com que os dons e carismas enriqueçam e façam crescer a comunidade. Uma comunidade onde todos procuram guardar a paz, guardar a concórdia e a comunhão é uma comunidade que floresce os seus ministros e ministérios, onde todos com seu carisma específico foram colocados para servir em unidade; carismas e dons diferentes, mas todos unidos no corpo místico que é a Igreja, isso nos tornamos desde o batismo. Por isso, louvemos ao Senhor por nossos animadores, pais e mães, educadores dos seus filhos na fé que fazem crescer esta comunidade, colocando seus dons que tem animadores, vários ministérios colocados a serviço, pais e mães que trazem seus filhos para incorporarem a esta comunidade. E que a unidade santa os faça crescer na fé, colocarmos os nossos dons a serviço para que a nossa comunidade cresça e seja cada vez mais uma comunidade trinitária, um sinal de uma comunidade que se ama com dons e carismas colocados a serviço para o crescimento do Reino de Deus enquanto esperamos a sua vinda.
Homilia: Pe. Antonio Araújo de Souza – Santíssima Trindade (Ano C) – 16/06/2019 (Domingo, missa às 10h).

Jesus é a nossa libertação
13/06/2019
O tema deste último dia de Cerco de Jericó é: "Derrubando as muralhas da falta de fé", e estamos diante da imagem de Santo Antônio, um homem que nunca teve problema com falta de fé – ao contrário, sempre manifestou sua fé por meio de sua experiência de vida. A fé só nos falta se nós não a alimentarmos. É óbvio que uma pessoa vai perder a fé se ela não buscar a Deus, não se alimentar de Deus, da graça, do Espírito Santo, da Eucaristia... Por isso, a melhor forma de derrubarmos a muralha da falta de fé é buscando a Deus, nos alimentando da Palavra e da Eucaristia. Assim, tenho certeza que nunca vai lhe faltar fé.
Muitas vezes, também, a falta de fé acontece quando nós desobedecemos a Deus. Quando somos desobedientes, quando somos irresponsáveis em relação a Deus, quando nós não amamos a Deus e não O colocamos acima de tudo. Então é óbvio que a fé vai faltar. E outra coisa, quem fala assim: "Ah, eu não tenho mais fé!", para mim, é porque nunca teve fé realmente! À pessoa que tem fé de verdade, a fé nunca vai faltar, porque o que é verdadeiro nunca falta. Esse negócio de a pessoa falar: "Ah, eu tinha amor, mas agora não tenho mais...", bom, para mim, é porque nunca amou de fato, foi tudo fantasia que ela criou na cabeça dela. Porque amor de verdade, de verdade mesmo, ele permanece até o fim. O próprio Jesus disse isso: "Eu vos amei até o fim". Isso significa o que? Que o amor que Deus tem por nós é infinito, ele não acaba.
Na primeira leitura de hoje [2 Cor 3, 15 – 4, 1. 3-6], Paulo escreve à comunidade de Corinto. Os coríntios, naquela época, olhavam para o antigo testamento e pensavam: "Nós temos que viver como os antigos". Vejam os israelitas, isso é, os judeus: quando eles vão orar e se colocam na presença do Senhor na sinagoga, eles colocam um véu e se curvam diante da presença do Senhor. Eles colocam um véu, eles se escondem. E o que vai dizer Paulo? "Todas as vezes que o coração se converte ao Senhor, o véu é tirado". E Paulo ainda acrescenta: "Vocês não precisam disso, porque nós temos Jesus!". Quando Jesus morreu na cruz, o véu foi rasgado, foi tirado; Jesus nos libertou da escravidão, da servidão. Em Jesus, nós somos livres, não somos escravos! O que Jesus está dizendo para esta comunidade? "Vocês não devem se portar como escravos, porque vocês não são mais escravos! Não são escravos de uma religião, não são escravos de uma sociedade; vocês são livres, porque tens o Espírito Santo. E onde está o Espírito do Senhor, ali está a liberdade!". É isso que Paulo diz no capítulo 3, versículo 17 dessa leitura: "Onde está o Espírito de Jesus, aí está também a liberdade". Uma religião que nos torna escravos não é religião, diz também Paulo. Nós, que somos seguidores de Cristo, somos livres, Deus nos libertou!
Santo Antônio tinha muito isso na cabeça, em sua mente. Ele dizia: "Eu sou um homem livre, porque sirvo a um Deus que me libertou". Vocês acham que a gente veio ao mundo para ser escravo? Não, gente! Nós não somos escravos de ninguém, porque temos o Espírito Santo! Então Paulo continua dizendo: "Sabe o que acontece? O deus deste mundo cegou a inteligência dos incrédulos para que eles não vejam a luz esplendorosa do Senhor, da glória de Cristo – que é a imagem de Deus. De fato, nós não pregamos a nós mesmo, mas pregamos a Jesus Cristo, o único Senhor". Sabe o que Paulo está dizendo? Que o deus deste mundo nos faz andar de cabeça curvada, postura própria de quem é escravo. O escravo, normalmente, não pode olhar nos olhos do seu senhor, não pode se sentir igual ao senhor, então ele anda de cabeça baixa. E tem um monte de cristão andando assim também... O que Paulo nos diz? Um cristão anda de cabeça erguida, porque ele anda buscando a luz! O que é buscar a luz? É buscar a vitória, a cura, a libertação! Um cristão busca uma vida melhor, ele luta por isso! Agora, meu irmão, um cristão que anda buscando a escravidão, a perdição, isso não tem nada a ver com os ensinamentos de Jesus.
Santo Antônio, aonde ia, pregava isto: "Vocês podem ser pessoas melhores". Santo Antônio pregava a libertação, anunciava o Reino de Deus, a Boa Notícia. Ele dizia: "Deus criou vocês para serem pessoas boas, pessoas melhores. Libertem-se dessa escravidão! O que está oprimindo vocês? Abram os olhos! Acordem!". É o que Jesus fala também no Evangelho de hoje [Mt 5, 20-26]. Toda lei de Deus tem em vista a libertação do homem, uma vida melhor. Mas no tempo de Jesus, as leis eram uma imposição à qual você ficava preso. E o que Jesus vai dizer? Que toda lei instituída por Deus é instituída para nos libertar, para nos conduzir. A lei que Deus entregou nas mãos de Moises, ao povo hebreu, era para assegurar que eles chegariam à terra prometida, "onde corre leite e mel", ou seja, só têm coisas boas. Deus deu os 10 mandamentos a Moisés porque o povo estava perdido, desorientado. Então, seguindo os mandamentos, eles poderiam chegar à terra prometida.
Portanto, a lei é para nossa libertação. Seguir uma lei, uma norma, tem que ser garantia de sucesso, de vitória, de libertação, de uma vida nova. Uma lei que não garante isso está totalmente errada! E é isso que Jesus nos ensina: "Não espere um juiz decidir a sua vida, decida você mesmo". Se você tem um problema com o seu irmão, resolva! Não é um juiz que tem que resolver para você. Eu fiquei sabendo, esses dias, que, agora, antes do julgamento com um juiz, há uma "conciliação". Eu escutei isso de um advogado, que me falou que, antes da audiência com o juiz, as partes têm uma reunião de conciliação e, segundo esse advogado, muitas causas se resolvem ali. Exemplo: "O acordo é pagar 20 mil reais, mas eu posso pagar 15 mil, você aceita?", "Eu aceito"; na hora de encontrar o juiz, eles dizem que já fizeram o acordo e o juiz dá o veredicto final e fica tudo resolvido. O que diz a Palavra? "Não perca tempo com coisas que podem ser resolvidas, porque toda lei e ensinamento visa a libertação, a vida nova".
É isto que a Palavra de Deus nos ensina: nós somos cristãos, e o cristão foi criado para ser uma pessoa livre, feliz, que busca a vitória, que busca uma vida nova! Pare de ficar andando com a cabeça curvada, só pensando nos problemas da vida, se lamentando... Mude seu olhar, sua maneira de buscar a luz; buscar uma saída é buscar a vitória! Josué fez isso, ele alcançou a vitória! As muralhas de Jericó caíram porque ele buscou Deus! E quando a gente busca, a gente acha! Santo Antônio fez isso e Josué fez também. Vamos buscar, vamos tirar esse véu que nos impede de ver a luz. Se você continuar com esse véu, aí pode ter certeza que a fé vai faltar, que vai acabar o amor, tudo! Não vai sobrar nada na sua vida. Você vai falar: "Eu não tenho mais fé, eu não confio mais em ninguém, eu não tenho mais esperança, não tenho mais trabalho nem dinheiro nem família, marido, esposa, filho, mãe, pai, comida, bebida..." Então você vai morrer? Tem gente que vive assim, falando que não tem nada... Não tem nada por que? Porque está com o véu tampando seu rosto e só vê escuridão. Vamos nos libertar disso! Deus tem muita coisa bonita para nós, para vivermos! Então vamos tirar esse véu, essa capa que está nos impedindo de buscar a luz e enxergar o Senhor, que é a nossa libertação.
Homilia: Pe. Júlio César Caetano da Silva – Quinta-feira da 10ª Semana do Tempo Comum e Dia de Santo Antônio de Pádua (Ano C) – 13/06/2019 (7º Dia do Cerco de Jericó, missa às 20h).

O amor é a linguagem universal
09/06/2019
Estamos celebrando hoje a Festa de Pentecostes, que é a festa do Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo que nos conduz, que nos dá sabedoria, que acalma o nosso coração para podermos ouvir a voz do Senhor. Que nos capacita para compreendermos qual é a vontade de Deus em nossa vida. Portanto, uma festa importantíssima para nós, que queremos trilhar o caminho da verdade e da Salvação para assim respondermos, verdadeiramente, ao chamado que Jesus nos faz.
Cantamos o Salmo [Sl 103]: “enviai o vosso Espírito, Senhor, e da Terra toda face renovai”. Renovamos a nossa alegria e entusiasmo do nosso serviço a Jesus na Eucaristia. Esse Espírito Santo quer agir na nossa vida, mas, para que isso aconteça, é necessário que nós estejamos com nosso coração em paz, ou não conseguiremos sentir Deus agindo na nossa vida, falando no nosso coração. Quantas pessoas vivendo vidas atribuladas, com dificuldades, com medo!
O Evangelho de hoje [Jo 20,19-23] nos diz que Jesus entrou durante uma noite, com as portas fechadas, pois os discípulos estavam com medo. O Senhor deseja entrar na nossa vida, no nosso coração, independentemente do medo que nós estejamos vivendo ou das decisões que temos que tomar ou dos desafios que temos que enfrentar. O Senhor deseja acalmar o nosso coração, mas, se não acolhermos essa mensagem de paz, na qual o Senhor sopra o Seu Espírito sobre nós, nada Ele pode fazer. Portanto, é necessário reconhecermos que Deus está, constantemente, soprando sobre a nossa vida, sobre a nossa família, sobre os nossos sentimentos. O Senhor está soprando sobre nós, querendo renovar nosso modo de pensar e agir.
Quantas coisas devem ser mudadas no nosso comportamento, dentro de casa, com nossos filhos, no matrimônio, no trabalho. Quantas coisas Deus deseja renovar na nossa vida para que, desse modo, Jesus seja o centro da nossa história e dos nossos pensamentos, como nos propõe Paulo, escrevendo para a comunidade de Coríntios, na Segunda Leitura [1Cor 12,3b-7.12-13]: “ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo”. É o Espírito Santo que nos dá discernimento para compreender o verdadeiro Jesus, e não os outros “Jesuses” que a sociedade, outras denominações religiosas, algumas seitas, filmes e minisséries pregam. É o Espírito Santo que vai nos dar esse discernimento para compreender, a partir de Jesus. Este Jesus que sobe para sentar à direita de Deus e está, constantemente, soprando Seu Espírito sobre cada um de nós. Esse Espírito que nos faz sair do nosso individualismo e da nossa autorreferencialidade, onde nós, muitas vezes, acreditamos que somente nós temos a resposta para tudo.
A Festa de Pentecostes é um contraponto da Torre de Babel, quando algumas pessoas isolaram-se da comunidade e começaram a construir uma grande torre para se afastar de quem estava ao seu redor. Quando nós nos afastamos de nossos semelhantes, nos afastamos também de Deus. Quanto mais nos tornamos individualistas e autossuficientes, acreditando que estamos nos aproximando de Deus, na verdade, estamos nos afastando. Deste modo, recordamos que, muitas vezes, dentro da nossa casa, estamos vivendo a Torre de Babel, onde já não mais falamos a mesma linguagem.
Em quantas famílias já não há mais diálogo e compreensão – um para com o outro – e estão vivendo o individualismo, onde a esposa não conversa com o esposo e, quando vai conversar, brigam e discutem pois cada uma acha que está totalmente com a razão? E, muitas vezes, as pessoas não sabem reconhecer os seus erros e suas fragilidades. Quanto diálogo falta entre os pais e os filhos. Pais que não compreendem que a sociedade está se transformando a cada 5 anos. Os valores não precisam ser transformados, mas a tecnologia, o modo de viver, vai continuar sendo transformado e temos que nos adaptar. É necessário nos adaptarmos. É necessário que nosso diálogo de casa seja adaptado. É necessário que nós, que estamos na comunidade, que acolhemos, tenhamos uma linguagem compreensível. Temos que ter atenção e carinho quando há alguma falha, quando esquecem das coisas, quando derrubam coisas e quebram. Se as catequistas tem que ter paciência, o pai e a mãe também tem que ter. O que nos torna diferentes é o quanto amamos a Deus.
E o Espírito Santo age, em nossa vida, para sairmos do nosso individualismo, da nossa autossuficiência. Pois Paulo escreve a uma comunidade individualista e diz que somos um só corpo, mas com muitos membros, e com uma única cabeça, que é Jesus. E que esse corpo, embora tendo muito membros, caminha na unidade. A nossa Igreja é repleta de dons e carismas. Hoje, vemos as crianças e os jovens que são mais um braço e mais uma perna, um dedo, uma orelha da nossa comunidade. E temos que aprender a lidar com seus erros e seus acertos, pois somos uma única Igreja, uma única família. Assim, podemos trilhar o caminho da unidade, onde somos capazes de falar a mesma língua como vimos na Primeira Leitura [At 2,1-11] quando o povo estava reunido na Festa de Pentecostes – que, por tradição, era uma festa agrícola, mas, para nós, torna-se a Festa do Espírito Santo de Deus, a festa onde pessoas de várias regiões (da Mesopotâmia, da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Panfília, por exemplo) encontraram-se, mas nem todos se compreendiam; todavia, na medida em que o Espírito Santo age como línguas de fogo, um passa a compreender o outro. Para muitos, uma situação quase Hollywoodiana, mas, para as pessoas mais maduras, a compreensão de que, quando saímos do nosso autorreferencialismo, do nosso individualismo e somos capazes de ter uma atitude humilde, eu passo a me esforçar para entender o outro. E, segundo alguns padre espirituais, usando uma linguagem que todo mundo entende: a linguagem do amor.
O amor é o mesmo aqui, na China, nos Estados Unidos, em todos os lugares. Em países desenvolvidos, subdesenvolvidos. Para quem tem estudo, para quem não tem. Para quem é pobre e para quem é rico. A linguagem do amor é universal. E é esta linguagem universal que o Espírito Santo quer nos ensinar a falar e a agir. E quando me deparo com alguém que não compreende a minha linguagem, é necessário que eu me atente mais ao outro para que possa compreendê-lo. Quando deixamos o Espírito Santo de Deus agir em nossas vidas, nos tornamos simples. Quando deixamos o Espírito Santo agir em nossas vidas, nos esforçamos para entender o outro. E, talvez, nos falte um pouco de perseverança para entendermos a linguagem do outro dentro de nossa casa, no nosso trabalho e, muitas vezes, até aqui na comunidade. Aquilo que, muitas vezes, sobra no WhatsApp, falta na vida real: um diálogo humano, sincero, caritativo e amoroso uns com os outros.
Que o Espírito Santo de Deus nos seja favorável, para que, agindo na sua ação, possamos acolher essas crianças e jovens e, sendo uma Igreja missionária e ministerial, possamos ser conduzidos pelo amor de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Pentecostes (Ano C) – 09/06/2019 (Domingo, missa das 10h).

Viver a unidade por meio da Palavra
06/06/2019
Nós estamos vivendo um tempo maravilhoso. Liturgicamente nós ainda celebramos esse período pós-Páscoa e eu tenho repetido, tenho batido na mesma tecla, porque as leituras nos fazem caminhar juntos com os discípulos naqueles primeiros momentos em que a Igreja ia se formando. Começaram, então, as dificuldades dos discípulos e eles fugiam, mas não desanimavam. É interessante perceber no conjunto de leituras deste tempo quantas vezes os discípulos aparecem sem esperança, desacreditados. Isso é muito humano e graças a Deus também para nós, ao lermos esses momentos dos discípulos, este também deve ser o momento de nos animarmos, porque nós tantas vezes passamos por desânimo, muitas vezes a gente fraqueja, porque somos limitados. Tantas vezes a gente pensa em desistir, em voltar atrás e cada um tem um motivo, cada um tem uma história...
Os discípulos estavam sendo perseguidos enquanto passavam por esses momentos, e a gente passa por esses momentos não porque estamos sendo perseguidos... Alguém de vocês já foi perseguido porque estava gritando em nome de Jesus na praça? Não. Ou estava sendo perseguido anunciando o nome de Jesus? Não, pois estamos no tempo diferente. No tempo dos apóstolos, eles se escondiam, tinham medo e essa vai ser a experiência que nós vamos viver no Tríduo de Pentecostes. Mas observe que também diante dessa manifestação do Espírito, os apóstolos estão em um lugar trancado, fechado, com medo dos judeus e estão sendo perseguidos, mas mesmo assim estão juntos. É sobre isso que o Evangelho de hoje [Jo 17,20-26] primeiramente nos aponta: Jesus está rezando por aqueles a quem o Pai os tinha dado e também rezando por aqueles que ainda viriam, que somos nós, e dizendo que nós também iríamos crer pela sua palavra. Qual a sua palavra? É a palavra de Jesus, não fisicamente no meio de nós, mas a palavra já proclamada, a palavra que nós ouvimos em toda a Eucaristia ou quando temos a oportunidade de meditar e deixar que a palavra mude o nosso coração, de conformar a palavra e deixar que consolide o nosso coração.
E depois Jesus reza ainda sobre a unidade perfeita, diz o texto, que é a unidade pela qual os cristãos ou crentes somos conhecidos. Como permanecer na unidade perfeita da qual Jesus está falando? Como o mundo irá nos conhecer? Como o mundo reconhecerá que nós somos realmente cristãos, que nós somos católicos, que somos batizados? Pelo modo como nós vivemos a unidade perfeita. E qual é essa unidade perfeita? É o amor em nós. O amor que nos foi revelado, o amor de Jesus, o amor doado no alto da cruz. Esse amor, o qual também os discípulos não compreenderam, é talvez um dos motivos pelo qual Jesus teria sido crucificado injustamente, por não compreenderem a mensagem de Jesus. E Jesus está dizendo isso. Isso faz com que a gente pense como então cada um de nós pode permanecer, pode viver essa unidade. Qual é a porta? Quais são os dois pilares da vida do cristão? A oração e a Palavra de Deus. Alguém pode pensar que existem outros pilares, mas esses são os dois principais pilares da vida de cada um de nós batizados e cristãos. É aquilo que sustenta a nossa vida, aquilo que nutre a nossa vida, aquilo que faz com que a gente não desanime e principalmente aquilo que faz com que, mesmo a gente passando por tribulações, supere, ou mesmo não superando, suporte: a Palavra de Deus.
Não tem outra forma de nos aproximarmo-nos de Deus, não tem outra forma de ser alimentado, de ter a nossa fé alimentada. Quem não se debruça sobre a Palavra perde a fé, quem não ora, quem não faz a leitura orante da Palavra constantemente e não permite que essa Palavra possa mudar e transformar o seu coração fica a margem no caminho, se perde. A Palavra de Deus, portanto, é justamente o vínculo dessa unidade, que nós fazemos com o Filho e o Pai. Como é que nós conhecemos realmente esse Pai? Como é que cada um de nós faz essa experiência do amor do Pai? Ouvindo Jesus. Mas é óbvio e claro que não basta somente ouvir, é preciso colocar em prática, é preciso tornar essa palavra ouvida e meditada, pressupondo que cada um de nós pelo menos consiga diariamente meditar a Palavra de Deus por 5, 10 ou 30 minutos. Pressupondo que cada um de nós tenha a vida no ritmo da Palavra é que a gente então diz que, por meio dessa palavra, nós temos acesso ao Pai. Talvez João, no Evangelho de hoje, estivesse dizendo exatamente isso para o discípulo. E quando nós lemos esse trecho, Jesus dizendo que fez com que o mundo o conhecesse, mas ao mesmo tempo, nós também lemos tantas vezes que Jesus não foi conhecido pelo mundo e que os judeus os crucificaram.
Por isso, essa leitura nos ajuda a pensar em nossa vida. Como eu estou diante de Deus? Como eu estou vivendo diante do Senhor? Como estou e onde estou depositando esse amor? A leitura nos cobra uma resposta, uma resposta de abertura do coração para que, a cada instante, nós possamos ter o nosso coração transformado para ser realmente uma testemunha dessa unidade, desse amor de Deus para o mundo que vive na descrença, no ódio, nas trevas do amor, nas trevas do egoísmo, nas trevas do sofrimento. Peçamos então meus irmãos e minhas irmãs que hoje cada um de nós nessa Eucaristia, nesse 6º dia do Cerco de Jericó saia renovado, saia renovada daqui.
Homilia: Pe. Rodrigo Freitas – Quinta-feira da 7ª Semana da Páscoa – 06/07/2019 (6º dia do Cerco de Jericó, missa às 20h).

Cristo nos eleva aos céus
02/06/2019
A festa da Ascensão do Senhor, no Brasil, é sempre transferida para o domingo seguinte, exatamente pela importância desta solenidade. E o que celebramos na Solenidade da Ascensão do Senhor? O momento em que Jesus se eleva ao céu e sai da realidade da terra. Mas poderíamos achar que Jesus, ao se elevar ao céu, nos abandonou e se tornou ausente de nossas vidas – o que não é verdade. Deus nunca pode ser ou estar ausente da vida dos que O amam. É por isso que a segunda leitura de hoje [Ef 1, 17-23] vai falar aos "crentes". Os crentes são aqueles que têm o Cristo como cabeça, como centro de seu pensamento. Ora, quem tem o Cristo como centro de seu pensamento é a Igreja. A Igreja é centralizada em Cristo, onde, identificando-se com a essência de Sua vida, vai galgando ao amor.
Se temos o Cristo como essência, cada passo, cada atitude nossa deve ser medida por este mesmo Cristo. E assim, conforme agimos no Cristo, vamos vivenciando a plenitude de Deus mesmo estando na terra. É por isso que a primeira leitura [At 1, 1-11] vai nos chamar a atenção; no fundo, é até um puxão de orelha: não vamos viver o Cristo e ter o Cristo como essência se ficarmos olhando para o céu. Se ficamos olhando para o céu, não vemos o que está à nossa frente; tropeçamos, e vamos tropeçando mundo afora. Às vezes, olhando para o céu, deixamos de olhar a realidade de pessoas que necessitam de nós. É por isso que vai ser dito aos apóstolos: "Por que vocês estão olhando para cima?". Olhe para a frente! Olhe para a frente e se deixe guiar pelo Cristo, que é a essência da sua vida. E este Cristo, cabeça, que te faz Igreja, faz com que você construa o céu! A plenitude! A plenitude à qual todos somos chamados.
Então, quando Cristo ascende aos céus, Ele também eleva cada um dos Seus que pertencem a Ele. É por isso que nós, católicos, batizamos crianças, para que, o quanto antes, esta essência de Cristo esteja em suas vidas, em suas almas. E apesar de as crianças estarem na terra, elas se inspiram no céu. Às vezes nós nos esquecemos do céu... Esquecemo-nos desta dimensão que nos ascende, e ficamos caídos nos problemas da nossa história. Quando vêm as dificuldades, esquecemo-nos inclusive do Cristo! E, em vez de ascender, nos deixamos derrotar... Caídos, esquecemo-nos da essência de Deus impregnada em nossas almas com seu perfume amoroso de eternidade desde o nosso batismo.
É por isso que no Evangelho de hoje, que é a conclusão do Evangelho de São Lucas [Lc 24, 46-53], ele vai dizer que precisamos nos preocupar com a Jerusalém. E Jerusalém não é um lugar geográfico; Jerusalém, a partir deste texto bíblico, não pode mais ser um lugar aonde vamos para fazer turismo. Jerusalém se torna um lugar teológico, onde aconteceu a paixão, a morte e a ressurreição do Cristo. Portanto, é exatamente onde Deus – descido do céu, mas pertencente ao céu – assume a realidade humana sem deixar de ser Deus. E quando Ele passa pela paixão, pelo sacrifício, Ele experimenta as dores, comuns a todos os seres humanos; mas Ele vence a morte! E, ao subir aos céus e ressuscitar, Ele eleva todos nós, eleva a condição de cada ser humano – que, mesmo terrenos, Nele, por Ele e com Ele, devemos nos tornar divinos e eternos.
Por isso, Jerusalém é o lugar onde fomos batizados, onde fizemos a primeira comunhão, onde os casais se casaram, onde vocês recebem cada eucaristia. Mas Jerusalém também deve ser o tratamento do esposo à esposa, o cuidado dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, a forma de enxergarmos o nosso trabalho honesto e suado – onde conquistamos, de forma digna, o pão de cada dia, para que, assim, percebendo a dignidade de nossas vidas na terra, nós não percamos nunca a direção dos céus. E ascendida em nós, através da nossa fé em Jesus Cristo, a realidade do céu, o céu, presente e vivo em nós, nos torne divinos e eternos junto aos santos.
Homilia: Pe. Flávio Gomes de Alcântara – Ascensão do Senhor (Ano C) – 02/06/2019 (Domingo, missa campal às 15h, com hasteamento do mastro dos santos juninos).

Deus é nosso real sustento
30/05/2019
Ouvindo este Evangelho de hoje [Jo 16,16-20], Jesus parece falar em um tom um pouco enigmático e os discípulos têm dificuldade em entender o que Jesus quer dizer. Ele fala: “em pouco tempo já não me vereis, mas em pouco tempo voltareis a me ver”. E quando Jesus fala assim, eles ficam pensando: “mas o que Jesus está dizendo com tudo isso?”. Não entendem nada. E Jesus nem chega a explicar direito o que ele quis dizer, mas vem e traz uma outra colocação. Jesus fala: “vocês vão chorar, mas o mundo vai se alegar; e, depois, toda essa tristeza que vocês sentiram trará lugar à alegria”. Jesus está falando da sua Paixão, de sua Morte e, depois, da sua Ressurreição. Neste momento do Evangelho de João, já são os momentos finais da vida terrena de Jesus. E, em resumo, Cristo diz isso aos discípulos: “em pouco tempo, já não me vereis. Eu vou morrer. Vou passar pela Paixão e pela Morte. Darei a vida e, depois, tornarei a viver. Vocês voltarão a ver-me porque vou ressuscitar.”
A morte não tem a palavra final em Deus. Em Deus, a vida sempre tem essa palavra final. Por isso, nós, cristãos batizados, que somos cheios da graça do Espírito Santo, não podemos nunca deixar que as situações da morte tomem conta da nossa vida. Não podemos deixar que as situações de tristeza falem mais alto que a vida de Deus que brota, a vida de Deus que é pulsante em nosso coração. A vida de Deus sempre tem que ter a palavra final para nós que cremos, para nós que temos fé.
Jesus está vivo! Ressuscitou verdadeiramente! Ele vive! Jesus vive hoje – nós podemos dizer assim – em uma ausência presente. Os discípulos aqui têm que lidar com isso. Jesus fala: “vocês não me verão, pois viverão. Vocês sentirão a minha ausência, mas, depois, sentirão a minha presença”. E o que é a vida do cristão, a vida de fé, senão o contínuo momento onde nós sentimos a ausência, mas onde também sentimos a presença de Deus? Nós, por exemplo, não vemos Jesus fisicamente. Nós vemos em uma revelação, onde podemos contemplar a graça do Cristo Misericordioso, mas nós não vemos Jesus fisicamente. Porém, temos sua presença em nós.
Nós sentimos, muitas vezes, em nossa caminhada, como se Deus estivesse ausente. Já sentiu isso? Eu já senti. Parece que Deus está distante. Parece que não consigo enxergar, não entendo o que está acontecendo. Parece que há uma ausência de Deus, fico me perguntando “onde está Deus agora?”. Mas, pelos olhos da fé, nós depois fazemos a experiência dessa presença amorosa de Deus, que vem nos transformando. A ausência e a presença. A tristeza e a alegria. Jesus falou: “vocês ficarão triste, mas depois virá uma grande alegria. Vocês vão chorar, mas depois irão se alegrar. Chorarão por causa da minha morte, mas o mundo inteiro irá se alegrar, pois minha morte é a salvação do mundo”. Às vezes, nós só queremos caminhar com Deus. Quando sentimos aquele gozo espiritual, aquela alegria... Quando está tudo bem, aí Deus está comigo. Aí, quando vem o momento difícil ou quando aparecem os momentos de tristeza – por exemplo, a perda de um familiar que foi para junto de Deus –, por mais que a gente tenha a esperança da ressurreição, é muito natural sentir tristeza em um momento como esse.
É muito fácil estar em Deus quando está tudo bem. Agora, estar com Deus e permanecer fiel mesmo quando as coisas ficam difíceis, aí sim é uma prova da nossa fé. Nós precisamos pedir ao Senhor essa graça, nos dias de hoje, de ter uma fé que não pode ser vacilante ou que só fica apoiada nas coisas boas. Que tenha a capacidade de sobreviver também nos momentos difíceis, de provação. Jesus nos dá a maior prova disso. Vocês acham que foi fácil pra Jesus ter passado por aquela morte, crucificado? Quando nós olhamos para a cruz de Jesus, a gente quase não vê sangue. Ela se tornou tão simbólica, nos acostumamos tanto, que a gente acha até bonita ou fofinha. A gente olha, já com todo esse contexto cristão, religioso, de salvação, que a gente não percebe o que é a cruz. Eu disse isso a alguns paroquianos na Sexta-feira Santa. Jesus foi chicoteado e as tiras dilaceravam sua carne. Quem já apanhou de cinta até entende isso. Mas você já imaginou um prego atravessando sua mão até varar a outra ponta e atravessar a madeira, para grudar sua mão nela? Você consegue imaginar esse tipo de dor, de sofrimento? E nos pés, então? Como seria um prego bem grande ali, nós seus dois pés? Seria fácil?
Quando a gente olha para a cruz, a gente, às vezes, não lembra disso. Do tamanho do sofrimento que Jesus passou. E olha o que Jesus falou para mim e para você: “quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. Por que Jesus falou para cada um tomar a sua cruz? É sua! Você vai ser crucificado também! Passará por sofrimentos também! Diferente do que nós ouvimos. Hoje muitas pessoas que falam de Deus, falam que, se você seguir a Deus, você terá um carro do ano. Se você seguir a Deus, você terá luxo, você terá tudo. Vai ser a pessoa mais bem-sucedida na Terra. Esse deus é o “deus dinheiro”, não é o Deus de Jesus Cristo. O Deus de Jesus Cristo é o Deus da renúncia, da entrega de vida, do amor, da busca pela santidade. Esse é o Deus de Jesus Cristo. Mas, olha que interessante: isso também é muito bonito. Quando nós olhamos para a cruz, nós já entendemos que aquilo é amor, que é a entrega. A cruz é motivo, agora, de alegria, não é de tristeza. Então, quem está com Deus, quem caminha com Ele, pode passar pelo que passar, pode carregar muitas cruzes em sua vida. Às vezes, uma enfermidade, uma dificuldade financeira, um problema familiar ou o que quer que seja. Mas estando com Deus, mesmo passando por tudo isso, ele consegue encontrar alegria. Porque quando a alegria vem de Deus, ela não passa. Não tem como negociar. Nada pode comprar essa alegria, nada a ela se compara.
E hoje, já que estamos orando pela dificuldade financeira, eu queria dizer uma coisa: nós rezamos por isso, mas eu tenho uma solução para as dificuldades financeiras. Mas não vou falar de economia, nada dessas coisas. Há um santo que nos ajuda a encontrar a solução para essas dificuldades, que é São Francisco de Assis. São Francisco era bem rico, de uma família nobre, mas tinha dificuldades financeiras. Mas Francisco, certo dia, encontra-se com Jesus. E, neste encontro, ele acha a solução para todas as suas dificuldades. Porque ele encontrou a maior de todas as riquezas, o maior de todos os tesouros, que é Nosso Senhor Jesus Cristo. E aí Francisco fez o que nós vimos, o que Jesus fala no Evangelho: “quando um homem encontra um campo no qual há um tesouro, ele vai e investe tudo o que tem para comprá-lo”. E Francisco fez assim: se despojou de tudo, de todos os excessos que tinha em sua vida, porque encontrou o essencial na simplicidade da vida.
Às vezes, nós temos tantas dificuldades, mas sabe por quê? Porque nós queremos ter muitas coisas e não precisamos tê-las. Uma pessoa, para que ela sobreviva, precisa se proteger do calor e do frio – ter um abrigo – e ela precisa se alimentar. Essencialmente, é isso que ela precisa para sobreviver. Claro, com a vida de hoje, com nosso contexto, pede mais coisas, é verdade. Mas que tal se nós fizermos então esse exercício de ir deixando os excessos? São Francisco fez isso na sua vida. Ele foi deixando para trás aquilo que não precisava. Às vezes, nós nos apegamos tanto àquilo que achamos que precisamos consumir e é isso que o mundo diz: você tem que ter para ser alguém. Você tem que consumir. Você tem que mostrar uma etiqueta para alguém para que você seja uma pessoa bem destacada. Isso é muito cruel, eu sei. É difícil. Há pessoas que saem para trabalhar em determinado lugar, mas como não têm a etiqueta certa, acabam saindo. É difícil, é cruel, mas Deus nos dá essa resposta. Nós podemos tirar os excessos. Podemos tirar aquilo que não nos preenche, que não faz parte da nossa vida. Nos espelhando sempre nessa radicalidade de São Francisco, que é a mesma radicalidade de Jesus.
Olha o que Jesus falou: “vocês querem me seguir? As raposas têm tocas, os passarinhos têm ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Vocês querem me seguir?”. Para que pudesse seguir Nosso Senhor Jesus Cristo, São Francisco encontrou uma riqueza: a presença de Deus. No meio de toda aquela ausência, ele encontrou uma presença: a de Jesus e aí ele deixou tudo e seguiu Jesus Cristo. Se nós também encontrarmos com Jesus Cristo, com certeza, ele nos dará respostas para todas as dificuldades, não só as financeiras, mas para todas as coisas da nossa vida.
A Palavra de Deus pode, talvez, ser uma prática de vida cristã resumida por isso: busque primeiro o Reino de Deus, o resto vem pela crença. Mas buscar o “Reino de Deus”, que é toda uma forma de vida e de entrega. Não buscar a Deus por tudo que Ele pode me oferecer, como se fosse um mercado. Buscar o Reino de Deus na nossa vida e o resto virá pela crença. Nós cremos na providência. Não se desespere. Às vezes é difícil, mas nós cremos na providência de Deus. Ele não vai deixar faltar nada. Há cristãos que nem plantam, mas são bem alimentados.
Busquem a Palavra. Deus sustenta tudo, Ele nos mantém. A Sua providência nunca nos falta. Não nos deixemos nunca nos levar pelo desespero, pela angústia, por essas preocupações que, muitas vezes, vão chegando. Confiemos em Deus. Ele cuida de nós. Lembre-se sempre disso em sua vida, meu irmão e irmã: Deus cuida de você; Deus cuida da sua família; Deus cuida dos seus filhos e dos seus pais. Deus cuida de tudo. Assuma a vida em Deus pra valer, de verdade
Homilia: Pe. Cláudio Santos – Quinta-feira da 6ª Semana da Páscoa – 30/05/2019 (5º dia do Cerco de Jericó, missa às 20h).

Seguir a palavra que prega o amor
26/05/2019
Queridos irmãos e irmãs, estamos celebrando o 6° Domingo da Páscoa e, com ele, a Igreja nos convida a nos preparar para as grandes festas que se aproximam, ainda dentro do contexto pascal: no próximo domingo, celebraremos a Ascensão do Senhor, e, no domingo seguinte, a Festa de Pentecostes, a festa do Espírito Santo.
O Senhor esteve conosco. O Senhor nos ensinou o amor, a misericórdia, a compaixão e a justiça e, por isso, foi flagelado, foi morto, mas ressuscitou e permanece com os seus discípulos por cinquenta dias para preparar o nosso coração para que nós possamos continuar vivendo o seu projeto de amor quando Ele subir para sentar-se à direita de Deus Pai todo-poderoso, como professamos na nossa fé cristã e católica. Assim, o Evangelho de hoje [Jo 14,23-29] nos fala de amor: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda a minha palavra.”. Será que nós amamos verdadeiramente a Deus? Porque quando Jesus fala de guardar a sua palavra não é guardar dentro de um cofre e fechar, não é colocar debaixo do colchão, não é só ficar com a Bíblia aberta no Salmo 91. Guardar a palavra significa praticá-la no dia a dia da nossa vida. Será que nós estamos praticando a palavra de Deus? É uma pergunta que devemos nos fazer constantemente, porque assim como um pai e uma mãe que educam seus filhos para viver bem no mundo na sua ausência, o Senhor nos preparou para que quando Ele subisse para junto do Pai nós possamos estar preparados para viver o seu projeto de amor. Assim, meus irmãos e irmãs, nos questionamos se em casa nós estamos vivendo a palavra de Deus, e também no nosso matrimônio, no nosso trabalho, no cotidiano da nossa vida, aqui na comunidade Santa Teresinha... Porque estamos acostumados a falar de um amor muito romântico, mas não a falar de um amor concreto que se realiza, que se concretiza no dia a dia da nossa vida.
O Senhor nos diz: “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.”. Quando o nosso coração está ausente de Deus, nós ficamos perturbados e a nossa esperança vai diminuindo, a alegria de viver o projeto do Senhor vai se esvaindo do nosso coração e dos nossos sentimentos. Mas quando este amor é um amor encarnado, vivenciado e testemunhado no dia a dia da nossa vida, aconteça o que acontecer nós permanecemos firmes e fiéis. Assim, vemos a Igreja nascente na Primeira Leitura de hoje [At 15,1-2.22-29], quando a comunidade nascente começa a enfrentar as primeiras dificuldades. Como vimos Pedro e seus companheiros sendo presos, flagelados, açoitados, mas, mesmo assim, alegres por testemunhar o Santo Evangelho. Vimos Paulo ser perseguido junto com Barnabé e dizendo para nós, na Primeira Leitura de domingo passado [At 14, 21b-27]: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”. Somente quem ama, quem guarda a Palavra do Senhor, é capaz de passar pelos momentos de dificuldades confiante de que o Senhor está conosco e que estamos realizando a vontade Dele em nossa vida.
Meus irmãos e irmãs, hoje a Igreja também nos recorda que amar é saber acolher aqueles que chegam na comunidade cristã, porque vemos que a Igreja nascente começa a enfrentar as suas primeiras dificuldades, porque cada um quer fazer de um modo e aqueles que falam mais bonito e mais firme acabam conseguindo convencer os demais. Porém Paulo e Barnabé, muito sábios no Espírito Santo de Deus, diante de uma dificuldade muito grande de como acolher os que chegam a fé cristã, vão a Igreja de Jerusalém, percorrem quilômetros e quilômetros para realizar o Primeiro Concílio de Jerusalém e, ali, se reflete muito sobre as pessoas que estão aceitando a fé em Jesus e o quanto nós estamos impondo fardos sobre estas pessoas que estão chegando. Um contexto interessante da Primeira Leitura de hoje é que aqueles que acabaram de aceitar a Jesus também estão querendo fazer as coisas ao seu modo e a Palavra de Deus diz que alguns estão indo por aí e perturbando o coração… E isso é verdade, alguns chegam na igreja e, com um mês, já querem mudar até o Magistério da Igreja. Alguns chegam na Paróquia Santa Teresinha que tem 79 anos e querem mudar em nove dias o que a gente não conseguiu mudar ainda em quase 80 anos de história. Isso porque nós não temos ainda a paciência, nós não temos ainda a pedagogia de Jesus e, deste modo, acabamos impondo fardos pesados àqueles que aceitam o Senhor como o seu Salvador. Assim, somos chamados também a nos questionar se em casa não impomos fardos pesados uns aos outros? Quantas esposas impõe fardos sobre os seus esposos e sobre os seus filhos? Quantos esposos, sobre as suas esposas e filhos? Quantos filhos impõe fardos pesados sobre os seus pais? Não tendo paciência, não tendo caridade evangélica. Muitas vezes querendo fazer o bem, nós impomos fardos pesados sobre os outros. Quantas vezes isso acontece em nossa vida? Às vezes, nós erramos até querendo fazer o bem e nós devemos tomar muito cuidado com isso, porque às vezes legitimamos as nossas atitudes e escolhas no Evangelho, onde uma leitura superficial nos torna iludidos quanto à proposta de Deus.
Assim ouvimos, no final da Primeira Leitura de hoje: “Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além dessas coisas indispensáveis”, além dessas coisas essenciais. O que é essencial em nossa vida de fé? O que é essencial em nosso matrimônio? O que é essencial na educação dos nossos filhos? O que é essencial e não pode faltar na nossa comunidade de fé? O que é essencial em nosso trabalho que não pode faltar? Quando nós aprendemos a amar de modo essencial, naquilo que vai verdadeiramente mudar o coração das pessoas que amamos, aí nós antecipamos aquilo que um dia iremos experienciar na Jerusalém celeste, apresentada na Segunda Leitura de hoje [Ap 21,10-14.22-23].
Peçamos a Deus que nesta Eucaristia o amor seja mais do que uma palavra, que o amor em nossa vida seja uma atitude. Que nós ouçamos e aprendamos a praticar o Evangelho da salvação. Por mais perturbado que o nosso coração esteja devido às dificuldades, aos obstáculos e a tantas situações que nos tiram do caminho certo, que nós possamos reencontrar o caminho da paz do nosso coração. Que possamos, dentro de uma Igreja que já tem dois mil anos de história, aprender a respeitar o Magistério, a Igreja, os ensinamentos do Santo Padre, do nosso bispo, do pároco de nossa comunidade. Que nós deixemos de impor fardos sobre aqueles que fazem parte da nossa história para que possamos vivenciar no hoje de nossa vida o que iremos experienciar um dia na morada eterna.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 6º Domingo da Páscoa (Ano C) – 26/05/2019 (Domingo, missa das 7h30).

O amor leva ao diálogo e o diálogo leva ao amor
23/05/2019
Irmãos e irmãs em Cristo, aqui estamos celebrando o mistério pascal do Senhor, comungando da mesma Palavra de Deus e, logo mais, nos aproximando da mesa da Eucaristia, permanecendo no Senhor. Nós ouvimos as leituras desta Santa Missa, e a primeira leitura [At 15, 7-21] nos traz o discurso de São Pedro. E qual o contexto deste discurso? São Paulo e São Barnabé foram anunciar a Boa Nova do Evangelho no mundo pagão. Quem eram os pagãos? Eram aqueles que adoravam outros deuses. Mas estes deuses não eram verdadeiros. E Pedro e Barnabé foram anunciar o Deus uno e trino: o Pai, Filho e Espírito Santo. Chegando àquela comunidade pagã, alguns outros também já tinham passado por ali, dizendo que, para abraçar a fé de Jesus, era preciso cumprir alguns preceitos da lei de Moisés, sobretudo a circuncisão.
O que significa a circuncisão no mundo judaico? É uma cirurgia no órgão reprodutor masculino, cortando uma pele na parte superior. Jesus também passou pela circuncisão – não é à toa que, no quarto mistério gozoso do Santo Rosário, nós rezamos a apresentação de Jesus no templo. No oitavo dia, Ele foi circuncidado para cumprir o mandamento do Senhor, porque o que identifica o homem judeu é a circuncisão. Se nós lermos o livro de Macabeus veremos que, naquela época, quando os gregos ingressaram nas terras de Israel, o povo judeu, sobretudo os mais jovens, começaram a ter vergonha da circuncisão, porque já existiam as Olimpíadas e, anteriormente, as maratonas, e quando eles corriam, não corriam vestidos, mas nus. Então todo mundo sabia quem era judeu e quem não era. Este simbolismo primitivo faz parte da cultura judaica até hoje, porém imaginem dizer para um monte de homens pagãos que, para abraçar Jesus, tinha que ser circuncidado. "Deus me livre! Vou lá querer saber disso?".
Retornando a Jerusalém, Paulo e Barnabé viram que era preciso decidir esta questão: se deveriam permanecer na antiga lei de Moisés ou se Jesus veio para revogar todas as coisas. Então, eles colocaram o problema em um concílio – a palavra "concílio" vem de "conciliar", que significa caminhar junto por meio do diálogo, conciliando a linguagem. São Tiago defendia que ainda era preciso a circuncisão, já São Paulo defendia o contrário; mas é Pedro quem dá a sentença – como podemos ver na primeira leitura de hoje. Pedro, o chefe dos Apóstolos, diz que, aos homens pagão, não era necessária a circuncisão para abraçarem Jesus, mas somente não comerem carnes sacrificadas aos ídolos nem ter uniões ilegítimas. Resolveu-se a questão!
Portanto, meus irmãos, na Igreja tudo se resolve por meio do diálogo. E em nossas famílias, muitas vezes, falta o diálogo. Às vezes, até mesmo dentro da igreja falta o diálogo, e nós ouvimos nessa Palavra que uma questão que poderia provocar revolta foi resolvida por meio do diálogo. E, é claro, pela força do Espírito Santo, porque São Pedro disse aquilo movido pelo poder do Espírito Santo – inclusive, é por isso que devemos ser obedientes à Igreja, porque o Espírito Santo vivifica a Igreja, o Espírito Santo está na Igreja!
Para dialogar é preciso amar. Inclusive, quando celebro casamentos, costumo pregar para os casais sobre a importância do matrimônio: é preciso amor, é preciso diálogo. Se você ama, você sabe dialogar, e vice-versa. E para permanecermos no amor de Jesus, nós devemos cumprir os mandamentos do Senhor.
Então, meus irmãos e minhas irmãs, que nesta celebração nós possamos sentir, de fato, a força de Deus, a presença do Espírito, clamando ao Senhor por cura e libertação, sobretudo pelo emprego, pela busca de emprego – de forma particular, àqueles que estão desempregados. Mas vamos pedir também ao Senhor a capacidade do diálogo, e que possamos amar como Jesus amou, permanecendo no Seu amor; Ele que, no alto da cruz, deu a Sua vida por nós. Que também possamos amar como o Senhor, sobretudo na pessoa do nosso próximo.
Homilia: Pe. William Marioto Torres – Quinta-feira da 5ª Semana da Páscoa – 23/05/2019 (4º dia do Cerco de Jericó, missa às 20h).

Amar como Jesus nos amou
19/05/2019
Meus irmãos e irmãs, neste 5º Domingo da Páscoa, a Igreja nos convida a encarnar o amor. No Evangelho de hoje [Jo 13, 31-33a. 34-35], Jesus sabe que Judas O irá trair. E ali, quando Judas se detinha, Ele fala do discurso do amor, um amor que deve ser encarnado em nossa vida.
Em nossa imaginação, em nosso coração, temos aquele amor romântico dos filmes de Hollywood, as belas palavras de Shakespeare... Mas nós devemos nos inspirar verdadeiramente em Jesus, neste amor que se encarna, que se aniquila, que, na linguagem grega, é a Kenosis, o aniquilamento pela pessoa amada: eu abro mão de viver uma vida tranquila, uma vida sem compromisso, para me comprometer com o amor e com a pessoa amada. Jesus diz que não há amor maior do aquele que dá a vida por seus amigos, e nós testemunhamos este amor ao longo da Quaresma e, sobretudo, na Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus, dando Sua vida por amor a cada um de nós.
O amor verdadeiro é aquele que vai se gastando pela pessoa amada. Quantas declarações de amor nós vemos nas redes sociais, nos casamentos que frequentamos, nas mensagens que esporadicamente ouvimos ou lemos de pessoas próximas a nós; mas quantas vezes nós também testemunhamos que aquele amor não passa de palavras vazias... Hoje nós temos Jesus como modelo deste amor que se encarna, que se doa, deste amor sacrifical.
Este mês de maio é dedicado a Nossa Senhora, Maria, que tão jovem colocou-se nas mãos do Senhor dizendo: "Faça-se em mim segundo a Sua vontade". Enquanto a vontade do Senhor foi fácil, lá estava ela; e quando a vontade do Senhor ficou difícil, ela também estava lá! Ela não fugiu, não correu, não abandonou. Neste sentido, recordamos hoje os pais e mães que não abandonam seus filhos diante das dificuldades; recordamos os esposos e esposas que não abandonam a pessoa amada diante das turbulências que a vida nos apresenta; recordamos os padrinhos e madrinhas de batismo e consagração que, quando o afilhado fica rebelde, sabem que é aí que devem ficar mais próximos; quando o afilhado se cala, sabem que precisam insistir, sempre com jeito e carinho, para que possam acompanha-lo neste caminho em busca da felicidade, em busca da salvação.
Quando rezamos e nos colocamos à disposição de Deus, o Senhor vai formando, modelando nosso coração, como formou e modelou o coração de Paulo e Barnabé – como ouvimos na primeira leitura da semana passada [At 13, 14. 43-52] –, que pregavam com alegria e entusiasmo na sinagoga e, na primeira leitura de hoje [At 14, 21b-27] escolhem presbíteros para ajudar na condução da comunidade. Em outra tradução, "presbíteros" são chamados de "anciãos", não necessariamente pessoas mais velhas de idade, mas pessoas com sabedoria. É por isso que o padre é o "presbítero"; da igreja, e as vezes um padre novinho é como um ancião, pois, em tese, ele deve ter a sabedoria de conduzir o rebanho a ele confiado.
Hoje, os consagrados, após rezarem bastante, escolheram "anciãos", porque confiam neles para ajuda-los neste caminho de viver o Evangelho da Salvação. Isso não significa que são pessoas perfeitas, mas que, mesmo nas imperfeições, colocam Deus, o Espírito Santo, sempre à frente, para que Ele possa conduzi-los na missão que lhes foi confiada – como estes presbíteros da primeira leitura, os primeiros apóstolos e as primeiras comunidades cristãs: confiando sempre no Senhor, alicerçados, impulsionados por este amor sacrifical, o amor que vai até as últimas consequências em vista de vivermos o projeto de Deus, que é anteciparmos, no hoje de nossa vida, aquilo que vivenciaremos na Morada Eterna, a Nova Jerusalém, com nossos irmãos que já estão junto do Pai. E nós, como discípulos do Senhor, queremos construir a civilização do amor, antecipar aquilo que, um dia, celebraremos no céu.
Dando-nos as mãos, escolhendo padrinhos e madrinhas certas, permitindo-nos ser corrigidos nas nossas dificuldades, Deus vai conduzindo nossos passos, assim como conduziu os passos de Seu Filho Jesus, de Maria Santíssima, de Barnabé, de Paulo e de tantos santos da nossa Igreja. Que o Espírito Santo nos seja favorável, hoje e sempre, para que possamos amar não apenas com os lábios, mas amar verdadeiramente, na prática do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 5º Domingo da Páscoa (Ano C) – 18/05/2019 (Sábado, missa das 16h com Consagração a Nossa Senhora).

Somos as ovelhas conduzidas pelo Bom Pastor
12/05/2019
Queridos irmãos e irmãs, nós estamos celebramos hoje o quarto Domingo da Páscoa, quando a Igreja continua a insistir conosco sobre a importância de nos configurarmos a Jesus, o nosso mestre, o nosso salvador, o nosso pastor. No Evangelho de hoje [Jo 10, 27-30], o Senhor diz que conhece as suas ovelhas, as ovelhas escutam a sua voz e o seguem. Então é importante nós meditarmos, do fundo do nosso coração, o quanto nós estamos escutando a voz de Deus, diante de tanto barulho, diante de tanta correria e se estamos conseguindo discernir a voz do Senhor. Eu acho que é muito presente na vida de todo nós quantas e quantas pessoas falam e nós não prestamos a atenção. Quantas vezes você disse para sua mãe: É o que mesmo? O que a senhora falou? E, assim, fazemos também muitas vezes com Deus. Quantas vezes a mãe não te falou “Eu já te avisei”? Será que Deus lá em cima não fala a mesma coisa? “Eu já te avisei para não fazer tal coisa”, mas nós insistimos em continuar a tapar os nossos ouvidos e não ouvir a voz de Deus. Àqueles que nós amamos, meus irmãos e irmãs, nós prestamos uma atenção diferenciada. Se nós amamos a nossa mãe, nós devemos ter uma atenção diferenciada para com ela e não a tratarmos como mais uma pessoa em nossa vida. Se nós amamos a Deus, precisamos ter uma atenção diferenciada à voz de Deus.
O Senhor diz que as ovelhas conhecem a Ele. Nós precisamos conhecer a Jesus, conhecer as suas palavras, conhecer os seus ensinamentos, conhecer os caminhos que o Senhor pede a cada um de nós. Assim, escutando a sua voz, nós seguimos o caminho que o Senhor nos pede. Não raras vezes nos equivocamos, fazemos escolhas erradas, trilhando, equivocados, mas o Senhor está sempre com os braços abertos nos aguardando para retornamos para Ele. E como um pastor que cuida das suas ovelhas, como o pastor que deixa as noventa e nove ovelhas e vai atrás daquela que se perdeu, o Senhor está sempre de braços abertos nos aguardando. O Bom Pastor é aquele que cuida, que conhece individualmente as suas ovelhas e o Senhor Jesus conhece a cada um de nós. O Senhor Jesus deseja curar as nossas feridas. O Senhor Jesus deseja que nos estejamos próximos a Ele. O Senhor Jesus deseja que nós sejamos perseverantes nos valores do Santo Evangelho. Como ouvimos na Primeira Leitura, nos Atos dos Apóstolos [At 13,14.43-52], Paulo e Barnabé na igreja nascente vão a sinagoga, num dia de sábado, e ali, insistem com as pessoas para permanecer fieis ao projeto de Deus. Os judeus estavam cansados daquele tipo de discurso, daquela palavra incoerente onde a palavra dizia uma coisa e as atitudes diziam outra, ficaram encantados com as palavras de Paulo e de Barnabé, porque Paulo e Barnabé falavam de Jesus com alegria, com entusiasmo, falavam de uma igreja alegre, uma igreja acolhedora, uma igreja em saída para ir e anunciar a palavra do Senhor. Assim, no sábado seguinte, os judeus, sobretudo os sacerdotes e os fariseus, ficaram com muito ciúme de Paulo e de Barnabé, porque todos estavam ouvindo atentos as suas palavras.
Hoje a Igreja reza pelo 56° Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Hoje nós rezamos pelas freiras, pelos freis, pelos missionários. Hoje a igreja reza pelos diáconos, pelos bispos, pelo Santo Padre. E refletimos que muitas vezes nós colocamos a culpa nos padres e nos religiosos, porque a igreja não está alegre, feliz, entusiasmada, mas nós precisamos também recordar a nossa vocação batismal: de sermos anunciadores da palavra de Deus, de podermos, na nossa casa, no nosso trabalho, nos nossos amigos, pregar com alegria, com entusiasmo, a exemplo de Paulo e de Barnabé, a fé que nos leva a salvação, a fé nos faz, com alegria, viver a cada dia o projeto do Senhor. Assim, meus irmãos e minhas irmãs, nós somos chamados, ao se lembrar de rezar pelos padres e pelos todos vocacionados, a rezar também pela uma igreja mais missionária, rezar pelas famílias mais missionárias, rezar pela nossa Paróquia Santa Teresinha para que jamais se acomode que nem os judeus se acomodaram no tempo de Paulo e de Barnabé, que a nossa comunidade sempre seja atenta a voz do Bom Pastor, que a nossa comunidade saiba conhecer a voz de Jesus, que a nossa comunidade saiba discernir o que Jesus espera para esta comunidade de Santa Teresinha. O mesmo vale para a sua família, para o seu matrimônio, para a sua vida profissional... Onde quer que nós estejamos podermos discernir, à luz da graça de Deus, o que o Senhor espera de cada um de nós. Assim, estaremos trilhando o caminho do céu que o livro do Apocalipse [Ap 7,9.14b-17] nos fala das vestes brancas alvejadas no sangue do cordeiro, que simboliza a pureza do nosso coração, dos nossos sentimentos, das nossas atitudes. Todos nós, mais ou menos, precisamos nos purificar de algo, nos purificar de nossos pensamentos, nos purificar das nossas escolhas, nos purificar de nossos comportamentos diante as pessoas que amamos, e hoje nos lembramos carinhosamente das nossas mamães que muitas vezes nós não valorizamos a atenção e não damos o devido carinho.
Que nós possamos, ao permitir sermos purificados pela palavra e pela misericórdia de Deus, podermos aceitar e assumir esta palma nas mãos que o livro do Apocalipse nos fala, simbolizando a vitória, que todos os dias queremos ter em nossa vida, a vitória de trilharmos o caminho do Evangelho e da palavra do Senhor, ouvindo a voz do Bom Pastor e permitido com que Ele guie os nossos sentimentos e os nossos passos. Que o Espírito Santo de Deus, na intercessão de Nossa Senhora Conceição Aparecida nos cubra com seu manto imaculado, para que diante de tantas luzes e sombras que se apresentam em nossas vidas, saibamos discernir verdadeiramente a vontade do Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo da Páscoa (Ano C) – 12/05/2019 (Domingo, missa às 7h30).

Rezar mantém viva a nossa esperança
09/05/2019
– Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra! Oremos: ó, Deus, que instruístes os corações dos Vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e gozemos sempre da Sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém.
Repita comigo: "Senhor Jesus, nesta noite, eu quero mergulhar nas profundezas do Espírito Santo, e descobrir, Senhor Jesus, Tuas riquezas em meu coração". Clama, pede: "Eu quero, Senhor Jesus, mergulhar nas Tuas profundezas, com o Espírito Santo, com nosso Senhor Jesus, com Santa Teresinha, e descobrir Suas riquezas em meu coração".
Partilhando com vocês esta noite, me deram um tema difícil: "Queda das muralhas da falta de esperança". Eu falei: "Meu Deus, o que eu vou falar para esse povo?". A esperança é a última que morre, e a esperança é Jesus! Ele morreu por você, por nós, mas Ele ressuscitou! Aleluia! Graças a Deus! Uma salva de palmas para Jesus ressuscitado!!! Repita comigo: "O Senhor Jesus ressuscitado é a nossa esperança!" Creia, tenha fé! Jesus é a nossa esperança! Agora fale para você mesmo – faz de conta que você está se olhando no espelho. Coloque seu nome, eu vou colocar o meu: "Padre Sidcley, Jesus é a tua esperança, Ele morreu por você, mas ressuscitou! Jesus te ama! Ele te espera. Ele foi ao céu e o céu estava fechado, então Ele abriu o céu para você!". Dever de casa: leia João 14. Neste capítulo do Evangelho, o Senhor nos fala assim: "Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, credes em mim também. Eu vou para o céu preparar um lugar para vocês. Onde Eu estiver, vocês estarão comigo". Foi uma promessa! Nós temos que ter esperança, acreditar nas promessas que Ele fez.
Então, como manter viva a esperança no meu coração? Eu quero que vocês levem como lição de vida: nós temos que dizer a oração que o Filho de Deus nos ensinou. Porque, para muitos, o que falta é isso. Sabe o que é a oração do Pai Nosso? É você, seja onde estiver, falar: "Pai, Pai nosso, eu quero santificar o Teu nome onde eu estiver. Pai, venha a nós o Vosso Reino". Isso é esperança! Esperança de um mundo melhor, de cristãos melhores. "Seja feita a minha vontade" – é isso o que está escrito? Não! "Seja feita a VOSSA vontade"! Às vezes, a gente pede, pede, pede a Deus... Mas se Ele pede uma coisinha pequena para nós, nós não fazemos.
Como manter viva a esperança? Nós temos que buscar viver a oração de São Francisco de Assis, um homem cheio de fé e esperança por mundo melhor. Às vezes queremos mudar o mundo, mas é tudo ilusão. Você não vai conseguir mudar o mundo, você consegue mudar você mesmo! Ser uma pessoa melhor, passar pelo mundo fazendo o bem às outras pessoas, isso sim você pode. Diz na oração de São Francisco: "Onde houver trevas, que eu leve a luz. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé". Preste muita atenção nesta oração, nós temos que clamar todos os dias ao Espírito Santo!
Dever de casa para você se tornar uma pessoa melhor: antes de dormir, tem que rezar, sabia? Quem não reza vira bicho! Eu nunca vi um elefante rezando, nem um jacaré. Nós não somos bichos, nós somos cristãos! Quando você for dormir, você diz assim: "Boa noite, Espírito Santo, venha santificar o meu sono. Obrigado pelo meu dia, pelas pessoas com quem convivo". E aí, quando você acordar, você diz: "Bom dia, Espírito Santo, o que nós vamos fazer juntos hoje?". Eu tenho certeza que Nossa Senhora também fazia isso todo dia e toda noite. Ela devia dizer: "Boa noite, Espírito Santo, venha santificar o meu filho"; "Bom dia, Espírito Santo, vamos caminhar juntos". Rezar por um mundo melhor. Reze, meu povo! Quem não reza vira bicho! E quando você busca o Espírito Santo, aí surge a esperança de um mundo melhor, de uma pessoa melhor. Como manter viva essa esperança? Nós, junto com o Espírito Santo, vamos buscar os sete dons deste Espírito Santo, vamos ser pessoas cheias de sabedoria, tementes a Deus, piedosas, que rezam mais, cheias de inteligência e ciência.
Por isso, agora repita comigo: "Espírito Santo de Deus, em nome do Senhor Jesus, a partir de hoje, vem me controlar, me conduzir, guiar todo o meu ser, o meu pensar, o meu falar, o meu sentir e o meu agir. Senhor Jesus, vem e desperta em nosso coração a esperança, venha mover nossos corações, nossos anseios. Venha sobre nossas vidas, Senhor. Vem, Espírito Santo, e santifica toda esta igreja, que somos nós! Venha nos ajudar nas tribulações, nas dificuldades, venha ser nosso advogado. Nos livra de todo o mal! Por aqueles que passam por problemas físicos, afetivos e psicossomáticos. Senhor Jesus, respondendo à Tua palavra de hoje, eu quero, do fundo do meu coração, Te aceitar na minha vida, Te apresentar a minha casa e o meu coração. E peço também, Senhor, vem conduzir a minha vida com a Tua Santa Palavra e com o Teu Espírito Santo". Viva Jesus!
Homilia: Pe. Sidcley Alves Machado – Quinta-Feira da 3ª Semana da Páscoa (Ano C) – 09/05/2019 (2º dia do Cerco de Jericó, missa às 19h30).

O amor de Cristo pede que zelemos uns pelos outros
05/05/2019
Queremos agradecer pois esta celebração está cheia de situações que nos levam a experimentar a Graça de Deus no meio de nós. A primeira coisa, o batismo. Queremos agradecer a vocês que serão batizados pois, cada vez que experimentamos o batismo, olhamos para a nossa fé. Algum dia, um padre ungiu seu peito e disse “que o Cristo Salvador lhe dê a Sua força”. A força de Cristo está aí em você. O que você faz com ela? Por que, às vezes, você desiste e se entrega? A Graça que Deus nos concede nos diz muito quando recebemos o sinal do batismo. Quando olhamos para a criança que vai ser batizada, percebemos que todos nós temos o direito de manifestar a essência de Deus, que habita em nós. Não é somente quando adulto que nós viramos cristãos. Claro que alguns, durante a sua trajetória de adulto, pôde ser batizado. Mas batizar alguém não é uma imposição, é um direito de manifestar uma realidade divina que está ali, escondida em uma criança ou adulto. E com nosso testemunho de fé, vai se manifestar.
Tudo que é bom a gente quer que fique com nossas crianças. Então, queremos dizer que elas não são somente criaturas, mas sim que Deus as escolheu para serem Suas filhas e, através do testemunho da fé de vocês, da nossa oração de comunidade, isto o será verdade. A dinâmica da nossa fé passa por descobrir como Deus nos ama. Mas não é aquele romance que a gente lê ou assiste em filmes, pois o amor também nos faz sofrer. Quem nunca sofreu por amor? A partir dessa dinâmica, percebemos que, quando assumimos nosso papel de discípulos de Jesus, vamos passar por tudo que ele passou: incompreensão, perseguição, calúnia... mas não vamos desistir pois, a força que um dia nos ungiu é a presença de Cristo que nos fortalece.
Na Primeira Leitura [At 5,27b-32.40b-41], os discípulos, nesse período da Páscoa, vão passar por tudo que Jesus passou. Mas não estão alienados: estão contentes, porque estão sofrendo pela fé. E, através desse gesto, estão se igualando ao mestre. Não sendo mais que Ele, mas partilhando da mesma experiência e dando exemplo para os outros. É um direito de todos fazer a experiência de Deus. Por isso, o Evangelho de hoje[Jo 21,1-19] é tão rico nessas palavras e possui um momento muito precioso. Jesus aparece para os discípulos, mas não como um fantasma. Ele se deixou conhecer, convivendo com eles. Jesus apareceu para sete discípulos. Sete é o numero da perfeição, número de Deus e, nesse contexto, representa a totalidade. Ou seja, Jesus aparece para todos nós. Ele quer que eu e você o conheçamos para estabelecer um vínculo de comunhão que nos leve a fazer a experiência profunda com sua misericórdia.
E é por isso que Ele diz: “jogue a rede do lado direito”, que é o lado da Misericórdia. Deus sempre está se inclinando para que a Graça da Misericórdia venha para todos. Quando Jesus está na margem, assando peixes, ele fala com os meninos de forma carinhosa. E é assim, com muito carinho, que Deus prepara uma ceia para nós. Com muito carinho, preparou a Eucaristia para nós. E com muito carinho nos acolhe e espera que levemos algo para ofertar também.
Viemos à missa para sermos alimentados por Ele. E, como Pedro, também seremos questionados: “Tu me amas?”. E pedirá para que apascente os cordeirinhos, que são os mais frágeis. Quem são os mais frágeis na sua família? Frágeis no sentido da fé, de precisar de um cuidado a mais. É desses que precisamos cuidar mais. Quantos cordeirinhos estão lá fora com a fé ferida? Quantos vêm até nós e expulsamos com nosso testemunho? Temos que acolher a todos com amor. E quem ama, não cruza os braços. Quem ama, não permanece dormindo. Quem ama, sempre acorda pra cuidar. Pedro disse para Jesus que era cabeça dura, mas que o amava. E essa deve ser a nossa declaração também: colocar Jesus no centro da nossa vida, para estarmos preparados para cuidar e zelar de suas ovelhas. Cuidar de todos pois é através da força desse amor que Ele vai nos chamar. Na bíblia, esse é o único momento que Jesus olha para Pedro e diz: “você agora vai me seguir, não vai viver em outro lugar, somente perto de Jesus”.
Por isso que hoje, ao celebrarmos essa Eucaristia, vamos pedir esta Graça. Que o exercício do amor, cada dia, seja feito no coração de Jesus. E que esse amor nos impulsione a zelar um pelos outros. Cuidemos muito bem da fé um do outro, principalmente os jovens que, de um tempo pra cá, precisam muito do nosso carinho e do nosso testemunho de fé. Que os ajudemos a serem um sinal de Graça naquilo que eles precisarem pois, a partir disso, nós estaremos concretizando o amor que temos por Cristo.
Homilia: Pe. Flávio José – 3° Domingo da Páscoa (Ano C) – 05/05/2019 (Domingo, missa às 10h).

Consagrai toda cura e toda graça ao Senhor
02/05/2019
Meus irmãos, nós estamos no 2º Cerco de Jericó. E para aqueles que não sabem, o Cerco de Jericó não tem nada a ver com a Renovação Carismática Católica, ele começou justamente com um grupo que rezava, que pedia pela intercessão de Maria. O povo rezava por sete dias, durante 24 horas, um rosário atrás do outro. Começaram no início do pontificado de São João Paulo II, que precisava visitar a Polônia, porém lá um grupo que comandava a política da época dizia “aqui ele não pousa, aqui nós não permitimos que ele venha”. Imagina, um Papa, vindo da Polônia, não pode voltar à sua terra natal para rezar com o seu povo, um povo sofrido, de pessoas simples, necessitadas e que não se afastavam da fé. Existem pessoas que falam que trabalham muito e falam que não dá para ir à igreja, assistir à missa. Trabalham de sol a sol e não encontram tempo para Deus, mas aquele povo trabalhador, sofrido, trabalhava muito, mas encontrava tempo para Deus. Não parece nada com a nossa realidade. Talvez muitos aqui sejam empregados, tenham a vida ganha, aposentados, com próprio comércio, e existem pessoas sem condições, desempregados, que após uma certa idade a sociedade está descartando por não produzir mais: é o que acontecia na época de São João Paulo II. E o papa queria visitar a sua terra, mas não deixaram.
Então lá, na Polônia, um grupo de senhoras e de pessoas começou a rezar durante 24 horas por sete dias seguidos quando souberam que João Paulo II não poderia ir a Polônia. Eles dobraram os joelhos por sete dias, rezaram o terço, jejuaram e se sacrificaram por sete dias e, ao final, a muralha que impedia que São João Paulo II viesse a sua terra caiu por intercessão da bem-aventurada Virgem Maria. Então começaram a fazer um Cerco de Rosário, um cerco parecido com o Cerco de Jericó.
Jericó também era uma cidade murada, aonde o povo ali dentro daquela cidade era muitas vezes contrário as ordens de Deus e essa cidade precisava ser retomada, segundo a vontade de Deus. Em Josué capítulo 6, versículo 1 e seguintes.
"Jericó, cidade murada, tinha se fechado diante dos israelitas, e ninguém saía dela nem podia entrar. O Senhor disse a Josué: “Vê, entreguei-te Jericó, seu rei e seus valentes guerreiros. Dai volta à cidade, vós todos, homens de guerra; contornai toda a cidade uma vez. Assim farás durante seis dias. Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão adiante da arca. No sétimo dia, dareis sete vezes volta à cidade, tocando os sacerdotes a trombeta. Quando o som da trombeta for mais forte e ouvirdes a sua voz, todo o povo soltará um grande clamor e a muralha da cidade desabará. Então, o povo tomará de assalto a cidade, cada um no lugar que lhe ficar defronte”. Josué, filho de Nun, convocou os sacerdotes e disse-lhes: “Levai a arca da aliança, e sete sacerdotes estejam diante dela tocando as trombetas”. E disse em seguida ao povo: “Avante! Dai volta à cidade, marchando os guerreiros diante da arca do Senhor”. Logo que Josué acabou de falar, os sete sacerdotes, levando as sete trombetas, retumbantes, puseram-se em marcha diante do Senhor, tocando os seus instrumentos; e a arca da aliança do Senhor os seguiu. Marcharam os guerreiros diante dos sacerdotes que tocavam a trombeta, e a retaguarda seguia a arca; e durante toda a marcha ouvia-se o retinir das trombetas. Ora, Josué havia dado essa ordem ao povo: “Não griteis, nem façais ouvir a vossa voz, nem saia de vossa boca palavra alguma, até o dia em que eu vos disser: ‘Gritai!’. Então, clamareis com força”. A arca do Senhor deu uma volta à cidade, e retornaram ao acampamento para ali passar a noite. Josué levantou-se muito cedo e os sacerdotes levaram a arca do Senhor. Os sete sacerdotes, levando as sete trombetas retumbantes, marchavam diante da arca do Senhor, tocando a trombeta durante a marcha. Os guerreiros precediam-nos, e a retaguarda seguia a arca do Senhor. E ouvia-se o retinir da trombeta durante a marcha. Deram volta à cidade uma vez, no segundo dia, e voltaram ao acampamento. O mesmo fizeram durante seis dias. Mas, ao sétimo dia, levantando-se de madrugada, deram volta à cidade sete vezes, como nos dias precedentes: esse foi o único dia em que fizeram sete vezes a volta. Quando os sacerdotes tocaram as trombetas na sétima volta, Josué disse ao povo: “Gritai, porque o Senhor vos entregou a cidade. A cidade será votada ao Senhor por interdito, como tudo o que nela se encontra; exceção feita somente a Raab, a prostituta, que terá a sua vida salva com todos os que se encontrarem em sua casa, porque ocultou os espiões que tínhamos enviado. Mas guardai-vos de tocar no que é votado ao interdito. Se tomardes algo do que foi anatematizado, atraireis o interdito sobre o acampamento de Israel, o que seria uma catástrofe.”
Durante sete semanas, devemos manter o silêncio, evitando falar da vida alheia, sem fofocar nem falar nada, Deus pede para silenciar... O povo vai invadir a cidade, vai entrar na cidade, mas tudo que está ali deve ser guardado e consagrado ao Senhor. Por isso, não adianta de nada você disser que vai fazer durante sete semanas o Cerco de Jericó e, após a queda da muralha para a qual estava pedindo a salvação da sua vida, você voltar à vida promiscua que você levava antes. Porque se não a sentença maior vai cair sobre a sua cabeça. Isso é palavra de Deus, palavra da Salvação. Do que adianta eu fazer sete dias e querer mudar, procurando jejuar, me sacrificar, me modificar, mas de repente, enquanto essas sete semanas vão passando, aquela muralha que eu pedi que caísse cai, mas aí eu não venho mais a igreja, eu não rezo mais, eu não mudo de atitude e de comportamento, eu não deixo o vício nem a vida errada de lado. De que adianta? Isso serve, como aconteceu em Jericó que o povo não podia tocar em nada que era consagrado ao Senhor, mas teve gente que quis pegar, por que isso? Porque tudo aquilo que está lá dentro daquela cidade murada pertence agora ao Senhor, e só poderemos nos aproximar daquilo que é dedicado ao Senhor, mas eu não posso me apropriar. Por isso, é necessário pensar qual é a graça que você precisa e que esse pedido seja uma única coisa, mas aquilo que você pedir, se você alcançar essa graça que seja dedicado ao Senhor. Então, dedique ao Senhor se alcançar a cura, se libertar do vício, por exemplo, do álcool, daqui para frente se fui liberto do álcool, tenho que fazer de tudo para fazer que todos os outros deixem de beber. Se eu fiz o propósito de deixar de fumar e alcancei a libertação desse vício maldito que leva ao câncer e tantos problemas pulmonares, a partir do momento que deixei aquele vício, preciso ser promotor da vida nova e denunciar os males, estudar sobre. Temos mania de achar que vamos fundamentar na vontade de Deus, mas precisamos fundamentar nos males. A maconha, por exemplo, por mais que seja constatado pelos médicos que por mais que possa ser usada para benefício médico, mas faz perder a memória e, com o tempo, é prejudicial. O álcool pode afetar a memória e até a mobilidade, dependendo do organismo de cada um, podendo despertar o Parkinson.
São situações das quais queremos ser libertos e nós falamos "Senhor, curai o vício do meu filho, do meu marido...", quantas situações nós podemos apresentar no Cerco de Jericó, mas o que é prioridade na sua vida hoje? Peça uma única coisa. E é preciso tomar cuidado com a promessa que você faz. Tem quem peça ao Senhor: eu quero ser um jovem, uma criança que estuda. Mas não larga o celular. Como é que vai estudar sem largar o celular? Era tão bom quando íamos aos lugares e víamos pessoas lendo livros ou um livrinho de oração ou rezando um terço... “Ah, padre, mas eu estou lendo um livro no celular”. Quer enganar quem? Então hoje quando nós falamos eu quero romper, se pergunte: O que é que tem te escravizado? De repente, você tem algo que está acontecendo na sua vida e te deixou numa grande dependência. E tem aquela pessoa que vai à igreja confessar e conta o pecado de todo mundo e daí o padre tem que perguntar “e quando é que você vai confessar o seu pecado?”. Nós, na maioria das vezes, somos a cruz de nós mesmos, nós sempre começamos a crucificar os outros, mas já parou para pensar que tudo te irrita? Que nada está bom? Quantas vezes nós também vamos erguemos muralhas que vão se tornando uma doença? Quantas vezes nós nos tornamos uma pessoa chata? Quantas vezes vamos erguendo muralhas e essas muralhas podem ser palavras, pensamentos, comportamentos e escolhas, e muitas das vezes isso podem trazer doenças. Eu vou repetir aqui o que eu falava nas outras missas do Cerco de Jericó, sobretudo porque me pediram para falar da questão das enfermidades, por isso estou falando um pouco dessa questão dos vícios.
Há pessoas que levam anos para se curar de uma doença. Um dos maiores males do século é a depressão. A maior parte de nós tem alguém na família com depressão, pessoas que têm de tudo, mas de repente caem em uma tristeza profunda e não conseguem se erguer. Muitos desses fatores podem ser psicológicos, emocionais... Você não pode tratar seu irmão como frescura, você não pode dizer que não querer sair de casa é frescura. Somente quem passou pela depressão sabe o quanto é difícil. Então, vejam bem, quando você não consegue sozinho se libertar da depressão, é preciso que o outro te ajude a te trazer para Deus... Estar contigo em Deus, vai acompanhar a pessoa, ter paciência, compreender, é preciso ter uma caridade constante com essa pessoa. Quando a pessoa não tem coragem nem de levantar para tomar um banho, eu tenho que ajudá-la. Isso é amor, isso é Páscoa, isso é ressurreição. Se o outro não consegue, eu preciso ajudá-lo a reerguer.
Por isso que a gente pergunta quem não vem em grupo de oração ou não vem mesmo à missa de domingo, e muitos falam que não tem tempo. Quando é que você vai ter tempo para Deus? Quando é que você vai ter tempo para a sua salvação? Mas aí fica o tempo inteiro na internet e a desgraça fala mais alto. Você já parou para pensar que o celular virou um vício, uma dependência que muitas vezes você não sai de cada sem ele? Ah, vai que meus filhos me ligam, vai que aconteceu alguma coisa... Nós estamos nos deixando hoje escravizar por ele. Senta na mesa e já pega o celular, não diz nem boa noite, e aquele momento que poderia ser para olhar nos olhos do outro e perguntar "está acontecendo alguma coisa? está tudo bem?". Existem lugares onde tem uma caixinha para colocar o celular para que as pessoas conversem. Hoje em qualquer lugar já se chega perguntando qual a senha do wi-fi. Não vai dar para fazer isso quando você quiser chegar perto de Deus, quando você chegar ao céu, você precisa descobrir qual é a senha. E a senha agora é estar junto de Deus, caminhar com Ele, buscar estar com Ele. Portanto, você, meu irmão, minha irmã, você que está sofrendo com a depressão, sofrendo em um relacionamento, eu tenho dito isso várias vezes, porque, por exemplo, nosso irmão está caminhando aqui na igreja, é ministeriado de cura e libertação, mas não quer dizer que porque ele é ministeriado que ele não vai sofrer. Ele pode conseguir a cura, conseguir uma graça física de uma enfermidade que ele, mas se ele, em um momento da vida dele, no processo de cura ou até antes, não aconteceu a cura espiritual dele e lá atrás ele deixou alguma coisa mal curada, não adianta ter a cura física, pois daqui a pouco volta de novo e volta dobrada. Naquele momento, ele alcançou a graça de ser curado fisicamente, mas se dentro dele, ele guardou ódio, mágoa ou ressentimento de alguém, aquilo pode voltar dobrado. Por isso eu te pergunto: Qual é a muralha que te impede de viver em Deus? De repente você está anos e anos guardando uma mágoa, um ressentimento do seu pai, da sua mãe, do seu irmão, de alguém que te traiu e aquilo pode te trazer mal físico e espiritual. Não seja uma pessoa amarga, uma pessoa que o tempo inteiro tem ciúme de todo mundo, tem inveja de todo mundo. Cuidado! São situações que podem se tornar doenças psicológicas, emocionais, e depois podem ser reproduzidas em doenças físicas, e aí você fica escravo, e quando você vai ver, você se pergunta “porque Deus não me cura?”, Ele quer te conceder a cura, mas se dentro do seu coração você não perdoa, tem que se lembrar que a grande cura para o nosso físico, psicológico, emocional vem do nosso espiritual. Digo isso para vocês como padre que sou, há 12 anos... A gente tem mania de levar para casa, mas na verdade tem que chegar e falar que não gostou. Mas não fale mal do outro, porque se não você se torna semente de maldição. Quando tiver algum problema na sua casa, na sua família, se você estiver nervoso naquele momento, você não pode explodir, mas tem que conversar e entender quando se age de maneira errada. Eu digo isso para vocês como padre: quantas vezes eu experimento a misericórdia de Deus na minha vida. Sou pecador, sou limitado, sou falho. Muitas vezes o padre diz coisas que são duras, coisas que vocês não vão entender, mas Jesus está usando o padre como instrumento para te dizer: volta para mim. Às vezes pergunto para as pessoas quanto tempo faz que você não se confessa, porque Deus está com saudade de você. Então se confesse, recomece...
Hoje, por exemplo, cheguei na paróquia pela manhã e tinha uma pessoa que queria conversar e outra que quer confessar. Lá na minha paróquia tem pessoas que tem a função de escutar. Quem foi confessar só queria uma bênção, no lugar de confessar, mas antes de pedir a bênção, perguntei faz quanto tempo que você não confessa. Porque às vezes tem algumas coisas na vida que não estão dando certo, mas se você não colocar Deus, nada começa bem, nada termina bem. Conversando com ela, ela disse que não sabia o que era a hóstia e falou que não tinha catequese e comungava sem saber, achava que bênção era confissão. Vejam os padres e ministros tem que escutar o povo, porque existem muitas coisas que causam mal espiritual às pessoas e não percebemos. Quantas muralhas estão nos prendendo? A sua falta de confissão pode ser uma muralha. A igreja acolhe a todos, tem lugar para todo mundo. Quem não pode comungar ou confessar, são por suas escolhas, é um fardo que você vai carregar para o resto da vida e isso pode se tornar uma doença espiritual ou física. Então, meu irmão, se você quer se libertar e derrubar a muralha, comece com o seu interior. Quando os apóstolos eram pressionados e interrogados, eles batiam de frente e diziam sim, vocês mataram Jesus, vocês crucificaram Jesus. Porque aquele que está em Deus, não pode negar a verdade, doa quem doer. Se você vê alguém aqui na igreja católica e que frequenta outras religiões, você vai deixar ela fazer isso? Aí você vai relativizando e achando que é tudo normal, mas não podemos, porque a gente está sendo omisso. Eu sou filho de Deus e eu sou livre, porque aquele que morreu por mim na Cruz ressuscitou, é a esse que devemos amar, é a Ele que devemos pregar, é a Ele que devemos anunciar. Portanto, quero dizer que a doença, a enfermidade não tem que ter a última palavra na sua vida, só se você quiser. Se tiver que fazer um exame, uma cirurgia, vá com fé. Às vezes o teu medo pode ser maior do que a tua fé. É muitas vezes preferível que doa no seu físico, do que doer na sua alma e você se perder.
No Santo Evangelho, segundo São João, Jesus diz que “o que é da terra pertence a terra e fala das coisas da terra, aquele que vem do céu está acima de todos, dá o testemunho daquilo que viu e ouviu, porém muitos não vão aceitar o seu testemunho”. Então, irmãos e irmãs, hoje o Senhor nos convoca a entregar tudo aquilo que é da terra, o que você está vivendo e é da terra, o vício do álcool, do jogo, da impaciência, da intolerância, da dependência do celular, ou de até um relacionamento que faz mal, pessoas que terminam e voltam o tempo todo. Coloca-se diante do altar, e entrega ao Senhor o relacionamento, as dificuldades, as dificuldades financeiras ou até de saúde com alguém da família ou com seus estudos. Estenda as mãos para o altar e entregue a Deus todas as preocupações dessa terra. Senhor, eu quero te entregar essa situação, aquilo que é da terra, e me ajuda, Senhor, a querer as coisas do céu.
Homilia: Pe. José Roberto – Quinta-feira da 2ª semana da Páscoa (Ano C) – 02/05/2019 (1º dia do Cerco de Jericó, missa das 20h).

Sejamos o exemplo que atrai e transforma
28/04/2019
É sempre uma alegria podermos celebrar juntos o dia do Senhor. Hoje é um dia de muita alegria para nós que estamos aqui, não somente porque é domingo, mas por outros motivos. Renovamos a Páscoa semanal, pois hoje é o 2º Domingo da Páscoa. Renovamos o mistério da nossa redenção, que queremos ver através do batismo destas 4 crianças retomando tudo aquilo que nós vemos na liturgia da Vigília Pascal e hoje nós estamos realizando novamente para nos fortalecer. E também renovamos o amor de Jesus. Ele se apresenta aos discípulos e expõe suas chagas que não estão mais sangrando. Eram sinais do amor que Ele teve para conosco e o amor que o levou à fidelidade ao Pai até a entrega da Sua vida.
Nós temos aqui um exemplo disso: um casal que celebra hoje, com gratidão e alegria, com seus filhos e netos, esta caminhada de 50 anos. Tudo isso gira ao redor da ressurreição. E ainda sobre isto, temos que o texto do Evangelho de hoje [Jo 20,19-31] tem momentos muito importantes. Os discípulos estão reunidos com as portas fechadas, por medo dos judeus. Porque tudo aquilo que havia acontecido com Jesus poderia ocorrer também com eles. Então eles se trancam pois estão com medo. E Jesus aparece e diz: “a paz esteja com vocês”. E eles ficam com alegria pois não se sentem mais desamparados. O Cristo está ainda no meio deles. E penso que nós passamos pela mesma situação aqui na igreja. Quantas vezes, durante a nossa jornada, temos momentos de sofrimento, de angústia, de perplexidade. Às vezes não vemos nenhuma perspectiva de melhora na nossa frente e nos sentimos desanimados. Devemos continuar assim? Não, porque estamos aqui dizendo que Jesus está vivo, está no meio de nós e quer nos fortalecer. Ele quer nos dar a sua força para enfrentarmos tudo isso e não para sermos esmagados. E, assim como ele, sermos vitoriosos.
E não somente ficar com a Sua presença, Sua graça. Ele disse aos discípulos: “recebei o Espírito Santo” e soprou sobre eles. E o que significa isso? Lembremos o livro do Gênesis, quando Deus criou o homem, soprou nele o Espírito de vida e ele se tornou um ser vivo. Jesus – soprando sobre os discípulos, novamente, o Sopro Divino – diz: “Vocês agora são novas criaturas”. Não são bonecos inativos, mas Filhos de Deus. Portanto, renova-se para nós uma criação. Não somos mais mortos para o pecado, mas ressurgidos para a vida divina que queremos transmitir aos outros através do nosso comportamento, da nossa existência.
Há um outro momento relevante no Evangelho de hoje. Tomé não acredita naquilo que os outros falam. Diz que quer ver para acreditar. E acaba crendo não quando ele está sozinho, mas sim quando está com os outros. Eu sempre falo assim: eu sou responsável pela sua fé, como padre; e não somente como padre, mas também como ser humano. Não somente através das palavras ou liturgias que posso celebrar. Sou responsável também através de meu comportamento, do bom exemplo. Mas lembrem-se também que vocês são responsáveis pela minha vida cristã porque, do modo como vocês vivem a sua fé e conduzem as suas vidas no dia a dia, vocês influenciam a mim e a todas pessoas que estão em volta de vocês.
Vocês lembram que perguntei aos pais e padrinhos, no início da celebração, se estão dispostos em educar na fé esta criança? Perguntei também a vocês, comunidade, se estão dispostos a viver, unidos no amor, para que esta criança possa viver sua fé. E vocês me responderam que sim. Espero que não sejam apenas palavras, mas sim uma realidade. A comunidade se torna responsável pela vivência individual de fé, mas também o indivíduo se torna responsável pela vivência de fé da comunidade. Eu penso que a experiência que nós temos dentro da família seja assim: quando os pais vivem o verdadeiro amor e entrega de si mesmos, a tendência dos filhos é seguir este exemplo. Exemplos de como a gente pode superar o sofrimento, as angústias do dia a dia e também termos força e coragem. Se eles venceram, por que eu não posso vencer? É claro, temos nítidas nossas responsabilidades e empenho, mas o exemplo nos atrai. As palavras podem comover, mas o exemplo atrai. Lembrem-se disso.
Portanto, que esta liturgia e tudo aquilo que nós vivemos neste momento seja uma consequência daquilo que nós celebramos. E não devemos desanimar, não devemos ter medo porque, apesar de Cristo mostrar os sinais da Sua Paixão, agora se tornam sinais de amor. E quando nós amamos de verdade, apesar de todo sacrifício, vemos a alegria de nossa doação ao outro, e isto torna-se também nossa alegria.
Que esta Eucaristia não seja somente uma lembrança, mas a força para nos comprometermos sempre mais nesta vida que nós assumimos no dia de nosso batismo e queremos assumir em nome destas crianças que hoje serão eleitas e transformadas em verdadeiros filhos de Deus.
Homilia: Pe. Jaime Pellin – 2º Domingo da Páscoa (Ano C) – 28/04/2019 (Domingo, missa às 10h).

Sejamos testemunhas do ressuscitado
21/04/2019
Meus irmãos e minhas irmãs, que alegria nos encontrarmos para celebrar a centralidade de nossa fé. Cristo ressuscitou! Saúdo carinhosamente a todos que puderam estar aqui conosco às seis horas da manhã para testemunhar publicamente a fé que nós professamos. Saúdo as crianças de nossa comunidade, que estão com a carinha inchada, morrendo de sono, mas que bom que vocês vieram! Deus as abençoe. Obrigado, crianças, por terem vindo. Saúdo os jovens de nossa comunidade que alegraram e animaram a nossa procissão. Cada ano mais envolvidos no Tríduo Pascal. Que a nossa comunidade continue acolhendo e respeitando os jovens. Saúdo os doentes que puderam estar nesta Santa Missa, carinhosamente o João, que hoje pode vir a Santa Missa – ele que participa da Pastoral São José, mas devido ao seu estado de saúde, não pôde estar presente nos outros dias, mas hoje está presente. Que, na pessoa dele, a nossa saudação e nosso carinho alcance todos os doentes de nossa comunidade. Minha saudação carinhosa a todos os coordenadores das mais de 30 pastorais, que se uniram e, empenhados, estamos buscando fazer desta paróquia, uma paróquia unida, uma paróquia onde Cristo esteja à frente, para que Cristo apareça e eu possa diminuir-me. Que Deus continue inspirando o coração dos coordenadores e das pastorais de nossa paróquia este ardente desejo de sermos verdadeiros servidores do Santo Evangelho.
Meus irmãos e irmãs, se Cristo não ressuscitou a nossa fé é vã, diz a Sagrada Palavra de Deus [1Cor 15,14]. Hoje, a Palavra do Evangelho nos diz que Maria Madalena foi bem cedo ao túmulo, porque Maria estava triste. E diante da tristeza, ela se encontra com aquele túmulo aberto: as faixas de linho no chão, Cristo não está ali. E ela volta correndo para a comunidade... Mulheres, vocês são responsáveis, as primeiras responsáveis no anúncio da Palavra de Deus. Os primeiros padres da Igreja sempre disseram que as mulheres são as primeiras catequistas dentro de casa, para com seu esposo, para com seus filhos e, infelizmente, algumas mulheres vivem mais para fofocar do que para anunciar a verdadeira mensagem da alegria e da salvação. Você, cristã católica, você que crê em Jesus, catequise a sua família, evangelize a sua família, evangelize os seus filhos, leve esta mensagem da ressurreição, da esperança, esta mensagem do amor. Faça aquilo que a sua natureza te pede: ser proclamadora da misericórdia, da verdade, da ressurreição de Jesus.
Maria Madalena foi procurar a comunidade na pessoa de Pedro, que sai ao encontro deste túmulo, mas o discípulo mais jovem passa a sua frente. No entanto, ao chegar ao túmulo, o mais jovem não entra, porque espera o mais velho, que é a autoridade da igreja... Aos jovens eu peço sempre: aguardem o momento certo. Sempre há um momento, existe um tempo para cada coisa, diz a Palavra de Deus [Ec 3,1]. Não tentem apressar as coisas, respeitem aqueles que tem mais experiência do que vocês, aqueles que tem mais autoridade que vocês. Vocês podem correr o tanto que for, mas esperem sempre, porque o sentido teológico de esperar é que todos nós iremos chegar juntos a experiência do Cristo ressuscitado.
Às vezes, meus irmãos e minhas irmãs, a pressa faz com que nós não nos permitamos viver a vida de igreja, viver a vida de comunidade. Vamos dar um passo de cada vez, procurando a perfeição em Jesus sim, mas aguardando sempre os mais velhos, aguardando os doentes, aqueles que são um pouco mais lentos. Peço a nossa comunidade que respeite sempre os mais velhos, os idosos de nossa paróquia. Quando aqui chegamos eles já estavam há muito tempo e é nosso dever, é nossa obrigação, respeitar aqueles que mantiveram firme a fé desta comunidade, aqueles que mantiveram as portas desta comunidade aberta, mesmo diante de tantos desafios que passaram nas últimas décadas.
Meus irmãos e irmãs, como vimos na Primeira Leitura [At 10,34a.37-43], os discípulos disseram: “E somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém…”. Hoje nós somos convidados a ser testemunhas de tudo aquilo que Deus fez e realizou na Paróquia Santa Teresinha. Nós somos convidados a sermos testemunhas no mundo, no nosso trabalho, na nossa casa, na nossa escola, na nossa vida de lazer. Nós somos chamados a testemunhar tudo o que Deus tem realizado em nossa vida. Quem já alcançou uma graça de Jesus? Nós somos as novas testemunhas de hoje e o mundo tem sede de ouvir e sentir o testemunho da nossa fé.
Que a ressurreição do Senhor nos fortaleça para irmos ao mundo testemunhar esta ressurreição, que nos faz buscar as coisas do alto, como diz a Segunda Leitura, da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 3,1-4). Nós nascemos para buscar as coisas do alto, nós nascemos para a eternidade. Que a Páscoa do Senhor ressuscite em nós este ardente desejo de buscar as coisas do alto, de buscar a ressureição, de buscar a Palavra de Deus, de buscar ardentemente a verdade, o direito e a justiça. Que esta Páscoa do Senhor nos ajude a trilhar a nossa vida em busca da Páscoa eterna na Jerusalém Celeste no reino dos céus. Que o Espírito Santo de Deus e a intercessão de nossa padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus, nos ajude a vivenciar tudo aquilo que Cristo ressuscitado espera de cada um de nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor (Ano C) – 21/04/2019 (Domingo, missa após a procissão das 6h).

A luz que venceu as trevas e renova todas as coisas
20/04/2019
Meus irmãos e irmãs, a nossa comunidade deve estar em festa! Primeiro, porque percorremos os 40 dias da Santa Quaresma e buscamos, ao longo dessa Semana Santa, mergulhar nos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo Jesus. A liturgia de hoje nos convida a celebrar esse amor de Deus, manifestado ao longo de toda a história da criação. As leituras que ouvimos, sendo proclamadas no escuro e iluminadas pelo Círio Pascal – pelo Cristo Ressuscitado –, devem iluminar nosso coração. Sobretudo o coração daqueles que têm dúvidas sobre a ação de Deus ao longo da história e da sua vida, na sua história particular.
Deus jamais nos abandonou. Por amor, Ele nos criou. Por amor, Ele nos perdoou do pecado original. Por amor, Ele nos resgatou da escravidão do Egito. Por amor, como ouvimos na Palavra de Deus, Ele nos guiou 40 anos no deserto em busca da Terra Prometida. Por amor, Ele deu ao povo de Israel uma identidade, uma fé única e verdadeira. Por amor, Deus nos libertou do Exílio na Babilônia. E também, por amor, enviou seu único filho, Jesus Cristo nosso Senhor, para a nossa Salvação. Essa é a segunda alegria que devemos celebrar no dia de hoje, pois Cristo ressuscitou.
São Paulo diz que, se Cristo não ressuscitou, a nossa fé é vã. Nós cremos no Cristo ressuscitado. Por amor, Deus enviou seu filho, e Ele nos ensinou o que é amar na plenitude da nossa humanidade pois, sendo ele homem, viveu toda a condição humana, exceto o pecado. E por esse grande amor, foi crucificado por nossos pecados, por nossas omissões. Ele desceu à mansão dos mortos, mas lá não permaneceu. Cristo ressuscitou e, com ele, nós também somos chamados a ressuscitar para uma vida nova.
A Palavra nos diz que Deus apresenta para nós caminhos de verdade, de luz, de libertação e salvação. Mas a própria palavra de Deus diz: “os meus caminhos não são os vossos caminhos, os meus pensamentos não são os vossos pensamentos”. Hoje somos chamados a ressuscitar com Cristo para termos os mesmos caminhos de Deus Pai. Somos chamados a ressuscitar com Cristo para termos o mesmo sentimento de Jesus: um amor que acolhe, perdoa, dialoga. Um amor tão verdadeiro que se torna, até mesmo, um amor sacrifical.
Que aquela escuridão que tomou conta da igreja seja iluminada pela Palavra de Deus que tanto angustiou nosso coração – pois ficamos angustiados com a escuridão e o silêncio. Que esta luz possa nos retirar de nossa vida de pecado. Que esta escuridão possa nos deixar verdadeiramente desconfortáveis quando vivemos o pecado, quando renunciamos a ação de Deus em nossa vida, quando brincamos com coisas sagradas, quando não permitimos que Deus esteja a nossa frente, nos guiando.
Hoje, Jesus deseja ser essa luz que iluminou o povo no deserto. Jesus deseja ser a luz que dissipa as trevas dos erros da nossa vida. Jesus deseja ser essa luz que dissipa tudo aquilo que não é da Sua vontade. E a Sua vontade é que sejamos uma igreja unida, familiar. Que, embora tenha membros diferentes, caminhe na mesma direção. E essa igreja acolhedora tem a grande alegria de receber hoje 14 adultos que assumem Jesus como seu Salvador. Nos alegramos com a presença destes adultos que buscam hoje mergulhar com Cristo e ressuscitar com ele após seu batismo e primeira eucaristia, permitindo que Cristo preencha todos os seus sentimentos.
Que a nossa comunidade continue a celebrar este Sacramento com alegria e entusiasmo. Que, a cada mês, Deus faça novas todas as coisas em nossa vida e em nossa comunidade, assim como vem renovando todas as pastorais. Que, na liturgia da nossa vida, nós possamos sempre nos permitir sermos renovados na nossa fé, nas nossas escolhas, nos nossos sacramentos e, sobretudo, naquilo que Jesus ressuscitado dos mortos espera de cada um de nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Vigília Pascal (Ano C) – 20/04/2018 (Sábado Santo, missa às 19h).

O maior amor que a humanidade já experienciou
19/04/2019
Meus irmãos, o que é a verdade? [ref. Jo 18, 38] A verdade é que Jesus morreu. Ele morreu pelo meu, pelo seu, pelo nosso pecado. Essa é a verdade.
Por que nos encontramos hoje? Nos encontramos para fazer esta experiência da celebração da Paixão do Senhor, continuando nosso Tríduo Pascal, buscando encarnar a liturgia da Igreja na liturgia da nossa vida.
Se Jesus morreu, foi por causa dos nossos pecados, das nossas omissões, da nossa falta de compromisso com a verdade, com o amor, com a salvação.
"Tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano (...) A verdade é que Ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores" [ref. Is 52, 13 – 53, 12].
– Senhor, nos encontramos na Tua presença, recordando o Vosso sofrimento, recordando a Vossa Paixão. Ajudai-nos a encarnar, na liturgia da nossa vida, o Evangelho da Salvação. Nós não reproduzimos, Senhor, uma liturgia para chocar, para intimidar, entristecer; nós celebramos esta liturgia para recordar o grande amor, o maior amor que a humanidade já experienciou. Permita-nos, Senhor, descermos ao sepulcro mais profundo dos nossos sentimentos, sobretudo aqueles que não querem ser transformados. Encontra-nos, Senhor, nas trevas do nosso coração que, tantas vezes, quando passa a Semana Santa, volta a escolher Pilatos, a escolher Barrabás. No Domingo de Ramos, fizemos uma escolha: escolhemos estar contigo, Senhor. Aqui estamos, contemplando a Vossa morte. Ajudai-nos, Senhor, a sermos purificados de pensamentos e palavras, de atitudes que fazem de nós Pilatos e Barrabás.
Ensinai-nos, Senhor, o amor pela cruz. A cruz que é loucura para os judeus, mas salvação para os cristãos. Ensinai-nos a compreender que não existe ressurreição sem sacrifício, sem cruz, sem amor sacrifical. Que a liturgia de hoje faça de nós verdadeiros adoradores da cruz. Não adoramos a cruz pelo simples sofrimento, mas pelo sentido do despojamento. Como esta igreja hoje está desnudada – o altar desnudo, o sacrário aberto, as imagens cobertas –, desnuda a nossa vida, Senhor. Deste mundo não levaremos nada, a não ser a nossa fé e as atitudes concretas que praticamos na liturgia da nossa vida. Ajudai-nos a compreender o que celebramos no início da Quaresma: somos pó e ao pó voltaremos [ref. Gn 3, 19]. Que ao adorarmos a Sua cruz nos despojemos de confiar nas riquezas, no poder humano, na fama e no dinheiro. Ajudai-nos a reconhecer a nossa humanidade, frágil e pecadora; reconhecermos que esta humanidade frágil e pecadora, quando ama, como o Senhor nos amastes até o fim, é capaz de chegar à plenitude da ressurreição. Nós nascemos para o céu, Senhor! Mas, para que cheguemos lá, ajuda-nos, ampara-nos, para celebrarmos a liturgia da nossa vida plenamente envolvidos com os mistérios da Tua paixão, morte e ressurreição.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Paixão do Senhor (Ano C) – 19/04/2019 (Sexta-Feira Santa, celebração às 15h).

Ir ao encontro dos irmãos e lavar os pés uns dos outros
18/04/2019
Meus irmãos e irmãs, nos encontramos hoje para celebrar a centralidade da nossa fé. "Se Cristo não ressuscitou, a nossa fé é vã" [ref. 1Cor 15, 14]. Mas, antes de Sua ressurreição, houve o ensinamento, o testemunho de serviço, o testemunho de cumprir com Sua tradição indo a Jerusalém. Houve, em outras palavras, a Sua paixão e morte antes de chegar à ressurreição. Iniciamos hoje este tríduo em vista da Santa Páscoa, da nossa passagem para uma vida na qual Jesus esteja plenamente envolvido em nossos sentimentos e possa transparecer em nossas atitudes e em nosso testemunho. Para que isso aconteça, precisamos estar sempre atentos, porque o Senhor pode nos chamar a qualquer momento; nos chamar para a morada eterna, mas também para viver o Seu projeto de amor, para estender a mão a uma pessoa necessitada.
A nossa fé não se restringe à comunhão eucarística na missa dominical; nossa fé deve extrapolar as paredes da igreja, e lá, neste mundo dilacerado por tantas injustiças, discórdia, trevas e pecado; lá, no mundo, onde mais há necessidade, ali podemos testemunhar a vontade do Senhor. Por isso, a Igreja nos coloca esta passagem na primeira leitura de hoje [Ex 12, 1-8. 11-14], dizendo: "Comereis a carne nessa mesma noite, assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Assim devereis comê-lo: com os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão". O povo devia estar sempre preparado, mas não daria tempo de preparar pão e deixa-lo fermentar naturalmente – por isso o pão ázimo. As ervas amargas significam que a caminhada no deserto será difícil, mas um dia chegaremos à terra prometida. Algumas vezes, em nossa vida, nos encontramos em situações difíceis, em que as ervas amargas são fortes e querem nos fazer desistir da caminhada. Mas se nos recordarmos deste Deus que não nos decepciona e que jamais nos abandonou, iremos trilhar com firmeza, mesmo com as ervas amargas, o caminho do nosso deserto, o caminho da nossa história em busca da terra prometida.
Assim, diz a Palavra de Deus: "Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua". Jesus celebrava a Páscoa dos judeus; nós celebramos a Páscoa cristã. Para nós, não é opcional, é uma necessidade, uma necessidade que se impõe a cada um de nós que fizemos a verdadeira experiência de Jesus amoroso e misericordioso em nossa vida. Por isso, meus irmãos, celebramos a Páscoa semanal no domingo, quando comungamos da Palavra e do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Paulo nos diz na segunda leitura de hoje [1Cor 11, 23-26]: "Isto é o meu corpo". Não é uma representação, como algumas denominações religiosas pregam; para nós, é o próprio corpo e sangue de Jesus. Não é uma encenação. Toda eucaristia celebrada, seja por qual padre for, seja em qual rito for, seja em qual continente, em qual língua for, toda eucaristia é o último sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, é um sacrifício atemporal. Nós entramos no kairós de Deus, no tempo do Senhor. Por isso, meus irmãos e irmãs, não podemos ficar encenando uma fé que não seja verdadeira. E a fé que o Senhor nos pede na Quinta-Feira Santa é uma fé de serviço, uma fé que vai ao encontro do outro, independentemente de suas fragilidades, de seus pecados, de suas quedas.
Refletimos tanto, ao longo desta Quaresma, que não devemos abandonar os pecadores, que não devemos julgar nossos irmãos, mas, em primeiro lugar, temos que olhar para nós mesmos. Por isso, hoje Jesus nos dá essa grande lição de ir ao encontro dos nossos irmãos e lavar os pés uns dos outros, no sentido de serviço, no sentido de verdadeira compaixão para com o outro. Aqui, em nossa comunidade, não temos o hábito de ficar enfeitando as pessoas para a missa de Lava-Pés, porque cremos que este gesto deve ser estendido para nossa vida, lavando os pés daqueles que amamos, mas também daqueles que nos ofenderam, dos que nos perseguiram, dos que desejaram ou desejam o nosso mal. "Não pagueis o mal com o mal" (Rm 12, 17). Vamos pagar o mal com amor e com misericórdia!
Que a atitude de Jesus no Evangelho de hoje [Jo 13, 1-15], celebrada nesta Quinta-Feira Santa, possa tocar profundamente o nosso coração. E que, ao sermos tocados, o Senhor possa verdadeiramente nos ajudar a viver Sua paixão e Seu amor no dia a dia da nossa vida.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Missa Vespertina da Ceia do Senhor (Ano C) – 18/04/2019 (Quinta-Feira Santa, missa às 20h).

Vivamos, repletos de consciência, a Semana Santa
14/04/2019
1. Homilia breve
Meus irmãos e irmãs, sejam muito bem-vindos para a grande semana – a Semana Santa – que, para nós, deve ser sempre um divisor de água. Entramos, conscientemente, com Jesus, na cidade santa de Jerusalém e percorremos o seu trajeto – o caminho do calvário – para podermos, com Cristo, em sua Páscoa, também nós ressuscitarmos para uma vida nova.
Hoje, todos nós somos convidados a seguir Jesus, livremente e conscientemente. No período da Páscoa, a cidade de Jerusalém ficava repleta de peregrinos e, segundo alguns biblistas, nesses dias o imperador entrava na Cidade Santa de Jerusalém com seus cavalos suntuosos, com seus guardas, soldados e todo armamento de guerra que eles possuíam para impor respeito naqueles que ali estavam e afirmar sua autoridade. De acordo com alguns destes estudiosos, enquanto o imperador entrava por uma das portas da cidade de Jerusalém – que era cercada por muros –, Jesus entrava por outra porta, aclamado pelo povo. Um povo que escolheu Jesus como o seu Salvador. Jesus entra montado em um jumentinho, simbolizando a sua humildade. Ele nos diz, por meio de suas atitudes, que ele não é como aquele rei poderoso, que vem eliminar os problemas com armas, com guerras e com a sua autoridade. Jesus é o rei do amor e da humildade. Muitas pessoas, mesmo naquele dia, escolheram Herodes. Outros escolheram Jesus.
Quem você escolhe no dia de hoje? Se você escolhe Herodes, você não precisa se comprometer. Mas se você escolhe Jesus, é necessário se comprometer com suas palavras, com seu testemunho, com seus ensinamentos, com sua Paixão, Morte e Ressurreição. Que, no dia de hoje, nós possamos assumir esta postura, com este ramos nas mão, que simbolizam o nosso voto consciente, nossa atitude madura e responsável de entrarmos na Cidade Santa de Jerusalém. E quando as cruzes se tornarem pesadas, ao longo dessa semana, não desanimarmos, e muito menos lavarmos nossa mão como Herodes, nos isentando de qualquer responsabilidade evangélica.
Que possamos pegar os nossos ramos nesse momento e nos colocarmos, mais uma vez, em pé e se, até então não estávamos conscientes, agora, de modo consciente, livre, maduro e responsável, aclamarmos Jesus como Nosso Rei e Salvador. Não um rei humano, mas um rei divino que se encarna na história da humanidade e que, por amor, deu a vida a cada um de nós.
2. Homilia longa
Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje a nossa entrada com Jesus na cidade de Jerusalém. O Domingo de Ramos, para nós, deve ser a celebração de consciência da fé que professamos. Se optamos por Jesus, ao invés dos imperadores do mundo, somos chamados a trilhar o caminho do Senhor até a sua Morte e Ressurreição. Somos chamados a assumir a nossa cruz de cada dia com empenho, ousadia e coragem. Pois àqueles que não assumem sua cruz, o Senhor diz que não são dignos de Seu nome.
Que possamos, ao longo dessa semana, meditarmos sobre as cruzes que carregamos em nossas vidas e sobre as cruzes que a sociedade carrega, sobretudo os pobres, carentes, injustiçados e aqueles que não têm voz e vez. Para nós, que carregamos nossas cruzes diárias e achamos que estão pesadas, recordemos a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e a de tantos que estão sozinhos e abandonados. Relembremos também as palavras do profeta Isaías na Primeira Leitura [Is 50, 4-7] sobre termos um coração humilde e simples, a fim de vivermos, no dia a dia, as cruzes necessárias que devemos carregar para proclamar a justiça e salvar aqueles que amamos. Para que isso se torne possível, é necessário que nós possamos, como São Paulo escreveu à comunidade de Filipenses e nos mostra a Segunda Leitura de hoje [Fl 2, 6-11], nos rebaixar, nos aniquilar, nos esvaziar de nós mesmos para que Cristo possa transparecer através de nós, de nossas atitudes, de nossos gestos concretos.
Que nossa autossuficiência, arrogância e vaidade possam ser abandonadas, a partir de hoje, para entrarmos conscientes, com Jesus, na Cidade Santa de Jerusalém. Meus irmãos e irmãs, diante da cruz do justo que morre, temos que fazer uma opção de vida: ou pelo lado dos que dão sua vida para viver e fazer o amor de Deus através dos seus atos, das suas palavras; ou pelo lado dos que dão as mãos para suprimir a justiça e a verdade. Do lado de quem carrega cruz, ou do lado daqueles que impõem. Quantos estão impondo cruzes sobre a sua família por suas escolhas erradas! Quantas esposas impõem cruzes sobre seus maridos, maridos sobre suas esposas, pais sobre seus filhos, patrões sobre os seus empregados. Quantos governadores e líderes do nosso país impondo cruzes no povo brasileiro!
Essa Paixão do Senhor não é buscada pelo prazer de sofrer, mas para testemunhar a verdade em relação a Deus e à pessoa humana. Foi isso que Jesus fez durante sua vida terrena e é isso que espera de cada discípulo seu que celebra o Domingo de Ramos: testemunhar a Deus, a Jesus Cristo e também o valor de cada pessoa. Jesus o realizará em palavras e através de ações. E, se necessário, aqueles que assumem no Evangelho, chegarão também à Paixão. Sempre somos chamados a sermos mártires, seja pelo derramamento de sangue, seja pelo transbordamento do amor. Valorizamos homens e mulheres que deram a vida derramando seu sangue por causa do Evangelho, mas muitas vezes esquecemos de valorizar aqueles que doam sua vida transbordando o amor. Este amor que perdoa, que luta pela pessoa amada, que corrige, que se dedica. Quantos pais e mães se dedicam pelos seus filhos! Quantos amigos se dedicam uns pelos outros! Quantos missionários, sobretudo em zonas de guerra, transbordam de amor para com os pobres e os necessitados. Recordemos também deles no dia de hoje.
Celebrar a Paixão e Morte de Jesus é colocar-se na contemplação de um Deus a quem o amor acabou tornando frágil. Por amor, Jesus veio ao nosso encontro e assumiu nossos limites humanos, existenciais. Jesus experimentou a fome, o sono, o cansaço. Jesus tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do pai e, quando estava no chão, esmagado contra a pedra, açoitado, abandonado e incompreendido pelos seres humanos, Jesus continuou a nos amar, incondicionalmente. Desse amor, resultou a vida plena que Ele quis repartir conosco até o fim dos tempos. Essa é a mais espantosa história de amor que a humanidade conheceu. É uma boa notícia e deve encher nossos corações de alegria e entusiasmo para que, diante das nossas cruzes diárias, jamais desanimemos.
Por isso, nessa semana maior, a Semana Santa, somos chamados a contemplar a cruz, onde se manifesta o amor e também a entrega de Jesus – uma entrega de solidariedade com aqueles que estão crucificados no mundo, nos dias de hoje: os crucificados que sofrem com a violência, que são explorados, que são excluídos, que são privados do direito e da dignidade humana. Ao assumirmos a cruz de Jesus, nos tornamos profetas e, assim, temos a missão de denunciar tudo o que gera ódio e divisão, o que gera o medo, as estruturas injustas da nossa sociedade e das políticas públicas, muitas vezes corrompidas pela corrupção. E se queremos ser protagonistas de um mundo novo, precisamos parar de reclamar de nossos governantes e assumirmos nossa responsabilidade. Assumirmos o protagonismo que nos compete, de transformarmos, em primeiro lugar, o nosso coração. Transformarmos também a nossa igreja e aqueles que estão ao nosso redor para que possamos mudar a nossa sociedade. Isso significa também aprender com Jesus a entregar a sua vida por amor. Viver deste jeito pode nos conduzir à morte. Sim, viver o Evangelho pode nos conduzir à morte, mas os cristãos sabem que o amor, como Jesus amou, é viver a partir de uma dinâmica que a morte nunca venceu e jamais poderá vencer. O amor gera vida nova e nos introduz no dinamismo da ressurreição de Jesus.
Que hoje possamos assumir, conscientemente, a cruz da nossa vida, o nosso profetismo e nossa responsabilidade, contando com a graça e a misericórdia de Deus para que possamos transformar esse mundo na luz e na vontade do Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Ano C) – 14/04/2019 (Domingo, missa às 9h30).

Com misericórdia, Deus escreve novas linhas em nossa história
07/04/2019
Meus irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o 5º e último Domingo da Quaresma, quando a Igreja nos convida a abandonarmos o homem velho, a mulher velha, e aceitarmos a vida nova que Deus nos propõe; e, assim, deixarmos que Ele conduza nossa vida. Quantas situações nós não conseguimos superar por estarmos presos ao passado... Outras vezes, as situações que nos ofenderam nos magoaram, e nós permanecemos presos àquele passado, alimentando rancor, alimentando ódio contra aquela história.
Nós vemos, meus irmãos e irmãs, na primeira leitura [Is 43, 16-21], o profeta Isaías nos falando que Deus realizou maravilhas, mas Ele tem muitas maravilhas para realizar ainda em nossa vida! O Senhor quer fazer coisas novas em nossa história, mas para isso é necessário que nós deixemos aquele saudosismo com as situações que não mais retornam – e quantas pessoas vivendo no passado... Chorar não vai trazer o passado de volta. Precisamos ter atitudes concretas e permitir que o hoje, em vista do amanhã, seja diferente. Mas quantas pessoas, presas ao passado, não conseguem contemplar o futuro, onde Deus está conduzindo a nossa vida. Diz Paulo escrevendo à comunidade de Filipenses, na segunda leitura [Fl 3, 8-14]: "Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta. Rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus". A nossa meta, meus irmãos e irmãs, é o céu! A nossa meta é permitirmos que Deus escreva as novas linhas de nossa história. Mas Ele não pode interferir na nossa liberdade, Ele conta conosco para construirmos uma história diferente, onde a sociedade possa viver os valores do Santo Evangelho. Mas enquanto estivermos presos no passado, nós não conseguiremos escrever essa nova história.
Diz o livro do Apocalipse: "Eis que farei novas todas as coisas" [ref. Ap 21, 5]. Talvez a sua fé precise ser renovada; talvez o seu compromisso com a Igreja precise ser renovado; talvez o seu batismo precise ser renovado; talvez o seu matrimônio, que está caindo no marasmo, precise ser renovado. Quantas coisas em nossa vida precisam ser renovadas, e nós não permitimos porque ficamos presos a este saudosismo do passado. Por outro lado, meus irmãos e irmãs, se queremos que Deus escreva novas coisas em nossa história, é necessário que nós aprendamos a nos perdoar uns aos outros, como Deus perdoa todos os seus filhos. Porque somos rápidos em apontar o dedo para o erro do outro, mas muito lentos em reconhecer as nossas próprias fragilidades.
No Evangelho de hoje [Jo 8, 1-11] nós temos Jesus que, depois de passar a noite rezando no Monte das Oliveiras, vai catequizar, vai pregar Sua Palavra. E como se tornou costume na vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele aparecia, as pessoas ficavam ao Seu redor para ouvir Suas histórias e ensinamentos. Mas muitos ali, infiltrados no meio do povo, queriam descobrir um modo de crucifica-Lo. Hoje, nós temos os mestres da lei e os fariseus, que pegam uma mulher em adultério e trazem até Jesus. Imaginemos a cena de Jesus pregando a Palavra e entram aqueles homens, trazendo uma mulher e jogando-a nos pés Dele, dizendo que a lei mosaica, a lei de Moisés, diz que tal pessoa, pega em flagrante adultério, deve ser apedrejada até a morte em praça pública. Nosso Senhor olha aquela situação, aquele momento, e o que Ele faz? Ele se inclina e começa a escrever na areia. Aqui nós temos duas reflexões dos biblistas – têm muitas, mas há duas de que mais gosto. A primeira é que Jesus ficou em silêncio para fazer com que os seus interrogadores pudessem pensar em seus próprios atos; e a segunda... Quem já foi à praia, deve ter escrito algo na areia, ou feito um buraco ou um castelo. E se voltarmos lá agora, você vai encontrar o que você escreveu ou fez na areia da praia? Se você procurar o maior arqueólogo da história, ele vai encontrar alguma coisa lá? Não vai. Quando Deus nos perdoa, Ele apaga completamente todos os nossos pecados. Jesus, quando escreve na areia, está escrevendo algo que depois vai ser apagado e ninguém mais precisa se recordar. Porque Deus é misericordioso!
Jesus se levanta e diz: "Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra". Até aí, todo mundo decorou, né? Agora, a segunda parte é a que eu mais gosto! Diz a Palavra de Deus que começou a sair um a um, a começar pelos mais velhos. Porque à medida que vamos envelhecendo, vamos ficando com a cabeça dura, com o coração fechado, e não queremos mais mudar os nossos conceitos, o nosso modo de ser. Os mais velhos saíram primeiro porque eles reconheceram os seus próprios erros, e ninguém teve coragem de jogar uma pedra naquela mulher. Então Jesus se levanta mais uma vez e diz: "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? [...] Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais".
Meus irmãos e irmãs, este Evangelho de hoje nos questiona o quanto nós apontamos o dedo para os erros dos outros e temos dificuldade em compreender os nossos próprios erros. Quantas coisas devem ser mudadas na nossa vida, no nosso modo de pensar, no nosso modo de julgar, no nosso modo de agir... Quantas coisas devem ser mudadas no nosso relacionamento familiar, matrimonial, no nosso relacionamento com Deus. O Senhor está querendo realizar novas coisas na sua vida, mas se você não se abrir, o que Deus pode fazer?
Vamos pedir que, nesta Eucaristia, a última antes da "grande semana", da centralidade da nossa fé, possamos rememorar o passado não com um saudosismo ineficaz, mas aprendendo com os erros e acertos para construirmos o futuro à imagem e semelhança de Deus. Que possamos, no cotidiano da nossa vida, julgarmos menos o outro e mais os nossos próprios atos, as nossas próprias escolhas, os nossos próprios sentimentos, o nosso próprio comportamento. Que o Espírito Santo de Deus nos seja favorável para que possamos correr à meta de alcançar a imortalidade, vivendo os valores do Santo Evangelho. Que o nosso coração se prepare para entrar na cidade santa de Jerusalém com Nosso Senhor Jesus Cristo, subir com Ele ao Monte Calvário, descer com Ele à mansão dos mortos e, então, podermos ressuscitar com Cristo na Sua Páscoa para uma vida nova, de acordo com os valores do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 5º Domingo da Quaresma (Ano C) – 07/04/2019 (Domingo, Missa das 10h).

Renovar o coração e não ter medo de arrepender-se
31/03/2019
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando o 4º Domingo da Quaresma, que é chamado Domingo Laetare, que significa “alegria” pela proximidade da Páscoa do Senhor, momento em que relembramos toda saga de Morte e Ressurreição de Jesus.
Faltam duas semanas para começarmos a celebrar a Semana Santa. Por isto, a Igreja nos convida a celebrar com alegria este dia de hoje. Também por isso, o padre não está de roxo, mas sim de rosa. Pela proximidade da Páscoa, a Igreja nos convida a diminuir a intensidade do roxo a fim de celebrá-la.
Os liturgistas – aqueles que pensam a missa na Igreja – dizem que neste domingo é como se estivéssemos caminhando no deserto e encontrássemos um oásis. E cansados, fatigados, alguns até entristecidos e querendo descansar da missão de chegar à Páscoa, nós encontramos um lugar para beber água, nos alimentar, nos refugiar e revigorar, a fim de continuarmos a nossa caminhada até a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
A alegria pode ser vista já na Primeira Leitura [Js 5,9a.10-12], onde o povo chega à Terra Prometida e isto nos dá esperança para que também nós cheguemos ao final desta quaresma convictos, firmes de que iremos ressuscitar com Cristo para uma vida nova. Deste modo, nos dá convicção também para continuarmos lutando pela transformação dos corações e da nossa sociedade.
Paulo, na Segunda Leitura [2Cor 5,17-21], escreve à comunidade de Coríntios, dizendo que nós devemos abandonar o homem velho, a mulher velha e assumirmos a nossa nova humanidade em Cristo Jesus. Mas para que tudo isto aconteça é necessária sempre a conversão. E todos nós temos algo que precisa ser mudado ou transformado em nossas vidas. Todos nós precisamos nos converter.
Assim, meus irmãos, de acordo com as leituras de hoje, nós vemos um povo que fica quarenta anos no deserto e, ao final desta jornada – que é mais psicológica do que cronológica –, o povo chega à Terra Prometida e ali tem a graça de tomar, festejar, os primeiros grupos da nova terra. Esta passagem nos lembra a importância de continuarmos lutando no deserto de nossa vida, em busca dos nossos objetivos. O povo poderia ter desistido – alguns até ficaram pelo caminho, como dissemos semana passada –, mas a maioria do povo chegou à Terra Prometida. Assim como nós, que temos um objetivo na nossa vida: nos dedicarmos aos nossos filhos, santificar o nosso matrimônio, alcançar uma profissão que desejamos, transformar a nossa sociedade. Para tanto, nós devemos ser fiéis, perseverantes. Não é porque as situações estão difíceis que nós vamos desistir. Não é porque seu filho está passando por algum problema que você vai desistir dele. Não é porque o seu matrimônio passa por tribulações que você desiste dele. Não é porque o seu trabalho está com dificuldades, que você chuta o balde e pede demissão.
Devemos enfrentar os problemas para chegar aos nossos objetivos, à Terra Prometida de cada um. Do mesmo modo que a nossa sociedade e Igreja estão abordando o tema das políticas públicas na Campanha da Fraternidade. Ainda que as políticas públicas não estejam do modo que nós desejamos, não adianta ficar simplesmente reclamando ou espalhando mensagens de automotivação nas redes sociais. É preciso fazer algo efetivo para transformar a nossa realidade, bem como, ser realizado algo efetivo no nosso matrimônio, na educação dos nossos filhos e no nosso trabalho.
Se formos perseverantes, alcançaremos esta graça, assim como o povo de Israel, de celebrar um tempo novo, no qual não haverá injustiça, mas sim o amor. No qual não haja discriminação ou preconceito e todas as pessoas sejam valorizadas. Para isto, precisamos lutar para que as pessoas façam a experiência de Jesus, desde as crianças da pré-catequese, até os mais idosos. Encontrar-se, verdadeiramente, com Jesus Cristo Nosso Senhor. Como diz São Paulo, escrevendo para a comunidade de Coríntios, deixando o homem velho, a mulher velha para trás, sendo renovados em Cristo Jesus. “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo”.
Quantas pessoas reclamando de um passado que não volta mais! Você pode chorar o tanto que for, que não vai voltar. Nós precisamos avançar, encontrar novas metodologias, novas palavras, novos modos de tocar o coração das pessoas. Não adianta ficar tentando o mesmo método ou tentando objetivos diferentes. E isto acontece na educação de nossos filhos, acontece em situações de nosso matrimônio, acontece no mercado corporativo. Precisamos ser renovados, constantemente. E para que haja essa renovação, precisamos nos converter. Em primeiro lugar, parar de julgar o outro, como os fariseus, os saduceus e os mestres da lei. Como no Evangelho de hoje [Lc 15,1-3.11-32], que, querendo encontrar um modo de crucificar Nosso Senhor, o criticam porque está tomando alimento com os pecadores. E Jesus conta a parábola de hoje, que é conhecida como o “Filho Pródigo” ou como o “Pai Misericordioso”.
O filho pródigo, pois ocorreu com o filho mais novo. Os jovens, trilhando o caminho da sua vida, acertam e erram. E todos nós somos ou já fomos mais jovens. O jovem, como diz o Evangelho de hoje, chega no pai e diz: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. O pai deu-lhe a sua parte. O filho foi se entender das coisas do mundo e gastou tudo o que tinha em uma vida desenfreada, comprando tudo que podia, festejando ao modo que podia. Mas ocorre uma crise e todo o dinheiro acaba. E, então, ele tem que mendigar um trabalho. E não pode, neste trabalho, sequer se alimentar com a comida dos porcos. E para um judeu, ter que se aproximar dos animais, dar-lhes comida e não poder se alimentar dela era o pior cenário que se podia imaginar. Somente quando chegou no fundo do poço este jovem recordou-se da sua casa, da sua família. E nós também, analogamente, podemos lembrar da cama limpinha, da comida no prato, do carinho da mãe e do pai, da escola paga, de tantas outras coisas que os pais nos fazem. Então disse: “vou voltar para a casa de meu pai, vou pedir para ser seu empregado pois, pelo menos, os empregados têm pão com fartura”. E este jovem toma a decisão de sair daquela situação e voltar para a sua família.
A decisão é importante, pois muitas pessoas são reticentes em tomar a decisão de mudar de vida, seja no seu trabalho, na sua fé, no seu matrimônio e até no relacionamento com os pais. Não deixe para chorar arrependido na morte dos seus pais. Chore agora por tudo o que você não tem feito por eles. Não espere o dia que você estiver à beira de um caixão para chorar, mas sim avalie agora o que você não está fazendo, tudo aquilo que você não valoriza em seus pais. Você que já é adulto também pode agradecer ao seu pai e a sua mãe por tudo o que eles fizeram por você ao modo deles, do jeito deles. Agradecer o carinho, o amor, o alimento que eles puseram a sua mesa, o calçado que eles colocaram nos seus pés e várias outras coisas. Mas é necessário tomar esta decisão. Como o jovem que volta para casa e o seu pai o está esperando de braços abertos. E recebe as carinhosas palavras do pai misericordioso, que diz “Este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado!”.
Vamos fazer festa para você que está afastado de Deus. Volte para o Senhor! Deus te acolhe. Para você que está afastado do seu matrimônio, lute por ele! Volte para sua esposa, volte para seu esposo. Você, na sua casa ou na sua família também pode ser o pai misericordioso, a mãe misericordiosa. Não tenha vergonha de tomar uma postura de voltar atrás e assumir as suas fragilidades. O que não pode acontecer, meus irmãos e irmãs, é sermos como o filho mais velho, enciumado e sem compreender em nada o amor imenso que seu pai tinha pelos dois filhos. Porque, quando o filho mais novo volta, o filho fica enraivecido e diz: “`Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos.” O pai acolhe este filho mais novo, mas o filho mais velho não entende o que é o amor e não está aberto a ser amado.
Quantas pessoas temos, em nossa sociedade, que são como este filho mais velho? Fazem tudo por obrigação e não por amor. Quantas pessoas vão à igreja com medo de ir para o inferno? Eu não vou à igreja por medo de ir para o inferno, eu vou à igreja porque amo a Deus, porque amo os valores do Santo Evangelho. Quanta gente casa com medo de ficar sozinho! Você não casa por medo de ficar sozinho, mas sim porque você ama alguém. Pessoas que tem filho com medo de quando ficarem velhos, não ter quem possa cuidar. Não é por isso que eu devo tê-los. Eu tenho porque Deus me concedeu a graça da maternidade, da paternidade. Porque Deus disse “crescei-vos e multiplicai-vos”. Filho é uma bênção de Deus e, quanto mais numerosos, maior é tal bênção de Deus em nossa vida, diz a Palavra do Senhor.
Talvez estejamos fazendo as coisas certas, mas pelo objetivo equivocado. Portanto, volte-se para o Senhor. Retorne para o bom caminho, para a sua família, para os seus pais e aceite o que deve ser transformado em sua vida.
Pedimos tanto para os nossos políticos mudarem de vida, de comportamento ou as legislações do nosso país. Mas nós, enquanto protagonistas de uma nova era, devemos também buscar transformar a nossa vida, a nossa história, as nossas atitudes e os nossos sentimentos.
Se queremos, como diz Paulo, sermos embaixadores de Cristo, permitamos que os valores do Santo Evangelho encontrem espaço em nosso coração e em nossas atitudes.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo da Quaresma (Ano C) – 31/03/2019 (Domingo, missa das 10h).

Cuidar das vinhas que nos foram confiadas
24/03/2019
Estamos celebrando o Terceiro Domingo da Quaresma, onde a Igreja continua nos convidando à conversão do nosso coração, para celebrarmos intensamente a Páscoa do Senhor. No Primeiro Domingo da Quaresma, recordávamos as tentações que somos chamados sempre a evitar, a dizer “não” ao pecado e demais situações que ocorram em nossas vidas. No Segundo Domingo da Quaresma, subimos ao monte Tabor com Jesus, onde o Senhor nos ensinou a transfigurar o nosso coração para que aquilo que está desfigurado pelo pecado passe a ser iluminado pela graça, misericórdia e amor de Deus. Hoje, o Senhor nos convida a cuidar na nossa vinha, da nossa vocação, a prestarmos atenção na missão à qual fomos chamados.
Coincidentemente, amanhã, 25 de março, celebramos a festa da anunciação do Senhor, do anjo a Maria Santíssima. Por isso, a imagem de Nossa Senhora e do anjo estão no Presbitério. O mesmo anjo aparece hoje a Moisés. O anjo do Senhor, diz a Palavra de Deus, apareceu a Moisés numa chama de fogo. O Senhor, quando se revela, sempre aparece para uma missão. Eu já disse isso aqui outras vezes e repito. Às vezes as pessoas chegam e dizem “Padre, Deus falou comigo”, “Padre, o Espírito Santo falou no meu coração” ou “Nossa Senhora falou comigo”. Então eu digo: “te deu uma missão?”; mas “Padre, não é assim”.
Eu não sou ninguém para dizer se Deus apareceu ou não apareceu. A única coisa que eu sei, vendo a história da revelação bíblica é que, quando Deus se manifesta, Ele o faz para uma missão específica. Se Deus não te deu uma missão, cuidado: pode ser que não seja de fato uma manifestação de Deus, uma mensagem de Deus para a sua vida. Deus, quando se revela a Moisés, lhe dá uma missão: liderar o seu povo da escravidão do Egito à terra prometida, à liberdade. Quando Deus se revela à Nossa Senhora, pede que ela tome conta do seu Filho, aquele que há de nos salvar do alto do madeiro, aquele que teve seu sangue derramado para nos libertar. Tamanhas as missões de Moisés e de Maria! E também todos nós temos uma missão a desempenhar. É necessário que estejamos à disposição do Senhor para O escutemos falar ao nosso coração e, assim, nós possamos entender qual a missão a que Ele nos chama.
E você que pode estar triste, decepcionado e talvez não esteja mais aguentando esperar o tempo de Deus, a Palavra do Senhor hoje é muito clara: “eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e eu ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores”. “Sim”, diz o Senhor, “conheço os seus sofrimentos, desci para libertá-los”. O Senhor, irmãos e irmãs, vem sempre ao nosso encontro, nos indicando o caminho da libertação. Mas o Senhor também precisa de instrumentos humanos, de nós, para conduzir aqueles que estão perdidos, aprisionados. E hoje todos somos chamados, de certo modo, a sermos Moisés. Sermos Moisés em casa, liderando a nossa família da escravidão para a liberdade. Somos chamados a ser Moisés no nosso grupo de amigos liderando-os para a libertação pois há muitas pessoas aprisionadas na dependência do álcool, dos jogos, dependência química, de programas de televisão, de jogos de computador. De quantas coisas nós podemos nos libertar hoje? Mas é necessário que assumamos o nosso papel e ajudemos as pessoas a sair da sua condição de escravidão, ou seja, de ausência de liberdade.
Mas, para sair da escravidão, nós teremos que ter clara a noção de que iremos passar por processos em nossa vida. O povo de Israel ficou quarenta anos desde a escravidão até a Terra Prometida. Alguns querem estalar os dedos e já resolver todos os problemas. Na nossa vida, nós precisamos de um tempo de transformação, de um tempo de passagem. Basta olharmos a natureza. A natureza tem o seu tempo, o seu fluxo e nós, seres humanos, também temos o nosso tempo – o fluxo contínuo da nossa vida – e precisamos colocar Deus à frente, para que Ele conduza os nossos passos. E quando aparecerem as dificuldades, a fome, a sede, o cansaço, como com o povo de Israel, devemos permanecer firmes porque a Palavra de Deus, na Segunda Leitura de hoje [1Cor 10,1-6.10-12], diz: “os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar (...) No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus, pois morreram e ficaram no deserto”. Nós, meus irmãos, somos esses descendentes e nós nos perguntamos se estamos no caminho certo. Nós nos questionamos se estamos nos revoltando contra o Senhor, se não estamos criando bezerros de ouro e ídolos e, assim, nos afastando do verdadeiro caminho da libertação. Porque se essa for a nossa escolha, nós iremos morrer no deserto e não iremos alcançar a Terra Prometida. E quem de nós não deseja alcançar a felicidade? Quem de nós não deseja alcançar a Salvação? Quem de nós não deseja alcançar uma sociedade onde não haja discriminação, violência, preconceito e pobreza? Todos nós queremos! Mas precisamos fazer esse caminho e, assim, cuidarmos da grande videira do Senhor para que ela possa produzir os seus frutos, como ouvimos no Evangelho de hoje [Lc 13,1-9].
O Senhor conta uma parábola dizendo que um homem foi a uma vinha por três anos seguidos e lá não encontrou frutos. Então disse: “Corta-a, porque esta videira está inutilizando a terra”. Vocês, quando as suas plantinhas não estão dando frutos, vocês tratam delas, certo? Primeiro você tenta cuidar. Se não deu certo, corto. É o papel do vinhateiro. O vinhateiro disse: “Senhor, deixa cuidarmos dela mais um ano e, se ela não der fruto, então o senhor corta-a”. Aqui temos duas coisas importantes.
A primeira é que nós podemos ser essa vinha, que não está produzindo frutos há muitos anos. E uma videira que não produz frutos, não serve para nada. Começamos o outono agora há pouco. Quantos outonos vocês já viveram em suas vidas? Você está produzindo os frutos que o Senhor espera de você? Porque se não, você vai ficar esperando até quando? A Palavra de Deus, na Segunda Leitura, também diz: “Quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair”. Se a videira não produz frutos, uma hora será cortada. Assim, precisamos pensar na nossa vida, no nosso matrimônio, em nossa vocação, nos nossos filhos, na nossa Igreja, na nossa comunidade. Quantos frutos eles estão dando? Se existem algumas ramas que não estão boas, nós precisamos podar, cuidar dessa planta, para que ela produza.
A segunda coisa importante é que somos vinhateiros e, assim, nós somos chamados a cuidar da nossa vinha, que o Senhor nos concedeu para cuidar e zelar. Ela pode ser a nossa família, pode ser alguns funcionários, pessoas amigas que confiam em nós, pode ser uma pastoral que nós cuidamos em nossa comunidade. Será que nós estamos defendendo a vinha como aquele vinhateiro defendeu a vinha para o Senhor? “Senhor, deixa eu cuidar mais um ano, deixa eu adubar a terra, colocar água, podar as ramas que não estão boas”. Devemos cuidar e zelar por aqueles que Deus nos concedeu.
Que o Espírito Santo hoje nos seja favorável para que revele ao nosso coração, assim como revelou ao coração de Moisés e de Maria, a nossa missão. Que o Senhor nos ajude a trilhar o caminho de passagem em meio à escravidão e à libertação a fim de sermos perseverantes. Que saibamos cuidar das vinhas que o Senhor nos concedeu para que, quando o Senhor vier, possamos apresentar a Ele, com alegria, todos os frutos que elas produziram.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo da Quaresma (Ano C) – 24/03/2019 (Domingo, missa das 7h30).

Nossa missão não está no monte, mas na planície
17/03/2019
Meus irmãos, estamos celebrando o 2º Domingo da Quaresma, quando a Igreja nos proporciona este momento forte, este momento intenso para preparar o nosso coração para a paixão, morte e ressurreição do Senhor e para celebrarmos a Santa Páscoa. Para que isso aconteça, é necessário aprendermos a confiar no Senhor; é necessário que nossa fé seja uma fé de atitudes; que nós tenhamos intimidade com Deus, permitindo que Ele transfigure nosso coração; e que nos mantenhamos – como diz o apóstolo Paulo – firmes na fé.
Por isso, na primeira leitura proposta para nós hoje [Gn 15, 5-12. 17-18] nós temos a figura de Abrão, um homem já de idade avançada, que poderia se acomodar em sua zona de conforto, com tudo que tinha conquistado, mas que, por sua proximidade com Deus, ouve o chamado do Senhor e se coloca à disposição, indo aonde Ele lhe havia enviado. Assim, nós vimos que o Senhor conduziu Abrão. Conduzir. Não foi Abrão que foi, mas o próprio Deus que o conduziu. Quantas vezes nós não permitimos que Deus conduza a nossa vida... O Senhor nos pede para irmos para a direita, e vamos para a esquerda; pede para irmos para a esquerda, e vamos para a direita – e depois não sabemos por que algo deu errado em nossa vida! Assim como os pais querem o melhor para seus filhos, Deus, nosso Pai, quer o melhor para nós, mas nós não nos permitimos ser conduzidos.
Diz a Palavra de Deus que Abrão teve fé no Senhor. Ter fé significa permitir que Deus conduza a nossa vida. Onde nós não vemos esperança, o Senhor está vendo. É o Senhor quem nos envia, e nós precisamos aprender a confiar em Deus. Mas quantas vezes nós não confiamos no Senhor... Fazemos nossas orações, nossas promessas, mas ao final, lá no fundo do nosso coração, não confiamos plenamente em Deus. Por isso a figura de Abrão é importante para nós hoje, porque ele confia no Senhor. E, ao confiar, o Senhor pede que ele vá para uma nova terra, que ele construa uma grande descendência. Este homem poderia não confiar em Deus, mas acreditou! Poderia ter ficado em sua terra, onde estava tudo muito bom, mas saiu para uma nova experiência. Vai chegando uma certa idade na vida em que a gente vai se acomodando... E a Palavra de Deus vem mexer conosco, nos tirar da nossa zona de conforto, mexer com nossa visão já viciada, com nossos sentimentos viciados, com nossa postura viciada. Por isso, o Senhor quer renovar conosco hoje uma aliança, como Ele fez com Abrão.
No tempo de Abraão, como é que se fazia uma aliança? Com animais. E ouvimos na leitura de hoje: "Traze-me uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, além de uma rola e de uma pombinha". Ali, com exceção das aves, Abrão cortou os animais ao meio e dividiu-os em duas partes. Sabe por quê? Porque no tempo de Abraão, quando se fazia uma aliança, você pegava os animais, cortava-os, e as duas partes da aliança passavam no meio. Quem não cumprisse com sua parte no acordo, sofria as mesmas consequências daqueles animais. Imagina se essa lei valesse ainda hoje! Às vezes, nós esquecemos que devemos ser homens e mulheres de palavra e que devemos cumprir com a nossa palavra. Eu aprendi algo com uma pessoa idosa que sempre me motivou e ainda me motiva: "eu não tenho muita coisa, mas eu tenho a minha palavra, e não gosto de quebrar com ela, porque é a única coisa que ninguém pode tirar de mim". Mas quantas promessas nós quebramos... Promessas que fazemos para Deus, promessas matrimoniais, promessas dentro de casa – para a esposa, para o esposo, para os filhos, para os pais. Quantas promessas você já fez e rompeu? Quantas vezes já teriam cortado você ao meio? Cuidado com as promessas, porque é necessário cumprir com aquilo que nós falamos. Muitas vezes fazemos promessas a Deus e, quando conquistamos o que queríamos, não cumprimos o que prometemos. Eu já disse isso aqui: se você conquistou uma graça, cumpra com a sua promessa! Ninguém lhe obrigou a fazê-la. E cuidado com as promessas para os outros, viu? Quer fazer jejum, abstinência... Faça você! Não faça promessa para o outro cumprir. E se conseguir a graça, repito: cumpra! Cumpra com a sua palavra.
Assim, meus irmãos, nós vimos que Abraão conquistou uma grande descendência porque teve fé no Senhor, uma fé moldada, uma fé purificada, uma fé amadurecida com o passar do tempo. Fé esta que Pedro, Tiago e João também precisavam amadurecer no Evangelho de hoje [Lc 9,28b-36]. Jesus tinha 12 apóstolos, e escolhe somente os três para subirem ao monte para rezar. Por que não os outros nove? Talvez porque estes três precisavam muito mais, assim como muitos de nós estamos precisando de intimidade com Deus. Jesus sobe ao Monte Tabor; nós viemos à Paróquia Santa Teresinha, que se torna o nosso Monte Tabor, e aqui Deus quer falar conosco, quer transformar o nosso coração, nossos sentimentos – como transformou o coração de Pedro, de Tiago e de João.
Pedro é aquele que, quando Jesus disse que deveria sofrer muito, ser rejeitado e morrer por causa de nossos pecados, diz: "Senhor, pare com esta história" – como os jovens dizem: "Vai dar ruim". E o que Jesus disse a Pedro? "Afasta-te de mim, Satanás, porque tu não pensas como Deus, mas como os homens". Quantas vezes nós também estamos pensando como os homens e não como Deus... Nos deixamos levar pelo comodismo, pelas situações da nossa vida, e Deus vai ficando de lado. Este mesmo Pedro, quando o Senhor carregava o madeiro pela nossa salvação, renunciou-O três vezes. Será que nós já não renunciamos Jesus, já não renunciamos a nossa fé? Os jovens, será que não renunciaram sua fé na balada, jogando videogame...? Será que os pais estão renunciando Jesus, ao educarem seus filhos com valores contrários ao Evangelho da Salvação?
Tiago e João. Dois jovens cuja mãe, querendo o bem dos filhos, um dia chegou perto de Jesus e disse: "Senhor, meus filhos, tão bonitinhos... Quando chegarem ao Teu Reino, coloca um a Tua direita e outro a Tua esquerda?". E o que é que Jesus diz? "Não compete a mim saber quem sentará à minha direita ou à minha esquerda, mas ao meu Pai, que está no Céu". Tiago, João e a mãe deles ainda não haviam entendido que seguir Jesus significa renúncia, significa ser missionário, significa assumir a cruz de cada dia para sermos cristãos. Ser cristão não significa ausência de problemas, significa que caminhamos com a graça de Deus para transformar este mundo, dilacerado pelo pecado, num mundo cada vez mais segundo o coração de Deus.
Por isso, hoje nós somos chamados a subir ao Monte Tabor e, ali, fazermos a experiência da transfiguração, para que nosso coração desfigurado, nossa mente desfigurada, nossos sentimentos desfigurados sejam transfigurados em amor, em graça, em misericórdia e compaixão. Como Abraão, nós precisamos aprender a ouvir Deus e o que Ele diz no alto do Monte Tabor: "Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!". Você tem ouvido o Senhor? Precisamos ouvir o que Deus está falando – às vezes, gritando! – ao nosso coração.
Porém, meus irmãos, precisamos tomar cuidado para não interpretarmos a transfiguração como sentimentalismo barato – o que, infelizmente, muitas religiões denominadas cristãs estão vivenciando. E esta tentação, muitas vezes, bate à porta de nossa comunidade... Pedro, quando vê a transfiguração, diz: "Mestre [...] Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias". Porque quem não queria ter aquela experiência? Ao fazermos a experiência de Deus, nós não queremos mais abandoná-la! Mas a nossa missão não está no alto do monte – lá, nós subimos para rezar. A nossa missão está na planície, onde vivemos o Evangelho da Salvação. Tem gente com a grande tentação de querer fazer barraca dentro da igreja. A alguns, temos até que dizer: "Você não tem casa não? Não tem marido, esposa, filhos...?". Porque, se deixar, quer trazer a cama para dentro da igreja! É que, às vezes, é mais fácil viver o Evangelho aqui dentro do que lá em casa, lá no trabalho, com os amigos... E, assim, nós caímos na tentação de vivermos um sentimentalismo barato. Um exemplo são os jovens depois de fazerem um Encontro de Jovens com Cristo. Saindo de lá, querem beijar cachorro, abraçar poste... Dizem que vão tirar todo mundo das drogas, da prostituição... Passa uma semana e cadê os jovens? Onde estão todos aqueles jovens que fizeram o EJC? É um sentimentalismo que não se transformou em atitudes concretas.
Quando fazemos a experiência de Deus, nós devemos descer à planície e, lá, praticar o Evangelho da Salvação, senão nós acabamos criando uma religião de comodismo, uma religião individual, segundo as nossas necessidades. É o que Paulo escreve à comunidade de Filipenses, na segunda leitura de hoje [Fl 3, 17 - 4, 1]: "Sede meus imitadores, irmãos, e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos". Imitar alguém. Nós devemos sempre ter pessoas como modelos para nos inspirar. E é por isso que nós, cristãos, devemos estar atentos ao nosso testemunho. O testemunho que você, pai, dá aos seus filhos; o testemunho que você, jovem, dá na sua escola, com seus amigos, na internet... Nós devemos tomar cuidado com aquilo que nós testemunhamos mais do que com aquilo que nós falamos. "Já vos disse muitas vezes e agora o repito, chorando:" – diz o apóstolo – "há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas". Quando permanecemos no sentimentalismo puro e barato, um sentimentalismo sem compromisso com o Evangelho, com as pessoas necessitadas, com aqueles que ainda não fizeram a profunda e real experiência com Cristo, nós criamos este Deus no nosso estômago, na nossa barriga.
Que o Senhor, hoje, nos inspire a ouvir Sua voz, a confiar e nos deixarmos ser enviados aonde Ele espera que estejamos. Que o nosso coração seja transfigurado para permanecermos firmes no Senhor, ouvindo sempre o que Ele deseja de cada um de nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo da Quaresma (Ano C) – 17/03/2019 (Domingo, missa das 10h).

Não nos deixeis cair em tentação
10/03/2019
Meus irmãos e irmãs, que bom que estamos aqui iniciamos esse tempo forte da Quaresma. A Quaresma, para nós, é uma riqueza, porque é o momento de nós ficarmos em silêncio, para a gente escutar mais, não somente os outros, mas também se escutar. Quantas vezes você já parou um pouco para pensar na vida? Parou um pouco para ouvir até mesmo o pulsar do nosso coração? Porque vivemos uma vida tão frenética, mas tão frenética que hoje se você para no trânsito e fala que a porta do outro carro está aberta é capaz de você apanhar. As pessoas não param mais para refletir e precisamos parar... Por isso, a igreja fica assim sóbria e até o sino é diferente, porque, a cada sinal como esse, nós nos silenciamos para que Deus possa falar conosco, para que a gente possa ouvi-Lo mais, para ouvir mais aos irmãos e se ouvir também. Por isso, o tempo da Quaresma é o tempo de nós fazermos também fazer um retiro pessoal e, a partir da experiência da Quaresma, seremos melhores, pessoas diferentes, porque, ao celebrarmos a Ressurreição, não será somente a Ressurreição do Senhor, mas a sua ressurreição! Seja uma pessoa nova, uma pessoa diferente!
Hoje a liturgia nos chama uma atenção especial: quem nunca errou na vida? Às vezes, a gente pensa que somos os donos da verdade. Às vezes, achamos que nós somos quase deuses, mas não é assim. E mais ainda, temos a tentação de pensar que Deus não esta nem aí para nós, mas olha interessante a Primeira Leitura [Dt 26,4-10]: vemos Moisés dizendo, contando e recontando história do povo de Deus. Era um povo meio errante, está vendo? Os nossos antepassados erraram também, mas diante desse erro caminharam, persistiram e perceberam que, ao longo da sua trajetória, também daqueles frágeis homens e mulheres formaram uma nação forte. E essa nação causou também inveja aos outros, como fala aos egípcios, por isso, muitas vezes, você viver a sua fé causará cada vez mais ciúmes nos outros, inveja e por que causa isso? Porque muitas vezes a pessoa não tem capacidade de viver isso, e isso vai levando-nos cada vez mais a uma reflexão profunda. Primeiro, porque diante de uma maldade que nós iremos passar, porque que não tem como “ah, agora vou à igreja e nada de mal me acontece”, balela, todo mundo sofre. Mas olha que interessante o refrão do salmo de hoje: “Diante das dores, permanecei comigo, Senhor”.
Quem nunca sentiu dor? Mas não só dor de dente ou dor de unha encravada, mas a dor da alma... Quantas vezes você já se sentiu esgotado, aniquilado? E, diante dessa dor, nós nos desesperamos e caímos na tentação de que Deus não está nem aí, mas ouvimos a Primeira Leitura a dizer que o povo clamou a Deus e Ele ouviu. Deus escuta, Ele escuta e não cruza os braços, mas Ele ouve e toma com certeza uma atitude profunda de nos ajudar, por isso que Jesus nos mostra hoje as tentações. Quantas tentações nós passamos? E uma coisa é fato, tentação não é só aquela coisa que você gosta daquele bolo de chocolate, e você fala “Não vou comer esse bolo de chocolate” e quando você vê já esta com a cara toda preta, o bolo já esta na sua barriga e você fala “cedi à tentação”, não é isso, gente. O que é a tentação? É tentar desviar dos caminhos de Deus. O que tenta te desviar do caminho de Deus? Quer ver uma tentação danadinha? Ah, está tudo ruim, vamos praticar essa ruindade também. Ah, não tem jeito, deixa se ferrar. Ah, já que estão fazendo isso, vamos fazer pior. São estas tentações que se você não tomar cuidado vão te levando para um distanciamento de Deus. Uma dessas maiores tentações é pensar que você chegou ao lugar de Deus e começar a ditar a vida e o destino do outro, não é assim. Por isso, no Evangelho de hoje [Lc 4,1-13], Jesus nos ensina que a tentação sempre estará presente na nossa vida, e tentação não é somente um bolo, não é só aquilo que quer te tira do sério, mas tentação é aquilo que quer te deixar a beira do caminho. E, muitas vezes, a gente reza para que a tentação não venha, mas não é isso que a gente reza no Pai Nosso. “Não nos deixeis cair em tentação”. Você já pensou nesta frase “não nos deixeis cair em tentação”? Ela não diz não me traga a tentação, é diferente, a tentação vem, mas nós não caímos nela quando deixamos que Deus esteja ao nosso lado e nos ajude. Às vezes, nós caímos em uma tentação maior ainda e queremos que Deus resolva todas as coisas. Deus não resolve tudo, mas nos ajuda a resolver, por isso que hoje, ao celebrarmos essa Eucaristia, nós pedimos essa graça que o Senhor venha nos conduzir diante do nosso deserto pessoal para uma profunda experiência do seu amor em nós. Seu amor nos leva a compreendê-Lo mais e não somente a entender a Ele, mas viver aquilo que realmente Ele viveu e que essa vida seja compartilhada aos outros para que diante da nossa vida sejamos essa luz nova, essa luz que com certeza brilha no coração de cada um de nós e vai fazer com que brilhe no coração dos nossos irmãos.
Homilia: Pe. Flávio José – 1° Domingo da Quaresma (Ano C) – 10/03/2019 (Domingo, missa às 10h).

Em busca da verdadeira conversão
06/03/2019
Queridos irmãos e irmãs, hoje nos encontramos para dar início a este tempo forte de oração, de caridade, de jejum. Estamos sempre em busca da conversão do nosso coração para alcançarmos a imortalidade. O nosso lugar é o céu, a nossa meta final é a morada eterna, e, para chegarmos lá, é necessário permitir que Deus configure e transforme nosso coração e a nossa vida. É necessário que Ele possa lavar nosso coração, os nossos pensamentos e as nossas atitudes. Diante disso, somos chamados a olhar para o Calvário e recordarmos sempre a Cruz de nosso Senhor e Salvador.
Assim como a igreja hoje bem ornamentada, nossa casa e nosso coração também devem se preparar para este itinerário que vai nos levar a Semana Santa para celebrarmos a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. E ao praticarmos o que a Quaresma nos pede, nós queremos ressuscitar com Deus para uma vida nova. E se for necessário cair alguns raios para nos acordar e nos tirar da nossa zona de conforto, que assim seja. Que tudo aquilo que acontecer nesta Quaresma sirva para conversão do nosso coração — uma conversão pessoal e social como pede a CNBB, a Igreja do Brasil.
A Primeira Leitura [Jl 2,12-18], meus irmãos, nos fala sobre a conversão no Livro do Profeta Joel, onde ele diz: “voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes”. Esta é uma das passagens bíblicas que me toca profundamente, porque como seres humanos nós somos ensinados a voltar-nos para Deus, mas muitas vezes de modo superficial. Queremos mudar alguma coisa na nossa vida, na sociedade, no matrimônio, na igreja, mas fazemos de modo superficial. É necessário mergulhar verdadeiramente naquilo que Deus nos pede, e Ele não nos pede a superficialidade, Ele não pede que rasguemos nossas vestes, mas que rasguemos o nosso coração e os nossos sentimentos. Cada um conhece aquilo que deve ser mudado e transformado em sua vida, por isso, o Evangelho de hoje [Mt 6,1-6.16-18] nos recorda os exercícios quaresmais da oração, do jejum e da esmola. E Deus nos pede para não praticar os exercícios apenas para que as pessoas vejam, mas, muito pelo contrário, para que ninguém veja para que assim o efeito seja profundamente verdadeiro na nossa vida.
A oração, que muitas vezes nos falta ao longo do ano fora desses 40 dias, deve ser intensificada. Se você só reza de manhã, reze de manhã e à noite. Se você reza de manhã e à noite, reze de manhã, ao meio dia e à noite. Amplie seus momentos de oração, mas não apenas em tempo, sobretudo em qualidade. O que o Senhor deseja de nós é uma oração com qualidade: aquela oração que nos faz ter intimidade com Deus; a oração que nos faz refletir sobre a nossa vida, a nossa conduta e as nossas escolhas; aquela oração que nos permite tirar uma atitude concreta de mudança de vida.
O jejum não deve ser feito apenas à frente das pessoas ou para perder peso, mas este jejum deve ser em vista de algo. Se eu deixo de beber, por exemplo, bebida alcoólica nesse período, deve ser para que eu possa melhorar a minha conduta. Se tem algo em minha vida que deve ser transformado, e não tem nada a ver com o jejum que estou fazendo, toda vez que eu sentir vontade de realizar aquilo que seja para conversão, para mudança do meu comportamento e das minhas atitudes. Não deve ser simplesmente para agradar algumas poucas pessoas ou com sentidos extraviados, mas o jejum deve ter em vista um objetivo concreto. Qual é o seu jejum durante esta Quaresma? Você já decidiu? Se não o fez, ainda é tempo, decida do que você vai se abster para que o seu coração se preencha daquilo que deve ser preenchido, da graça, da misericórdia e da bondade. E que a oração e o jejum sejam sempre em vista da caridade, do amor ao próximo, por que do que adianta uma conversão do nosso coração se nós somos individualistas? Nós não nos salvamos sozinhos. Nós somos uma igreja peregrina, uma família reunida em nome de Jesus, e juntos nós buscamos a salvação. A salvação, meus irmãos, passa necessariamente pelas atitudes pessoais e sociais, porque, como diz a Segunda Leitura [2Cor 5,20–6,2], nós nos tornamos embaixadores de Cristo, e um embaixador não apenas fala em nome daquele que representa, mas busca viver as virtudes daquele que ele representa. Nós representamos a Jesus, um homem repleto de amor, misericórdia e de compaixão para com o próximo, Jesus que sentia as dores dos mais necessitados. Por isso a Igreja todos os anos nos apresenta um tema para refletir. Junto com a Quaresma no Brasil, nós abrimos a Campanha da Fraternidade de 2019 com o tema: Fraternidade e Políticas Públicas, e com o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça”.
A Campanha da Fraternidade, meus irmãos e irmãs, neste ano de 2019 desperta a consciência e incentiva a participação de todo cidadão na construção de políticas públicas em ambiente nacional, estadual e municipal. O texto-base, além de contextualizar o que é o poder público, os tipos de poderes e os condicionantes de políticas públicas, fala sobre o papel dos atores sociais nas políticas públicas. Quem são os atores sociais nas políticas públicas? Nós, o povo brasileiro. E se não formos nós a termos um voto consciente, se não formos nós a exigir mudanças dos nossos representantes, quem o fará? A participação da sociedade no controle social das políticas públicas é o tema de destaque no texto-base. A política pública não é somente ação do governo, mas também a relação entre as instituições e os diversos apoios, sejam individuais ou coletivos, envolvidos na solução de determinados problemas. Devem ser utilizados princípios, critérios, procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas que garantam aos povos os direitos e os deveres previstos na Constituição Federal e em outras leis. Por isso a temática se faz necessária para a Campanha da Fraternidade. Políticas públicas são as medidas aprovadas e programadas para que todos os cidadãos possam ter vida digna. Enquanto um cidadão não tiver vida digna no território nacional, nós não iremos nos completar. Falar em conversão individual, coletiva e social requer de nós atitudes concretas para mudar as realidades que são contrárias ao projeto de Deus.
Que Deus nos assista para que, ao fim dos exercícios quaresmais, com o auxílio da esmola e do jejum, possamos vivenciar bem a oração, bem como uma reflexão apaixonada do tema e do lema da Campanha da Fraternidade, e caminhar para viver intensamente a ressurreição de Cristo, que ilumina a prática da vida cristã. Que possamos, meus irmãos e irmãs, nos encontrar no silêncio da nossa oração, nos encontrar na chuva de questionamentos que o Senhor nos faz nessa Quaresma. Que possamos nos encontrar diante dos raios que iluminam as nossas pobrezas e os nossos pecados para serem transformados. Que possamos nesse tempo da Quaresma nos permitir ser lavados e purificados. Que possamos, meus irmãos e irmãs, percorrer esse caminho de conversão, rasgando o nosso coração e não as nossas vestes. Que não nos deixemos levar pela tentação de aparentar algo que não vivemos, mas nos deixemos atrair por este Cristo que nos convida à conversão profunda do nosso coração, dos nossos sentimentos e das nossas atitudes.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quarta-feira de Cinzas (Ano C) – 06/03/2018 (Missa às 15h).

Ser sinal de vida para o irmão
03/03/2019
Estamos celebrando o último domingo do Tempo Comum antes da Quaresma. A partir de quarta-feira, iniciaremos esse tempo muito forte. Na imposição das cinzas, começaremos a nos preparar profundamente para celebrar a Páscoa. Mas, nunca se esqueça de celebrar a páscoa não somente de Jesus, mas a sua páscoa também, ressurgindo como uma pessoa nova. Nós não podemos entrar por aquela porta, sentar e participar da missa e continuar sendo a mesma coisa. Cada missa é diferente e a cada Eucaristia que participamos somos chamados a sermos melhores, não para nos autopromover, mas para demonstrar a bondade de Deus que existe em nós.
Não se esqueça disso: em você, existe a bondade de Deus, não duvide! Basta descobrir onde está o seu coração, e ali está o seu tesouro. Como nos diz Jesus, no Evangelho de hoje [Lc 6,39-45]: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração.” Antes de tirar o cisco do olho do irmão, olhe para você, é isso que nos diz a Palavra de hoje. Não devemos nos colocar como juízes, sentenciando a vida de uma pessoa, e não olhar para nossa vida. Se mantivermos a dinâmica proposta pelo Evangelho, seremos melhores e mais humanos diante dos erros que nossos irmãos cometem. Quem nunca errou na vida? Mas, a partir do erro, como podemos, cada vez mais, caminhar juntos para melhor? É para isso que o Senhor nos chama atenção hoje, pois os maiores tesouros que vamos ter são os sentimentos que vamos ter uns pelos outros e a nossa amizade não pode ser apenas por interesse, apenas quando a pessoa pode me dar algo e, depois, eu descarto ela. Não, eu sou amigo, pois juntos vamos crescer muito mais, mesmo algumas vezes tendo que puxar a orelha, mesmo falando a verdade, mas sem expor a pessoa nem humilhar ninguém, mas crescer junto, pois é isso que Deus faz conosco. Quando Deus olha nosso erro, nosso pecado, Ele não manda um raio para nos exterminar, Ele se torna humano para nos ensinar como ser de verdade. E, então, compreendemos a Primeira Leitura [Eclo 27,5-8]: “Não elogieis ninguém, antes de ouvi-lo falar, pois é no falar que o homem se revela”. Devemos então falar sobre aquilo que realmente acreditamos. Se você está com a fé abalada, primeiro acredite naquilo antes de falar, viva aquilo que você realmente acredita e com certeza a sua palavra vai fecundar o coração das pessoas. Nunca perca a esperança, nunca perca o sentido do valor do amor.
Sejamos sinais de vida onde muitas vezes existe a morte, por mais que a gente canse, como diz a Segunda Leitura [1Cor 15,54-58]: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor”. Ao celebrar a Eucaristia, onde estamos colocando o sentido de nossas vidas? Em quem estamos colocando nossos vínculos profundos e, mais ainda, como estamos sendo para o outro? Qual o sentido que o outro tem para mim? Para que cada vez mais, os valores verdadeiros permanecem na família, na comunidade, na amizade, no bairro e em tudo que vivemos e experienciamos. E que, através dessas experiências, possamos nos fortalecer para que a cada dia, através da graça do Senhor, sempre alcancemos uma conversão profunda para vermos os sinais de Deus, que não deixa de se manifestar no coração de cada um de nós.
Homilia: Pe. Flávio José – 8° Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 03/03/2019 (Domingo, missa às 10h).

Perdoar é ser misericordioso, como o Pai
24/02/2019
Nós estamos celebrando o 7° Domingo do Tempo Comum e, ao celebrarmos este domingo, a Igreja nos convida a recordar que a missão do cristão é mais do que falar, é viver aquilo que se prega. A Igreja nos convida pela palavra e pelo exemplo a perdoar os nossos inimigos, a deixar o homem velho e a mulher velha para trás e a fazer uma opção consciente e radical por Jesus Cristo, nosso Senhor.
Nós recordamos no 5° Domingo do Tempo Comum o chamado de São Pedro, quando Jesus disse a Pedro e aos outros discípulos para serem pescadores de homens. Assim, todos nós na pessoa de Pedro, somos chamados para ir e pescar almas para Deus. Depois, no 6° Domingo, aqueles que vivem o projeto de Deus de misionariedade encontrarão dificuldades, serão perseguidos, serão caluniados e difamados, porque todos aqueles que não vivem o projeto de Jesus começam a difamar as outras pessoas para minar a mensagem do Santo Evangelho. E saibamos que se ninguém está nos perseguindo, se não há nenhum tipo de problema, é porque nós não estamos vivendo verdadeiramente o projeto de Deus. E hoje o Senhor nos fala no Evangelho (Lc 6) para amar os nossos inimigos. Como é difícil amar aqueles que nos fazem mal ou que nos desejam mal ou que, no passado, nos fizeram mal. Mas se queremos viver o projeto de Jesus, é necessário perdoar, é necessário amar, é necessário acolher e continuar seguindo o caminho de Jesus e não se permitir parar em sentimentos que só vão obscurecendo a nossa vida e as nossas atitudes. Quantas pessoas estão aprisionadas em situações do passado, alimentando o ódio como se fosse um gatinho, um cachorrinho, um passarinho, todo dia vai lá e coloca um pouquinho de ódio a mais e não consegue se libertar de tantas e tantas situações do passado. Por isso, Jesus diz no Evangelho de hoje: “amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. (...) O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles.”.
Meus irmãos e irmãs, como é difícil amar aqueles que nos fazem mal. Porém, como cristãos, a gente não faz o que é fácil, nós fazemos o que é certo em vista de um bem maior. E nós, adultos, somos exemplo para nossas crianças. E o exemplo que devemos seguir está na Primeira Leitura (1Sm 26), quando dois homens religiosos se colocam a brigar, um chamado Saul e outro chamado Davi. Mas Saul é muito mais forte e reuniu três mil homens para ir atrás de Davi e de Abisai para matá-los. Ele reuniu três mil homens, porque ele queria ter certeza que ia matar Davi. Só para matar uma pessoa, mas não era qualquer pessoa, era um ungido de Deus. E até Saul tinha medo de Davi. Foram atrás deles e Davi se colocando nas mãos de Deus, Deus fez com que Saul e seus homens adormecessem. Davi e Abisai passam pelo meio dos três mil homens, chegam perto de Saul, pegam sua arma na mão e Abisai quer matar Saul, mas Davi diz: “Não o mates! Pois quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?”. Tanto Davi quanto Saul eram ungidos de Deus, mas um estava agindo com violência, em vista de matar o outro. Davi, ao contrário, estava querendo apenas viver o projeto de Deus. E por vivê-lo, é perseguido, mas quando ele pode acabar com o problema, matando Saul, ele pega as armas e vai embora. E depois, Davi chama Saul para conversar. O que a gente aprende com isso? A violência gera mais violência. A paz, o perdão, o diálogo geram a proximidade entre nós para superar os nossos conflitos. Então, quando vemos alguém brigando, devemos falar “vocês precisam conversar”. Conversar sempre é importante, dialogar para superar as nossas diferenças. Quantos problemas seriam evitados, se nós conversássemos mais e nos colocássemos ao lugar do outro. Quantos problemas seriam evitados, se nós tentássemos com mais empenho colocar o Evangelho em prática no cotidiano da nossa vida, como fez Davi. E Davi é aquele de quem Jesus irá, segundo as escrituras, descender e Jesus aprende da sua família, dos seus descendentes a amar os seus inimigos, a perdoar os seus inimigos e, assim também nós, meus irmãos. Ainda que na política, o povo esteja se digladiando; ainda que nas nossas empresas, as pessoas briguem; ainda que nas nossas famílias, tenham pessoas brigando, nós não seguimos o fluxo da maioria, mas nós seguimos o fluxo do Evangelho, o caminho da salvação apresentado por Jesus Cristo, nosso Senhor. Quando nós não seguimos o caminho de Jesus, nós permanecemos o homem velho e a mulher velha que Paulo relata na Segunda Leitura (1Cor 15), onde temos o velho homem que é Adão que cede ao pecado, que cede a tentação, que cede aos caminhos contrários ao projeto de Deus e, do outro lado, nós temos Jesus, o novo Adão, aquele que segue em tudo a vontade do Pai, aquele que é obediente a Deus, aquele que vive o projeto de Deus dia a dia na sua história, na sua casa, com seus amigos, na igreja, em qualquer lugar que esteja. Nós devemos escolher o homem novo! Nós devemos escolher Jesus! Ele que nos diz no Evangelho de hoje: “amai os vossos inimigos e fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. (...) Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado.”. Nós precisamos, segundo o Evangelho de hoje, nos distinguir dos pecadores, porque senão do que vale a pena frequentar a igreja e professar a fé se as nossas atitudes não nos distinguem naqueles que não creem em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Que a Eucaristia de hoje nos ajude a deixar o homem velho e a mulher velha para trás e nos revestirmos plenamente do homem novo que é Jesus Cristo, nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 7° Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 24/02/2019 (Domingo, missa às 10h).

A santidade está ao alcance de todos
17/02/2019
Queridos irmãos e queridas irmãs, que vocês se sintam acolhidos nesta casa onde o próprio Senhor prepara – prepara para que neste encontro toque profundamente a cada um de nós. Que não seja um encontro qualquer, mas a cada missa que você participa, alguma vez você já se perguntou: por que você vai à missa? Por que eu vou ouvir os cânticos e ouvir as passagens? O que é que me motiva a sair de casa para estar na igreja rezando, sentar, ouvir a Palavra e voltar para casa? Na liturgia tão bela dessa Eucaristia, lá está o sentimento de Deus, o sentimento de Jesus ao que Ele diz “Eu preparei esta ceia para você e eu desejei ter essa ceia com vocês”. A motivação maior que faz com que você esteja na igreja a cada domingo, e eu também, é porque Deus faz um convite mais íntimo ao seu coração. O próprio Senhor nos faz esse pedido e desperta esse desejo em nós. E, assim, vamos encontrando o sentido e a nossa fé torna-se forte, uma rocha firme alicerçada em Deus. Por mais que você não perceba, é Deus que prepara este momento e, a partir desse momento, faz da sua vida como esta casa, a morada de Deus, onde nunca mais seremos os mesmos, onde muitas vezes ouviremos essas leituras e a cada momento que nós ouvirmos sempre haverá algo novo, porque Deus tem sempre algo para nos dizer para que possa iluminar a nossa vida e o nosso coração.
Percebemos como é o importante o refrão do salmo [Sl 1] que nós acabamos de cantar “É feliz quem a Deus confia!”, e se nós não tomarmos cuidado a liturgia de hoje vai fazer você fugir para o meio do mato, viver sozinho, porque, como nos diz Jeremias na Primeira Leitura [Jr 17,5-8]: “Maldito o homem que confia no homem”. Aí você olha para a sua família, você olha para seu esposo, para a sua esposa, para seus filhos: “não vou mais confiar em vocês, vou embora! É melhor ficar sozinho, vou confiar só em Deus!” Mas não é bem assim... Porque existe uma pessoa que não desiste do ser humano, por pior que seja. Vemos tantas coisas diante dos nossos olhos, somos bombardeados por inúmeras situações que vão cada vez mais criando uma decepção na nossa vida. Quantas vezes você já ouviu ou você mesmo já falou: “estou decepcionado com fulano e com sicrano”. Muitas vezes, dizem: “estou decepcionado com o padre, eu me decepcionei, nunca mais vou pisar naquela igreja”. Mas não é assim! Existe uma pessoa que confia no ser humano que é Deus. Deus não desiste do ser humano. A própria teologia de São João Paulo II vem nos apresentar a sua teologia do olho, o olhar de Deus sobre o ser humano. Deus nos olha com encanto, Deus se encanta pelo ser humano e se encanta por quê? Porque somos imagem e semelhança dele. Confiar em Deus é saber como Deus nos olha e Deus não nos olha condenando, julgando, sentenciando e matando, mas com encanto. E, então, essa leitura nos apresenta que não é que você não possa confiar nas pessoas, mas quem são essas pessoas na qual você não pode realmente confiar? Aquelas que te afastam de Deus, aquelas que deixam seu coração árido como o deserto. Nós devemos perceber quem são estas pessoas que muitas vezes matam a nossa fé. Não são essas em quem nós devíamos colocar toda nossa vida em suas mãos, mas a partir da confiança de Deus, devemos aprender como ter o olhar de Deus para com elas.
Se a gente for parar para analisar o Sermão da Montanha, as bem-aventuranças de hoje [Lc 6,17.20-26] são diferentes daquelas que nós encontramos lá no Evangelho de Mateus, porque, naquelas bem-aventuranças, Jesus sobe a montanha para ensinar. Nesta, Jesus desce e por que isso acontece? Porque nunca esqueça que o Evangelho de Lucas é o evangelho do caminho. Nós sempre estamos caminhando, mas não estamos caminhando sozinhos. Deus não fica de braços cruzados olhando as nossas dores, os momentos que a gente se perde, as angústias que nós temos, mas Ele se põe a caminho para nos encontrar. Quando Jesus desce da montanha, quer mostrar que Deus desce para vir ao nosso encontro e nos ensinar. E Ele nos ensina o que? Ele nos ensinar que somos pobres, e, aqui, a pobreza não é somente na questão social. Quem é o pobre se não aquele que, como acabamos de cantar no refrão do salmo, aquele que confia plenamente em Deus. Todos nós somos pobres, porque confiamos em Deus. Só Ele é aquele que vai se importar profundamente, que vai guiar-nos diante do mundo para que possamos ser verdadeiramente felizes. E, diante dessas bem-aventuranças, percebemos que Deus cria em nós esse sentido de sermos felizes e sermos santos também, porque ser bem-aventurado é ser também santo! Acredite na sua santidade, acredite naquilo que Deus colocou em suas mãos. “Ai padre, mas eu não sou igual Santa Teresinha, eu não sou igual a São Judas, esses que são santos, se o senhor soubesse da minha vida...” Mas, meu querido, você já olhou a história de cada um desses santos? Ela não é tão diferente da sua. Não, todos tiveram dores, angústias e incertezas. Até no diário último de Santa Teresinha, nossa Padroeira, diante do seu leito de morte, ela praticamente ela avisa suas irmãs não aceitando isso, mas depois ela vai serenamente se entregando nas mãos de Deus e acolhe a graça da morte para estar diante de Deus. Por isso, ser santo é ser humano. E o que é ser santo hoje? É você se importar com o outro, ou seja, ser humano e se sensibilizar com o outro. Ser santo é fazer isso [apontando para os alimentos do Domingo da Partilha], às vezes nós não temos noção, mas a partilha de um pacote de arroz, vocês não sabem a alegria que isso traz para uma casa! Nunca me esqueço, uma vez eu fui levar alimento em uma casa e a pessoa olhava para mim e falava “padre, que Deus nunca deixe de faltar alimento na mesa dessa pessoa que se lembrou de mim, que Deus sempre possa a abençoar, como estou sendo abençoada agora, porque ela se lembrou de mim”. E outra pessoa me disse: “padre, eu estava rezando para que esse pacote de feijão viesse e parece que Deus atendeu meu pedido”. Olha quanta coisa que parece que não temos muita noção e isso é ser santo, porque você se importa com o outro. Isso é um sinal de santidade, porque somos seres humanos e isso faz com que permaneçamos unidos.
E ser santo é viver aquilo que o próprio Jesus viveu, aquilo que muitas vezes o próprio Dom Nelson falava para nós... Ser santo é ser incompreendido, é ser julgado, é ser mal visto, mal dito, é quererem tirar de você tudo e, principalmente, matar a sua fé. Mas é ali que a gente percebe que diante de tudo isso que a gente passa, o maior salário que nós temos: “Eis que estarei convosco todos os dias, porque eu senti isso também, eu passei por isso e se eu passei, você vai passar também”. Esse é o ensinamento que Jesus nos mostra. Por isso, ser pobre hoje, no Evangelho, não é vender tudo o que você tem não. Ser pobre é confiar em Deus. Mas o que é confiar em Deus? Confiar em Deus é colocar o seu coração nas mãos de Deus, mas ter seus olhos no irmão — aí você está confiando na pessoa também. Devemos colocar a nossa fé em Deus. Aos homens, devemos ter o nosso olhar e é o olhar de Deus que nos dá a capacidade de perdoar o erro.
Esse é o sentido da nossa fé. Mesmo quando às vezes bate um segredo em nosso coração, mesmo quando na Segunda Leitura que vai dizer se eu não acredito em Cristo ressuscitado, não adianta eu estar aqui, não adianta comungar. Mas eu preciso perceber o que a ressurreição de fato. Não é o único momento que eu fecho o olho, mas a ressurreição é todo dia ressuscitar a esperança que Deus deposita em nós, não desistir de nada, e, mais ainda, fazer de toda a nossa vida uma ação da graça para que seja fecunda no mundo.
Que, nesta Eucaristia que celebramos, nós possamos ser cada vez mais sinais da graça desse amor de Deus. Não confiar no homem não significa que você deva viver sozinho, mas a partir da confiança em Deus olhar o irmão com os olhos de Deus para que a gente possa estabelecer vínculo com o outro. Estabeleça vínculo com as pessoas e, através desse vínculo, que possamos mostrar a Deus Pai o nosso poder de santidade, nos tornar sinais da graça de Deus, sendo mais do que nunca amor no mundo, acolhendo a todos, partilhando a esperança e levando a fé a todos.
Homilia: Pe. Flávio José – 6° Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 17/02/2019 (Domingo, missa das 7h30).

A nossa vocação é anunciar
10/02/2019
Nós estamos celebrando o 5° Domingo do Tempo Comum, celebrando a nossa fé em Jesus Cristo, acompanhando a sua vida pública. Hoje a Igreja nos convida a refletir sobre a vocação. Nós não somos fruto do acaso, nós somos obra do amor de Deus e o Senhor sempre nos chama para uma missão, para uma vocação, para sermos todos profetas e anunciadores da sua Palavra.
Muitas vezes nós temos a compreensão equivocada de que aqueles que falam a Palavra do Senhor são os mais perfeitos, os mais cultos, os mais inteligentes, e isso não é verdade. Se olharmos na Primeira Leitura de Isaías [Is 6,1-2a.3-8], estamos ainda há 800 anos antes de Jesus e um jovenzinho chamado Isaías, de apenas 20 anos de idade, vai ao templo para rezar. Como todo jovem, com seu coração angustiado. Como tantos jovens, querendo mudar o mundo do dia para a noite. Como tantos jovens, que falam um pouco demais. Mas Deus toca no coração deste jovem e o chama para ser o seu profeta. O autor do livro de Isaías usa a linguagem teofânica ou simbólica dizendo que o anjo pegou uma brasa no altar e colocou na língua do profeta Isaías, em outras palavras, isso significa dizer que Deus tocou no coração e nos sentimentos deste jovem, convidando-o. “Ouvi a voz do Senhor que dizia: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” e Isaías responde: “Aqui estou Senhor! Envia-me”.”. Independente das nossas dificuldades diárias, nós devemos nos colocar à disposição do Senhor e permitir que Ele toque em nosso coração e nos envie sempre em missão.
Se olharmos a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios [1Cor 15,3-8.11], vemos que São Paulo, o perseguidor dos cristãos se torna perseguido por causa da sua fé. Paulo é aquele que dissipava as pequenas comunidades que nasciam em torno da fé em Jesus. Chegou a matar algumas pessoas, mas por ser tocado profundamente em Jesus Cristo, nosso Senhor, Paulo se torna de perseguidor dos cristãos a perseguido por causa do Santo Evangelho, a tal ponto de o ouvirmos anunciando a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, a tal ponto de Paulo escrever que entrega a sua vida nas mãos do Senhor.
Olhando o Evangelho de hoje [Lc 5,1-11], o Senhor chama um velho pescador, Simão Pedro, um homem cuja vida era lançar as redes no mar para pescar. Era um homem que provavelmente não falava muito bem, mas o Senhor escolhe aqueles que Ele crê que podem desenvolver um trabalho e nos capacita para a sua missão. Um ditado bem antigo da nossa igreja diz “Deus não escolhe os capacitados, Ele capacita os seus escolhidos” e o texto do Evangelho de hoje é fundamental para entendermos isto, pois um pouco antes Jesus estar na sinagoga pregando a Palavra de Deus, palavra de cura, palavra de libertação, palavra que leva as pessoas a compreender a ação de Deus na sua vida, no seu tempo. É nessa sinagoga que Jesus não é bem compreendido, aqueles que ali estão querem até mesmo matá-Lo, não acolhem a Sua palavra. Jesus não desiste, Jesus continua a sua caminhada e, no lago de Genesaré, Jesus então se coloca a pregar para aqueles que estão sedentos da sua Palavra. As pessoas gostavam de ouvir a Palavra do Senhor, mas já estavam saturadas de ouvir sempre a mesma Palavra, de ouvir sempre as mesmas citações, de serem exigidas determinadas coisas que muitos dos sacerdotes dos fariseus sequer seguiam. Jesus então revoluciona a sua pregação tocando o coração daqueles que estavam sedentos de Palavra. Esta multidão, meus irmãos e irmãs, não estão nas sinagogas, mas estão por aí, perdidos, sedentos da Palavra do Senhor, e assim nós somos chamados sempre a ir mais adiante, mais distante para pregar esta Palavra. Como Jesus pede aos pescadores no Evangelho de hoje, “Avança para águas mais profundas...”. Os pescadores, conduzidos por Pedro, haviam trabalhado a noite inteira e nada pescaram. Jesus podia até entender alguma coisa de pesca, mas mais do que Simão Pedro provavelmente não entendia, mas a humildade de Pedro deve tocar o nosso coração: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Eles haviam pescado a noite inteira, já estavam enrolando as redes, porque não tinham pescado nada, botaram as barcas de volta na água, colocaram as tralhas dentro e voltaram para o mar, e lá então pescaram uma quantidade de peixes que as redes estavam até mesmo se rompendo, e pediram para outros virem e ajudá-los. Neste instante, Pedro reconhece que aquele que ele havia chamado de Mestre, agora ele chama de Senhor: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!”. Pedro reconhece que Jesus é o Senhor, é o Kyrios, é o Deus encarnado na história da humanidade. E quando Pedro reconhece isto, a sua vida é transformada. Quando reconhecemos que Jesus é o Senhor da nossa vida, a nossa vida e os nossos sentimentos são transformados, por isso Jesus diz a Pedro: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”.
Meus irmãos e irmãs, a Igreja nos convida hoje a nos colocarmos diante do Senhor, nos prostrar entregando a nossa vida ao Senhor, como fizera Isaías na Primeira Leitura de hoje e respondermos com um belo salmo responsorial, o salmo 137, “Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me”. Nós somos convidados a deixar o homem velho e a mulher velha para trás, como Paulo fez na Segunda Leitura de hoje. Independente de quanto nós tenhamos conhecimento da nossa profissão, dos nossos dons, o quanto já tenhamos tentado evangelizar a nossa família, o quanto já tenhamos tentado educar os nossos filhos, o quanto já tenhamos tentado transformar a nossa sociedade, vamos estar atentos as Palavras de Jesus. E onde Ele nos enviar seja para as águas mais profundas que forem que possamos dizer como Pedro: “Mestre, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”.
Que as nossas redes lançadas com amor e misericórdia na nossa casa, diante daqueles a quem nós amamos, da nossa igreja e da nossa sociedade, possa produzir os frutos que o Senhor espera de cada um de nós. Que possamos cantar diante de Deus e diante dos anjos, os vossos louvores e o vosso desejo de sermos evangelizadores.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 5º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 10/02/2019 (Domingo, missa das 7h30).

O amor nos torna abertos à ação de Deus
03/02/2019
Estamos celebrando hoje a memória de São Brás. Ele, que foi bispo e mártir, nascido no final do século III. São Brás era médico e, exercendo sua vocação, seu dom – a medicina –, algo ainda lhe faltava para ser plenamente feliz e realizado. Foi quando começou a orar, intensamente, pedindo a Deus que tocasse em seu coração o que lhe faltava para ser completamente feliz. São Brás vai então para o alto de um monte e fica dias em oração, até descobrir que possuía a vocação ordenada. Assim, tornou-se padre e, em seguida, bispo. E por defender a Igreja, por anunciar a Palavra de justiça, perdão, misericórdia e verdade, foi aprisionado e, depois de alguns meses, por não renunciar a sua fé, foi decapitado.
E diz a história que, quando estava a caminho de ser decapitado, uma mãe se aproximou e pediu a intercessão para seu filho, que havia engasgado com uma espinha de peixe. E São Brás, mesmo indo em direção ao seu martírio, intercede por aquela criança e ela se cura. E é assim que se propaga a devoção a São Brás. E é por isso que damos a bênção individual às gargantas todo dia 3 de fevereiro. Mas, sendo domingo, não podemos sobrepor à festa dominical a festa de um santo.
Estamos no 4º Domingo do Tempo Comum, quando a Igreja nos convida a continuar acompanhando Jesus em sua vida pública. Semana passada lemos que Jesus foi até a sinagoga, pegou o livro do profeta Isaías e proclamou essa palavra, dizendo que o Espírito Santo estava sobre Ele e que, a partir daquele momento, Deus estava se revelando. Pois Jesus vem para anunciar a verdade aos que estão presos, abrir os olhos aos cegos e anunciar o ano da graça do Senhor. O Evangelho de hoje é continuação deste trecho. O povo de Deus questiona Jesus, se Ele, de fato, é o verdadeiro profeta.
Ouvimos na Primeira Leitura [Jr 1,4-5.17-19] que Deus nos conhece: “antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações”. Nós não nascemos por acaso. Somos frutos do amor de Deus. Ainda que algumas pessoas interrompam a vida humana, esta sempre é dom e bondade do Senhor. Nós nascemos para uma missão, para o projeto de amor de Deus, para exercermos o múnus batismal e o principal deles é o profetismo. Porém, o profeta, como diz Jesus no Evangelho de hoje [Lc 4,21-30], encontra muita dificuldade de sê-lo na sua própria casa. O lugar mais difícil de viver o projeto de Deus é dentro de casa, com as pessoas que nos conhecem. Por mais que seja difícil, essa é a nossa missão: anunciarmos este amor de Deus, a começar de dentro dos nossos lares onde, por vezes, passamos por tribulações e dificuldades, não somos compreendidos ou, ainda, desejam nos retirar do caminho, como Jesus nos diz hoje e resgata a história bíblica para nos dizer isso.
Aquele povo não reconheceu Jesus, assim como o povo de Israel tantas vezes não foi merecedor da ação da graça de Deus. E Jesus cita o profeta Elias, na situação na qual durante três anos e meio não choveu em Israel. Deus não realizou sua obra em Israel, mas, longe dali, realizou a sua missão para a viúva de Sarepta, na Sidônia. Jesus dá ainda o exemplo do profeta Eliseu. Em Israel, havia milhares de leprosos. No entanto, Deus não age nesses leprosos, mas em Naamã, o Sírio, de outra cultura e religião. Quantas vezes Deus está querendo agir na nossa vida, na nossa comunidade, na nossa casa, mas não estamos abertos ao que Ele tem a nos dizer ou não estamos abertos a permitir que o Senhor conduza a nossa vida?
Do mesmo modo, pode acontecer de haver pessoas que frequentam a igreja há tantos anos e questionam porque Deus não age na vida delas e age na vida daquela pessoa que chegou na igreja semana passada. Pode ser que quem chegou semana passada, esteja mais aberto à ação de Deus do que quem vai na igreja automaticamente, repete as orações mecanicamente, mas seu coração não se abre à ação do Senhor. É necessário deixar Deus conduzir a nossa vida para proclamarmos esse ano da graça que Jesus nos revela através do Evangelho de hoje.
Assim, é necessário compreender que, mais do que falar bonito, mais do que falar em línguas, mais do que ter dons extraordinários, é necessário vivermos as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade (ou o amor). A depender da bíblia que você tem na sua casa, está escrito amor ou está escrito caridade, pois para o texto bíblico, caridade e amor são sinônimos. Assim, se procuramos vivenciar o projeto do amor de Deus de forma extraordinária, mas de modo ordinário nós não seguimos fielmente esse projeto do Senhor, de nada adianta.
Por isso, a Segunda Leitura [1Cor 12,31–13,13] nos diz: “a caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa, não se ensoberbece; não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor; não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade”. Eu convido vocês a amarem a sua família, a sua comunidade, a sociedade onde você cresceu. Pois o amor suporta tudo, crê em tudo, espera tudo, e o amor desculpa tudo.
Que o Espírito Santo de Deus nos seja favorável para que, celebrando essa eucaristia, possamos nos abrir à ação de Deus, a exemplo de São Brás, e que possamos resgatar nossa missão de sermos profetas do novo amanhecer, do terceiro milênio da era cristã, com todos os desafios da nossa vida e da sociedade pós-moderna. Que jamais esqueçamos esse amor, que tudo crê, tudo suporta, tudo espera.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 03/02/2019 (Domingo, missa das 10h).

Meditar, interpretar e anunciar a Palavra de Deus
27/01/2019
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando hoje os 79 anos de história de nossa comunidade. Em 1940, esta igreja estava sendo fundada – não a igreja de pedra, mas a igreja viva, como paróquia! Esta porção do povo de Deus que se reúne para celebrar a Palavra e a Eucaristia e, pela palavra e pelo exemplo, poder anunciar e transformar o mundo segundo as palavras do nosso Salvador. Muitas coisas aconteceram nesta comunidade, muitos obstáculos foram superados, muitas conquistas alcançadas, milhares de sacramentos realizados. E aqui estamos! Hoje, com quase 1.000 pessoas frequentando semanalmente a nossa comunidade, mais de 30 pastorais e movimentos, e juntos, cada um a seu modo, cada um em sua pastoral, cada um com seu carisma, juntos neste único corpo, que é a Igreja, buscamos anunciar o amor, a misericórdia e a justiça de Deus.
Nesse sentido, a liturgia de hoje vem a calhar para cada um de nós que celebramos esta festa. Porque a Igreja coloca, neste 3º Domingo do Tempo Comum, a Palavra na centralidade da nossa vida, da nossa fé. A Palavra de Deus deve ocupar um lugar importante na nossa vida. Quando a Palavra de Deus não encontra esta centralidade, meus irmãos e irmãs, nós temos dificuldade em configurar a nossa vida segundo aquilo que Deus pede a cada um de nós. Vimos na primeira leitura [Ne 8, 2-4a. 5-6. 8-10] que o profeta, logo pela manhã, foi a um lugar elevado e leu a Palavra de Deus durante meio período de um dia. O povo, em pé, ouviu esta Palavra e, ao final, colocou-se em prantos. O povo chorou porque reconheceu que sua vida ainda não estava de acordo com aquilo que Deus nos pede. Assim, meus irmãos, nós podemos trazer esta Palavra para hoje, para nossa vida, para nossa história, nos perguntando se a Palavra de Deus ocupa uma centralidade. Nós podemos nos questionar se dedicamos tempo a ouvir a Palavra de Deus. Alguns ouvem a Palavra apenas no domingo, quando, na verdade, somos convidados a nos alimentarmos da Palavra de Deus todos os dias.
Quantas vezes você entra no WhatsApp por dia? Alguns estudos dizem que tem gente que entra mais de duas mil vezes em um único dia! Será que, em ao menos uma dessas vezes, não daria para entrar em um aplicativo de leitura da Bíblia para ler um versículo? Encontramos tempo para as redes sociais, para ver séries, para conversar com o outro... Mas, muitas vezes, não encontramos tempo para ler a Palavra do Senhor. Nos últimos anos, a literatura vem sendo cada vez mais adquirida pelas pessoas no Brasil, mas quanto desta literatura nós lemos sobre a Palavra de Deus? Mais do que deixar a Bíblia aberta na estante, é necessário nos alimentarmos da Palavra diariamente.
Nesta primeira leitura, meus irmãos, nós podemos identificar também duas qualidades essenciais. A primeira é ver que aquele que proclamava a Palavra de Deus o fazia com firmeza e com clareza. Imaginem se ele lesse, desde bem cedo, com uma entonação baixa, desanimada... Quem aguentaria? Ninguém! Quando falamos da Palavra de Deus, devemos anunciar com clareza, em uma comunicação direta. Quantas vezes, em nossas comunidades, as pessoas não se preparam para ler adequadamente, para proclamar a Palavra de Deus. E é necessário que esta Palavra seja bem comunicada. Segunda qualidade: o povo estava focado no que dizia a Palavra de Deus. Muitas vezes, nós estamos na missa, mas só de corpo presente, porque a mente está distante, longe... O povo da leitura só caiu em prantos, só chorou porque entendeu a Palavra de Deus. O quanto nós entendemos da Palavra que é proclamada? Nós ouvimos muitas críticas sobre padres, sobre catequistas que não sabem falar da Palavra de Deus; enquanto eu preparava esta reflexão de hoje, li inúmeras críticas a sacerdotes. Realmente, muitos padres podem não se preparar para proclamar a Palavra, interpretá-la e realizar a pregação; porém, quantos pais também não se preparam para falar adequadamente da Palavra de Deus para seus filhos? Os primeiros catequistas são o pai e a mãe! A educação religiosa não pode ser, simplesmente, delegada à igreja, 1h30 por semana... Ela deve acompanhar a educação das crianças. Quantas pessoas também não se preparam adequadamente para apresentar um relatório no seu trabalho? Quantas situações em que não nos preparamos adequadamente... E o Evangelho de hoje [Lc 1, 1-4; 4, 14-21] nos ensina a ler e interpretar as situações do presente e a termos uma pedagogia capaz de tocar o coração das pessoas.
Lucas, no começo do Evangelho, escreve para Teófilo – que não é um homem, mas uma pessoa que representa uma comunidade lucana. E, 80 anos depois da paixão, morte e ressurreição de Jesus, o evangelista recolhe os relatos da história, sistematiza estes relatos e apresenta-os no Evangelho, dizendo que Jesus ia à sinagoga todo sábado para proclamar e interpretar as Escrituras. Nesta interpretação, o Senhor nos dá o direcionamento claro do que deve ser a nossa vida devotada a Deus, nos dá o direcionamento claro do que significa ser cristão. "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a boa nova aos pobres". A nossa missão é anunciar a boa notícia do Reino. Não pode existir um cristão que não anuncie a Palavra de Deus! Nós não somos uma religião que canta, apenas; nós não somos uma religião que interpreta alguma coisa. Nós somos uma religião que celebra e anuncia a Palavra! E esta Palavra deve ser anunciada em casa, no trabalho, na igreja e na nossa sociedade. "Enviou-me para proclamar a libertação aos cativos". Quantas pessoas estão encarceradas em nossas prisões, porque erraram; mas quantas pessoas, também, encarceradas no seu modo de pensar, no seu modo equivocado de enxergar a Deus, de enxergar a Igreja... Quantas pessoas encarceradas no modo equivocado de educar seus filhos, contrário ao projeto de Deus... Quantas pessoas encarceradas no seu modo de pensar contra a Igreja – porque, muitas vezes, a Igreja só vale quando eu preciso dela para alguma coisa; quando a Igreja me corrige, me forma, me orienta, eu não quero aceitar o que diz o Papa, os bispos ou o padre da comunidade que frequento.
Celebrar a fé em Jesus Cristo, meus irmãos, nos convida a "abrir os olhos aos cegos". Quantas pessoas dizem ver, mas não enxergam... Ou o contrário: quantas situações acontecem debaixo de nosso nariz e não percebemos. Ao conversar com os pais sobre problemas com os filhos, alguns dizem: "Mas eu não percebi nada!"; porque não estavam atentos ao que estava acontecendo. Ao conversar com casais sobre problemas matrimoniais, alguns esposos e esposas dizem: "Mas eu não percebi nada". Como não percebeu? Porque não estavam atentos, porque está cego. E, como cristãos, devemos observar e abrir os olhos daqueles que estavam cegos. E sem uma comunicação clara, não é possível compreender... Quantos problemas poderíamos evitar se os casais conversassem mais, se os pais conversassem mais com seus filhos, se nossa linguagem fosse uma linguagem compreensiva.
O Senhor proclama o "Ano da Graça". Este Ano da Graça é o Kairós, em que cada um de nós queremos viver de acordo com o projeto de Deus. Não é um tempo cronológico específico, mas será um dia em que cada um de nós poderemos viver este projeto do Senhor. Mas isso só será possível quando formos capazes de entender o que significa a Igreja e entender a importância de anunciar palavras que nossos semelhantes compreendam. E Paulo dá uma lição de pedagogia na segunda leitura de hoje [1Cor 12, 12-14. 27], escrevendo à comunidade de Coríntios. Quando alguns não entendiam o que significa a Igreja, o que significa Jesus, Paulo fez uma analogia com um corpo. Disse ele que a Igreja é um corpo e que cada um de nós é um membro, cuja cabeça é Jesus. E assim devemos ser, cada um de nós! Quando um membro do corpo está fragilizado, nós não o cortamos, mas cuidamos dele. E quando um dos membros, por menor que seja, está doente, todo o corpo sente.
Falar desta Palavra no dia em que comemoramos nossos 79 anos é importante porque pastorais e movimentos não podem caminhar por conta própria. Devemos caminhar juntos, seguindo a cabeça que é Cristo. Cada membro que integra as pastorais e/ou frequenta as missas não pode fazer o que quer, do jeito que quer e na hora que quer. Devemos estar unidos. E devemos aprender com esta leitura! Quando um membro está doente, está fragilizado, está machucado, nós não o cortamos do corpo, mas cuidamos das suas feridas, porque quando um membro da Igreja está sofrendo, toda a Igreja sofre.
Que ao celebrarmos esta eucaristia, o Espírito Santo nos seja favorável, para que a Palavra de Deus encontre centralidade na nossa vida. Que possamos focar em entender o que a Palavra de Deus nos questiona. Se necessário for chorar, que o façamos, para corrigir a trajetória da nossa vida. Que sejamos iluminados pela Palavra e pelo testemunho de Jesus, que soube atualizar a Palavra de Deus, e que os sacerdotes que passarem por esta comunidade também sejam capazes, a exemplo de Jesus, de fazê-lo. Que os catequistas da comunidade tenham a mesma dinâmica; que as pastorais e seus coordenadores tenham a mesma dinâmica; que os pais e as mães de família tenham a mesma dinâmica em seus lares. E que possamos, a exemplo de Paulo, sempre salvaguardar o corpo, seguir a cabeça – que é Jesus – e jamais permitir que um dos membros sofra, porque, senão, todo o corpo da Igreja também irá sofrer.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 27/01/2019 (Domingo, missa das 10h).

Ser um vaso novo, repleto do amor e da alegria de Deus
20/01/2019
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando o Segundo Domingo do Tempo Comum. Após celebrarmos um período intenso de Natal, nascimento do nosso Salvador na história da humanidade, nós iniciamos agora a vida pública do Senhor Jesus, neste período litúrgico chamado Tempo Comum. Até o comecinho de março, permaneceremos no Tempo Comum, faremos um pausa para iniciarmos o tempo forte da Quaresma, a Semana Santa e o Tempo Pascal. Depois, por volta de maio, retornaremos ao Tempo Comum e seguimos com ele até o final de novembro.
Hoje, para iniciarmos o Tempo Comum, a vida pública de Nosso Senhor, a Igreja nos coloca o Seu primeiro sinal. Na linguagem do evangelista São João, em outras palavras, o Seu primeiro milagre, que foi justamente numa festa de casamento.
E sabemos que, quando as pessoas assumem uma vocação – seja a vocação sacerdotal, a vocação missionária, a vocação matrimonial –, a assumem para serem felizes, não infelizes. Mas sabemos que, com o passar do tempo, as dificuldades da vida e dos relacionamentos, se não forem bem tratadas, vão aumentando na vida matrimonial. Seja qual for a vocação que nós escolhemos, o vinho pode começar a faltar. E quando isto ocorre – entenda aqui o vinho da alegria, o vinho do perdão, o vinho do diálogo, o vinho do amor –, a festa da vida começa a ficar um pouco chata, digamos assim.
Neste contexto, o Evangelho de hoje é interessante porque o casamento judaico poderia durar até 7 dias e a bebida principal era o vinho. E era uma vergonha imensa para os noivos e para a sua família, se o vinho não durasse até o final da festa. Imagine a decepção que seria para aqueles noivos, que queriam dar a melhor festa para os seus convidados. E foi Maria quem observou o que estava acontecendo e pediu a seu filho Jesus que realizasse o seu primeiro sinal. Mesmo Jesus acreditando que aquele não era o seu momento, foi obediente a Maria, sua mãe. E como é importante sermos obedientes aos nossos pais. Assim como Jesus obedeceu a Maria, obedecermos nosso pai e nossa mãe.
Jesus, ao realizar este milagre, faz com que aquela festa de casamento não caia em tristeza. Hoje o Senhor deseja encher a talha do nosso coração, da nossa vida, do nosso matrimônio com vinho novo, o melhor vinho que Ele pode oferecer. Mas se nós não estivermos atentos ao que Jesus nos diz, Ele não consegue transformar o nosso coração.
Maria diz, na linguagem de outro evangelista: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Nós devemos fazer tudo o que Jesus pede em nossa vida. Mas quantas vezes nós não seguimos o que Jesus nos pede? Somos teimosos, somos muitas vezes contrários àquilo que Jesus pede. A nossa vida deve ser uma vida de alegria, direcionada para a felicidade. Quando não colocamos Deus à frente, ela se torna uma vida, muitas vezes, obscurecida pelas nossas escolhas equivocadas, pelos nossos pecados.
Na festa de nossa vida, meus irmãos, sobretudo vocês, casais, que estão aqui presentes na igreja hoje, que tipo de vinho pode estar faltando no seu relacionamento, na sua casa? Você que é pai e mãe de família, será que não falta o vinho do diálogo? Em quantas casas falta o diálogo! Um gritando com o outro, um dando as costas para o outro, mas não sentam para dialogar e resolver os problemas.
Os problemas surgem na nossa vida não para serem colocados debaixo do tapete, mas para serem resolvidos. E problemas familiares nós resolvemos conversando, dialogando. Talvez na sua casa esteja faltando o vinho do perdão. Família que não consegue perdoar é uma família que não consegue festejar do fundo do seu coração. Se você tem dificuldades em perdoar alguém da sua família, peça a Deus que transforme o seu coração, encha o seu coração com o vinho da misericórdia, com o vinho da paixão. Em muitas casas pode estar faltando a solidariedade, um ajudar outro. Não se deve acreditar que a obrigação é simplesmente do outro, mas sim nos colocarmos juntos, como família, para superarmos os problemas e realizarmos as tarefas do cotidiano, para que possamos celebrar com intensidade a festa da nossa existência. Seja o que for que esteja faltando na sua vida, o Senhor pode te dar, mas é necessário que você esteja atento às Suas palavras e jamais desista ou esmoreça.
Na Primeira Leitura, do profeta Isaías[Is 62,1-5], a Igreja nos traz um trecho muito bonito, abordando que Deus é o esposo, e a esposa é a Igreja. São os filhos e filhas de Deus que estabeleceram a aliança de amor. Mas a esposa, a Igreja, composta de pessoas como eu e você, por causa de nossos pecados, tivemos ou estamos com a relação estremecida. Ou seja, o vinho começou a diminuir, começou a faltar. Mas este esposo que é Deus, por amar incondicionalmente a sua esposa, amar cada um de nós que somos a Igreja, este Deus não desiste.
Basta recordarmos do pecado original. Basta recordarmos da escravidão no Egito. Basta recordarmos a travessia em direção à Terra Prometida. Basta lembrarmos da revolta do povo de Deus no Exílio da Babilônia. Basta lembrarmos que Deus os resgatou de todas estas e outras realidades. Este amor de Deus, este amor de esposo, este amor sacrifical é o exemplo para cada um de nós que dizemos amar.
Por isso, a Primeira Leitura começa dizendo: “Por amor de Sião (e a cada um de nós) não me calarei”. Deus não se cala, não se cansa de falar para nós o que está equivocado em nossa vida. Mas se nós não prestarmos atenção e buscarmos mudar o que está equivocado, como podemos ter o vinho novo na nossa vida?
Muitas vezes, a esposa diz que está cansada e não vai falar mais nada para o marido, ou que não vai falar mais nada para os filhos. O marido também fala a mesma coisa: não vai falar mais nada para a esposa, que não vai falar mais nada para os filhos. E os filhos também dizem estar cansados de falar, falar, falar... Mas nós, quando amamos, nunca desistimos. Nós persistimos na nossa missão de amar, assim como Deus ama a humanidade.
“...Por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha, a salvação.” A nossa missão, meus irmãos e irmãs, é levar nosso matrimônio, é levar nossa família, é levar as pessoas que nós amamos, é levar a nossa Igreja reunida, em nome de Jesus – a Luz que dissipa as trevas, a Luz que dissipa os erros da nossa existência. A nossa missão é levarmos todos que fazem parte do nosso convívio à salvação. Portanto, eu te digo hoje: se o seu vinho está a faltar ou diminuindo; se o vinho do seu relacionamento em casa está desgastado, peça a Deus um vaso novo. Peça a Deus um coração novo, um sentimento novo, uma existência renovada para que, na festa da nossa vida, possamos celebrar a nossa vocação que é para a eternidade, para a alegria, para o amor, para a paz e para a salvação.
Que o Espírito Santo de Deus lhe seja favorável. Que, atentos às palavras de Jesus, o Senhor encha as talhas dos nossos corações, das nossas vidas e das nossas existências com aquilo que temos maior necessidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 20/01/2019 (Domingo, missa das 10h).

Como batizados, devemos ser bênção na vida dos nossos irmãos
13/01/2019
Celebramos hoje a Festa do Batismo do Senhor. Com ela, concluímos o Tempo do Natal, que para nós, cristãos católicos, é um período muito importante, pois Jesus se encarnou na história da humanidade para nos ensinar o que é o amor sacrifical e abrir, para nós, as portas do Paraíso com Sua paixão, morte e ressurreição. Portanto, a partir de hoje, você já pode desmontar o presépio da sua casa e a árvore de Natal. Se você foi um pouco apressadinho este ano, no ano que vem, espere um pouquinho mais e deixe-os durante todo o período do Natal, que termina na Festa do Batismo do Senhor.
Junto com esta Festa, meus irmãos e irmãs, celebramos também o dia do nosso Batismo, o dia em que nos tornamos concidadãos dos santos, filhos adotivos de Deus, participantes da grande família da Igreja Católica. É o dia em que nós adquirimos o nosso "CPF" para nos identificarmos como cristãos. Mas, assim como um jovem que se prepara para o vestibular e, ao passar, não consegue alcançar o diploma porque precisava cursar toda a graduação, também nós, não é porque fomos batizados que já estamos salvos. É necessário percorrer um caminho que nos leve até a nossa ressurreição, até nossa salvação eterna. Celebrar o dia de hoje, meus irmãos, é celebrar o dia em que nós nos tornamos participantes desta Igreja para sermos Cristo. "Como assim, padre? Cristo?". Cristo significa "ungido", e quando eu me torno cristão, eu me torno ungido de Deus. Será que estou sendo um ungido de Deus? Em casa, no trabalho, no matrimônio, na educação dos meus filhos, no período de férias...
Sendo batizados, nós ganhamos o "Tríplice Unos". E o que significa isso? Pelo Batismo, nós nos tornamos profetas, para anunciar o amor de Deus e denunciar toda e qualquer injustiça. Tudo aquilo que não está de acordo com o projeto de Deus deve ser denunciado. Vemos, meus irmãos, que um profeta jamais desanima. Na primeira leitura [Is 42, 1-4. 6-7], diz a Palavra de Deus: "Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos. Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão". Todo batizado é chamado a proclamar o amor de Deus e denunciar as injustiças. Não existe o batizado que fica calado diante daquilo que está contra o projeto de Deus. Pelo Batismo, nós nos tornamos profetas para anunciar o amor de Deus a todas as pessoas, sem fazer distinção de raça, de cor, de classe social – como Pedro, na segunda leitura de hoje [At 10, 34-38]. Estando na casa de Cornélio, não hesitou em proclamar o amor de Deus, dizendo: "De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença". Todo homem, toda mulher, quando aceita Jesus no seu coração, pode participar da grande família de Deus, mas cabe a cada um de nós anunciarmos ao mundo, anunciarmos, sobretudo, àqueles que não creem, àqueles que não esperam, àqueles que não fizeram a experiência de Jesus Cristo. Cabe a nós anunciarmos este amor, com palavras e ações.
O batizado, meus irmãos, se torna um pastor. O pastor é aquele que cuida das ovelhas, e Deus sempre nos concede ovelhas para serem cuidadas – os filhos, o esposo, a esposa, os nossos pais... Será que eu estou cuidando bem das ovelhinhas que Deus me concedeu? Algumas são meio agitadas, mas a nossa missão é cuidar, acalmar, curar as feridas... Esta é a missão de todo e qualquer batizado: ser pastor. E, por último, todo batizado se torna sacerdote – é o que a Igreja chama de "sacerdócio régio". O diácono, o padre, o bispo, eles têm o sacerdócio ministerial; mas o sacerdócio régio, todo batizado tem, para ser uma bênção na vida do outro, e não uma maldição. Nós precisamos ser bênçãos na vida do outro, e quantas pessoas vivendo o contrário do projeto de Deus, sendo uma maldição na vida do outro... Na sua casa, você está sendo uma bênção? No seu trabalho, você está sendo uma bênção? Com as pessoas que você se relaciona, naquilo que Deus deu para você cuidar, nas missões que o Senhor te confiou... Você tem sido uma bênção ou uma maldição? Nossa missão é sempre abençoar. Um pai e uma mãe devem sempre abençoar seus filhos, a esposa deve abençoar seu marido, o marido deve abençoar sua esposa. Sempre! Devemos ser uma bênção na vida do outro, essa é a missão de todo e qualquer batizado.
Para isso, é necessário recordarmos sempre o dia do nosso Batismo. Que dia você foi batizado, você sabe? Este é o dia em que nós nascemos para Cristo. Segundo Dom Nelson, nosso bispo emérito, nós deveríamos comemorar o dia do nosso Batismo. Mas se você não lembra o dia em que foi batizado, como você vai comemorar? Comemorar significa rememorar, recordar, e quando eu recordo, eu renovo a minha missão. O padre foi batizado no dia 30 de dezembro de 1979, e todo dia 30 de dezembro eu recordo o meu Batismo. No ano passado, este dia caiu num domingo, e todas as missas eu celebrei em ação de graças pelo dia em que fui batizado. Meus irmãos e irmãs, é necessário recordarmos este dia para que a nossa missão seja cumprida com amor, com determinação.
Hoje, a sociedade coloca o Batismo para tirar "mau-olhado", para a criança dormir direito, para tirar "quebranto” e tantas outras coisas por aí. O Batismo não é para nada disso, mas para inserir a pessoa na comunidade de fé. Se a criança não está dormindo, é por algum problema que não o Batismo. E é necessário que os pais escolham os padrinhos de modo adequado, porque a missão do padrinho não é cuidar da criança se o pai ou a mãe falecerem; a primeira missão do padrinho é educar a criança na fé. Agora, nós sabemos que as crianças aprendem mais pelo exemplo do que pelas palavras... Se você escolher um padrinho e uma madrinha que não rezam, a criança vai rezar? Se você escolhe um padrinho e uma madrinha que estão em outro país, como é que a criança vai ver que eles vão à missa? Se você escolhe um padrinho e uma madrinha que não frequentam a igreja, como esta criança irá à igreja? Se você escolhe um padrinho e uma madrinha que nem creem em Deus, que rumo esta criança irá tomar? Não tenho nada contra os protestantes, mas eles não podem ser padrinhos na Igreja Católica, porque não creem na devoção dos santos, não creem na eucaristia, não creem nos sacramentos. Então, eles não podem ser padrinhos. A Igreja Católica não é supermercado; a Igreja Católica é uma comunidade de fé com seus direitos e deveres, e nós temos o direito de negar o Batismo a quem não aceita Jesus e não aceita o caminho proposto pela Igreja.
Portanto, eu peço hoje, no dia do Batismo de Jesus, que você, quando for escolher os padrinhos do seu filho, não escolha simplesmente por amizade. Padrinho tem que ter postura, tem que ter fé, tem que ir à igreja, tem que rezar, tem que acompanhar seu afilhado. Não escolha simplesmente por amizade, escolha por fé. É por isso que a pessoa é batizada quando criança: porque ela é inserida na comunidade de fé e os padrinhos se responsabilizam a educar esta criança, pela palavra e pelo exemplo, na fé católica, apostólica e romana. A você que é padrinho ou madrinha, se faz tempo que não fala com seu afilhado, vá falar com ele, vá visitar, telefone. Você se comprometeu, diante de Deus e da comunidade reunida, a cuidar desta criança: assuma esta responsabilidade!
E a nós, meus irmãos, somos chamados hoje à conversão do nosso coração. O Evangelho [Lc 3, 15-16. 21-22] coloca João Batista, o último dos grandes profetas, realizando o Batismo de Conversão. Diferentemente de hoje, em que a maioria das igrejas batiza por aspersão – ou seja, joga um pouco de água na cabeça –, no início do cristianismo, batizava-se por imersão: a pessoa descia na água e subia para uma vida nova, deixando o homem velho para trás, a mulher velha para trás, deixando tudo aquilo que não é de Deus para trás e iniciando uma vida nova em Cristo. Assim, meus irmãos, somos chamados, no dia do nosso Batismo, e hoje e todos os dias, a descobrir o que deve ser transformado na nossa vida, o que deve ser restaurado, convertido, configurado segundo o coração de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Peçamos a Deus que, nesta eucaristia, ao final da missa, ao nos aproximarmos da pia batismal e traçarmos o sinal da cruz sobre nós, possamos renovar, do fundo do nosso coração, o ardente desejo de viver a plenitude do nosso Batismo: sermos profetas, sacerdotes e ungidos, para levar a salvação a todos aqueles que não creem, não amam e não esperam.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Batismo do Senhor (Ano C) – 13/01/2019 (Domingo, missa das 10h).

Como os reis magos, oferecer a Jesus a nossa vida
06/01/2019
Caríssimos irmãos e irmãs de fé, estamos celebrando a Epifania do Senhor, que é a manifestação de Deus na história e na vida de seu povo. O nosso Deus é um Deus que tem esse amor, essa predileção para cada um de nós, os vossos filhos e filhas. Não é um Deus que fica na janela do céu olhando o nosso sofrimento, mas é um Deus que se esvaziou da sua forma divina e tornou-se humano de uma forma simples por meio de uma criança, para assim ficar mais próximo de cada um de nós, seus filhos e filhas. No livro do Êxodo, tem uma parte em que o próprio Deus nos diz: “Eu vi o sofrimento do meu povo e desci para libertá-lo”. Por isso Ele é o Emanuel, o Deus conosco, que caminha conosco e não nos abandona e é por Ele que nós nos libertamos ao longo da estrada da nossa vida, sendo assim, Deus envia o seu filho, que é a luz que vai iluminar todas as nações.
Nós ouvimos na Primeira Leitura do profeta Isaías, num contexto em que aquela cidade que estava em ruínas, as trevas tomaram a cidade e muitas coisas ruins estavam acontecendo. E diante de tudo isso, desse fracasso, desse contexto de vida, o profeta Isaías vai dizer para as pessoas: vamos levantar, porque uma nova luz vai aparecer no meio de nós. Levantar, no sentido grego da palavra, é o mesmo que ressuscitar. Então essa luz que nós recebemos de Deus, que é essa luz de Jesus Cristo, entrou na história para dissipar todas as trevas do ser humano. Essa luz tem um nome que é Jesus de Nazaré. E nós adoramos Jesus, a luz que dissipa toda a treva que porventura possa existir no meio de nós.
Segundo ponto, o Evangelho dá uma grande catequese para nós de como caminhar como filhos e filhas da luz. Pelo contrário, não caminhar como um filho da luz é o mesmo que Judas Iscariotes fez. Judas Iscariotes andou com Jesus, esteve ao lado de Jesus, mas não acolheu a luz e diz as Escrituras que Judas se embrenhou nas trevas, na escuridão, porque se afastou da única luz verdadeira, que é Jesus ressuscitado. Então nós somos chamados a caminhar como filhos e filhas da Luz, mas nós somos seres humanos. Ao longo da nossa caminhada, nós também somos chamados a procurar ir ao encontro de Jesus, como os reis magos assim o fizeram. Mas esta caminhada nossa, às vezes, é marcada por luzes e sons, por exemplo. Três personagens do Evangelho de hoje por vezes podem se configurar conosco. O primeiro dele é Herodes. Herodes diz: quando vocês o encontrarem, me digam cuidadosamente onde ele vai nascer para que eu também vá adorá-lo. Herodes pode muito bem ser a nossa consciência, o nosso pensamento: quando nós passamos a desanimar, quando nós perdemos a confiança, quando nós passamos a maltratar as pessoas, a julgar as pessoas, a agir com preconceito contra as pessoas, a não colocar mais confiança e esperança nas coisas de Deus. Então, às vezes, pode crescer em nós a figura de Herodes, a figura da maldade, das coisas negativas, das coisas que nos afastam da presença de Deus. E Herodes não conseguia saber o local onde Jesus Cristo ia nascer, porque era uma pessoa má. O coração de Herodes estava preenchido tantas coisas, mas não com a graça e a misericórdia de Deus. Aqui podemos fazer um parêntese para lembrarmos assim: nas Bodas de Caná, havia seis talhas que estavam vazias. Então, depois que Jesus multiplica o vinho, as talhas se enchem e o mestre sala diz assim: mas você guardou o vinho bom até agora, o melhor vinho. Então, caríssimos irmãos, experimentar essa luz de Deus é deixar-nos encher com a misericórdia de palavras, de ternura e sua graça, não ser como Herodes que não conseguiu ver os sinais da presença de Deus. Nós somos chamados a tirar todas as coisas ruins que nos afastam da presença de Deus. Segunda personagem: os mestres da Lei e os sacerdotes, também que eram adversários de Jesus e não conseguiam ver onde iria nascer Jesus. Talvez essas pessoas se configurem conosco, porque nós estamos dentro da igreja, nós rezamos, rezamos o terço, recebemos a comunhão, mas às vezes nos vestimos não uma capa de seda nas nossas relações no sentido de tratar bem as pessoas, tratar com amabilidade, com respeito, com educação, com acolhida, com uma palavra que São Paulo usa muito que é hospitalidade. Outra palavra que está faltando em nosso meio: perdão. Todas as coisas que devem existir no meio de nós, mas nós estamos vestindo uma capa de espinhos. Todas as pessoas que chegam perto de nós são espetadas com o nosso mau humor, com o nosso desamor, com a nossa raiva pelas pessoas, com nosso jeito explosivo de ser. Então, estamos perto de Jesus, da luz, mas não conseguimos identificá-lo, chegar perto dele como Nossa Senhora assim o fez. E a terceira personagem é Jerusalém, a cidade que foi o berço do assassinato de Jesus, o berço das falcatruas, lugar onde há coisas puramente contra a proposta do Senhor. Pior do que Herodes e que os escribas e mestres da Lei talvez fosse a própria Jerusalém, que era um local de coisas ruins, de coisas negativas. Essa cidade hoje pode ser personificada por cada um de nós. Quando pensamos por duas dimensões que são muitos graves na nossa família e na nossa igreja que é a falta de perdão. A pessoa fala assim, e se diz cristão, e diz assim: “o que fulano fez não tem perdão, eu não perdoo de jeito nenhum”, mas Jesus diz no alto da cruz: “Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem”, ensinando a todos nós a graça de amar e perdoar as pessoas. Na Primeira Carta de São João (capítulo 1), São João nos diz que se você ama a Deus, mas não o vê e despreza o seu irmão que vê, que amor há nisso? Também São Oscar Romero diz assim: quanto mais nós nos tornamos humanos, mais cristãos nós somos. Eles vêm nos ensinar isso para nós nos preocuparmos mais ainda com o ser humano. Quanto mais nós nos preocupamos, nos ocupamos dos nossos semelhantes, mais próximos de Jesus nós estaremos.
Terceiro ponto, o ponto principal para nós, são os três reis magos, porque eles passaram por Jerusalém, mas não se detiveram em Jerusalém e muito menos por Herodes. Eles ouviram a voz de Herodes, ouviram as coisas ruins, negativas, mas não ficaram presos a isso, conseguiram seguir viagem porque foram guiados, não por qualquer coisa, mas pela luz divina para encontrar o menino Jesus. E assim também somos nós, por mais que às vezes somos guiados por pensamentos negativos, ruins, que possam nos apresentar algumas propostas contra o Evangelho, não podemos dar ouvidos a essas coisas, pois somos chamados como filhos a dar ouvidos a voz de Deus. O Salmo 94 diz “Não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz de Deus”. Os reis guiados pela estrela, passaram por Herodes, passaram por Jerusalém, passaram pelos mestres da Lei, pelos escribas que ali estavam, mas não se detiveram, conseguiram seguir o seu percurso porque tinham a confiança de que iam encontrar Jesus. Os reis magos são um exemplo para cada um de nós, que também somos chamados a continuar a nossa caminhada cristã e não nos deter nas dificuldades, mas diante dos problemas, nós temos um advogado: Jesus de Nazaré. No Evangelho de Mateus (capítulo 7, versículo 7), Jesus nos diz assim “Batei e vos será dado”. Batei e acharei o que procurais, pois irá encontrá-Lo. Então nós somos chamados a bater à porta do coração de Deus, a deixarmos encontrar por Jesus para que Ele se deixe encontrar por cada um de nós. O Profeta Isaías, no capítulo 55: “Procurai o Senhor, enquanto ele se deixa encontrar”. Então hoje, de modo especial, Deus se deixa encontrar por cada um de nós. No Apocalipse de São João (capítulo 3, versículo 20), ele nos diz: “Eis que estou a porta e bato, se alguém abre estarei com ele, e ele comigo.”. Os três reis magos fizeram a experiência pessoal com Jesus, porque eles foram ao Seu encontro e não O ofereceram qualquer coisa, mas suas vidas e suas dádivas para que as coisas fossem melhores para eles e para o mundo. São Geraldo Magella diz que nós devemos ir à Igreja oferecer algo de bom para Jesus e se nós não tivermos algo de bom para oferecer a Jesus, ofereçamos as nossas dificuldades, tristezas e angústias para que Ele, assim como transforma o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue, transforme essas dificuldades em bênçãos e graças para cada um de nós, seus filhos e filhas. Também São Paulo nos diz o seguinte na carta aos Hebreus (capítulo 4): todos nós devemos nos aproximarmos do trono da graça. O trono da graça é a palavra que Deus nos dirige, a palavra de esperança e de ânimo para continuarmos a nossa vida.
Por último, os reis do Evangelho nos ensinam. Eles, depois que encontraram Jesus, mudaram de caminho, ou seja, mudaram de mentalidade, mudaram de caminho, mudar de pensamento e o mais importante: não contaram a Herodes, seguiram por outro caminho. Que nós, que aqui nos encontramos com Jesus na Palavra e na fração do pão, possamos fazer parte da aliança verdadeira de Deus e sermos pais melhores, mães melhores, filhos melhores, pessoas que se deixam identificar com Jesus de Nazaré. Por último, no livro de Gênesis (capítulo 1, versículo 3), Deus nos criou sua imagem e semelhança e não é no aspecto físico, mas somos chamados a ser parecidos com Jesus nas nossas ações do dia a dia.
Homilia: Pe. Alessandre Marcos Benedito – Epifania do Senhor (Ano C) – 06/01/2019 (Domingo, Missa das 10h).

Renovar o nosso coração neste novo ano
31/12/2018
Meus irmãos e irmãs, celebramos hoje a memória de Maria, Mãe de Deus, a Theotokos (Teótokos): é um dogma de fé para cada um de nós, nesta última missa do ano de 2018. Hoje queremos render louvores ao Senhor por tudo que Ele realizou ao longo desse ano de 2018 em nossa vida, na vida de nossa família, em nossa comunidade da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus. Sentado ali enquanto se ouviam as leituras, olhava o rostinho de vocês e quantas histórias vivemos neste ano de 2018 – histórias alegres, histórias confusas, obstáculos superados, situações difíceis de serem vividas – mas aqui estamos, celebrando o último dia do ano de 2018. Para nós, é um motivo de muita alegria poder celebrar esta Santa Missa! Quantas crianças nasceram este ano, quantas crianças começaram a frequentar a catequese, pessoas que estavam afastadas de Deus e retornaram para a fé cristã, pessoas que estavam desempregadas e arrumaram um emprego, famílias que estavam desestruturadas e hoje estão se reestruturando, quantas graças Deus realiza em nossa vida! Hoje esta missa é em ação de graças por tudo que Deus realizou e consagrar o ano de 2019 a este Deus que caminha conosco e jamais nos abandona. Ainda que às vezes não compreendamos o que o Senhor tem a nos dizer, por isso é necessário sempre, como Maria, colocar Deus à frente da nossa vida, das nossas decisões e dos nossos projetos. Este Deus que deseja nos abençoar. Este Deus que tirou Abraão de Ur dos Caldeus e o levou para a Terra Prometida é o mesmo Deus que deseja nos levar à morada eterna, à Jerusalém celeste.
Por isso, a Primeira Leitura proposta pela Igreja é a do Livro dos Números, capítulo 6 [Nm 6,22-27]: é a bênção de Aarão. O Senhor nos abençoe e nos guarde! O Senhor nos protege, mas seja Aarão, seja Isaac, seja Jacó estava sempre atento a voz de Deus e permitiram que Deus conduzisse os seus passos e as suas decisões. Neste ano de 2019, vamos permitir também nós com que este Deus, que abençoou Aarão, Isaac e Jacó, abençoe a nossa vida, as nossas decisões, os nossos passos e nossos projetos.
Nós celebramos hoje, meus irmãos e irmãs, a Solenidade de alguém que, como Aarão, Isaac e Jacó, acreditou na Palavra de Deus. O seu nome é Maria. Hoje celebramos o dogma de fé chamado em grego de Theotokos (Teótokos), que significa Maria, Mãe de Deus. Para nós hoje isso é muito simples, mas há dezesseis séculos, em 431, no Concílio de Éfeso, foi uma longa jornada de oração, discussão para se chegar a definir que Maria é a Mãe de Deus. Esta discussão depois de que definiram que Jesus e 100% Deus e 100% homem, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado, como nos escreve São Paulo. A partir de 431, a Igreja celebra Maria como a Mãe do Senhor, este Deus que desejou nascer de uma mulher. Ele nasceu de uma mulher, mostrando a nós como seres humanos, que podemos viver a nossa humanidade de acordo com aquilo que Deus deseja a cada um de nós. Maria estava constantemente atenta ao que o Senhor desejava lhe dizer. Maria, como diz o Evangelho de hoje [Lc 2,16-21], guardava muitas coisas no coração. Como nós precisamos aprender a guardar muitas coisas no coração. Nesse tempo de redes sociais, de WhatsApp, qualquer coisinha a gente já tá falando, não é? Às vezes, não sabe nem se é verdade, mas está falando. Tem situações difíceis que acontecem conosco como aconteceram com Maria e é necessário aguardar o momento certo para dizer. Maria aguardou o momento certo para conversar com São José. Maria aguardou o momento certo para voltar do Egito. Maria aguardou o momento certo de levar Jesus ao templo. Maria aguardou o momento certo para pedir que seu filho realizasse o primeiro milagre nas Bodas de Caná. Nós também precisamos aprender a esperar o tempo certo das coisas, esperar o tempo de Deus.
Se, neste ano de 2018, você foi um pouco acelerado, se a sua paciência te faltou, peça a Deus que este ano de 2019 seja um ano diferente. Nós devemos ter pressa para anunciar o amor de Deus. Devemos ter pressa para anunciar a justiça e a misericórdia do Senhor. Devemos ter pressa para anunciar que nós cremos em um Deus que nos ama e que jamais nos abandona. Como os pastores, diz o início do Evangelho de hoje, “os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura”. Nós precisamos ter pressa para encontrar o Senhor. Devemos ter pressa para permitir que o Senhor corrija na nossa vida e no nosso coração o que ainda precisa ser corrigido. Nós devemos ao encontrar o menino Deus anunciar as maravilhas para que as pessoas fiquem encantadas com a nossa palavra e o nosso testemunho. Diz a Palavra do Senhor: “E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam”. Hoje nos encontraremos em família, com os nossos amigos... Será que ficarão maravilhados com aquilo que nós iremos contar? Ou nós iremos decepcionar? Quando nós falamos do amor de Deus, dos valores evangélicos e da alegria em caminhar com Jesus e consagrar a nossa vida ao Senhor não tem quem não se encante. De falarmos de Deus com alegria, de falarmos de Deus com entusiasmo. Não precisa lá na sua festa fazer uma pregação, basta que você fale da sua vida, dos seus valores, dos valores que você traz no coração, falar que você veio à missa antes de ir para a confraternização, falar que você consagra este ano de 2019 ao coração do Senhor.
Nós precisamos, como os pastores, ter pressa de anunciar as maravilhas que Deus realiza em nossa vida e em nossa história. Se por acaso Deus não está realizando, pode ser que nós ainda não estejamos totalmente disponíveis àquilo que Deus espera de cada um de nós, estamos presos a algum tipo de pecado. E é isso que Paulo escreve na Segunda Leitura de hoje da carta aos Gálatas [Gl 4,4-7] que Deus nos libertou pelo preço da sua cruz. “Assim”, meus irmãos, “já não és escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso por graça de Deus.”. Se neste ano você deu desculpas para não viver o Evangelho, se você fez promessas e não cumpriu, liberte-se disso. Ano novo, vida nova, fé renovada, atitudes renovadas para permitir que Deus realize sua obra em nossa vida. Neste ano de 2019, novos governantes irão tomar conta do nosso território nacional. Devemos rezar para que aqueles que foram eleitos pela maioria do povo brasileiro possam governar com justiça, com amor, com dedicação, colocando a ética, a verdade, a justiça em primeiro lugar, não buscando benefícios próprios, mas ajudar o povo brasileiro. Neste ano de 2019 é o ano de podermos cobrar aqueles que nos representam nos poderes jurídico, executivo e legislativo, mas lembre-se antes de cobrar alguém, cobre-se a si a mesmo das promessas que você fez e não cumpriu. Quantas coisas nós podemos melhorar: cuidar melhor da nossa saúde, cuidar melhor das pessoas que nós amamos, dedicar mais tempo às pessoas que Deus nos concedeu como família, como amigos, dedicar tempo a nos aprimorar nas ciências, nos atualizar para o mercado de trabalho, podemos melhorar a nossa dimensão espiritual já que sempre tem algo a melhorar na nossa vida espiritual, podemos dedicar mais tempo à comunidade, a Deus, enfim... alguma coisa Deus toca no seu coração. E que este ano de 2019 seja mais um passo a todos nós para, como Aarão, Isaac, Jacó e Maria, colocarmos Deus à nossa frente, para dizermos como Maria “Faça, Senhor, em mim segundo a Vossa vontade”. Faça, Senhor, em minha família, neste ano de 2019, segundo a Vossa vontade. Que possamos ao ouvir a voz do Senhor ir ao encontro de Jesus e poder anunciar com alegria, entusiasmo e convicção. Que possamos nos libertar de todo e qualquer tipo de amarra, de pecado, de percalço, de prisões sem grades que nos impedem de viver o Santo Evangelho. Que o Espírito Santo nos seja favorável e toque no nosso coração, nos nossos pensamentos, onde mais necessitamos para que este ano de 2019 seja o ano da graça em nossa vida, em nossa casa e em nossa família.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade da Santa Mãe de Deus (Ano C) – 31/12/2018 (Segunda-feira, Missa das 20h).

Como a Sagrada Família, colocar Deus sempre à frente
30/12/2018
Meus irmãos e irmãs, nós estamos celebrando a Oitava de Natal. A Igreja em duas ocasiões nos permite celebrar uma festa por oito dias. Quais são essas duas festas? Uma é o Natal e a outra é a Páscoa do Senhor. O Natal e Páscoa estão intimamente ligados e é justamente pela importância da encarnação do Verbo e da salvação que o Senhor nos propiciou a partir da sua Paixão, Morte e Ressurreição que a Igreja nos permite celebrar a oitava de Natal. Hoje dentro desta oitava, no sexto dia, celebramos a festa da Sagrada Família.
Ao celebrar essa festa da Sagrada Família, recordamos as nossas famílias e recordamos que Jesus nasceu em uma família. O Senhor poderia ter escolhido muitos modos, mas escolheu o modo natural, para que se encarnando na história da humanidade e aprendendo de uma família, de Maria e de José, pudesse nos ensinar o caminho do amor. Assim, celebramos hoje também a festa do amor, porque em uma família onde não há o amor, não há o perdão, o diálogo e a compaixão para com o outro, não é possível caminhar juntos como família. A Sagrada Família de Nazaré é conhecida como a família perfeita, porém, não podemos confundir família perfeita com ausência de problemas. Todas as famílias têm problemas, umas mais, outras menos, mas todas as famílias têm as suas dificuldades e com Maria, José e Jesus não era diferente. Ou acha que Jesus não passou nenhuma noite acordado irritando São José e Nossa Senhora? Como toda criança, Jesus teve dor de dente, dor de barriga, febre e aquele monte de coisa que criança tem naturalmente. Acham que Jesus brincando não caiu nenhum dia e voltou chorando?
Naturalmente, como qualquer criança, Jesus cresce no seio de uma família. Maria era doméstica, mulher de casa, responsável pela educação religiosa do seu filho até os 12 anos. Ela dedicava tempo ao seu filho, aos trabalhos domésticos, às arrumações da casa. Maria lavava roupa, Maria cozinhava como qualquer outra mulher e, hoje, alguns homens. José era carpinteiro, passava o dia trabalhando e ensinou a profissão para o seu filho e nós sabemos que o trabalho dignifica o homem. Se hoje vocês reclamam dos impostos que a gente paga para o governo, vocês acham que era fácil para José? Com o dinheirinho que ele ganhava, pagar o imposto do ano? Não era, era difícil, e quando não se pagava os cobradores de impostos iam bater na porta: “o tributo, o imposto”. E tinha que pagar. Portanto, Maria, José e Jesus viveram também as dificuldades do seu tempo, as dificuldades humanas de uma convivência familiar, as dificuldades naturais de se educar uma criança dentro de casa, mas talvez o que possa nos distinguir é que colocaram Deus sempre à frente. Maria era uma mulher de oração, uma mulher que dedicava tempo a ouvir a voz de Deus e ensinava ao seu filho o caminho do Senhor. José como um bom judeu, praticava tudo aquilo que a sua religião lhe permitia. E é neste exemplo que Jesus vai crescendo, porque mais do que em palavras, as crianças prestam atenção no exemplo. José e Maria não ficavam um sábado sem ir a sinagoga rezar. Eu me lembro sempre de que na idade de Jesus, um pouco menos talvez, tinha dia em que eu não queria ir à missa e papai dizia: “Moleque, você quer ir para rua, você vai, mas primeiro vai à missa”. Isso entrou de tal modo na cabeça e no coração que até hoje eu posso estar em qualquer lugar, mas eu não deixo de participar da Santa Missa.
Foi pelo exemplo que Maria e José educaram Jesus e, assim, também nós fomos chamados a sempre educar as nossas crianças pela palavra e pelo exemplo – mais pelo exemplo do que pela palavra. É por este exemplo de Maria e José, que iam três vezes por ano a cidade de Jerusalém, que Jesus não via hora de chegar o seu dia de poder ir também e se apresentar ao templo. Iam sempre para a festa da Páscoa, todo ano iam para a festa de Pentecostes e para a festa das tendas. Iam naquela caravana, com um monte de gente, eles não iam em carro 4x4, com ar condicionado, fazendo paradas. Eles passavam dias caminhando e ali, naquela caravana, vocês acham que Jesus ficava grudado em Maria e José, igual às crianças ficam hoje ao lado dos pais? Não, Jesus aparecia, Jesus desaparecia, não era milagre não, viu? Como qualquer criança saia brincando, saia fazendo suas coisas, se divertindo, uma criança natural como qualquer outra. Caminhando vão para Jerusalém, Jesus só precisaria se apresentar na lei aos 13 anos, mas como hoje as crianças veem o pai e a mãe vindo à missa todo domingo e comungando, não tem uma criança que não pense: “Eu também quero poder participar da comunhão”, “Quando eu posso fazer a catequese?”, “Quando eu posso pela primeira vez receber a comunhão?”. Jesus com certeza queria ir o quanto antes à cidade de Jerusalém e vai aos 12 anos ao invés de 13 para demonstrar que a sua missão ele faz de livre e espontânea vontade. Os padres da igreja identificaram nessa idade de Jesus uma criança que se coloca a disposição do Senhor desde cedo, mas pela palavra e pelo exemplo de Nossa Senhora é que Jesus vai descobrindo o seu caminho. É pelo exemplo de seus pais que Jesus quer se consagrar cada dia mais ao Senhor. E assim, meus irmãos, também nós somos chamados a dar exemplo para nossas crianças. Quando os mais velhos vão viajar com seus filhos, devem colocar Deus sempre em primeiro lugar. Ao sair de casa, reze. Ao entrar no carro, reze antes de pegar a estrada. Ao chegar a determinado lugar, pode se fazer o que for, mas antes ou depois vá à missa, e a criança aprende que ir à missa é prioridade na sua vida, na sua história.
Neste cenário, nós temos Maria e José que em determinado momento se dão conta de que Jesus não está com eles. Eles saem procurando na caravana, porque Jesus podia estar com qualquer família, Jesus podia estar com outras crianças e quando não encontram resolvem voltar a Jerusalém. Só encontram Jesus depois de três dias. Nós não sabemos ao certo se foram três dias, mas os padres da Igreja identificam nesses três dias a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, porque quando Maria e José perdem o seu filho, têm esse sentimento de morte, esse sentimento de perda. Qual é o pai ou a mãe que não fica com o coração apertado quando o seu filho se perde? Deve dar um desespero enorme, mas quando encontram é um sentimento de alívio, de festa e aí nós nos lembramos do Evangelho do Filho Pródigo ou do Pai misericordioso. Quando o filho depois de ir embora volta pra casa arrependido e o pai ao invés de dar um cascudo no moleque, estende os braços e diz: “Vamos fazer uma festa, este meu filho estava perdido e foi encontrado. Este meu filho estava morto e voltou a viver”. José e Maria fazem festa quando encontram o seu filho Jesus em meio aos sacerdotes, em meio aos doutores da Lei. Ali nós identificamos a relação, os padres da Igreja identificam esta relação entre os três dias em que Maria e José ficaram sem Jesus para com aqueles três dias que Jesus ficou na Mansão dos Mortos.
Meus irmãos e irmãs, Jesus obedece aos seus pais: por mais que ele quisesse ficar no templo, ele volta com os seus pais para casa. E é como vemos na Primeira Leitura de hoje [Eclo 3,3-7.14-17a] que resgata para nós o 4º Mandamento. “Honrar pai e mãe”: obedecer em tudo ao pai e à mãe, cuidar do pai e da mãe, sobretudo na velhice, como diz a Palavra do Senhor. “Meu filho, ampara teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procure ser compreensivo para com ele; não o humilhes”. Nós vemos quantos pais dedicam tempo, dinheiro, fazem de tudo pela felicidade dos filhos, mas os filhos quando crescem acabam abandonando seus pais. Quantos pais, meus irmãos e irmãs, abandonados nos asilos, quantos pais abandonados nos quartinhos da vida, muitas vezes sem ninguém pra dar um banho, alguém pra conversar, dar um carinho. E nós nos lembramos de quando os pais podiam te oferecer alguma coisa, seus filhos estavam sempre com eles, mas quando não podem mais vão excluindo, deixando de lado. E a Palavra de Deus recorda para não desampararmos nossos pais, sobretudo na velhice, sobretudo quando estão perdendo a lucidez, e nós recordamos que é muito mais fácil para quem é mais jovem entender os mais velhos, do que para os mais velhos entender os mais jovens. É muito natural isso, o que não é natural da nossa parte e está se tornando cada vez mais e é contra o Evangelho são os filhos abandonando os seus pais...
Hoje nós fomos chamados a reforçar esse laço de amor, esse laço de confiança, esse laço de perdão e nos revestirmos de sentimentos que nos possibilitem viver as virtudes da Sagrada Família de Nazaré, como Paulo escreve aos Colossenses: “Irmãos, vós sois amados por Deus” e, se somos amados pelo Senhor, nós somos chamados também a amar os nossos semelhantes, a começar pela nossa família. E quem ama, meus irmãos, se reveste de alguns sentimentos, como a sincera misericórdia: quem ama, perdoa! Não existe alguém que amando verdadeiramente, condene; quem ama, perdoa. Revestidos de bondade, não de ódio, mas de bondade para com os nossos familiares; humildade, não arrogância, quantas vezes a arrogância nos afasta das pessoas que nós amamos; mansidão e paciência, quanta paciência vem faltando nos corações, quantas discussões acontecem dentro de casa entre a esposa e o esposo, os pais e os filhos, entre os irmãos, por falta de paciência. Devemos ter paciência, e paciência é uma virtude que nós conquistamos com o passar do tempo, não é porque alguém hoje é estourado que um dia não possa ter paciência, nós devemos lapidar essa pessoa como uma pedra dura para que se torne uma pedra preciosa. “Suportando-vos uns aos outros e perdoando-os mutuamente”. Amar alguém quando nós não precisamos ajudá-la é fácil, o difícil é amar quando ela nos chateia, quando ela trai a nossa confiança, quando nós nos sentimos traídos. Mas o amor verdadeiro é revestido dos verdadeiros sentimentos evangélicos. Quando amando, eu aprendo a perdoar, eu aprendo a acolher e resgatar aquele que errou e a sua dignidade, suportando como São Paulo nos ensina na Segunda Leitura [Cl 3,12-21]: “Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição.”.
Jesus nos disse: “Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito”. Se queremos esta perfeição, precisamos aprender a amar e encarnar este amor, portanto São Paulo conclui esta leitura de hoje dizendo: “Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor”: não como convém ao marido, mas como convém no Senhor. “Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas”: não é de hoje que os homens são conhecidos pela grosseria, não sejais grosseiros. “Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor”: obedecer aos nossos pais, obediência, respeito, amor, carinho. “Pais, não intimideis os vossos filhos, para que eles não desanimem”. Amar, meus irmãos, não significa agir com autoritarismo, mas com autoridade. Quem age com autoritarismo amedronta, espanta os seus filhos. Não ajam com autoridade, ajam com amor: o amor que tudo perdoa, o amor que tudo constrói, o amor que cura a ferida, o amor que corrige, o amor que apresenta o verdadeiro caminho da salvação.
Que Maria e José elevem ao coração de Deus as nossas alegrias, as nossas tristezas, os nossos medos, as nossas angústias, as nossas dúvidas e nos ajudem dentro de casa a vivermos as virtudes do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Sagrada Família de Jesus, Maria e José (Ano C) – 30/12/2018 (Domingo, missa às 10h).

Dar testemunho da Luz que chega ao mundo
25/12/2018
Estamos celebrando o Santo Natal do Senhor e, para nós, esta não é uma celebração festiva qualquer, mas é a ação de Deus se fazendo misericordioso na história da humanidade. Esse Deus que envia Seu filho para nos amar e nos salvar.
Hoje é Natal! Hoje é inaugurada uma nova história, quando Deus se encarna para nos apresentar o caminho da verdadeira humanidade, que é amar, perdoar e ouvir sempre a vontade do Senhor. Deus havia falado de muitos modos, diz a Segunda Leitura [Hb 1,1-6]: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas”. O Senhor nos havia apresentado diversos caminhos, havia falado conosco de diversos modos, mas o ser humano, muitas vezes, não ouviu e não praticou a vontade de Senhor. Por isso, o Senhor, em um gesto de muito amor e misericórdia com o gênero humano, envia o Seu filho para nos salvar.
E a encarnação do Verbo de Deus só se concretiza a partir da cruz do Senhor. É importante compreender que tal encarnação só tem sentido quando o Senhor Jesus Cristo entrega sua vida pela nossa salvação. Portanto, a festa de hoje esta intimamente ligada com a festa da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, a Festa da Páscoa do Senhor. Por isso, somos chamados sempre à conversão, como diz o profeta João Batista. A conversão deve buscar espaço no nosso coração.
O Evangelho de hoje [Jo 1,1-18] nos diz: “No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus.” Hoje a Palavra se encarna para se tornar, segundo as escrituras, luz para os olhos. Hoje o Senhor deseja iluminar nossos corações, nossos pensamentos, nossa inteligência, nossas decisões, nossa postura e nosso comportamento. João, que pregava o batismo de conversão, não era a Luz, mas veio para dar testemunho daquele que era a Luz da verdade e que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano.
Eu e você não somos a Luz, mas, como João, somos chamados a dar testemunho da Luz. Seja em casa, no trabalho, com os amigos, dentro da comunidade de fé, o Senhor espera que não sejamos trevas na vida do outro, por menor que essas trevas sejam. Ele espera que sejamos luz. Luz para iluminar os corações e os passos, para apresentar esse caminho da verdade e da paz, como anuncia a Primeira Leitura [Is 52,7-10]: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz”. Comemorar o Natal, crer em Jesus, adorar o menino Deus encarnado em nossa história – esse menino que encontra espaço no nosso coração – é celebrar esse desejo de sermos missionários, promotores da paz.
Que possamos, a partir deste Natal, anunciar – com alegria, entusiasmo e convicção – a nossa fé e, com nosso testemunho, pregarmos a paz e os valores do Evangelho. Que esse menino Deus possa ir crescendo em nosso coração, na nossa inteligência e na nossa postura. À medida que a oração for tomando espaço na nossa vida; à medida que vamos entendendo que o menino que nasce hoje vai doar sua vida pela nossa salvação; à medida que entendermos as escrituras; à medida que entendermos o tesouro da Igreja Católica Apostólica Romana; e à medida que comungarmos do Corpo e do Sangue do Senhor, que possamos ser anunciadores e promotores da paz, do amor e da misericórdia.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Missa do Dia (Ano C) - 25/12/2018 (Terça-feira, missa às 9h).

Alegremo-nos, pois hoje nasceu o Salvador!
24/12/2018
Meus irmãos e irmãs, é uma alegria nos juntarmos para celebrar o Santo Natal do Senhor! Hoje, nesta noite, cumpriram-se as escrituras: o dia tão esperado brilhou em meio às trevas! O povo que andava na escuridão, a humanidade perdida, a humanidade confusa, viu uma grande luz! Para os que habitavam nas sombras da morte – para nós, que temos sempre que lutar contra tantas e tantas trevas, como afirmam as escrituras – uma luz resplandeceu! Nesta noite, meus irmãos e irmãs, podemos comemorar, podemos nos alegrar como os que colhem os frutos do suor de seu trabalho, porque algo inacreditável, algo que parece um sonho aconteceu!
A Palavra nos diz na primeira leitura de hoje [Is 9, 1-6]: "Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza. O nome que lhe foi dado é: Conselheiro Admirável" – o Senhor que nos dá conselhos, que direciona nossa vida para a luz, para o bem, para a salvação – "Deus Forte" – diante de outros deuses, Ele é inabalável! – "Pai dos Tempos Futuros, Príncipe da Paz" – pois Ele conforta todos os corações – "Grande será o seu reino, e a paz não há de ter fim" – a partir de agora e por todo o sempre. Eis a graça! Eis a glória! Eis o mistério desta noite! Por isso a nossa alegria, por isso o nosso entusiasmo em nos encontrarmos nesta noite para celebrar a Santa Eucaristia. O Deus Fiel cumpriu o que prometeu – e ultrapassou toda e qualquer promessa! Ele é o Deus da Palavra, o Deus que jamais nos abandonou e jamais há de nos abandonar.
Nesta noite santa, uma noite tão única ao longo de todo o ano, uma noite tão cheia de amor, como são oportunas as palavras do apóstolo na segunda leitura [Tt 2, 11-14]. Observando a manjedoura, nós podemos sentir as palavras de São Paulo: "A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens" – não a alguns, mas a todos os homens! – "Ela [a graça de Deus] nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade". Ao olharmos para a manjedoura, para este pequeno e frágil menino, nós somos convidados a mudar os sentimentos do nosso coração; olhando esta manjedoura, vemos uma criança, o menino que nos foi dado, que é a graça de Deus envolvida em faixas e deitada em uma simples manjedoura. Que graça pequenina, mas que graça tão grande! Que graça tão frágil, mas ao mesmo tempo tão forte!
Em tempos de falta de fé – e quantas pessoas perdendo a sua fé... –; em tempos de desilusão, das mais diversas possíveis; em tempos de falta de esperança, nos perguntamos nesta noite: quem pode ser tão duro de coração que, diante do Deus encarnado, deste menino tão frágil, não se comova? Quem pode ser tão desumano que não se emocione nesta noite? Quem pode ser tão pecador que não queira aproximar-se do Deus da misericórdia? Quem pode ser tão insensível, com o coração tão duro, para não sentir, nesta noite, o desejo de amar, o desejo de ser bom, o desejo de promover não o ódio e a intriga, mas a paz? Quem pode ter o coração tão fechado que não permita que Deus o abrace nesta noite? Como pode haver um coração que não se permita ser abraçado por esta atmosfera religiosa que vivemos no Tempo de Natal?
Por isso a Palavra de Deus afirma: "Não tenhais medo!". Quem quer que seja você, meu irmão, minha irmã, seja qual for o seu passado, quaisquer que sejam as suas escolhas: não temas! Não tenha receio de suas fragilidades, não se afaste da graça de Deus por causa dos seus pecados, porque nesta noite o Senhor veio para todos nós, a começar pelos mais necessitados, pelos mais fragilizados. Compreenda, escute, preste atenção: hoje Deus veio ao seu, ao meu, ao nosso encontro! O Senhor veio nos trazer a paz, o amor, a Sua misericórdia; o Senhor veio para dar plenitude ao seu coração, para dar a Sua vida por cada um de nós. Hoje nasceu o Salvador! É Natal! É tempo de nos alegrarmos! Prestemos atenção no amor de Deus, porque, se somos fracos, Ele vem para nos sustentar; se somos inconstantes, Ele vem para nos dar constância e permanecer conosco, pois muitas vezes não sabemos o caminho, mas Ele se faz visível para nos apresentar o caminho que devemos seguir, basta não sermos tão arrogantes e permitirmo-nos seguir os passos que Jesus nos apresenta. Se estamos vivendo nas trevas, Ele vem para nos apresentar a luz, porque, se por nossa humanidade decaída e por nossos pecados, não podemos subir até Deus, o Senhor desce até nós, se faz humano e se encarna na nossa história para nos elevar ao grau da santidade. Nós nascemos para o alto! Nascemos para estar com Deus! Hoje essa é a nossa alegria, é a alegria da Igreja e deve ser a alegria do mundo inteiro; é a exultação dos cristãos: Cristo nasceu! Abramos, nesta noite, o nosso coração, abramos a nossa vida, abramos os nossos medos, os nossos afetos, os nossos sentimentos, nossos projetos, e permitamos que Jesus possa construir em nós tudo aquilo que está desconstruído.
Ainda no século V, o Papa São Leão Magno, considerado grande na Igreja, disse na noite de Natal: "Hoje, meus amados filhos, nasceu o nosso Salvador, alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida, uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação desta felicidade: exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida". Meus irmãos e irmãs, nesta noite santa, estejamos todos atentos, porque Aquele que vem como luz no meio da noite, vem humilde, vem pequeno, vem na fragilidade de uma criança, e somente poderá ser reconhecido se estivermos atentos: atentos aos Seus sinais, às pequenas coisas, aos irmãos mais frágeis, aos que no mundo parecem sem valor, sem importância, até mesmo sem poder. O Menino Jesus só foi reconhecido pela própria Virgem Maria, pelo humilde São José, pelos desprezados pastores, e Ele só pode ser encontrado por aqueles que ouvem e seguem os caminhos do Senhor; os soberbos, meus irmãos e irmãs, os prepotentes, os esbanjadores, os orgulhosos, jamais farão a experiência desta noite...
Que ao cantarmos o Salmo 95 (96) – "Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor" –, Deus toque o nosso coração; que ao cantarmos com nossos lábios, o Senhor alcance o nosso coração. Hoje não é uma noite qualquer, não é uma noite simplesmente para se encontrar com a família ou com os amigos; hoje é a noite em que o Senhor entregou o Seu Filho para se tornar humano e nos ensinar o que é amar, o que é perdoar, nos ensinar o que é a justiça, nos apresentar o caminho da luz e da salvação. Quantos corações nas trevas, quantos sentimentos despedaçados, quantas famílias desfiguradas, quantos jovens na prostituição, quantos jovens perdidos, quanta droga em nosso meio, quantas pessoas corrompidas, quantos sinais da desgraça... Mas a graça de Deus se encarnou e é maior do que qualquer treva! A luz do Senhor deseja brilhar em nosso coração; que você saia desta igreja hoje resplandecente, renovado, restaurado em nome do Senhor Jesus! Para que, na sua casa, no seu trabalho, na política, na educação, onde quer que você esteja, você seja um sinal de salvação, um sinal de luz, porque hoje, nesta noite, nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo, o Senhor que deseja encontrar morada na manjedoura do nosso coração! Que o nosso coração, nesta noite, se prepare adequadamente, e sejam quais forem os nossos problemas, as nossas dificuldades, as nossas mazelas humanas, que o Senhor tome conta dessa "manjedoura", tome conta dos nossos pensamentos, das nossas escolhas, das nossas palavras, para que possamos, também nós, sermos o Emanuel, o Deus-Conosco, o Príncipe da Paz, o Deus do Amor. Que o Senhor faça desta noite uma noite santa, uma noite abençoada, porque hoje nasceu o Salvador, que é o Cristo, o Senhor!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Missa da Noite (Ano C) – 24/12/2018 (Segunda-feira, missa às 20h).

O menino Jesus se aproxima
23/12/2018
Meus irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o 4º Domingo do Advento e completamos a Coroa do Advento. Com ela, pedimos a Deus que ilumine o nosso coração, a nossa casa e a nossa família e que os nossos sentimentos sejam preparados para o grande acontecimento que é o Natal de nosso Senhor Jesus Cristo.
A Igreja nos propõe leituras para nos auxiliar nessa reflexão e indagação do que Deus pede a cada um de nós. Nesta sociedade que está perdendo a esperança, numa sociedade onde os líderes estão faltando cada vez mais, em que não há mais lideranças como num passado não muito distante, a Igreja nos propõe a Primeira Leitura, o Livro do Profeta Miqueias, onde ele diz: “Tu, Belém de Éfata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará Israel”. Os profetas anunciam a chegada do Salvador. Os profetas anunciam a esperança. E nós iremos celebrar, a partir da noite de amanhã [24 de dezembro], a esperança que se encarna na história de modo diferenciado, porque o centro do mundo na época do profeta Miqueias estava em Roma, capital do império. A periferia do império era Jerusalém e Belém é a periferia da periferia. E Jesus não nasce no centro, nasce na periferia. Para que nascendo com os pobres, pudesse a partir dos mais necessitados, instaurar um reino de amor, um reino de paz, um reino de misericórdia, um reino de compaixão. Ele é o Emanuel, ele é o Príncipe da paz. Não nasce como muitos esperavam, e ainda hoje os judeus esperam, o seu messias, mas nasce de modo diferente. Nasce na cidade de Belém, Belém significa casa do pão. Jesus nasce para se tornar o pão da vida. Jesus disse: “Eu sou o pão da vida, aquele que come da minha carne e bebe do meu sangue, viverá”. Nós, meus irmãos e irmãs, bebemos deste sangue, comemos deste corpo em comunhão com este processo de transformação do coração humano. Por isso, é necessário estarmos com Deus e não como a sociedade nos propõe, essa sociedade consumista, imediatista, que vive da ilusão e da aparência, dos bens materiais.
Jesus é o sacrifício de amor encarnado na história da humanidade, como diz a Segunda Leitura, onde a Deus não agrada os sacrifícios de animais em vista da reparação dos pecados, mas o sacrifício do coração humano, ou seja, permitir que o Senhor transforme na nossa vida os nossos sentimentos. Mas o sacrifício já aconteceu, por excelência, para perdoar todos os nossos pecados. Com a encarnação de Deus na história da humanidade, nós temos a graça de um Deus que vem, vive entre os seres humanos, nos ensinando o que é amar, vivendo em tudo a condição humana, exceto o pecado. E vivendo a condição humana, Jesus nos ensina que cada um de nós pode viver no amor e o amor apresentado por Jesus é este amor que vai de encontro com as necessidades da pessoa humana.
E vemos no Evangelho de hoje, Maria, que compreendendo a ação de Deus na voz de um anjo, se permite ser um instrumento de Deus para a salvação da humanidade. E assim cada um de nós também é chamado a ser um instrumento de Deus para aqueles que precisam de um abraço, de uma acolhida, de ajuda, para aqueles que precisam de salvação. Vemos no Evangelho de Lucas, capítulo 1º, que, quando Maria recebe a anunciação do anjo, ela parte imediatamente para a região montanhosa, para a cidade da Judeia. Maria vai visitar sua prima Isabel, que estava grávida já em idade avançada e morava na Judeia, no alto de um monte. Isabel não morava no alto do monte porque ela queria. Quem morava no alto do monte, e, ainda hoje, em muitos lugares, são os excluídos, são os mais pobres. Os pobres não estão na planície, eles estão normalmente nos morros. Não sabemos a condição financeira de Isabel, mas sabemos que morava em cima do monte, onde estavam os excluídos. Sabemos que Isabel e Zacarias por não terem filhos já em idade avançada, eram excluídos da sua sociedade, da sua família, dos seus amigos, até mesmo da sua igreja. Esta mulher, Isabel, por acreditar em Deus com seu esposo Zacarias fica grávida. E Maria vai ao seu encontro para auxiliá-la. Maria poderia ter dito: “vou ficar aqui, sou a mãe do Salvador, que os anjos venham fazer as minhas unhas, os meus cabelos e me massagear”, mas não! Maria caminhou cerca de 140 km para encontrar a sua prima Isabel, foram três ou quatro dias de caminhada para este encontro. Muitas vezes existem pessoas com dificuldades próximas de nós e não visitamos. Nós, que dizemos crer no Evangelho, não vamos ao seu encontro. Maria nos ensina a ir ao encontro dos mais necessitados, Maria visita a sua prima Isabel e ao encontrá-la, diz a Palavra de Deus, que quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou em seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Um dos títulos de Maria é Nova Arca da Aliança. A Arca da Aliança continha as tábuas da Lei, os 10 mandamentos. Moisés recebe os 10 mandamentos não na planície, mas na montanha. Jesus se transfigura, professa o discurso das bem aventuranças e é crucificado na montanha, porque a montanha é sempre um lugar da presença de Deus. Deus se revela na montanha. Maria, sendo a Nova Arca da Aliança, não recebe as tábuas, mas o próprio Deus em seu ventre. O povo fazia festa quando a Arca da Aliança chegava. Davi, quando se encontrou pela primeira vez com a Arca da Aliança, dançou e festejou diante dela. João Batista ainda no ventre de sua mãe, quando se encontra com a Nova Arca da Aliança, diz a Palavra de Deus, “a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo”. Maria porta a Nova Arca da Aliança. Quando nós comungamos o Corpo de Cristo, também nós nos tornamos uma Arca da Aliança para levar esperança aos corações, a alegria a quem está triste e o amor de Deus a todos aqueles que necessitam.
Que ao cantarmos o salmo 79, Deus possa de fato iluminar a nossa vida e o nosso coração: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos”. Na proximidade do Santo Natal, se o nosso coração e os nossos sentimentos ainda estão nas trevas, se ainda não encontramos a alegria de celebrar o Santo Natal, que o Senhor toque profundamente onde mais temos necessidade para que, neste Natal, possamos nos alegrar com o nascimento do Salvador e, na alegria da nossa fé, possamos proclamar, anunciar ao mundo o quanto Deus nos ama.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo do Advento (Ano C) – 23/12/2018 (Domingo, Missa das 7h30).

Purificar o coração para celebrar a alegria do Natal
16/12/2018
Estamos celebrando o 3º Domingo do Advento, o chamado "Domingo Gaudete", que é o domingo da alegria pela proximidade do Natal do Senhor. Nos alegramos porque o Natal está chegando! Para simbolizar esta alegria, a Igreja utiliza a cor rosa. E o seu coração, já está alegre? Continue buscando a alegria em Deus – é isso que a Igreja nos pede na primeira leitura de hoje [Sf 3, 14-18ª]: "Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém!". O povo de Israel estava feliz com a libertação que se aproximava; hoje, nos encontramos para celebrar a eucaristia e estamos felizes pela proximidade do Natal do Senhor, e muitas outras coisas também podem alegrar nosso coração, mas costumamos dar muita ênfase ao que é negativo e não ao que é positivo. Talvez as crianças tenham muitos brinquedos em casa e, mesmo assim, fiquem emburradas... Quantas crianças não têm brinquedo nenhum! Então, crianças, alegrem-se! Podemos também nos alegrar por estarmos bem de saúde, trabalhando, por ter pão em nossa mesa... Há tantas coisas para nos alegrarmos! Portanto, vamos olhar para nossa vida de modo positivo.
São Paulo diz a mesma coisa na segunda leitura [Fl 4, 4-7]: "Irmãos, alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo!". A comunidade de Filipenses estava sendo perseguida por causa do Evangelho, mas Paulo a incentiva a se alegrar no Senhor, e isso vale para nós também. Se você está com problemas, se está sendo perseguido, está com alguma dificuldade... Não deixe-se abater, permaneça no Senhor! Que a sua bondade seja conhecida, e não sua maldade. Você tem sido uma pessoa boa ou má? Quantas vezes somos pessoas más dentro de casa, com nosso esposo ou esposa, com nossos filhos, nossos pais... No trabalho, quantas pessoas são más umas com as outras... Mas devemos ser pessoas boas, sempre partilhando o amor e a alegria, não ódio e discórdia.
Quando estamos com problemas, diz o apóstolo: "Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças". Se você está com algum problema, não adianta ir ao bar beber nem comer exageradamente: procure a Deus, em orações e súplicas. Neste tempo de festas, se você está com problemas, não vá causar mais problemas, venha à igreja rezar. Não adianta ir ao shopping gastar: entregue sua vida a Deus, em orações e súplicas. É isso que a liturgia de hoje nos pede.
Buscando a conversão do nosso coração, tudo é possível, por isso a Igreja nos propõe o Evangelho de hoje (Lc 3, 10-18), quando João Batista, o último dos grandes profetas, propõe o batismo com água, o batismo de conversão. Nessa conversão, muitos se aproximaram, e três grupos de pessoas fazem uma pergunta: "o que devemos fazer?". Para cada uma delas, João responde de forma diferente. À multidão, João responde: "Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!". Quantas pessoas passando necessidades e nós acumulando... Fim de ano é tempo de avaliar a vida, de avaliar nosso ano. Quantas roupas você pode ter no seu guarda-roupas que não usa há mais de um ano e não consegue se desfazer? Guardamos sem necessidade! Podemos falar também de partilhar os alimentos, como muitos fizeram hoje, no nosso Domingo da Partilha, mas tantos outros não o fazem... Podemos falar de partilhar nosso tempo, que se tornou um recurso tão escasso. Nesta ansiedade dos tempos modernos, em que dizemos que não temos mais tempo para nada, podemos fazer a escolha de partilhar nosso tempo com as pessoas necessitadas e com as pessoas que amamos, partilhar nosso tempo com a evangelização, dedicando uma ou duas horas da sua semana ou do mês à igreja, ao processo de evangelização que Jesus pede a cada um de nós. Partilha é o que o Evangelho nos diz.
Depois, aos cobradores de impostos – uma classe excluída na sociedade dos tempos de Jesus –, que buscavam a conversão pois roubavam dinheiro das pessoas, pegando mais do que precisavam, João responde: "Não cobreis mais do que foi estabelecido". Hoje, quando criticamos os políticos desonestos, será que estamos sendo justos nas pequenas coisas? Será que você não tem pego nada de ninguém? Aquele objeto que você pegou emprestado e, lá no fundo do seu coração, pensa que, se ninguém pediu de volta, pode ficar com ele.... Não permita que pequenas coisas transformem seu coração de luz em um coração de trevas.
Depois perguntam os soldados, e João diz: "Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!". Neste mundo onde falamos mal de tanta gente, temos que tomar cuidado com as acusações que fazemos, sobretudo acusações sem provas. Quantas pessoas falando mal umas das outras... Se alguém vier falar mal de uma pessoa, corte pela raiz! Fale para ela ir conversar com a pessoa. Tomemos cuidado, pois somos homens e mulheres do bem, do amor, da luz, e não das trevas, da maldade, do preconceito, do ódio.
Vamos pedir a Deus que, nesta eucaristia, nosso coração encontre paz onde lhe falta; que o nosso coração possa voltar-se para o Senhor, não permitindo que as tristezas, as angustias e as decepções nos afastem do caminho da verdade, do amor, da salvação. Apresentemos a Deus nossas dificuldades, para que Ele possa nos lavar e purificar, como no dia do nosso Batismo, para celebrarmos com alegria o Santo Natal do Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo do Advento (Ano C) – 16/12/2018 (Domingo, Missa das 10h).

Renovar a esperança e purificar o coração para o Santo Natal
09/12/2018
Nós estamos celebrando o 2º Domingo do Advento, acendemos hoje a segunda vela desta coroa. Consequentemente, chegamos à metade deste percurso em preparação para o Santo Natal. E devemos, então, nos perguntar se estamos, verdadeiramente, nos preparando para este grande acontecimento; se já preparamos a nossa casa, já montamos o nosso presépio, a árvore de Natal; se a nossa oração está voltada para este tempo do Advento, na espera do Natal do Senhor; e se estamos buscando, por meio da oração e da penitência, a conversão do nosso coração. A liturgia que a Igreja nos propõe hoje nos fala da esperança, nos fala da conversão do nosso coração e da pureza que cada um de nós somos convidados a ter quando o Senhor se encarnar na história da humanidade, na celebração do Santo Natal do Senhor.
Na primeira leitura [Br 5, 1-9], nós temos o profeta Baruc, que vê a libertação do povo de Israel que estava para acontecer. O povo já estava há cerca de 70 anos no exílio da Babilônia! Quantas pessoas ficaram para trás... Quantas pessoas morreram nesse processo de aprisionamento... Quantas e quantas pessoas perderam sua fé, no exílio da Babilônia... Quantos jovens já não mais adoravam o Deus único e verdadeiro... O povo estava perdendo a esperança, mas os profetas sempre animavam o coração e a vida deste povo, dizendo "Levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima". E hoje o profeta Baruc nos diz: "Levanta-te, Jerusalém, põe-te no alto e olha para o Oriente!" – o Senhor sempre aparece no Oriente, que, para o povo judeu, é o caminho em que nós devemos nos encontrar com este Deus da Luz – "Vê teus filhos reunidos pela voz do Santo, desde o poente até o levante, jubilosos por Deus ter se lembrado deles. Saíram de ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos. Deus os devolve a ti, conduzidos com honras, como príncipes reais". As pessoas que saíram escravizadas voltam como príncipes!
Muitos de nós, meus irmãos e irmãs, podemos por algum motivo estar também no exílio: exílio de pensamento, exílio de comportamento... Mas o Senhor nos convida hoje a abandonar esta terra que não é Dele: a nossa terra é a Santa Jerusalém! A você que está desanimado com alguma coisa na sua vida, a você que está perdendo a esperança, o profeta Baruc diz: "Levante a cabeça, olhe para o Oriente!". Deixe que o menino Deus renasça no seu coração! Você que está perdendo a esperança no seu matrimônio, na sua família: deixe o Senhor nascer mais uma vez no seu coração! Permita que o Senhor conduza seus passos e possa te fortalecer.
Nesse sentido, o Evangelho de hoje [Lc 3, 1-6] está em comunhão com a primeira leitura quando o último dos grandes profetas e primeiro profeta do Novo Testamento, João Batista, vem pregando o batismo de conversão para o perdão dos pecados. João esteve no deserto para compreender qual era a vontade de Deus para a sua vida. O Advento é uma espécie de deserto para cada um de nós quando nos colocamos em meditação, em oração, a fim de compreender o que Deus deseja para a nossa vida, e quando permitimos que o Senhor haja em nós e por meio de nós – como João Batista, o profeta que diz: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas"; em outras palavras: "Preparai a manjedoura do vosso coração para a chegada do Menino Deus neste Santo Natal, endireitai vossos pensamentos, endireitai vossas atitudes, endireitai vossos sonhos, endireitai vossos comportamentos".
Hoje o Senhor nos chama, por meio da Igreja, a convertermos o nosso coração para, assim, estarmos com ele puro para a grande celebração do Natal, como Paulo nos fala na segunda leitura [Fl 1, 4-6. 8-11]: "E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernirdes o que é o melhor". Quando o amor cresce, nós não temos ódio, não temos rancor, nós estendemos a mão ao necessitado; quando o amor cresce, a esperança jamais nos abandona. Segundo Paulo, quando o amor cresce, o conhecimento e o discernimento também crescem na nossa vida, e quantas pessoas com dificuldade de discernir entre o certo e o errado... Quantas e quantas pessoas com dificuldade em discernir entre o Natal proposto por Jesus e o Natal proposto pela sociedade moderna e consumista. "E assim", diz o apóstolo, "ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus".
A pureza é uma condição para que Jesus encontre espaço no nosso coração. Por isso, meus irmãos e irmãs, se o nosso coração está, por qualquer motivo, machucado, sujo, maltratado por pensamentos e palavras, permitamos que o Senhor nos purifique, nos lave e nos restaure, para que o que cantamos no Salmo de hoje [Sl 125 (126)] não sejam só palavras, mas uma oração de louvor, porque o Deus que libertou o povo de Israel do exílio também nos liberta dos nossos exílios; o Deus que enviou João Batista para preparar os corações para a chegada do Emanuel, também prepara os nossos corações; o Deus que purificou os corações dos Filipenses, deseja purificar o coração dos paroquianos da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus e de todos aqueles que participam do Santo Sacrifício da Eucaristia: "Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria"!
Homilia: Pe. Tiago SIlva – 2º Domingo do Advento (Ano C) - 09/12/2018 (Domingo, missa das 7h30).

Advento é tempo de vigília e esperança
02/12/2018
Meus irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o Tempo do Advento. Com este primeiro domingo, iniciamos mais um ano litúrgico. Diferente do ano civil, que inicia em 1º de janeiro, nós, cristãos católicos, iniciamos nosso ano litúrgico no Primeiro Domingo do Advento. Este ano, iremos refletir sobre o Evangelho de São Lucas. Em cada ano, nós refletimos um dos evangelistas. No Ano A, o Evangelho de Mateus; no Ano B, o de Marcos; e no Ano C, o de Lucas.
No Evangelho de Lucas, nós podemos ver, aos olhos do evangelista, este Deus que se encarna na história da humanidade por amor a cada um de nós. O evangelista, São Lucas, é conhecido por um olhar diferenciado para com os pobres e os pecadores. Afinal, todos nós somos pecadores. Um olhar diferenciado, a partir de Jesus, para com os pagãos, que se encontram com Jesus e mudam o rumo de suas vidas. E por valores humanitários, resgatando a essência do ser humano. Também, o evangelista São Lucas trata com olhar diferenciado as mulheres, a partir de Nossa Senhora, a Mãe de Jesus.
Jesus é colocado por São Lucas como o Messias, como um mestre, mas sobretudo como um fiel, Filho obediente de Deus que se encarna na história da humanidade, vivendo em tudo a condição humana exceto o pecado, nos ensinando que a partir de nossa humanidade nós podemos viver a vontade de Deus. Jesus é, para Lucas, um luzeiro, uma luz que dissipa as trevas, uma luz que diante das trevas – que nos tornam perdidos – direciona o nosso caminhar na direção correta em que nós devemos percorrer a nossa trajetória terrena. Meus irmãos e irmãs, com este início do Advento, nós estamos às portas do Natal. Sim, o Natal já está chegando. E, deste modo, somos convidados a nos perguntarmos o que significa o Advento.
Advento é tempo que antecede as grandes celebrações do Natal. São 4 domingos em que refletimos sobre a necessidade do nosso encontro pessoal, intransferível com Nosso Salvador. E quem é Nosso Salvador? Jesus. Será que estamos nos encontrando com Jesus diariamente através da oração? Será que nossos pensamentos se voltam para o Cristo? Será que nossas atitudes se voltam para o Senhor? Com eles, nós inauguramos a perspectiva final da história da humanidade, como ouvimos no Evangelho de hoje [Lc 21,25-28.34-36], não para termos medo, mas para renovarmos a nossa vigilância de que o Senhor espera que cada um de nós estejamos atentos para quando ele nascer em nosso meio. Consequentemente, no segundo e terceiro domingos, celebraremos a esperança da primeira vinda do Senhor, como vimos na Primeira Leitura [Jr 33,14-16] da liturgia de hoje. Até despontar a sua presença na Anunciação da gravidez de Nossa Senhora. E, com Maria, nós, toda Igreja, nos tornamos grávidos. Como um pai e uma mãe que descobrem que têm um filho que está para nascer, nós começamos hoje a nossa preparação para o Santo Natal do Senhor. E todo pai e toda mãe, de algum modo, prepara-se para a chegada de seu filho. Uns mais, outros menos. Nós somos convidados a preparar o nosso melhor para a chegada do nosso Emanuel, o Deus Conosco que vai nascer neste Natal. Advento é tempo de espera. Neste mundo onde tudo está muito veloz, nós perdemos o hábito ou não temos mais a experiência de esperar o tempo certo para que as coisas aconteçam, nós somos hoje convidados a acalmar o nosso coração. Você que vive em uma vida desenfreada, você que é uma pessoa que trabalha 20 horas por dia, é necessário diminuir o seu ritmo, as suas preocupações, como diz o Evangelho de hoje.
Advento é tempo de esperança. Se nós perdemos a esperança, nós perdemos tudo. Você que está perdendo a esperança em Deus, na Igreja, na fé, em seu matrimônio, em relação a seus filhos ou, ainda, em relação à sociedade, hoje a Igreja te convida a renovar a esperança porque para Deus nada é impossível. Advento é tempo de atitude. E como falta atitude para muitas pessoas! Nós criticamos demasiadamente os políticos e, no ano de 2018, isso pode ser claramente visto. Mas, e nós, que prometemos e não cumprimos? Quantas promessas fazemos para Deus e não pudemos cumprir? Quantos esposos prometem demais a suas esposas e não cumprem e vice-versa? Quantos pais iludem seus filhos e nunca cumprem aquilo que os seus lábios pronunciaram? Antes de criticarmos a nossa sociedade, é necessário voltarmos o olhar a cada um de nós e refletirmos. E de modo maduro e coerente, verificarmos se estamos cumprindo com aquilo que nos comprometemos.
Advento é tempo de vigilância. Quantas pessoas no “mundo da lua”! As coisas estão acontecendo e a pessoa não se dá conta. Vivendo longe, nas nuvens. Problemas dentro de casa e não se percebe. Problemas dentro de casa e não nos atentamos. Problemas em nossa rede de amigos e não estamos cientes. Sinais que o Senhor nos dá e não compreendemos. É necessária a vigilância mas, acima de tudo, o Advento é tempo de alegria porque com a Igreja nos tornamos grávidos. Com a Igreja, esperamos o grande acontecimento e, por isso, estamos alegres com a Anunciação e chegada do menino Deus.
A Palavra advento significa vinda, presença. No mundo antigo, indicava a presença de um rei ou de um imperador a uma província. Na linguagem cristã, refere-se à vinda de Deus, à sua presença no mundo e na história. Em um tempo não muito distante, as províncias se preparavam para a chegada do seu senhor. Se Jesus é o Senhor da nossa vida, é necessário que nós nos preparemos ao melhor modo para a Sua chegada em nosso meio. A partir deste domingo, a Igreja se veste de roxo para esperar, em atitude de vigilância, oração e penitência, este grande acontecimento: a chegada de Nosso Salvador, o Emanuel, o Deus Conosco. Por isso, a Igreja nos coloca as leituras de hoje, resgatando no nosso coração o sentido da esperança: suportar as dificuldades, os obstáculos e as perseguições da vida e estarmos atentos e vigilantes para quando o Senhor nos encontrar.
Por isso, a Primeira Leitura de hoje, do livro de Jeremias, nos diz: “eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei cumprir a promessa de bens futuros”. Os profetas são conhecidos por resgatar a esperança de seus contemporâneos. A Igreja hoje convida você, meu irmão, minha irmã, que perdeu a sua esperança seja no que for, a resgatá-la. Não seja uma pessoa desesperada, mas confie no Senhor, porque para Deus nada é impossível. Não vos deixeis roubar a esperança porque quando perdemos a esperança, perdemos tudo. E foi a esperança que fez a comunidade de Tessalonicenses permanecer firme diante das perseguições.
A Segunda Leitura, da carta de São Paulo aos Tessalonicenses [1Ts 3,12-4,2] está no contexto do ano 50 d.C., quando Paulo, depois de fazer a experiência do amor de Deus, sai pelos confins das terras conhecidas, anunciando o amor, a misericórdia e a bondade de Deus. Ao converter os corações, forma pequenas comunidades, mas por viver o Evangelho e por pregar o amor, é perseguido. E, por isso, é necessário ir para outras terras anunciar o Evangelho. Mas, Paulo descuida da comunidade de Tessalonicenses e, depois, envia Silas e Timóteo, preocupado com esta comunidade. E para surpresa de Paulo, esta comunidade perseguida por conta do Evangelho, ao invés de se dissipar, se dividir ou perder a fé, foi justamente diante das perseguições e contrariedades da vida, que a comunidade de Tessalonicenses edificou a sua fé. Fortaleceu a sua fé, sua comunidade e sua comunhão com o apóstolo.
O inimigo de Deus deseja nos ver dispersos. Deseja dividir a nossa casa, a nossa família, dividir a nossa Igreja e a nossa sociedade. Portanto, diante das perseguições, nós somos convidados a nos unir, a nos fortalecer, porque juntos somos mais fortes. Não existiu e nem existirá nenhuma comunidade que, vivendo o Evangelho de Jesus Cristo, não será perseguida. Por isso, rogo a Deus que nossa comunidade permaneça unida diante das contrariedades, das provocações e das perseguições. Para que a nossa esperança encontre força na unidade, na oração e na comunhão. E unidos em comunidades, estejamos vigilantes, como nos pede o Evangelho de hoje, que no seu contexto original nos fala da Parusia, da segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas a Igreja se utiliza deste trecho do Evangelho para resgatar em nós este desejo ou esta missão de estarmos atentos para a chegada do Senhor. Por isso, Jesus nos diz: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis”. Quantos corações insensíveis! Corações, verdadeiramente, de pedra diante da Palavra de Deus ou da experiência com o Senhor, diante dos problemas matrimonias ou familiares, diante dos pobres que encontramos em nossa sociedade, diante dos doentes que são abandonados nas casas e pelos asilos, diante dos problemas sociais, políticos e econômicos de nossa sociedade.
Por isso, o Senhor nos pede que não nos deixemos nos tornar um coração insensível diante de algumas situações. O Senhor nos fala da gula, em primeiro lugar. E isto é abordado justamente porque o Advento é tempo de festa, de confraternizações. E quanto nós desperdiçamos! Já estamos pensando no que vamos cozinhar para a noite de Natal. Quais são os diversos pratos que serão feitos. E depois ficamos comendo tudo que foi feito durante uma semana. E diz para o padre que não consegue vir na missa do dia 25 de dezembro porque tem que cozinhar muito. Espero que não venham falar mais uma coisa dessas para o padre. Dia 25 de dezembro é dia de preceito, é dia de ir na missa! Então devemos parar de dar desculpas para nós mesmos. Nós nos deixamos levar pela gula nas festas de final de ano. Quantas e quantas pessoas passando necessidade.
“Tomai cuidado com a embriaguez”. Jesus nunca proibiu ninguém de beber. E, se alguém disser isso, peça para mostrar onde está escrito. Jesus, nas Bodas de Caná, se confraternizou com os noivos. Mas Jesus, no Evangelho de hoje, diz “cuidado com a embriaguez”. Se não sabe beber, não beba. Feio não é o fato de beber. Feio é você beber e passar vergonha, não controlando o que seus lábios pronunciam, dando mau testemunho para sua família ou de sua fé. Feio e incoerente é você beber e pegar o carro para dirigir e causar acidentes e, muitas vezes, poder acabar com a vida do outro. Então saiba o seu limite.
Cuidado com as preocupações da vida. Todos nós temos problemas. Todos nós, de maior ou menor forma, estamos preocupados. E o inimigo de Deus deseja tirar o foco da centralidade da nossa vida, que é Jesus. O comércio começa a lidar com as vendas. Vemos Papai Noel por todos os lados. Árvores de Natal, trenós, urso polar e vários outros objetos. Onde é que nós encontramos Jesus?
Que nos nossos lares, com o presépio que você trouxe hoje para ser abençoado, Jesus seja o centro deste Advento e desta espera. Para que as preocupações da vida não tirem o nosso coração, o nosso olhar, os nossos sentimentos da centralidade do Santo Evangelho. Que aquilo que cantamos no Salmo de hoje [Salmo 24] possa, de fato, ser aquilo que esteja em nosso coração, uma experiência de fé. “Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma”. Que estejamos nesta missa não somente de corpo presente, mas de coração aberto e disponível para que o Senhor fale em nós e nos conduza ao verdadeiro caminho que nos levará a Belém, ao nascimento do Nosso Salvador.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 1º Domingo do Advento (Ano C) – 02/12/2018 (Domingo, Missa das 18h30).

Jesus é o Rei da Verdade, do amor e da paz!
25/11/2018
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando hoje a Solenidade de Cristo Rei. Chegamos, enfim, ao término do tempo litúrgico chamado Tempo Comum, no qual, durante 34 semanas, refletimos sobre a vida pública de Jesus e o quanto nossa vida tem correspondido às palavras do nosso Salvador. Com a Solenidade deste domingo, queremos dizer que Jesus Cristo é o nosso Rei, que nos governa com amor, conduzindo-nos ao bem e à justiça. Quem segue Jesus conhece a Verdade que vem do Pai e dá sentido à nossa vida. Neste mundo onde muitas verdades são anunciadas, somos chamados a refletir sobre a Verdade anunciada, vivida e testemunhada por Jesus.
Pilatos, no Evangelho de hoje [Jo 18, 33b-37], pergunta a Jesus: "Tu és o rei dos judeus?". E Jesus devolve a pergunta a Pilatos, Seu carrasco, questionando se ele perguntava por si mesmo ou se outros disseram aquilo a respeito Dele. Quantas vezes nós nos tornamos Pilatos, quando nos deixamos ser influenciados pelos outros nas coisas ruins... Quantas e quantas vezes somos fofoqueiros, disseminamos a discórdia, falamos mal dos outros, propagamos mentiras, falsas verdades. Cuidado com o que chega no seu Whatsapp! Quantas notícias falsas – que os meios de comunicação estão chamando de "fake news" –, e nós nos deixamos influenciar... Quando falam mal de alguém para nós, em vez de irmos perguntar o que está acontecendo, já criamos uma imagem do outro e começamos também a falar mal. Assim, nós nos tornamos Pilatos, carrascos, e vamos matando a vida do outro.
O Mestre Jesus explica que não é um rei aos moldes terrenos, com exércitos e poderes que são passageiros. O reinado de Jesus não é deste mundo, é um reinado com "gostinho" do Céu! Quem aqui não quer ir para o céu? Quem aqui não quer ter paz no coração? Mas quantos corações agitados, com ódio, com rancor... Quanta gente mal-humorada! Dentro de casa, quantas famílias em pé de guerra, quantos casais em guerra, quantos pais brigando com seus filhos, filhos brigando com seus pais... Na empresa, um querendo degolar o pescoço do outro para conseguir determinado cargo! Na sociedade civil, no campo político, quanta guerra... Este não é o modelo que Jesus nos apresenta. Seu modelo é um Reino de paz, de amor, de misericórdia, de compaixão.
Nosso Rei, Jesus Cristo, nos convida a sermos testemunhas fiéis da Verdade e, para isso, Ele nos pede duas coisas importantes, sempre contando com a graça divina que o Senhor derrama sobre cada um de nós. Primeiramente, Ele deseja que crianças, jovens, adultos, idosos, todos nós caminhemos inteiramente voltados para Deus. Para onde, hoje, o seu coração está voltado? Para onde o seu olhar está voltado? Para onde os seus sentimentos estão voltados? Para o dinheiro, para o status, para a beleza física, para um poder passageiro? Ou para a eternidade? Nosso coração deve estar voltado para a eternidade! Além disso, meus irmãos, a Verdade que Jesus anuncia no Evangelho de hoje exige também, de cada um de nós, coerência. Assim, o discípulo deve agir como Jesus diante de Pilatos: desapegado, simples, sincero. E quanto não somos apegados a coisas terrenas, que não nos ajudam a alcançar a eternidade...
Jesus nos dá uma instrução muito clara: "Todo aquele que é da Verdade, escuta a Minha voz". Diante de tanto barulho, nós temos escutado e distinguido a voz de Jesus? Porque coisas ruins, nós ouvimos – e ouvimos bem! Mas, e as coisas boas? As notícias ruins movimentam a nossa vida, e não pode ser desse modo. Deveria ser ao contrário! Quantos testemunhos bonitos nós temos nas nossas casas, no trabalho, na nossa paróquia, no nosso bairro... Testemunhos de solidariedade, de compaixão, de amor ao próximo... Mas ficamos conhecidos quando acontecem situações difíceis, como a enchente da última sexta-feira (23/11). Se não formos nós a proclamar o bem, o amor... Quem irá proclamar, meus irmãos? Ao ouvir a voz de Jesus, nós somos chamados a viver a justiça, a paz, a solidariedade, a caridade, o desprendimento.
O Evangelho de hoje nos apresenta um quadro dramático: Jesus assumindo a Sua condição de Rei diante de Seu carrasco, diante de Pilatos. A cena revela que a realeza reivindicada por Jesus não se assenta em esquemas de ambição (quanta ambição no coração do ser humano!), não se assenta em esquemas de poder, de autoritarismo ou de violência que acontecem pelos reis da terra. A missão real de Jesus é dar testemunho da Verdade, e esta Verdade se concretiza na medida em que nós, cristãos, batizados, colocamos em prática os valores do Santo Evangelho, valores de amor, de serviço, de perdão, de partilha e de luta pela vida, desde a concepção até o término natural – quando não defendemos a vida, em qualquer momento que seja, nós estamos contra o Santo Evangelho.
"Eu vim ao mundo para dar testemunho da Verdade", disse Jesus. "O que é a Verdade?", pergunta Pôncio Pilatos. E também nós, hoje, somos questionados: o que é a verdade? Quando um dicionário famoso, de Oxford, em 2016, coloca como uma das palavras mais refletidas ao longo daquele ano o termo "pós-verdade", nós nos questionamos: o que é a verdade? Verdade é verdade! Mas hoje a verdade foi relativizada: cada um cria, segundo a sua necessidade, a sua "verdade". Para nós, Jesus é a Verdade! Portanto, vamos colocar a nossa confiança em Jesus, este Jesus que é o Cristo, o Rei do Universo, que se concretiza na nossa história na medida em que nós colocamos em prática os valores do Santo Evangelho.
E hoje, na Festa de Cristo Rei, também estamos concluindo o Ano do Laicato, em que a Igreja no Brasil refletiu e deu a cada batizado a oportunidade de ser protagonista de uma nova história, de uma nova sociedade. Muitas vezes, culpam o Papa, culpam os bispos, culpam o Padre Tiago por não fazer isto ou aquilo; mas a Igreja celebrou este Ano do Laicato para que cada batizado assumisse a sua responsabilidade. E nós nos perguntamos: o que eu, batizado, tenho assumido na minha condição de leigo, de cristão católico?
Aos leigos engajados em alguma pastoral ou movimento de nossa comunidade, comprometidos com a Evangelização da Paróquia Santa Teresinha, o meu agradecimento por manterem esta comunidade viva, atuante, acolhedora. Este Ano do Laicato foi para vocês! Ele termina, oficialmente, nesta celebração, mas o compromisso e a missão de viver o Evangelho vai até o último dia de nossas vidas. Que vocês continuem amando, respeitando, cuidando desta comunidade, independentemente do pároco ou do bispo que esteja à frente de nossa Diocese. Que vocês continuem sendo uma comunidade acolhedora, de portas e braços abertos para ajudar a todos que procuram, em Jesus e nesta paróquia, refúgio e fortaleza.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, e Conclusão do Ano do Laicato (Ano B) – 25/11/2018 (Domingo, Missa das 10h).

Manter sempre renovada a esperança no projeto de Deus
18/11/2018
Meus irmãos, estamos celebrando o 33º Domingo do Tempo Comum. Chegando ao final do Ano Litúrgico, que termina no próximo domingo, a Igreja sempre nos convida a refletir sobre o final dos tempos. Não como um modo de colocar medo nos nossos corações ou desespero porque o mundo vai acabar, mas para renovar a nossa esperança neste Deus da vida, do amor e da misericórdia. E, assim, procurar também tocar em nosso coração naqueles pontos que ainda faltam com relação ao nosso compromisso diante da fé que professamos com os nossos lábios. A literatura apocalíptica, que vemos na Primeira Leitura[Dn 12,1-3] e no Evangelho [Mc 13,24-32], não é novidade de Jesus e nem de Daniel. Por volta de 300 a.C., começa uma grande corrente de pessoas – teólogos e anciãos da época – que falavam sobre o final dos tempos. E esta literatura vai crescendo, chegando à comunidade de Daniel, onde ele está inserido. Passam-se alguns séculos e Jesus também é influenciado por esta linguagem, que chega até João, que escreve o livro do Apocalipse, que é uma linguagem não para nos trazer medo, mas para renovar a esperança – como é o caso de Daniel, de Jesus e também de João – a partir das perseguições que estão vivenciando.
Sendo assim, toda literatura apocalíptica não nos leva a ficar com medo do final dos tempos, até porque nós não vivemos em função de esperar que o mundo acabe ou que Jesus volte. Mas sim em função de viver o projeto de Deus e construir o Seu Reino de amor no hoje da nossa vida, com atitudes concretas como a partilha com nossos irmãos necessitados e como muitas iniciativas que estão acontecendo ao redor do mundo e hoje. Como aqui em Santo André, na Praça do Carmo, onde muitos católicos estão ajudando moradores em situação de rua. Celebramos hoje o segundo dia mundial dos pobres e o Evangelho nos leva sempre a uma atitude comprometida. Daniel, no seu tempo, a partir de sua fé e de sua visão de mundo, procura profetizar ao povo que ele não deve perder a esperança, mas continuar mesmo diante das perseguições e das incertezas do futuro que se aproxima. Permanecer firme na fé do Deus único e verdadeiro. E àqueles que acreditavam nos astros, no deus Sol, na influência dos planetas na sua vida, Daniel utiliza da linguagem apocalíptica para dizer que o anjo virá, Miguel virá. Os anjos virão para auxiliar os filhos de Deus. “Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento”. É um novo amanhecer. Nós somos homens e mulheres da luz e não das trevas. Mas sempre nos questionamos: as nossas atitudes, sejam elas públicas ou privadas, geram luz ou geram trevas?
“Os que tiverem ensinado a muitos homens o caminho da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade”. Nós nascemos para a eternidade. Mas para chegarmos a ela, precisamos percorrer o caminho da vida terrena, mas sempre em vista da eternidade. E o que o Senhor espera de nós é que, em nossa vida terrena, possamos brilhar, iluminar aqueles que estão nas trevas. Na sua vida matrimonial, de pai, de mãe, de trabalhador, de cristão inserido na comunidade de fé, você tem brilhado para que os outros vejam a luz? Ou você tem sido um sinal de trevas, de contradição ao projeto de Deus?
É justamente, meus irmãos e irmãs, para as pessoas que vivem nesta contradição ao projeto do Senhor que o Evangelho de hoje nos ajuda a refletir de que Deus há de superar todas contrariedades da vida humana. Por mais que sejamos perseguidos, ao final, céus e terra passarão, mas a Palavra de Deus não passará. Costumamos dizer que não tem tempestade que dura para sempre. Mas quando estamos em meio à tempestade, parece que ela não passa nunca. E hoje o Senhor nos ajuda a refletir que nós devemos ser perseverantes, sobretudo nas tribulações.
Quantas pessoas com dificuldades por conta de enfermidades, de ordem financeira porque não estão trabalhando, na vida matrimonial, na educação dos filhos, no campo laboral, na vida de fé. Quantas pessoas também perseguidas pelo Santo Evangelho! Mas estas perseguições não duram para sempre. Elas são, nas palavras de Jesus, passageiras. E, assim, o Senhor nos convida a lembrar a parábola da figueira. “Quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto”. Daniel se utiliza da linguagem dos astros. Jesus se utiliza da linguagem de uma figueira para dizer que, depois do inverno, chegará a primavera e o verão, com novos brotos nascendo. Quais são os sinais de esperança que nós podemos enxergar com os nossos olhos? Sinais de esperança em nossa vida matrimonial, na educação de nossos filhos, na vida de nossa comunidade, na nossa sociedade política e econômica. É sempre necessário, como diz Jesus, enxergarmos os pequenos brotos, os pequenos sinais que indicam que uma nova estação está começando. Que uma nova primavera, em nossa vida, há de ser iniciada.
Portanto, por mais que estejamos angustiados, tristes, abatidos, como dizia a liturgia do domingo passado, “não vos preocupeis”. Assim como diz a liturgia de hoje: “não vos deixeis roubar a esperança”. Nós somos homens e mulheres da esperança. Que esta luz que brilha nas trevas e indica o caminho da eternidade possa iluminar o nosso coração, a nossa inteligência e a nossa vida para que, mesmo diante das mais variadas tribulações, possamos manter os olhos fixos em Jesus e, com Ele, morrermos para o pecado e ressurgirmos para uma vida nova, no seu amor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 33º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 18/11/2018 (Domingo, missa às 10h).

Entregue suas preocupações e confie no Senhor, teu Deus
11/11/2018
Estamos celebrando o 32º Domingo do Tempo Comum. São 36 semanas em que a Liturgia nos conta sobre a vida pública de Jesus Cristo, nosso Senhor. E hoje, a Igreja nos convida, na proximidade desse final de ano litúrgico, a refletir sobre o nosso testemunho, ou melhor, o testemunho que aparentamos, que muitas vezes não corresponde com o que o nosso coração de fato está vivenciando e, depois, a confiar no Senhor porque muitas vezes dizemos com os lábios que confiamos, mas quando as situações se apresentam, abandonamos a Deus ou não depositamos plenamente a nossa confiança no Senhor.
Neste sentido, o Evangelho de hoje (Mc 12,38-44) nos diz que Jesus, quando no templo de Jerusalém, começa a observar os doutores da Lei, homens que se vestiam bem, que conheciam as Sagradas Escrituras, conheciam a doutrina, conheciam os 613 mandamentos. Mas não viviam aquilo que Deus pedia verdadeiramente a cada um deles, eles viviam uma religião de aparências. E assim, cada um de nós é convidado hoje a refletir, rezar e ponderar, cada um no seu próprio coração: nós estamos vivendo uma religião inteiramente do fundo do nosso coração ou vivemos de aparências? Nós somos convidados, então, a permitir que Deus venha converter o nosso coração, venha transformar aquilo que deve ser transformado em nossa vida. Pense e escolha algo que deve ser transformado em sua vida e peça para Jesus para que Ele transforme a sua vida, o seu matrimônio, o seu comportamento, as suas palavras. Devemos pedir a Deus que transforme algo em nossa vida. O que não podemos é continuar vivendo de aparências, isso o Senhor não quer de nenhum de nós.
Do outro lado, Jesus observa as pessoas que depositam suas ofertas no templo de Jerusalém, e então observa que algumas pessoas muitas ricas ofertam muitas moedas, mas, no meio da multidão, existe uma senhora viúva que deposita apenas duas moedas de cobre, que não valiam quase nada na época. Jesus então pergunta: qual é a oferta que mais agrada a Deus? A das pessoas que tem muito dinheiro, mas não doam de coração verdadeiramente ou a daquela senhora que doou apenas duas moedas do pouco que tinha para sobreviver, mas as consagra mesmo assim? Aqui o Senhor está nos dizendo que não é sobre a quantidade do que nós ofertamos, mas da qualidade, devemos ofertar de fato aquilo que queremos compartilhar com Deus, e confiar no Senhor como o Evangelho nos diz: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. O sentido não é sobre a quantidade, mas sobre a qualidade da nossa oferta. É como ofertarmos o nosso tempo a Deus, e muitas vezes ofertamos aquele tempo que sobra e não o tempo que queremos verdadeiramente oferecer ao Senhor. Isso se dá também dentro de casa, o esposo com a esposa, os pais com os filhos, oferecem um tempo que sobra e não aquele tempo reservado, escolhido, aquele tempo em que eu desejo estar com as pessoas que eu amo. Como os catequistas de nossa comunidade, sejam dos jovens, das crianças e dos adultos, eles ofertam o tempo que é necessário, e não o tempo de sobra. Assim cada um de nós é convidado a refletir sobre a nossa vida: se estamos oferecendo ao Senhor e às pessoas que amamos aquilo que deve ser de fato oferecido ou se é somente aquilo que nos sobra.
Na Primeira Leitura (1Rs 17,10-16), temos a figura de Elias, um homem de Deus, um profeta, que por anunciar a verdade e denunciar as injustiças é perseguido. Ele então toma a decisão de fugir para o deserto, lá ele faz diversas experiências de Deus e uma dessas experiências fundamentais da sua trajetória de conversão é seu encontro com a viúva de Sarepta, pois, no deserto, em primeiro lugar, ele encontra uma viúva com água na mão, que é uma riqueza imensa, e então pede um pouco de água, a viúva sem hesitar dá água para o profeta Elias. A água é símbolo da pureza e da restauração, símbolo da vida, pois onde tem água, tem vida. E essa viúva oferece esse símbolo da vida para o profeta Elias, que não contente apenas com a água ainda pede um pouco de pão e ela diz: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. Eles não tinham mais nada para comer! E então o profeta Elias diz para a viúva: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’.”. A mulher confia no homem de Deus e cozinha para o profeta Elias aquele pedaço de pão e diz a palavra de Deus que enquanto não chegou a próxima chuva, a quantidade de farinha e a quantidade de azeite não diminuía na casa daquela senhora, pois ela confiou em Deus. E somos convidados também a confiar em Deus, mas para confiar em Deus é necessário estarmos atentos aos sinais que Ele, o próprio Deus nos apresenta. Talvez estejamos como aquela senhora desesperados porque não temos alimento, porque estamos desempregados, porque temos enfermidades, problemas em nossa família, na nossa vida, mas se não confiarmos em Deus como conseguiremos superar os obstáculos? A palavra do profeta Elias é para cada um de nós hoje: “não te preocupes!”. E quantas vezes estamos preocupados demasiadamente com situações que não precisamos nos preocupar, pois, se nos confiassemos um pouco mais em Deus, conseguiríamos possíveis soluções de modo mais tranquilo.
É necessário então que hoje nós reflitamos sobre o nosso comportamento diante de Deus e diante dos homens. É necessário refletirmos se nosso comportamento reflete aquilo que nossos sentimentos dizem no fundo do nosso coração. Hoje somos convidados a refletir se estamos dando ao Senhor aquilo que nos sobra, ou aquilo que de fato ousamos oferecer a Deus e as pessoas que amamos. Somos chamados a ouvir a voz do Senhor, e diante de tantas preocupações do dia a dia, deixarmos com que a palavra do profeta ressoe em nosso coração: “não te preocupes, não te preocupes”.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 32º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 11/11/2018 (Domingo, missa às 10h).

Ter a Santidade como meta de vida
04/11/2018
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando a Solenidade de Todos os Santos, uma festa que, originalmente, é celebrada no dia primeiro de novembro, mas alguns bispos da América Latina, e inclusive do Brasil, pediram autorização para celebrá-la sempre no domingo depois do dia primeiro, quando este não cai no domingo. Isto foi feito para que a comunidade reunida pudesse celebrar o dia da intercessão de todos os santos, refletir sobre a importância de todos nós buscarmos a santidade e, em terceiro lugar, de trazermos em nossos corações aqueles homens e mulheres que, embora não sejam venerados nos altares das igrejas, alcançaram a santidade e estão diante do Senhor.
Na Segunda Leitura da Liturgia[1Jo 3,1-3], nós ouvimos João dizendo: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu, de sermos chamados filhos de Deus”. Nós ganhamos um presente que é sermos denominados “Filhos de Deus”. E aquilo que seremos ainda não foi revelado em sua plenitude, mas será quando deixarmos que a Graça de Deus, a Palavra do Senhor, encontre espaço no nosso coração, nas nossas vidas. Nós nascemos com uma vocação muito especial: nascemos com a vocação para a eternidade. Deus chama a cada um de nós para a eternidade.
Tem uma música que eu gosto muito que diz: “O meu lugar é o céu, é lá que eu quero morar!”. Oxalá todos os cristãos pudessem pensar deste modo, que um dia queremos estar na morada eterna, contemplando o Senhor com os santos e com os anjos. Este é o nosso caminho a ser terminado ao longo da nossa vida. Mas para isso, meus irmãos e irmãs, é necessário que nós nos sintamos fazendo parte desta grande família de Deus que, nas palavras de João, na Primeira Leitura do livro do Apocalipse [Ap 7,2-4.9-14], está entre os 144 mil eleitos. Não é um número fechado, porque sabemos que na Bíblia os números são sempre simbólicos, números teológicos. 12 tribos de Israel multiplicado por 12 mil daria os 144 mil. Ou seja, todo o povo de Deus está chamado a esta vida de santidade. Uma santidade que não se traduz simplesmente em rezar o terço, orações devocionais, participar da missa – o que é necessário e fundamental. É necessário que toda a nossa devoção venha acompanhada de um compromisso completo. Por isso, João diz que os 144 mil foram lavados, alvejados no Sangue do Cordeiro.
Quando nós somos batizados qual é a cor da roupa do batismo? Branco, pela pureza. Nós somos chamados a sermos puros para Deus, e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo lava o nosso coração, lava os nossos pecados, purifica os nossos sentimentos, as nossas atitudes. Porque o Senhor nos quer com o coração puro, comprometido e com a palma na mão, como aborda a Primeira Leitura. Todos os 144 mil estavam com a palma na mão. E a palma simboliza o martírio, aqueles que deram a vida por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Em outras palavras, o Senhor nos quer comprometidos com a causa do Santo Evangelho. Não apenas com aquilo que agrada, com aquilo que é mais fácil. O Senhor nos quer, plenamente e inteiramente, comprometidos com Ele, a partir da nossa condição de vida, a partir do matrimônio, a partir do trabalho e do nosso envolvimento na comunidade de fé. E este compromisso vai se tornando cada vez mais real, na medida em que as bem-aventuranças vão encontrando espaço nas nossas atitudes. Como, por exemplo, estas bem-aventuranças que precedem o ensinamento da oração do Pai Nosso[Mt 5,1-12a] – que rezamos todos os dias –, que estão ligadas não somente à oração que Jesus nos ensinou, mas também a essa busca de santidade.
Podemos trocar a palavra: “Bem-aventurados os pobres em espírito”, por exemplo, por “Santos os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”; “Santos os aflitos porque serão consolados”; “Santos os mansos porque possuirão a Terra”; “Santos os bem-aventurados, santos os que tem fome e sede de justiça porque serão saciados”; “Santos os misericordiosos porque alcançarão a misericórdia”; “Santos os puros de coração porque verão a Deus”; “Santos os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus”; “Santos os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”; “Santos sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim”; “Santos, alegrai-vos e exaltai porque será grande a vossa recompensa no céu”.
Nessas bem-aventuranças, meus irmãos, nós somos chamados a permitir que o Senhor purifique o nosso coração com Seu Sangue. Somos chamados a tomar posse dessa palma que simboliza o compromisso com o Santo Evangelho. E, a partir da nossa condição de vida – casados e solteiros, jovens ou idosos, trabalhadores ou estudantes –, buscarmos vivenciar o Santo Evangelho. São Josemaría Escrivá, fundador da Opus Dei, um santo que admiro muito, pregava que devemos santificar o mundo pelo trabalho. Imagina se todo cristão santificasse o seu ambiente de trabalho a partir da sua fé. Com certeza, o ensino seria outro. A ciência estaria tomando um outro rumo, a política seria diferente, todas as entidades teriam inseridas dentro delas a mensagem do Santo Evangelho. O Senhor requer de nós este compromisso de santificarmos a nossa vida, a partir do estado, da condição que nós vivemos. Temos aqui alguns santos que proclamaram esta vontade de Deus, de ser santo. Santa Teresinha do Menino Jesus que dizia “Eu sou aquilo que Deus pensa de mim e não aquilo que os outros desejam que eu seja”.
Nós somos chamados a permitir que o Senhor modele o nosso coração e não a sociedade. Quantas pessoas se deixam ser moldadas por aquilo que dizem que ela é ou que ela deve ser e não por aquilo que Deus espera de nós! Tomemos o exemplo dos pais de Santa Teresinha, São Luis Martin e Santa Zélia. Eles, a partir do matrimônio, viveram a santidade. Ela tinha um pequeno negócio e evangelizava a partir dele. O seu esposo também tinha um outro negócio, era comerciante, e evangelizava a partir do comércio. Não deixavam de se confraternizar, não deixavam de participar de festas, mas não deixavam também de participar da Santa Missa todos os dias. Temos aqui São João Paulo II que disse que o mundo precisa de santos de calça jeans. Escandalizou metade da Igreja quando ele disse isso, dizendo para os jovens que eles não deveriam deixar de ser jovens para serem felizes, para serem santos. É na sua juventude que deveriam encontrar a santidade.
Quantas pessoas acreditando que vir na igreja é chato. Não, ao vir para a igreja, ao aceitar Jesus em nossa vida, nós encontramos a alegria, nós encontramos o entusiasmo. Na Igreja, nós temos até as ciências, temos um observatório astronômico no Vaticano, por exemplo. Na igreja, nós temos premiação para as pessoas que buscam através da ciência transformar a sociedade. Na Igreja, nós temos aqueles como a Madre Tereza de Calcutá, que ajuda os pobres, e hoje é reconhecida não só pelos cristãos, mas pelos homens e mulheres de boa vontade, pois as suas atitudes transformaram o coração do seu irmão.
Assim, meus irmãos e irmãs, nós somos chamados hoje a colocar a santidade como uma meta a ser alcançada por cada um de nós. Que o Espírito Santo de Deus, que conduziu o povo no deserto até a Terra Prometida e que conduz a Igreja diante dos desafios, possa conduzir esta comunidade de fé hoje reunida em torno da Palavra e da Eucaristia para que, com a intercessão dos santos, nós alcancemos, em nossa vida, aquilo que Deus deseja de cada um de nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Todos os Santos (Ano B) – 04/11/2018 (Missa das 10h).

O nosso lugar é o céu
02/11/2018
Meus irmãos e irmãs, nos encontramos hoje para celebrar a Eucaristia na esperança da ressurreição dos mortos e de que um dia todos nós nos encontraremos diante do Senhor para aceitarmos a sua misericórdia, porque o nosso lugar é o céu. Nós fomos criados para a eternidade, mas, para alcançar esta eternidade, é necessário buscar a santidade em nossa vida. Vida eterna, santidade, valores éticos, morais e religiosos é o que a mídia menos está falando nestes dias.
Ouvimos falar muito do Halloween, uma experiência, uma cultura mexicana que migrou para os Estados Unidos e, de lá, para o mundo inteiro. E nos últimos dez anos aproximadamente, vem se incorporando na cultura brasileira, mas não se fala mais sobre a ressurreição, não se fala sobre o sentido de buscarmos uma vida ética, uma vida moral, não se fala sobre os valores que a nossa sociedade está cada vez mais perdendo. É um contraponto muito estranho diante da opção dos votos do povo brasileiro, que votaram, na sua maioria, em um candidato ortodoxo, um candidato cuja campanha procurava resgatar valores. É um contraponto no qual a nossa sociedade está se encontrando, e nós como cristãos devemos resgatar alguns valores. O primeiro deles é que a Celebração dos Fiéis Defuntos está ligada estreitamente a vida eterna e a ressurreição. E esta ressurreição não é possível sem falarmos da Festa de Todos os Santos, que em alguns países católicos, como a Itália, por exemplo, é feriado nacional.
A Celebração dos Fiéis Defuntos está ligada ao primeiro dia de novembro, quando celebramos a Festa de Todos os Santos, porque o Senhor deseja que cada um de nós busque a santidade, a partir da nossa vida, das nossas escolhas, da nossa postura. E esta santidade vai se encarnando na nossa vida, na medida em que os valores do Santo Evangelho vão ocupando espaço no nosso coração. E é justamente o que São Paulo escrevendo à comunidade de Romanos, uma comunidade que não acreditava na ressurreição, vem nos apresentar: “Irmãos, todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” e todos nós batizados somos filhos de Deus, nós que aceitamos Jesus Cristo em nossa vida devemos nos deixar ser conduzidos pelo Espírito Santo de Deus. E como é difícil hoje nossa sociedade se deixar ser conduzida, porque nós queremos fazer aquilo que nos agrada e não aquilo que o Senhor espera de cada um de nós. Como filhos adotivos, todos nós clamamos “Abba – ó Pai!”, uma intimidade com Deus, que todos nós somos chamados a ter a partir da nossa oração, a partir das nossas intenções, a partir da nossa reflexão bíblica, mergulhando nas Sagradas Escrituras. E se São Paulo diz que somos filhos de Deus é porque somos também herdeiros, herdeiros de um Reino eterno, herdeiros da misericórdia do Pai, herdeiros da Boa Nova, da boa notícia do Santo Evangelho.
A encarnação de Jesus, aquele que venceu o pecado e a morte, abre as portas do paraíso a cada um de nós, revelando um brilho. É aquilo que o profeta Isaías nos disse na Primeira Leitura [Is 25,6a.7-9]: “Naquele dia, se dirá: “Esse é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado”.”. A nossa esperança está nas mãos do Senhor como cantamos no Salmo 24 da liturgia de hoje: “Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma”. Não devemos deixar para buscar a Deus na finitude da nossa vida, quando nos encontramos diante de uma enfermidade ou em idade avançada, somos chamados a buscar a Deus todos os dias da nossa vida, este Deus que alivia as angústias do nosso coração como nos diz o salmo, este Deus que defende a nossa vida e nos liberta do cativeiro da escravidão, este Deus que nos liberta de pensamentos contrários ao Seu projeto de amor.
Quando nos abandonamos nas mãos de Deus, as palavras de São Paulo se revelam, em nós e através de nós. Toda a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos de Deus. E como se revelam os filhos de Deus? Buscando viver a santidade, buscando viver o projeto de Deus em nossa casa, no matrimônio, no trabalho, na escola, no lazer, na nossa vida cotidiana, deixando o Espírito Santo conduzir a nossa vida e deixando com que a encarnação do verbo de Deus se revele nas nossas atitudes, atitudes que devem ser bem corretas como diz o Evangelho de hoje [Mt 25,31-46]: “Eu estava com fome e me deste de comer; eu estava com sede e me deste de beber; eu era estrangeiro e me recebeste em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar (...). Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!”. Será que nós estamos dando de comer a quem tem fome? Estamos dando de beber a quem tem sede? Estamos acolhendo os estrangeiros, aqueles que não têm teto, que não têm moradia? Aqueles que não têm roupa nós estamos vestindo? Daqueles que estão doentes nós estamos cuidando? Aqueles que estão na prisão, será que nós temos visitado?
Vamos pedir ao Senhor que a Sua misericórdia toque o nosso coração nesta Eucaristia, que celebramos pelos fiéis defuntos. Que nós possamos, com a nossa vida, com a nossa busca pela santidade, concretizar as palavras do Santo Evangelho e quando a graça e a misericórdia de Deus se apresentarem diante de nós, na finitude da nossa vida terrena, possamos aceitar a misericordiosa graça e bondade do Senhor, porque iremos receber a coroa da justiça por vivenciar o Santo Evangelho. Que o Senhor acolha as nossas preces e o nosso coração angustiado. Que o Senhor acolha as nossas necessidades físicas, espirituais e, de modo carinhoso, aqueles irmãos e irmãs que partiram para a morada eterna. Que essa Eucaristia nos ajude a rezar pelos fiéis defuntos e praticar na nossa vida de modo concreto os valores do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Celebração dos Fiéis Defuntos (Ano B) – 02/11/2018 (Sexta-feira, missa às 10h).

Fé e liberdade para seguir Jesus
28/10/2018
Queridos irmãos e irmãs, vejam que Liturgia da Palavra interessantíssima! Nós sempre procuramos encontrar sentido e ligação – de maneira resumida, porque seria quase impossível trabalharmos as três leituras e o salmo dentro de uma santa missa de 1h – entre a primeira leitura e o Evangelho. Isso não quer dizer que a segunda leitura e o salmo sejam menos importantes, porque senão nem na liturgia constariam. Mas, de maneira bem direta, a liturgia de todos os domingos do Tempo Comum pode sempre ser entendida com este ponto de partida: a primeira leitura e o Evangelho.
E hoje a primeira leitura [Jr 31, 7-9] nos traz, na boca do profeta Jeremias, um dos maiores profetas do Antigo Testamento, uma situação muito difícil para o povo de Israel. No fundo, é como se Deus fizesse uma espécie de chamada de atenção, um puxão de orelha. Porque havia, na sociedade judaica, uma discriminação, uma forma de tratamento totalmente desigual para com qualquer pessoa que tivesse algum tipo de deficiência física ou mental. Era quase como que uma afronta! Muitos pensavam que uma pessoa que tivesse qualquer tipo de deficiência representava um castigo que Deus havia dado a seus pais por algo de errado que eles tinham feito. Imaginem vocês a dor dessas pessoas naquele tempo: sem grandes recursos, com a própria limitação física – que, de certa forma, os impedia de ter uma vida normal – e, somada a tudo isso, a maior e mais difícil dor, que era a dor do preconceito. No entanto, isso, para a lei judaica, era tido como algo normal, porque aqueles que não nasciam “perfeitos” não eram abençoados por Deus.
E eis que, quando damos um salto até o Evangelho de hoje [Mc 10, 46-52], nos surpreendemos com a cena que o evangelista narra! Marcos inicia esse curto trecho dizendo que Jesus estava saindo de Jericó e indo a outra cidade, como ele sempre fez ao longo de seu ministério. E atenção aos detalhes: Jesus estava saindo de Jericó sozinho? Não. Quem o acompanhava na saída? Seus discípulos e uma multidão, provavelmente, pessoas que haviam conhecido Jesus durante o tempo em que Ele ficou em Jericó. A maior surpresa vem, justamente, nesse momento: uma caravana enorme de pessoas deixando aquela cidade e um homem começa a gritar. “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. E este homem não era um homem qualquer, era um homem cego. Filho de Timeu – na palavra “Bartimeu”, que a própria escritura diz, “Bar”, em hebraico, significa filho: filho de Timeu, aquele que estava cego.
A grande pergunta que eu faço a vocês: como é que um homem cego, no meio de uma multidão de pessoa, sabia que Jesus estava passando? Aqui podemos abrir um leque de interpretações, mas muito provavelmente ele deve ter ouvido alguém comentar que Jesus estava passando – o Evangelho diz que ele era cego, mas não surdo. Imediatamente, o espírito de fé brota dentro daquele homem e ele não só diz, mas ele grita! Quando uma pessoa grita, significa que aquilo é extremamente importante para ela. É diferente de você chamar uma pessoa. Quando você grita, no fundo, é quase que um sentimento de desespero, é quase que um pedido de socorro. “Será que esse Jesus vai me ouvir?”. E a multidão, o ajuda ou atrapalha? Atrapalha! Em vez de facilitar a vida do cego, o repreende: “Cala a boca! Fica quieto! Deixa Jesus passar, ir embora tranquilo”. E o cego continua a gritar, até que Jesus para e o convida para ir junto Dele. Finalmente, alguém da multidão diz uma frase que é chave em todo esse Evangelho de Marcos: “Coragem! Levanta-te porque Ele te chama”. Dizem os estudiosos que alguém, dentre aquela multidão, teve essa sensibilidade e disse: “Levanta-te! Tenha coragem! O Senhor está te chamando”.
Diz Marcos que Bartimeu é levado até Jesus, que nos surpreende logo de início perguntando ao cego o que ele queria. Mas se Jesus já tinha visto que ele era cego, será que não era meio óbvio que ele queria recuperar a vista? Por que Jesus ainda pergunta a ele? A atitude de Jesus não é, simplesmente, algo de imediato, mas Jesus dá àquele homem a liberdade de escolher o que ele achava melhor naquele momento. E o cego diz: “Eu quero ver! Quero ser curado!”. Os estudiosos sempre chamam atenção para este ponto: Jesus poderia, talvez, não ter atendido aquele pedido, mas Ele atende. E qual é a lógica deste momento tão bonito e tão forte? É importante nos atentarmos ao final do Evangelho: assim que esse homem é curado, ele retoma seu caminho e passa a seguir Jesus. Ele não só recebe uma graça como coloca esta graça à disposição do mestre e passa a segui-Lo em Seu itinerário.
Quantas questões nós podemos levantar nessa liturgia! A primeira delas: diante de uma pessoa que tem algum tipo de deficiência, seja ela qual for, qual é a nossa primeira reação? Uma vez, eu participei de um treinamento em que um rapaz simplesmente entrou na sala onde estávamos com uma cadeira de rodas. A reação das pessoas foi imediata: todos pararam e começaram a olhar. E a grande pergunta do palestrante era esta: por que uma cadeira de rodas causa em nós um impulso, uma repulsa tão grande? Por que, diante de uma pessoa que tem qualquer tipo de deficiência física, nós temos parece que uma angústia, um medo, uma tristeza? Isto não é para ser moralista nem apontar o dedo para ninguém, é para chamar atenção a algo que é típico da nossa natureza humana. Humanamente, naturalmente nós nos afastamos destas situações. E é por isso que é preciso um exercício tão grande para nos conscientizarmos disso e não deixarmos que este impulso molde nossa maneira de agir.
Para a grande pergunta – se a multidão ajudava ou atrapalhava o cego – nós acabamos de dizer que atrapalhava. Mas eu pergunto: quantas vezes nós também não agimos igual à multidão? Quantas vezes a gente não impede as pessoas de verem Jesus Cristo? Quantas vezes, talvez pelo preconceito, pelo medo, às vezes até pelo desconhecimento, nós não impedimos uma pessoa de ter uma vida plena? Não só dentro da igreja, mas no próprio trabalho, na vizinhança, na comunidade... Esse é o grande desafio que a liturgia de hoje nos chama a atenção.
E uma outra questão que podemos levantar: vocês já perceberam que Deus sempre nos trata com o maior dom que Ele nos deu, que é o dom da liberdade? Repito: Jesus poderia não ter atendido o pedido daquele homem, mas Ele fez questão de fazer valer a liberdade dele. E assim também Deus faz conosco. Nosso grande problema, enquanto seres humanos, é que nós pensamos que Deus deve nos atender na hora, do jeito e da forma que nós queremos. E aqui começam, sem dúvida alguma, as nossas grandes crises de fé. “Por que eu peço para Deus e Ele não me atende?”; “Por que manifesto a Ele um desejo e isso não acontece agora?”. Porque o nosso padrão de raciocínio, a nossa lógica é diferente da lógica de Deus. O nosso tempo é diferente do tempo de Deus. A nossa maneira de julgar o que é certo e o que é errado é diferente do julgamento de Deus. A Deus compete, sim, Sua graça e Sua bondade, mas a nós, antes de mais nada, compete uma palavrinha-chave falada no início da nossa reflexão: a fé. Se eu não tiver fé, nada acontece. E o fato de eu ter fé não significa que eu vá conseguir tudo do jeito, na hora e da forma que eu quero. Mas ter fé significa, antes de tudo, confiar. Assim como aquele cego, que usou do grito para ser ouvido – não precisamos, obviamente, gritar com Deus, mas que nossa oração seja tão intensa como a de alguém que sabe que Nele está sua única força e salvação. Agora, quando esses pedidos serão atendidos, a forma como eles serão encaminhados... Gente, tudo a seu tempo!
No coração de Deus, o mistério da vida faz sentido em todos os momentos. Talvez, para nós, não; mas para Ele, sem dúvida alguma, tudo está ligado e tem um grande sentido. Por isso, neste domingo em que, praticamente, encerramos o Mês Missionário, vamos pedir ao Senhor que sejamos mais atentos a Sua Palavra, menos cegos diante das realidades que nos circundam e que esta nova fé, assim como ao cego que foi curado, nos impulsione a sermos, como ele, discípulos e discípulas do Mestre que nos chama. Que Ele nos ajude nesta missão!
Homilia: Frei José Hugo Santos – 30º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 28/10/2018 (Missa das 10h).

O cristão serve aos irmãos, busca o bem e evita o mal
21/10/2018
Neste domingo, em que rezamos pelas missões, o Evangelho [Mc 10, 35-45] vem nos ensinar o que é ser discípulo, seguidor de Jesus Cristo. "Quem quiser ser grande, seja escravo, seja aquele que serve; quem quiser ser o primeiro, seja o último, aquele que se coloca a serviço". Jesus nos deu o exemplo. Ele foi anunciado pelo profeta Isaías, como ouvimos na primeira leitura [Is 53, 10-11]: Aquele que se fez servo e sofredor, que carregou os pecados da humanidade sobre os ombros, que não se esquivou, que aceitou humilhação, perseguição. Ele se fez Salvador, como nos diz a segunda leitura [Hb 4, 14-16]: em tudo se fez semelhante ao homem – em tudo! Na dor, no sofrimento... Menos no pecado, porque era Filho de Deus.
Assim, estimados, nós também, pelo batismo, somos filhos de Deus. Todos sabemos a data do nosso nascimento, mas poucos se lembram a data em que foram batizados. E a data do nosso batismo é de fundamental importância. Na sociedade, nós somos identificados por números. Se você for se apresentar em algum lugar, não vão querer saber seu nome, mas, primeiramente, qual é o número da sua identidade e/ou CPF. Em nosso último papel, a certidão de óbito, vai constar nosso número. Na sociedade, somos números. Mas na data do nosso batismo nós recebemos um nome que ficará na memória para sempre, até a eternidade!
Irmãos, é inconcebível alguém querer seguir Jesus Cristo e continuar na vida de pecado. Jesus nos dá o exemplo. E vejam que hoje dois dos apóstolos caem nessa tentação. Tiago e João. "Mestre, quando estiverdes na Tua glória, deixe que um fique à Tua esquerda e outro à Tua direita". Pretensão. Ser seguidor de Jesus Cristo por interesse, para ter status. Não! Ser seguidor de Jesus é serviço, é enfrentar obstáculos muitas vezes; é ser alguém de Deus, e ser alguém de Deus é buscar o bem e evitar o mal – em tudo e com todos.
Ontem, fui ao supermercado e havia um grupo de uma igreja do bairro. Uma vez por mês, um grupo da paróquia reúne alguns produtos e oferece para quem está na fila de pagamento, se não gostaria de colaborar com algum daqueles alimentos – arroz, feijão, azeite... Gente, é impossível que quem vai gastar R$ 200 não possa colaborar com um quilo de feijão que custa R$ 2 e pouco. É inconcebível! Eu falo por mim, não por ser padre, mas por ser humano: vou me negar a comprar algo para alguém que precisa comer? Não é cristão quem faz isso. São gestos concretos simples, como o que hoje, neste Domingo da Partilha, vocês fizeram.
Hoje também é o domingo em que se reza e se faz um gesto concreto para o sustento dos missionários que estão mundo afora. Por esses dias, fiquei muito contente ao saber que a filha de uma prima minha do Sul, que mora nos EUA, foi para a África ser voluntária após 2 anos de espera. E por que 2 anos de espera? Porque são tantas as pessoas que se dispõem ao voluntariado que tem fila! Eu não sabia que isso acontecia. Veja como existem pessoas boas que se colocam a esse serviço de missionários. Médicos, dentistas, professores... A Igreja precisa de todos! Até alguém que pode ajudar a fazer uma horta, quem sabe mexer com a enxada ou com uma pazinha... Todos são bem-vindos! E existe muita gente querendo fazer isso: no Haiti, na África, em vários estados aqui do Brasil onde muitas e muitas pessoas precisam de ajuda. É isso que nós esperamos dos filhos de Deus.
E mais. Ontem eu estava de folga e fui assistir televisão. Mas, infelizmente, dava desgosto! Domingo que vem nós vamos às urnas... Vejam que, no Evangelho de hoje, Jesus critica: "Tiago, João, não é isso! Não cabe a mim decidir pelo lado direito ou esquerdo. Se quiserem ser grandes, sirvam, ajudem, sejam discípulos. Não por aparência! Não por interesse! Façam o bem, evitem o mal. Acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Sereis batizados com o batismo com que eu serei batizado?". Jesus estava conduzindo ao que Lhe ia acontecer. "Serei perseguido, serei flagelado, serei crucificado. Vocês aceitam isso?". Para chegar à glória, a vida é dura, árdua. Amar a Deus, muitas vezes, requer o próprio derramamento de sangue. E aí eu ligava ontem a televisão e via nossos infelizes candidatos... Como é triste para nós brasileiros quando temos candidatos que não apresentam propostas, mas querem ser eleitos mostrando os podres do outro. Que país é este? Esperamos propostas, alguém que queira o bem e não apontar o dedo para o outro. O Papa Francisco tantas vezes insiste em dizer; o próprio Evangelho nos diz: tire a trave do teu olho e não tente apontar o cisco que está no olho do outro.
Irmãos e irmãs, tudo que aqui tivermos – casas, apartamentos, carros... – vai ficar. Para os outros! E, muitas vezes, para os outros brigarem, para terem mais e mais do que os outros. Muitas vezes, a herança é a ocasião da briga entre irmãos que sempre se deram bem, mas depois, por causa do dinheiro, se tornam inimigos. Que possamos aprender. Sejamos sinais de Cristo! Tudo o que aqui fizermos ou deixarmos de fazer, um dia, Deus vai nos perguntar.
Homilia: Pe. Rafael Toillier – 29º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 21/10/2018 (Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária, Missa das 10h).

Sabedoria e prudência para seguirmos, livremente, a Deus
14/10/2018
Estamos celebrando o 28º Domingo do Tempo Comum e hoje relembramos mais um capítulo da vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja nos convida a refletir sobre a sabedoria e sobre as situações que nos aprisionam e impedem de vivermos livremente o projeto de Deus. E quantas são as coisas que acabam nos prendendo e limitando para que Deus aja através de nós!
Na Primeira Leitura [Sb 7,7-11], quando os sábios de Israel – os anciãos – se juntaram e refletiram sobre a importância da sabedoria na vida daqueles que desejam adorar a Deus e seguir Sua vontade, chegaram a comparar a sabedoria ao próprio Deus. Em outras palavras, alcançar a sabedoria significa alcançar o próprio Deus. Sabedoria, que nem sempre é o mesmo que inteligência, pois várias pessoas são inteligentes, mas pouco sábias para acolher a vontade de Deus, para viver seu projeto de amor e praticar a fé no cotidiano da sua vida.
Por isso, a Primeira Leitura nos diz: “Orei, e foi-me dada a prudência; supliquei, e veio a mim o espírito da sabedoria. Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza”. Como é necessário rezarmos para termos prudência, antes de falar, de agir e tomarmos decisões em nossa vida! Quantas decisões tomamos por impulso e depois ficamos por longos anos nos lamentando? Quantas palavras que machucam o coração humano saem despejadas de nossos lábios nos primeiros 5 segundos de raiva, após alguém ter nos ofendido, nos magoado ou dito alguma coisa que não queríamos ouvir?
Portanto, a prudência é algo necessário a cada um de nós. Sermos prudentes ao falar, ao tomar decisões, ao orientar alguém. Enfim, sermos prudentes sempre, ao longo de nossa vida. E, à medida que eu vou orando e alcançando a prudência, a sabedoria vai se colocando na minha vida e no meu coração, com a Graça do Senhor. Essa sabedoria que me faz compreender que o ouro, a prata e as riquezas nada são quando comparados à sabedoria que vem do Senhor. Pois muitas pessoas buscam viver apenas para ter lucro, riquezas. Não trabalham para viver, mas sim, vivem para trabalhar. Quantas pessoas conhecemos, muitas vezes, com problemas no matrimônio, na educação dos filhos ou demais questões familiares porque não dedicam tempo a sua família, às pessoas que amam. Quantas pessoas vivendo de aparências, trabalhando para trocar de carro todo ano, para trocar celular a cada 6 meses e comprar roupa de grife! E assim, acabam vivendo, muitas vezes, por aparência.
E o que Deus deseja, de verdade, é o nosso coração, os nossos sentimentos. Portanto, à medida em que eu rezo, oro e clamo a Deus, o Senhor vai moldando o meu coração. E hoje o Senhor deseja moldar o nosso coração naquilo que devemos abandonar para segui-lo livremente. Por isso, a Igreja nos propõe o Evangelho [Mc 10,17-30], que narra a passagem quando uma pessoa rica se aproxima de Jesus e pergunta: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”. E aqui os biblistas chamam a atenção para este homem que chama o mestre de bom. Nem sempre o mestre é muito bom, sobretudo no tempo de Jesus, em que eram muito firmes e enérgicos. Hoje também recordamos os professores, homens e mulheres que nos ajudam a vivenciar os valores da verdade, da justiça, da prudência e do amor. Queremos colocar nesta Eucaristia todos os educadores que nos ajudaram a caminhar e amadurecer. Todos aqueles que, ainda hoje, continuam ajudando nossas crianças, jovens e, muitas vezes, os adultos a descobrirem a verdade, reforçando o que o Evangelho do Senhor nos diz: “conhecereis a verdade e ela vós libertará”.
Jesus foi duro e direto com o homem rico, dizendo: “vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”. Os professores também, de vez em quando, precisam ser firmes com seus alunos, com seus educandos, e falar sempre a verdade. Pois existe o ponto de vista do professor (a verdade do professor), o do aluno (a verdade do aluno) e a verdade em si. E muitos professores, infelizmente, hoje pregam, anunciam ou formam o outro apenas a partir da sua própria verdade e não da verdade como ela é. Por isso também nossa sociedade está sendo influenciada por tantas ideologias, por tantos valores contrários à ética, à moral e aos bons costumes. Nós somos chamados, como cristãos, a defender nossos valores na escola, na universidade, onde quer que seja. Quando falarem mal da igreja, da fé e de Jesus, temos que defender!
O homem rico, então, sai entristecido pois Jesus disse que ele deveria dar seus bens aos pobres. Nesse Evangelho, somos convidados a identificar o que nos impede de seguir Jesus Cristo livremente. Para aquele homem, era a sua riqueza. Jesus não disse, no Evangelho, que “todo mundo deve doar seus bens aos pobres para me seguir”. Disse isso, especificamente, àquele homem, pois eram as suas riquezas que o impediam de seguir a Jesus. O que está nos impedindo hoje, de seguir a Jesus? Será que são as riquezas? Será que é nossa busca desenfreada pela beleza, pelo corpo perfeito? Será que são nossas ideologias político-partidárias? Será que são algumas pessoas que estão fazendo parte da nossa vida que são obstáculo? Situações, lugares, sites de internet... seja o que for, deve ser abandonado, para podermos seguir Jesus Cristo livremente, com o coração aberto.
Peçamos, nesta Eucaristia, do fundo no nosso coração, que a nossa oração, como nos ensinam os sábios de Israel, nos dê a prudência para entendermos o que está acontecendo antes de tomarmos decisões. Que a nossa oração nos ajude a abandonar tudo e qualquer situação que não contribui para que o Evangelho seja vivido por nós e através de nós. Independentemente de quais sejam os sentimentos que estão nos impedindo de seguir Jesus, que hoje, pelo sangue precioso de Nosso Senhor, eles sejam purificados e, assim, sejamos libertos. Que possamos defender a nossa fé, nossos valores e, deste modo, possamos lutar por um mundo mais junto, fraterno e igualitário, seja na igreja ou na sociedade.
Homilia: Pe. Tiago Silva - 28º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 14/10/2018 (Domingo, missa das 10h).

Sejamos intercessores como nossa Mãe Do Céu
12/10/2018
Hoje celebramos nossa Mãezinha do Céu, sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Ela, a mãe de Jesus, que em 1717 apareceu aos pescadores, homens necessitados da misericórdia de Deus, que precisavam levar peixe para casa. Nossa Senhora aparece num momento em que o povo brasileiro sofria, sobretudo os menos favorecidos: os escravos, os negros... Ela, Maria, vem ao encontro do seu povo, sobretudo daqueles que mais precisam do seu amor maternal. Ela, que aparece àqueles pescadores, mudando o rumo de sua vida, também deseja habitar em nossos corações, nos dando a graça de refletir sobre a graça de seu filho Jesus, sobre a Sua misericórdia, sobre o Seu amor sacrifical por cada um de nós e assim, meus irmãos e irmãs, poder com a sua intercessão junto ao seu filho Jesus, mudar o rumo da nossa vida.
Todos nós, mais ou menos, temos algo para mudar em nossa trajetória: mudar o rumo de nosso pensamento, mudar o nosso comportamento, mudar as nossas reações diante das situações, sobretudo sobre aquelas que não conseguimos controlar, mudar nosso pensamento sobre a educação, mudar nosso pensamento sobre os valores familiares, mudar nosso pensamento sobre o engajamento social e político em vista da transformação da realidade que nos interpela, onde o povo brasileiro está cada vez mais perdendo os seus valores. E se em 1717 a escravidão era somente aos negros e uma escravidão de mobilidade, hoje a escravidão se reveste de muitos outros modos: nossa escravidão do modo de pensar, nossa escravidão do modo de compreender a Igreja e os valores evangélicos, a escravidão do nosso modo de compreender os valores familiares, nossa escravidão do modo de deixar que os meios de comunicação transformem e eduquem o nosso modo de ser e de agir.
Hoje Nossa Senhora deseja interceder ao coração de Deus para que também nós possamos nos libertar das nossas escravidões e assim como ela intercedeu pelo povo brasileiro em 1717, temos na Primeira Leitura de hoje [Est 5,1b-2; 7,2b-3], uma mulher muito bela, que saída de uma situação de escravidão, tem a possibilidade de mudar os rumos de sua vida, esquecendo o seu povo que estava escravizado, mas diante de uma oportunidade que se apresenta por causa de sua beleza, onde o rei diz a Ester: “Peça o que quiseres e eu te darei, ainda que seja a metade do meu reino”, esta mulher se recorda do seu povo, o seu povo escravizado, o seu povo maltratado, o seu povo que estava prestes a sofrer o assassinato. Ela intercede pelo seu povo dizendo: “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for do teu agrado, concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo”. A tradição cristã católica vê em Ester uma prefiguração desta mãe de Jesus que intercede pelo seu povo. Maria, que intercede por cada um de nós que estamos nas nossas escravidões, Maria intercede junto a seu filho Jesus, sendo a sua Mãe. Ester intercede pelo seu povo, estando diante do rei. Por quem nós podemos interceder hoje? Por quem nós podemos interceder? Pelas pessoas que estão passando necessidades, fragilidades. Os pais que trazem as crianças hoje a esta igreja e podem interceder por elas, os padrinhos que podem interceder por seus afilhados, os catequistas de nossa comunidade, do batismo, da primeira eucaristia, da perseverança, do crisma, do setor pré-matrimonial, podem interceder por aqueles que aqui estão catequisando.
Nós somos chamados hoje a sermos intercessores, na nossa fé em Jesus, na nossa devoção a Nossa Senhora, e a partir dos valores que defendemos, valores estes, meus irmãos e irmãs, que se colocam no Evangelho de hoje [Jo 2,1-11] revestidos de uma atitude muito humana de Nossa Senhora, quando ela, ao observar que na festa de casamento faltava vinho, pede a intercessão do seu filho. Maria é aquela que observa o que acontece ao seu redor, será que nós estamos observando o que está acontecendo ao nosso redor? O que está acontecendo na nossa casa? Na nossa casa que talvez esteja faltando o vinho da alegria, vinho do amor, vinho do perdão. Será que nós estamos observando o que está acontecendo no nosso país? Onde o cidadão brasileiro, tantas e tantas vezes, vota de forma inconsciente, de forma descompromissada, de um povo brasileiro que vota em artistas das mais diversas realidades, não se importando se estas pessoas têm condições ou não de nos representar diante do governo, no poder legislativo, judiciário, executivo. Será que nós estamos observando a educação de nossas crianças? Crianças que tantas vezes são depositadas nas escolas, que são deixadas para que outros as eduquem quando os pais e padrinhos não estão se comprometendo com a educação de seus filhos, sobretudo com a educação moral, sobretudo com a educação religiosa. E depois nós nos questionamos por que falta alegria? Por que falta harmonia dentro dos nossos lares? Por que o nosso país está direcionado para um caminho de tristeza? Talvez porque nós não nos sentimos corresponsáveis pela alegria daqueles que fazem parte da nossa família, talvez porque nós não nos sentimos corresponsáveis pelo futuro da nossa nação. Se Maria não tivesse sido corresponsável pela alegria daqueles noivos, ela não teria intercedido junto ao seu filho Jesus. Talvez nós não nos sentimos responsáveis por tantas realidades dentro de casa, no matrimônio, na sociedade e até mesmo dentro da nossa igreja, na Paróquia Santa Teresinha, nós também não estejamos intercedendo.
Nós somos chamados, meus irmãos e irmãs, a interceder! Interceder mesmo quando aqueles por quem nós intercedermos não nos compreendam. Jesus num primeiro momento não compreendeu sua mãe. “Mulher, minha hora ainda não chegou!”. Tantas vezes nós também podemos ser incompreendidos, mas não é por isso que vamos desistir. Maria num gesto humilde, num gesto simples, vira para os serviçais e diz: “Fazei tudo o que ele vos disser.”. Quando nós realizamos o que Jesus deseja para cada um de nós, nós resgatamos o vinho da alegria. Talvez, meus irmãos e irmãs, nós não estejamos realizando o que Jesus pede a cada um de nós. O que é que Jesus está pedindo para a sua vida? Para a sua vida de fé? Pessoalmente? Qual é a água que precisa ser transformada em vinho de alegria? Dos seus pensamentos, das suas atitudes? O que é que Jesus está pedindo para a sua vida profissional? O que deve ser transformado na sua vida profissional? O que Jesus pede para o seu matrimônio? Algo deve ser transformado no seu matrimônio. O que é que Jesus está pedindo para a sua vida familiar? Talvez para você dedicar mais tempo àqueles que você ama. Talvez para você desfrutar um pouco mais daqueles que estão ao seu redor. Talvez Jesus esteja pedindo para você festejar um pouco mais a alegria da vida, na qual nós trabalhamos e trabalhamos e não encontramos tempo para desfrutar a vida. Talvez Jesus esteja pedindo para você dedicar mais tempo à educação dos seus filhos e você não dedica tempo suficiente aos seus filhos. Enfim... Jesus está nos pedindo algo hoje, e o que é que Ele nos pede?
Roguemos a Nossa Senhora que, assim como defendeu o seu filho do dragão que o desejava devorar, ela também nos defenda das ciladas do inimigo. Que Nossa Senhora defenda os valores familiares e cristãos, que Nossa Senhora defenda a educação das nossas crianças, que Nossa Senhora defenda o nosso imenso país, essa Terra de Santa Cruz, para que juntos como uma única nação, que busca as verdades, que busca o vinho da alegria, que busca o vinho do amor, que busca o vinho da misericórdia, nós possamos juntos lutar para que a alegria encontre espaço no coração do povo brasileiro. Que Maria Santíssima, hoje sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, nos cubra com seu manto imaculado!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Ano B) – 12/10/2018 (Sexta-feira, missa das 10h).

Precisamos permitir que Jesus molde o nosso coração
07/10/2018
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando o 27º Domingo do Tempo Comum, quando a Igreja nos convida a meditar sobre a dureza do nosso coração. É devido a dureza do coração humano que tantas fragilidades acontecem na nossa vida, na nossa casa, na nossa família, na Igreja e também na sociedade. É refletindo sobre essa dureza do coração humano que hoje somos convidados a meditar se nós estamos buscando um coração de carne para realizar a vontade de Deus em nossa vida.
Contextualizando o Evangelho de hoje, nós vemos os fariseus que são homens “fanáticos” pela Lei, queriam viver a Lei pela Lei, sem entender a vida do outro, o contexto e a história por trás daquela pessoa, afinal toda pessoa que é acusada, discriminada ou recriminada tem uma história, um contexto, uma vida. E são justamente esses fariseus que vão por Jesus à prova no Evangelho de hoje [Mc 10,2-16], quando perguntam a Jesus se é permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. E aqui, Jesus se encontra diante de um dilema. Se Jesus diz que é permitido, Jesus está indo contra tudo aquilo que ele estava pregando sobre o amor, a misericórdia, a compaixão, sobre a vida matrimonial como um sacramento, como a vontade de Deus se realizando na vida do casal. Se Jesus diz que não, Jesus está indo contra a lei de Moisés e aí então os fariseus teriam motivo para condená-lo. E é nesse contexto que Jesus irá dizer: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”.
E fato é, meus irmãos e irmãs, é devido a dureza do coração do ser humano que muitas leis são instituídas, que muitas leis são decretadas, porque se todos nós fizéssemos o que deve ser feito, do modo que deve ser feito, nós não precisaríamos de leis. Mas é justamente porque o ser humano não segue a verdade, a justiça, o amor, a paz e a misericórdia e tantos outros conceitos que a lei precisa ser instituída. Não precisamos ir longe. Essa semana, fui visitar uma das mais de 30 pastorais em nossa paróquia, e refletindo com eles eu perguntava: porque que vocês não entregam as folhinhas, as planilhas, os relatórios que o padre pede? Sabe o que disseram? “Padre, a gente fica na esperança de que o senhor vai esquecer e não vai cobrar”. Mas depois de quatro anos, será que ainda não desistiram disso? Eu vou cobrar uma semana, três, seis, oito, dez até que me entreguem! As folhinhas, os relatórios, as planilhas surgiram, porque as coisas não estavam devidamente alinhadas. Foi decidido que deve ser entregue 5 dias depois o determinado relatório porque não entregavam. Mas se entregassem o padre precisaria decretar? Não, não precisaria. E quantas outras leis na sociedade, na Igreja são instituídas, porque nós não realizamos a nossa parte e normalmente porque estamos com o coração endurecido. Os jovens criaram uma expressão mais bonita, né? Coração peludo. Quanta gente de coração peludo por aí! Querendo fazer tudo ao seu modo, do seu jeito, a partir do seu próprio ponto de vista.
E é justamente por causa do coração endurecido que o divórcio, os pecados e tantas mazelas da vida humana acontecem, porque se nós não tivéssemos um coração endurecido, o divórcio não aconteceria. Quem é que se casa pensando em separar? Ninguém. Eu pelo menos desconheço, a não ser que seja para aplicar o golpe do baú, né? Existe isso ainda?! Mas ninguém casa esperando se separar. Se casa buscando uma vida a dois, sendo um só coração, uma só alma, construindo uma vida juntos. Mas quando um ou dois vão permitindo com que o seu coração se endureça, falta o diálogo, o perdão, a compaixão, a solidariedade, acolher o outro, entender o outro a partir do seu contexto, do seu ponto de vista daquela determinada situação. E aí, o matrimônio está de fato condenado ao fracasso, porque permitimos que o nosso coração vá se endurecendo. E quantos corações duros, quantos matrimônios onde uma das partes ou as duas têm o coração duro, meus irmãos.
Quando se casa, não se vive mais sozinho, isolado, mas se vive uma comunhão de amor. O próprio livro do Gênesis, na Primeira Leitura de hoje [Gn 2,18-24], nos diz: O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só”. Deus identificou que o ser humano não foi criado para viver sozinho, isolado, no seu individualismo, mas para viver em comunhão. E, por isso, Deus o faz cair em um sono profundo, há quem diga que se Deus não tivesse feito cair em sono profundo, o homem não teria deixado tirar uma costela dele para fazer a mulher. E é dessa costela que Deus cria a mulher para ser a sua companheira. Hoje a Palavra de Deus diz que os dois deixarão pai e mãe e construirão uma família em igualdade. Igualdade: homem e mulher iguais perante de Deus, com os mesmos direitos, os mesmos deveres, as mesmas obrigações, respeitando, é claro, a vocação do pai, a vocação da mãe, os dons do homem, os dons da mulher, mas juntos construirão uma família. E quando eu digo juntos, significa caminhar juntos, significa tomar as decisões juntos, enfrentar os problemas juntos e não sozinhos, separados. Mas quantos casais já casam, já marcam o casamento, dizendo “o nosso contrato matrimonial é em separação total de bens”? Já começa daí, já começa dizendo que queremos viver uma vida matrimonial ou um contrato familiar, mas onde você administra os seus bens e eu administro os meus bens. Que amor é esse no qual não se coloca tudo em comunhão?
Ainda essa semana, ouvindo uma rádio aqui em São Paulo tem uma advogada que responde toda semana a algumas dúvidas de família. Então o esposo recebeu de herança uma casa e a vendeu. Quando ele disse para a esposa que vendeu, a primeira frase da esposa foi: eu quero a metade do dinheiro para eu administrar. E lá, a advogada então refletia sobre a vida a dois, onde o casal é convidado a administrar juntos os seus bens, as suas riquezas... Mas quantas famílias são assim hoje onde um administra os seus bens, o outro administra os seus bens e não colocam em comunhão de amor para juntos decidirem a sua caminhada. Onde vai parar esse matrimônio? Num simples contrato. E onde está aquela visão fiel, aquela visão de fé, na qual eu te prometo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amar-te e respeitar-te todos os dias de nossas vidas e não apenas quando convém. Quantas pessoas amam apenas quando convém! Se amamos apenas quando convém significa dizer que nós estamos com nosso coração endurecido. E hoje o Senhor nos pede um coração de carne para podermos amar, para poder respeitar a esposa, o esposo, respeitar os nossos pais, respeitar os nossos filhos, respeitar a nossa família. Se não tivéssemos esse coração endurecido, o divórcio não aconteceria. Isso é fato.
E aqui, meus irmãos, eu quero dizer algo para vocês: embora Jesus defenda o matrimônio e, essas são as palavras de Jesus, Jesus não deixa de acolher cada pessoa com a sua história, com o seu rosto. O que eu quero dizer com isso? Que a sua história se ao seu primeiro matrimônio não deu certo, essa história só compete a você. Jesus te ama! Que fique claro isso para você. A Igreja te ama. A Igreja te acolhe com a sua história, com seus erros e com os seus acertos e te pede apenas um coração de carne. Quantas histórias bonitas nós temos em nossa comunidade de pessoas que estão vivendo o segundo matrimônio, tiveram filhos e se respeitam, se amam, trilham um caminho juntos e é isso que Deus nos pede. Não permita que o seu passado direcione o seu futuro. Digo e repito: Jesus te ama. Jesus te acolhe. A Igreja te ama. A Igreja te acolhe. O que ele pede e que você deixe Jesus moldar o seu coração. Devido a sua situação de vida, não se sinta abandonado, não se sinta excluído. Nós te amamos. Nós queremos você junto aqui em nossa comunidade. Nós queremos formar essa grande família de amor e trilharmos esse caminho de fé, de vida e de santidade. Não permita com que o seu passado te paralise, como a mulher de Ló. Quando Deus, ao identificar uma família que seria salva na cidade de Sodoma e Gomorra, pediu a Ló e sua família uma única coisa: que não olhassem para trás. A família inteira saiu da cidade de Sodoma e Gomorra, somente a mulher de Ló olhou para trás e virou uma estátua de sal. A reflexão bíblica desse trecho nos diz que quando nos deixamos aprisionados ao passado nós não conseguimos caminhar para uma vida nova. Independente do seu passado, independente dos seus erros e dos seus acertos, Deus deseja te salvar. Não permita que o seu passado determine o seu futuro. Digo e repito: Jesus te ama. A Igreja te ama. Nós te acolhemos e queremos caminhar juntos.
E este coração de carne deseja ainda refletir sobre o individualismo que, neste dia em que, nós da Igreja Católica, refletimos sobre a defesa da vida no dia em oração pelos nascituros. É devido a este coração endurecido que tantos abordos acontecem na nossa sociedade. Quantas e quantas mulheres gostariam de engravidar! Na nossa paróquia, quantas mulheres gostariam de engravidar! Quantos homens gostariam de ser pais e não podem. E quantas outras que podem e saem abortando a torto e a direito. Fato é, meus irmãos, o aborto é um assassinato e não tem outra palavra para discriminar. É pecado, nós defendemos a vida desde a sua concepção até o término natural. Nós estamos vivendo uma era onde a sociedade está dando mais valor para os animais do que para o próprio ser humano. Ontem tivemos aqui o dia inteiro de bênção para os animais, foi o dia inteiro de gente passando por aqui com seus bichinhos declarando o amor, declarando o carinho. Que bom, que maravilha o coração de Deus está feliz! Mas será que faríamos a mesma coisa para defender a vida? Em quantos países o aborto já está legalizado, onde assassinar uma vida humana não lhe dá sequer uma multa financeira, mas se você matar um bichinho, te dá muitos anos de cadeia. Qual o valor da vida humana? Qual o valor que nós estamos defendendo? Como nós estamos lidando com a vida humana? Essa história de a mulher dizer “meu corpo, meu direito”, eu concordo! Mas com o seu corpo, com o seu direito, não com o corpo que está dentro do seu ventre, não com a vida que está dentro de seu ventre, é uma outra vida. E tudo que acontecer com ela é sim responsabilidade sua, responsabilidade do pai dessa criança. Nós precisamos defender e valorizar a vida. Essa é a nossa fé. Essa é a fé que professamos. Essa é a fé que defendemos.
Que ao celebrarmos essa Eucaristia o Senhor nos dê um coração de carne, e nos faça capaz de sair do nosso individualismo, da nossa visão fechada, equivocada ou mesmo limitada da vida humana, da condição familiar e da condição matrimonial. Que este coração não se cale, nos ajude a lutar pela família, pela felicidade, pelo bem e, acima de tudo, pela vida e dignidade da vida humana.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 27º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 07/10/2018 (Domingo, missa das 18h30).

Ter um coração humilde, como o de Santa Teresinha, para ouvir a voz do Senhor
01/10/2018
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando a Festa de nossa Padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus! Hoje, nós nos alegramos, e com certeza o coração de nossa Padroeira também está em festa lá no céu. Foram seis missas ao todo, e muita gente passou por aqui durante este dia. Louvado seja Deus! Com certeza, Santa Teresinha está feliz! E nossa paróquia também está feliz, porque, unida, preparou esta festividade e, ao longo de todo o dia, estivemos acolhendo peregrinos e devotos de Santa Teresinha. Que nossa comunidade continue a crescer nesta unidade, neste amor e devoção à Santa Teresinha, nossa Padroeira.
Ao recordar Santa Teresinha, meus irmãos e irmãs, nós recordamos a necessidade de que nossa devoção nos leve a viver as virtudes desta santa que veneramos. Santa Teresinha buscou viver, em tudo, o amor. Assim, também eu e você somos convidados a viver este amor que perdoa, que luta, que constrói, que busca ouvir a voz do Senhor e praticar Sua vontade. Por isso, em comunhão com a Igreja, na primeira leitura proposta para nós hoje [Jó 1, 6-22] temos a figura de um homem de muita fé – como muitos devotos de Santa Teresinha – que, embora perdendo sua riqueza, perdendo sua família, manteve sua fé inabalável. E nós também somos convidados, embora passando por dificuldades e tribulações, a continuar confiando em Deus.
Santa Teresinha, aos 14 ou 15 anos, foi ao Papa pedir para entrar no convento. Ela perdeu sua mãe muito jovem, mas não se deixou abater; consagrou sua vida a Deus, consagrou a alma da sua mãe ao coração de Deus e continuou trilhando o caminho da vontade do Senhor. Santa Teresinha viveu 4 anos com tuberculose, quando ainda não tinha cura, e, segundo os biógrafos, jamais pronunciou uma palavra de murmuração, de reclamação. Quantos de nós não vivemos reclamando de tudo? Está chovendo, reclama. Está sol, reclama. Se tem uma coisa, reclama. Se tem outra, reclama. E é reclamação para cima e para baixo. Nós devemos é agradecer a Deus pelo que Ele nos concede! E quantas coisas o Senhor já nos concedeu...
Deus tem muitas coisas a realizar na vida de todos nós, mas é necessário que tenhamos um coração simples, humilde, que não busque privilégios, mas realizar a vontade do Senhor. E, assim, nós nos encontramos no Evangelho de hoje [Lc 9, 46-50]. Jesus ia em direção a Cafarnaum, dizendo a Seus discípulos que deveria sofrer, ser rejeitado, morrer por causa de nossos pecados, mas que iria ressuscitar. E o que é que os discípulos estavam discutindo? Quem era o maior! Recordar Santa Teresinha hoje, diante deste Evangelho, é recordar que devemos ter este coração humilde, simples, que não busca privilégios. Por isso, Jesus pega uma criança e diz: "Aquele que quiser ser maior no Reino dos Céus, que seja como uma criança". Criança que ama, que perdoa... Que, quando cai e se machuca, dali a pouco se levanta e já volta a brincar. Criança, que jamais perde a esperança de que pode ser feliz! E, assim, também nós, cada um de nós, devotos de Santa Teresinha, devemos ter, no fundo do nosso coração, este ardente desejo de ter um coração simples, humilde, como o coração de nossa padroeira.
É à medida que nosso coração vai se tornando humilde que ouvimos a voz do Senhor. Quando temos um coração autossuficiente, quando somos arrogantes, não encontramos espaço para deixar Deus falar ao nosso coração. Santa Teresinha do Menino Jesus era uma mulher humilde, uma mulher simples que buscava, constantemente, ouvir a voz do Senhor, como cantamos no Salmo 16 (17): "Inclinai o vosso ouvido e escutai-me!". Que possamos, também nós, inclinar o nosso coração, inclinar talvez a nossa autossuficiência, a nossa falta de fé, nossas tristezas, nossas decepções, nossos maus pensamentos para ouvir o que Deus tem a nos dizer. Que Santa Teresinha do Menino Jesus nos ajude a mergulhar na graça do Senhor. Que Santa Teresinha, dos céus, derrame uma chuva de rosas, uma chuva de graças sobre todos nós. Sejam quais forem nossas tribulações, nossas angústias, nossos medos: o Senhor tem um propósito para cada um de nós! Que nesta eucaristia possamos nos encontrar, possamos ouvir a voz do Senhor e viver a plenitude do amor, a exemplo de Santa Teresinha do Menino Jesus.
"Senhor Jesus, aqui estamos, reunidos em Teu nome, venerando Santa Teresinha, esta pequena santa do amor. Ajudai-nos a inclinar nossos corações, nossos pensamentos e a ouvir a Sua voz. Que possamos superar as tribulações, os medos, todo sentimento de trevas que possa existir no nosso coração. Toca, Senhor, o nosso coração, como tocastes profundamente o coração de Santa Teresinha do Menino Jesus. Venha a nosso encontro, Senhor Jesus, e fazei com que o que cantamos com os lábios encontre espaço no nosso coração".
Homilia: Pe. Tiago Silva – Segunda-feira da 26ª Semana do Tempo Comum (Ano B) – 01/10/2018 (Dia de Santa Teresinha – Festa da Padroeira 2018, missa das 19h30).

Deus age, indistintamente, sobre cada um de Seus filhos
30/09/2018
Caríssimos irmãos e irmãs, mais uma vez, gostaria de saudar a cada um de vocês por ocasião desta celebração da Festa da Padroeira. Esta preparação para celebrar a Festa da Padroeira de nossa paróquia é um momento importante da nossa vida de fé, da nossa vida de cristão. Aliás, eu costumo dizer que existem três festas litúrgicas que para nós são muito importantes. Vou começar pela celebração do Natal, porque ela significa celebrar a nossa fé e a nossa acolhida ao verbo que se fez carne e habitou entre nós. A outra festa importante acontece a partir da Semana Santa, que é a celebração da Páscoa do Senhor. Celebrar a Semana Santa significa ter a coragem de acompanhar Jesus em todo seu processo de Paixão e Ressurreição, morrer com Jesus e ressuscitar com Jesus. E a outra é justamente a Festa da Padroeira ou do Padroeiro que, no caso de vocês, é Santa Teresinha, aquela que vos acompanha desde a fundação desta paróquia.
Alguém conversava comigo um pouco antes da celebração e se falava que, em breve, em 2020, esta paróquia vai celebrar 80 anos da sua criação. Agora, pense comigo: quantos leigos e leigas, padres e fiéis já não passaram por essa paróquia. Então nós temos que ser agradecidos a eles e a elas, pois a gratidão é algo importante na nossa vida. Sempre insisto que devemos ser agradecidos às pessoas que vieram antes de nós! Quantas pessoas não gastaram suas vidas e seu tempo porque acreditavam que valia a pena deixar tudo isso para os que viessem depois? Também esperamos que aqueles que vierem depois de nós também sejam agradecidos por aquilo que realizamos.
Hoje, dia 30 de setembro, último dia do mês, estamos encerrando o tradicional Mês de Bíblia aqui no Brasil. E, às vezes, alguém pode cair na tentação de achar que só em setembro que nós devemos ter esse carinho e atenção com a bíblia. Claro que não! O mês de setembro é para chamar ainda mais nossa atenção.
Isso me faz lembrar a história de um padre que foi à casa de uma senhora e disse para ela pegar a bíblia e fazer uma leitura de um determinado trecho. Então, a senhora trouxe a bíblia e disse que não saberia ler o texto porque perdeu os óculos e não sabia onde eles estavam. Então o padre se prontificou para ler o texto e, ao abrir a bíblia, o padre encontrou os óculos dela lá dentro. Vemos, então, que é preciso ter cuidado com a Sagrada Escritura. É isto que a igreja quer dizer para nós. Ou, às vezes, a gente tem um documento importante e precisa lembrar onde deixou e acabamos deixando dentro da bíblia para facilitar. Mas enquanto não precisamos da bíblia ela fica lá fechada.
A Primeira Leitura deste final de semana[Nm 11,25-29] é do livro dos Números, que faz parte dos cinco primeiros livros da bíblia. O texto conta para nós o momento em que foi retirado de Moisés um pouco do espírito que ele possuía e foi dado a setenta anciãos. Assim que repousou sobre eles o espírito, começaram a profetizar, porém não continuaram. Dois homens que ficaram no acampamento receberam também o espírito. Esta leitura nos lembra que nós, muitas vezes, queremos restringir o espaço onde Deus vai agir. Então a tenda é o espaço onde Deus vai agir e quem estiver fora da tenda não teria chance. Mas é justamente o contrário: o Espírito agiu sobre os que estavam fora da tenda. Não adianta a gente tentar escolher, o próprio Jesus já disse isso: o Espírito sopra onde quer, como quer.
E aí o Evangelho [Mc 9,38-43.45.47-48] vai na mesma direção: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome, mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. Eu gosto dessas passagens do Evangelho porque os discípulos vão em Jesus certo de que Ele vai concordar com eles. Porém, ocorre justamente o contrário. “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim, quem não é contra nós, é a nosso favor”. Ora, quem usa o nome de Jesus, sempre vai usar para fazer o bem. Pouco importa se ele é do nosso grupo ou não, porque Deus que escolhe as pessoas que ele vai usar para que o bem aconteça.
Por exemplo, expulsar demônios não é para qualquer um. Não é todo padre que expulsa demônios. Na nossa Diocese, temos o padre Vanderlei Nunes, o nosso exorcista oficial. Então, se vocês tiverem problema com demônio não chamem nem eu, nem o padre Tiago. Chamem ele. Mas quero dizer com isso que, para Deus, não importa quem faz o bem. Como Jesus disse: “em verdade vos digo, quem vos der a beber o copo de água porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. Para Deus, tanto aquele que expulsa demônios quanto aquele que dá um copo de água têm a mesma importância. Jesus vai sempre na contramão daquilo que os discípulos estão pensando.
E, na segunda parte do Evangelho de hoje, Jesus nos convida a tirar de nossas vidas tudo o que atrapalha viver a fé e a vida cristã. “Se tua mão te leva a pecar, corte-a, é melhor entrar na vida sem uma das mãos do que ter as duas e ir para o inferno; se teu pé te leva a pecar, corta-o, é melhor entrar na vida sem um dos pés; se teu olho te leva a pecar, arranca-o”. Se essa lei fosse levada ao pé da letra, imagine o que ia ter de gente mancando, sem enxergar, com uma mão só. Mas por quê? Jesus está querendo dizer que é preciso tirar da nossa vida tudo que atrapalha viver a fé.
Vocês viram a chuva que estava hoje e a gente, às vezes, desiste de ir à missa. Isso é pé, é mão que precisam ser cortados porque estão atrapalhando a sua fé! E quando a pessoa vê, está longe das coisas de Deus.
Então, meus irmãos e minhas irmãs, vamos pedir a Deus pela intercessão de Santa Teresinha – cuja festa é amanhã –, que vocês possam vir com alegria e participar da Eucaristia! Que vocês tenham sempre a alegria de tê-la como padroeira de sua paróquia!
Homilia: Pe. Edmar Antonio de Jesus – 26º Domingo do Tempo Comum (Ano B) - 30/09/2018 (3º Dia do Tríduo de Santa Teresinha, Missa das 18h30).

Viver a santidade no dia a dia, a exemplo de Santa Teresinha
29/09/2018
Meu nome é padre Ademir. Sou pároco na Paróquia São Judas Tadeu, aqui no Bairro Campestre, portanto, vizinho de vocês "depois do rio". E também sou Vigário Geral da Diocese de Santo André. Fui batizado nesta igreja, ainda criança, e depois, há 20 anos, no dia 07 de junho de 1998, também fui ordenado diácono, junto com os padres José Silva e José Herculano, aqui neste altar da igreja de Santa Teresinha. Minha mãe também se chama Teresinha, e eu dizia, agora pouco, a alguns irmãos de vocês, que, às vezes, pequenos gestos que nos passam despercebidos e que chamamos de coincidências – as "pequenas coisas" que Santa Teresinha compreendia e das quais falava – são a própria providência de Deus em ação. Eu fui batizado e ordenado diácono na igreja de Santa Teresinha, e minha mãe se chama Teresinha; depois, fui ordenado padre na igreja de Santo Antônio, ali na Vila Alpina, e meu pai se chama Antônio. Então não é por acaso, né? Mas nenhum dos dois são santos, como os pais de Santa Teresinha, que foram canonizados.
E falando em santidade, nós ouvimos na Palavra de Deus – e o Papa Francisco tem nos exortado, sobretudo com sua encíclica sobre a santidade de vida no mundo de hoje, "Gaudete et exsultate" – Alegrai-vos e exultai, porque Deus age em nós, através de nós, no meio de nós; e Deus, agindo, vai nos santificando. Deus: só Ele é santo! E, por isso, quanto mais perto de Deus estivermos, mais também vamos nos tornando semelhantes a Ele. E sendo semelhantes a Deus, seremos santos! Ser santo não é algo "de outro mundo", "da outra vida", tão distante da experiência que nós fazemos da nossa vida. Santa Teresinha mostra exatamente isso e nos ensina, sempre, com a pequena via, que são as coisas pequenas, simples, humildes, do dia a dia, que vão nos fazendo santos e santas, cada um na sua vocação, cada um no seu estado de vida, cada um com a sua profissão, mas todos nós tendo a oportunidade de nos tornarmos semelhantes a Jesus, o Filho de Deus. E, para isso, é necessário trilhar os caminhos do amor, os caminhos da verdade, sempre na presença de Deus.
Este desejo está inscrito no coração do ser humano: sempre lutar contra o pecado, sempre lutar contra o mal. Porque tanto o pecado quanto o mal, que é também expressão e manifestação deste pecado, destroem, em nós, a imagem de Deus, a dignidade de filhas e filhos de Deus que recebemos com o sacramento do Batismo. Esta possibilidade, portanto, de nos tornarmos filhas e filhos no Filho: isso é a vida de santidade!
E Jesus, no Evangelho de hoje [Mc 9, 38-43. 45. 47-48], diz aos seus discípulos: "Não proibais aqueles que estão também realizando o bem, que estão vivendo na verdade, procurando cumprir a justiça, mesmo que eles não sejam do nosso grupo, mesmo que eles não sejam nominados como nós somos nominados, mesmo que eles não pensem ou ajam exatamente igual a nós". Quem vive na verdade, no bem, na justiça, não está contra Deus, não está contra o Evangelho de Cristo. Ao contrário, Deus também age, com a força do Seu Espírito, em todas essas pessoas, sempre a nosso favor. Porque realizar o bem, às vezes, nos pesa, parece difícil neste mundo tão mergulhado em dificuldades, em desconfiança, em maldade. Mas, mesmo com tudo isso, nós temos o acalento de Deus, imaginando que não só nós, cristãos católicos, queremos lutar e viver no bem, na verdade e na justiça, mas tantos outros irmãos e irmãs, tantos outros homens e mulheres dedicam suas vidas a isso, por meio de suas profissões, do cuidado da família, da educação dos filhos, das situações cotidianas na mediação de conflitos, tudo isso na força da santidade de Deus.
Eu não sei vocês, mas eu, quando ouvi esse texto do Evangelho de hoje pela primeira vez, quando eu era coroinha, eu tremia! Eu tinha medo, muito medo mesmo. Porque vocês observaram o que diz este Evangelho? "Se tua mão te leva a pecar, corta-a. É melhor entrar no Reino dos Céus com uma mão só. Se teu pé te leva a pecar, corta-o. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o". Misericórdia! O que Jesus queria dizer com isso? Mas, com o passar do tempo, a gente vai compreendendo o que a Palavra de Deus quer dizer. A Palavra de Deus não é algo para entendermos apenas em sua materialidade e ao pé da letra, porque se compreendermos as Escrituras ao pé da letra estamos mesmo perdidos! Vamos começar a cortar um monte de parte do corpo... No entanto, a Palavra de Deus, para nós, é conforto, é consolo, é certeza. E o que é que temos que arrancar e jogar fora? Não é a parte do nosso corpo, é o pecado! O pecado que, às vezes, se manifesta pelas nossas mãos, as mãos que Deus nos deu para que façamos o bem, para que auxiliemos as pessoas, para que cumpramos bem as tarefas do dia a dia. Quantas vezes, essas mesmas mãos também podem cometer o mal, o pecado? Então, o Evangelho diz: "Arranque este pecado que vem pelas mãos e jogue-o fora!".
Deus nos deu um corpo perfeito, com saúde; deu-nos nossos pés, nossas pernas, para podermos caminhar, como Maria Santíssima, que foi ao encontro de sua prima Isabel levando a ela o anúncio da Boa Nova do Evangelho. E, muitas vezes, o pecado vem por meio destes mesmos pés e pernas. Ao contrário, devemos usa-los para fazer o bem! Ir, com nossos pés, visitar aquelas pessoas que estão precisando de uma palavra. Às vezes, nós não sabemos falar direito, falar palavras bonitas, mas o fato de irmos, com nossas pernas, para junto delas, para estar ao lado dessas pessoas, enfermas, enlutadas, que estão deprimidas, desacreditadas do amor de Deus, desacreditadas da vida, desacreditadas do poder e da força da vida divina em cada pessoa humana... É isso que é arrancar para longe de nós o pecado. É isso que é cortar, de uma vez por todas, da nossa vida, da nossa existência, aquilo que nos leva a nos afastar do amor e da bondade de Deus.
Quando pecamos, diz a tradicional doutrina sobre o pecado, a primeira coisa que acontece é um corte. Este corte do qual diz o Evangelho. Nós cortamos a graça de Deus em nós. É como uma planta que, grudada ao caule, recebe todos os nutrientes, tudo o que é necessário para se desenvolver, crescer, florir, frutificar; este é o desejo de Deus para nossa vida. E quando se corta o caule desta planta e ela não está mais ligada ao ramo, ela seca, ela morre. O pecado é isso em nós. O pecado tem esse efeito em nós. Por isso que é preciso arrancá-lo e jogá-lo fora, para que a graça de Deus possa agir de forma plena e completa em nossa vida.
Meus irmãos, minhas irmãs, é isto que a primeira leitura [Nm 11, 25-29] nos diz. Estes dois homens, estes dois jovens, Eldad e Medad, receberam o Espírito de Deus exatamente para que profetizassem. Nós também recebemos o Espírito de Deus, todos nós, que fomos batizados, que fomos crismados, que vivemos na vida dos sacramentos da Igreja. O Espírito também age em nós, o Espírito Santo também foi derramado em nós, e Ele transmite, transborda, Ele passa através de nós e atinge as outras pessoas, desde que este canal da graça de Deus não esteja rompido pelo pecado.
Que sejamos, então, pessoas que procurem exercer as virtudes da fé para termos uma riqueza interior. A segunda leitura [Tg 5, 1-6] fala exatamente isso. Qual riqueza devemos ter? Qual riqueza devemos procurar? Não a que apodrece, como as roupas carcomidas pelas traças; não como o ouro e a prata, que enferrujam. Não. É preciso buscar este enriquecimento interior, que na linguagem religiosa nós chamamos de santidade. É a vida de santidade a riqueza maior que devemos almejar – e que devemos alcançar! Tenhamos como exemplo muito próximo esta jovem, Santa Teresinha do Menino Jesus, sua família, seus pais. Não está longe de nós, não está para além das nossas forças sermos pessoas que amam como Jesus nos ama, que perdoam como Deus nos perdoa, que levam a todos os que encontram, dia a dia, a Palavra do Evangelho: de fé, de esperança e de amor.
Que Santa Teresinha derrame sobre cada um de vocês, sobre vossas famílias e sobre toda esta comunidade paroquial esta chuva de rosas das graças e das bênçãos de Deus, vinda do céu, para vivermos sempre como filhas e filhos bem-amados. Amém.
Homilia: Pe. Ademir Santos de Oliveira – 26º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 29/09/2018 (Sábado, 2º Dia do Tríduo de Santa Teresinha, missa das 16h).

Agir entendendo o tempo de Deus
28/09/2018
Queridos irmãos e irmãs, quero agradecer ao Padre Tiago por ter me permitido estar aqui hoje, começando a celebrar assim os meus 30 anos como padre, três décadas de muitas felicidades. Disseram-me que, quando chegasse aos 7 anos, eu teria uma crise sacerdotal. Já se passaram 7, 14, 21 e acredito que agora não haverá a crise, depois dos 30, pois sou feliz. E, principalmente, por estar aqui vendo vocês e relembrando os amigos.
Nós acompanhamos 81 comunidades por mês. É muito trabalho, mas, Graças a Deus, Ele me deu forças. E é também o que nos diz o Salmo de hoje, Salmo da fortaleza, que temos a alegria de relembrar nesta bela data de Santa Teresinha, nossa padroeira, festejando esse primeiro dia do Tríduo em louvor a ela.
Todo mundo sabe a história de dela. Nasceu no dia 02 de janeiro de 1873, sendo batizada dois dias depois. Faleceu em 30 de setembro de 1897. Foi designada padroeira das missões em 1927 e doutora da igreja em 1997, portanto há 21 anos. Santa Teresinha foi a terceira doutora da Igreja, após Santa Teresa D’Ávila e Santa Catarina de Sena. Santa Teresinha é chamada de Doutora do amor. Nós festejamos aqui em 1997, o centenário de seu falecimento. Será que a gente chega em 2097? Eu quero chegar, se eu vou chegar eu não sei. Mas que eu quero, eu quero. Agora, se eu falar que eu não vou chegar, eu não chego mesmo.
Mas hoje é o livro de Eclesiastes que está norteando esta liturgia, e também o tema de hoje, que fala que a fé vem da família. Por que a sociedade de hoje está se tornando hedionda? Isto está relacionado à formação. Vou fazer 64 anos e faço parte de uma geração que vai se extinguir daqui uns dias. Era a geração na qual o pai e a mãe mandavam na gente. A nossa geração é única, contestadora. Nós lutamos muito pela nossa liberdade, que acabou virando, em alguns aspectos, libertinagem. A nossa geração foi educada com o olhar: o pai só olhava para nós e não dizia nada. Hoje o pai olha para o filho e a criança pensa: “papai está com o pescoço duro ou com tersol”.
E tudo começa desde pequenininho: se a criança já começa dando um tapa na cara hoje, você pode ter certeza que daqui há uns 15 anos, ela poderá estar fazendo coisa muito pior. Vocês sabiam disso? Lembro-me da minha sobrinha chegando em casa. Ela tinha 4 anos e pegou uma chave e eu dizendo para ela: “não coloque na boca, não coloque na boca!”. Ela me deu um tapa na cara. Eu fui lá e dei duas palmadinhas leves. A mãe dela ficou me olhando de lado, eu falei: “não me olha assim não. Ela vai ter que aprender a respeitar.”
Hoje a criança bate e a mãe acha “bonitinho”. Temos que ter muito cuidado. Por isso quando me foi dado esse tema para trabalhar, eu pensei no sentido que tudo vem pela família, tudo passa pela família. Se a família vai bem, a comunidade vai bem, a sociedade vai bem, o país vai bem e o mundo vai bem. Agora se a família estiver degringolada, pode ter certeza, nós teremos o que temos hoje aí: muitas coisas erradas, situações nas quais, muitas vezes, ficamos com os pés e as mãos atadas.
E quem nos dá muita fé é Deus, na pessoa de Jesus Cristo. E hoje também Santa Teresinha do Menino Jesus. Se ela hoje é considerada santa é porque ela passou por mil problemas. Tendo lido “A História de uma alma”, eu me lembro de várias circunstâncias como, por exemplo, quando as freiras mais antigas que não a aceitavam no convento – pois ela tinha apenas 15 anos – e quando ela foi pedir ao Papa para poder entrar no convento. Se olharmos o livro “A História de uma alma”, vemos que as freiras ensaboavam as roupas e um dos relatos é que elas jogavam sabão na cara de Santa Teresinha. Se fosse eu, eu teria tipo um comportamento diferente, mas ela limpava e dizia: “Tudo para a mortificação do Senhor”. Isso é questão de fé, sofrimento pela fé. E o livro de hoje, Eclesiastes, está dizendo: “tudo tem seu tempo, tudo tem sua hora.”
Como nós somos apressados! No trânsito, com horário, em várias situações. Eu trabalho em uma cidade que tem apenas 1 semáforo, onde se come galinha caipira e seus ovos, carne de porco em banha, fubá de milho moído na hora. Como é bom! Então tudo tem seu tempo, tudo tem seu momento histórico. E nós somos muito apressados, nós queremos que Deus resolva nossos problemas como se fôssemos únicos. Deus tem muito mais pedidos do que nós imaginamos. Então o livro quer nos alertar e dizer: “Tudo tem seu tempo”.
Quando a tempestade passa por nós, ela deixa estrago. Mas, lá na frente, a gente vai olhar e entender que tudo teve um sentido. Nós acostumamos a sempre olhar as coisas pelo lado negativo, sempre olhamos. A pessoa pode ser uma santa, mas se ela tiver um deslize, está perdida pelo resto da vida, pois nós só nos apegamos nas coisas ruins.
Veja em casa, a mulher faz a comida gostosa para o marido, e a família não elogia. A criança faz um agrado e o pai pensa que a criança está querendo dinheiro. Não valorizamos as situações cotidianas, apenas as que nos aparentam ser ruins. Então, como dizíamos, tudo tem seu tempo, nada acontece por acaso, depois que passa esse vendaval, a gente olha para trás e diz: “sou grato pelas coisas boas”. É que a gente não enxerga muito bem. Mesmo nos grandes problemas, a gente só pensa na parte negativa. Neste trecho do livro de Eclesiastes, está dizendo sobre o tempo de esperar, tempo de louvar, tempo de agradecer, tempo de pedir e outros. O nosso tempo não é o tempo de Deus, nós somos muito imediatistas. É assim que a sociedade é hoje: querem fazer as coisas de maneira muito rápida, que as coisas aconteçam logo, a gente fica muito ansioso com horário. Nós que trabalhamos em comunidades rurais, que são mais de 60, eles marcam a missa às 7h, mas o padre precisa perguntar: “que horas começa a missa mesmo?”. Não tem horário para eles, chegam no seu tempo. Já em cidades maiores, nós já ficamos aflitos. Nós estamos muito cronometrados. E o livro de Eclesiastes vem nos dizer exatamente o contrário. É o tempo de Deus, tempo de esperar, tempo de estar presente. Tudo tem seu tempo. E hoje é o tempo de eu estar aqui, homenageando a vocês que acompanharam meu processo formativo desde março de 86 até março de 98, quando fui transferido para Diadema. Desde lá, 20 anos se passaram.
E aqui eu fui muito feliz. Hoje é tempo de agradecer! Então eu vim aqui agradecer pelo tempo em que eu fiquei convivendo com vocês. Quantas coisas eu aprendi com vocês! E eu vim agradecer à Santa Teresinha e agradecer, principalmente, a Deus por tantas coisas que nós vivemos aqui. E acho que Santa Teresinha não gostava muito de festa pois durante muito tempo que estive aqui eu me lembro que chovia nos dias de sua festa.
Quando olhamos para trás, a gente lembra de tantas coisas boas aconteceram. Se aconteceram coisas ruins, não vamos contar não. Vamos esquecer as coisas ruins, senão ficamos remoendo coisas do passado. Hoje é dia de passarmos uma fita, olharmos para trás, pensar em como éramos há 30 anos atrás e como evoluímos.
Falemos agora sobre o Evangelho de hoje [Lc 9,18-22]. Às vezes, muitos pensam que Jesus não rezava. Todas as vezes que a gente olha, lê, proclama e medita o Evangelho, nós nunca vimos Jesus parado. Entretanto, exceto para rezar. Se Jesus estivesse vivo, talvez ele mandaria embora todos os padres pois, às vezes, a gente fica mais em reunião, na sacristia ou na secretaria do que visitando as pessoas. Por isso eu falei que fui feliz aqui: pois visitei todas as casas daqui. E agora eu visito lá onde eu estou e em cada casa que eu visito, sou recebido com galinha caipira com quiabo. Nós estamos nos preparando para o quarto ano das missões e já tem, em meu computador, mais de 20 mil nomes de pessoas e seus principais dados. E se eu fui em algum lugar lá, eu vou saber de onde a pessoa é e de qual comunidade. E isso é muito bom: sermos chamados pelo nome, não por apelidos. Por isso, quando eu cheguei, a primeira coisa que eu perguntei foi o nome da cada um.
Então Jesus não era um homem de ficar parado, estático, inerte. É isso é o que o Papa está nos pedindo. Quem dera se nós, padres, tivéssemos 1% da humildade do nosso Papa. De sua simplicidade, do voto de pobreza. Tenho uma amiga que é mãe de santo e ela disse que é apaixonada pelo nosso Papa. Isso é uma coisa boa, que me dá até arrepio. Isso serve para mim enquanto padre: que eu seja mais simples, mais humilde. Não tenhamos medo de cumprimentar as pessoas e isso Jesus fazia muito bem.
Vemos no Evangelho que Jesus estava em um local afastado, rezando com seus discípulos. E nós olhamos e pensamos que Jesus não rezava, mas Ele rezava e muito. E Ele nem precisava de oração porque tinha todas as prerrogativas de Filho de Deus. E em toda essa confusão, Ele perguntava aos discípulos: “Quem dizes aos homens que eu sou?”. E Pedro responde: “Você é o Cristo de Deus.” E eu trago essa pergunta para nós hoje: quem é Jesus Cristo para nós?”.
Se nós acreditamos que Ele é nosso Salvador, que Ele morreu na cruz para nos salvar ou, como disse Pedro, que é o Messias, o Cristo de Deus, Ele deve ser norteador da nossa vida. Temos que estar sempre conscientes do amor de Jesus. E esse amor deve ser um amor sem medida. E sem esperar grandes coisas, pois nesse mundo imediatista, sem altruísmo e do narcisismo, devemos nos converter para que possamos amar sempre mais a Deus na pessoa de Jesus Cristo.
Homilia: Pe. Wagner Doriguetti - Sexta-feira da 25ª Semana do Tempo Comum (Ano B) - 28/09/2018 (1º Dia do Tríduo de Santa Teresinha, Missa das 20h).

Ama a Deus quem ama e serve o próximo
23/09/2018
Nós estamos celebrando o 25º Domingo do Tempo Comum, vendo a vida pública de Jesus. E a Igreja nos convida, então, a refletir sobre nosso amor a Deus e ao próximo, e como o nosso discipulado lida com as paixões do coração humano. Por isso, a Oração da Coleta proposta para hoje – que é a oração que rezamos logo após o Hino de Louvor – nos diz: "Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna". Os mandamentos de Deus se resumem em amá-Lo sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. Mas será que nós amamos o nosso próximo como amamos a nós mesmos? Vamos ver isso nas leituras propostas para nós hoje.
A Primeira Leitura [Sb 2, 12. 17-20] nos fala: " Os ímpios dizem: 'Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda'". A Palavra de Deus está dizendo que os pecadores se incomodam com aqueles que vivem o projeto de Deus. E nem precisam fazer nada, o simples fato de estarem em um lugar, participando de algum projeto, já incomoda àqueles que não têm uma vida reta. E isso é interessante, porque as pessoas, quando estão, digamos assim, desalinhadas com o projeto de Deus, elas olham para aqueles que estão vivendo o projeto do Senhor e, de algum modo, se sentem incomodadas. E a missão do cristão é justamente esta: incomodar aqueles que não vivem o projeto de Deus. Mas isso traz consequências para nós. Segundo o livro da Sabedoria, os ímpios pensam: "Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência". Quem vive o projeto de Deus deve ser uma pessoa serena, paciente. E se nós, meus irmãos e irmãs, ao longo da nossa vida, não tivermos serenidade, paciência diante das perseguições, dos insultos, das calúnias que nós sofremos, nós nunca conseguiremos viver a plenitude do projeto de Deus. Portanto, você que é impaciente, que não sabe esperar o tempo certo, que vive de impulsos, peça a Deus a graça deste coração sereno, desta paciência de pensar antes de falar, de pensar antes de reagir, de pensar antes de tomar uma decisão que vá mudar o rumo da sua vida, antes de acusar alguém, antes de querer brigar com alguém, antes de querer destruir a vida de alguém, antes de querer acabar com o moral de alguém. Peça a Deus a graça deste coração sereno, a graça da paciência, pois os sábios que escreveram o livro da Sabedoria afirmam que, com certeza, nós viveremos mais felizes se seguirmos aquilo que Deus nos pede.
Nesse contexto, São Tiago, escrevendo sua carta da Segunda Leitura de hoje [Tg 3, 16 – 4, 3], também nos fala das perseguições. "Caríssimos, onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más". Inveja e rivalidade. Todos nós já tivemos, temos ou teremos um pouco de inveja, mas é necessário que este sentimento seja contido no nosso coração. E na medida em que vamos amadurecendo, este sentimento de inveja tem que diminuir na nossa vida, e não aumentar. Tem pessoas que vão ficando mais velhas e vão ficando mais invejosas! Querendo mais a vida do outro, o carro do outro, a casa do outro, o trabalho do outro... E isso está equivocado. A rivalidade, por exemplo; é natural que exista, entre nós, um pouco de rivalidade – como é que a gente vai discutir futebol sem rivalidade? Como vamos dialogar sem a disposição de ouvir o outro? Aliás, eu sou terminantemente contra a expressão popular: "Religião, política e futebol não se discute". Ah, se discute sim! Eu sou a favor que se discuta. Sabe por quê? Porque o Evangelho diz: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". E os filósofos, ao longo da história, se aproximaram da verdade sempre discutindo, dialogando com quem pensava diferente. Então, como é que nós vamos decidir em quem votar, por exemplo, se não discutirmos sobre as propostas dos presidenciáveis, sobre o futuro do Brasil, as escolhas pessoais de cada candidato, a proposta do partido ao qual ele se filiou? Eu vou estar, provavelmente, votando de modo equivocado se não conhecer meu candidato. A respeito da religião, por que o outro está errado e eu estou certo? Ou, ao contrário, por que o outro tem uma postura e eu tenho outra? Se nós não conversarmos – sem agredir –, não vamos chegar a uma verdade. E dentro do diálogo inter-religioso, por exemplo, que a Igreja Católica é, praticamente, uma cabeça que tenta unir as religiões, sempre é dito: "Nós temos que partir daquilo que nos une, não do que nos separa". Mas nós, quando vamos conversar com alguém, muitas vezes partimos do que nos separa, e não daquilo que nos une, porque aprendemos, desde muito cedo, a atacar o outro. No futebol, por exemplo, um vai atacando o outro – que um tem mundial, que outro não tem, que é reconhecido, que não é, que foi palhaçada aquilo ali, que o juiz roubou... Nós não partimos daquilo que nos une, mas daquilo que nos separa. Portando, é necessário que aprendamos a nos aproximar do outro. Em primeiro lugar, ouvir, para depois, de modo tranquilo, sereno, apresentar as nossas concepções de vida. Vamos aprender a lidar com a rivalidade, ensinar isso a nossas crianças. Ensinar a perder, por exemplo. As novas gerações têm grande dificuldade em perder, não sabem lidar com as perdas, com as decepções, com as ideias diferentes.
São Tiago, depois, continua: "De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?". É uma das frases que eu mais gosto do apóstolo São Tiago, quando ele diz que as brigas, as guerras vêm das paixões – e São Paulo vai dizer: "Paixões desordenadas" dentro do nosso coração é que geram as brigas. Nós somos serem humanos e vivemos apaixonados, temos reações, temos paixões ao longo da nossa vida. E isso não é um problema, o problema é como nós lidamos com as nossas paixões e, sobretudo, com as frustrações que a vida nos apresenta. Quando não superamos estas paixões, elas causam guerra, discórdia, calúnia, difamação... Quantas brigas não acontecem nas famílias porque não sabemos lidar com nossos sentimentos. Quantos problemas acontecem no matrimônio e entre pais e filhos por não saberem lidar com seus sentimentos. No mercado de trabalho, quantas confusões não acontecem porque não sabemos lidar com os nossos sentimentos. Falamos para nossos adolescentes que eles têm que ter paciência, que devem aprender a superar suas paixões, mas vamos crescendo e não agimos deste modo. Eu sempre lembro do Evangelho da mulher adúltera; quando quiseram apedrejá-la, Jesus disse a eles: "Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra". Desta parte todo mundo lembra, agora, a continuação deste Evangelho é que eu gosto: "...e começaram a sair, um a um, a começar pelos mais velhos". Porque, à medida que vamos envelhecendo, vamos ficando com a cabeça e o coração endurecidos, e é por isso que Jesus termina o Evangelho de hoje [Mc 9, 30-37] dizendo que quem quiser servir, quem quiser ser o primeiro, deve ser como uma criancinha.
O contexto deste Evangelho é o seguinte: Jesus está indo para Jerusalém; ali, faz muitos milagres, recupera a saúde de muitos doentes... Na semana passada, Jesus perguntou: "Quem dizem os homens que eu sou?", e Pedro disse: "Tu és o Messias" – e nós aprendemos, domingo passado, que "Messias" significa "Salvador". Aí, então, Jesus continua caminhando com seus discípulos e vai para a cidade de Cafarnaum, uma cidade menor, onde Ele tem que falar algo importantíssimo para seus discípulos. E aqui nós aprendemos que quando precisamos falar algo importante, nós precisamos da atenção das pessoas. Hoje, quando estamos conversando com alguém, escrevendo no celular, mexendo nas redes sociais, nós não estamos tendo foco naquilo que estamos realizando. Ainda ontem, ou anteontem, eu tive acesso a uma palestra em que a palestrante dizia que aquela história de que as novas gerações são multitarefa, que conseguem fazer quatro, cinco, seis coisas ao mesmo tempo, é uma meia-verdade. A gente até faz muitas coisas, sobretudo as mulheres – minha reverência a todas vocês, que conseguem fazer 30 coisas ao mesmo tempo; porém, é provado cientificamente que, quando nós precisamos aprender alguma coisa nova, isto não é verdade. Ou você foca ou não aprende! E por que nossos jovens não estão aprendendo mais muitas coisas na escola? Porque não estão focados.
Jesus se retira para a cidade de Cafarnaum porque tem que dizer aos discípulos que Ele deve sofrer, que Ele deve ser morto, mas que ressuscitará no último dia. E vamos imaginar a cena: você está falando da sua morte para seu esposo, sua esposa, seus filhos, e aí percebe que eles estão distraídos. Foi o que aconteceu enquanto Jesus caminhava com os discípulos. Então, chegando em Cafarnaum, Ele pergunta: "Que andavam discutindo pelo caminho?". E aí um ficou mais envergonhado do que o outro, porque diz o Evangelho que eles estavam discutindo não o que Jesus ia sofrer, mas quem era o maior, quem era o predileto de Jesus. E Jesus, em vez de dar um cascudo em cada um, diz, como conta o final deste Evangelho de hoje: "'Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos'. Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: 'Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo'".
Assim, meus irmãos, nós concluímos, afirmando que, quem quer servir a Jesus deve aprender a servir os seus semelhantes; quem quer permanecer no caminho de Jesus deve se colocar a serviço do outro sem esperar nada em troca; quem tem o desejo autêntico de seguir Jesus deve pedir, todos os dias, um coração como o de uma criança, que não tem inveja, não calunia o outro, não difama a vida do outro, não causa guerra, não causa tumulto na vida de ninguém. Que a Santa Eucaristia que iremos comungar nesta missa toque profundamente as desordens do nosso coração humano e, nos purificando, nos lavando, restaurando nossos sentimentos mais puros, nos ajude a termos um discipulado autêntico, em nome do Senhor Jesus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 25º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 24/09/2018 (Domingo, missa das 10h).

Atitudes concretas para traduzirmos a fé que professamos
16/09/2018
Meus irmãos e irmãs, estamos celebrando o 24º Domingo do Tempo Comum e, neste mês de setembro, dedicado à preparação à festa de nossa padroeira, ouvimos, antes de iniciar a missa, um trecho de um pensamento de nossa padroeira. Ela dizia: “a perfeição consiste em fazer a vontade de Deus, em ser o que Ele quer que sejamos; quanto a mim, acho a perfeição bem fácil de ser praticada, pois compreendi que só temos de prender Jesus pelo coração”. Nossa padroeira nos ensina que alcançar a perfeição é realizar a vontade de Deus em nossa vida. E para nós que cremos, ir na contramão do que Deus pede é nos distanciarmos do caminho da felicidade. E quantas vezes nós, em nossa vida cotidiana, somos teimosos com Deus, quando Ele nos pede alguma coisa, insiste, dá sinais e, mesmo assim, nós continuamos fazendo escolhas equivocadas em nossas vidas.
E Santa Teresinha, em seu lado muito humano, diz que compreendeu o segredo desta perfeição, que é prender Jesus pelo coração, pelo sentimento. E fato é que nós começamos a professar uma fé e a frequentar a igreja pelo sentimento e é justamente isso que não podemos nos esquecer. Este coração que palpita forte como quando ouvimos a palavra de Jesus, quando recordamos o sacrifício de Deus pela Salvação de cada um de nós. E depois, este sentimento deve dar lugar a atitudes concretas de evangelização, que muitas vezes faltam para nós a fim de podermos conjugar aquilo que professamos com nossos lábios com as nossas próprias atitudes no cotidiano de nossas vidas.
Neste sentido, a liturgia de hoje vem nos apresentar justamente esta responsabilidade que temos desde o dia de nosso batismo: sermos profetas. E o que um profeta faz? Ele anuncia o amor de Deus, denuncia as injustiças e resgata aqueles que estão nas trevas do erro. Ele não fica calado diante das contrariedades da vida e, por isso, ao longo da história da humanidade, nunca houve um profeta e nunca haverá um que, ao viver verdadeiramente a sua vocação profética, não seja perseguido. E assim, nós nos questionamos, em primeiro lugar, se temos vivido a nossa vocação profética de denunciar o que está equivocado e corrigir aqueles que estão nas trevas do erro. Porque muitas vezes fazemos como Pilatos, lavamos as mãos e deixamos com que os outros se percam. E no coração do cristão, este sentimento nunca, em hipótese alguma, pode existir. Nos faz refletir ainda se, quando somos perseguidos, nós mantemos a nossa serenidade. Porque, por causa do Evangelho, tantas e tantas vezes, somos perseguidos ao longo de nossa caminhada.
É assim que a Primeira Leitura[Is 50, 5-9a] proposta pela Igreja nos fala: “o Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é o meu auxiliador”. Esta leitura é o cântico do servo sofredor, que lemos todos os anos na Sexta-feira da Paixão representando o momento no qual Jesus dá a vida pela nossa Salvação, quando Jesus sofre por causa dos nossos pecados, recordando que ele também não abriu a boca ou fugiu de sua missão. E, assim, todos nós devemos buscar, diante dos desafios da vida, mantermos a serenidade. E quantas vezes somos perseguidos porque vamos à igreja! Ou na sua empresa, porque você faz o sinal da cruz ou reza antes de começar a trabalhar. Ou porque você está rezando o terço no ônibus ou no trem. Ou, ainda, porque você lê a bíblia.
Em coisas simples, muitas vezes, como, por exemplo, quando você entra no ônibus, paga a passagem e o cobrador lhe dá troco a mais. Daí você percebe o ocorrido e lhe devolve o valor a mais, por menor que seja. Muitas vezes a pessoa ao lado lhe questiona o porquê de você não ficar com aquele valor a mais. Porque, para nós, esta não seria uma atitude evangélica. Quando o outro nos faz mal e nós buscamos perdoá-lo, e as pessoas ficam nos atiçando para que causemos mais confusão, para que nós tenhamos ódio contra as pessoas, estamos sendo perseguidos. Quando nos excluem de algum grupo de amizade porque professamos a nossa fé, estamos sendo perseguidos. Mas, diante das perseguições, devemos manter a nossa serenidade. E traduzir em atitudes concretas a fé que professamos com os nossos lábios.
Sendo assim, meus irmãos e irmãs, esta Primeira Leitura, do profeta Isaías, está em estreita relação com o Evangelho [Mc 8,27-35] quando Jesus, o Bom Pastor, em determinado momento vai com os doze discípulos para Cesareia de Filipe porque deveria anunciar aos discípulos que deveria sofrer por causa dos nossos pecados. E, na caminhada em direção até lá, conversando com os discípulos, lhes pergunta: “quem dizem que eu sou?”. E aí, rapidamente, respondem: “uns dizem que é João Batista, outros que é Elias ou algum dos profetas”. Então, provavelmente, Jesus deve ter conversado com os discípulos sobre o que significa ser profeta, sofrer por causa da fé, sofrer por causa dos valores que professamos. E, ao chegar a Cesareia de Filipe, uma cidade considerada pagã, Jesus diz: “e vocês, que estão comigo, quem dizem que eu sou?”. Esta pergunta também serve para cada um de nós que estamos há tempos seguindo Jesus.
Quando nos perguntam lá na escola ou no trabalho quem é Jesus para nós, não devemos ter vergonha de admitir que, para nós, Ele é o Salvador. Pedro disse com outras palavras: “tu és o Messias”. Messias é o Salvador, aquele que vem para nos salvar. E então, diante desta profissão de fé, Jesus toma a liberdade de diz: “eu, como os profetas, também devo sofrer. Irei morrer, mas ao terceiro dia ressuscitarei”. Acho que os discípulos ficaram escandalizados com as palavras de Jesus.
Pedro, que havia feito uma coisa tão bonita, ao ver Jesus falando isso e a reação dos discípulos, chega perto de Jesus e lhe diz que deveria mudar estes rumos, de modo a evitar o sofrimento. Jesus, assim, deve ter olhado para Pedro e o repreendido, dizendo as palavras que estão no Evangelho: “afasta-te de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens. Tu és uma pedra de tropeço”. E estas palavras devem ter tocado o coração de Pedro de um modo muito profundo, o qual também deve tocar os nossos corações pois ainda não entendemos que a missão do cristão, a missão de viver uma fé, traz para nós consequências concretas. Mas quantos e quantos cristãos católicos que pensam como Pedro e querem viver uma fé de aparências, uma fé descompromissada. E não dá para viver uma fé se não for como a que Jesus diz ao final do Evangelho: “aquele que quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.
Não é possível entender o Evangelho sem vivenciá-lo, sem carregarmos a nossa cruz de cada dia. E carregar a cruz significa traduzir em atitudes a fé que é professada com os nossos lábios. E, neste contexto, a Igreja nos propõe a Segunda Leitura de hoje [Tg 2,14-18], quando ele diz: “meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não a põe em prática?”. E continua, logo após: “Assim também a fé, se não se traduz em obras, por si só está morta. Em compensação, alguém poderá dizer: ‘Tu tens a fé e eu tenho a prática! Tu, mostra-me a tua fé sem obras, que eu te mostrarei a minha fé pelas obras.’”
E aqui nós refletimos, meus irmãos e irmãs, que a fé deve caminhar, necessariamente, com as nossas obras. E as nossas obras devem caminhar imbuídas de uma espiritualidade. Porque, se as nossas obras não forem realizadas com fé, seremos mais uma ONG espalhada por este Brasil, seremos mais um grupo de pessoas exercendo a solidariedade, mas desmistificados da fé que nos congrega em Jesus Cristo, Nosso Senhor. De outro lado, de que adianta as devoções populares – os terços, os momentos de oração, as pregações, as músicas que nos fazem chorar – se estas reflexões, estas atitudes, não nos levam a vivenciar a prática do Evangelho dentro de casa, no trabalho e na sociedade.
Que ao celebrarmos esta eucaristia, o Senhor resgate em nosso coração o profundo sentido de sermos profetas. Que possamos crescer no conhecimento de Jesus Cristo, Nosso Senhor, e do que significa professá-lo como Salvador de nossa vida. E se a nossa fé ainda estiver desassociada de obras, que o Espírito Santo de Deus toque em nosso coração para que possamos traduzir a fé que professamos com os lábios em atitudes concretas de fé, de esperança e de salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 24º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 16/09/2018 (Domingo, missa das 10h).

É missão do cristão estar atento à sua realidade
09/09/2018
Estamos no 23º Domingo do Tempo Comum, e o que Deus tem a dizer para nós hoje? Comecemos pela Primeira Leitura [Is 35,4-7a], do livro do profeta Isaías, que foi escrito bem antes da vinda de Jesus. Ele está falando para um povo que não o conhecia, que não falava sua língua. Um povo que foi obrigado a sair de sua terra, Jerusalém, e levado à força para o Exílio na Babilônia. Portanto, eles se encontram tristes e desanimados. Vocês já se imaginaram nessa situação? Perdidos, sem ninguém para olhar por vocês? Estavam longe de Jerusalém e não conseguiam celebrar a sua fé. Então, surge Isaías, que vem antes de Jesus, profetizar em nome de Deus, falar algo que é uma promessa. E Deus sempre cumpre suas promessas. Isaías vem dar esperança para esse povo, que está abandonado, obrigado a sair de sua terra.
Então Isaías lhes diz: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é Ele que vem para vos salvar”. Lembrando que a vingança citada aqui não é no sentido de crueldade. A vingança de Deus se dá na cruz, pois ali é mostrado que, mesmo diante de tanto pecado, Ele nos ama profundamente. De certa forma, é também um tapa na nossa cara. Essa é a Salvação de Deus, a vingança que nos é prometida. E continua: “então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo”.
No Evangelho [Mc 7,31-37], Jesus vem cumprir a promessa de Deus, que Isaías havia prometido há muito tempo. Em Jesus cumpre-se essa promessa, e os surdos passam a ouvir, os mudos a falar, e aqueles que se encontram paralisados, andam. Mas não podemos entender isso somente de forma física: a surdez de que Jesus está falando não é só não escutar, mas sim de quando Deus quer falar conosco, mas não queremos escutar, não queremos viver de acordo com o que Ele quer de nós, e tapamos o ouvido. A grande surdez é aquela que não escutou a Palavra, não escutou seus ensinamentos e, então, também não sabe passar adiante os ensinamentos de Deus. Por isso, devemos ouvir com atenção os seus ensinamentos pois, assim, seremos capazes de enxergar também.
E, ao nosso redor, temos uma realidade que, muitas vezes, não queremos enxergar: pessoas passando fome, com graves dificuldades; pessoas sofrendo ao nosso lado e não enxergamos. E se não enxergamos, não somos cristãos, pois o cristão não pode estar olhando só para si mesmo. Se temos o pão de cada dia, devemos partilhar com os outros. Não podemos reter embora estejamos em uma sociedade baseada no “ter”. Às vezes pisa-se no pescoço dos outros para poder subir e não é isso que o Evangelho nos ensina. Isto é uma grande cegueira. Não ouvimos a Palavra de Deus e, automaticamente, não enxergamos a realidade que nos cerca. E passamos a não proclamar a Palavra de Deus: viramos crianças birrentas, imaturos na nossa fé, querendo fazer nossa vontade e não vivemos o que o Pai nos ensina.
Na Segunda Leitura [Tg 2,1-5], Tiago nos ensina que não devemos fazer acepção de pessoas, ou seja, separação. Como o bullying com as crianças, que é quando não se olha para uma pessoa com amor e pratica-se a diferença, seja porque a pessoa é mais gordinha, ou não tem dinheiro, etc. Então, pega-se esta característica daquela pessoa e começam a fazer chacota, “trollam” aquela pessoa. E com os adultos existe discriminação de pessoas também. Somos cruéis, inclusive na comunidade cristã. Não ache que dentro da igreja não existe discriminação de pessoas, pois tem gente que se acha mais bonito que os outros e só não senta na cadeira presidencial porque não foi ordenado. Se pudesse empurrar o padre e sentar, empurrava!
Não podemos nos sentir superiores às outras pessoas. Devemos entender que somos todos iguais. Iguais não significa uniformidade, pois cada um é único, cada um tem a sua forma de ser. Então tenho que entender e me aproximar do outro, como fez Jesus, que se fez homem como nós, para entender nossa realidade e caminhar conosco. Sendo assim, meu amor cristão deve ser igual para todos, respeitando as individualidades e servindo através de tratamentos diferentes. E isso não significa acepção ou exclusão de pessoas em relação a alguma coisa. Não podemos delimitar o espaço da pessoa porque ela tem mais ou menos dinheiro, mais ou menos conhecimento, como as elites intelectuais, que discriminam quem acham “burro”. Não é assim que as coisas funcionam! Nós, cristãos, temos que nos fazer pequenos para sermos grandes. E, mais que isso, devemos ter cuidado com nosso irmão e nossa irmã que estão ao nosso lado. Existem pessoas que Deus colocou em nossa vida e nós abandonamos no momento em que a pessoa mais precisa, por exemplo, quando terminou um casamento ou porque engravidou na adolescência. A Igreja não é favorável a isso, mas não podemos julgar a mulher que faz um aborto. É claro que somos a favor da vida, e defendemos a vida em qualquer circunstância, mas não nos cabe julgar aquela mulher, naquele momento, se o que ela fez foi errado. Mas cabe a nós, como irmãos, reunir forças para reerguer a pessoa.
Essa é a grande lição do Evangelho. E, se nós conseguirmos enxergar nossa realidade e irmos ao encontro de nossos irmãos e irmãs, aí sim não seremos cegos; também não seremos surdos, pois ouviremos a Palavra do Senhor e mostraremos que, ao ouvi-la, nós somos missionários evangelizadores, discípulos que sabem falar e proclamar com a própria vida o que o Senhor pede.
Homilia: Pe. Marcos Vinícius Wanderlei da Silva – 23º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 09/09/2018 (Domingo, missa das 10h).

Relembrar aquilo que é essencial na vida
02/09/2018
Meus irmãos e minhas irmãs, estamos celebrando o 22° Domingo do Tempo Comum. E neste domingo, nós iniciamos o mês de preparação para a Festa de nossa Padroeira, já que daqui a um mês, dia 1° de outubro, estaremos celebrando a Festa de Santa Teresinha do Menino Jesus. Então a partir de hoje as músicas inicial e final serão dedicadas a nossa Padroeira e teremos momentos de reflexão sobre a vida da nossa Padroeira. Em cada missa, a liturgia está preparando um pensamento de Santa Teresinha e hoje ouvimos antes de começar a missa: “Sem se mostrar, sem se fazer ouvir sua voz, Jesus me instrui em segredo. Não é por meio dos livros, pois não compreendo o que leio, mas, por vezes, uma palavra como a que tirei no fim da oração, depois de ter ficado em silêncio e na secura, vem me consolar”. Aprendemos muito com Santa Teresinha, que hoje nos diz que Deus nos fala, às vezes, por meio do silêncio e não quando nos queremos, mas no tempo de Deus, no tempo em que nosso coração está preparado ou necessitado para ouvir aquela voz de consolo que vem do coração do Senhor. Teremos ao longo desse mês a oração da Coroa de Santa Teresinha. Teremos também o Tríduo de preparação a sua Festa, com padres que passaram por nossa paróquia, com um padre que foi ordenado diácono aqui nessa igreja e há 45 anos, foi batizado aqui. E no dia 1° de outubro, teremos seis missas, das 7h até as 19h30. Vamos ter missa quase o dia todo, fazendo com que essa igreja seja de fato como está escrito lá na frente um Santuário, pelo menos por um dia, dedicado a nossa Padroeira. Pedimos a todos que se voltem para essa centralidade na devoção a Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu a Palavra do Senhor.
E no mês de setembro, a Igreja do Brasil desde a década de 1960 se dedica a refletir sobre a Palavra do Senhor de modo mais aprofundado. Ontem [dia 1° de setembro], nós realizamos a 1ª Caminhada Bíblica da Região Santo André - Utinga. Foram 11 paróquias reunidas no Santuário Senhor do Bonfim para publicamente testemunharmos a nossa fé. Que esta fé possa alcançar também o cotidiano de nossa vida, e quem sabe nesse mês, dedicado às Sagradas Escrituras, você possa ler um versículo da Bíblia por dia, quem sabe um capítulo ou a introdução de um livro que você gosta muito mais nunca estudou sobre ele, para que você descubra quando esse livro foi escrito e qual o seu objetivo. E que você reze um pouco mais em torno da Palavra de Deus!
Esta Palavra que hoje, meus irmãos e irmãs, por meio da Santa Igreja nos ajuda a focalizar aquilo que é essencial e não nos preocuparmos demais com as perfumarias. Ou de outro modo, buscarmos simplificar a nossa fé de tantas legalidades, de tantos pesos que fomos colocando em cima da vontade de Deus, que é salvaguardar a nossa vida, a nossa saúde, a nossa fé, para que possamos reverter a nossa história. Nós colocamos tantas regras que, às vezes, nos esquecemos do essencial: o amor, o perdão, a justiça e a misericórdia. Por isso a Primeira Leitura proposta para nós hoje [Dt 4, 1-2.6-8] mostra que, quando o povo de Israel havia chegado a terra prometida, depois da escravidão do Egito e a passagem pelo deserto, o povo ainda está compreendendo como viver, como lidar com as situações de enfermidade, de doenças que se proliferavam rapidamente e, por isso, nada mais justo que colocar regras, leis, normas para que o povo vivesse bem. Onde dois ou mais estiverem reunidos, além de estar Jesus no meio deles, se não tiver lei, vira confusão. E no tempo de Israel, o povo pegava muitas doenças por não lavarem as mãos, por não tomarem banho de modo adequado. O porco, por exemplo, trazia muitas doenças, não era criado como nós criamos hoje, com certa tecnologia, e, por isso, não sabendo como lidar, simplesmente o povo foi proibido de comer porco porque o povo comia porco e morria. Então se faz mal, vamos proibir... E assim as regras foram estabelecidas ao longo da história.
Mas se passaram alguns séculos, e no tempo de Jesus, tinham os fariseus e os mestres da Lei, que estavam usurpando estas leis, em beneficio próprio muitas vezes; outras vezes, se esquecendo do por que essas regras nasceram na história de seu povo. E especificamente, no Evangelho de hoje [Mc 7], os fariseus e os mestres da Lei estão procurando um modo de acusar Jesus Cristo, nosso Senhor. Quando a gente quer machucar alguém, a gente fica caçando coisa onde não tem e isso é do ser humano enquanto ainda não se converteu; no tempo de Jesus, não era diferente... E os fariseus e os mestres da Lei perguntam por que os seus discípulos não seguem a tradição dos antigos e comem o pão sem lavar as mãos. Os fariseus e os mestres da Lei não estavam preocupados com as doenças que seriam transmitidas, com o modo de lavar os copos e os pratos, de lavar as mãos, se quando chegou da rua tinha que tomar banho ou não; eles estavam preocupados em acusar Jesus. E, por isso, Jesus os diz “Hipócritas. Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”.
O que este Evangelho de hoje tem a nos ensinar é que muitas vezes nós nos preocupamos demasiadamente com as perfumarias, com diversas regras e normas que, às vezes, para alguns de nós já não fazem o menor sentido, mas continuamos a praticá-las porque aprendemos deste modo. É necessário que nós aprendamos o motivo das coisas. É necessário a gente aprender a dar respostas. São Paulo escreve em suas cartas dizendo que nós devemos dar razões para a nossa esperança. Por que ele escreveu isso? Porque muitos cristãos e alguns judeus estavam se utilizando das tradições para não explicar mais as coisas, simplesmente para mandar. E quantas vezes nós somos mandões e não temos motivo!
Este Evangelho nos ensina ainda que muitas vezes encontramos normas e sequer sabemos por que elas existem. Quantas mães e pais ainda ensinam os filhos que não podem tomar manga com leite? Isso é do tempo dos escravos ainda quando os senhores proibiam os escravos de tomar o leite e comer a manga e inventaram a história de que isso matava e aí isso permanece até hoje. O Evangelho vem nos ensinar que a lei não está acima do amor, da misericórdia e da compaixão de Deus. São João Paulo II, quando atualizou o código das leis canônicas da Igreja Católica, fez um discurso e terminou dizendo assim: O que eu falei é tudo muito bom, mas para a salvação das almas, entre salvar a alma e seguir a lei, deixem a lei de lado e salvem as almas das pessoas. O que ele estava querendo dizer com isso? Para não sermos legalistas, não colocarmos a lei acima do ser humano e de outro modo também da nossa fé. Para nós, vir à missa de domingo, é norma, é lei – quem não vai à missa de domingo cai em pecado, segundo a norma da Igreja. Mas se você está vindo à igreja e alguém é atropelado na sua frente, você deixa a pessoa atropelada lá para cumprir uma norma ou você para e vai ajudar? Pare e vá ajudar essa pessoa! Porque mais vale eu ajudar a pessoa necessitada do que passar por ela, deixá-la sofrendo e vir à missa e aqui ficar apenas de corpo presente. Quando eu preparava essa reflexão, eu achei uma reflexão de um padre que disse umas coisas que me deixaram pensando. Uma delas era que ele citou que prefere celebrar missa de corpo presente, com um caixão na frente, do que para alguns católicos que estão de corpo presente, mas com a alma ausente. E não é que é verdade? Tanta gente vem à igreja e o corpo está aqui, mas a alma está em outro lugar, longe daqui. Mas veio porque é obrigado, porque a vovó ensinou, porque a mamãe ensinou, mas não sabem o porquê de fato estar aqui, o que está celebrando. Alguns também quando passam na frente da igreja, fazem aquele sinal de espantar mosquito, repetem três vezes igual jogador de futebol e daí você pergunta “por que você faz o sinal da cruz?”. “Bom, me ensinaram assim e vou continuar fazendo”. E não sabem por quê... E tantas outras regras, tantas outras normas, que nós criamos nas nossas casas, no nosso cotidiano! E, por tanto, a liturgia de hoje é para destacar o que é essencial em nossa vida. Não estou dizendo de forma alguma que não deve haver leis, que não deve haver normas, quem me conhece sabe que eu sou a favor delas, porém elas não podem estar acima do ser humano e do nosso bem estar.
Nós podemos levar este Evangelho para outras situações de nossa vida, como um casal que se preocupa demais com sua casa, com sua reserva financeira no banco e se esquecem da vida matrimonial ou como os pais que não acompanham a educação de seus filhos, que não dão o amor e carinho, porque têm que trabalhar para pagar o balé, a natação, o futebol, a aula de violão e não têm tempo para o seu filho. É necessário resgatar o que é essencial nos nossos relacionamentos e é aquilo que a Palavra de Deus hoje nos coloca, como diz São Tiago escrevendo a sua primeira carta: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes”. O que a Igreja nos pede, meus irmãos e irmãs, é que, ao ouvirmos a Palavra do Senhor, possamos praticá-la no cotidiano da nossa vida e da nossa história.
Que Santa Teresinha do Menino Jesus, aquela que celebrou a Santa Missa todos os dias, aquela que refletiu sobre a Palavra de Deus, aquela que rezou em torno do amor do Senhor, seja nossa intercessora para que possamos encontrar a centralidade do Evangelho e a centralidade da Palavra de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 22º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 02/09/2018 (Domingo, missa das 10h).

A importância da correção fraterna
26/08/2018
Meus queridos irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o 21º Domingo do Tempo Comum, celebrando a vida pública de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador. Junto com a Igreja do Brasil, celebramos hoje os ministérios leigos, todos aqueles homens e mulheres que colocam a disposição de Deus os seus dons, os seus carismas e, de modo carinhoso, os catequistas do batismo, da pré-catequese, da primeira eucaristia, da perseverança, de crisma, da catequese de adultos e todos aqueles que, de modo direto ou indireto, ajudam na formação da consciência cristã e católica daqueles que procuram a Igreja com um caminho de salvação.
Nesse contexto, a Igreja nos apresenta hoje a liturgia, nos convidando a fazer uma escolha de vida, porque diante de inúmeras situações nós precisamos fazer uma escolha, livre, consciente e perseverante no caminho de Deus. Por isso, a Primeira Leitura proposta para nós hoje [Js 24,1-2a. 15-17. 18b] é quando o povo de Israel nessa busca de transformar o seu coração, de deixar Deus iluminar as suas decisões, os seus pensamentos, os seus projetos, continuavam ainda seguindo a deuses estranhos, a deuses estrangeiros. E é neste contexto que Josué pergunta: "Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor". E essa pergunta também é para nós, hoje, nós que queremos transformar o nosso coração, nós que desejamos deixar Deus conduzir a nossa vida, mas que reclamamos que Deus pediu isso, que Deus pediu aquilo, que Deus tirou isso de mim, que Deus não permitiu que eu fizesse aquilo... Se vos parece mal servir ao Senhor, a qual deus quer servir? Porque este Deus que nós adoramos não é o Deus do pode tudo, não é um Deus que faz o que quer, na hora que quer, do jeito que quer. É um Deus que deseja a nossa felicidade, e por isso traça um caminho para nós, mas sempre um caminho livre.
Papais e mamães, vocês deixam o filho de vocês fazer o que quer na hora que ele quer? Não, né? Deus também não permite que a gente faça o que quer na hora que queremos, do jeito que queremos, Ele está nos corrigindo, porque Ele nos ama, mas nós muitas vezes nos revoltamos contra Deus, como as crianças ficam revoltadas contra seus pais, quando o pai ou a mãe não permite fazer algo. Nós, muitas vezes, somos saudosistas ou temos ciúmes de outras religiões, outras filosofias de vida que permitem fazer o que quer, do jeito que quer. A nossa fé é muito clara, mas é uma adesão pessoal e livre, de cada pessoa, e nós, na medida em que aceitamos seguir a Jesus, precisamos deixar que Ele conduza a nossa vida e não ficarmos brigando com Deus, não ficarmos adorando outros deuses, outras filosofias, mas seguir este caminho que para nós é um caminho de verdade, um caminho de salvação.
É nesse mesmo contexto que a Igreja nos apresenta o Evangelho de hoje [Jo 6,60-69], em que nós estamos no discurso do pão da vida. Há três ou quatro semanas atrás, Jesus multiplicou os 5 pães e 2 peixes, e aquela multidão ficou saciada com o alimento, aí aquela multidão começou seguir a Jesus e Jesus se compadece porque aquela multidão é como ovelha sem pastor. Jesus e os discípulos deixam de descansar para dar atenção a cada uma daquelas ovelhas e aí Jesus depois continua falando seu discurso, dizendo que aquele que comer a Sua carne, aquele que beber do Seu sangue terá vida e vida em abundância, não terá mais fome, não terá mais sede, e é neste contexto que alguns se escandalizam com as palavras de Jesus. "Mas quem é esse aí dizendo que ele é o pão da vida?". Então, quando Jesus estava multiplicando os pães, maravilha! Quando Jesus enxuga as lágrimas de quem está chorando, tudo bem! Quando Jesus ilumina a direção daquele que está em dúvida, tudo bem! Mas quando Jesus diz que Ele é o filho de Deus, Ele é o nosso Salvador, que Ele é o pão da vida, alguns se escandalizam, e é nesse contexto que os discípulos dizem: "Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?". Jesus fala firme com seus discípulos, porque tinha muita gente ali só querendo farra, só querendo bagunça e, na hora que fala de compromisso, perna pra que te quero. Quantas vezes, na igreja, as pessoas vem por causa da música, por causa do padre, por causa da arquitetura da igreja, mas não vem por causa de Jesus. Quantas pessoas quando estavam com fome, física ou espiritual, vem ao encontro de Jesus, mas quando Jesus quer formar o seu coração, tchau, some da igreja. Quantas crianças gostam de vir à igreja quando tem festa, brincadeira, mas na hora de falar e rezar sério, não querem, ou quando os catequistas vão direcionar a vida, não querem. Todos nós estamos no mesmo barco, o que nos diferencia é o quanto estamos comprometidos com Jesus e o quanto permitimos que Jesus nos corrija. Crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, ninguém gosta de ser corrigido, mas todos, sem exceção, precisamos ser corrigidos em algo. E agora eu te pergunto: você se permite ser corrigido? Nós temos dificuldades e, como temos dificuldades! Mas é importante aprender que nós precisamos de correção fraterna. A esposa precisa corrigir o marido, o marido precisa corrigir a esposa, sem brigar, sem fazer a Terceira Guerra Mundial dentro de casa, os pais precisam corrigir os filhos, e quando os filhos corrigem os pais? Aí complica, né? Porque geralmente quando eles fazem isso é porque nós adultos caímos em contradição, falamos uma coisa e fazemos outra, pedimos para eles fazerem uma coisa e nós fazemos outra.
Então ninguém gosta de ser corrigido e é, por isso, que Jesus hoje no Evangelho diz: "Isso vos escandaliza? Mas entre vós há alguns que não creem. Vós também quereis ir embora?". Porque o que aconteceu, quando Jesus disse que alguns não criam, que alguns não seguiam as palavras de Jesus, o povo começou ir embora. Jesus esperou e falou para os que ficaram: "E vocês que ficaram, querem ir embora também?". E a pergunta é para nós hoje será que a gente quer ficar na igreja? Será que nós queremos seguir a Jesus? Ou queremos ir embora? Porque quando nos corrigem, nós vamos embora. Eu lembro quando fui ordenado padre, a primeira paróquia que passei tinha uma mania que a missa tinha que durar no máximo 59 minutos e 59 segundos. Passou alguns meses e caiu esse evangelho, aí eu disse: "Hoje, já que Jesus perguntou, quem quiser ir embora, vá, mas vá agora, pode levantar e ir, não espera o padre dar os avisos pra sair". Vocês acreditam que teve gente que levantou e foi embora? Pessoas de coração duro, ou é do meu jeito ou não é. Quantas pessoas com o coração endurecido em nosso meio. Lembro quando cheguei aqui na Paróquia Santa Teresinha, algumas situações precisavam ser organizadas, mas na medida em que a gente foi caminhando pra unidade, alguns disseram: "Desse jeito eu não quero" e desapareceram. O que aconteceu, estava vindo por Jesus ou por causa da função que estava exercendo? De liderança, coordenação, mandando em um número de pessoas...
A nossa missão é servir e é na missão de servir que devemos aprender a ser educados com Jesus e com aqueles que Ele coloca em nosso caminho. É nesse sentido que Jesus disse: "Vós também quereis ir embora?" e Pedro diz: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna". Se sairmos da igreja, a quem iremos? A quem iremos recorrer? Só Jesus é o nosso Salvador, só Ele tem palavras de vida eterna, só Jesus acalma o nosso coração, só Jesus enxuga as nossas lágrimas, mas é necessário, meus irmãos e irmãs, que aprendamos a deixar Deus, o próprio filho de Deus, nos corrigir. Assim como corrigimos as nossas crianças, nos deixar ser corrigidos por Deus e caminharmos juntos, como igreja e como família, onde um não é melhor que o outro, mas todos nós estamos caminhando na mesma direção.
É nesse sentido que Paulo escreve a comunidade de Efésios [Ef 5,21-32], não para a mulher ser melhor que o marido, não para o marido ser melhor que a esposa, mas para que todos nós aprendamos a servir sendo solícitos uns para com os outros, ajudando uns aos outros, sem esperar nada em troca. São Paulo, no contexto da sua época, disse pra mulher ser solícita, obediente ao seu esposo. E Paulo diz também "Marido amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja". Como Cristo amou a Igreja? Se entregando em sacrifício de amor pela sua esposa. Quando você, marido, recordar que ela deve ser solícita a você, você também deve recordar que você deve amar a sua esposa como Cristo amou a Igreja, dando a sua vida por ela, pela pessoa amada. Paulo aqui não está fazendo uma hierarquia dentro do casamento, está dizendo que cada um, na sua missão de educar os filhos, de viver o matrimônio onde tudo está confuso hoje nessa sociedade moderna, que vocês juntos, como um só coração possam viver as virtudes do sagrado matrimônio.
Que ao celebramos essa Eucaristia, Deus possa nos ajudar a abandonar os deuses passados, os deuses estrangeiros, que Deus possa purificar o nosso coração de uma mentalidade, de uma fé sem compromisso, de uma fé onde Deus não possa nos corrigir, porque senão saímos como adolescentes rebeldes, falando mal de Deus e da sua Igreja. Que o Senhor toque profundamente o nosso coração e naquilo que deve ser transformado em nossas atitudes, em nossos pensamentos, em nossos sonhos, em nossa vida vivida em casa, na família, no trabalho e na igreja e que o Senhor com o seu toque de amor toque cada casal para que não haja hierarquia dentro de casa, mas um só coração na busca da felicidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 21º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 26/08/2018 (Domingo, missa das 10h).

Servir a Deus e aos mais necessitados
19/08/2018
Meus irmãos e irmãs, nós estamos celebrando hoje a Assunção de Nossa Senhora, uma festa muito antiga na Igreja, mas que a partir do século III ou IV começou-se a venerar a festa da Dormício de Maria, ou seja, a Dormição de Nossa Senhora, depois com o passar do tempo e a devoção do povo para com a mãe de Jesus, essa festa foi levada a reflexão de que para nós católicos é um dogma de fé: Maria foi assunta aos céus.
Qual a diferença de assunção e ascensão? A ascensão, que celebramos no final do Tempo Pascal, foi quando Jesus subiu sozinho para estar à direita de Deus Pai todo-poderoso. A assunção são os anjos que levam Nossa Senhora para junto de Deus. E é esta festa que hoje celebramos: a Assunção de Nossa Senhora, porque nós cremos, como cristãos e católicos, que Nossa Senhora já está junto do Senhor, intercedendo por cada um de nós, os seus filhos, e uma gotinha de catequese para não perder o costume: não pode ter alguém que se diga católico que não creia em Nossa Senhora, na sua intercessão por cada um de nós. Para ser católico, é necessário ter uma devoção a Nossa Senhora, que não é uma adoração, mas uma veneração porque ela foi a primeira ser assunta, elevada aos céus segundo a nossa fé. E para ser católico, essa devoção a Nossa Senhora é importante que seja colocada no seu devido lugar, porque adoração somente a Deus. Nós não somos obrigados a ter devoção a São Judas, a Santo Expedito, a Santa Rita de Cássia, a Santa Teresinha e outros santos. A Igreja não diz que você precisa ter veneração pelos santos, mas a Nossa Senhora sim, por isso a Igreja dá o titulo dessa veneração, em grego, de hiperdulia. Para os santos é uma dulia, uma veneração; para Nossa Senhora, uma hiperdulia, que é maior que uma dulia. Então Nossa Senhora tem uma grande importância na nossa vida de cristão.
Por isso, a Primeira Leitura proposta hoje é do Livro do Apocalipse, capítulos 11 e 12, que diz que uma mulher revestida do sol, ela vai dar a luz a um filho, e este filho será protegido por ela dos dragões. A Igreja identifica, nesta leitura, a imagem de Nossa Senhora: ela que deu a luz ao seu filho Jesus e protegeu de todos os dragões que queriam devorar o filho de Deus. Do mesmo modo que Nossa Senhora protege o seu filho Jesus, Nossa Senhora quer também proteger a cada um de nós, por isso ela está sempre intercedendo diante de Deus por nossas necessidades. Se por uma mulher Eva, o pecado entrou no mundo, foi por uma mulher, Maria, que a graça de Deus se encarnou na história da humanidade e, pela encarnação do filho de Deus, nós fomos salvos.
Maria é a primeira a entrar no Reino dos céus, porque se colocou desde jovem a aceitar e responder ao chamado de Deus. “Faça-se em mim, Senhor, segundo a Vossa palavra” é algo que todos nós devemos aprender desde pequenininho a ouvir a voz de Deus e responder ao seu chamado: Faça Senhor, a Vossa vontade em mim, na minha vida, no meu matrimônio, na minha família, na educação dos meus filhos, na minha profissão... Mas, muitas vezes, nós não permitimos que Deus realize a Sua vontade na nossa vida, nós queremos fazer do nosso modo.
E como é bonito ver essas crianças, esses jovens iniciando ou continuando este caminho de Jesus Cristo a exemplo de Nossa Senhora, a partir do qual Deus vai moldando o coração de nossas crianças, um coração sobretudo para o serviço. Maria após receber a mensagem do anjo parte em direção a sua prima Isabel que já em idade avançada estava grávida e, Maria percorre cerca de 100 km para ver a sua prima Isabel. Quando nós nos colocamos no caminho da santidade, a exemplo da Nossa Senhora, não podemos nos esquecer daqueles que tem necessidades materiais, necessidades espirituais, necessidade de uma presença amiga e constante em sua vida. A nossa devoção a Nossa Senhora deve nos levar ao serviço, mas sobretudo ao serviço aos mais necessitados. Você tem visitado uma pessoa doente? Você tem visitado alguém que está sozinho? Você tem visitado alguém que está triste? Porque, às vezes, na nossa família, existem pessoas tristes, sozinhas, doentes e nós sequer pegamos o telefone para dizer “Oi! Tudo bem?”. Quantas vezes isso acontece na nossa família e aí depois a pessoa parte para junto de Deus e a gente começa a chorar por aquilo que não temos mais como remediar, portanto é necessário ir ao encontro hoje! Será que não tem alguém para quem você precisa ligar, alguém que você precisa visitar?
Meu irmão e minha irmã, a devoção a Nossa Senhora proposta pela Igreja na liturgia de hoje deve nos colocar a este serviço sem interesse, um serviço de amor gratuito assim como as nossas crianças e os nossos jovens, a partir de hoje, começam a exercer na Igreja, na Santa Missa. Enquanto tantas crianças e jovens estão por aí sem valores, que alegria não deve ter um pai ou uma mãe cujo filho quer servir ao próprio filho de Deus! Com certeza, estarão aprendendo coisas boas aqui em nossa comunidade! Como é gostoso ver os sorrisos de alguns pais quando seus filhos disseram “sim, eu aceito servir a Jesus como coroinha, como pré-cerimoniário, como cerimoniário”. Como é gostoso saber que você, pai e mãe, foi persistente na vida do seu filho, porque aqui ele aprende uma espiritualidade. Nessa sociedade, onde os jovens de hoje não são mais instruídos para ter responsabilidade, liderança, aprender a tomar decisões, os jovens em nossa comunidade aprendem a ter responsabilidade, a seguir a sua escala, a chegar no horário certo, a não se atrasar para os seus compromissos... Neste ponto, a gente vai depender muito dos pais, porque às vezes os filhos querem chegar na hora, mas se o papai e a mamãe não contribuem, não dá muito certo. Não podemos dar contratestemunho para as nossas crianças e jovens. Eles aprendem a ter liderança, porque os pré-cerimoniários, por exemplo, quando acontece alguma coisa na missa se não estiver os cerimoniários por perto, eu digo “e agora, qual desses vai ajudar?” e eles assumem a responsabilidade de orquestrar a missa para que o povo de Deus possa celebrar do melhor modo possível. Olha o tamanho da responsabilidade que estão assumindo!
Que alegria saber que vocês assumem essa responsabilidade e peço a vocês coroinhas e pré-cerimoniários para terem esse compromisso com o nosso Senhor Jesus Cristo. No dia em que o papai e a mamãe não quiserem vim, diga “vamos”, “mas filho o papai foi na festa ontem”, “papai, eu não tenho culpa disso, eu tenho que servir a Jesus!”. Mesmo que tenha que puxar o pé, fazer alguma coisa para trazer o pai e a mãe a Igreja, mas é importante, nós precisamos muito de cada um de vocês! Permitam-nos ajudar na educação religiosa e moral, na formação da liderança dos vossos filhos. Eles não vão deixar de serem crianças e nós nem esperamos que assim seja. Que eles continuem sendo arteiros e que continuem de vez em quando não prestando atenção no que acontece ao seu redor, mas que bom que estão crescendo na Igreja! Nós estamos aqui para ajudar, para conhecer as crianças, descobrir os dons dessas garotada, pois nós queremos colocá-los a disposição de Deus e dessa comunidade reunida.
Que assim, meus irmãos e irmãs, possamos ao celebrar essa Eucaristia na alegria desse encontro sobre a intercessão de Nossa Senhora pedimos que essas crianças e esses jovens continuem a crescer em graça e responsabilidade diante de Deus e diante de nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 20º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 19/08/2018 (Domingo, missa das 10h, com Instituição dos novos Coroinhas e Pré-Cerimoniários).

Perseverar para vencer as dificuldades
12/08/2018
Celebramos mais uma eucaristia juntos, neste mês de agosto, no qual recordamos as vocações e, especialmente hoje, a vocação familiar. A Palavra de Deus vai nos orientar para deixarmos de ser murmuradores – aquelas pessoas que ficam reclamando de tudo, dizendo que nada está bom, que tudo está ruim, e que o modo delas sempre é o melhor. Pois, agindo assim, vamos caindo no desânimo e não deixando com que a vida possa ser vivida na sua plenitude, na onde a nossa maior alegria é nos encontrarmos com Jesus na eucaristia, na Santa Missa.
Para introduzir este tema, a Igreja propõe a Primeira Leitura [1Rs 19,4-8], onde temos a figura de Elias, que é um profeta. E ele, como um bom profeta que responde ao chamado do Senhor, acaba sendo perseguido porque a sociedade do seu tempo estava indo na direção errada. Os reis e religiosos do seu tempo estavam fazendo coisas controversas. E Elias assume a sua personalidade profética, que é aquela de denunciar as injustiças e anunciar a verdade e, por isso, ele é perseguido. Uma, duas, dez, trinta vezes. Até que ele fica cansado e entra em uma espécie de desânimo espiritual e deixa a sua cidade em direção ao deserto. Deserto este que, na semana passada, recordávamos que o povo lá estava pois havia saído da escravidão do Egito. E, no deserto, reclamavam porque ali não havia água, nem carne e outras coisas que o Egito possuía. Mas, depois de toda esta murmuração, eles atravessaram o deserto e chegaram à Terra Prometida, onde Elias nasce.
Agora, Elias vai na direção oposta e volta para o deserto, que é um local onde as pessoas se perdem com facilidade porque não sabem que direção tomar. O deserto é um local onde se encontram muitos perigos e onde a variação de temperatura é muito grande. E é neste contexto que Elias, desiludido, senta-se debaixo de uma árvore e pede a Deus que Ele termine com a sua vida. Mas Deus, com o seu toque através de um anjo, vai até perto de Elias, o faz acordar e lhe oferece pão assado e água. Após isso, diz a ele para que se levante e continue sua caminhada. Afinal, quem para, morre.
Mas Elias dorme pela segunda vez. Aí Deus vai até ele, novamente, assim como um pai ou mãe vai acordar seu filho atrasado. Deus acorda Elias e quer acordar também cada um de nós que estamos adormecidos na nossa missão. Quer acordar cada um de nós que estamos desiludidos com a nossa vida, com a nossa missão de ser pai ou mãe. Para aqueles que estão cansados ou perdidos. É a própria mão do Senhor que vem nos tocar para nos colocar em pé, para nos dizer: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. Elias deveria ir em direção ao Monte Horeb, que é o mesmo monte no qual Moisés recebeu as tábuas da aliança, as tábuas da lei. E um monte sempre é um lugar da presença de Deus. E aqui, então, nós recordamos que a caminhada se faz caminhando. Para chegar ao monte, é necessário atravessar o deserto. E, diante das dificuldades e obstáculos, jamais desistirmos.
Você, pai ou mãe, jamais desista do seu filho. Ainda que você esteja bravo, chateado, entristecido, não desista. Seja a mão do Senhor que vai e toca o seu filho, colocando-o de pé para que ele possa continuar a caminhar. Fazer o filho é a parte mais fácil, o difícil é criá-lo, é atravessar o deserto em direção ao monte de Deus. E, diante dos desafios, não desanime porque Deus não desistiu de Elias. Deus não desistiu do povo de Israel. Deus não desiste de você. E pede que você não desista do seu filho, do seu matrimônio ou dos seus pais.
E nesta sociedade, onde as pessoas desistem muito fácil uma das outras, desistem da missão de Deus, desistem de um propósito, hoje nós somos chamados a permanecermos fiéis a Deus e ao propósito que ele coloca no nosso coração. Pedimos tanto para as nossas crianças serem disciplinadas como, por exemplo, ao acordarem cedo. E nós, adultos, será que temos essa mesma disciplina que queremos para as nossas crianças? Pedimos tanto para nossas crianças perdoarem uns aos outros, mas nós, adultos, muitas vezes, não nos perdoamos. Quando as crianças caem e se machucam, você as incentiva e diz para levantarem que logo essa dor passa. Mas você mesmo, quando cai, você não se utiliza de suas próprias palavras.
Portanto hoje, Deus toca no coração de cada um de nós, que estamos por aí sentados embaixo das árvores da vida, desiludidos, talvez querendo desistir da nossa missão e da nossa vocação. Vamos nos alimentar do Pão da Vida, que é a Santa Eucaristia. Vamos nos alimentar da Palavra de Deus para termos força e coragem para atravessar o deserto em direção ao Monte Horeb. E Deus tem um monte para cada um de nós: tem o objetivo final, que é a felicidade, a nossa Salvação e de nossa família.
Portanto, devemos rezar pelas nossas famílias e sermos profetas dentro de casa, como Elias: um pai e uma mãe que ama e corrige os seus filhos. Os filhos que amam seus pais também os corrigem. E ninguém gosta de ser corrigido, seja o menor daqui ou o mais idoso. Mas é necessário que sejamos corrigidos para chegar ao Monte Horeb. Que as nossas feridas sejam curadas, que as nossas dificuldades sejam sanadas por aqueles que Deus colocou em nossa história.
Quando deixamos de entender esta nossa missão, deixamos de entender a graça de Deus na nossa vida e o propósito de Jesus ter se encarnado na história da humanidade e ter se tornado para nós o Pão da Vida Eterna. É o que Ele diz no Evangelho de hoje[Jo 6,41-51], que é continuação do Evangelho de domingo passado, quando os discípulos veem Jesus multiplicando 5 pães e 2 peixes para milhares de pessoas e ainda sobraram 12 cestos cheios. E nessa situação, muitos vão atrás de Jesus, mas Ele fica bravo porque muitos vão ao seu encontro não porque Ele é o Messias, mas sim porque Ele pode dar pão de graça. As atitudes têm que ser feitas por amor e não por interesse, senão a missão do Evangelho que estamos celebrando e rezando não está sendo entendida plenamente.
E Jesus diz hoje: “Eu sou o Pão da Vida”. Os discípulos começam a murmurar porque não entendem quem é Jesus. E por isso Ele diz claramente: “Eu sou o Pão da Vida. Os vossos pais comeram o maná do deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente”.
Se aqui estamos, é porque desejamos viver eternamente em Jesus Cristo. Que, ao comungarmos a Eucaristia, Jesus toque no nosso coração e suscite em nós o ardente desejo de vivermos o Evangelho da verdade e da perseverança de sermos para as nossas crianças, Palavra e exemplo da vivência do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 19º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 12/08/2018 (Domingo, missa das 10h).

Confiar mais, reclamar menos
05/08/2018
Estamos celebrando o 18º Domingo do Tempo Comum, e neste mês de agosto a Igreja nos convida a refletir sobre as vocações. Vocação nada mais é do que ouvirmos o chamado de Deus e, respondendo a este chamado – a partir dos nossos dons, carismas, opção de vida... – encontrarmos o caminho da felicidade. Quando não respondemos ao chamado de Deus há uma grande possibilidade de nos frustrarmos ao longo da nossa vida, e por isso o discernimento vocacional, discernir a vontade de Deus, é fundamental, sobretudo na adolescência e na juventude.
Neste mês de agosto, a Igreja pede para rezarmos pelas vocações. No primeiro domingo, pelos ministérios ordenados: padres, diáconos e bispos. No segundo, pela vocação matrimonial, a vocação familiar. No terceiro, pelas vocações religiosas, os irmãos consagrados e as freiras. E no quarto domingo, pelos evangelizadores, em que todos nós somos chamados a evangelizar, assim como os catequistas de nossa comunidade. Neste primeiro domingo do Mês Vocacional, queremos trazer em nosso coração todos os padres, estes homens que se dedicam ao ministério, que cuidam das paróquias. Rezemos para que sejam bons pastores, bons administradores da multiforme graça de Deus, como nos ensinam as Sagradas Escrituras.
Hoje a Igreja nos convida, para assumirmos a nossa vocação, a deixar o homem velho e a mulher velha para trás, quando São Paulo, na segunda leitura (Ef 4, 17. 20-24) nos diz: "Irmãos, eis pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada". Muitas vezes, nós frequentamos a igreja, trazemos nossos filhos para serem batizados, pedimos para casar na igreja, vamos a missas de sétimo dia... Mas continuamos a viver como se fossemos pagãos. É necessário fazer essa transição de vida; é necessário deixar que o homem novo, a mulher nova renasça em nosso coração, para que o próprio Deus vá nos moldando e nos qualificando para vivermos o Evangelho da verdade, o Evangelho da vida.
A Palavra de Deus diz: "... cuja inteligência os leva para o nada". Nós, homens e mulheres de fé, não somos analfabetos intelectuais, jamais. A nossa Igreja vive o Evangelho de Jo 8, 32: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". O mundo ensina muitas verdades, mas nós temos uma verdade que, para nós, é fundamental: Jesus Cristo, o Filho de Deus, o nosso Messias, nosso Salvador. A Igreja diz que fé e razão devem caminhar como duas asas. Já viram passarinho voando com uma asa só? Já viram avião voando com uma asa só? O cristão, sem a razão, também perde o rumo daquilo que Jesus Cristo nos pede. Dentre os catequistas, temos uma história muito bonita de quem se converteu lendo os intelectuais da Igreja Católica – Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho... Portanto, na Igreja existe esta verdade, mas é necessário que nos debrucemos sobre ela, estudemos, para conhecer o que Jesus e a Igreja que Ele instituiu nos ensinam como caminho de verdade.
Diz a Palavra de Deus: "Despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade". Ou seja, revestirmo-nos do homem novo, da mulher nova. Frequentamos a igreja mas, muitas vezes, queremos viver de um saudosismo, ou não deixamos Deus converter verdadeiramente nosso coração e nossa vida. E quando não nos convertemos, começamos a murmurar, como na primeira leitura de hoje (Ex 16, 2-4. 12-15), no contexto em que o povo de Israel estava escravo do povo egípcio. Quando Deus os liberta, por meio de Moisés, no meio da transição em direção à Terra Prometida, o povo começa a murmurar. E quantos de nós, atravessando o deserto da nossa história, também não ficamos murmurando, reclamando? Reclamamos disso, daquilo, e nunca vemos o que está bom, aquilo que já avançou, que já melhorou. Será que você é um murmurador? Será que você é um "reclamão"? Nós precisamos nos converter para levar o outro à conversão.
Por isso, a Palavra de Deus diz: "Naqueles dias, a comunidade dos filhos de Israel pôs-se a murmurar contra Moisés e Aarão, no deserto, dizendo: 'Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura!'". O povo de Israel estava livre! Indo para onde queria, em direção à Terra Prometida. Mas o saudosismo fez com que eles começassem a murmurar, preferindo estar ainda na situação de escravos para poder comer uma panela cheia de carne. Em outra ocasião, vão dizer que preferiam as cebolas do Egito... Quantas vezes nós estamos como o povo de Israel: trilhando o deserto da nossa história em direção à morada eterna, mas reclamando de um passado que não volta mais?
E todo processo, meus irmãos, de libertação, de conversão, de transformação, requer de nós um pouco de empenho. Quando os filhos se casam e saem da casa dos pais para irem para sua própria casa, por exemplo, é um período de transição que é necessário viverem, não se pode desistir. Nas primeiras dificuldades vêm as tentações e, com elas, as murmurações. Muitos jovens estão acostumados a terem sua comida feita e sua roupa lavada pelos pais, e quando se casam precisam fazer sozinhos. Então brigam, discutem... E se não tomarem cuidado, um lindo matrimônio pode se desfazer por não saberem viver a transição. Nós, em nosso período de transição, queremos chegar à morada eterna, e é necessário que deixemos de murmurar, miremos aonde queremos chegar e enfrentemos os desafios que nos são apresentados pela nossa própria vida, pela nossa cultura e pelo momento histórico em que estamos vivendo. Nesta transição, sobretudo na transição de viver a fé, é necessário que confiemos em Deus.
O Evangelho de hoje (Jo 6, 24-35) continua a reflexão dos últimos três domingos, quando Jesus envia os discípulos em missão – cajado na mão, sandálias nos pés, duas túnicas. Depois de fazerem a missão em nome de Jesus, eles voltam para dar satisfação ao Senhor, e a multidão se aglomera. Jesus fica comovido com aquelas pessoas, pois eram como "ovelhas sem pastor". Então, como refletimos no domingo passado, Ele acolhe aquele povo e multiplica os pães. Ao fazer isso, Jesus se retira de modo escondido, pois era necessário descansar e rezar, mas a multidão, inquieta, vai atrás Dele. E Ele, então, pergunta no Evangelho de hoje: "Por que me procurastes?". Em outras palavras, "Me procuram porque sou o Filho de Deus, o Salvador? Me procuram porque tenho palavras de vida, palavras de verdade? Ou me procuram porque querem ficar com a 'barriga cheia'?". Muitos estavam atrás de Jesus não porque Ele era o Messias, mas porque O tinham visto multiplicar os pães. Por que nós estamos aqui hoje? Para "encher a barriga"? Só para batizar nossas crianças? Só para ter algum sacramento? Só para farrear com os jovens? Só para dizer que está em determinada pastoral? Só para dizer que agora é crismado?
Para que estamos aqui? Estamos aqui para professar a fé no Filho do Deus Vivo, no Messias: Jesus Cristo, nosso Senhor! Este Deus que sacia nossa fome, que sacia toda a nossa sede. Por isso, Jesus termina o Evangelho dizendo: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede". Seja qual for a sua fome, seja qual for a sua sede, permita que Jesus te sacie, hoje e sempre; permita que, ao celebrar esta eucaristia, o Senhor toque profundamente em seu coração, em sua inteligência e, sobretudo, em todas as suas murmurações.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 18º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 05/08/2018 (Domingo, missa das 10h).

Se partilharmos, nada nos há de faltar
29/07/2018
Nós estamos celebrando hoje o 17º Domingo do Tempo Comum, na alegria destas crianças que serão batizadas, das que retornam à Catequese e daquelas que iniciam esta caminhada de fé e de esperança. E a Igreja, meus irmãos e irmãs, vai nos convidar a refletir sobre a partilha, sobre a solidariedade daquele que dá com alegria aos mais pobres e aos necessitados. Por isso, quero aqui agradecer desde já a você pai, a você mãe que está partilhando o seu tempo com o seu filho, partilhando com ele as coisas de Deus, trazendo-o à igreja. Porque uma criança que cresce com Jesus no seu coração, em uma comunidade de fé, cresce diferente. Ela não é melhor, ela não é pior, mas ela tem valores que a torna diferente. Porque, diante desta sociedade fragmentada pela falta de perdão, pelo ódio, pela ganância, pelo poder, pelas drogas, pela prostituição... Crianças que crescem na igreja, quando se deparam com situações contrárias ao projeto de Deus, têm a possibilidade de escolher de modo diferente, pois foram educadas de modo diferente. Muito obrigado pai e mãe que trouxeram seus filhos hoje, obrigado por inscrevê-los na Catequese. Pedimos que sejam perseverantes quando seu filho estiver cansado e não quiser vir à Catequese ou à missa. Converse com ele, incentive-o para que ele tome gosto pelas coisas de Deus. Porque o seu cordão umbilical um dia vai ter que ser cortado, e o bom pai e a boa mãe são aqueles que ensinam o filho a lidar com as situações da vida quando eles não estão presentes. Por isso eu peço, como pastor desta comunidade: deixe-nos ajudar na educação religiosa do seu filho, da sua filha. Quero também agradecer aos catequistas de nossa comunidade, pela dedicação, pelo empenho, por mesmo com tantas coisas para fazer – trabalho de casa, trabalho fora, outras atividades pastorais – estarem se dedicando a cuidar destas crianças.
Meus queridos pais, insisto: deixem-nos ajudar estas crianças a encontrarem o caminho da verdade, que, para nós, é Jesus Cristo, que se revela na Igreja católica, apostólica e romana. Esta Igreja que hoje nos convida a refletir sobre a partilha, que na primeira leitura [2Rs 4, 42-44] nos fala de um homem de BaalSalisa. Este homem era um agricultor e, depois que a plantação dava certo, que ele fazia a colheita, ele agradecia a Deus. Infelizmente, hoje têm pessoas que não agradecem a Deus pelo alimento, pelo trabalho... E desde há muito tempo as pessoas agradecem. No tempo deste agricultor de BaalSalisa, levava-se os frutos da colheita para Deus no templo, e lá tinha um homem chamado Eliseu, que era profeta, aquele que anunciava a verdade e falava das coisas de Deus – igual todos devemos fazer, seja na escola, em casa, com os amigos, no trabalho... E Eliseu chegou perto do agricultor e disse: "Você deve partilhar estes frutos com os que estão aqui". Mas eram 20 pães para 100 homens! E agora? Eliseu pediu que o homem confiasse em Deus, pois ele haveria de multiplicar o alimento. O homem começou a distribuir os pães, a partilhar, e o finalzinho da primeira leitura diz assim: "O homem distribuiu e ainda sobrou, conforme a Palavra do Senhor". Esta foi a primeira multiplicação, porque o agricultor de BaalSalisa confiou em Deus. E nós também precisamos aprender a confiar em Deus, desde pequenos. Sempre confiar em Deus. Coloque sua confiança sempre no Senhor!
Como nós aprendemos na semana passada, a primeira leitura tem estreita relação com o Evangelho, e o Evangelho de hoje [Jo 6, 1-15] é uma espécie de continuidade daquilo que refletimos nos dois últimos domingos, quando Jesus envia os discípulos em missão com um cajado na mão, para agirem com autoridade. Pai e mãe: Jesus pede que vocês hajam com autoridade com seus filhos – não com autoritarismo, mas com autoridade, que são duas coisas distintas. Depois, Jesus pede que os discípulos coloquem as sandálias nos pés, porque a missão se faz caminhando, não parado; pede que não levem mais do que duas túnicas, porque todo excesso atrapalha a missão de evangelizar. Os discípulos vão e voltam para apresentar a Jesus os frutos de sua missão. Jesus vê que eles estão cansados e tenta leva-los para a outra margem, para que possam descansar, mas lá encontram uma multidão. Então Jesus não descansa nem deixa os discípulos descansarem, mas acolhe aquele povo e, depois, encontra o momento do descanso. Só que aquela multidão continua seguindo Jesus, e este é o Evangelho de hoje.
Jesus olha para Filipe, que era o mais jovenzinho deles, e diz: "Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?", mas Filipe não soube responder. Chega André, o mais velho, e diz: "Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?". Então Jesus fala: "Fazei sentar as pessoas", e faz algum tipo de discurso que toca o coração de cada um dos que lá estavam – cada criança, cada pai, cada mãe... Cada um dos que estavam seguindo Jesus. Depois deste discurso, Ele diz: "Agora podem distribuir os pães e peixes", e quando os discípulos começam a distribuir, o alimento começa a se multiplicar, sobrando ainda 12 cestos cheios! É o milagre da multiplicação. Mas sabe qual é o milagre mais importante que Jesus fez? O milagre mais importante foi ensinar as pessoas a partilharem o que têm e não ficarem retendo para si. Quando vamos passear, quando vamos a algum lugar, dificilmente saímos sem algum alimento na bolsa – sobretudo, a mamãe e o papai sempre têm alguma coisinha. Atualmente, tem padaria para todo lado, mas no tempo de Jesus não tinha, então eles levavam algum alimento consigo, mas ficavam com tanto medo de ficar sem nada para comer que não partilhavam. E Jesus, depois de fazer este discurso, toca o coração de cada pessoa para que eles aprendessem a partilhar.
E sabe qual a diferença entre doar e partilhar? Doar é ter uma coisa da qual você não precisa mais e, então, dar a outra pessoa; partilhar é quando você tem uma coisa e ainda precisa dela, mas você divide com o outro. Ou seja, doação é dar aquilo que eu tenho mas não vai me fazer falta, como quando abrimos o guarda-roupa, tiramos tudo o que não queremos mais e damos embora; ou quando alguém pede um alimento, eu abro o armário, vejo o que não quero mais e dou a ele. Partilha é ter, querer e, ainda assim, ser capaz de entregar ao outro. É isso o que Jesus nos ensina: a ter um coração que saiba partilhar.
São Paulo, na segunda leitura de hoje [Ef 4, 1-6] diz que nós devemos "suportar uns aos outros". E temos que aprender desde crianças que este suporte não é como aquilo que alguns dizem: "Eu não gosto de você, mas te suporto". Não é certo falar isso. São Paulo diz que nós devemos ser suporte, ser aquele que ajuda o outro a se levantar, a caminhar quando está com fome, quando está triste. Porque, segundo São Paulo: “Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos". Em outras palavras, São Paulo está dizendo que todos nós formamos um corpo, chamado de corpo místico; e num corpo, quando um membro sofre, todo o corpo sofre. Quando você está com dor no joelho, por exemplo, o corpo inteiro sente; quando você chuta uma pedra e sua unha fica roxa, o corpo inteiro sente; quando você se corta, o corpo todo dói, o corpo todo fica sentindo, porque você cortou uma parte dele; quando você quebra algum membro, nosso corpo inteiro sente. Paulo está dizendo nessa leitura que nós somos o corpo místico de Cristo, ou seja, quando uma pessoa está doente, quando uma pessoa está com fome, quando uma pessoa está triste, quando uma pessoa está abandonada, todo o corpo sente. Portanto, enquanto no mundo tiver uma criança abandonada, uma pessoa passando fome, um doente, Jesus está sentindo estas dores. E nós, desde a criancinha que vai ser batizada, as que estão na catequese, até os mais velhinhos, de cabeça branca: todos nós devemos lutar para que o corpo de Jesus Cristo seja sarado.
Vamos pedir a Deus que nós possamos, a partir desta Eucaristia, reavivar a confiança Nele. Que possamos, a partir e hoje, confiar que, se nós partilharmos, nada há de faltar em nossa vida. E que possamos olhar para o corpo místico de Jesus e ver nos pobres, nas crianças abandonadas e naqueles que não têm voz e nem vez o rosto sofrido de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 17º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 29/07/2018 (Domingo, Missa das 10h e retorno da Catequese Infantil).

A missão de cuidarmos uns dos outros
22/07/2018
Nós estamos celebrando, irmãos e irmãs, o 16º Domingo do Tempo Comum, no qual a Igreja nos convida a refletir sobre o nosso pastoreio, a nossa missão de cuidarmos uns dos outros; e também sobre o nosso cansaço, a nossa fadiga diante da missão que nos é proposta por Deus.
É por isso que a primeira leitura de hoje [Jr 23, 1-6] vai dizer: "Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor!". A Palavra de Deus diz: "Ai dos pastores", mas nós poderíamos dizer: "Ai dos pais que deixam seus filhos se perderem", "Ai dos padrinhos que não assumem a missão e deixam os afilhados se perderem", "Ai dos esposos que não cuidam das esposas", "Ai das esposas que não cuidam dos esposos", "Ai dos filhos que não cuidam dos seus pais" e assim por diante, porque todos nós, pela graça do batismo, nos tornamos pastores para cuidarmos uns dos outros. E Deus sempre nos concede pessoas para cuidarmos: os filhos, os irmãos, os pais, um amigo mais próximo; uma comunidade, no caso do padre; talvez uma empresa, no caso de um empresário; ou um gerente, um encarregado cuidando de seus liderados. Sempre Deus nos concede alguém para cuidar e zelar. E hoje a reflexão que nós devemos fazer é: como estamos lidando com a nossa missão de pastores? Como vai a sua vocação matrimonial? A sua vocação de pai? A sua vocação de trabalhador? O seu trabalho pastoral?
Deus é muito claro ao dizer que, àqueles pastores que não cuidarem do Seu rebanho, Ele há de suscitar novos pastores para o apascentar. Diz o profeta: "Suscitarei para elas" – para as ovelhas – "novos pastores que as apascentem". Deus não nos abandona, como rezamos e cantamos no Salmo 22 – este Deus que caminha conosco pelos "campos verdejantes". Quando nos encontramos em situações de trevas, de angústia, de tristeza, o Senhor está conosco. E Ele não nos desampara, mas nós, como pastores, devemos estar atentos à missão que nos foi confiada, porque se nós não cuidarmos de nossas ovelhas, o Senhor não vai deixar o Seu rebanho perdido.
"E o que essa Palavra tem a ver conosco, padre?". Talvez na sua missão de pai e de mãe, por exemplo. Quantos jovens nós encontramos ao longo de nossas vidas que, não tendo apoio, não tendo carinho, não tendo atenção, não tendo a correção adequada dentro de casa, vão procurar tudo isso fora. Quantos filhos procuram a paternidade, a maternidade que não tiveram em casa, fora, na rua. Quantos alunos fazem dos professores seus pais, porque só moram sob o mesmo teto, mas não têm atenção nem carinho. A Palavra também pode ser para você esposo, esposa, que não dá atenção para seu companheiro(a). Quantas famílias desfiguradas por causa traição... E quando vai se conversar, o que acontece? "Não tenho atenção dentro de casa", "Não tenho carinho, não tenho compreensão", "O meu marido não tem tempo para mim", "A minha esposa não tem tempo para mim"... E aí vão para fora, procurar em outros lugares. Está certo? Não está! Mas se aquele que deveria dar atenção não deu, também está errado. Quanto tempo você dedica à sua família? Quanto tempo você dedica ao seu esposo, à sua esposa, aos seus filhos? Quanto tempo e de que modo nós dedicamos nossa atenção à missão que Deus nos confiou?
Nesse sentido, meus irmãos, em estreita relação com a primeira leitura, o Evangelho de hoje [Mc 6, 30-34] fala desse pastoreio de Jesus Cristo para com Seus discípulos – que, na semana passada, Ele enviou dois a dois para evangelizar, dando-lhes um cajado para que agissem com autoridade, e pedindo-lhes também que andassem com sandálias, porque a missão se faz caminhando. Na ocasião, refletimos sobre o coma espiritual que alguns estão vivendo por aí. E falamos também sobre as duas túnicas, para não acumularmos tesouros que nos impedem de viver o projeto de Deus e se tornam um peso para cada um de nós. Pois bem, esses discípulos foram e, agora, retornam para dar satisfação a Jesus do que havia acontecido. E como estes homens chegam diante de Jesus? Cansados, abatidos, alguns tristes. Por quê? Porque encontraram um monte de porta na cara! Talvez foram xingados, alguns podem ter sido agredidos... Andaram por vários lugares e, talvez, muitas famílias, muitas pessoas não lhes deram atenção. Porque a missão é cansativa. Quem faz a missão corretamente fica cansado. E Jesus, ao ver estes discípulos, coloca-os no barco para irem à outra margem. E diz: "Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco".
Aqui nós refletimos, meus irmãos, sobre a necessidade do descanso. Porque a missão é árdua, é difícil, requer muito empenho de nós, e muitas vezes nós não encontramos tempo para o descanso. É necessário também que, como Jesus, estejamos atentos às pessoas que estão cansadas e fatigadas. Quantos pais e mães estão cansados e não encontram tempo para o descanso; chegam em casa, o filho quer atenção para brincar ou para conversar como foi seu dia, e o pai ou a mãe não dá atenção porque está cansado. Quantos esposos chegam em casa e não têm atenção, esposas chegam em casa e não têm atenção... Talvez porque estão cansados. Quantas pessoas vendem as suas férias, muitas vezes sem necessidade, só para acumular mais umas 15 "túnicas"... Porque quando a necessidade se faz presente, entendemos. Mas e quando não se faz, qual é a sua justificativa? Quantas pessoas dizem: "Prefiro estar no trabalho do que estar em casa, porque em casa é um campo de batalha"?! E tem gente que trabalha mais em casa do que no serviço... Podemos ver algumas mães, sobretudo; mulheres que trabalham fora e, quando chegam, têm que cuidar da casa, cuidar dos filhos e, ainda, cuidar do marido, fazendo uma jornada dupla, tripla, quádrupla. Em menor número, mas temos também homens que trabalham fora, estudam e, quando chegam, têm que cuidar da casa, dos filhos e, talvez, até da esposa. E como nós encontramos tempo para o descanso?
Lembrando que, de algumas coisas, não dá para tirar férias. Do matrimônio, por exemplo. Não tem jeito! Da missão de ser pai e mãe, dá para tirar férias? Não dá! Mas você precisa encontrar um tempo para descansar. Se uma máquina precisa de algum tempo para revisão, troca de peças etc., nós seres humanos também precisamos. Mas quantas pessoas não encontram esse tempo... E aqui são necessárias duas reflexões. A primeira, se você é o pastor cuidando da sua família: identificar se alguém não está cansado demais e precisa descansar. A segunda é se você, como pastor, está dedicando tempo para o seu descanso, que também é necessário. Jesus coloca os discípulos no barco para atravessarem para a outra margem; coloque a sua família no carro, no trem, no avião e vá também para a outra margem, descanse, desligue! É importante este tempo com a sua família, com as pessoas que você ama. E é importante este tempo para com você sozinho também, para você rezar, refletir, ter um tempo consigo mesmo.
Só que muitas vezes, meus irmãos, não acontece da forma como planejamos. Jesus, por exemplo, colocou os discípulos no barco e disse "vão para o outro lado que lá não tem ninguém, está tranquilo". Mas a multidão viu e saiu correndo para a outra margem; quando Jesus chegou, lá estava o povo! Deu para descansar? Não deu. Jesus deixou-os abandonados? Não deixou. Mas, depois, Jesus encontrou outros momentos para que Ele e os discípulos pudessem descansar. Têm planos que a gente faz que não dão certo, e nós precisamos nos adaptar. Ainda assim, é necessário encontrarmos este tempo de descanso.
Você tem conseguido dar atenção às suas ovelhas? Você tem conseguido dar atenção à sua família? Você tem conseguido descansar? Esta é a reflexão do Evangelho de hoje. E é necessário que tenhamos sempre um olhar compassivo, como o olhar compassivo de Jesus no Evangelho: "Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor". Quando chegar em casa, por mais cansado ou triste que você estiver, se suas ovelhas estiverem abatidas, dê atenção a elas. Se sua esposa ou seu esposo quiser atenção, dê atenção a ele(a). Procure vivenciar o seu pastoreio com o mesmo carinho, com o mesmo entusiasmo, com o mesmo discernimento de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Que possamos, ao celebrar esta eucaristia, meus irmãos e irmãs, renovar o compromisso do nosso batismo e sermos verdadeiros pastores daqueles aos quais Deus nos confiou cuidar e zelar.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 16º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 22/07/2018 (Domingo, missa das 10h).

Todos somos chamados a santidade
08/07/2018
Estamos celebrando o 15º Domingo do Tempo Comum e a Igreja continua a nos pedir e a insistir conosco sobre a reflexão de identificarmos em nossa vida o que a história da revelação nos pede para que possamos assumir o compromisso de sermos cristãos. Por isso, a liturgia de hoje nos fala do profetismo, das missões e de nos libertarmos de nossas prisões.
Na Segunda Leitura [Ef 1,3-14], Paulo nos diz que Jesus nos escolheu antes da fundação do mundo para sermos santos. Deus nos conhece desde a fundação do universo e chama a todos nós para a santidade, e aqui é importante refletirmos que não somos frutos do acaso, mas do amor de Deus, e trilhamos nossa história em busca da santidade, pois, hoje, para muitos, a santidade é um objetivo que não conseguimos alcançar. Quando você começa uma faculdade pensando que não vai conseguir, você não vai conseguir mesmo. Se você voltou para a igreja hoje já pensando que não vai conseguir vir na missa todo domingo, você não vai conseguir mesmo. Se colocarmos na cabeça que não conseguiremos alcançar a santidade, não conseguiremos mesmo, e a santidade não é privilégio para poucos, e sim para todos que a buscam. Quem busca a santidade não é uma pessoa chata, isolada, que fica na igreja o dia inteiro, não, a santidade é para ser vivida em casa, no trabalho e na sociedade. Muitas pessoas acreditam que ser santo é abrir mão de tudo que a vida nos oferece, mas não. Devemos abrir mão apenas daquilo que nos afasta do projeto de Deus. Na última quinta-feira, celebramos a santidade dos pais de Santa Teresinha, Santa Zélia e São Luís, que alcançaram a santidade na vida cotidiana. Zélia tinha uma lojinha de bordados e evangelizava ali com seu testemunho, com seu sorriso e com o modo com que cuidava da família. São Luís era relojoeiro e ali também acolhia as pessoas com seu sorriso e evangelizava com seu testemunho de vida. A santidade é para nos permitir viver e não para abrir mão da nossa vida. A santidade não é para nos tornar pessoas frias e isoladas, muito pelo contrário, é para nos tornar pessoas reluzentes, pessoas que levam luz, alegria e entusiasmo às pessoas. Nesse sentido, Paulo continua dizendo que pelo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo fomos libertados.
E quantas prisões nos impedem de alcançar a santidade? Muitas vezes, essas prisões são psicológicas; outras vezes, traumas de infância e de família, determinados momentos que nos paralisam; às vezes, é o nosso modo de pensar sobre a ciência, sobre a política, sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre os valores cristãos e religiosos... Mas sejam quais forem as nossas prisões, Jesus nos liberta, e precisamos tomar posse dessa liberdade de atitude que nos permite ser profetas, como o profeta Amós, que, na Primeira Leitura [Am 7, 12-15], está evangelizando na cidade de Betel. Profeta é aquele que denuncia as injustiças, que leva esperança, que corrige as pessoas, e Amós está fazendo isso quando de repente chega Amasias, sacerdote reconhecido da cidade de Betel em nome do rei e diz para Amós: “Vidente, sai e procura refúgio em Judá, onde possas ganhar teu pão e exercer a profecia”, em outras palavras, ‘se você ficar aqui, o rei fará algum mal pra você’. E o profeta responde: “Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo’”. Amós está dizendo que não nasceu de uma linhagem profética, seu pai não era profeta, mas foi chamado pelo próprio Deus, e ele não pode recusar um chamado de Deus, assim, em uma cultura onde os profetas eram filhos de outros profetas, Amós rompe com essa tradição que não permitia que ele vivesse o projeto de Deus e enfrenta o sacerdote Amasias e o rei da cidade. Quantas vezes nós somos capazes de enfrentar os obstáculos da nossa vida? Talvez poucas vezes porque nós temos medo de dizer ‘não’ às pessoas e de enfrentar situações em nome de Deus, mas pelo batismo todos nós nos tornamos profetas e, como profetas, precisamos aprender a enfrentar os desafios, precisamos aprender a dizer ‘não’. Alguns pais não conseguem dizer ‘não’ para os filhos, aí o filho faz o que quer; há esposos que não conseguem dizer ‘não’ às esposas e vice-versa; tem patrão que não consegue dizer ‘não’ ao empregado e, assim, a sociedade não progride. Precisamos aprender a ouvir e respeitar o ‘não’ e quando for necessário também dizermos ‘não’. Pois quando situações e pessoas nos impedem de viver o projeto de Deus, é necessário enfrentarmos. Por isso, o Evangelho de hoje [Mc 6,7-13] vai nos chamar a atenção para a missão: Jesus envia os doze apóstolos em missão ‒ e, nessa missão, encontramos cada um de nós que pelo batismo somos chamados a essa profecia, a essa missão de pregar a boa notícia do Reino. E Jesus envia os discípulos com um cajado na mão, que simboliza a autoridade. O Papa e o Bispo usam um cajado para simbolizar a autoridade que Jesus dá, para que, como pastores, eles conduzam seu rebanho. Essa autoridade que muitos de nós temos como pais, pároco, em funções de liderança na empresa... Mas você já viu o Papa batendo em alguém com aquele cajado? Não, ele utiliza a sua autoridade para corrigir, para admoestar, para incentivar, para alegrar, e é essa a autoridade que precisamos encontrar em nossa vida. Muitas vezes, não sabemos utilizar esse cajado e o usamos de forma equivocada. Qual é a autoridade que Deus lhe deu? Você a utiliza de modo correto ou de modo incoerente com a fé que você professa?
Depois, Jesus diz para os discípulos irem de sandália nos pés, pois as sandálias são o símbolo daquele que caminha em nome de Deus, e aqui recordamos que toda caminhada se faz caminhando, não é parado, não é sentado, muito menos deitado. Somos um povo itinerante que caminha em direção à morada eterna. Tem gente que fica parado esperando que algo mude a sua vida, mas é necessário caminhar e transformar o mundo como Jesus nos pede. Quais são as situações da sua vida, da sua fé, da sua família ou da sociedade das quais você reclama, mas fica parado e não transforma sua vida? Não podemos ficar parados, devemos lutar! Na sua vida, no seu matrimônio, no seu trabalho, existem situações nas quais você está parado? Existem situações pelas quais você precisa lutar, pois tem bastante gente reclamando, mas, para trabalhar e transformar a realidade, são poucos. Em seguida, Jesus nos pede para não levarmos duas túnicas, pois o excesso de bagagem vai nos prejudicar na missão evangélica. Jesus está nos dizendo, em outras palavras, para não nos preocuparmos demasiadamente com bens materiais. Quem quer viver o projeto de Deus não deve estar preocupado demasiadamente com os bens materiais. Aqui, lembramos quantas pessoas vivem para trabalhar... Como está a sua vida? Você vive para trabalhar ou trabalha para viver? Como está a divisão da sua vida? Você trabalha quantas horas por dia? Tudo que você trabalha, você precisa, de fato? Pois, às vezes, trabalhamos muito e nos esquecemos de viver, nos esquecemos de colocar Deus como prioridade, da nossa família, da educação dos filhos, das amizades. E quantos problemas familiares surgem porque as pessoas trabalham demais? Quantos problemas nós acompanhamos na comunidade, porque não se sabe dedicar tempo para as coisas importantes? Tem gente que fala que não consegue vir à igreja, mas é porque não é prioridade. Qual é a prioridade da sua vida? Conquistar bens para as traças corroerem, para deixar para os filhos, quando os filhos muitas vezes querem os bens da sua presença, do seu abraço e do seu carinho? Na sua vida, quanto tempo você está dedicando a passear, a descansar, a desfrutar da sua família, dos seus amigos? É importante encontrarmos esse tempo.
E, por último, Jesus nos diz que quando não formos bem recebidos em uma cidade ou em uma casa devemos sacudir a poeira dos pés, mas Ele não está falando isso para você ficar com mágoa e revoltado porque a pessoa não te recebeu nem para desistir daquela pessoa. Sacudir a poeira significa não permitir que nenhuma mágoa e nenhum rancor estejam no seu coração, pois depois você pode voltar para aquela cidade, para encontrar aquela pessoa e continuar insistindo para que ela encontre o caminho de Deus. Quantas vezes as mágoas nos impedem de viver o projeto do Senhor e causam em nós traumas que não nos permitem sermos evangelizadores da boa notícia de Jesus Cristo, nosso Senhor? Portanto, ao celebrar essa Eucaristia, peçamos a Deus que possamos resgatar o sentido profético do nosso coração e da nossa fé. Que saibamos reaprender a acolher os ‘nãos’ que são dados ao longo de nossas vidas e dizermos ‘não’ quando se faz necessário. Que saibamos deixar Deus nos enviar para a missão, onde utilizaremos cada instrumento que Deus nos deu da forma correta e no tempo correto. Que possamos nos libertar de todas as prisões para que a liberdade nos possibilite escolher o caminho de Jesus, o caminho da santidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 15º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 15/07/2018 (Domingo, missa das 10h).

Deus nos pede que sejamos persistentes
08/07/2018
Nós estamos celebrando o 14º Domingo do Tempo Comum, onde a Igreja convida todos nós a sermos profetas, homens e mulheres da esperança, do amor e da paz, que anunciam o Evangelho da Salvação. Por isso, a Primeira Leitura de hoje, retirada do Livro de Ezequiel [Ez 2,2-5], nos recorda que o profeta é chamado a insistir com aqueles de cabeça dura e coração de pedra. Por isso, o Senhor pede para o profeta, em primeiro lugar, ficar em pé. Antes de ouvirmos o Evangelho, nós nos colocamos em pé, em atitude de prontidão, para ouvir a mensagem de Deus e seguirmos o que Ele nos pede. Ao profeta Ezequiel, Deus pede que ele vá aos israelitas porque estes haviam se afastado de Deus e eles eram justamente homens e mulheres de cabeça dura e coração de pedra. E nós, a quem somos enviados? Porque Deus está constantemente nos enviando em missão para cuidar dos filhos, da esposa, do marido, dos pais. Todos nós somos enviados a cuidar de alguém e, normalmente, não é das pessoas mais fáceis.
Quanta gente de cabeça dura! Você conhece alguns? Um bocado, não é? É a estes, sobretudo, a quem somos enviados para viver, testemunhar, proclamar o Evangelho da Salvação. Não é só para os mais fáceis, mas também para aqueles que são cabeça dura, para os corações de pedra. Para alguns, a gente fala uma vez só e resolve. Para outros, falando três vezes resolve. Para outros, ainda, falar 30, 300 ou 1000 vezes, não resolve. Mesmo que se desenhe, não adianta. Daí é necessário convencer a pessoa de que o que ela está fazendo é errado. Mas, só por ser difícil, a gente desiste? Não, não desistimos!
Os pais não devem desistir de seus filhos, mesmo que, por vezes, cheguem a ficar sem muita paciência, dizendo que “não vai falar mais nada” para os eles. Os pais não devem fazer isso. Devem insistir, ainda que os filhos tenham cabeça dura. Já não ocorreu também de algum filho questionar o posicionamento dos pais, quando percebe que eles não praticam o que orientam? E aí, como se colocam diante desta situação? Falar é fácil, mas viver não é tão fácil assim. Os nossos pais também, muitas vezes, são homens e mulheres de cabeça dura. A esposa com o esposo e vice-versa, quantas vezes também têm cabeça dura!
Portanto, nós não podemos desistir. A mensagem da liturgia de hoje é “não desista”. Não desista da sua família, dos seus filhos, dos seus amigos e da missão que Deus lhe confiou. Catequistas, esta mensagem também é para vocês: não desistam, persistam, ainda que as nossas crianças, às vezes, sejam difíceis. Mesmo que já tenha falado e insistido sem sucesso, continue, repita, faça de novo porque, ao final, nós seremos recompensados pela nossa persistência. Porque Deus olha sim a nossa persistência.
Quantos pais e mães rezaram tanto pela conversão de seus filhos! Quantas esposas e esposos rezaram pela conversão de suas famílias e um dia foram agraciados porque foram persistentes! Não é fácil viver o Evangelho, meus irmãos. E nem para Jesus foi fácil, como vemos no Evangelho de hoje [Mc 6,1-6], no qual Jesus, depois de sair em missão, volta para sua terra natal, onde ele proclama a Palavra de Deus e ali também ele a explica para as pessoas que cresceram com ele, para os que foram seus catequistas e amigos. De repente, este homem se foi e retorna 3 anos depois, falando maravilhosamente bem das coisas de Deus e realizando milagres. E é neste contexto que o povo diz: “de onde recebeu ele tudo isso?”; “como conseguiu ele tanta sabedoria?”; “e todos estes milagres que são realizados por suas mãos?”; “este homem não é o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão?”. E ficaram escandalizados por causa de Jesus.
Para Jesus foi difícil pregar aquela Palavra de Deus. E o local mais difícil para se evangelizar, sabem onde é? Dentro da nossa casa. Porque em casa não dá para ficar com muita máscara, não dá para se esconder muito, pois as pessoas nos conhecem profundamente. E aí, quando você vai corrigir alguém, a pessoa pergunta porque está corrigindo ela se nós também erramos. E, então, lembramos que, mais do que palavras, precisamos de atitudes. E dentro de casa, muitas vezes nós não vivemos o Evangelho que nós anunciamos e buscamos vivenciar fora de casa. Portanto, dentro de casa também o Evangelho deve ser vivido.
É fato que, quando alguém começa a frequentar a igreja como, por exemplo, as crianças que fizeram a Primeira Comunhão e não rezavam antes de dormir ou quando acordavam ou antes das refeições e, de repente, começaram a rezar. Aí o pai e a mãe pensam “o que está acontecendo?”. E daí a criança lhe explica que está rezando para agradecer a Deus, pela sua vida, pelo alimento. Talvez quando a mãe e o pai brigam, a criança, em vez de chorar, vai rezar pedindo que eles sejam abençoados. E muitas vezes os pais se escandalizam. Mas também pode ocorrer que o pai ou a mãe comecem a frequentar mais a igreja e, em certas situações que ocorriam dentro de casa, a reação passa a ser outra depois deste encontro com Jesus. E isso causa um escândalo dentro de casa.
É bom que as nossas atitudes escandalizem no sentido positivo. Quando alguém briga com a gente, nós não retrucarmos. Quando alguém nos agride fisicamente, nós não revidarmos. Nós sabermos como falar. Quando o pai e a mãe encontram Jesus e, em vez de educar com base na cinta, educam no amor os seus filhos. É bom que escandalizemos. Jesus escandalizou os seus contemporâneos de um modo positivo. Mas, muitas vezes, nós escandalizamos de um modo negativo, sendo de um jeito dentro da igreja e, fora da igreja, de outro modo. Sendo, às vezes, dentro de casa de um jeito e na escola de outro. Sendo na igreja e dentro de casa de um jeito, mas, lá no trabalho, de outro.
Como é que nós estamos vivendo este Evangelho? Diz, ainda, Jesus: “um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. Muito difícil falarmos dentro de casa pois é complicado corrigirmos aqueles que amamos. Mas, não é porque é difícil que devemos desistir. Nós vamos persistir, como São Paulo nos diz na Segunda Leitura de hoje [2Cor 12,7-10]. Aqui, é escrito um relato muito bonito agradecendo tudo que Deus vem realizando na sua vida, mas relatando que existe um espinho na sua carne, um Satanás que fica ali atrapalhando a sua vida. E por que acontece isso? Para que o ego de Paulo não se sobressaia, porque ele é um servo do Senhor. Para que Paulo não esqueça o seu passado. E aqui é importante este reforço, porque muitas vezes nós o tentamos deletar assim como se faz com um programa de computador. Tentamos apagar a nossa história passada. E a nossa história não é possível de ser deletada. Nós somos frutos das experiências que nós tivemos. Positivas ou negativas, nós somos estas experiências.
Paulo teve uma experiência de perseguidor dos cristãos, ao ser perseguido por causa do Evangelho. Ele, que assassinava cristãos, depois de ser converter, corre risco de vida por causa do Evangelho. E é por isso que ele vai dizer “para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho, que é como um anjo de Satanás a esbofetear-me”. Satanás estava esbofeteando Paulo para recordá-lo de sua história. Sobre este espinho na carne, os biblistas, os teólogos vão falar muitas coisas diferentes. Mas o fato é: alguma coisa no passado de Paulo lembrava a sua humanidade e suas limitações. E nós também, por mais que já tenhamos nos convertido, por mais que nossa vida tenha sido transformada, é necessário recordarmos o que Deus fez na nossa vida, para que nos momentos de incerteza, tristeza ou solidão, nossa fraqueza se torne fortaleza. Assim como Paulo diz: “eu me gloriarei das minhas fraquezas para que a força de Cristo habite em mim”. E diz também: “quando me sinto fraco, é então que sou forte”.
Vamos, como Paulo, manter os nossos olhos fitos no Senhor, como diz o Salmo 122 da liturgia de hoje. Quando nos sentirmos tristes, desanimados com o matrimônio, com a educação de nossos filhos, com a nossa família, nosso trabalho ou até mesmo com a nossa missão aqui na igreja que nos congrega, vamos nos fortalecer olhando para Jesus, comungando da Palavra e da Eucaristia. Assim como estas crianças que se prepararam durante dois anos para poderem, constantemente, comungar do Corpo e do Sangue de Cristo.
Que vocês, crianças, encontrem sempre em Jesus, o melhor amigo, aquele que ampara e corrige. Aquele que dá forças para viverem o Evangelho dentro de casa, na escola, com os pais, com os amigos e durante toda a vida de vocês. Que todos nós, meus irmãos e irmãs, possamos nos recordar o quanto Deus nos ama e nos pede para não desistirmos da missão que Ele nos confia.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 14º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 08/07/2018 (Domingo, missa das 10h).

A Eucaristia nos torna ainda mais amigos do Cristo
01/07/2018
Queridas irmãs e irmãos, é uma alegria estar aqui e agradeço, de modo especial, ao Padre Tiago, Pároco desta Paróquia, que me convidou para participar da alegria destas crianças que hoje se aproximam pela primeira vez da sagrada comunhão. A elas, eu saúdo com muita satisfação. Saúdo também os pais, as mães e as catequistas que tão bem as prepararam para este momento.
É uma grande responsabilidade preparar as crianças e jovens para fazerem a sua primeira comunhão, o seu primeiro encontro com Jesus Cristo, recebendo o Seu Corpo e Sangue, presentes na hóstia e no vinho consagrados.
Mas antes, vamos falar um pouco sobre a Solenidade de hoje, de São Pedro e São Paulo, e também Dia do Papa. Nós já conhecemos bastante sobre a vida destes dois grandes Apóstolos da Igreja. Interessante que eles são praticamente inseparáveis, tanto assim que a Igreja os celebra no mesmo dia, em uma só festa, relembrando seus martírios e o amor a Cristo, que foi muito longe. Não há prova maior de amor do que dar a vida pelo Mestre, por Jesus e por Seu Evangelho. Mas é claro que, tanto Pedro quanto Paulo, eram como nós, serem humanos, pecadores e necessitados de um encontro forte e marcante com Jesus.
São Pedro teve a felicidade de se preparar para a primeira comunhão com o próprio Cristo. Jesus mesmo foi o seu mestre, seu catequista. Imaginem vocês, poder ouvir dos lábios de Jesus aquilo que é mais importante para segui-Lo, para ser seu discípulo, para ser seu apóstolo. Durante três anos, Pedro frequentou esta catequese de Jesus e, mesmo assim, teve momentos de fraqueza, afinal, onde a natureza humana está presente, ali também sempre há possibilidade de aparecer a nossa fragilidade.
Mas São Pedro chorou amargamente os seus pecados através do olhar misericordioso de Jesus. E se ele renegou Jesus, depois ele também provou o seu amor e deu a sua vida por Cristo, morrendo também em uma cruz, seguindo o caminho do Mestre. E no Evangelho de hoje [Mt 16,13-19], foi o primeiro a reconhecer a divindade de Jesus, ao dizer “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. É claro que, neste momento, ele falou também em nome dos Doze. E, assim, Pedro deu a sua vida pela causa de Cristo e tornou-se o primeiro Papa da Igreja.
E Paulo, de perseguidor de Jesus, torna-se o maior apóstolo das nações, o grande apóstolo. Depois daquele encontro que ele teve com Jesus quando, ainda era Saulo, indo realizar uma nova perseguição aos cristãos, por meio de uma iluminação, Jesus lhe perguntou o porquê de tanta raiva. Foi o suficiente para ele entrar em si e reconhecer o grande mal que estava fazendo à Igreja, que estava em seu início. E, a partir deste encontro marcante, nunca mais esquecido na vida de Paulo, ele se tornou um grande evangelizador.
Se você tiver a oportunidade, leia as Cartas de São Paulo, todas elas cheias de um amor profundo. “Já não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. Ao chegar a este ponto, pode-se ver o quanto ele se tornou discípulo, amigo, seguidor e pregador, dando também a sua vida pelo Evangelho, tornando-se mártir por Jesus Cristo.
Através de Pedro e Paulo, que nós tenhamos também a coragem de seguir, de viver os ensinamentos bíblicos. Se a gente for fiel e perseverar, como diz o Livro dos Atos dos Apóstolos, certamente, seremos também nós discípulos e discípulas de Jesus Cristo.
Mas hoje, nós estamos aqui reunidos para acompanhar e participar desta primeira comunhão. A primeira coisa que me passou pela cabeça e pelo coração, ao ser convidado para estar aqui hoje, foi a minha primeira comunhão. Eu tinha 10 anos, foi no dia 4 de setembro de 1949. O catequista era o meu pai. Ele preparou 23 turmas para a primeira comunhão. Foi também uma graça ter o próprio pai como catequista. Por isso, vendo os pais aqui presentes hoje, me vem também à memória uma das perguntas feitas no dia do casamento de vocês, sobre acolher e educar na fé e nos ensinamentos da Igreja os filhos que Deus lhes confiar. Na ocasião, lembram que responderam “sim” a isto? Estar hoje aqui é sinal de que vocês não se contentaram apenas em levar seus filhos para serem batizados, mas também os acompanharam até o dia de hoje, para receberem Jesus pela primeira vez em seu coração.
Esse acompanhamento dos pais, essa transmissão da fé, é fundamental. Mas que não termine hoje. Aqueles que irão fazer a primeira comunhão precisam, mais do que nunca, da ajuda dos pais. Não somente das catequistas atuais e daqueles que irão prepara-los, mais adiante, para o sacramento da Crisma. Esta presença dos pais na vida dos seus filhos e na vivência da fé é muito especial. E eu digo isto pela vivência que tive em casa. Até hoje eu sou muito agradecido a meu pai por isso.
Vocês que irão receber Jesus pela primeira vez, saibam que esta experiência do primeiro encontro deve ser marcante. Vocês não podem mais esquecer este dia. Para mim, é como se eu estivesse no dia 4 de setembro de 1949 agora, tão viva está a recordação deste primeiro encontro com Jesus. E, por isso, não me canso, diariamente, de agradecer a Cristo. O padre dizia, naquela época, para permanecermos fiéis a este encontro com Jesus. Ele permanece sempre conosco, acompanhando e ajudando a gente.
No encontro com um grupo de jovens, uma menina me perguntou: “antes do dia da primeira comunhão, eu me confessei; depois também me confessei outras vezes; então devo me confessar todas as vezes antes de receber a comunhão?”. Não é necessário confessar todas as vezes em que eu vou receber a comunhão. Se eu estiver em pecado, aí sim preciso limpar a alma para fazer a comunhão. Preciso aprender a me confessar regularmente, algumas vezes por ano. Não me contentar a uma vez por ano somente ou por ocasião da Páscoa. A confissão é um sacramento que ajuda na minha caminhada cristã e em permanecer fiel a Jesus, na graça de Deus.
Imagine se você não limpasse a casa, como seria? Quantas vezes por semana você limpa a casa, seja varrendo ou lavando? A nossa alma também precisa de uma varredura, de uma limpeza, pois ela fica manchada pelas nossas faltas, pelos nossos pecados. Manchamos nossa alma e precisamos purificá-la e o sacramento da confissão é muito importante. Se a gente o valorizasse mais, certamente seríamos mais santos, porque a confissão é como uma vitamina espiritual muito forte, que ajuda a manter a saúde da alma.
E depois, outra pergunta me foi feita: “a catequista disse-me que Jesus está presente na eucaristia, mas como se eu não O vejo?”. Antes da consagração, você vê a hóstia e o vinho, não vê? Agora, a mesma hóstia e o mesmo vinho transformam-se no Corpo e Sangue de Jesus. Aqui vem uma questão muito importante: é claro que o gosto continua o mesmo, tanto da hóstia quanto do vinho consagrados. Só que Jesus está presente. Mas para eu aceitar esta presença, é necessário que eu tenha fé, que eu creia. É o mistério da nossa fé, que é justamente o que o padre profere após a consagração. É claro que eu vou ver, não com os olhos do corpo, a presença de Jesus na hóstia e vinho consagrados. Por acaso, você vê o vento? E ele não existe? Por acaso, você vê a corrente elétrica? E ela também existe. Você vê a sua inteligência ou a sua alma? Também não as vemos, mas sabemos que existem.
Pois bem, o importante é eu crer, porque foi o próprio Jesus quem disse “eu sou o pão da vida, quem comer deste pão, quem tomar deste vinho, terá a vida eterna”. Então a gente precisa hoje e, em especial, vocês que farão a primeira comunhão, conversar com Jesus como um amigo na hora da comunhão, dizendo a Ele que, a partir de hoje, queremos ser o melhor amigo Dele. Porque Jesus vem ao coração de cada um, pessoalmente, então é preciso você sentir, experimentar esta presença de Jesus em seu interior.
Porque se você mantiver esta amizade com Ele, jamais Ele deixará você na mão. Ele vai acompanhar você até o fim da vida. Mais ainda, se você permanecer fiel a esta amizade. Você vai fazer isto daqui a pouco? Quando você receber a hóstia consagrada sob as duas espécies – pão e vinho, Corpo e Sangue de Jesus?
De certo, você não irá sentir uma presença visível, mas sentirá algo diferente dentro de você. Este encontro é marcante sempre, inclusive para nós que comungamos há mais tempo. Este encontro deve sempre ser marcante. Infelizmente muitas pessoas recebem Jesus consagrado distraídos, por vezes conversando. Não fazem a experiência do encontro pessoal, vivo, com Jesus. É preciso crer com os olhos da fé e do coração.
Outra coisa importante que eu aprendi na preparação para a primeira comunhão é a importância da missa aos domingos. Santificar o domingo participando da missa, da eucaristia. E alimentar-se do pão da Palavra, que é o próprio Cristo. “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” [Jo 1,14]. Nos alimentar da sua própria pessoa para que Ele reforce, a cada domingo, a nossa amizade, a nossa necessidade Dele, para que sejamos acompanhados a cada passo do nosso dia ou da nossa caminhada, seja no trabalho, na escola ou no lazer.
Você acha que se dedicarmos um tempo para Jesus vai estragar o nosso dia? Pelo contrário. Precisamos muito de Cristo, que gostava de acolher as crianças, tinha um amor especial a elas, aos jovens e adolescentes, acolhendo-os e abençoando-os, ajudando-os a crescer em idade, em sabedoria e em graça diante de Deus.
Vocês, queridos e queridas, que hoje farão a Primeira Comunhão, façam com Jesus um trato de amizade. “Jesus eu quero ter você como meu amigo daqui para frente. Eu quero sentir a Tua presença dentro de mim. E eu não quero nunca te magoar. Quero sempre estar com o coração aberto para te acolher e eu tenho certeza que a Tua presença fará um bem enorme para a minha vida. E, assim, eu poderei ser, cada vez mais, um cristão adulto, maduro na fé, na vivência do amor”. Esta é a graça que vocês devem pedir no dia de hoje: permanecerem fiéis, com a presença de Jesus no coração.
Por isso, fica, então, o convite de vocês sempre trazerem, a partir de hoje, na memória do coração, este encontro que vocês vão fazer com Jesus daqui a pouco. Vão já preparando o coração para que, quando chegar na hora da comunhão, vocês tenham mais alegria ainda do que o momento da procissão de entrada, na qual vocês estavam com o olhar vibrante. Vibrem bastante também daqui a pouco, quando vocês irão se ajoelhar para receber Jesus eucarístico, o Seu Corpo e Seu Sangue, através da comunhão. E agradeçam, pois, a própria Eucaristia significa agradecimento. E a melhor maneira de agradecer a Deus é participar de uma Eucaristia.
Parabéns a vocês que, no dia de hoje, farão este encontro vivo, pessoal e de amizade com Jesus.
Homilia: Bispo Emérito de Santo André, Dom Nelson Westrupp, scj – Solenidade de São Pedro e São Paulo (Ano B) – 01/07/2018 (Domingo, Missa das 10h, com Primeira Eucaristia das crianças).

Nossa missão é levar Jesus a todos os corações
24/06/2018
Nós estamos celebrando hoje a Natividade de São João Batista, que é o último dos grandes profetas, aquele que, no seu tempo, preparou os corações para a mensagem do Salvador e para o batismo de conversão – assim como as catequistas de nossa comunidade preparam o coração de nossas crianças para receber Jesus Eucarístico. Portanto, celebrar a Festa de João Batista, além de todas as tradições populares do nosso imenso Brasil, é celebrar a nossa fé, uma fé de conversão, de trilhar o caminho de Jesus e recordar a nossas crianças o dia do nosso batismo, o dia em que nos tornamos filhos de Deus para viver o Seu amor, a Sua graça, a Sua misericórdia. Por isso, a oração depois do Hino de Louvor nos dizia: "Ó, Deus, que suscitastes São João Batista a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito".
A missão de João Batista era preparar os corações para a mensagem do Salvador; a sua missão como pai, mãe e, sobretudo, padrinho e madrinha, é preparar o coração de seus filhos e afilhados para ser um coração perfeito. Aliás, a missão do padrinho e da madrinha é ainda mais importante do que a do pai e da mãe, porque o pai e a mãe não precisam ser católicos para batizarem seus filhos, mas os padrinhos têm que ser exemplos de católicos para seus afilhados. Portanto, a nossa missão é preparar os corações para que aqueles que passam pela nossa vida e pela nossa história tenham um coração perfeito e, com esse coração perfeito, possam alcançar as alegrias espirituais e dirigir os passos no caminho da salvação e da paz. Que caminho nós estamos trilhando? Porque tem gente que não bebe uma gota de álcool, por exemplo, mas só faz coisa errada e não sabe que rumo tomar para chegar ao caminho da felicidade, da salvação e da paz. Você, criança, que hoje renova as promessas do seu batismo, vai se propor a deixar ser guiada por essa luz acesa que é Jesus, para que as trevas não te alcancem.
É importante sabermos que rumo estamos tomando em nossas vidas, e hoje nós nos perguntamos: que rumo estou tomando em minha fé? Que rumo o meu matrimônio, minha vida profissional, a minha família está tomando? É por isso, meus irmãos, que a primeira leitura de hoje [Is 49, 1-6] é do profeta Isaías, considerado um dos maiores profetas do Antigo Testamento. A Igreja identifica João Batista com Isaías quando diz "Ouvi-me" e "Prestai atenção". E aqui a gente recorda duas coisas: a primeira é que, nesse mundo de tanto barulho, a gente ouve muita coisa, mas não sabe distinguir uma coisa de outra; e a segunda é que a gente até ouve, mas não presta a devida atenção. Um exemplo disso é quando você termina de falar algo e a pessoa faz o contrário do que ela mesma se propôs. A missa é outro exemplo. Quando o padre pergunta o que aconteceu na missa, muitas vezes não sabemos responder; ouvimos, mas não prestamos atenção. Todos nós devemos prestar atenção àquilo que Deus nos diz e nas promessas que fazemos.
E essa mesma Palavra de Isaías nos diz: "O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; fez de minha palavra uma espada afiada e protegeu-me...". Deus nos conhece desde o ventre de nossa mãe. E nós, meus irmãos, não somos frutos do acaso; nós, que temos fé, cremos que nascemos porque Deus nos quis, porque Deus nos amou desde o início da humanidade. Tem algum pai ou mãe que deseja mal a seu filho? Não! Deus também não deseja nosso mal, por isso Ele nos deu uma língua afiada e nos protegeu. Agora, nossa língua afiada é para falar de justiça, de amor, de misericórdia... Mas tem gente com uma língua mais afiada que diamante, que sai cortando tudo por aí. E não foi para isso que Deus nos deu a língua afiada. Você, esposo, esposa: em casa, sua língua está afiada para dizer coisas amorosas ou para brigar? A língua afiada é para falar da Palavra de Deus.
Dizem que futebol, política e religião não se discute; eu discordo. Devemos falar sim, mas ouvir também o que o outro tem a dizer. O Papa Francisco diz: "Não nos deixemos roubarem a esperança". Mas quando vamos falar de futebol, mesmo com o Brasil ganhando no finzinho, já nos acréscimos, a gente desce a lenha... Ô, língua maldita! Quando vai falar de política também... Ô, língua maldita! Devemos falar de esperança! O que estamos ensinando a nossas crianças? A lutar por um mundo melhor ou a aceitar tudo o que acontece? Estamos ensinando nossas crianças a amarem nossa pátria ou estamos destilando ódio sobre nossa nação? Transformar é dar esperança, injetar esperança no coração de nossas crianças. Se a nossa língua só fala de desilusão, trevas e coisas contrárias ao projeto de Deus, como as nossas crianças encontrarão o caminho da esperança?
O Evangelho de hoje [Lc 1, 57-66. 80], meus irmãos, relata a esperança de um Deus que faz João Batista ser gerado no ventre de sua mãe, Isabel, já em idade avançada. Deus realiza um milagre que se estende à medida que João Batista vai preparando os corações para receberem a mensagem de Jesus. Nós somos, de certo modo, um milagre de Deus nessa vida; inúmeras vezes Deus agiu em nossa vida e nos salvou de males. Portanto, somos um milagre vivo de Deus, e hoje é dia de agradecermos a Ele por isso.
O nome de João Batista significa "Deus que acompanha os pobres, os excluídos, para anunciar a mensagem universal". Ou seja, a mensagem de João Batista era para as crianças e para os idosos, para os pobres e para os ricos, para os brancos e para os negros: era para todas as pessoas. E nós fazemos seleção de pessoas... Mas quem somos nós para fazermos isso, se a mensagem do Evangelho é universal? Siga o exemplo de Jesus e de João Batista: ame as pessoas indistintamente! Viva isso em casa, na escola no mercado de trabalho... Ame todas as pessoas, como João Batista e como Jesus nos amaram, porque nós, como João Batista e como Davi, citado na segunda leitura de hoje [At 13, 22-26], somos chamados a dar testemunho de nossa fé e a ter um coração segundo o coração de Deus, que realiza toda a vontade do Senhor. E na medida em que comungo da Eucaristia e da Palavra, o meu coração, a minha vida, minhas escolhas e minhas palavras devem ir configurando a pessoa de Jesus e realizando, desse modo, a vontade de Deus, e não somente a que me agrada. Todos nós, ao longo de nossa vida, temos que realizar coisas que não nos agradam, mas que precisamos fazer. Quantas crianças estamos mimando, deixando que façam o que querem... Ensine o que é certo e o que é errado para seus filhos, ensine-os a enfrentarem os desafios de nossa vida.
A mão do Senhor, relatada no Evangelho de hoje, que protegeu João Batista, é a mesma mão que criou o Universo, é a mesma mão que criou Adão e Eva; a mão do Senhor é a mesma mão que perdoou o pecado dos nossos pais no Paraíso, é a mesma mão que guiou o povo de Israel em direção à terra prometida e é a mesma mão que guia nossas crianças, e cada um de nós, a viver o projeto de Jesus. Que renovando as promessas do nosso batismo com as crianças, no dia de hoje, possamos renovar todas as nossas promessas feitas ao coração de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Natividade de São João Batista (Ano B) – 24/06/2018 (Domingo, missa das 10h, com Renovação das Promessas do Batismo das crianças que farão a Primeira Eucaristia)

Semear pacientemente para colher bons frutos
17/06/2018
Nós somos convidados, neste 11º Domingo do Tempo Comum, a agradecermos ao Senhor, como cantamos no salmo 91. E a refletirmos quantas coisas acontecem em nossas vidas e nós não somos capazes de agradecer. Para reclamar somos mais do que velozes, mas para agradecermos, muitas vezes, somos lentos.
O que você pode agradecer no dia de hoje? A sua vida, a sua saúde, o seu trabalho, o alimento que você tem na sua casa? A sua noiva ou noivo que está ao seu lado, o bebezinho que o casal está esperando, o marido ou esposa que lhe acompanha? Agradecer à vida de seus filhos, por aqueles que ingressaram em uma universidade recentemente ou, ainda, por aqueles que já se formaram? Para você que tem meio século de vida, que acabou de completar 50 anos, o que você pode agradecer em todo este tempo? Quantas coisas meus irmãos nós temos para agradecer, mas muitas vezes apenas reclamamos!
Hoje é o dia em que o Senhor nos convida a agradecer! Àquelas pequenas sementes que um dia foram plantadas e vêm se tornando ou se tornaram grandes árvores. Para muitos, talvez, o alimento que foi colocado aqui neste dia de partilha, até mesmo aquele simples miojo, não seja nada. Mas para quem não tem o que comer, aquele miojo é de grande alegria, de muita satisfação!
Quantas coisas nós podemos agradecer ao Senhor, que nos concede a Sua proteção, Seu amor e Sua misericórdia, como relatado na Primeira Leitura do profeta Ezequiel [Ez 17,22-24]. Nela, o povo de Israel estava para ser dizimado, vivendo as más escolhas de seus governantes. E o Senhor diz: “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel. Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará uma árvore majestosa.” De um pequeno broto, Deus faz surgir uma árvore majestosa. Deus salvou o povo de Israel quando suscitou no coração de poucos homens a fidelidade a Deus. E Ele salva a nossa família, a nossa sociedade, quando vai suscitando em nosso coração pequenos brotos que se tornam grandes e esplendorosas árvores.
E é também o que Jesus vai nos dizer no Evangelho de hoje [Mc 4,26-34]. Ele fala do pequeno grão de mostarda que, embora sendo a menor se todas as sementes, se torna uma grande árvore de três a quatro metros de altura. Quem olha aquele pequeno grão de mostarda, talvez não dê nada por ele. Mas depois de algum tempo, ele se torna uma árvore maravilhosa.
E, nesta árvore, nós podemos identificar Jesus com seus 12 discípulos. E se Ele olhasse para aqueles 12, e pensasse no que poderia se tornar a Sua Igreja? Talvez Ele tivesse desistido. Porque um era velhinho, quase analfabeto; o outro mais cabeça dura que parede de igreja; o outro era jovem e só queria status; mas Jesus foi cultivando a semente do Evangelho no coração dos 12 discípulos a ponto de, em um momento posterior, estes 12 darem as suas vidas por Jesus e pela mensagem do Evangelho.
Talvez nós não valorizemos aquele pequeno aluno do qual estamos cuidando, ensinando. Mas um dia ele pode se tornar um médico, um advogado, um engenheiro, um presidente da República, presidente da ONU (Organização das Nações Unidas), quem sabe? A gente não faz ideia do que pode acontecer!
Quantas pessoas passaram na minha vida quando eu era pequeno e ainda hoje passam e falam coisas que transformam o meu coração, a minha vida, o meu modo de pensar. E, assim, posso reproduzir o que aprendi com os meus pais, com meus professores, com pessoas que de algum modo foram me instruindo nos caminhos da verdade, do amor, no caminho da salvação.
Depois, esta árvore nos lembra a universalidade. Diz a Palavra de Deus que todos os pássaros do céu vinham repousar sobre esta árvore. A mensagem do Evangelho é universal, não é para os poucos escolhidos ou privilegiados e, portanto, deve ser anunciada indistintamente.
A mensagem de Jesus deve ser passada a todos: desde os passarinhos novinhos, os filhotinhos, até àqueles que têm idade e já estão cansados de voar e vêm nesta árvore para descansar a sua sombra. Assim tem que ser a nossa Igreja, assim deve ser a nossa fé.
E, por último, este Evangelho nos ensina o tempo de esperar! A árvore não cresce do dia para a noite, ela precisa de tempo para crescer. Você planta a pequena sementinha e vai regando, vai esperando, até que um dia ela se torne uma árvore. Os nossos jovens, sobretudo, estão muito acelerados e, às vezes, não têm a paciência de esperar o tempo certo para a colheita. Como Jesus diz no Evangelho de hoje: “A terra por si mesma produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”. Não há como antecipar o fruto de uma árvore antes que ela cresça. Portanto, a Palavra de Deus hoje, para nós, é a paciência. Paciência para esperar, para regar os corações, para podar os galhinhos que estão saindo do lugar, para esperar que os frutos cresçam e amadureçam. Assim, meus irmãos, na medida em que nossa alma vai entrando na dinâmica do Reino, a nossa alma exilada do nosso corpo, como diz São Paulo na Segunda Leitura de hoje [2Cor 5,6-10], vai se tornando livre para alcançar a Morada Eterna.
A nossa missão é deixar que a semente do Evangelho, plantada em nosso coração, possa crescer e frutificar. E, na medida em que ela for crescendo e dando seus frutos, a nossa alma vai também alcançando a liberdade para direcionar-se rumo ao Reino dos Céus. Que o Espírito Santo de Deus e Santa Teresinha sejam nossos guardiões, protetores e intercessores!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 11º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 17/06/2018 (Domingo, missa das 7h30).

Lutar contra toda divisão
10/06/2018
Nós estamos celebrando o 10º Domingo do Tempo Comum. Celebrar o Tempo Comum é celebrar a vida pública de nosso Senhor, Jesus Cristo; identificar, na vida do nosso Salvador, o que, na nossa vida, tem a necessidade de ser mudado, transformado, edificado à luz de Jesus Cristo. Por isso, a Igreja nos convida, hoje, a refletir sobre as divisões que Satanás causa na nossa vida, no nosso coração, na nossa família e, até mesmo, na nossa sociedade.
Assim, a liturgia de hoje nos apresenta, na primeira leitura [Gn 3, 9-15], as figuras de Adão, de Eva, da serpente e de Deus. Deus chamou Adão e perguntou onde ele estava, e Adão se escondeu porque estava nu. Deus, então, perguntou o que estava acontecendo, e Adão apontou para a mulher, que apontou para a serpente. E um foi jogando a culpa no outro... Isso acontece também dentro de nossas casas? Acontece no nosso trabalho? Em nossas pastorais? Pois isso não é de Deus!
Com essa leitura, nós temos muito a aprender. Primeiro, que o pecado nos causa vergonha – e que bom que é assim! Porque quando perdemos o sentimento de vergonha, nós nos tornamos dependentes do pecado, então é importante que qualquer pecado possa continuar nos dando vergonha. Depois, essa leitura nos ensina que nós devemos tomar cuidado com as pessoas que se apresentam para nós. Na leitura, por exemplo, temos a serpente como a imagem do diabo, mas o diabo pode aparecer para nós em uma forma bonita... Falando doce... De um jeito que prende a nossa atenção. E, então, ele parte de um fato, estabelece um relacionamento conosco e, depois, vai nos conduzindo por caminhos contrários ao projeto de Deus. Adão e Eva podiam fazer tudo o que queriam, Deus deu apenas uma ordem para que eles não fizessem; mas eles foram curiosos, desobedientes e se deixaram levar pela conversa da serpente.
O Papa Francisco, escrevendo uma carta para o 52º Dia Mundial de Oração pelos Meios de Comunicação, fala das "fake news", as notícias falsas. Uma fake news parte, às vezes, de um fato e, depois, vai transformando a informação, por meio de palavras, com situações que não são verdadeiras. E o Papa relaciona as notícias falsas com a serpente, assim como as pessoas fofoqueiras, que transmitem mentiras. Porque a serpente se aproxima de você, estabelece algum tipo de vínculo e, depois, vai te levando para um caminho que não é de Deus.
Além de tomar cuidado com a serpente, também temos que cuidar para não ficar colocando a culpa no outro. E como isso acontece... A culpa sempre é do outro, nunca minha. Adão não foi forçado por Eva, ele mesmo pegou o fruto e comeu. Foi a sedução. Muitas vezes nós somos seduzidos pelo inimigo de Deus, e temos que tomar muito cuidado com isso. Nós temos a vida inteira para desfrutar, mas têm coisas que nós não devemos fazer. E nós não podemos ser desobedientes. Será que estamos sendo pais desobedientes? Filhos desobedientes? Maridos e esposas desobedientes? Todos nós somos, mais ou menos, e o nosso desafio está em lutar contra a nossa desobediência a Deus, ao Seu projeto e a Seus valores.
Satanás é aquele que divide, segundo Jesus no Evangelho de hoje [Mc 3, 20-35], quando os mestres da lei O estão questionando, dizendo que Ele age por Belzebu. E aí Jesus diz: "Se um reino se divide contra si mesmo ele não pode se manter". Igualmente, se uma família se dividir contra si mesma ela não poderá se manter. Por isso, a presença de Satanás na nossa vida se traduz nas divisões que acontecem no nosso relacionamento com Deus, nas divisões que acontecem no nosso relacionamento com os valores evangélicos, na divisão que acontece, muitas vezes, na vida matrimonial, na vida familiar, no relacionamento entre pais e filhos, na divisão da nossa sociedade. E nós nos perguntamos: Satanás está presente na minha vida, na medida em que eu permito que aja divisão? Quantas divisões acontecem dentro de casa... E é Satanás que está tentando dividir! Quantas divisões acontecem no mundo político... E é Satanás que está tentando dividir! Quantas divisões acontecem entre pais e filhos – pais que não conversam com os filhos por meses! É Satanás que está tentando dividir. Esposa e esposo não podem ficar um só dia sem conversar, porque é isso que Satanás quer. Começa com um dia, depois vira dois, depois uma semana... E o final vocês já sabem.
Como disse no início da celebração, minha tia faleceu e o enterro aconteceu na mesma hora desta Santa Missa. E alguns podem me perguntar: "Padre, por que o senhor não está no sepultamento da sua tia?". Eu até pensei em ficar, mas ontem tive um testemunho maravilhoso. Estavam presentes três padres e, depois que nós rezamos, minha prima, filha dela, começou a glorificar a Deus em voz alta pela vida da sua mãe. E ali ela testemunhou coisas que nós da família não sabíamos. Dificuldades familiares, financeiras, de saúde e a maior de todas: a dificuldade matrimonial. E minha prima disse que a maior alegria da minha tia era ter resgatado o meu tio da bebida – o que nós não sabíamos – e de uma vida infiel no matrimônio. Depois daquela oração, nós ficamos ali mais um pouco e eu disse: "Prima, eu não sei se fico ou se vou, porque tenho missa", e ela falou: "Primo, se tem uma coisa que minha mãe gostaria é que você não deixasse de celebrar a missa para estar aqui". E eu não tive mais dúvidas de que deveria retornar para casa. E não tive dúvidas do quanto um joelho no chão pode afastar o inimigo da nossa vida! A perseverança afasta o inimigo da vida matrimonial e do relacionamento entre pais e filhos.
Nesta madrugada, eu tive esse testemunho maravilhoso de algo da minha própria família que eu não sabia, mas que nos faz refletir, meus irmãos, que Satanás está tentando nos dividir, e Jesus é claro: se um reino está contra outro reino, se uma pessoa está contra outra pessoa, se uma família está contra sua própria família ela se divide. Por isso, não dê espaço para que Satanás entre no seu matrimônio, no seu relacionamento com seus filhos, na sua vida profissional, no seu coração. Não dê espaço! Não permita que Satanás cause aquilo que ele deseja na sua vida. E nenhum tipo de separação acontece do dia para a noite, ela vem dando pequenos sinais. Portanto, elimine esses sinais! Nenhum tipo de separação entre pais e filhos começa de uma hora para a outra, é necessário que nós a cultivemos.
Ontem, na hora do almoço, eu fui comer em um restaurante aqui perto e lá estava uma família aqui da paróquia: o pai, a mãe e uma filha com seus 18, 19 anos. Eles estavam conversando sobre alguma coisa da faculdade da menina e, de repente, o pai estendeu a mão para a filha na mesa e começou a alisar a mão dela, que retribuía o carinho na mão do pai. O mais interessante é que era inconsciente. Quando eles terminaram, eu falei: "Que bonito!". E eles perguntaram: "O que, padre?". Eu respondi: "Raramente nós vemos um pai fazendo carinho na mão da filha". E eles disseram: "Padre, isso é tão natural para nós...". Louvado seja Deus! Que outras famílias possam ter essa intimidade dentro de casa. Que outras famílias possam continuar estabelecendo esse vínculo e não permitir que nada nem ninguém a separe.
Nesse sentido, dirá São Paulo na segunda leitura de hoje [2Cor 4, 13-18 – 5, 1]: a nossa fé nos sustenta, a nossa fé nos dá força, a nossa fé nos ilumina para que possamos ressuscitar com Cristo. E a pergunta que nos fazemos hoje, que deixo no seu coração para que você pense: o que é necessário que nós ressuscitemos hoje? O que é necessário ser ressuscitado na nossa vida? O nosso relacionamento com Deus? O nosso relacionamento matrimonial? O relacionamento, a proximidade com os nossos filhos? A proximidade com a nossa família? A proximidade com os nossos amigos? A proximidade com os valores que nossos pais colocaram em nosso coração? A proximidade com os valores evangélicos?
Não permitamos, meus irmãos e irmãs, que Satanás seja vencedor na nossa vida, mas Cristo! Que Aquele que se encarnou na história da humanidade nos dê força e coragem para superarmos todos os nossos obstáculos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 10º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 10/06/2018 (Domingo, missa das 10h).

Libertar o nosso coração daquilo que nos impede de fazer o bem
03/06/2018
Estamos celebrando o 9° domingo do Tempo Comum, quando a Igreja, depois de celebrar todas as festividades, nos convida a retomar a vida pública de Jesus, nos identificar com as atitudes de Jesus Cristo, nosso Senhor e identificar na Sua vida o que deve ser transformado na nossa história. Deste modo, a liturgia de hoje vem nos convidar a nos libertar da escravidão do modo de pensar, da escravidão do modo de agir, sobretudo por causa da tradição ou por causa da lei — “Sempre foi assim e tem que ser desse jeito”, “a lei disse isso, vamos seguir por aqui”, ainda que for o caminho errado. Por isso a Igreja nos apresenta o Evangelho de hoje [Mc 2,23-3,6 – forma mais longa], quando Jesus está caminhando com seus discípulos, e eles, com muita fome, veem um milharal e pegam o milho pra comer. Um deles, mais puritano, se dizendo mais santo, diz que aquilo é pecado, pois não se pode trabalhar no dia de sábado. E depois, no templo, havia um homem doente, com a mão seca, e as pessoas que queriam matar Jesus ficaram observando se ele faria algum milagre. Jesus então pergunta se é proibido fazer o bem no sábado, se é proibido ajudar alguém no sábado, dia dedicado ao Senhor.
Para entendermos melhor, a Primeira Leitura [Dt 5,12-15] nos diz: “Assim fala o Senhor: “Guarda o dia de sábado, para o santificares, como o Senhor teu Deus te mandou. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras. O sétimo dia é o do sábado, o dia do descanso dedicado ao Senhor teu Deus”.”. Deus fez o mundo em seis dias e no sétimo descansou. O sétimo dia é sempre o dia do descanso para todos nós, e esse livro escrito pós-exílio, quando o povo era escravo, ainda acrescenta: “Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo”. Neste dia dedicado ao Senhor, devemos fazer duas coisas: descansar e glorificar a Deus. Quantas pessoas dizem que não tem tempo para descansar, pois fazem mais do que os braços aguentam? Sem tempo para descansar entramos em parafuso... E quantas pessoas dizem que não têm tempo pra Deus? Isso significa que Deus não é prioridade. E os verdadeiros adoradores de Deus dedicam um dia para o descanso e para glorificar a Deus, e, hoje, nos perguntamos: estamos descansando um dia por semana? Estamos valorizando nossa família e dedicando tempo àqueles que amamos? Encontramos tempo para Deus em nosso dia de descanso?
Alguns podem questionar o porquê vamos à missa no domingo se o Evangelho diz sábado. É por causa da ressurreição de Jesus, que foi no domingo, então todo cristão católico dedica o domingo para Deus, para participar da Santa Missa, nutrir-se da Palavra e da Eucaristia e depois passear, descansar e descontrair. Isso é o que Deus pede para nós. E quantas pessoas estão estressadas, pois não tem um dia para descansar?
Mas, voltando ao Evangelho, Jesus vai ajudar aquele homem e as pessoas ficam escandalizadas e querem condenar Jesus a morte por fazer o bem. Para nós pode ser algo simples e fora de contexto, mas, para entendermos o que fala a Primeira Leitura e o contexto do Evangelho, precisamos entender que naquela época não se podia fazer nada no sábado, não se podia cozinhar e nem acudir os doentes, pois a Lei proibia. Vocês pais, se fosse seu filho doente vocês seguiriam a Lei, ou seguiriam o que o coração de pai e mãe pede? Seguiria seu coração é claro! Mas, para os legalistas, para os fariseus, mestres da lei e alguns sacerdotes, isso era um sacrilégio, um pecado. Então a Igreja nos traz esse Evangelho para recordamos que a Lei foi instituída para nos libertar e não para nos aprisionar. E quantas pessoas estão aprisionadas em seu modo de pensar, aprisionadas ao legalismo, aprisionadas a situações que não geram vida e sim a morte? Por isso Jesus é muito explicito no Evangelho de hoje ao dizer: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado.” É importante que haja lei, é importante que haja tradições, mas é importante não deixar que elas nos aprisionem e, sobretudo, gerem a morte.
Será que nosso coração está precisando ser liberto de alguma tradição, de algum procedimento, alguma atitude da qual não conseguimos nos libertar por sermos demasiadamente regrados em certas coisas onde a graça de Deus, o amor, a misericórdia não encontra espaço em nossas atitudes e ao invés de gerar vida, alegria e amor, gera a morte, gera as trevas? Por isso na Segunda Leitura [2Cor 4,6-11], quando São Paulo diz: “Deus que disse: “Do meio das trevas brilhe a luz”, é o mesmo que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para tornar claro o conhecimento da sua glória na face de Cristo.”. Deus quer iluminar as trevas do nosso coração e do modo de pensar, como daqueles fariseus, e de alguns falsos discípulos. Mas quando Deus começa a iluminar a nossa vida, nossas atitudes e nossos sentimentos, nos sentimos perseguidos como Jesus, por isso São Paulo continua dizendo: “Somos afligidos, de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados.”.
Jesus sobreviveu, ressuscitou as trevas que desejavam aniquilar sua vida. Também nós sofremos muitas influências de pessoas, situações e realidades que esperávamos ou não, mas que atingiram nossa vida, nosso coração, nosso sentimento, talvez nosso matrimônio, nossa família, nosso relacionamento com as pessoas que amamos, nosso trabalho, nossa vida em comunidade. Somos afligidos sim, mas nunca aniquilados. Em Deus e em Jesus, somos mais que vencedores se deixarmos que Ele ilumine nosso coração, nossa vida e nossas atitudes. Peçamos ao Senhor que se o nosso coração estiver ressequido que possamos restaurá-lo, como Ele restaurou a mão do homem doente. Se estivermos presos demais a leis, regras e tradições, que o Senhor nos liberte daquilo que for possível para que trilhemos um caminho de amor, de graça, de liberdade e de felicidade. Que as situações do passado de hoje ou de amanhã jamais nos impeçam de viver o projeto de amor de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 9° Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 03/06/2018 (Domingo, missa das 10h).

Celebrar o sacrifício de amor de Jesus por cada um de nós
31/05/2018
Irmãos e irmãs, queremos agradecer, inicialmente, às pastorais: Artes, Jovens, Crisma, Catequese Infantil, Dízimo, Saúde, São José, Ministros, Coroinhas, Mãe Rainha, Apostolado da Oração, Vicentinos, ECC, Acolhida, Liturgia e muitos membros da comunidade que confeccionaram o tapete para a celebração de Corpus Christi. Muito obrigado pelo seu sim, pela sua disponibilidade e por fazer da nossa comunidade uma casa de comunhão que, embora sendo diferentes – graças a Deus –, busca edificar esse único corpo em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Nós estamos celebrando a Solenidade do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, nosso Senhor. A Festa de Corpus Christi foi instituída em 1264 pelo Papa Urbano VIII, e desde então a Igreja vem celebrando esta solenidade na qual, com o passar do tempo, Jesus também começou a percorrer as ruas de nossos bairros, abençoando e santificando a cada um de nós. Essa festa, irmãos e irmãs, é nossa, e nós não podemos deixar de viver esta tradição. Países veementemente católicos já perderam esta tradição; países europeus, como a Itália, já não celebram mais a Festa do Corpo de Cristo durante o dia, somente à noite, porque é considerado um dia corriqueiro. E se nós, cristãos católicos, não defendermos a nossa fé, não defendermos a nossa tradição, daqui a pouco chegará a nossa vez... Portanto, é importante que nós tenhamos esse tempo dedicado para celebrar a Festa do Corpo e do Sangue de Jesus, é importante que saiamos pelas ruas em procissão, porque essa festa é nossa, e se não formos para as ruas, se não testemunharmos chegará o dia em que perderemos também essa possibilidade de celebrarmos a Festa do Corpo e do Sangue de Jesus. Porque é na eucaristia que tudo começa e tudo termina. Portanto, celebrar a Festa do Corpo e do Sangue de Jesus é celebrar esse sacrifico de amor que Deus nos dá a graça de vivenciar a cada eucaristia.
Hoje, graças a Deus, em nosso país, nós somos livres; mas em quantos países não se pode celebrar a eucaristia publicamente... Então vamos continuar a fazer, confeccionar o nosso tapete – quem sabe um dia possamos fazer na praça, ao redor de nossas vilas, uma grande celebração proclamando a este bairro e esta cidade a nossa fé e, assim, darmos o nosso testemunho. Como Moisés, na primeira leitura de hoje [Ex 24, 3-8], que convida o povo a selar os passos da aliança com Deus. Moisés transmitiu as palavras e os decretos do Senhor e disse: "Faremos tudo que o Senhor nos disser". Também hoje precisamos renovar nossa aliança de amor com Deus, do dia do nosso batismo, do nosso matrimônio, da nossa crisma, do dia em que nós entregamos nossa vida a Deus; precisamos renovar essa aliança porque aquilo que não é renovado pode ser esquecido, e quantas pessoas se esqueceram do seu batismo, quantos casais se esqueceram do seu matrimônio, quantos fiéis cristãos católicos se esqueceram do seu sacramento, esqueceram-se da tradição da Igreja. Vamos ouvir o que o Senhor tem a nos dizer constantemente e transmitir, retransmitir, fazer ressoar no coração de todas as pessoas esse amor de Deus que emana por cada um de nós.
A Páscoa, meus irmãos, que Jesus celebra no Evangelho de hoje [Mc 14, 12-16. 22-26] é a Páscoa da nova e eterna aliança. Ao celebrarmos a Festa do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, também nós devemos celebrar a nossa passagem, deixar para trás aquilo que nos impede de viver plenamente o projeto do nosso Senhor: a mesquinhez, o ciúme, a ganância, a avareza, a falta de perdão, o preconceito, a nossa violência nas palavras ditas ou escritas, as nossas provocações diretas ou indiretas para as pessoas... Vamos deixar para trás tudo isso e retomar a nossa vida em Jesus. Como, a cada ano que esse tapete é confeccionado, a nossa comunidade se renova na fé, se renova na unidade, que nós possamos também nos renovarmos em Jesus e no seu compromisso, este compromisso que é selado com Jesus segundo São Paulo escrevendo à comunidade de Hebreus, na segunda leitura de hoje [Hb 9, 11-15]. Ele é a nova e eterna aliança; o sacrifício já foi derramado pela nossa liberdade, pela nossa salvação. Hoje o que nós precisamos é realizar a nossa passagem, e assim como este corredor central foi enfeitado para Jesus, que possamos enfeitar o nosso coração, enfeitar os nossos sentimentos, as nossas atitudes; enfeitar, meus irmãos, com muito carinho, com muito amor, em cada detalhe, em cada pedrinha, em cada grãozinho de areia, em cada cor escolhida, e também colocarmos isso no nosso coração, nas nossas atitudes, no nosso relacionamento com as pessoas que estão a nossa volta, que passam pela nossa vida. Mas, diferentemente deste tapete que será varrido e destes desenhos e escrituras que serão eliminadas, que os sentimentos que temos por nosso Senhor permaneçam em nosso coração e em nossa vida. Que não vistamos a camisa de Jesus Cristo, da fé, da religião católica somente no dia de Corpus Christi, mas em todos os dias de nossas vidas.
Que ao celebramos o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo a cada eucaristia, possamos recordar que Jesus se doa em sacrifício de amor por cada um de nós. Que o Espírito Santo, simbolizado neste tapete por tantas imagens da pomba, possa nos guiar, nos dar a graça do discernimento. Que aquilo que nos falta, meus irmãos e irmãs, Jesus possa preencher em nós nesta eucaristia, por mais que tenhamos obstáculos. Como a nossa paróquia, que encontrou dificuldades em confeccionar o tapete neste ano, mas com a graça de Deus superou e ficou um lindo e maravilhoso tapete; como algumas pastorais, que tiveram dificuldades mas superaram porque souberam abrir mão de algo, souberam se adaptar aos demais, que também nós possamos superar as dificuldades que nos impedem de viver o projeto de Jesus em nossa vida. Que sobretudo as magoas, os ressentimentos, as incompreensões, tudo aquilo que nos impede de sermos unidos em Jesus Cristo possa ser purificado por esse Corpo e por esse Sangue que iremos comungar.
Mais uma vez, quero agradecer a você que preparou esta missa, a você que veio a esta eucaristia, a você que percorreu as ruas de nosso bairro; quero agradecer a você que deixou para passear mais tarde, porque hoje é dia de celebrarmos e testemunharmos a nossa fé. Que a cada ano possamos crescer em número, graça e testemunho, nesta fé que nos congrega em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade do Corpo e Sangue de Jesus Cristo (Ano B) – 31/05/2018 (Quinta-feira, missa às 9h).

Vivenciar a comunhão de amor em nosso cotidiano
27/05/2018
Irmãos e irmãs, nós estamos celebrando hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. Celebrar a festa da Santíssima Trindade como a primeira solenidade do Tempo Comum é celebrar a nossa missão, o chamado de Deus para que nós estejamos inseridos na comunhão de amor deste Deus, que é um único Deus, mas três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Apenas um Deus e não três deuses. Acreditamos em um Deus que, embora sendo Pai, Filho e Espírito Santo, mesmo sendo três pessoas diferentes, é um único Deus. E isto é um mistério de nossa fé, que não há como se explicar muito, até mesmo porque ele deixaria de ser mistério. E a Igreja diz no documento do Catecismo da Igreja Católica que, do mistério da Santíssima Trindade, derivam todos os outros mistérios da fé católica. Portanto, celebrar a Solenidade da Santíssima Trindade é também celebrar o nosso desejo de mergulharmos nesta comunhão de amor. Assim como o Pai não é igual ao Filho, que não é igual ao Espírito Santo, também nós, que não somos iguais uns aos outros, queremos formar uma comunhão de amor. Embora, em casa, o pai seja diferente da mãe que, por sua vez, é diferente dos filhos e os irmãos também sejam diferentes entre si, queremos viver esta comunhão também em nossos lares.
Assim, nós entramos na Primeira Leitura [Dt 4, 32-34.39-40], na qual um catequista, muitos séculos atrás, escreveu para que todos nós nos recordássemos que temos um Deus que nos ama, um Deus que caminha conosco e nos direciona para a liberdade. E nunca existiu um Deus que fosse tão próximo assim do seu povo. Nós temos um Deus que é próximo e que caminha conosco mesmo que sejamos pecadores, imperfeitos. Assim como um pai e uma mãe não devem abandonar os seus filhos caso exista alguma fragilidade, ou porque erraram ou pecaram, Deus também não nos abandona. E manifesta, ainda, este amor até as últimas consequências, enviando o Seu Filho para nos salvar.
E Jesus deu a vida no alto da cruz pela nossa salvação. Mas ele ressuscitou ao terceiro dia e chamou os discípulos para o monte, para rezar, como nos diz o Evangelho de hoje [Mt 28, 16-20]. O monte é sempre um lugar de Deus. Quando a gente vem aqui à Igreja, este local é o nosso monte. E ali, os discípulos se prostraram diante de Jesus. Mas diz o Evangelho que, ainda assim, alguns duvidaram. E será que ainda hoje há pessoas duvidando da ressurreição de Jesus?
Jesus disse para irem e anunciarem o Evangelho do amor, batizando todas as pessoas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Todos, não apenas alguns. Todos devem receber a Palavra de Deus. Todos devem receber o batismo nesta Trindade de amor, nesta comunhão de amor. E continua Jesus dizendo: “ensinando-os a observar tudo o que eu vos ordenei”. Não é só aquilo que me agrada, mas sim tudo.
Talvez nós sejamos assim: obedecemos a Deus, mas quando se fala “em tudo”, não estejamos tão certos assim. Mas quando se fala “em tudo”, de fato não é apenas “em parte”. E assim como nós estamos educando as nossas crianças, Deus quer nos educar para que, a partir de algum momento, sejamos capazes de obedecê-lo em tudo, em todos os momentos de nossa vida. Porque Jesus “estará conosco todos os dias de nossa vida”, diz o final do Evangelho de hoje. Não apenas no domingo ou quando estamos rezando, mas todos os dias Deus está conosco. E assim como Ele é íntimo de nós, nos abraçando nos momentos de dificuldade, Deus deseja que também sejamos íntimos Dele.
E São Paulo, escrevendo a Segunda Leitura de hoje, da Carta aos Romanos [Rm 8,14-17], nos diz que quem é mergulhado no Espírito tem intimidade com Deus, a tal ponto de chamá-lo: “Abbá, ó Pai!”. O que significa esta expressão? Significa “papaizinho”. E eu só chamo de papaizinho quando eu tenho intimidade, proximidade. Quando você está bravo com seu pai, você consegue o chamar assim, de modo tão carinhoso? Não, normalmente saímos batendo o pé. Mas quando queremos pedir alguma coisa, precisamos de algum favor, tratamos ele com todo carinho.
Nós não temos um Deus distante, mas quando nós temos intimidade com Deus, nós nos aproximamos Dele. E é o Espírito Santo que nos ajuda a ter esta intimidade. E assim como Deus deseja que nós o chamemos de papaizinho, na nossa família, os nossos familiares também desejam que nós tenhamos intimidade com eles. A esposa, quando chama o esposo de “amor” é um exemplo disto.
Estes dias eu fui com os paroquianos aqui da igreja comprar coisas para a quermesse e em uma loja em que entrei, vi um senhor tirando foto de algo para mandar para sua esposa. E ligou para ela dizendo: “amor, isso é sua cara. Vou comprar para você”. Isto é uma intimidade, uma proximidade. Assim, nós vivemos a comunhão de amor. O filho quando abraça o pai, a mãe quando beija o filho, o esposo quando abraça a esposa, os filhos quando demonstram carinho pelos pais. Assim nós estamos mergulhando e encarnando a Trindade Santa na nossa vida, na nossa família, na nossa casa.
Na Trindade não existe divisão, discórdia ou “cara feia”. Na Trindade existe uma comunhão de amor. Que ao celebrarmos esta eucaristia, crianças, jovens, adultos e idosos, solteiros ou casados, todos nós possamos vivenciar, na eucaristia, esta comunhão de amor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade da Santíssima Trindade (Ano B) – 27/05/18 (Domingo, missa das 10h).

Evangelizar e vivenciar a linguagem universal do amor
20/05/2018
Na alegria deste nosso encontro, meus irmãos e irmãs, aqui estamos para celebrar a Festa de Pentecostes. Neste dia, estamos celebrando também o 52º dia mundial de oração pelos leigos da comunicação, com a nossa PASCOM. E nos alegramos, ainda, com as crianças, jovens e adultos que serão consagrados a Nossa Senhora e a São José. Diante de tantas alegrias, a liturgia nos convida a refletir sobre a ação do Espírito Santo de Deus em nossa vida.
O Espírito Santo é Aquele que dá vida à Igreja. O Espírito Santo é Aquele que renova a vida da Igreja e a nossa vida. O Espírito Santo é Aquele que nos dá a graça do discernimento, de sabermos fazer as escolhas certas, pautadas no coração de Jesus Cristo, nosso Senhor. Por isso, meus irmãos e irmãs, superar o medo sempre é importante. É importante superar o medo quando desejamos anunciar o Evangelho. É importante superar o medo quando queremos pedir a mão da namorada em casamento. É importante superar o medo de dizer para a pessoa amada o quanto a ama. É importante superar o medo quando eu desejo chamar alguém para ser meu padrinho ou minha madrinha – "será que ele irá me aceitar como seu afilhado?". É necessário superar os medos quando nos colocamos diante dos meios de comunicação – como a Pastoral da Comunicação de nossa paróquia – para anunciar o Evangelho. Porque, devido a nossa ânsia pela perfeição, muitas vezes ficamos parados, com medo de errar, e não realizamos a obra da Evangelização.
O Evangelho de hoje [Jo 20, 19-23] nos ajuda a recordar que Jesus atravessa as portas fechadas da comunidade que estava com medo. E depois de dizer por duas vezes "A paz esteja convosco", sopra sobre esta comunidade dos discípulos, dando a eles uma nova esperança, uma nova oportunidade de abrir as portas, de deixar aquela comunidade ventilar para que Deus pudesse agir. Desse modo, Deus fala ao nosso coração – e, em especial, à Pastoral da Comunicação de nossa comunidade – para não termos medo de proclamar o Evangelho nas Redes Sociais, nas mídias, de forma escrita, pela fotografia... Através de tudo que proclama o Evangelho: não termos medo!
Este Evangelho também ajuda a recordar o esposo de não ter medo de declarar o seu amor a sua esposa; a esposa, ao seu esposo; os pais, aos filhos; os filhos, aos pais. O Evangelho nos ajuda, meus irmãos, a recordarmos que precisamos superar os medos que nos paralisam, que nos tornam inertes diante de tantas realidades que precisamos mudar em nossa vida. O Espírito Santo soprou sobre aquela comunidade com medo; hoje, Ele sopra sobre nós. E o que é necessário que superemos hoje? Quais são os nossos medos? Quais são as angústias pelas quais devemos pedir que o Espírito Santo sopre sobre nós?
Este sopro do Espírito nos ajuda, ainda, a recordarmos que devemos ser pessoas humildes, caridosas, que buscam a vivência do amor. Na primeira leitura [At 2, 1-11] temos um contraponto da Torre de Babel. O que foi a Torre de Babel? O povo querendo ser como Deus, querendo chegar às alturas onde estava Deus. Mas quando o ego e a prepotência são altos demais, um dia eles caem. Por isso a humildade é importante. Na Torre de Babel, o povo caiu e começou a não se entender mais, a não falar mais a mesma língua; e é na primeira leitura de hoje que nós temos o Espírito Santo resgatando esta unidade da linguagem universal do amor. Esta linguagem, meus irmãos e irmãs, que devemos vivenciar no dia a dia da nossa vida. Porque, muitas vezes, temos dificuldade de comunicação, dificuldade de entender uns aos outros. Quantos problemas acontecem dentro dos nossos lares porque o outro não entendeu o que eu queria dizer... Quantos problemas acontecem dentro da empresa porque eu acho que entendi o outro, mas o outro não me entendeu. Portanto, é necessário cuidarmos para reconhecer quando a nossa comunicação não foi eficiente – seja em casa, na igreja, no trabalho... – e superarmos estas dificuldades, estas barreiras, estes ruídos de comunicação que vão acontecendo porque falamos depressa demais, porque falamos pela metade, porque às vezes não entendemos a tonalidade do outro numa mensagem escrita ou porque acreditamos que estamos sendo claros quando, na verdade, não estamos.
Existe uma linguagem que é universal: a linguagem do amor. O amor, em qualquer raça ou nação, em qualquer língua ou cultura, é uma linguagem universal. A linguagem do amor é universal em todos os lugares, mas ela deve ser vivenciada. E a linguagem do amor nos ajuda a sair do nosso individualismo, a sair de nós mesmos e ir ao encontro do outro. Porque o amor é sempre compreensivo, atencioso, caritativo. Não pode existir um amor que não seja caritativo, e quanta caridade falta, muitas vezes, entre nós... Quanta caridade falta, muitas vezes, nas nossas palavras, em nossas atitudes; quando vemos pessoas necessitadas, pessoas angustiadas, pessoas precisando de atenção, de uma palavra amiga, de uma palavra de conforto. A linguagem do amor é universal, uma linguagem que todos nós somos convidados a vivenciar na nossa vida, na nossa caminhada de cristãos, de pai e de mãe, de sacerdote, de padrinho e de madrinha, de afilhados.
E, neste momento, dedico uma palavra especial aos padrinhos e madrinhas: vocês assumem uma responsabilidade muito importante de fazer que a linguagem do amor de Jesus alcance o coração do seu afilhado. Desse modo, só podemos vivenciar a vocação de sermos verdadeiros padrinhos e madrinhas se agirmos com a palavra e com o exemplo. As duas coisas dissociadas não surtem o efeito necessário. Se, de algum modo, vocês foram convidados para serem madrinhas e padrinhos é porque ou os pais ou os próprios afilhados identificaram, em vocês, pessoas de palavra e exemplo para ajudá-los a trilhar o caminho de Jesus Cristo, nosso Senhor. Portanto, sejam presentes, não deem só presentes; falem sempre a verdade para os seus afilhados, porque padrinho bom é aquele que se faz presente e que ajuda o afilhado a descobrir a verdade – verdade que Jesus diz em Jo 8, 32: "Conhecereis a verdade e ela vos tornará livres, vos libertará". Dizer a verdade e ser próximo só é possível se formos amigos, portanto sejam amigos, sejam presentes, visitem, telefonem, façam parte da família e da vida dos seus afilhados. Que o Espírito Santo vos seja favorável nesta missão.
Agora, aos afilhados: hoje vocês assumem, de livre e espontânea vontade, que desejam se consagrar ao Senhor. Desse modo, vocês colocam Maria e São José como exemplos a serem seguidos por vocês. Vocês recebem, hoje, não um Sacramento, mas um sacramental. A diferença entre um Sacramento e um sacramental é a importância que você dá a este ato de consagração. Maria foi a mulher do sim; Maria foi a mulher da perseverança; Maria foi a mulher da oração. São José foi o homem do sim e do silêncio; um homem trabalhador, um homem atencioso à Palavra de Deus. Que vocês possam seguir as virtudes destes dois grandes santos da Igreja, para que a Palavra do Senhor seja encarnada na vida de vocês, seja vivenciada e testemunhada como foi, um dia, na vida de José e de Maria; para que, com o auxílio dos padrinhos e madrinhas, todos nós possamos chegar juntos à Morada Eterna, onde Deus, nosso Pai, nos espera ansioso para celebrarmos a festa da eternidade.
A celebração de hoje, meus irmãos e irmãs, só será significativa se ultrapassarmos os limites da fotografia, dos presentes e, até mesmo, os limites da amizade – porque, às vezes, por sermos tão amigos, acabamos não falando a verdade, e padrinho e madrinha devem caminhar com seus afilhados sempre em busca de reencontrar a verdade que Jesus nos apresenta, sendo, de certo modo, uma família em Jesus. Como na segunda leitura de hoje [1Cor 12, 3b-7. 12-13], que fala que a Igreja é um único corpo – com muitos membros, mas, ainda assim, um único corpo que caminha na mesma direção.
Hoje nós rezamos para que a nossa sociedade, a nossa igreja caminhe na mesma direção. E rezamos, de modo carinhoso, para que os padrinhos e afilhados caminhem na mesma direção, um ajudando o outro a superar os limites que tantas e tantas vezes nos tentam a desviar do caminho do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Pentecostes (Ano B) – 20/05/18 (Domingo, missa das 10h).

Permita que Deus destrua as muralhas da sua vida
17/05/2018
Queridos irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o sétimo dia do Cerco de Jericó. E quem veio os sete dias do Cerco, parabéns pela sua perseverança; os que não conseguiram, não tem problema, a gente começa a se exercitar e colocar como meta de sempre que começar o Cerco de Jericó ser fiéis ao nosso propósito. Este propósito que nos faz reunir hoje esta noite para rezar para a nossa família, que é um grande tesouro que Deus nos concedeu. Rumo à sétima noite, nós somos convidados a refletir sobre as muralhas que impedem as nossas famílias de serem felizes, e quantas muralhas nos impedem de ser feliz?
A Primeira Leitura [At 22,30; 23-6-11] pode ser adaptada para a nossa família, a nossa busca de felicidade familiar. Nesta Primeira Leitura, Paulo na sua vida ministerial e apostólica nos dá um grande exemplo e até mesmo o tribuno que não acredita em Deus nos dá uma lição, você sabia que na vida podemos aprender com todo mundo? Duas coisas são fáceis de decorar: ou a gente aprende como fazer ou a gente aprende como não fazer. Não que a pessoa que não tem fé em Deus não possa ter uma vida familiar feliz ou que não possa ser uma pessoa de índole. Isso é uma barreira que já deve ser quebrada na nossa vida. E olhando a figura do tribuno e de Paulo, nós vemos características muito interessantes: a primeira é que o tribuno queria ou tinha intenção de condenar Paulo, mas ele precisava ter certeza, diz a palavra de Deus. Quantas vezes demos de cara para condenar o outro, porque achamos que ele fez alguma coisa, não sei com vocês, mais já me equivoquei muitas vezes acreditando que o papai fez algo e não fez, que mamãe fez algo e não fez, que os irmãos algo e não fizeram... Será que isso já aconteceu na casa de vocês? Sobretudo papai e mamãe que tem dois filhos né? Um fica jogando pro outro. Quem é que fez no final das contas? Quem é o culpado da história, se é que é culpado? Então o tribuno nos ensina que, em primeiro lugar, antes de condenar alguém, devemos ter certeza. E como é que a gente tem certeza das coisas? Dialogando! Conversando! E WhatsApp não é conversa, ele ajuda em muita coisa, mas atrapalha na outra metade. Então, conversar, dialogar é olhar no olho do outro, é reservar tempo para chegar a uma conclusão. E é necessário encontrar o momento adequado, o lugar adequado...
Quem é casado, no dia em que você foi pedir a sua esposa em casamento, você pediu de qualquer jeito? Você não disse “e aí, vamos casar?”. Você escolheu um momento adequado, um lugar adequado, as palavras adequadas. E por mais que você seja grosso, às vezes bronco, naquele dia você não falou simplesmente “vamos casar?”, você a chamou pelo nome, de bem, de amor, pelo apelido, e perguntou “você quer se casar comigo?” ou fez um discurso, como os mais eloquentes. Mas não foi de qualquer jeito. Quando nós temos problemas dentro de casa, nós também não podemos falar com o outro de qualquer jeito. O outro acabou de chegar, nem sabe o que está acontecendo e você já começa a descontar e aí começa a briga... Mas até o outro entender porque você está nervoso, já foi uma briga danada! Quando o filho quer falar uma coisa difícil pro pai e pra mãe, seja o que for, ele fala a primeira palavra e você já descarrega... Não pergunta um por que, como aconteceu, porque, por mais difícil que seja, ele não vai deixar de ser seu filho. Então, a primeira coisa é você ouvir, é entender o que está acontecendo para depois fazer o seu julgamento, o seu juízo de valores, independente do que seja. Mas o diálogo é uma condição indispensável para que você tenha uma família feliz. Sem diálogo, nós não estabelecemos vínculo, nós não estamos próximos um do outro. Podemos até caminhar na mesma direção, mas não somos uma única família. Quanto diálogo falta nos nossos lares! Quanta compreensão falta nos nossos lares! Quanto ouvir o outro falta nos nossos lares!
Depois, meus irmãos, Paulo tem a coragem de agir com transparência. O tribuno coloca Paulo diante de dois grupos: os saduceus e os fariseus. Uns acreditavam na ressurreição, nos anjos, nisso e naquilo outro e professavam isso. O outro grupo, dito mais intelectual, não acreditava na ressurreição nem nos anjos. E o tribuno o coloca no meio do fogo armado, e o que é que Paulo faz? Ele age com transparência e com argumentos, dizendo: “Irmãos, eu sou fariseu e filho de fariseus. Estou sendo julgado por causa da nossa esperança na ressurreição dos mortos”. Quando nós estamos sendo julgados, seja como for, é necessário que nós tenhamos a coragem de agir com transparência. E, quantas dificuldades poderiam ser eliminadas já no início se os filhos falassem a verdade pros pais, porque, às vezes, quando os pais vão descobrir e já é tarde demais. Se não aconteceu com você, aconteceu com alguém perto de você. A mãe e o pai, às vezes, são os últimos a saber. Ficam lá pensando “meu filho é um santo, minha filha é uma santa, só vai pra escola, estuda e fica lá mexendo no computador, nada de mais né, ou então no celular...”. E aí, quando chega a bomba em casa, meu Deus do céu! Mas a bomba não chegou de uma vez, chegou em pequenas doses, mas os filhos não falaram a verdade.
Teve um caso de um menino de nove anos, uma inteligência fantástica, toca violão como ninguém. Sabe o que o menino fez? Decorou o cartão de crédito do pai. Aí ele entrou nesses sites de venda pela internet, tipo Alibaba.com, e pediu, há três anos, um drone e, não contente, ele pediu uma GoPro. Quando chegou a encomenda o pai disse não era dele, “não pedi isso aqui, pode voltar...”. O pai demorou quase um mês para descobrir que quem tinha comprado foi o filho. Mas, antes daquele filho não falar pro pai, o pai delegou a educação deste filho a escola integral, chegava em casa e não dava atenção para esse filho, a mãe acompanhava o moleque de tudo quanto é jeito, tentando cercar ele, parece que não confiava no menino, porque tudo que ele fazia de errado era três dias de ladainha. E sem uma educação efetiva – porque castigo é bom de vez em quando, só que tem que saber castigar... Castigo é pedagógico, mas tem gente que não sabe castigar. “Não faz, não faz, não faz”, depois dá uma surra na criança ou tira tudo dela de uma vez, isso não funciona, a criança só vai pegar birra. Então, o primeiro problema estava com os pais. Segundo, com a criança, que eu não sei ate que ponto ele tem culpa, porque ele queria, ao final das contas, segundo a psicóloga, chamar a atenção dos pais. E quantos filhos estão gritando silenciosamente pela atenção dos pais? Quantas esposas gritam pela atenção do seu esposo? Quantos esposos estão gritando pela atenção da sua esposa? Nos falta essa proximidade...
E depois, algo que está faltando em nossa sociedade são argumentos. Paulo, não porque era formado na escola grega, mas por ser impulsionado pelo Espírito Santo, teve a coragem de assumir os seus valores em determinado momento, não nessa leitura, mas em outras, assumir também os seus erros. Quantas vezes nós temos argumentos para defender o que nós acreditamos? Às vezes, a gente só quer gritar “vou fazer” e aí grita e depois reclama que as crianças são birrentas, mas é desse jeito, sempre foi assim, quanto mais vai ficando velho é pior, mas por que vai mudar agora? E nos falta este argumento, precisamos falar: “Vou fazer isso, por causa disso, disso e disso”. Precisamos argumentar, pensar...
Depois meus irmãos, o tribuno foi um observador. Ele percebeu que se deixasse o Paulo entre os fariseus e os saduceus iam fazer picadinho de Paulo. E o que é que ele faz? Ele vai lá e retira Paulo do meio da briga. Quantas vezes ao invés da gente tirar alguém do foco, a gente senta e fica observando a guerra dentro de casa? E aqui eu tenho que dizer que, normalmente, essa é a função das mulheres, pois elas têm mais paciência com os homens, geralmente. Só que tem mãe que fica lá olhando, sem fazer nada. Temos que tirar do foco, porque quando estamos nervosos, a gente fala pelos cotovelos e tem alguns que são até agressivos fisicamente. Se o tribuno tivesse deixado Paulo, era picadinho de Paulo, não tinha jeito. Se nós retiramos a pessoa do foco, dá tempo dela respirar e daquele que está acusando pensar um pouco sobre as suas palavras. Será que quando o pai está brigando com o seu filho, sem tirar a autoridade é claro, você fala “Vamos se acalmar um pouquinho? Vamos esperar um pouquinho?”, sobretudo se começa haver agressão física? Você deixa, fica inerte parado como estátua ou você intervém? Porque se a atitude do tribuno, que não acreditava em Deus, for melhor do que a nossa, onde é que nós estamos? Quais são os valores que nós defendemos? Eu já apartei mamãe e papai, eu já apartei papai e meu irmão, eu já apartei papai e a minha irmã, eu já apartei papai e eu... Porque quando um não quer, dois não brigam!
Lembro de uma vez com meu irmão, quando eu estava no seminário e fui passar férias lá em casa, aí eu não sei com quem ele aprendeu que mamãe não era mais senhora, era você; não sei com quem ele aprendeu que mamãe era obrigada a lavar a roupa dele; e eu não sei com quem ele aprendeu que mamãe era obrigada a deixar comida para ele a hora que ele quisesse. E a hora que ele apelou, eu levantei e a crista dele levantou junto, igual galo de briga, e ele me falou nervoso: “o que é que foi?” e eu falei: “baixa o tom, fala devagar, calma”, mas ele veio pra cima. Na hora que ele veio pra cima, a minha vontade era de socar ele. Mas o que eu fiz? Segurei os dois braços dele, ele gritou, esperneou e quando ele começou a se acalmar, eu soltei e ele foi pro quarto dele. Mas se nós dois tivéssemos brigado naquele dia, talvez até hoje nós não teríamos amizade. Naquela ocasião, quem era o calmo da história? Eu, mas podia ser o contrário. Muitas vezes, nós temos que retroceder que é o que acontece com Paulo na leitura de hoje: “Receando que Paulo fosse despedaçado por eles, o comandante ordenou que os soldados descessem e o tirassem do meio deles, levando-o de novo para o quartel.” O comandante tirou Paulo do foco, retrocedeu na sua decisão. Se nós retrocedêssemos quando estivéssemos nervosos, se nós retrocedêssemos quando estivéssemos com dúvida, se nós retrocedêssemos quando nós nos dermos conta que ultrapassamos o limite, muitos problemas não aconteceriam dentro dos nossos lares.
Depois, meus irmãos, Jesus disse pra Paulo: “Tem confiança. Assim como tu deste testemunho de mim em Jerusalém, é preciso que tu sejas também minha testemunha em Roma”. No meio da angústia, Paulo é capaz de ouvir a Deus. No meio das tribulações da nossa vida familiar, nós buscamos a Deus? Porque muitas vezes se busca o bar, o jogo, o shopping, a casa de amigos que não vão nos ajudar. Mas quem procura ir para o quarto rezar? Quem procura vir à igreja para rezar? Tenho até um testemunho bonito nesta igreja que uma senhora uma vez veio me contar. Ela era evangélica e já era a quarta ou quinta vez que ela e o marido estavam brigando, uma confusão sem tamanha, ela disse. Na hora que ela viu que ele ia partir para agressão física, ela saiu de casa, chorando. Ela estava passando aqui em frente à igreja, quando viu a igreja aberta e tocando música. Então, ela entrou, era a hora do Evangelho e depois o padre começou a fazer a homilia e ela disse que, naquele momento, Deus falou no coração dela. Ela voltou para casa e, no momento certo, reestabeleceu o diálogo com seu esposo e restaurou seu casamento. Faz mais de dois anos que ela frequenta a missa, todo sábado. Um dia eu perguntei: “Por que você só vem de sábado?” e, ela me disse “Porque domingo eu fico com meu marido. Eu não vou deixar a igreja separar a gente. Se um dia ele vier comigo, a gente vem. Mas, por enquanto, está bom assim”. Olha que testemunho lindo! Ela já tentou trazer o marido, ele já veio algumas vezes e não se identificou, mas ela continua aqui, vem buscar a força em Deus, ouvir a Deus, confiar em Deus. Nas tribulações da sua família, quem você procura? Você procura aquele que pode derrubar essas muralhas? Ou você procura os bares, a bebida, o jogo que elevam essas muralhas dentro da sua casa? Quem você procura nas tribulações? Paulo confia em Deus. Devemos confiar plenamente no Senhor. Como é bonito um coração que confia em Deus, um coração que confia sua vida em Deus, um coração que confia a sua família em Deus. Confie no Senhor!
E por último, Paulo dá testemunho, um testemunho que o leva ate o martírio. Quantos pais e mães, quantos filhos morreram dando o sangue por aqueles que amam? Nós dizemos que amamos até que não tenha problema para nós, quando começam os problemas parece que o amor vai fugindo...
Confie no Senhor! Siga esta receita que Paulo nos indica no dia de hoje e este tribuno que não acreditava em Deus. Refugie-se no Senhor, como cantamos no Salmo 15 da liturgia de hoje: “Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!”. Se você veio hoje nessa igreja é porque de algum modo você deseja que Deus seja o seu refúgio, a sua fortaleza, o seu remédio. E para isso, meu irmão e minha irmã, é necessário confiar em Deus.
Homilia: Padre Tiago Silva – Quinta-feira da 7ª semana da Páscoa (Ano B) – 17/05/2018 (7º dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Testemunhar Jesus em nossa jornada rumo ao céu
13/05/2018
Meus irmãos e irmãs, nós celebramos hoje a festa da Ascensão do Senhor. Depois de celebrarmos a ressurreição de Jesus, Ele permanece conosco durante quarenta dias e depois sobe para sentar-se à direita do Pai. Hoje a imagem do Cristo ressuscitado está aqui, diante de nós, à frente do presbitério. Porque, solenemente, ele será direcionado para junto do Pai e nos deixará a missão de sermos testemunhas, discípulos e missionários do Senhor. Na Primeira Leitura [At 1, 1-11], os apóstolos confirmaram que, durante quarenta dias, Jesus apareceu-lhes falando do Reino de Deus. E o que Jesus disse nestes quarenta dias? Dentre tantas coisas, falou: “não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar”. Esperar em Jerusalém. Neste mundo cada vez mais veloz, acelerado, de uma comunicação praticamente instantânea, nós temos cada vez mais dificuldade em esperar. Seja para esperar o tempo de Deus, as tempestades passarem, o tempo de uma recuperação de saúde ou o tempo para que uma dificuldade familiar seja superada.
Jesus, em sua fala, está se referindo à ação do Espírito Santo, que virá sobre a comunidade. Pede para que eles esperem o Espírito Santo e não desanimem. O que é necessário que nós esperemos hoje? Diferente daquela comunidade, talvez nós esperemos que Deus toque em nosso coração, ou no coração de nossos familiares; que toque em nossa vida matrimonial; ou, ainda, que Deus abra as portas do mercado de trabalho para quem está desempregado. Seja o que for, é necessário esperar em Deus. Assim como Ele não iludiu os seus discípulos, Jesus também não haverá de nos iludir. Mas é necessário que nós aprendamos a esperar. E vocês, pais e mães, devem ensinar a esta nova geração que nem tudo é instantâneo. Às vezes, é necessário esclarecer que se deve esperar pois o momento mais oportuno não é aquele, mas ele chegará. As crianças, por vezes, fazem cara feia quando os pais pedem para esperar. E quando Deus nos pede para que esperemos, como reagimos?
Não desanimemos! Você que deseja que seus entes queridos redirecionem seus caminhos, mudem seu comportamento ou, até mesmo, voltem para casa: esperem! Tenham paciência! Aguardem o momento de Deus. Este mesmo Deus que nos disse no Evangelho [Mc 16,15-20]: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”. Não existe anúncio do Evangelho sem testemunho. E se você e eu não dermos o testemunho como pessoas que confiam em Deus, nenhuma palavra será eficaz, pois nossos testemunhos devem corresponder às nossas atitudes.
Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu para sentar-se à direita de Deus. E o que nos é deixado como lição? Justamente isto: irmos pelo mundo e anunciarmos o Evangelho, a fim de sermos testemunhas de seu amor. Em nosso dia a dia, como cristãos, marido e mulher, filhos e filhas, devemos ser testemunhas desta palavra.
E como podemos de outras formas, na prática, ser testemunhas? A leitura de Efésios [Ef 4,1-13] nos diz: “com toda humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor”. Este “suportar” da Palavra de Deus, como expliquei outras vezes, não é sinônimo de “tolerar”, mas sim de “dar apoio”. Se alguém está com dificuldades para andar e alguém o auxilia, esta pessoa está sendo um suporte para aquele que não está em sua melhor condição física. Sendo assim, nós temos que ser suporte um para o outro e é justamente isso que a Palavra de Deus nos pede. Suportar o outro quando ele está nervoso, em suas fragilidades ou enfermidades para, assim, ajudarmos o outro a prosseguir.
Recordando hoje o dia das mães e também o dia de Nossa Senhora de Fátima, já paramos para pensar quantas vezes nossas mães nos foram suporte? Quando estávamos chorando, e ela nos pegava no colo e, com seu carinho, acabava com nosso pranto. Desde estes primeiros momentos, ela foi suporte para cada um de nós. Quando estávamos brincando na rua, ou dentro do prédio e caíamos e íamos chorando atrás de nossas mães ou avós, elas nos acalmavam e diziam que tudo ia ficar bem.
Nós temos que ser suportes uns para os outros: a esposa um suporte para o esposo, o esposo um suporte para a esposa; os pais um suporte para os filhos, os filhos um suporte para os pais, sobretudo quando estes alcançam uma idade avançada e precisam de nós. Quanto os pais foram suporte para nossas vidas! E muitos acabam por abandonar os pais ou avós nesta fase tão difícil. Portanto, irmãos e irmãs, é necessário sermos este suporte. Quando você está com dificuldade, não desanime! Espere em Deus, seja testemunha, fale da Palavra de Deus. Fale do amor e da misericórdia do Pai. Seja uma palavra de esperança na sua casa. Mas não fique simplesmente olhando para o céu esperando que tudo se resolva. E é deste modo que termina a Primeira Leitura de hoje: “homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
Por que os anjos apareceram para os discípulos, que estavam olhando espantados para o que ocorria? Porque não adianta olhar para o céu se a gente não trabalhar. Tem gente que está com problema em casa e fica olhando para o céu, pedindo ajuda para Jesus, mas não conversa com a pessoa para resolver o problema. Tem gente que está com problema com o filho, mas não tem coragem de chamá-lo para conversar. Tem gente que está com dificuldade no trabalho, mas não busca a solução. Tem gente que está com problema de saúde, mas não vai ao médico. Tem gente que quer melhorar a igreja, mas não vem ajudá-la. Tem gente que quer melhorar o bairro, mas não se coloca à disposição. Ficar olhando para o céu não irá resolver os nossos problemas. Se Jesus subiu para o céu, é para nos deixar uma missão de sermos testemunhas. E este testemunho será mais eficaz à medida que eu aprender a testemunhar o Evangelho e a parar de ficar chorando e passe a pedir a Deus que ilumine os meus passos e as minhas decisões para transformar as realidades que, a meu ver, precisam ser alteradas.
Que ao celebrar esta eucaristia possamos, juntos, como igreja e comunidade, nos darmos as mãos e caminharmos em direção ao céu. Porque se eu quero chegar ao céu, assim como Jesus, é necessário evangelizar, testemunhar, anunciar e ser suporte para os outros.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Ascensão do Senhor (Ano B) – 13/05/2018 (Domingo, missa das 10h).

Com Deus, alcançaremos a vitória!
10/05/2018
Hoje é o sexto dia do Cerco de Jericó, que esta paróquia está celebrando pela primeira vez. E vocês não imaginam quantas bênçãos, quantas libertações nós conseguimos alcançar por meio do Cerco de Jericó. Eu falo isso porque lá na minha paróquia, São Geraldo, este já será o sexto ano em que faremos o Cerco, e são testemunhos fortes que chegam até nós, de pessoas que alcançaram graças e bênçãos. Lembrando que o Cerco de Jericó que aconteceu lá no Antigo Testamento [cf. Js 6] foi uma celebração. A celebração, em si, nos leva a encontrar este Deus que nos fortalece, que nos torna fortes para lutar contra tudo aquilo que quer nos colocar para baixo. Este é o objetivo do Cerco de Jericó, esta celebração, como estamos fazendo aqui hoje, já no sexto dia, com o intuito de derrubar estas muralhas – que são os obstáculos do dia a dia – para alcançarmos a vitória, as bênçãos, os milagres, as transformações. E nós só vamos conseguir isso estando unidos a Deus.
Josué, sozinho, conseguiria derrubar as muralhas de Jericó e entrar naquela cidade? De jeito nenhum! Ele teve que contar, primeiramente, com Deus; depois, com a ajuda daqueles que estavam ao seu redor. Assim, em uma batalha espiritual, primeiro eu tenho que contar com Deus, com a força de Deus, do Deus poderoso, o Deus que luta a nosso favor. Em segundo lugar, eu tenho que contar com aquela pessoa de oração que está ao meu lado, aquela pessoa que ora, que intercede – por isso é bom termos bons amigos de oração. Às vezes, arrumamos falsos amigos, que achamos que estão rezando pela nossa vitória, pelo nosso sucesso, pela nossa libertação, quando, na verdade, a pessoa ora, intercede e se alegra – como vai dizer o Evangelho [Jo 16, 16-20] – com o nosso fracasso. É triste, mas, infelizmente, existe muita gente que está torcendo e está até rezando pela sua derrota. É o que nos alerta o Evangelho de hoje.
Veja só o que Jesus fala para os discípulos em Seu discurso de despedida, vendo que não compreendiam o que estava acontecendo: "Em verdade eu vos digo: vocês vão chorar, vocês vão se lamentar. E sabe o que vai acontecer? O mundo irá se alegrar com a sua derrota, com a sua tristeza, com o seu lamento". Os que estão no mundo são aqueles que não estão preocupados com o seu sucesso, com o seu milagre; eles não estão preocupados com um mundo melhor, com uma vida melhor. Mas o mais bonito que fala a Palavra de Deus é: "Mas isso não é motivo para vocês desistirem". Às vezes, minha gente, por muito pouco nós desistimos. E às vezes, quando estamos lá no fundo do poço, indo de mal a pior, aparecem aqueles engraçadinhos – até mesmo pessoas de igreja, que comungam o corpo e o sangue de Cristo – que falam: "Bem feito! Isso é para você aprender!". Isso nos deixa tristes, não deixa? Nos deixa angustiados. Mas isso é motivo para desistir, para voltar atrás? Jesus vai dizer: "Não senhor!". As tristezas, as angústias são coisas, muitas vezes, inevitáveis; mas "a vossa tristeza se transformará em alegria". Isso é bonito demais, gente! Esse é o desejo de Deus para nós! Enquanto aqueles que estão no mundo torcem pela sua derrota, pelo seu fracasso, Deus está torcendo pela sua alegria, pela sua vitória.
É por isso que quando Jesus foi pregado na cruz, enquanto os soldados e algumas pessoas da multidão zombavam Dele, Ele estava prometendo o Paraíso, o perdão, a alegria ao bom ladrão: "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso" [cf. Lc 23, 43]. Isso quer nos dizer o que? Que enquanto estamos sofrendo, tristes, angustiados, Deus está torcendo pela nossa recuperação. Você acha que, para aquelas pessoas que estão nas cadeias, Deus está batendo palmas? Não! Deus está torcendo para que elas mudem de vida! Enquanto o mundo se alegra pela derrota, pelo fracasso, Deus, ao contrário, torce pela vitória, pela superação, por uma vida melhor.
Hoje o tema deste sexto dia do Cerco de Jericó é superar toda desavença, toda falta de diálogo – o que, muitas vezes, divide as famílias. Às vezes, são aquelas desavenças pequenininhas que destroem a nossa família. Mas eu tenho certeza que quando colocamos Jesus Cristo no centro da nossa vida e quando somos capazes de superar tudo aquilo que separa a nossa família; se a gente tem Deus, tem o Espírito Santo, nós vamos ter o mesmo comportamento de Paulo na primeira leitura de hoje [At 18, 1-8]. O que Paulo fazia quando estava pregando e as pessoas nem sequer davam atenção – ao contrário, falavam mal dele e o criticavam? Ele sacudia a poeira dos pés, dava a volta por cima e seguia sua caminhada. Assim nós devemos ser, minha gente. Às vezes, dentro de casa, nós perdemos muito tempo com coisas inúteis, que não têm sentido nenhum. Nós deveríamos sacudir a poeira, dar a volta por cima. Algumas brigas de casais dão até vergonha! Coisas tão pequenas... Mas por quê? Por falta de tolerância, de compreensão, de diálogo. Onde não há diálogo, conversa, partilha, clareza... Só pode haver briga mesmo. Mas quando nos sentamos e conversamos, principalmente diante de uma situação difícil, nós conseguimos dar a volta por cima. Foi o que aconteceu com Paulo. Foi o que aconteceu com Silas. Foi o que aconteceu com Timóteo. Diante de situações difíceis, eles partiam para a briga? Não. Eles davam a volta por cima.
Então, minha gente, se estivermos unidos a Jesus Cristo vamos conseguir dar a volta por cima diante daquelas pessoas que nos querem mal, que nos criticam, e diante de tantos conflitos que passamos dentro de casa. Se estivermos unidos a Cristo vamos conseguir este grande feito. E, conseguindo isso, a alegria será algo muito real em nossa vida. Vamos, então, superar os conflitos, as coisas ruins, para que possamos derrubar todas as muralhas: falta de diálogo, tristezas, angústias, fracasso... Às vezes são coisas pequenas que acontecem na nossa vida, mas que, infelizmente, influenciam – e muito – nosso caminhar, nossa busca de vitória, de cura e libertação.
Peçamos a Deus que Ele transforme nossa tristeza em alegria. Que Ele possa transformar esse nosso Brasil em um país melhor. Esse país de violência num país mais seguro; esse país de desempregados em um país onde se tenha um trabalho justo, honesto, onde dá prazer produzir, trabalhar. Peça a Ele que transforme a angústia da sua família, de alguém que você conhece e agora traz em seu coração. Entregue a Deus sua tristeza, os conflitos que você tem passado dentro de casa, com seu marido, com seus filhos, com seus pais... Entregue a Ele aquela situação que você tem passado no seu ambiente de trabalho, com seu vizinho ou, até mesmo, aqueles conflitos que você tem passado internamente. Peça ao Senhor que tudo isso seja transformado em alegria. Que todas as provações sejam transformadas em alegria. "Que aqueles que estão rindo de mim agora, aqueles que estão me criticando assistam de pé a minha vitória! Porque com o Senhor eu vou alcançar a vitória! Com o Senhor as muralhas da derrota, da angústia, da tristeza, do fracasso vão cair! Eu creio, Senhor, que o Senhor está comigo". E é por isso que nós entregamos toda a nossa família, a nossa casa, nosso desejo de vencer, de superar, de conquistar. Nós entregamos a Ti, Senhor, neste sexto dia do Cerco de Jericó, o nosso desejo de alcançar a vitória.
Homilia: Padre Júlio César Caetano da Silva – Quinta-feira da 6ª semana da Páscoa (Ano B) – 10/05/2018 (6º dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Fazer a experiência do amor verdadeiro
06/05/2018
Nós estamos celebrando, meus irmãos e irmãs, o 6° Domingo do Tempo Pascal. Celebramos a Páscoa do Senhor, porque cremos em um Cristo vivo e ressuscitado. A celebração do 6° Domingo da Páscoa nos prepara para duas grandes festas que se aproximam: na próxima semana, a festa da Ascensão do Senhor e, daqui quinze dias, a festa de Pentecostes.
Na próxima semana, na Ascensão do Senhor, Jesus sobe para sentar-se à direita de Deus Pai todo-poderoso, como rezamos na profissão de fé. Mas Jesus não nos deixa órfãos, não nos deixa desamparados. Ele nos deixa o Espírito Santo, o Paráclito, na festa de Pentecostes que celebraremos daqui quinze dias. O Espírito Santo é aquele que nos fortalece, nos ampara e nos impulsiona. O Espírito Santo é aquele que nos dá a graça do discernimento para que saibamos fazer as escolhas certas, pautadas no coração de Jesus.
Nesse sentido, irmãos e irmãs, celebrar a liturgia de hoje nos faz recordar o amor. O amor que não está apenas em palavras, mas o amor como deve ser: um sentimento traduzido em gestos concretos. No Evangelho de hoje [Jo 15,9-17], Jesus nos diz: “Permanecei no meu amor”. Permanecei no amor de Deus. Muitas vezes, andamos por este mundo mendigando sermos amados quando temos um Deus que nos ama de forma real, de forma afetiva, de forma sacrifical, ou seja, até as últimas consequências e a última consequência deste amor de Cristo por cada um de nós é a sua morte e morte no alto do Calvário.
Jesus nos diz, no Evangelho de hoje: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. Celebrar a fé em Jesus Cristo, celebrar a nossa fé nas suas atitudes deve ajudar cada um de nós a colocar em prática este amor de Deus até as últimas consequências. Nós dizemos que amamos uns aos outros. Muitas vezes, o esposo diz que ama a esposa, e vice-versa. Os pais dizem amar os filhos e os filhos dizem amar os pais... Mas diante das situações adversas da nossa vida, este amor, muitas vezes, não é traduzido ou não é testemunhado de modo concreto. Que tipo de amor é o amor que não perdoa? Não é amor! Que tipo de amor é o amor que não luta pelo amado? Não é amor! Qual é esse tipo de amor que dizemos amar, mas quando o outro tropeça, erra, se equivoca ou toma uma atitude incoerente, nós o abandonamos e nos afastamos? Este não é o amor verdadeiro! O amor verdadeiro é aquele pregado por Jesus: “Quantas vezes tenho que perdoar o meu irmão, Senhor?”, e a resposta é “Setenta vezes sete”, ou seja, infinitamente! E por que nós temos tanta dificuldade em perdoar uns aos outros? O amor, meus irmãos e irmãs, está se tornando uma palavra cada vez mais secularizada. A palavra amor vem se tornando cada vez mais erotizada, e não mais esta vivência do amor sem medidas, do amor sacrifical, do amor comprometido com a pessoa amada.
Será que estamos nos comprometendo com aqueles que dizemos amar? A palavra de Deus hoje, no Evangelho, nos diz: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça”. Deus nos escolheu desde o ventre materno para que nós saibamos, testemunhemos, vivenciemos e façamos a experiência do amor verdadeiro. E, ao fazer a experiência deste amor verdadeiro, plantar a semente do amor no coração das pessoas que nós amamos. Imagina a alegria de um pai ou de uma mãe que planta a semente do amor e quando os filhos crescem, mesmo não estando por perto, podem ver o filho tomar as atitudes corretas, pautadas no Evangelho, nos sentimentos e no coração de Jesus Cristo nosso Senhor. Teria algum pai que ficaria triste com um filho desses? Com certeza não! Se quisermos que nossos filhos amem, é necessário que nós os amemos. Se quisermos ser amados, é necessário que nós possamos nos permitir ser amados. Por que quantas vezes nós criamos uma barreira com as pessoas que desejam nos amar e nos afastamos delas com palavras, com atitudes, com olhares? Isso acontece dentro dos nossos lares, quando a pessoa está derramando amor por nós, mas, muitas vezes, porque estamos com problemas pessoais ou mesmo do trabalho, nós nos afastamos de tais pessoas...
Ao fazermos a experiência do amor, meus irmãos e irmãs, nós compreendemos que este amor deve ser transmitido a todas as pessoas. Este amor deve ser transmitido por esse Espírito Santo que habita em nós e que deseja agir através de nós e em nós. Embora seres imperfeitos, inacabados, pecadores e insuficientes, Deus espera que nós possamos deixar que ele aja em nós e por meio de nós.
Na Primeira Leitura dos Atos dos Apóstolos [At 10,25-26.34-35.44-48], quando a Igreja ainda estava nascendo, Pedro estava próximo a uma comunidade de judeus que não acreditava em Jesus e uma pessoa, de nome Cornélio, se aproxima dele e se coloca de joelhos para que Pedro possa abençoá-lo e para que Pedro possa lhe dar uma palavra. Pedro mais do que depressa diz: “Levanta-te. Eu também sou apenas um homem”, em outras palavras, “Levanta-te, sou pecador como você”. E enquanto Pedro falava, o Espírito Santo toca o coração de toda a comunidade que estava ouvindo as palavras de Pedro. Vamos recordar que Pedro é um semianalfabeto, que Pedro negou Jesus por três vezes, que Jesus disse a Pedro: “Afaste-te de mim Satanás! Porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens”. Em resumo, Pedro é cabeça dura! Mas se em Pedro, que era cabeça dura, que negou Jesus, o Espírito Santo agiu, por que não pode agir em cada um de nós?
O Espírito Santo não escolhe os mais bonitinhos nem os mais intelectuais. O Espírito Santo escolhe aqueles que abrem o seu coração para que Deus possa agir na sua vida. Por mais que você se sinta cabeça dura, Deus quer agir em você e por meio de você, meu irmão. Para isso, é necessário que façamos a experiência deste amor verdadeiro que a Primeira Carta de João, na Segunda Leitura de hoje [1Jo 4,7-10], nos apresenta: “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus”.
Que possamos, ao celebrar esta Eucaristia, nos amarmos uns aos outros. Que possamos amar de modo incondicional, ou seja, até as últimas consequências. Se nós desistimos de alguém, que Jesus toque no nosso coração e restaure todo o sentimento de amor verdadeiro, de amor puro que temos no fundo do nosso coração. Que possamos, amando a Deus, saber amar, fazer a experiência do amor, manifestando naqueles que participam da nossa vida e da nossa história. E que este amor possa encontrar resposta e ressonância nas nossas atitudes, este amor que deve ser traduzido em gestos. As grandes atitudes não nascem se não forem iniciadas com pequenos gestos.
Que possamos recordar este amor sacrifical, este amor incondicional. Obrigado, Senhor, por este amor incondicional. Obrigado, Senhor, por esta palavra. Obrigado, Senhor, por nos ajudar a recordar o quanto somos amados e o quanto podemos amar aqueles que o Senhor colocou em nossa vida e em nossa história.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 6º Domingo da Páscoa (Ano B) – 06/05/2018 (Domingo, missa das 18h30).

Confiar em Deus e se abrir à experiência do Seu amor
03/05/2018
Irmãos e irmãs, para começar esta reflexão, eu digo: temos que confiar no Senhor e deixar Deus agir em nós e por meio de nós! Disse Jesus no Evangelho de hoje [Jo 14,6-14]: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai se não por mim”. Nós, meus irmãos e irmãs, por mais que tenhamos, ao longo da nossa história, trilhado caminhos errados ou feito escolhas equivocadas, quando fazemos a experiência de Deus, reconhecemos que o caminho está em Jesus. Neste mundo dilacerado por tantas pseudoverdades, falsas verdades, mentiras, valores deturpados, falsas ideologias, Jesus é a verdade e é nesta verdade que nós devemos confiar a nossa vida, a nossa família e o nosso futuro.
“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Quais são as verdades que Deus pode revelar neste Cerco de Jericó? Com certeza, a cada um Deus fala de um modo. Deus toca de um modo diferente em cada pessoa. E é em você que Jesus quer tocar, resgatar das fragilidades. É a você, meu irmão, que Ele chama para essa vida verdadeira! Mas é necessário que você ouça o Senhor, que você trilhe o caminho que Deus te pede. E isso não é fácil porque, quando nós nos deparamos com as verdades, muitas vezes nos angustiamos. Sobretudo com relação às verdades sobre nós mesmos. Por exemplo, quando descobrimos que não somos, muitas vezes, a pessoa que nós demonstramos ser. Isto porque agimos, por vezes, de modo encenado. No palco da nossa existência, podemos ser atores – ou seja, não sermos totalmente verdadeiros – diante de Deus, da nossa família e até mesmo conosco. Mas para encarar o desafio de um Cerco de Jericó, para encarar o desafio de trilhar o caminho de Deus, para conseguir a graça do Senhor é necessário derrubar as barreiras das máscaras, dos atores que muitas vezes habitam em cada um de nós. No palco da nossa vida nós podemos e devemos ser protagonistas, encenando verdadeiramente a nossa vida, a nossa história. Não é vergonhoso reconhecer que somos falhos. Não é vergonhoso reconhecer que somos pecadores. É vergonhoso sabermos que temos fragilidades e não lutarmos para transformá-las em graças e bênçãos diante de Deus e diante dos homens.
Paulo, ao fazer a experiência de Cristo, muda a sua vida e passa a confiar plenamente em Deus. Será que nós estamos confiando em Deus? Nós estamos deixando Deus transformar a nossa vida? Será que neste período pascal nós estamos deixando Deus nos ressuscitar para uma vida nova, para sermos homens e mulheres melhores, esposos e esposas mais dedicados, profissionais melhores, e homens e mulheres de mais fé? Ou não?
Agimos de um modo dentro da igreja e dentro de casa, mas fora agimos de um modo completamente diferente daquilo que Deus espera de nós. Paulo, quando se entrega nas mãos de Deus, nasce um novo homem, que testemunha a ressurreição de Jesus. Paulo renasce em Deus, para uma vida nova Nele. Como é gostoso renascer para Deus! Como é gostoso olhar para trás depois de fazer a experiência real e verdadeira de Cristo. Reconhecer que Deus agiu neste ser imperfeito que somos nós, mas que, nas nossas imperfeições, Deus vai pegando como um vaso quebrado e vai nos remodelando para que sejamos a verdadeira obra da sua criação. Ele nos criou com imenso amor, pois nós somos feitos à sua imagem e semelhança.
Celebramos hoje a festa dos apóstolos Tiago e Filipe. Filipe foi um dos primeiros discípulos de Jesus. Não o torna mais importante ser o primeiro, mas o torna importante ter fidelidade em Deus, esperar no Senhor e confiar a sua vida a Deus. E celebrar o Cerco de Jericó é nos colocarmos nas mãos de Deus, tal qual Filipe fazia. Tiago, um dos últimos apóstolos chamados para exercer este apostolado, com a missão de testemunhar Jesus.
A mãe de Tiago e João queria que, um se sentasse à direita e outro à esquerda de Cristo porque eles começaram a seguir Jesus não pelo serviço, mas pelo status. Quantas pessoas vieram à igreja por razões distintas daquela de acreditar no Jesus ressuscitado, em um Deus de amor, de compaixão e misericórdia, mas ao longo da sua caminhada neste Cristo que é o caminho, a verdade e a vida, foram transformados! Quanto Deus já agiu na minha vida, e vem agindo ainda hoje. Você não está sozinho nesta batalha, cercando a muralha de Jericó. Nós estamos unidos pois sozinhos nós não temos condições de perseverar.
Tiago, na sua juventude, não era capaz de perceber quem era Jesus e o Cristo teve paciência com ele. E também com seu irmão João e com a mãe deles. Você acha que Deus não tem paciência com você? Claro que tem. Mas toda paciência tem limite e de vez em quando este copo enche. E será que o nosso copo está cheio ou está vazio? Porque, às vezes, a gente é sem vergonha e fica esperando para mudar de vida, para aceitar Jesus de verdade, para confiar plenamente em Deus. Muitas vezes esperamos demais e perdemos a possibilidade de fazer a experiência de cura, de libertação ou de progredir na nossa vida, seja na parte espiritual ou emocional. Quantas pessoas possuem os cabelos brancos, mas são adolescentes emocionalmente! Quantas pessoas vivendo a sua adolescência tardia porque não aproveitaram quando tinham que viver a sua juventude e, ao chegar aos quarenta, vira um moleque ou moleca.
Hoje falamos da queda das muralhas do desemprego. E quantas pessoas esperam ficar desempregadas para correr atrás do prejuízo pois não se organizaram, não buscaram se aperfeiçoar ou se atualizar. E, cada vez mais, os jovens estão indo para o mercado de trabalho com mais idade. Eu comecei a trabalhar com doze anos de idade e muitos dos jovens vão para o mercado de trabalho com mais de vinte e cinco anos. Quanta gente mal acostumada! Quantos pais de família mal acostumados pela esposa ou pelos pais. Quanta gente mal acostumada na fé, com uma fé sem compromisso ou sem a experiência de um Cristo vivo e verdadeiro.
Celebramos há pouco a Sexta-feira da Paixão, quando as ruas do Brasil inteiro se encheram de uma grande multidão. Mas quantos daqueles permanecem firmes na fé? Para enterrar Jesus há muitos, mas para ressuscitá-lo são poucos. Você está enterrando Jesus com as suas atitudes ou você está ressuscitando o Senhor? Porque, a cada dia que você acorda e busca se preparar para o mercado de trabalho, cada vez que você acorda e revaloriza o seu matrimônio, cada vez que você acorda e projeta o seu futuro se preparando para as tempestades ou ventanias que possam assoprar sobre você, Jesus está ressuscitando mais uma vez no seu coração. Porque ressurreição significa também esperança. Uma nova esperança para a nossa família, para o nosso futuro, para o nosso país.
Quanto nós precisamos de esperança? E Jesus é este que deixou a esperança aos apóstolos e também a deixa a cada um de nós. Não há mal que dure pra sempre porque, se confiarmos neste Cristo que é caminho, verdade e vida, nós iremos superar as dificuldades, sejam elas familiares, de saúde, financeiras ou da falta de um trabalho digno e honesto. Mas primeiro é necessário nos abandonarmos nos braços de Deus. Jesus questionou a Filipe no Evangelho de hoje se ele compreendia o quanto Deus o amava. Jesus disse: “Tanto tempo estou convosco e não me conhecem ainda?”. Será que nós conhecemos a Deus? Conhecer não apenas intelectualmente, porque tem muita gente, inclusive ateus, que sabem a Bíblia melhor do que eu e você, mas não tiveram a experiência com Deus, como Filipe ainda não tinha tido. E hoje nós somos convidados a ter esta experiência do Cristo ressuscitado.
Que possamos fazer, nesta noite, ao abrir o nosso coração, a experiência de Jesus vivo e ressuscitado. Assim como Paulo, Filipe, João e Tiago, nós somos chamados pelo próprio Deus a experimentarmos o Seu amor. Quantas pessoas se sentem sozinhas mesmo em meio à multidão! Quantas pessoas estão caindo na depressão porque estão sozinhas espiritualmente! Quantas pessoas com medo de enfrentar a vida, de assumir um matrimônio, de assumir responsabilidades! Convido você a deixar Deus te conduzir a partir de hoje. Não é um caminho muito fácil de ser seguido, mas a história nos ensina de que o fácil normalmente é o caminho equivocado. Não escolha o caminho fácil ou cômodo: escolha o caminho da verdade e reconheça este amor de Deus derramado por você, por sua família e por toda a humanidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quinta-feira da 5ª Semana do Tempo Pascal (Ano B) – 03/05/2018 (5° Dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Estar em Cristo para produzir bons frutos
29/04/2018
Nós estamos celebrando o Tempo Pascal, que é o tempo de celebrarmos intensamente a ressurreição de Jesus. Porque nós cremos em um Deus vivo, um Deus ressuscitado, um Deus de amor que se encarnou na história da humanidade para nos ensinar, apresentar e testemunhar o caminho da verdade e do amor. Ele, que vai dizer: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" [ref. Jo 14, 6a]. Jesus quer ser o caminho para todos nós, e se nós cremos em Jesus mas não estamos trilhando esse caminho, é necessário converter o nosso coração, mudar a rota da jornada que estamos percorrendo nesta vida e deixarmos que Jesus nos apresente o caminho que deve ser trilhado.
Nesse sentido, a liturgia de hoje é importante para nós porque, no Evangelho [Jo 15, 1-8], Jesus vai nos dizer: "Eu sou a videira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto, ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda". Deus é o agricultor, Jesus é a videira e nós somos os ramos, e a pergunta que nos fazemos hoje é: nós somos ramos que vão secar e, portanto, serão queimados, ou seremos aqueles ramos que Deus vai limpar com muito carinho para que deem mais frutos ainda? Esse Evangelho foi escrito no contexto em que o povo judeu, que não acreditava que Jesus era o Messias, seria "queimado" se não acreditasse em Jesus. Mas e nós, será que cremos verdadeiramente em Jesus? Será que cremos que Jesus é essa videira e que Ele pode – e deve – limpar nossos ramos? Quantas folhas secas devem ter o nosso coração e os nossos sentimentos... Talvez alguns galhinhos quebrados... Como está a sua vida? O seu coração? As suas decisões e o seu testemunho? Permita que Jesus purifique o seu coração; que Ele possa acertar esse galho que não está ainda em plenas condições de produzir bons frutos; porque o galho que não produzir bons frutos será cortado e queimado.
E Jesus continua, dizendo: "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós". Um galho não consegue sobreviver se não estiver ligado ao tronco. Se você não estiver ligado no tronco que é Jesus, você irá murchar e ficar seco, servindo apenas para ser lenha. Mas se você estiver enxertado em Cristo, então poderá produzir muitos frutos. Jesus deseja permanecer no nosso coração, porém nós não podemos ficar nos afastando do tronco com nossas escolhas e decisões. No tempo de Jesus, acho que não devia ter orquídea, mas é um belo exemplo para nós, porque é lindo como ela se enxerta no tronco de uma árvore, retirando dali o alimento necessário, e faz uma linda flor, além de exalar um excelente perfume. Assim também seremos nós se formos enxertados neste tronco que é Jesus. Onde você está enxertado, em Cristo ou em outros troncos por aí? Troncos que não produzem frutos, que não lhe beneficiam com ingredientes necessários para que você se torne uma flor bonita e exale um perfume agradável aos olhos de Cristo. E Jesus finaliza, na conclusão do Evangelho de hoje: "Sem mim, nada podeis fazer". Assim como um ramo sem o tronco de uma árvore nada pode fazer; aquela orquídea que não está enxertada no tronco nada pode fazer; também eu e você, se não estivermos enxertados em Cristo, nada podemos fazer.
Paulo, quando toma ciência disso e realiza a partilha dessa sua conversão, descobre que não pode mais viver se não estiver enxertado em Cristo. Lembro-me da minha primeira experiência com Jesus, quando eu tinha 15, 16 anos... Depois daquela primeira experiência, a minha vida foi transformada! Deste modo, também nós, ao fazermos a experiência de Cristo, devemos deixá-Lo transformar a nossa vida. A primeira leitura de hoje [At 9, 26-31] nos diz que Saulo – que depois se torna Paulo – era perseguidor dos cristãos; por isso, as pessoas tinham medo dele, porque ele os assassinava. E agora ele havia se tornado um perseguido pela fé que ele disseminava. Paulo, ao se tornar um pregador em nome de Cristo, "pregava com firmeza em nome do Senhor". Quanto a nossa sociedade está precisando de testemunhos autênticos, de pessoas que falem com firmeza?! Porque, às vezes, vamos falar com as pessoas e não sentimos firmeza no que elas estão dizendo – como quando passamos no médico e ele não nos passa segurança, ou quando um pedreiro ou algum técnico de informática não consegue consertar o que precisamos. Um cristão não pode ser assim! Nós não podemos faltar com firmeza na nossa fé! Nós precisamos falar com firmeza da Palavra de Deus e da fé que professamos – dentro de casa, no nosso trabalho, na educação dos nossos filhos, no nosso relacionamento matrimonial... Falar com firmeza, não com autoritarismo, e permanecer firme na nossa convicção; devemos manter nossas ideias até que nos convençam que estamos equivocados. Nós reclamamos que os jovens mudam constantemente, mas quantas pessoas mudam de fé constantemente? Mudam de igreja constantemente? Mudam de filosofia de vida constantemente? Devemos pregar com firmeza, em nome do Senhor!
João, ao falar sobre isso, como Paulo, vai nos dizer na segunda leitura de hoje [1Jo 3, 18-24]: "Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!". Quanta gente fala bonito mas, na hora de viver aquilo que anuncia, não consegue testemunhar. Como no matrimônio: não adianta dizer palavras bonitas – "Meu amor, eu te amo! Prometo te amar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossas vidas..." – mas, na prática do cotidiano da vida, não conseguir vivenciar esse amor e traduzi-lo em gestos concretos. E quantos gestos concretos estão faltando... Na vida matrimonial, na hora de ensinarmos nossos filhos... Papai, mamãe: vocês acham que seu filho segue mais o que você fala ou o exemplo que você dá? Nós precisamos dar exemplos de fé, procurando vivenciá-la dia após dia nas ações que fazemos e no testemunho do Santo Evangelho. Este é o mandamento de Jesus: que creiamos no nome Dele e nos amemos uns aos outros, de acordo com o exemplo que Ele nos trouxe.
Que ao celebrarmos esta eucaristia, Jesus nos ajude a nos reencontrarmos, a nos reconectarmos com Seu tronco; e, de modo firme, deixemos que Jesus purifique nossos galhos, nossa folhas quebradas. Que possamos recordar a experiência viva e real de Jesus Ressuscitado na nossa vida. E que a Santa Eucaristia nos sustente para darmos testemunho da fé que professamos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 5º Domingo da Páscoa (Ano B) – 28/04/2018 (Sábado, missa das 16h).

Em Cristo, não desanimaremos!
26/04/2018
Queridos irmãos e irmãs, hoje estamos aqui reunidos e unidos para celebrar o quarto dia do nosso Cerco de Jericó. Este quarto dia tem como tema: derrubar as muralhas do desânimo na nossa vida e na vida da nossa família. Tem muita gente desanimada, e quando estamos desanimados, não damos nem uma risadinha. Mas quando estamos animados, mesmo nas dificuldades, sempre brota um sorriso nos nossos lábios, sempre há a esperança que vem de Deus em nosso coração e transborda da nossa vida.
A vida e a missão dos apóstolos também não foram fáceis. Depois da ressurreição de Jesus, quando eles saíram pregando pelo mundo que Jesus estava vivo e ressuscitado, tiveram que enfrentar muitas dificuldades e problemas. Mas, o tempo todo, quando lemos o livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos algo interessante: mesmo com tantas dificuldades, eles não desanimavam. Mesmo com todas as tribulações e perseguições, eles não eram desanimados. Ao contrário, quanto mais perseguição, mais empolgados ficavam; quanto mais dificuldades passavam pelo nome de Jesus, mais se empolgavam, se animavam e prosseguiam o caminho pregando a Boa Nova do Evangelho.
E a leitura de hoje [At 13,13-25] nos diz que os apóstolos estavam na sinagoga e, depois de lerem os profetas e os salmos, os chefes da sinagoga perguntaram se alguém queria dar uma palavra, Paulo mais do que depressa quis falar e disse assim: “Vocês se lembram daquele Deus que nos tirou da escravidão do Egito? Daquele Deus que chamou Davi para ser seu Rei? Vocês se lembram de quando Samuel profetizava em nosso meio? Esse Deus, único e verdadeiro, constituiu Jesus para ser o nosso Salvador. Ele morreu na cruz, mas, no terceiro dia, ressuscitou e disso nós todos somos testemunhas”. Quando Paulo começou a dizer isso, algumas pessoas queriam enforcá-lo, mas outras acreditaram e souberam que Deus cumpriu a Sua palavra, a Sua promessa – aquilo que antes, lá no Primeiro Testamento, era apenas uma promessa. Isso tudo que Paulo está dizendo agora é verdade: Deus nos deu Jesus para ser nosso Salvador e nós queremos acolher, queremos testemunhas, queremos viver tudo que esse homem está pregando e anunciando.
Quantas vezes dentro de casa é o lugar mais difícil de ser cristão? Quantas vezes dentro da nossa casa é o lugar em que menos falamos de Jesus Cristo? Falamos de Cristo para muitas pessoas, mas dentro de casa parece que tem uma muralha e é essa muralha que vamos derrubar essa noite! É para derrubar essa muralha, em nome de Jesus, que estamos rezando aqui essa noite, pois nossas famílias só serão animadas quando levarmos Jesus Cristo para nossa casa. Todo desânimo vai sair da nossa família, quando Cristo estiver sendo pregado, anunciado e vivido dentro de nós.
O desânimo está abatendo muitos corações e muitas vidas, mas o cristão nunca pode desanimar, nunca pode dizer que não quer mais, que desistiu ou que parou no caminho, mesmo com toda a cruz e todas as dificuldades, precisamos dizer: “Acredito em Jesus Cristo. Tenho fé nesse Deus vivo e verdadeiro porque é Ele que me coloca pra cima, que me levanta, é Ele que me fortalece”. Se nós não tivermos fé em Cristo, desanimamos mesmo, pois os problemas não são poucos, as dificuldades são intensas, tem dia que parece que nossa vida vai desmoronar, mas, quando Cristo está conosco, como estava com os apóstolos, então, logo nos renovamos, nos levantamos e continuamos firmes e fortes nessa caminhada.
E tudo isso por quê? Porque Jesus está fazendo uma promessa no Evangelho de hoje [Jo 13,16-20]: “Eu vou dar um presente para vocês, o Espírito Santo. Quem recebe o Espírito Santo, recebe a mim, e quem recebe a Mim, recebe o Pai”. Olha que bonito! Jesus está nos dizendo que se quisermos ser fortes, devemos pedir o Espírito Santo. Se quisermos a Sua força, peçamos o Espírito Santo. Se quisermos vencer todo o desânimo, devemos ser cheios do Espírito Santo. Quando somos cheios do Espírito Santo, vamos transformando tudo aquilo que é dificuldade em alegria, tudo o que é desânimo em motivação, tudo o que parece nos deixar lá em baixo, nos faz ficar em pé. Por isso, quando temos o Espírito Santo, dizemos para as pessoas desanimadas: “coragem, Deus está com você”. Quando temos o Espírito Santo em nossas vidas, dizemos para quem está triste: “acorde, levante a tua cabeça, Deus está contigo em todo o momento”, mas se a pessoa não quer acordar, nós damos um chacoalhão.
Às vezes, fico preocupado, e o Papa Francisco está dizendo muito isso, como tem cristão desanimado! Por isso que o cristão que tem o Espírito Santo já chega dizendo, não importa o que aconteceu: “Bom dia pra você, não importa como foi seu dia de ontem. Hoje vai ser melhor, você vai ver”. Nós somos cheios do Espírito Santo, pois, dessa forma, vencemos todas as batalhas, derrubamos todas as muralhas e continuamos como os apóstolos, proclamando que Jesus está vivo, ressuscitado, que Jesus está presente no nosso meio e é a nossa força, nossa salvação!
Já perceberam que as pessoas que têm muitos problemas na vida são as que menos reclamam? Às vezes a pessoa tem um câncer, você vai visitá-la, a outra está com uma unha encravada e acha que o mundo está acabando, olha que coisa! Às vezes meu problema é pequenininho e eu acho que o mundo vai terminar, e às vezes aquela pessoa está em um estado terminal, mas quando chego perto dela, ela me transmite esperança, força e renova minha fé.
Tudo isso para sairmos daqui essa noite dizendo: “Chega de reclamar! Chega de desânimo! Vou enxergar Deus na minha vida e vencer com Ele todas as minhas dificuldades. Vou levar Deus para minha casa, para minha família, e com Ele vou fazer, de verdade, nova todas as coisas”.
Homilia: Pe. Alex Sandro Camilo – Quinta-feira da 4ª Semana do Tempo Pascal (Ano B) – 26/04/2018 (4° Dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Sejamos bons pastores no nosso dia a dia
22/04/2018
Estimados irmãos e irmãs, estamos no 4º Domingo do Tempo Pascal e hoje celebramos o Domingo do Bom Pastor. A liturgia dos últimos finais de semana vem nos apresentando, de uma forma pedagógica, as formas como Jesus se apresenta: Fonte de Água, Pão da Vida e, hoje, o Bom Pastor, aquele que dá a vida pelas ovelhas. Gostaria de iniciar a reflexão a partir de nosso salmo [Sl 117]: “a pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular”. Este é o contexto no qual Jesus hoje se apresenta como o Bom Pastor, aquele que se dá pelo seu rebanho.
É esta a catequese que ele faz para o povo judeu, diante da realidade que estava vivendo e sabendo aquilo que iria acontecer. “Eu sou o Bom Pastor”, diz Jesus. O povo judeu não o quis aceitar. Tramaram todas as formas possíveis para o condenar e de forma violenta, como nós já conhecemos: morte de cruz. A comparação que eu gostaria de fazer tem que levar em consideração que o povo de Deus, este povo judaico, esperava o Salvador e não reconhecem Jesus. A pedra é rejeitada, tal qual os pedreiros que precisam das pedras para construírem e não a utilizassem. Seria como se nós agora estivéssemos gravemente doentes e rejeitássemos algum médico que estivesse aqui para cuidar de nós. Podemos nos curar? Não, porque necessitamos do médico naquele momento. E Jesus quer mostrar justamente isto ao povo. E, de uma forma muito clara, o salmista de hoje evoca isso. Aquela pedra de construção foi rejeitada pelos construtores.
Jesus disse: “Eu sou o Bom Pastor. Eu conheço as minhas ovelhas e elas conhecem a minha voz”. No ambiente em que Jesus viveu, esta parábola, esta comparação tornou-se muito clara. O redil que Jesus cita era um espaço de proteção, fechado com pedras – vamos comparar como se fosse aqui um ambiente aqui como a igreja. Durante o dia, vários pastores saiam, cada um com seu rebanho. Mas, ao final do dia, ao grito do pastor, as suas respectivas ovelhas escutavam e identificavam aquela voz e iam para o seu pastor. Mesmo com vários pastores reunidos, não havia ovelha que se extraviasse. E para protegê-las, estes pastores as conduziam para dentro deste espaço chamado redil, que possuía apenas uma pequena abertura, na qual, após todas as ovelhas entrarem, o pastor sentava-se e tornava-se quase uma porta de proteção. A ovelha não conseguia sair e, diante do ataque de qualquer animal, o pastor estaria ali obstruindo a passagem e, deste modo, protegendo, cuidando.
Quando Jesus se apresenta como Bom Pastor e cita que não é como os mercenários, ele está fazendo uma dura crítica àquela religiosidade da época conduzida pelos mestres da lei, que impunham pesados fardos ao povo, exigindo que ele respeitasse as leis contidas na religiosidade deles. Fatos estes que Jesus já havia desmascarado por diversas vezes quando ele vai e cura as pessoas que o procuram, inclusive no dia de sábado e, por isso, ele é perseguido. Realizando isto, Jesus está mostrando justamente qual é o interesse daqueles mestres da lei: são mercenários. Trabalham unicamente visando o lucro. Se olharmos no dicionário, veremos justamente que o significado de mercenário é quem trabalha visando ao dinheiro.
Irmãos e irmãs, vejam que, ainda hoje, em muitos lugares, há interesseiros a usarem da boa vontade e da confiança do povo. Em igrejas, na política e em outros espaços públicos. Estes são os mercenários. E não duvido que, se apertasse a situação, seriam os primeiros a correr, a abandonar o seu rebanho, a deixarem o seu povo para salvarem a própria vida. “Eu dou minha vida livremente, ninguém a tira porque eu a dou porque quero”, diz Jesus. Este é o sentido do Bom Pastor. E trazendo esta questão para a nossa realidade, nós, quando ouvimos as verdades do Evangelho, somos conduzidos por este Bom Pastor e nos tornamos bons pastores. E hoje, quando celebramos o dia mundial de oração pelas vocações, nós devemos entender que somos bons pastores na medida em que vivemos o nosso batismo.
Pedro, na leitura dos Atos dos Apóstolos [At 4,8-12], está sendo julgado e ele não baixa a cabeça. Olha para os que estão acusando e diz: “vocês estão nos acusando porque nós fizemos o bem para uma pessoa. Vocês se dizem igreja e não fizeram nada por aquele homem que estava paraplégico durante anos na porta do templo”. Qual é, então, o interesse de uma igreja que não olha para os necessitados? Agora, no momento em que Pedro e os demais apóstolos chegam, e este homem pede uma esmola para continuar vivo, Pedro olha para ele e diz: “ouro e prata, eu não tenho, mas aquilo que eu tenho eu te dou: em nome de Jesus, levanta e anda”. E, por conta disso, agora ele está sendo interrogado. Quais são hoje as realidades nas quais estas coisas também acontecem?
Irmãos e irmãs, no Bom Pastor nós nos tornamos bons pastores. Olhamos tantas realidades que nós, como Igreja, podemos desenvolver. Basta nós lembrarmos, dentre tantas coisas a pastoral da criança e a pastoral carcerária. Temos também tantos hospitais que estão mantidos pela igreja. Um dos grandes gestos de ser Bom Pastor, dar a sua vida ao outro, pode ser praticado no simples gesto de ir fazer uma doação de sangue, que é doar de si para que o outro possa viver. Tem gesto mais nobre do que este? Um outro gesto é ser doador de órgãos, para que outros possam viver. A medula que oportuniza a quem “está praticamente condenado à morte” diante da leucemia e outros problemas que possam haver. São bons pastores os que desejam o bem, que fazem o bem, como Pedro fez.
Por isso, irmãos e irmãs, a liturgia de hoje, embora vivamos em uma realidade tão conturbada, nos chama a atenção de que um mundo melhor é sim possível e que tantos gestos que, muitas vezes, passam despercebidos são grandes gestos de pessoas que são pastores, são vocacionados. Se hoje lembramos da oração pelas vocações, não é somente pelos padres, freiras ou irmãos religiosos. Queremos ser bons pastores dentro de casa, como bons maridos, boas esposas, bons pais e bons filhos. Um sendo pastor do outro, um doando a sua vida pelo bem do próximo. Olhamos tantos sinais, tantas presenças de bons pastores e devemos neles nos inspirarmos também. Porque souberam seguir estas palavras da verdade, do Evangelho.
Que possamos seguir estes ensinamentos que Jesus nos deixou. E, acima de tudo, ter a coragem de enfrentar e denunciar aqueles que são mercenários e se utilizam da fragilidade e da confiança de tantas pessoas. Deus se faz presente por meio dos nossos gestos lá onde o povo sofre, onde o povo está escravizado, onde o povo está indefeso como uma ovelha quando não tem pastor para cuidar dela, vulnerável ao ataque de qualquer lobo ou a estar abandonada pelo mercenário que vai fugir diante de qualquer perigo. Possamos ser sinais de pastores também nestes espaços.
Que Santa Teresinha, nossa padroeira, interceda por nós
Homilia: Pe. Rafael Henrique Toillier – 4º Domingo da Páscoa (Ano B) – 22/04/2018 (Domingo, missa das 10h)

Deus tem um sonho para você!
19/04/2018
Que maravilha, povo de Deus, estarmos reunidos para celebrar este 3º dia do Cerco de Jericó! Você deve ter muitas coisas para apresentar ao Senhor ao longo deste Cerco, e tenho certeza que seu coração sai daqui pegando fogo. Quando vimos a uma missa e nos entregamos inteiramente ao Senhor, nós saímos diferentes! Quando participamos por inteiro, saímos outro! E tenho certeza que você está fazendo essa experiência nesses dias, assim como faz em tantos outros dias em que vem à Santa Missa.
Eu gostaria de começar nossa reflexão pedindo a ação do Espírito Santo sobre nós, sobretudo porque vamos tocar em um assunto que dá margem a muita polêmica. Hoje, 3º dia do Cerco de Jericó, estamos pedindo que Deus derrube as muralhas das dificuldades financeiras. Aqui, nós precisamos separar algumas coisas, querido povo de Deus. Dificuldade financeira é uma coisa; ajuntar tesouros na terra é outra. Por que o padre toca nesse assunto? Porque o Senhor Jesus nos pede que não nos apeguemos – tanto é que o apóstolo Paulo vai dizer em determinado momento: "Buscai as coisas do alto" [ref. Cl 3, 1]. Não as coisas da terra. Você já viu alguém sendo enterrado com um pedaço de ouro? Ou ser enterrado dentro de um carro? Nós não levamos nada desta terra, a não ser as experiências profundas com o Amado Jesus. As experiências das verdadeiras amizades, das verdadeiras relações. Portanto, só devemos pedir ao Senhor que nos ajude com a nossa situação financeira se tivermos consciência do que isso significa. Problema financeiro não é ajuntar tesouro na terra. Preste bastante atenção nisso! Porque tem gente que pode vir à missa enganado. Jesus nunca prometeu, para ninguém, carro do ano, mansão... Já viram isso na Bíblia? Jesus promete cruz! "Quem quiser me seguir, tome a sua cruz e siga-me" [ref. Mt 16, 24]. Então, a primeira coisa que eu peço ao coração de vocês é para separar as coisas. Quando eu vier pedir ao Senhor ajuda nas dificuldades financeiras, que sejam, de fato, dificuldades financeiras, e não busca de riqueza. O Senhor é o Deus dos pobres, Ele não é a favor de ajuntarmos muitas coisas na terra. Por quê? Porque nosso lugar é o céu!
No Evangelho de Mateus há um pequeno trecho que nos ajuda a entender algumas coisas sobre este pedido que fazemos no 3º dia do Cerco de Jericó. Todos nós queremos estar bem financeiramente, pois precisamos de bens materiais para viver aqui na terra. O problema é o que fazemos com esses bens: eles não devem tomar o lugar de Deus. Nós achamos que idolatria é só para imagens, mas se você colocar sua roupa à frente de Deus, você estará sendo idólatra; se colocar o seu dinheiro à frente de Deus, estará sendo idólatra. Tudo deve nos servir, mas nunca estar no lugar de Deus. E olha o que Jesus, por meio do Evangelho de São Mateus, vai dizer para nós que estamos atrás de arrumar nossa situação financeira: "Portanto, não fiqueis preocupados, dizendo: 'O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir?'. Os pagãos é que ficam preocupados com essas coisas. Porque vosso Pai Celestial, que é Deus, sabe que precisais de tudo isso. Pelo contrário, buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça, e tudo o mais Ele vos dará" (Mt 6, 31ss). Olhe só: em Mateus, Jesus está pedindo para pararmos de nos preocupar! Tem gente que, se não tiver a roupa de determinada marca, entra em depressão. Queridos cristãos, que doença é essa que entrou na nossa casa, na nossa família? Você é muito mais do que um pedaço de pano! Você é livre!
Vocês prestaram atenção no que estava acontecendo na primeira leitura de hoje [At 8, 26-46]? Filipe estava indo pregar. Deus falou para ele: "Vai àquele grupo que adora outros deuses, aproveite para evangelizar e fale para eles quem é o verdadeiro Cordeiro imolado". E ele não se preocupou com mais nada, apenas em anunciar Jesus Cristo. O Reino de Deus estava em primeiro lugar para Filipe. Queridos filhos, se Filipe estivesse preocupado com o perfume que ia usar, com a roupa que ia pregar... Não daria tempo! O povo iria embora! Percebe quantas vezes as nossas doenças nos bloqueiam de viver o sonho de Deus? O padre não está dizendo que você não tem que se arrumar, não tem que se cuidar, não é nada disso. Nós estamos falando da doença do apego. Filipe era desapegado, ele era livre! Que no final da tua vida e da minha vida, nós possamos dizer ao Senhor: "Eu sou livre! Livre para Te amar! Me leve aonde o Senhor quiser". Gente, isso é presente do céu! Por que os santos conseguiram alcançar isso? Porque eles não se apegavam. Os santos não tinham nada além do que você, eram homens e mulheres de carne e osso. A diferença é que eles não se apegavam aos bens que passam.
Se você perceber, querido filho, querida filha, que você está aqui hoje para pedir o equilíbrio de suas finanças, para pedir o bem para sua família, para seus amigos, pedir por sua felicidade, por sua entrega ao Reino de Deus, o Senhor vai lhe ajudar! Porém, se o Senhor ver que o seu coração está em busca de riqueza, pode ter certeza que Ele fechará os seus ouvidos. O Senhor quer nos ajudar com nossas dificuldades financeiras, mas Ele só pode ajudar aqueles que têm o Reino de Deus em primeiro lugar. Este texto da primeira leitura não está aí por acaso. Para Deus, não existe coincidência, existe providência! Quando eu estava preparando a homilia e vi essa leitura, eu me encantei! Deus falou: "Filipe, vai lá", e ele não ficou preocupado com mais nada, ele foi! Sentou do lado do eunuco e disse: "Este que você está lendo aí, no profeta Isaías, é Cristo! É o Senhor da tua vida, que te liberta e que você ainda não tem conhecimento".
E vou encerrando esta reflexão apontando Jesus no Evangelho de hoje [Jo 6, 44-51]. Jesus que, em outro momento, vai dizer: "Eu e o Pai somos um" [Jo 10, 30] e, nesta passagem, vai nos dar um presente: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu" [Jo 6, 51a]. É Ele quem nos alimenta nesta caminhada. Querido filho e filha, é Ele quem te dá forças para lutar por um bom emprego. Não adianta pedirmos, diante do Senhor, para nossa situação financeira melhorar se eu não sou capaz de levantar da minha cadeira para fazer ao menos um curso para mudar a minha vida. Não adianta só pedir ao Senhor, porque Ele espera uma atitude sua. Eu não sei o que ainda falta para você viver o sonho de Deus; talvez o sonho de Deus para você seja exatamente mudar de profissão, sair do comodismo; talvez Deus tem lhe convidado até para ganhar menos, mas para viver o sonho Dele na sua vida e ser feliz, ser livre! Eu não sei quais são os seus problemas financeiros, eu sei que, muitas vezes, nós queremos que Deus faça tudo por nós e queremos ficar sentados, esperando que Ele cuide da nossa vida. Mas Ele te convida para um outro processo...
Se você está sendo tocado por Deus nesta homilia, não feche os ouvidos da tua alma. Pode ser que Deus esteja te chamando para uma outra profissão, para uma outra vocação, para um outro sonho. Deus tem um sonho para você! Um sonho individual, que é só seu! Ele tem um sonho totalmente especial para a tua vida. E eu te convido a pensar se, realmente, você está em busca de melhorar financeiramente ou se está em direção ao apego. Peça ao Senhor que, nesta homilia, nesta reflexão da Palavra – Ele que é o Pão Vivo descido do céu, Ele que nos alimenta –, que Ele seja o alimento da tua jornada, o alimento da busca do sonho Dele para você. Eu não sei se você já encontrou o sonho Dele na tua vida, a única coisa que eu posso dizer, querido filho e filha, é que quem vive o sonho de Deus, vive a maior aventura da sua vida, a aventura que nos faz plenos e realizados. Se você ainda não está realizado na sua vida profissional, na sua vida financeira, pode ser que o sonho de Deus para você seja outro.
- Jesus, Pão Vivo descido do céu, meu alimento na caminhada: eu quero viver o Teu sonho! Eu não quero ficar na busca dos bens materiais; eu quero ser equilibrad para viver a felicidade. Que eu possa curtir a felicidade que vem do céu. Por isso, eu Te peço, Jesus: liberta-me, Senhor, de toda busca doentia pelos bens materiais, de toda busca doentia pelas coisas que vão passar. Que eu possa me apegar, Senhor, a Ti! Às coisas que vêm do alto, porque lá está a minha verdadeira felicidade, a minha realização. Liberta-me, Senhor! Cura-me de todas essas doenças da busca desenfreada pelos bens materiais. Amém.
Homilia: Pe. Renato Fernandez – Quinta-feira da 3ª Semana da Páscoa (Ano B) – 19/04/2018 (3º Dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Nossa missão é testemunhar o Ressuscitado
15/04/2018
Com alegria, nós celebramos o terceiro domingo do Tempo Pascal e a liturgia continua nos envolvendo na empolgação que os apóstolos vivem na presença de Jesus e traz também os primeiros testemunhos que vêm acontecendo.
Nos Atos dos Apóstolos [At 3,13-15.17-19], Lucas escreve: vocês rejeitaram o Santo, o enviado por Deus, vocês o mataram numa cruz, mas Deus o ressuscitou e nós somos testemunhas! Lucas dá um alerta aos sumos sacerdotes e todos àqueles que estavam lá gritando “crucifica-o, crucifica-o”. E quantas vezes a mensagem que isso quer nos trazer não basta? Assim como, todos aqueles que haviam participado dos grandes sinais em Jesus, como a cura dos doentes, os milagres que Ele havia realizado, a própria ressurreição de Lázaro? Tudo aquilo não contou, naquele momento, para aquelas pessoas que estavam lá gritando “crucifica-o, crucifica-o”, pois o sistema religioso e político da época garantia mais comodidade – e a gente sabe que Jesus e os apóstolos estavam sendo perseguidos –, então era melhor continuar naquele sistema do que enfrentar o medo e o perigo de seguir Jesus.
Na Segunda Leitura [1Jo 2,1-5a], ouvimos que Paulo faz o alerta: Jesus é o ressuscitado e devemos ser testemunhas disso mesmo diante das perseguições. E quem diz que ama a Deus, mas não respeita Seus mandamentos, é mentiroso! Mas, mesmo que alguém venha a pecar, nós temos um justo juiz. Acima e muito maior do que qualquer pecado que possa existir é o amor de Deus! E, esse Deus se faz reconhecer justamente por meio do mandamento do amor.
No Evangelho de hoje [Lc 24,35-48], de forma muito sucinta, Jesus não se fez conhecer de imediato quando aparece aos apóstolos. Aqui, no Evangelho de Lucas, vemos os dois discípulos que estavam indo para Emaús quando tem o encontro com Jesus, no partir do pão. Então, quando eles retornam e encontram os outros discípulos reunidos, contam a eles como havia sido esse encontro com Jesus. E, vemos que, nesse momento, eles novamente não o reconhecem: Jesus entra e lhes diz “A paz esteja convosco!”, mas eles não reconhecem Jesus. Jesus não se deixa reconhecer, pois, a partir de agora, as mãos e os pés são apenas mais humanos que vão agir. Quando Jesus mostrou Suas mãos e Seus pés transpassados, Ele disse algo a mais: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. Então, quando Jesus não se deixa reconhecer, naquele momento, ele quer dizer que, a partir de agora, são os pés e as mãos de vocês que devem agir. Agora começa a missão de vocês! E essa missão é de todos nós, que um dia fomos conduzidos a pia batismal e que fomos batizados em nome da Santíssima Trindade. É aí que começa a missão de cada um de nós, não só do padre, mas de todo e qualquer batizado. Na vida cotidiana, todos nós somos mãos e pés de Jesus. Somos Suas testemunhas!
E que gesto bonito que pudemos aqui celebrar: a Missa da Partilha, que nos recorda o Evangelho da multiplicação dos pães e peixes [Jo 6,1-15]. Quando Jesus está se dirigindo até Jerusalém e toda aquela multidão aparece e a preocupação é “onde vamos comprar tanto pão para alimentar essas pessoas?”. Será que no meio dessa multidão toda não havia pessoas com comida, pois estavam peregrinando também para Jerusalém? Era o egoísmo que estava falando alto. E, quando André chega e diz que tem uma criança com cinco pães e dois peixes, é a criança de coração puro, aquela que tem a capacidade de dividir; ela entrega toda a comida que tem para o apóstolo e é aí que se faz a grande maravilha da multiplicação. Vejam, hoje temos aqui dois cestos cheios! Isso se chama generosidade: um pouco de cada um se torna suficiente. Muitas vezes, a gente faz alguma festividade da partilha em um salão paroquial, como é bonito! Cada um trazendo um prato que em si não chegaria, mas a quantidade de pratos que vão aparecendo neste gesto da partilha é tanta que depois sobra. Esse é o verdadeiro sentido dessa multiplicação, desse gesto concreto que Jesus pede de nós: ser Suas mãos e Seus pés que agora vão ao encontro do próximo.
Tantas e tantas vezes as pessoas pedem sinais a Deus. Mas o sinal somos nós mesmos! Nós somos o verdadeiro sinal de Jesus Cristo por meio de nossos gestos e palavras. Portanto, irmãs e irmãos, que possamos verdadeiramente assumir o compromisso de sermos as mãos e os pés de Jesus Cristo hoje, em todos os espaços, a começar dentro de nossas famílias, de nossa casa. Que, em qualquer gesto que fizermos, possamos ter presente que é mão de Deus, a mão de Jesus Cristo pelas quais nós também vamos agir. E, que Santa Teresinha, que assumiu firmemente esse propósito, possa nos auxiliar também nessa caminhada.
Homilia: Pe. Rafael Henrique Toillier – 3º Domingo da Páscoa (Ano B) – 15/04/2018 (Domingo, missa das 7h30)

Escolher, verdadeiramente, a Deus para que as bênçãos aconteçam
12/04/2018
Eu sou o Padre Vanderlei Nunes e estou bem feliz de estar aqui com vocês! Eu sou da paróquia Nossa Senhora do Paraíso. Estou lá há um ano e oito meses. Ela fica ali na Avenida Pereira Barreto, perto do Shopping ABC, e temos lá cinco comunidades: a matriz paroquial mais 4 capelas. É uma paróquia bastante grande e muito desafiadora, com muitas pastorais, muitos grupos e movimentos – como vocês aqui também tem –, mas lá a gente sempre multiplica por 5, porque são cinco comunidades. Graças a Deus há um padre que ajuda, que é o vigário paroquial, o Padre Alex Sérgio da Silva que está conosco há alguns meses e, graças a Deus também, a gente sempre realiza estas missas por cura e libertação na paróquia. No mínimo duas por semana, fora nas capelas, nas quais também celebramos uma vez por mês. Então, temos muitas missas lá por cura e libertação.
Eu fiquei muito feliz pelo Padre Tiago e também pelos jovens daqui, que estão se preparando para o 1º EJC (Encontro de Jovens com Cristo). Eles têm estado em comunhão lá conosco, nos ajudando também, vivenciando esta experiência no último EJC e estarão conosco neste próximo que será daqui a duas semanas. E nós também estamos orando muito por vocês que aqui vão ter o EJC no final de agosto. Estamos muito contentes por poder colaborar com este primeiro Encontro de Jovens com Cristo. Aliás também foi o Padre Tiago, quando vigário paroquial lá no Paraíso – que foi a primeira paróquia que ele ficou como padre, ajudando o Pe. Vanderlei Ribeiro –, quem implantou o EJC na paróquia do Paraíso. Foi o pioneiro e, dali em diante, o EJC só cresceu. Muitos jovens da paróquia participam: são cerca de 600 jovens que participam lá, de modo bem fervoroso.
E você, meu irmão e irmã, hoje veio aqui, como falou o Evangelho [Jo 3,31-36], para colocar tudo nas mãos de Jesus. O Pai colocou tudo nas mãos de Jesus. Este Evangelho é a continuação da conversa de Jesus com Nicodemos. No início desta conversa, Jesus diz: “o Pai colocou tudo na minha mão; se você tem fé em Mim, você tem a vida eterna, Nicodemos; mas se você Me rejeita, você já fica condenado”.
É Jesus que tira Nicodemos do muro da indecisão. Nicodemos queria seguir Jesus às escondidas. Ele não queria se comprometer com Jesus. Atualmente, é que nem aquele católico que tem vergonha de dizer que é católico porque tem medo da perseguição, de ser excluído, de ridicularizações, de humilhações, de chacotas, de piadinhas. Então ele fica se escondendo. E Nicodemos era assim: ele ficava às escondidas, ele não queria ser rotulado como discípulo de Jesus porque isto traria perseguições e perdas para ele, no seu status. E ele não queria isto.
Vocês viram, na Primeira Leitura [At 5,27-33], que os apóstolos estavam diante do sinédrio. Haviam sido presos e eles, então, testemunham Jesus. Saíram da prisão e eles continuaram a testemunhar Jesus. Iam ser presos de novo e então os sacerdotes daquele tempo, as lideranças, perguntaram: “Vocês são o quê? Vocês não regulam bem? Não proibimos vocês de pregarem esta doutrina, esse nome de Jesus? E vocês estão fazendo cada vez mais! Estão convencendo todo mundo aqui em Jerusalém e nos arredores! Como pode isto?”. E aí Pedro, cheio do Espírito Santo, mais uma vez disse: “Jesus é Deus, Ele é o Salvador e vocês mataram Cristo! Vocês mataram o Salvador, mas Ele ressuscitou. E Ele derramou o Espírito Santo sobre nós! E agora vocês acham que vamos obedecer a Deus, ao Espírito Santo, ou a vocês? É claro que ao Espírito Santo!”.
Santa Gema Galgani, que celebramos ontem (11/abr), dizia: “É impossível querer agradar a Deus e agradar aos homens ao mesmo tempo”. Não dá. Se você quiser agradar a Deus vai desagradar muitas pessoas. Esta é a realidade. Desde o tempo dos apóstolos de Jesus é assim.
Eu acho que todos os dias do Cerco de Jericó, cada um com seu tema, possuem sua importância. Eu já tirei esta conclusão e ela se confirma a cada cerco. O mais importante é que os Cercos de Jericó são completos. Eles nos tornam íntimos do Espírito Santo, nos fazem amigos e amigas Dele, nos abrem à Sua ação, abrem nossos carismas a Ele e, por fim, nos colocam em comunhão íntima, pessoal com o Santo Espírito de Deus.
Diga a quem está ao seu lado: “Seja amiga/amigo do Espírito Santo! Obedeça ao Espírito Santo!”. Quem obedecer ao Espírito Santo, receberá muitas graças, muitas bênçãos e as curas. Nós não estamos dispensando a medicina, os tratamentos médicos quando hoje celebramos este tema da queda das muralhas das enfermidades. Nós temos a medicina e ela é ungida por Deus, é conduzida por Ele, usada por Ele. Isto é claro. Está em Eclesiástico [Eclo 38]: os médicos vêm de Deus. Olha que maravilha! Que lindo! Mas o Médico dos médicos é Ele, é Jesus, que age pelo Espírito Santo. Então Jesus quis dizer isto para Nicodemos: “Saia da sua indecisão. Eu quero que você coloque tudo em Minhas mãos. Eu quero que você obedeça ao Espírito Santo, que você se deixe conduzir por Ele. Assim é o que nasce da água e do Espírito”. Então Nicodemos tinha que sair de cima do muro!
Vocês já ouviram a parábola da indecisão? Eu a contei, este ano, na missa da Vigília Pascal da minha paróquia e, esta semana, lá na capela São Vicente. E ela diz assim:
“Um jovem estava em cima do muro. Em cima do muro quer simbolizar indeciso. E ele tinha de um lado o grupo de Jesus, com os anjos, os santos, nossa querida Santa Teresinha e as pessoas de bem, que gritavam: ‘vem para cá, vem para o nosso lado! Vale a pena, isto que é felicidade, que é paz! Vem para cá’; e o outro lado era de Satanás, dos demônios, dos maldosos, dos invejosos dos orgulhosos, dos fofoqueiros. E Satanás e os demônios, quietinhos, não falavam nada. O jovem via o grupo de Jesus chamando ele o tempo todo, insistindo, e o de Satanás não dizia nada. Até que aquele jovem perguntou para o grupo de Satanás: ‘Me diz uma coisa: por que o grupo de Jesus quer tanto que eu vá para o lado deles, insistem, falam, estão dando testemunhos, exemplos, orações, cânticos e vocês nada? Vocês não querem que eu vá para o lado de vocês? Por quê?’ Aí Satanás respondeu assim: ‘querido, o muro já é meu; quem está no muro, já me pertence. Por que eu vou ficar gastando a minha lábia, as minhas forças, para conquistar aquilo que já é meu?’ ”.
Olhem só! Então não fiquem mais em cima do muro! Você que é católico, católica, seja de verdade! Você que quer ser amigo e amiga do Espírito Santo, seja de verdade! Não fique mais em cima do muro! O jovem pulou na hora para o lado de Jesus! Ele nem pensou duas vezes, pulou na hora! “Deus me livre, se o muro já é de Satanás, eu não quero.” Porque enquanto você está indeciso, inseguro, não sabe se reza ou não, se ama ou não, se perdoa ou não, se serve ou não, ficando na indecisão, quem é que ganha pontos? O inimigo de Deus. Então você precisa escolher o Senhor!
Era o que Jesus estava fazendo com Nicodemos. “Escolha, você tem que escolher! Não tem indecisão, não tem como ficar no muro. Tem que sair do muro, tem que escolher”. Então, agora, você que quer sair do muro, que quer ser curado, saiba: as curas vão acontecer não somente hoje, mas em todo o cerco e em todos os momentos de sua vida de fé! Todo encontro com Jesus, no Espírito Santo, pode trazer a cura!
Eu já fui curado de pressão alta. Tomava remédio e deixei de tomá-lo. Estava com a pressão ficando baixa por causa do remédio. Outro caso a contar é que eu tinha desgaste no joelho direito com 38 anos de idade. Vou completar 47 anos daqui a alguns dias, estou um pouquinho pesado acho, isto eu tenho ciência, mas o joelho está ótimo! Então eu já obtive muitas coisas. Estas são algumas que estou me lembrado hoje e as que eu tenho consciência, que tenho conhecimento. Porque muitas outras talvez eu não tenha tido consciência até hoje.
Então vamos deixar Deus agir. A gente pede, mas é a vontade Dele, os planos Dele que vão se sobrepor. Não é porque você pede que Deus faz. Ele vai fazer o que é melhor para você! Amém? Ele faz na hora certa, do jeito certo. E o segredo, qual é? O Evangelho de hoje nos diz: colocar tudo nas mãos de Jesus! Não existem melhores mãos. As mãos chagadas, gloriosas e santas de Jesus. Do Senhor da história, do tempo. Como está marcado, simbolizado no Círio Pascal. Ele é a nossa luz, Ele está vivo e ressuscitado conosco!
Homilia: Pe. Vanderlei Nunes – Quinta-feira da 2ª Semana da Páscoa (Ano B) – 12/04/2018 (2° Dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Em comunidade, fazer a experiência do Cristo Ressuscitado
08/04/2018
Estamos celebrando o Tempo Pascal, porque nós cremos em um Deus vivo, um Deus ressuscitado, um Deus que caminha conosco e que é, também, o Deus da misericórdia. Não é um Deus punitivo, um Deus que castiga, mas é o Deus da misericórdia – como insistiu tanto São João Paulo II, instituindo, no segundo domingo da Páscoa, o Domingo da Misericórdia. Cantamos no Salmo 117: "Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, eterna é a Sua misericórdia". A misericórdia de Deus não tem limites. E também a nossa misericórdia, o nosso perdão não deveria ter limites. Jesus nos ensinou a perdoar 70 x 7, ou seja, perdoar incondicionalmente, infinitamente, e não permitir que o ódio tome conta do nosso coração.
"A casa de Israel", diz o Salmo, "agora o diga: 'Eterna é a Sua misericórdia'. A casa de Aarão agora o diga: 'Eterna é a Sua misericórdia'. Os que temem o Senhor agora o digam: 'Eterna é a Sua misericórdia'". Que a paróquia Santa Teresinha agora o diga: eterna é a Sua misericórdia. Que a minha família agora o diga: eterna é a Sua misericórdia. A misericórdia de Deus deve ser transmitida aos nossos irmãos e irmãs, à nossa família, às nossas crianças... Porque quantas pessoas ainda creem em um Deus punitivo, um Deus vingativo, um Deus que oprime o ser humano. Mas Deus é misericórdia.
"A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou!". Deus nos levanta ao longo da nossa vida, da nossa história. Este é o testemunho que nós devemos transmitir a todas as pessoas, deste Deus que não olha o pecado na nossa vida, mas olha o pecador que nós somos e nos resgata, nos coloca em pé, resgata nossa dignidade para caminharmos em direção ao Seu amor. "Não morrerei, mas, ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor. O Senhor severamente me provou, mas não me abandonou às mãos da morte". Tantas vezes nós somos provados, mas Deus não nos abandona. E é necessário que sejamos provados para que sejamos fortalecidos. Se você quer ficar bom fisicamente, você tem que provar o quanto você consegue correr, andar, fazer abdominais... Se você quer ficar bom em outra língua – inglês, italiano, espanhol, mandarim... –, você tem que treinar, tem que ser provado. Nós temos que aprender e ensinar à juventude de hoje – que, aliás, é uma juventude muito mole – que a vida nos prova; que, diante dos desafios, a gente não senta e chora, a gente se levanta e enfrenta, confiando na misericórdia do Pai. E vamos caminhando. Sobretudo os mais idosos, têm que ensinar aos mais jovens que nós podemos superar os desafios quando os enfrentamos e, mais ainda, com a fé e a misericórdia de Deus, porque Deus vai conduzindo a nossa vida. Este Deus, meus irmãos e irmãs, que se revela na vida de igreja, na vida de comunidade.
O que nos distingue de muitas religiões que pregam um Deus personalista, um Deus individualista, um Deus que se molda à necessidade de cada um – que não é o que prega a Igreja Católica – é a nossa fé, que prega a revelação de Deus na vida de igreja, na vida de comunidade. É o que o Evangelho de hoje [Jo 20, 19-31] nos ensina: "Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: 'A paz esteja convosco'". O primeiro dia da semana não é a segunda-feira, é o domingo, e domingo é o Dia do Senhor, dia de a comunidade se reunir em nome do Senhor, em nome de Jesus. E ali Deus se revela, ultrapassando as portas fechadas do nosso medo, talvez da nossa indiferença, talvez da nossa tristeza, da nossa angústia... Mas é na comunidade que Deus se revela.
E Jesus disse por três vezes: "A paz esteja convosco". Deus se revela na vida da comunidade para nos dar a paz, para nos trazer a esperança, para nos impulsionar a viver o Seu projeto de amor. Mas se nós não estamos na comunidade, não fazemos a experiência do Cristo Ressuscitado. É o que Tomé, ainda no Evangelho de hoje, nos testemunha. Quando os apóstolos dizem: "Vimos o Senhor!", o que Tomé diz? "Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei". Tomé não estava presente na vida da comunidade, e como não tinha Facebook para fazer live, como não tinha smartphone para tirar foto, ele não viu, não fez a experiência do Cristo Ressuscitado. E aí, na outra semana, acho que Tomé pensou assim: "Se aquele povo estiver mentindo, vou pegá-los no flagra; mas se não estiverem, é bom que eu esteja lá para ver Jesus, porque não vou querer perder essa oportunidade".
Eu lembro que na Semana Santa do ano passado eu disse: "Venham na Celebração Penitencial". Muitos disseram: "Ah, padre, mas o que é isso? Eu já me confessei..." e vieram umas 80 pessoas. Aí, depois que saíram as fotos nas Redes Sociais e todo mundo começou a falar daquela noite, este ano, passou de 300 pessoas aqui! Porque "Ah, se for igual ao ano passado, este ano eu não perco". E assim foi na vida de Tomé também. Ele foi. E, chegando lá, o que Jesus fez? Disse, novamente: "A paz esteja com vocês", e disse a Tomé: "Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel". E depois de fazer a experiência de tocar em Jesus, Tomé disse: "Meu Senhor e meu Deus", a primeira profissão de fé depois da ressurreição de Jesus.
Este Evangelho nos ensina, primeiro: que devemos estar na igreja, devemos estar na comunidade para fazer a experiência do Ressuscitado. Assistir à missa pela televisão é só para quem está doente, viu? Não para quem está com preguiça. Quem tem fé não deve ter preguiça, deve ir ao encontro do Ressuscitado. É na vida de igreja, é na presença da comunidade que eu faço a experiência do Ressuscitado. Você que já viu qualquer pregação, formação, palestra pela televisão ou pela internet, pôde perceber que estando presente é outra coisa, o seu sentimento é outro, é completamente diferente. E é esta vida de igreja, de comunidade, de família, que nós, meus irmãos e irmãs, queremos viver na paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus. Porque na vida de igreja nós aprendemos a partilhar, como nos ensina a primeira leitura [At 4, 32-35]. "A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma". Não ia cada um para o seu lado. Eles se conheciam. Eles choravam suas dores juntos. Eles se alegravam com as conquistas uns dos outros. E assim também queremos ser aqui na paróquia Santa Teresinha: uma única multidão, um só coração, em uma só fé, caminhando na mesma direção. O que não significa uniformidade, ou seja, todo mundo igual. É importante que cada um traga sua história, que cada um tenha o seu jeito de pensar, que cada um coloque o seu dom à disposição de Deus. Mas juntos! Caminhando como família. Como é gostoso uma comunidade que faz a experiência do Ressuscitado e caminha junta. E eu convido você a me ajudar nesta missão de sermos uma única igreja, uma única família.
"Entre eles ninguém passava necessidade". Como seria bom se, em nossa comunidade, ninguém passasse necessidade... Mas, mais do que pessoas com necessidades materiais, temos pessoas sedentas de uma experiência de fé, de uma experiência religiosa. Temos pessoas na nossa comunidade necessitadas de Deus. E eu e você, portadores do Cristo Ressuscitado, devemos ajudar todas as pessoas a fazerem a experiência deste Deus amoroso, deste Deus misericordioso, como diz a segunda leitura: "Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos". E qual é o mandamento de Deus? "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei" [ref. Jo 15, 12]. Se nós somos cristãos, somos chamados a ter os mesmos sentimentos de Jesus; somos chamados a ser obedientes ao Pai, como Jesus; somos chamados, meus irmãos e irmãs, a sermos misericordiosos como Jesus.
Que na celebração eucarística de hoje Jesus possa moldar o nosso coração, como moldou o coração do incrédulo Tomé no Evangelho de hoje. Que Jesus possa purificar o nosso coração de todo e qualquer tipo de treva, de rancor, de falta de perdão, para juntos, como igreja e família, testemunharmos esse Deus da misericórdia, como o salmista do Salmo 117 da liturgia de hoje testemunhou: "Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, eterna é a Sua misericórdia".
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo da Páscoa, Domingo da Divina Misericórdia (Ano B) – 08/04/2018 (missa das 10h).

Perdoar: ato divino que nos traz paz
05/04/2018
Querido amigo, Pe. Tiago, pároco da Paróquia Santa Teresinha, e queridos paroquianos, irmãos e irmãs desta comunidade e de outros lugares, hoje é o primeiro dia do Cerco de Jericó e eu imagino que a comunidade se preparou para este Cerco. O Padre Tiago está no seu terceiro ano como pároco aqui, nesta paróquia, e este Cerco está sendo celebrado agora, porque Deus suscitou no coração do padre este momento como um momento oportuno e favorável.
O que é um Cerco de Jericó? É um tempo de graça, um tempo de oração mais intensa, um tempo de escuta da Palavra de Deus, um tempo de conversão, um tempo onde nosso coração se abre para a graça de Deus. O Cerco de Jericó tem origem nas Sagradas Escrituras, na Bíblia Sagrada, no capítulo 6 do livro de Josué, quando o povo está a caminho de um lugar de benção. Este povo, caminhando com a graça de Deus, se depara com uma cidade chamada Jericó, toda cercada de uma muralha imensa. E, diante daquela muralha, ou o povo parava, chorava e reclamava ou voltava de onde tinha saído ou clamava a Deus para que um milagre acontecesse. E este povo de Deus resolveu clamar aos céus, e do céu veio um recado: “Rezem, rezem, rezem! Perseverem na oração, continuem clamando com orações e cânticos por sete dias, e continuem caminhando em volta da muralha, em volta da cidade, pois no sétimo dia acontecerá uma grande graça”. E assim aconteceu: exatamente no sétimo dia, as muralhas de Jericó caíram por terra, o povo pode entrar na cidade e continuar seu caminho.
O tempo passou e nós chegamos ao dia 5 de abril de 2018, estamos em Santo André, na Paróquia Santa Teresinha, a padroeira das missões, a menina de coração voltado para Deus. E neste dia, o Senhor inicia conosco um caminho de sete noites, nas quais, iluminados pela Palavra de Deus, clamaremos para que as nossas muralhas caiam por terra. E nós vamos clamar na fé e na certeza de que Deus nos ouve e de que Deus tem o poder de derrubar todas as muralhas do nosso caminho. Começamos, então, este Cerco de Jericó clamando para que a muralha da falta de perdão caia por terra.
Queridos irmãos e irmãs, vamos ser bem sinceros: como é difícil perdoar! Meu Deus do céu, como é difícil perdoar! É fácil ter um atrito com alguém e você perdoar a pessoa, mas quando acontece algo sério, algo grave, como alguém querendo destruir a sua vida, destruir a sua família, o seu casamento, quando alguém arma alguma cilada contra o seu filho ou contra a sua filha, quando alguém tira a vida de uma pessoa que você ama, quando alguém te rouba, te sequestra, quando alguém te calunia, fala mal de você, quando alguém levanta falso testemunho ao seu respeito, como é difícil perdoar!
Então, a minha primeira palavra é esta: o perdão não é um ato heroico, o perdão é uma graça de Deus! E, é por isso que, quando nós temos qualquer atrito, temos que pedir a graça de Deus para conseguir perdoar, de coração, aquela pessoa que nos feriu ou feriu a nossa família. Ao longo da história da Igreja, houve uma discussão se aquilo que alcançamos na vida é um ato puramente humano ou graça de Deus. No seguimento de Jesus, aquilo que você faz, se você perdoa, vence a tentação, faz o bem sem olhar a quem, tem um coração bom, se dá bem com as pessoas, ajuda sua comunidade a caminhar, isso é só um ato humano ou é graça de Deus? Santo Agostinho dizia que é tudo graça de Deus: “sou o que sou pela graça de Deus, consigo o que consigo pela graça de Deus, faço o que faço pela graça de Deus”. Meu irmão e minha irmã, peça a graça de Deus para que você consiga perdoar de verdade! Eu gosto de dizer que perdoar não é voltar a conversar com a pessoa ou abraçar, isso é fácil. Perdoar é, de fato, lá no seu coração, você estar resolvido com essa situação, não desejando mais mal a pessoa e, sim, desejando a sua felicidade. É por isso que Jesus nos diz para rezar por aqueles que nos caluniam e desejar o bem àqueles que nos fazem mal: isso é perdoar. É muito difícil, pois não é um ato humano e heroico, é graça de Deus. Por isso, rezemos juntos: “Meu Senhor e meu Deus, pela intercessão de Santa Teresinha, dai-nos a graça do perdão, ajudai-nos a perdoar, amém!”.
A segunda palavrinha é perdoar. Toda palavra que tem este prefixo “per” significa algo muito intenso e profundo. Uma coisa é passar, outra é perpassar: é passar de novo, passar com atenção. Uma coisa é doar, outra é perdoar: é doar de coração, liberar de coração. Você já deve ter passado por situações difíceis na vida; tantas pessoas que cruzaram seu caminho e tentaram fazer o mal a você... Perdoar é liberar o perdão, é liberar o seu coração daquilo que te oprime, daquilo que te escraviza. Enquanto a gente não perdoa, enquanto a gente não doa esta atitude de estar resolvido, nos tornamos escravos. E quando você está enroscado com alguém, você encontra essa pessoa em todos os lugares e tem hora que não tem como desviar – às vezes a gente encontra até no elevador, na fila da comunhão... – e aí, enquanto a gente não libera o perdão, a gente se torna escravo. Ao passo de que se você tiver perdoado e encontrar a pessoa, paciência, vida que segue. Aquela pessoa te feriu, mas você está aqui, em pé, caminhando. A melhor resposta que podemos dar àqueles que tentam nos derrubar é continuar caminhando, continuar vivendo. Se você desiste da sua vida, dos seus sonhos, da sua família e de você mesmo, você faz exatamente o que os inimigos querem. Então, aqui está a dica de felicidade: liberar o perdão, perdoar! Lembre-se de alguém que te machucou na sua infância, alguém que feriu ou agrediu seu pai ou sua mãe... Se você foi agredido por alguém quando criança, libere este perdão para que você seja libertado desse cativeiro e dessa escravidão. À medida que eu perdoo, eu me liberto da escravidão e me torno uma pessoa divina.
E a terceira e última palavrinha está no Evangelho de hoje [Lc 24 ,35-48]: Jesus entra na casa e diz “a paz esteja convosco”. O perdão nos dá a paz! A pessoa que você tem que perdoar, talvez não seja ninguém da sua família, da igreja ou do trabalho; talvez você precise perdoar você mesmo. Às vezes, a gente vacila na vida. Às vezes, a gente erra - seja em questão financeira ou profissional -, às vezes, você julga que por sua culpa perdeu aquele trabalho, aquela chance, aquela oportunidade e você fica se cobrando. Às vezes, você, jovem, também se cobra muito, porque não passou no vestibular ou no concurso, porque não conseguiu aquele primeiro emprego, porque aquele namoro não deu certo. Às vezes, nós nos culpamos muito das coisas. Quantas vezes nós, padres, atendemos pais e mães que têm dificuldades com os filhos e perguntam “onde foi que eu errei”? Nós, às vezes, nos culpamos quando as coisas não dão certo na nossa casa e família...
Meu irmão e minha irmã, se perdoe! Ninguém só acerta na vida: às vezes, erramos tentando acertar. Libere o perdão para você e, a partir desta primeira noite do Cerco de Jericó, inicie uma vida nova. Através deste perdão, você levará a paz ao seu coração. Se perdoe de suas falhas, de seus erros, daquilo que não deu certo, para que, através deste perdão, você comece uma vida nova. A falha, o erro e o pecado nos derrubam, mas o perdão nos levanta!
Dai-nos a paz, Jesus, como fruto do perdão. Meu irmão e minha irmã, abra o coração para a paz de Deus para que você seja restaurado neste primeiro dia do Cerco de Jericó.
Homilia: Pe. Silvio Andrei – Quinta-feira da 1ª Semana da Páscoa (Ano B) – 05/04/2018 (1° Dia do Cerco de Jericó, missa das 19h30).

Especial Semana Santa 2018 | Sejamos testemunhas do Cristo Ressuscitado
01/04/2018
Queridos irmãos e irmãs, Cristo Ressuscitou!! Hoje é dia de Páscoa, é dia de celebrar a fé católica! A vitória da vida sobre o pecado! A vitória de Jesus sobre a mansão dos mortos! E nos alegrarmos porque as portas da eternidade se abrem para cada um de nós que aceitamos Jesus Cristo, o Filho de Deus, enviado ao mundo para a nossa salvação. Ele é o nosso Salvador, o nosso Libertador!
Ouvimos, no Evangelho de hoje [Jo 20,1-9], que Maria Madalena vai logo de madrugada ao túmulo e não encontra Jesus ali porque Ele havia ressuscitado. Com isso, ela vai ao encontro da Igreja para anunciar a Ressurreição do Senhor. Também nós, hoje, devemos voltar para casa com este grande desejo de anunciarmos que Jesus não está entre os mortos: Ele ressuscitou!! Nós cremos em um Deus vivo, em um Deus ressuscitado.
Vimos também, no Evangelho de hoje, que Pedro e o outro discípulo saem correndo em direção ao túmulo porque queriam ver com seus próprios olhos. Pedro seguiu o outro discípulo, que chega primeiro, mas não entrou no local porque esperou por Pedro. Na figura de Pedro, temos duas reflexões. A primeira, sobre a Igreja, que está sempre a nossa frente, pois não podemos ir à frente desta Igreja que já tem 2.000 anos de história. E, quantas vezes, tantos cristãos querem saber mais que a Igreja! Quantos cristãos que criticam a teologia da Igreja, sua ética, sua moral, sem sequer conhecer de fato o que a Igreja nos diz. Além disso, a figura de Pedro onde nos ensina que ele, por ser mais velho, não iria conseguir correr igual ao jovem. Vocês, jovens, são alegres, entusiastas, mas esta leitura nos ensina a sempre esperar os mais velhos. É importante esperar os mais velhos, esperar o povo, porque a teologia da Igreja nos ensina que somos um único povo, uma única família, caminhando em direção à ressurreição. Por mais que tenhamos energia, por mais que tenhamos entusiasmo, não podemos nos esquecer de que somos uma única Igreja.
E, na pessoa deste outro discípulo, meus irmãos e irmãs, os teólogos da Igreja nos dizem que nele podemos nos encontrar, eu e você. Que talvez o evangelista de hoje tenha dito “o outro discípulo” intencionalmente, para que eu e você nos coloquemos no lugar deste outro apóstolo. Que não deixamos de ir ao outro, mas que esperamos a Igreja chegar. Eu e você estamos caminhando, mas não queremos chegar sozinhos: queremos chegar juntos e testemunhar a ressurreição do Senhor.
Testemunhas estas que a Primeira Leitura [At 10, 34a. 37-43] nos apresenta. O povo de Deus é chamado para ser testemunha de Jesus Ressuscitado. E nós devemos, de fato, ser as suas testemunhas. Leve para a sua casa, para seus amigos, trabalho ou escola, a imagem de um Cristo alegre, vivo e atraente. Não de um Cristo morto, mas de um Cristo que ressuscitou dentre os mortos! Nós precisamos aprender a dar testemunho da fé que professamos, como a Segunda Leitura de hoje [Cl 3, 1-4] nos apresenta: “irmãos, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto”. Nós, às vezes, vivemos apegados demais às coisas da terra, aos bens materiais. Vivemos demasiadamente preocupados com a nossa beleza exterior, vivemos por demais preocupados com tantas coisas, mas nos esquecemos de buscar as coisas do alto. Se Cristo ressuscitou, é para a nossa ressurreição que Ele o fez. Por isso, devemos sempre, constantemente, buscar as coisas do alto. E continua a leitura: “onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória”.
A nossa missão, meus irmãos, é testemunharmos o Cristo Ressuscitado, bem como os valores do Evangelho que Jesus nos apresenta para que, no dia da nossa ressurreição, possamos ressuscitar com Cristo Jesus porque “o nosso lugar é o céu e é lá que eu quero morar”, como diz uma música da igreja. Nós nascemos, crescemos e caminhamos para chegar ao céu, mas, para lá chegar, é necessário caminharmos com a Igreja que, para nós, é caminho de vida e salvação. É necessário testemunhar os valores evangélicos e buscarmos sempre as coisas do alto.
Que possamos, meus irmãos e irmãs, neste domingo de Páscoa, como diz o salmista [Sl 117], nos alegrar e exultar com o Senhor Jesus. Hoje não é um dia qualquer, é dia de Páscoa! Cristo Ressuscitou, aleluia, aleluia!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Páscoa (Ano B) – 01/04/2018 (Missa com Procissão do Cristo Ressuscitado às 6h).

Especial Semana Santa 2018 | A luz venceu as trevas e nos libertou para uma vida nova!
31/03/2018
Minhas irmãs e meus irmãos, hoje o céu assume a terra e a terra assume o céu; céu e terra se unem nesta noite santa em que nosso Redentor, nosso Salvador abandona o vale das trevas e das lágrimas para adentrar na ressurreição e na alegria. Em nossa tradição cristã e católica, a comemoração da ressurreição de Cristo ocorre na noite do sábado para o domingo, pois na manhã do domingo, o primeiro dia da semana, o Senhor já não está mais no sepulcro, porque Ele ressuscitou!
Jesus ressuscitou! Nós não cremos em um Deus morto, mas em um Deus que, passando pela morte, ressuscitou para uma vida nova! Além disso, meus irmãos e irmãs, a tradição cristã associou a noite da ressurreição à noite da Páscoa, descrita na segunda leitura [Ex 14, 15 – 15, 1] desta noite, uma noite de vigília em honra do Senhor. É a noite da libertação: da libertação do povo de Israel e também da nossa libertação, a minha e a sua, que foi conquistada pela ressurreição de Jesus Cristo. E, mais ainda, esta noite ganha um sentido de recapitulação do Universo, o começo da nova criação. É uma noite que a Igreja chama, em sua teologia, de "noite escatológica", pois a Páscoa do Senhor Ressuscitado é uma nova criação. A ressurreição de Jesus renova o Universo inteiro. E se a Páscoa de Jesus, a Sua ressurreição, renova o Universo inteiro, por que não pode renovar a nossa vida? Por que não pode renovar o nosso coração? Por que não pode renovar o seu matrimônio, a sua família, a nossa vida de igreja, nossa vida de comunidade peregrina caminhando em direção a Jesus Cristo, nosso Senhor?
A Igreja na qual professamos nossa fé é uma Igreja rica em tradição, e ela diz que esta é uma noite em honra do Senhor; que os fiéis trazendo nas mãos as velas acesas assemelham-se aos que esperam o Senhor voltar, como ouvimos no Evangelho de hoje [Mc 16, 1-7] e ouviremos ao longo deste período Pascal, para que quando "ela" chegar – a noite em que o Senhor irá voltar –, nos encontre ainda vigilantes e nos faça sentar à Sua mesa. Mas nós nos perguntamos, nesta noite em que Cristo ressuscita: esperamos no Senhor? Temos paciência de esperar em Deus? Estamos vigilantes ou estamos distraídos? Distraídos das coisas de Deus, da nossa família, dos nossos valores, dos nossos princípios... Mantemos as nossas velas acesas ou elas estão se apagando por causa do nosso pecado, do nosso desleixo? A nossa vela se apaga porque não tomamos conta dela. Como está acesa a vela da nossa fé?
A liturgia desta Vigília Pascal deve falar por si mesma, com sensibilidade artística. Ou seja, a liturgia desta noite deve representar o mistério da nova luz que surge das trevas. Cristo venceu o pecado e a morte. Assim como a igreja estava escura, Jesus desceu ao sepulcro, e é Ele, o Cristo Ressuscitado, que deve ser a nossa referência ontem e hoje, pois Ele é o princípio e o fim. Por Suas dolorosas chagas, meus irmãos, nós fomos libertos e alcançamos a graça de uma nova ressurreição. Nós, fiéis de Jesus Cristo, nos unimos a este mistério do Cristo Ressuscitado acendendo uma vela na luz do Círio Pascal: esta vela que você traz em suas mãos é a sua participação na vida ressuscitada do Senhor. E todos nós, acolhidos na Igreja, batizados, pedimos a Jesus que dissipe as trevas de nossa vida. Quais trevas devem ser dissipadas hoje do nosso coração, dos nossos sentimentos e das nossas atitudes?
Ouvimos as leituras do Antigo Testamento, com seus respectivos responsórios e orações; entoamos, com alegria e entusiasmo, o canto do Glória, porque Cristo ressuscitou! Este momento é a expressão maior da vitória da graça sobre o pecado e da vida sobre a morte. Com Cristo, meus irmãos e minhas irmãs, nós vencemos o pecado, vencemos a morte. Em seguida, tivemos uma oração que, por si só, ilumina todo o esplendor desta celebração: "Ó Deus, que iluminais esta noite santa com a glória da ressurreição do Senhor, despertai na vossa Igreja o espírito filial para que, inteiramente renovados, vos sirvamos de todo o coração". É uma forte alusão ao nosso batismo, que, tradicionalmente, ocorre nesta noite santa, em função da qual é concedida também a leitura da carta de São Paulo aos Romanos [Rm 6, 3-11], comparando o batismo com uma descida ao sepulcro para, dali, ressuscitar com Cristo. O velho homem é crucificado; deixemos para trás o velho homem, a velha mulher, e ressuscitemos com Cristo, revestindo-nos deste homem novo. O pecado e a morte já não reinam sobre a humanidade, não reinam mais sobre nós.
Ouvimos na oração, meus irmãos, o despertar. Que esta noite seja um novo despertar para cada um de nós! Que esta noite resgate em nós o espírito filial. Um bom filho obedece a seu pai; e nós, temos obedecido a Deus ou somos filhos rebeldes? A paixão do Senhor e a Sua ressurreição renovam a nossa vida e renovam o nosso serviço. Quanto a nossa comunidade trabalhou e se dedicou por esta Semana Santa! Os jovens passaram a noite da quinta para a sexta acordados; pessoas prepararam os cantos, as celebrações, os mínimos detalhes para celebrarmos bem esta eucaristia. Que Deus continue renovando a nossa comunidade para estarmos a serviço uns dos outros.
A leitura da carta que há pouco refletimos comparava-nos a Jesus e dizia que, pelo batismo, nós mergulhamos com Cristo na morte e fomos sepultados com Ele, mas que pela força do batismo – como Cristo, pela força divina – nós ressuscitaremos! Basta que aceitemos Jesus em nossas vidas e que renovemos nosso batizado, como fazemos, do fundo do nosso coração, na celebração do Sábado Santo.
Estamos, portanto, celebrando uma noite muito especial, a noite da ressurreição. Nós acendemos o fogo novo e, nele, o Círio Pascal, para celebrarmos a luz de Cristo ressuscitado. Luz significa presença amorosa de Deus; luz significa morte para o pecado e para as trevas; luz significa salvação. E as palavras que iluminam esta noite santa são as do próprio Ressuscitado, que nos disse: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida" [ref. Jo 8, 12]. Meus irmãos e irmãs, vivemos já a Páscoa, que quer significar para nós passagem, a vinda da graça de Deus. Que a água consagrada nesta noite, a água para o batismo, juntamente com a renovação das nossas promessas batismais, que faremos solenemente, bem como a ladainha de todos os santos nos façam mais fiéis ao projeto de Deus para nossa vida.
Nesta noite santa, celebramos a vitória da vida! Da vida em abundância, que vem da vitória da graça de Jesus sob o pecado e a morte. É a Páscoa! A Páscoa da libertação. Não uma libertação política, como os judeus esperavam, mas uma libertação escatológica, uma libertação de fé. Ou seja, em primeiro lugar, a nossa fé deve ser liberta, os nossos sentimentos devem ser livres, o nosso comportamento deve se libertar para, depois, libertarmos as estruturas humanas. Libertar as estruturas humanas sem renovar a nossa fé em Jesus é uma atitude, muitas vezes, vazia de sentido. A fé deve encontrar resposta nas nossas atitudes. E aqui eu falo para aqueles que fazem da igreja e da fé do povo objeto de manipulação, e para você que simplesmente não quer se comprometer com um mundo mais justo e fraterno, que busca uma igreja de sentimentos vazios, onde o choro é mais importante que libertar o pobre, o escravizado, do que ir ao encontro do doente e do abandonado: que esse choro vazio de sentido possa dar lugar a um coração ressuscitado, no qual a nossa fé, vivida e celebrada na igreja, encontre resposta, ressonância e reverberação na sociedade corrompida pelo pecado e pelas trevas.
Que a luz do nosso coração ilumine a nossa família, a nossa casa e toda a sociedade. Cristo Ressuscitou! Aleluia!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Vigília Pascal (Ano B) – 31/03/2018 (Sábado Santo, missa às 19h).

Especial Semana Santa 2018 | Entreguemo-nos ao Pai, assim como Jesus o fez
30/03/2018
Irmãs e irmãos, crianças, jovens, adultos e idosos, você que veio sozinho, você que veio com seus amigos ou com sua família, este é ainda o primeiro dia do Tríduo Pascal. O que Jesus realizou ontem nos ritos de sua última ceia, ele hoje ainda realiza na dureza do rito da cruz, a cruz da nossa salvação! Entregou-se totalmente por nós, pois tornou a sua vida em uma total entrega ao Pai para, deste modo, nos reconciliar com Deus, este Deus que nos ama. Hoje, Sexta-feira Santa, jejuamos e nos abstemos de carne e não celebramos a Eucaristia, o santo sacrifício da missa; mas, pelas 15h, os cristãos ao redor do mundo se reúnem em santa assembleia, como nós, na Paróquia Santa Teresinha, para fazerem memória da Paixão do Senhor.
A liturgia de hoje, proposta pela Igreja, é uma liturgia dramática porque o altar do Santo Sacrifício está desnudado. As cruzes estão veladas, ou foram retiradas da igreja. Não temos nenhum ornamento. Quase não há palavras para exprimir o estupendo mistério que celebramos nesta tarde. O eterno Filho de Deus, santo, vivo e verdadeiro, nesta tarde sacratíssima, por nós se entregou ao Pai numa total obediência até a morte. E não qualquer morte, mas morte de cruz. Para contemplar o mistério hoje celebrado, tomemos então, com temor e tremor, as palavras da Segunda Leitura[Hb 4,14-16;5,7-9], da epístola aos hebreus: “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus, por aquilo que ele sofreu”. Compreendeu o que significa obediência. Eis aqui, meus irmãos e irmãs, uma realidade que jamais poderemos compreender. O Filho eterno, o Filho que viveu sempre em intimidade com o Pai, o Filho infinitamente amado pelo Pai, em seu caminho neste mundo, aprendeu a escolher a cada dia a vontade de seu Pai, a obedecer a vontade de Deus. Mais ainda: essa obediência custou lágrimas e o fez sofrer. Sofrimento realizado por mim e por você. Toda a existência do Senhor Jesus foi uma total dedicação ao Pai, com absoluta entrega no dia-a-dia de sua vida, nas pequenas coisas. Jesus foi procurando descobrir a vontade do Pai nos acontecimentos, nas pessoas, nas Sagradas Escrituras, e pouco a pouco, Ele foi percebendo que essa vontade iria levá-lo ao sacrifício da cruz.
Também nós, irmãos e irmãs, nos acontecimentos, nas pessoas, nas escrituras devemos descobrir a Deus. Será que temos descoberto a Deus nos acontecimentos do dia-a-dia da nossa história? Quando olhamos, interagimos, ajudamos ou resgatamos as pessoas, descobrimos no nosso irmão ou irmã a face revelada de Deus? Quando ouvimos, lemos, rezamos e meditamos as Escrituras, será que também nós estamos procurando descobrir Deus nas nossas vidas? Ele é nosso Salvador! Com forte clamor e lágrimas, foi se entregando, foi se esvaziando dia após dia e foi se abandonando nos braços do Pai por amor a mim e a você. Entregou-se, esvaziou-se, abandonou-se. Como temos dificuldades, nos dias de hoje, de nos entregarmos a Deus! De nos entregarmos ao seu projeto de amor! Quantas dificuldades encontramos hoje em nos esvaziar de sentimentos e de atitudes contrárias ao projeto de Deus e nos abandonarmos nos braços do Pai! Rezamos com os lábios: “que seja feita a vossa vontade”; mas, lá no íntimo do nosso coração, desejamos que seja feita a nossa vontade e não a vontade de Deus.
Jesus hoje nos ensina a nos abandonarmos nos braços do Pai e confiar o nosso futuro ao coração misericordioso de Deus. É impressionante pensarmos, mas toda a vida do filho Dele neste mundo foi uma busca pobre e obediente da vontade do Pai. Entre clamores e lágrimas, ele não desistiu de realizar a vontade de Deus. Vemos Jesus de modo dramático no Horto das Oliveiras a dizer: “Abba, ó Pai! Tudo é possível para Ti! Afasta de mim este cálice, porém faça-se não o que eu quero, mas o que Tu queres!”. Jesus revela seu lado humano onde desejaria que aquele cálice fosse afastado, mas ao final da sua oração diz: “que seja feita a Tua vontade; não o que eu quero, mas o que Tu queres”. Nos ensina Jesus, a deixar com que a vontade de Deus aconteça em nossa vida. Para o Senhor, como para nós, a vontade do Pai tantas vezes parece enigmática. Não compreendemos o que Deus deseja. Jesus teve que discerni-la e descobri-la, entre trevas densas e dolorosas, mas, ao fim, como é comovente vermos a entrega total de Jesus Cristo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!”, como cantamos no salmo [Sl 30] da liturgia de hoje. Em tuas mãos, meu querido Pai, eu me coloco, eu me abandono.
Para nós, o Filho é modelo e caminho de amor. Ser cristão, meus irmãos e irmãs, é entregar-se a Deus como Jesus se entregou. E esta entrega total ao Pai foi por nós. Ouvimos na Carta de São Paulo aos Filipenses[Fl 2,8]: “Cristo por nós se fez obediente até a morte, e morte de cruz!”. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Jesus nos salvou e, se nós formos obedientes, encontraremos o caminho da salvação. Isto é, Jesus, tornado perfeito na obediência, consumando toda sua existência humana de modo amoroso e total, entregou-se ao Pai, por nós. Ele se tornou causa da nossa salvação. Vejam, meus irmãos e irmãs: Jesus não oferece mais ao Pai sacrifícios de vítimas irracionais e impessoais, como os pombos, os cordeiros e os bois. Agora é o próprio Cordeiro Santo e imaculado, Jesus Cristo Nosso Senhor, com total amor em seu coração, com toda dedicação de sua alma, que se oferece livremente por amor a cada um de nós. Por isso, Ele se tornou causa de salvação eterna, para todos os que lhe obedecem, isto é, desde que nós nos entreguemos à sua obediência, e façamos dela parte de nossas vidas.
Irmãos e irmãs, entremos nesta obediência bendita e amorosa de Nosso Senhor. Façamos de nossas vidas uma entrega total ao Pai: entrega dos nossos atos, pensamentos, negócios, de nossos empreendimentos, do nosso matrimônio, da nossa vida profissional, entendimentos, famílias, da nossa vida intelectual, de nossos afetos, decisões e escolhas. Entreguemos toda a nossa vida nos braços do Pai. Entreguemos tudo, absolutamente tudo! Ofereçamo-nos ao Pai, pra Jesus e por Jesus, e entraremos na salvação que Ele nos trouxe por Sua cruz. Não esqueçamos de que, nessa santíssima sexta-feira da Paixão, somos convidados não somente a contemplar e admirar a obediência total do Filho do amado Pai, mas somos também interpelados, questionados e chamados a participar na vida dessa mesma obediência. É assim que Cristo é a causa da nossa Salvação! Se Jesus, que é o maior exemplo de amor ao Pai e a nós, nos comove e nos converte, que Ele possa, nesta celebração, nos tirar da preguiça espiritual e de uma vida cristã vacilante, sem alegria e sem entusiasmo.
Senhor, nesta tarde santíssima, nós te pedimos: obriga-nos à tão grande prova de amor a nós e pelo mundo inteiro. Obrigado, Senhor, por tuas dores. Obrigado pelas dores que o Senhor sofreu por conta de cada um de nós! Leve-nos, Jesus, até a sua santa sepultura e ajude-nos a ressuscitar do homem antigo para uma vida nova. Nós vos adoramos, nós vos bendizemos, nós vos glorificamos pela vossa santa cruz! Esta cruz pela qual remistes o mundo. Que possamos, meus irmãos e irmãs, celebrar este grande mistério de amor que nos deixará sermos comovidos, convertidos, interpelados e chamados para uma vida nova no Senhor! Que possamos, como Jesus, entregar a nossa alma, nossa vida e nosso futuro a Deus!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Paixão do Senhor (Ano B) – 30/03/2018 (Sexta-feira Santa, Celebração das 15h).

Especial Semana Santa 2018 | A importância do serviço e da doação aos irmãos
29/03/2018
Celebramos hoje o primeiro dia do Tríduo Pascal: paixão, morte e ressurreição do Senhor. Hoje, celebramos uma memória, não uma memória qualquer, como um fato acontecido e narrado em um livro de história, mas uma memória teológica. E na memória teológica, nos rememoramos e vivenciamos o fato acontecido nos dias de hoje, recordando aquele acontecimento e sentindo, em nossa própria carne, as alegrias e as tristezas, as dores e a esperança do povo de Deus.
Na Primeira Leitura [Ex 12,1-8. 11-14], vimos a memória da saída do Egito, a Páscoa Judaica, que é a passagem da escravidão para a liberdade. Liberdade esta que todos nós buscamos em Cristo Jesus. É por Sua paixão, morte e ressurreição que ganhamos a graça da liberdade. Percorremos o caminho quaresmal em busca da libertação que começamos a celebrar no dia de hoje.
A Primeira Leitura nos recorda a prontidão do povo de Israel. Eles deviam estar prontos para quando o Senhor chamasse a abandonar a vida antiga, se abandonar nos braços de Deus, em vista de uma nova esperança. Prontidão também nós devemos ter. Devemos estar sempre prontos a responder o chamado do Senhor, para nos dirigirmos a uma nova terra, a uma nova vida em Deus e a novos valores. Se uma nova terra se apresenta diante de você hoje, uma nova vida se apresenta diante de você, novos valores são apresentados a ti nesta noite, basta você dizer sim.
Iniciamos a Quaresma com Deus nos dizendo “eis que ponho a tua frente a vida e a morte, a benção e a maldição, escolha a vida e viverás” [cf. Dt 30,19]. Nesta noite, somos chamados a escolher a vida, a esperança, a libertação, a escolhermos uma nova vida em Deus. E essa nova vida só é possível se nos unirmos, se formos um único povo, uma única família, como o povo de Israel. “Família” que a Paróquia Santa Teresinha escolheu para, no ano de 2018, lutar para evangelizar. Evangelizar as famílias: esse é o nosso desafio para o ano de 2018! E não pode existir evangelização da família se nós não formos, em primeiro lugar, unidos dentro de nossos lares. Não pode existir evangelização da família, se nós, da paróquia Santa Teresinha do menino Jesus, não formos uma igreja unida – e não digo uma igreja uniforme, pois não existe, mas uma igreja unida. Embora sendo diferentes, nos unimos, damos as mãos para caminhar na mesma direção em vista da libertação. Não deixamos ninguém para trás, ninguém vai muito a frente... Nós caminhamos juntos para chegar a terra prometida.
Esta união nos ajuda a recordar a partilha, pois não existe união onde a partilha não seja real. O povo de Deus partilhou um único cordeiro entre aqueles que podiam comer. Não existia desperdício: se na casa existissem doze pessoas, era a quantidade suficiente para aquelas doze; se fossem trinta, para aquelas trinta; se fossem duas, para aquelas duas... Ou, se fosse mais que o suficiente, que se juntassem com outras famílias para partilhar o cordeiro, ou seja, eles calculavam o que comer e, assim, não havia desperdício. Também nós devemos calcular o quanto Deus nos dá e não desperdiçarmos, quanto desperdício existe em nossos lares: de água, de energia, de alimento. Mas Deus nos pede para não desperdiçar. Talvez na nossa paróquia estejamos desperdiçando algo, e não podemos! Tudo é valioso para Deus.
Na Segunda Leitura [1Cor 11,23-26], vimos o apóstolo Paulo narrar a memória da última ceia: a memória da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Nesta última ceia de Jesus, Ele nos dá uma lição de nos colocarmos a serviço um dos outros, e esse serviço se dá através da Santa Eucaristia, onde comungamos da paixão, da morte e da ressurreição. Comungamos de um acontecimento, de uma pessoa, e quem é essa pessoa? Jesus, nosso Salvador! É desse Jesus que nós comungamos, e ao comungar de Jesus, comungamos de sua Palavra, exemplo e compromisso com o Pai. Ao comungar, somos chamados a colocar em prática os valores de Jesus Cristo nosso Senhor: valores de amor, misericórdia, compaixão e solidariedade, valores do Evangelho. Nos perguntamos, nessa noite, se estamos comungando verdadeiramente de Jesus Cristo nosso Senhor ou se estamos comungando da nossa própria condenação quando não praticamos aquilo que comungamos. Por isso, Jesus hoje nos dá o exemplo – exemplo de serviço, exemplo do lava-pés – e bons exemplos, irmãs e irmãos, devem ser vividos, multiplicados. “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” [Jo 13,15], Jesus disse para amarmos uns aos outros, como ele nos amou.
Que ao celebramos essa Eucaristia e a última ceia do Senhor, ao celebrarmos o rito de lava-pés, possamos nos colocar a serviço uns dos outros, comungando da pessoa, da Palavra e do exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso Deus e nosso Salvador!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Ceia do Senhor (Ano B) – 29/03/2018 (Quinta-feira Santa, missa às 20h).

Assumir nossa responsabilidade de viver os valores do Santo Evangelho
25/03/2018
HOMILIA EXTERNA:
Queridos irmãos e irmãs, aqui nos encontramos para celebrar este Domingo de Ramos, a entrada solene de Jesus, nosso Rei, nosso Salvador, na cidade santa de Jerusalém. Com Cristo, também nós queremos percorrer esta caminhada na Semana Santa em vista de assumirmos a nossa missão de filhos e filhas de Deus. Atentos, como Jesus, às palavras do Senhor, nós assumimos a nossa missão e entramos na cidade santa de Jerusalém, nesta cidade onde os desafios serão ainda maiores. Como Jesus, nós não podemos ceder às tentações, mas, ao contrário, devemos assumir a nossa missão profética de anunciadores da verdade, do amor, da justiça e da salvação.
A entrada de Jesus na cidade santa de Jerusalém é em vista da Santa Páscoa; a nossa celebração do Domingo de Ramos também é em vista da Páscoa do Senhor. Que possamos iniciar a nossa Semana Santa com o coração aberto e deixar que Deus nos conduza para que façamos a nossa passagem junto com Cristo, na Sua paixão, morte e ressurreição, e, assim, possamos ressurgir com Cristo para uma vida nova no Seu amor.
HOMILIA INTERNA:
Para todos nós, a Semana Santa deve se iniciar hoje. A partir desta celebração, a nossa mente, o nosso coração, as nossas atitudes devem se voltar para o sentido da festa que celebramos nesta semana: o Tríduo Pascal, em vista da Ressurreição do Senhor. Jesus entra na cidade santa de Jerusalém, é aclamado como Rei, mas sabe que deve sofrer a Sua paixão, deve sofrer a morte – e morte de cruz – pela nossa liberdade, pela nossa salvação. Que também nós, hoje, tenhamos a consciência de que iniciamos a Semana Santa e devemos percorrer a nossa passagem celebrando, a cada dia, o seu sentido; deixando Deus tocar o nosso coração para que, acompanhando Jesus à morte, possamos ressuscitar com Ele para uma vida nova no Domingo de Páscoa.
A liturgia de hoje nos convida a recordar o sentido do profetismo. Na primeira leitura (Is 50, 4-7), que é conhecida como a leitura do servo sofredor, vemos o profeta nos dizendo: "O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo". Jesus Cristo, nosso Senhor, foi profeta. Mas, mais do que um profeta, Ele é o Messias, Ele é o nosso Salvador. E como discípulos-missionários deste Deus que se encarna na história da humanidade pela nossa salvação, também nós somos convidados a sermos profetas, defender a nossa fé, anunciar os valores do Evangelho e testemunhar tudo o que é contrário ao projeto de Deus.
Peçamos ao Senhor que tenhamos, como o profeta Isaías e como Jesus, uma língua adestrada, para podermos anunciar o Reino, anunciar o amor, anunciar a misericórdia, anunciar a justiça. Abrimos a nossa boca para falar sobre tantas coisas, mas o quanto a abrimos para falar sobre os valores do Santo Evangelho? Você pai, você mãe, quanto do que você fala para o seu filho corresponde aos valores apresentados por Jesus? Você esposo, esposa, sobretudo nas discussões dentro de casa, você se lembra que professa uma fé e que Deus lhe deu uma língua adestrada para falar do amor, da misericórdia, da compaixão, da solidariedade? Você, no mercado de trabalho, sempre influenciado por questões negativas, por pessoas que desejam subir na hierarquia da empresa e começam, então, a falar tantas coisas, valores que não vêm de Deus... A sua língua está para se afastar dessas situações, para corrigir, ou para incentivar valores contrários ao projeto de Deus?
O Senhor "me excita o ouvido", diz o profeta. É necessário ouvirmos a Palavra de Deus. Com tantas informações que recebemos ao longo do dia, quanto delas permanece em nossos corações, sobretudo a Palavra de Deus, os valores de Deus? Quando você reza pela manhã, para ir ao trabalho, ao almoçar, antes de dormir... Você dá espaço para que Deus fale no seu coração? Quando você está nervoso, injuriado, enraivecido com algo, você para, reza e pede para Deus direcionar a sua palavra, a sua postura?
"Padre, é difícil viver os valores do Evangelho". Então eu lhe peço para prestar atenção na segunda leitura (Fl 2, 6-11), onde Paulo nos diz que "Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens". A Igreja chama esse trecho da Sagrada Palavra de Deus de kenusis, que é o aniquilamento de Jesus. Sendo Deus, Ele se encarna na história da humanidade; sendo Deus, Ele se esvazia da Sua condição divina para se tornar homem, como nós, e na Sua humanidade viver o projeto de Deus. E eu e você, como discípulos de Jesus, como cristãos, também somos chamados a viver os valores do Evangelho.
Jesus se esvaziou da Sua condição divina; do que nós precisamos nos esvaziar? Da nossa arrogância, talvez? Da nossa prepotência? Da nossa falta de perdão? Da nossa falta de paciência? Do que você precisa se esvaziar para que Deus possa agir no seu coração, na sua vida, nas suas atitudes, dentro do seu lar, no seu matrimônio, na educação dos seus filhos? Todos nós precisamos nos esvaziar de algo para que a humanidade que Deus colocou pura no nosso coração possa florescer e, diante dos desafios de vivenciar os valores do Evangelho, nós possamos exalar, testemunhar, anunciar os valores de Jesus. Jesus, que foi obediente até a morte, e morte de cruz; Ele que se fez servo pela nossa salvação.
Quantas vezes, meus irmãos e irmãs, nós dizemos que vivemos o Evangelho mas não nos colocamos a serviço uns dos outros. Quantas mulheres vêm pedir direção espiritual porque, em casa, são feitas de empregadas dos maridos e dos filhos; quantas mulheres choram e você, filho, você, esposo, nem se recorda. Às vezes você nem percebe que faz da sua esposa a sua empregada, talvez sua serva... E o Evangelho nos diz que todos nós devemos ser servos. Quanto falta de atenção dentro dos nossos lares, na nossa família? Quanto falta de solidariedade? Às vezes, para lavar um copo é uma guerra dentro de casa... No seu serviço, quando você pode ajudar outra pessoa mas diz: "Eu fiz a minha parte, se vire com a sua", onde está a sua solidariedade?
Entrando na igreja – posso testemunhar –, conversei com uma das lideranças e falei: "Deu certo hoje, né?", e ela falou assim: "Graças a Deus, padre, até que enfim!". Por quê? Porque antes era um tal de: "Mas o outro podia fazer e não fez, ele era o responsável". Mas e você, ajudou o outro a fazer? Você pediu a ele, recordou, instruiu? É necessário que a gente se ajude, como Jesus nos ajudou, como Jesus foi atrás da ovelha perdida, a ovelha machucada, a ovelha desgarrada; chamou-a de volta, curou suas feridas e colocou-a de novo junto do rebanho. Jesus, que corrigiu os sacerdotes, os fariseus, os escribas; Jesus, que ajudou os pagãos; Jesus, que foi ao encontro dos pobres; Jesus, que ajudou o pai que chorava pelo seu filho; Jesus, que ajudou uma irmã que chorava pelo seu irmão morto. E nós, como cristãos, o quanto estamos nos ajudando uns aos outros? Quanto do sentido de servo, de serviço, de solidariedade nós temos colocado no testemunho de nossa vida? Ou estamos fazendo como Pilatos – que, diante da inocência de Jesus, mas para favorecer um sistema político opressor, um sistema político que cegava os habitantes de Jerusalém, vai pela maioria e solta Barrabás, que tinha culpa, aprisionando Jesus, que era puro de coração?
Quantas vezes também nós seguimos a maioria e não o que é certo, não o que é justo diante de Deus e diante dos nossos olhos. Quantas vezes, para agradar a maioria, como Pilatos, nós lavamos as nossas mãos e não assumimos a responsabilidade dos nossos atos. Será que, em casa, eu tenho lavado as mãos e não assumido a minha responsabilidade? Será que no matrimônio, eu lavo as mãos e empurro a responsabilidade para a esposa, para o esposo? Com meus filhos, eu lavo as mãos ou assumo a responsabilidade de educá-los no caminho do Evangelho da Salvação? Na nossa sociedade, corrompida no sistema político, judiciário, será que eu lavo as minhas mãos ou eu luto por uma sociedade mais justa, fraterna, igualitária? No Rio de Janeiro, onde entre 22 e 26 pessoas morrem por dia por causa do tráfico, eu lavo as minhas mãos ou eu rezo por aqueles irmãos que estão lá naquele Estado, sofrendo com tanta violência, com tanta dificuldade? Quando Jesus, meus irmãos e irmãs, se coloca como servo-sofredor, Ele nos dá o exemplo de que nós devemos, com humildade, assumir também a nossa missão de servos, a nossa missão de profetas, a nossa missão de anunciadores de um mundo mais justo e mais fraterno. Aqueles que não querem assumir a sua cruz não são dignos de serem chamados de cristãos.
Que ao celebrarmos esta eucaristia e a nossa entrada na cidade de Jerusalém, possamos assumir, como Jesus, as consequências dessa escolha, assumir a responsabilidade de sermos cristãos, assumir a responsabilidade da fé que professamos. Que em casa, no trabalho ou no lazer, sejamos capazes de ser profetas, de nos aniquilarmos a nós mesmos, esvaziando-nos de todos os sentimentos que não nos permitem nos colocarmos como servos dos mais injustiçados, dos mais aflitos, dos sem voz e sem vez. Que a eucaristia que celebramos hoje não seja, para nós, motivo de condenação, mas sustento e remédio na busca de vivenciarmos os valores do Santo Evangelho. Que façamos a nossa travessia nesta Semana Santa e, com Cristo Jesus, ressuscitemos, alegres e felizes, para uma vida nova no Seu amor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Ano B) – 25/03/2018 (Domingo, missa às 9h30).

Proclamemos, decididos, o comprometimento com nossa religião
18/03/2018
Estamos celebrando o quinto e último domingo da Quaresma. Semana que vem iniciamos a Semana Santa, a principal semana da nossa fé, que deve ser um divisor de águas em nossas vidas, em nossos sentimentos e dos mistérios da fé que celebramos porque cremos em um Deus vivo e ressuscitado dos mortos que deu Sua vida pela nossa salvação.
Na liturgia de hoje, em preparação a esta semana, a Igreja nos convida à conversão do nosso coração, a renovarmos a nossa aliança de amor com Deus e a continuar a busca de um coração purificado, como cantamos no Salmo 50: “Criai em mim um coração que seja puro”. Iniciamos a quaresma na Quarta-feira de Cinzas, pedindo a Deus que nosso coração fosse purificado. E hoje chegamos à finalização desse tempo da Quaresma, em seu último domingo, nos questionando: será que buscamos a purificação do nosso coração? Ou foi mais uma quaresma onde nada na minha vida foi modificado? Será que, infelizmente, a graça de Deus, os sentimentos de Deus, aquilo que foi pregado e celebrado não encontrou espaço no meu coração? Dizíamos lá na Quarta-feira de Cinzas que Deus, através do profeta Amós, nos pedia para rasgarmos o nosso coração e não as vestes. Porque Deus está interessado em nossos sentimentos e não no que temos de exterior para apresentar. O que interessa ao coração de Deus é aquilo que sentimos. E, transcorridos tantos dias da quaresma, nos perguntamos como está o nosso coração.
O Salmo dizia: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido”. E esta decisão é a de seguirmos fielmente a Jesus porque, para nós, ele é o nosso Salvador, nosso Messias. Mas quantas pessoas desanimaram na sua decisão de vivenciar os valores do Evangelho? Quantas pessoas desanimaram de continuar a amadurecer no conhecimento de Jesus, no conhecimento da doutrina que a Igreja nos apresenta como caminho de verdade e de santidade e salvação? Quantas pessoas desistiram de buscar a felicidade na vida matrimonial, desistindo de um ente querido, da esposa, do esposo, dos filhos? Hoje é necessário que peçamos a Deus novamente um coração decidido, para continuarmos firmemente a percorrer o caminho da salvação.
“Dai-me de novo a alegria de ser salvo”. Quantas pessoas tristes, cabisbaixas, rancorosas! Nós não cremos em um Deus morto, mas em um Deus que passou pela morte e alcançou a ressurreição pela nossa salvação. Nós somos a religião da alegria e não da tristeza. Embora celebremos a tristeza da morte de Cristo na Sexta-feira Santa, este é um momento que iremos celebrar, para depois com alegria chegarmos a sua ressurreição. Será que seu coração está alegre, triste, indeciso? Como estão seu coração e seus sentimentos? Pois a depender da sua decisão, da sua alegria e da sua confiança, você poderá melhor apresentar Cristo àqueles que não amam, não creem e não esperam. Como no Evangelho de hoje [Jo 12,20-33], no qual alguns gregos chegaram perto de Felipe e disseram: “queremos ver Jesus”. E Felipe vai e apresenta Jesus para os gregos.
Hoje existem novos gregos, que não conhecem Jesus. Novos gregos que nunca frequentaram a igreja e que não conhecem o que significa vivenciar, celebrar uma fé. E cabe a mim e a você apresentar Jesus. Mas que tipo de Jesus vamos apresentar? Um Cristo que morreu na cruz ou um Cristo que passou pela morte e alcançou a ressurreição? Vamos apresentar uma religião firme e decidida de homens e mulheres que testemunham o Evangelho ou uma “religião do tanto faz” – faço o que dá, vou na igreja quando dá e rezo quando dá? Sempre vamos ao encontro de Jesus e o testemunhamos. As pessoas que querem conhecer Jesus hoje são os novos gregos – homens e mulheres, crianças e idosos que buscam este encontro. Mas se não apresentarmos um Cristo atraente, não mostrarmos um Cristo convicto, as pessoas não farão a experiência deste amor de Deus. Os desafios, meus irmãos, são tantos e, para isso, é necessário que alguns sentimentos possam morrer em nosso coração, para que deem espaço a uma nova esperança. Talvez seja necessário assumir nossa cruz para caminharmos verdadeiramente com o Senhor, como nos diz Jesus no Evangelho de hoje: “se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto”.
Jesus precisou morrer no alto do calvário para que nascesse o fruto da ressurreição, para que as portas da eternidade se abrissem para todos nós. O que é necessário morrer, na sua vida, para dar espaço a uma nova possibilidade de esperança, de amor e de ressurreição? Talvez você esteja em dúvida, como Jesus também esteve, como aponta o Evangelho de hoje: “E que direi? 'Pai, livra-me desta hora?’”. E Ele mesmo responde: “Mas foi precisamente para esta hora que eu vim”.
Jesus percorreu a sua trajetória em nosso meio para chegar ao ápice de sua missão: entregar sua vida pela nossa salvação. Diante dos desafios, das encruzilhadas da vida, também nós muitas vezes nos questionamos se vamos renunciar a nossa missão. Vou desistir da minha missão, do meu matrimônio, da minha fé, da educação dos meus filhos? Não! “Foi precisamente para esta hora que vim”. Esta deve ser nossa resposta, de assumirmos até as ultimas consequências a fé que nós professamos. E quantas pessoas desistem na metade do caminho! Jesus nos inspira hoje a não desistirmos, a enfrentarmos o calvário, passarmos pela morte e alcançarmos a ressurreição. Por isso, o profeta Jeremias, na Primeira Leitura [Jr 31,31-34], nos recorda: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança; não como a aliança que fiz com seus pais, quando os tomei pela mão para retirá-los da terra do Egito”. E também diz: “Imprimirei minha lei em suas entranhas e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus, e eles serão meu povo”.
Se um dia você fez uma aliança e não se comprometeu, hoje Deus lhe convida a renovar esta aliança. Não de qualquer modo, mas do fundo do seu coração, deixando Deus escrever, com suas próprias mãos, o seu amor em seu coração e nas suas entranhas. Peçamos a Deus que possamos ter nosso coração renovado, como cantamos no Salmo 50 para que, com esse coração renovado, o Senhor nos purifique. Que o Senhor possa restaurar a nossa confiança e nossa convicção de que cremos em um Deus vivo e ressuscitado, que compartilhamos de uma fé na alegria, na esperança e no entusiasmo. E, sejam quais forem as trevas do nosso coração, que a luz de Cristo possa nos purificar!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 5º Domingo da Quaresma (Ano B) – 18/03/2018 (Domingo, missa das 10h).

Viver o verdadeiro sentido da Quaresma
11/03/2018
Estamos celebrando o quarto domingo da Quaresma, e, ao celebrarmos este domingo, nos recordamos a proximidade da Páscoa do Senhor. Este é o domingo da alegria, porque, daqui quinze dias, iniciaremos a nossa Semana Santa, uma semana que deve ser, para nós, um divisor de águas. Devemos estar preparados para celebrá-la e vivenciá-la efetivamente, já que esta é a principal semana de nossa fé cristã e católica, porque Cristo deu a vida no alto do Calvário pela nossa salvação.
Por isso, o nosso coração deve começar a se alegrar. Se ainda não estamos atentos a proximidade da Páscoa do Senhor, é necessário que o nosso coração, os nossos sentimentos e as decisões que vamos tomar nos próximos quinze dias possam nos levar a vivenciar efetivamente e afetivamente a Semana Santa, para que possamos ressuscitar com Cristo para uma vida nova no Seu amor. Dessa forma, a liturgia, proposta pela Igreja, nos chama atenção para a reconciliação que todos nós devemos ter com Deus. São Paulo nos diz, na Segunda Leitura de hoje [Ef 2,4-10]: “Deus é rico em misericórdia”, pois Deus perdoa os nossos pecados! E é necessário que nós nos aproximemos de Deus para que Ele possa nos abraçar, nos acariciar e transformar as nossas atitudes que ainda não correspondem a Sua vontade em atitudes de graça, de verdade, de paz e salvação.
A Primeira Leitura [2Cr 36, 14-16. 19-23] nos alerta: “naqueles dias, todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs”, ali todos multiplicaram as suas infidelidades. E hoje, meus irmãos e irmãs, nós nos perguntamos: será que estamos multiplicando a graça de Deus em nós ou estamos multiplicando infidelidades? Como está o seu coração nessa Quaresma? Você se aproximou mais de Deus ou se afastou? Você está rezando mais, falando mais de Deus? Você, pai e mãe, que deseja o bem para o seu filho, na sua vida, nas suas palavras e nas suas atitudes, as suas infidelidades são menores do que eram ontem, do que eram na semana passada? Porque se não forem, o caminho é certo, como disse a Primeira Leitura: haverão consequências para as nossas escolhas. Para o povo de Israel, a consequência foi a destruição do templo e o exílio da Babilônia. E para todos nós? Quando permitimos que as infidelidades e os pecados cresçam em nosso coração, algum tipo de consequência encontraremos. Quando existe infidelidade no seu matrimônio, seja por olhar, por palavras ou por brincadeiras, alguma consequência haverá. Quando existe infidelidade na educação, na missão que você tem de educar o seu filho ou o seu afilhado, alguma consequência haverá em sua vida. No nosso trabalho, quando somos infiéis, quando não somos fiéis àquilo que nos propomos, alguma consequência teremos na nossa vida futura. Agora que tipo de escolha nós fazemos?
No início da Quaresma, rezávamos: eis que ponho a sua frente a vida e a morte, a benção e a maldição, escolha a vida e viverás (cf. Dt 30,19). Será que, nessas semanas, nós estamos fazendo a opção pela vida ou pela morte? Este mesmo Deus nos pediu, na Quarta-feira de Cinzas, para rasgarmos o nosso coração e não simplesmente as nossas vestes [Jl 2,13], porque apesar do externo ser importante para Deus, o que realmente importa é o nosso interior. E como está o seu interior relacionado a Deus, relacionado a sua fé, às práticas do jejum, da oração e da caridade as quais nos propomos há quatro semanas? Como está o seu coração na fidelidade ao seu matrimônio? Na fidelidade ao seu filho? Na fidelidade ao seu trabalho? Naquilo que você propôs realizar como atitudes de fé, amor, vida e salvação?
Deus está sempre ao nosso lado e jamais nos abandona. E o fato é: se nós O recusarmos, nem mesmo Deus pode nos trazer a força, porque ele nos deu a graça da liberdade. E é por meio dessa liberdade que, quando colocamos Deus em nossa vida, quando rezamos e fazemos nossas escolhas e ações, pautadas na oração e no Evangelho, a graça de Deus vem ao nosso encontro. Mas quando não o fazemos, nós trilhamos o caminho do pecado, do exílio e da escuridão que o Evangelho de hoje [Jo 3,14-21] nos traz. O Evangelho recorda que, assim como a serpente no deserto foi levantada, para que aqueles que olhassem para ela fossem salvos da travessia do deserto em direção a terra prometida, Jesus Cristo, nosso Senhor, deveria ser levantado no alto do madeiro: o que, para uns, é escândalo, e, para outros, é loucura, mas para nós é a salvação! Jesus deu a vida pela nossa liberdade e pela nossa salvação. Foi por amor que Ele se doou no alto do Calvário; e, é também por amor que nós trilhamos este caminho de graça, de paz, de liberdade e de salvação. É por amor que somos convidados a dar testemunho uns aos outros, não escondendo os nossos erros nas trevas do pecado, como nos diz a Palavra do Senhor.
Por isso, hoje você é convidado a colocar diante da luz de Cristo a sua vida, as suas mazelas humanas, os seus pecados e as suas escolhas – e por mais que você tenha feito escolhas erradas, hoje é dia de colocar tudo isso diante de Deus e pedir: “Senhor misericordioso, dai-me um coração renovado, perdoe as minhas faltas, toma-me pela mão e me conduza em direção a esta terra prometida do Teu amor, da Tua graça e da Tua misericórdia”. Que este Deus da bondade nos ajude a abandonarmos as nossas infidelidades, a assumirmos as nossas culpas e retornarmos para o caminho do amor, da graça e da salvação!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo da Quaresma (Ano B) – 11/03/2018 (Domingo, missa das 10h).

Zelar pela casa de Deus e por Seus mandamentos
04/03/2018
Meus irmão e irmãs, hoje estamos celebrando o terceiro domingo da Quaresma. Chegamos à metade do nosso percurso quaresmal. Hoje é dia de refletirmos se estamos buscando, verdadeiramente, a conversão do nosso coração, buscando realizar a vontade do Senhor.
Ouvimos, no Evangelho [Jo 2,13-25], Jesus falando sobre o zelo com Sua casa, o zelo pelo templo. Estamos no contexto em que o templo de Jerusalém havia sido destruído, quando o povo de Israel foi levado para o exílio da Babilônia. O templo começa a ser reconstruído e, desse modo, vai crescendo o número de pessoas ao redor dele para celebrar a Festa da Páscoa – que, para os Judeus e para os católicos, não é uma festa opcional, mas o centro de nossa fé.É como o Santuário de Aparecida: quem foi lá na década de 1980, 1990, lembra a confusão que era? A igreja ainda não estava pronta, não tinha lugar para ir ao banheiro, para comer... O povo sentava na porta da igreja, fazia um escarcéu danado, era uma confusão sem tamanho! Agora, imagina aquilo multiplicando um pouco mais! A cidade de Jerusalém tinha cerca de 55 mil habitantes; no período da Páscoa, esse número passava a 120 mil habitantes, vindos de todas as partes.
Havia ali, ao redor do templo, muito comércio, sobretudo de animais – pombas, carneiros, ovelhas, bois. Por ocasião da Páscoa, eram sacrificados, em média, 110 mil carneiros, um sacrifício em expiação aos pecados do povo de Israel. E é nesse contexto que Jesus, ao chegar ao templo, percebe que as pessoas haviam se esquecido do porquê de estarem ali, do sentido de ir ao templo. E esta pergunta cabe a cada um de nós hoje: será que nós temos consciência do porquê de irmos ao templo?
Qual o sentido de oferecermos um sacrifício? Naquele tempo, pobres ofereciam pombas, os que tinham certa segurança financeira ofereciam carneiros e os que eram ricos ofereciam bois. Hoje o nosso sacrifício é incruento, ou seja, sem derramamento de sangue no altar do Senhor, onde Jesus já deu o Seu corpo e o Seu sangue como sacrifício de amor pela nossa salvação. Mas será que temos consciência do que é ir à igreja, do que é celebrar uma fé, do que é amar a Deus sobre todas as coisas? Temos consciência, meus irmão e irmãs, que devemos zelar pela casa de Deus, zelar pelo banco em que nos sentamos, zelar pela limpeza deste ambiente, não deixar as luzes da igreja acesas – nem as do Centro Pastoral, para quem está engajado nas pastorais; os músicos devem cuidar do som, cuidar das coisas. Enfim, zelar pela casa de Deus, pelas coisas sagradas. É o que Jesus nos pede no Evangelho de hoje.
E a Palavra de Deus vai dizer, em uma das cartas de São Paulo, que somos templos vivos do Espírito Santo [ref. 1Cor 6, 19]. Cuidar do templo de pedra é importante, mas também do nosso templo vivo: da nossa saúde física, da nossa saúde espiritual, da nossa saúde emocional. Quantas pessoas que, por fora, estão maravilhosamente bem, mas por dentro estão destruídas; pessoas com dificuldades psicológicas, pessoas que não conseguem se abrir com o marido, com a esposa, com os pais, com os filhos... Pessoas que estão destruindo o seu templo, templo vivo do Espírito Santo. Como está a tua consciência? Como estão os teus sentimentos? Como está a tua saúde? Porque muitos de nós – e eu não sou bom exemplo disto – não cuidamos da nossa saúde, não vamos ao médico, não dedicamos tempo para exercícios físicos, não pensamos melhor sobre nossa alimentação, em nos alimentarmos adequadamente para cuidar deste templo que é o nosso corpo.
Mas também devemos tomar cuidado com os exageros, cuidar para não sermos como os judeus que exageravam nos seus sacrifícios. Tem gente que exagera, por exemplo, no seu modo de rezar: quer ficar na igreja todos os dias, os sete dias da semana, e esquece da sua casa, da sua família, da sua primeira vocação que é o matrimônio, se esquece de curtir a vida. Será que não estamos exagerando também no cuidado do nosso templo vivo, indo demais à academia, por exemplo? Tem gente fazendo do corpo o próprio objeto de adoração: fica lá, no espelho, olhando os braços, olhando se as pernas estão boas, se o muque está forte. Não estamos exagerando? Devemos ter cuidado com os exageros.
Ao tomarmos conta deste templo vivo do Espírito Santo, tomamos conta dos sentimentos que nos aproximam de Deus, tomamos conta dos sentimentos que fazem com que nos aproximemos ou nos distanciemos do Senhor. Por isso, na primeira leitura [Ex 20, 1-17] nós temos os mandamentos. Os mandamentos, meus irmãos e irmãs, não são simples normas rígidas que, se não fizermos, Deus vai nos castigar, mas são um caminho de liberdade, um caminho de salvação que Deus nos apresenta. Quando amamos a Deus sobre todas as coisas, no primeiro mandamento, se torna muito mais fácil vivenciarmos todos os valores evangélicos, mas se Deus não ocupa o primeiro lugar na minha vida, viver os valores evangélicos se torna um peso para todos nós.
O próximo mandamento diz para amarmos o nosso próximo como a nós mesmos. Amar não apenas o bonitinho, o cheirosinho, o que não tem problema, mas todos, indistintamente, como Jesus amou: o pobre, o doente, o injustiçado, o abandonado, o dependente químico, o flagelado. Quando eu amo a todos, indistintamente, se torna mais fácil viver os valores do Evangelho. Será que eu estou amando sem medida, como Jesus nos amou, dando a Sua vida no alto do Calvário? É o que Paulo, escrevendo à comunidade de Corinto, em sua primeira carta [1Cor 1, 22-25], nos fala: que Jesus veio para defender a vida. O sacrifício de Jesus no alto do Calvário, que para alguns é escândalo e para outros é apenas uma busca de sabedoria, segundo Paulo, para nós é caminho de salvação.
Jesus nos disse: "Aquele que quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz a cada dia e me siga. Este é digno de mim" [ref. Mt 16, 24; Lc 9, 23]. Será que estamos abandonando as nossas cruzes? Diante das enfermidades de familiares, de um ente querido; pais que, quando começam a apresentar algum tipo de dificuldade para seus filhos, são excluídos da convivência familiar; nossos amigos que, quando começam a ter problemas, muitas vezes são excluídos da nossa vida, das nossas atividades. Nós não podemos abandoná-los, meus irmãos e irmãs!Se queremos assumir o caminho que nos leva à morada eterna, não podemos renunciar a nossa cruz. Devemos entender o sentido de sacrifício.
A segunda leitura também diz que os judeus buscavam, insistentemente, que Jesus realizasse milagres, e Jesus, em nenhum momento, cedeu a este pedido dos judeus. Porque Jesus não veio para realizar milagres, veio para nos libertar, para nos amar, para nos apresentar o caminho da salvação. Quando olhamos para Jesus como um simples milagreiro, nos esquecemos de que Ele é o Messias, o nosso Salvador, o filho de Deus que deu a vida pela nossa salvação. Ainda nessa leitura, São Paulo nos fala que os judeus buscavam um mestre da sabedoria. Cada cidadão romano, cada cidadão que buscava aperfeiçoar a filosofia grega, buscava seu mestre da sabedoria. Jesus é sim o mestre da sabedoria, mas muito mais do que isso, Ele é o nosso Messias, e isso deve ser claro para todos nós. Jesus é o nosso Salvador! Jesus deu a vida pela nossa salvação! O seu sangue, derramado no alto do Calvário, abriu as portas do paraíso para cada um de nós! Se queremos adentrar este paraíso, precisamos assumir a nossa cruz. E, ao assumir a nossa cruz, nos questionamos: quem são os crucificados de hoje? Os pobres, os excluídos, os doentes, os desempregados, os sem voz, os sem vez.
Se queremos seguir pelo caminho da salvação, peçamos ao Senhor que possamos, verdadeiramente, amá-Lo sobre todas as coisas, amar o nosso próximo indistintamente, assumir a nossa cruz e trilhar este caminho de fé, de esperança, de caridade e de salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo da Quaresma (Ano B) – 04/03/2018 (Domingo, missa das 10h).

Descer à planície para viver a nossa verdadeira missão
25/02/2018
Queridas irmãs e irmãos, sejam, mais uma vez, muito bem-vindos à nossa comunidade. Nós estamos celebrando o 2º Domingo da Quaresma, onde nós, como Igreja e como comunidade, continuamos a percorrer a nossa jornada quaresmal, buscando a conversão do nosso coração, das nossas atitudes e rezando pela conversão também de nossa sociedade.
A Igreja nos ajuda a refletir, neste sentido, sobre o quanto nós amamos a Deus e o quanto estamos dispostos a viver o seu projeto de amor. Na Primeira Leitura [Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18], temos a história de Abraão com seu filho Isaac. Abraão, que sai de Ur dos Caldeus com uma promessa do Senhor: formar uma grande descendência. Abraão confia no Senhor e, depois de muitos sacrifícios, lutas, e dificuldades, consegue o seu primeiro e único filho. E, após algum tempo, Deus chama Abrãao e ele diz: “Aqui estou”. Neste momento, Deus pede que Abraão entregue o seu único filho, o seu maior tesouro, como sacrifício de amor a Deus. Não sem hesitar – porque não há pai ou mãe que não hesite –, não sem chorar, mas Abraão diz sim ao Senhor e leva seu filho para ser sacrificado em louvor ao Deus único e verdadeiro. Podemos nos colocar na pele de Abraão quando convida o seu filho para preparar as coisas para o sacrifício do cordeiro. A cada passo em direção àquela montanha, mais lágrimas escorriam dos olhos daquele pai que, em prantos, leva seu filho a ser sacrificado. Aquele filho que, em determinado momento daquela alta montanha, pode ter perguntado ao pai: “onde está o cordeiro que será sacrificado?”. E o seu pai, sem muito saber o que dizer, diz: “Deus irá providenciar”.
E, naquele momento em que Abraão está prestes a sacrificar o seu filho a Deus, mais uma vez o Senhor lhe chama, sendo que ele O atende prontamente: “aqui estou, Senhor.” E Deus lhe diz que não precisa mais sacrificar o seu filho. A Igreja, nos recordando esta passagem, quer nos questionar o quanto nós amamos a Deus. Porque, muitas vezes, de nossos lábios saem palavras de amor, adoração e seguimento a Deus. Mas, nos momentos em que devemos dar este testemunho, o quanto Deus é, de fato, importante em nossa vida? O quanto nós O amamos sob todas as coisas?
Paulo, escrevendo à comunidade de Romanos [Rm 8, 31b-34], diz: “se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Deus está conosco, meus irmãos e irmãs, desde a criação do universo, desde o ventre de nossa mãe. Todos os dias, mesmo no silêncio, Deus caminha conosco e deseja nos ajudar, nos amparar e proteger. Mas deseja também a conversão de nosso coração. E o que deve ser convertido na nossa vida? Quais pensamentos e atitudes devem ser convertidos, como diz o Evangelho de hoje [Mc 9,2-10], em que Jesus toma à parte três de seus apóstolos – Pedro, Tiago e João – e os leva para uma alta montanha.
Jesus está pregando a Palavra, anunciando a Boa-Notícia, curando os doentes e mesmo assim Jesus reserva este momento para rezar com seus discípulos. O primeiro ensinamento deste Evangelho é que o ativismo não pode tomar conta de nossa vida. Fazemos milhares de coisas, mas não podemos nos esquecer de rezar. E quantas vezes nós nos encontramos cheios de atividades em nossas vidas e acabamos nos esquecemos de orar!? Isso é um ativismo desenfreado, fato no qual várias pessoas acabam caindo. Até mesmo a Igreja fala do ativismo pastoral, em que nós queremos fazer muito e não rezamos. Por exemplo, dos mais de 300 agentes de pastorais que temos – segundo o último levantamento de nossa paróquia – quantos estão comparecendo frequentemente à missa? Toda sexta-feira da quaresma estamos tendo a Via-Sacra. E onde estão os nossos agentes de pastorais? Será que não encontram um momento destas sextas-feiras para estar com Jesus e com a comunidade, rezando? Quando temos momentos de oração e de formação, onde estão os nossos agentes pastorais? Portanto, não podemos deixar com que o ativismo pastoral tome conta do nosso coração. Precisamos rezar sempre, constantemente, sem cessar.
Depois nós refletimos, no Evangelho, porque Jesus toma à parte Pedro, Tiago e João. Após subir a montanha e começar a rezar, Jesus se transfigura diante deles, tornando-se mais reluzente, e dando aos discípulos uma outra forma de enxergá-lo. E ali também aparecem Moisés e Elias: o primeiro simbolizando a lei que deve ser seguida – e Jesus vem confirmar esta lei – e, o outro, os profetas, os quais Jesus também vem confirmá-los. Rapidamente, Pedro se levanta e diz: “Senhor, vamos ficar aqui e fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. E Jesus não aceita. E por quê? Porque a nossa missão não está no alto da montanha, onde é mais gostoso de estar e não há dificuldades. A nossa missão está na planície. A montanha, na bíblia, sempre é o local onde Deus se revela – se revelou a Moisés, a Elias, a Jesus. Mas os profetas nunca ficam no alto da montanha: eles sempre descem à planície para viver o projeto de Deus. Nós vamos à igreja para que ela sirva como uma montanha a cada um de nós. Mas não podemos cair na tentação de querer ficar 24 horas por dia dentro da igreja. Porque ficar aqui dentro é fácil. A missão verdadeira está lá fora.
Por isso, Jesus chama Pedro, Tiago e João. Quando Jesus disse que tinha que morrer no alto do calvário pela nossa salvação, Pedro diz a Jesus, à parte, para que ele desistisse desta ideia. E Jesus responde a Pedro: “afasta-te de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus e sim como os homens. És uma pedra de tropeço para mim”. Este mesmo Pedro que, mais tarde, vai dizer a Jesus que Ele “é o Deus único”, mas vai também renegar Jesus três vezes. Será que nós não somos como Pedro que, quando os desafios se colocam diante de nós, estamos nos desviando do projeto do Senhor? E aí Jesus pode estar dizendo a nós hoje: “afasta-te de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus e sim como os homens”. Será que nós não somos como Pedro que, diante de desafios, renegamos a nossa fé? Quantos jovens, adultos e idosos renegando a sua fé com os amigos, na escola, no trabalho, nas redes sociais! Quantas pessoas que não assumem a sua fé!
Depois, nós temos Tiago e João, dois irmãos. Neste caso, a mãe deles queria que eles se sentassem um ao lado direito e outro ao lado esquerdo de Cristo no Reino dos Céus. Jesus responde a ela que não cabe a ele esta decisão, mas sim ao Seu Pai que está nos Céus. Às vezes, nós podemos ser também como Tiago e João. Ao seguir Jesus, nós esquecemos que “seguir” significa “servir”, e não ter privilégios. Ter uma fé em Cristo Jesus significa assumir a nossa cruz de cada dia e carregá-la. Assumir os desafios da fé que nós professamos, e não buscarmos privilégios.
Talvez Pedro, Tiago e João sejam como alguns de nós, que olhamos para Jesus e vemos nele um grande profeta, um grande transformador social, mas não enxergamos em Jesus o Filho de Deus. Por isso Ele se transfigura. Por isso Deus diz: “este é meu filho amado, escutai o que ele diz!”. Será que estamos ouvindo o que Jesus está nos dizendo ou somente aquilo que nos agrada? E Jesus nos diz hoje para descermos à planície e irmos por este mundo anunciando o Evangelho. Quantas pessoas desfiguradas pela violência, como a igreja nos recorda este ano na Campanha da Fraternidade! Quantas famílias desfiguradas pela violência! Quantos jovens desfigurados pelas drogas! Quantas pessoas jovens desfiguradas por causa da violência sexual! Quantos trabalhadores dos campos desfigurados por causa da escravidão – porque até hoje são encontradas muitas pessoas no Brasil caracterizadas em seus trabalhos como regime de escravidão! E o que nós, cristãos, estamos fazendo pela transformação das realidades que estão desfiguradas?
Que ao celebrarmos esta transfiguração de Jesus, possamos recordar o que deve ser transfigurado na nossa vida, nos nossos pensamentos e nas nossas atitudes para que a tentação de ficarmos no alto da montanha não encontre espaço no nosso coração.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo da Quaresma (Ano B) – 25/02/2018 (Domingo, missa das 7h30).

Resistir às tentações e permanecer firmes em nossa caminhada quaresmal
18/02/2018
Celebramos hoje o primeiro domingo da Quaresma – a Quaresma, meus irmãos, que não começa hoje, mas começou na Quarta-Feira de Cinzas. E você que, por algum motivo, não pôde participar da missa na Quarta-Feira de Cinzas, organize-se para que, no próximo ano, você possa iniciar a sua Quaresma adequadamente, como pede a Igreja, recebendo a imposição das cinzas, lembrando que somos frágeis, viemos do pó e ao pó retornaremos.
Neste nosso segundo encontro comunitário deste período quaresmal, somos convidados a continuar nossa trajetória por meio dos exercícios da oração, do jejum e da penitência, exercícios quaresmais que ajudam a alcançar aquilo que Jesus nos pede no final do Evangelho de hoje: "Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1, 15b). A Igreja também nos ajuda, orientando a liturgia para que seja mais serena. Durante cinco semanas, as músicas serão cantadas de forma mais tranquila, o sacerdote irá celebrar sempre com a cor roxa – lembrando a penitência e a conversão a que todos nós somos chamados por Jesus Cristo, nosso Senhor –, não cantaremos o Hino de Louvor até a Quinta-feira Santa, ouviremos o sino da consagração de forma mais solene (o sino que o Padre Jorge trouxe da Polônia) e, em forma também de penitência, eu não irei para a porta; eu gosto muito de cumprimentar a todos, mas durante a Quaresma não o farei, de modo que todos nós possamos sentir que estamos vivenciando um tempo diferente, um tempo mais introspectivo, um tempo de interiorização da Palavra de Deus.
Nesse sentido, a segunda leitura de hoje (1Pd 3, 18-22) nos fala que Jesus deu a vida pela nossa salvação para nos conduzir ao caminho do Pai, e iniciamos esta pregação perguntando se nós estamos nos deixando ser conduzidos ao coração de Deus. "Caríssimos, Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados; o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus". O preço alto para a nossa salvação, meus irmãos e irmãs, foi pago no alto do Calvário pelo Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, quando deu a Sua vida pela nossa salvação, para a remissão dos nossos pecados. É necessário que nós possamos meditar, durante este percurso quaresmal, o quanto nós estamos nos deixando ser conduzidos – ou não – pela vontade de Deus em direção ao seu coração. Deus que nos ama desde a eternidade!
Se por um pecador – Adão – o pecado entrou no mundo, é por Jesus Cristo, nosso Senhor, que este pecado é redimido, perdoado. Vemos, na primeira leitura (Gn 9, 8-15), que Deus perdoa os pecadores e faz uma aliança com Seus filhos. O contexto é o do dilúvio, que, historicamente, nós não sabemos se significa a Era Glacial, quando o gelo derrete e muitos locais ficam alagados. A teoria mais provável é que, naquele período, o Rio Nilo tenha transbordado e ocasionado uma grande enchente no povoado de Israel; este texto é, então, escrito séculos depois, e a religiosidade popular atribui esta grande enchente a Deus. Fato é: nunca houve na história da humanidade uma enchente ou dilúvio que inundasse todo o planeta Terra. Historicamente, não. Mas teologicamente, sim! Em que, com o dilúvio, Deus procura perdoar os nossos pecados; com o dilúvio, Deus deseja purificar os pecados que nos afastam Dele. Quais são os pecados que estão nos afastando do coração de nosso Senhor? Porque tempo de Quaresma é tempo de voltarmos para nós mesmos e refletirmos se é necessário um novo dilúvio para que o nosso coração seja purificado.
Deus estabelece uma aliança com seu povo. Quem é casado, por exemplo, usa uma aliança para se lembrar do seu esposo, da sua esposa. Do mesmo modo, por meio da natureza, quando vemos um arco-íris no céu devemos nos lembrar da aliança de amor de Deus para conosco. Semana passada havia um arco-íris lindo aqui no bairro! Cheguei em casa e fui olhar as Redes Sociais: um monte de gente postou a foto do arco-íris. Tenho certeza que muitos viram, mas quantos lembraram-se de Deus naquela ocasião? Eu estava dirigindo, na Av. do Estado, quando o vi e, naquele momento, a primeira coisa que veio no meu coração foi a aliança de Deus ligando a Sua Palavra à vida que nós vivemos. Deste modo, devemos recordar sempre esta aliança de amor, uma aliança que não tem começo, não tem meio e não tem fim – ela é circular, constante, infinita. Assim, meus irmãos e irmãs, Deus não rompe esta aliança de amor para conosco, e a pergunta que nos fazemos é se nós estamos rompendo a nossa aliança com Deus, aliança que fizemos no dia do nosso Batismo e, de forma mais consciente, confirmamos no dia da Crisma, quando eu, livre e espontaneamente, decido ser cristão – e cristão católico. Mas o pecado rompe esta aliança com Deus, por isso é necessário restabelecê-la por meio da penitência, da conversão, da confissão.
No Evangelho de hoje (Mc 1, 12-15), Jesus é conduzido ao deserto pelo Espírito Santo de Deus, este Espírito Santo que também deseja conduzir a mim e a você a este deserto quaresmal. O deserto, meus irmãos e irmãs, é o local do silêncio, e neste mundo de tanto barulho, será que nós estamos conseguindo silenciar o nosso coração? Não apenas silenciar externamente, mas silenciar também internamente, quando somos capazes de ouvir a voz de Deus nos falando o que é necessário ser transformado em nossa vida. No silêncio somos capazes de refletir sobre as nossas escolhas, nossos sentimentos, os passos de um testemunho que estamos dando. O deserto é o local dos perigos, dos desafios, e enfrentaremos, ao longo desta Quaresma, muitos desafios – desafios para não viver o projeto de Deus, desafios para não cumprirmos com a penitência e o jejum que nos comprometemos, desafios para deixar de ir à igreja, de frequentar os momentos sagrados... Mas devemos ser fortes para, no final desta Quaresma, sermos como Jesus depois de Sua paixão e morte: ressuscitados para uma vida nova em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Vemos que, neste deserto, Jesus é tentado por Satanás, mas Ele não adere às tentações de Satanás. E o que perguntamos aqui é se não estamos cedendo às tentações do inimigo de Deus. Da mesma forma, a reflexão que devemos fazer é se não estamos culpando a Deus ou a Satanás pelas escolhas que nós fazemos. Porque fato é: uma boa parcela da população, quando não encontra culpados para seus próprios erros, ou culpa Deus ou culpa Satanás, quando, na verdade, quem cometeu o pecado fomos nós! Então é necessário darmos um passo a mais e reconhecermos a nossa liberdade, esta liberdade que foi paga por um preço muito alto: o sangue do Filho de Deus, o Filho do Homem que nos diz, no início desta Quaresma, "Convertei-vos! Convertei-vos e crede no Evangelho!".
Que o Espírito Santo que conduziu Jesus neste deserto, possa nos conduzir nestes quarenta dias, nos dando a graça de sermos alimentados pela Sua Palavra, nos dando a graça de sermos alimentados pela espiritualidade quaresmal, nos dando a graça de sermos firmes na penitência a que nos propusemos. Que este Espírito Santo de Deus nos ajude a atravessar este deserto e chegarmos à terra prometida de uma vida nova no amor de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 1º Domingo da Quaresma (Ano B) – 18/02/2018 (Domingo, missa das 10h).

Eis o tempo de conversão!
14/02/2018
Iniciamos hoje nossa caminhada quaresmal. Hoje é dia de "viramos a chavinha" de um período de festas e confraternizações que começou lá no finalzinho de novembro e se estendeu por dezembro e janeiro, culminando com a grande festividade do Carnaval. Muitos foram viajar, passear, se divertir, encontrar a família... Agora, iniciamos esta nova etapa da nossa vivência de fé, em que, durante mais de 40 dias (até a Páscoa do Senhor), buscaremos a conversão do nosso coração. À medida que praticarmos os exercícios espirituais da oração, do jejum e da penitência, esta frase do Evangelho do próximo domingo, dita também quando as cinzas são impostas na nossa cabeça – "Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1, 15b) –, deve ressoar no nosso coração, na nossa mente e nas nossas atitudes durante todos os dias da Quaresma. Pois todos nós, sem exceção, precisamos converter algo em nossa vida. Converter pensamentos, atitudes, projetos... Converter nosso modo de nos relacionarmos com Deus, com nós mesmos, com nossos familiares, nossos colegas de trabalho... Converter nosso modo de nos relacionarmos com a sociedade, porque se continuarmos apenas a criticar, como poderemos transformar aquilo que ainda não está de acordo com o coração de Jesus Cristo, nosso Senhor?
Por isso a importância do jejum, da penitência e da oração. Nestes exercícios quaresmais, você vai colocar, como propósito, a sua própria conversão, a conversão daqueles que você traz no seu coração durante este período e também a conversão desta nossa sociedade, quando a Igreja nos convida a refletir, por meio da Campanha da Fraternidade 2018, sobre "Fraternidade e Superação da Violência: 'Vós sois todos irmãos' (Mt 23, 8)". Superarmos a violência compreendendo que todos nós somos irmãos, filhos do mesmo Deus; compreendendo que todos nós viemos do pó e ao pó retornaremos. Somos frágeis e precisamos, unidos como irmãos e como família, nos tornar mais fortes para viver o projeto de Deus.
Neste período, a liturgia também fica mais introspectiva. Os cantos se tornam mais serenos, mais tranquilos; não iremos cantar o Hino de Louvor até a Quinta-feira Santa... Tudo para nos ajudar a refletir sobre a caminhada quaresmal e essa busca de conversão.
Na primeira leitura que a Igreja nos coloca nesta Quarta-feira de Cinzas (Jl 2, 12-18), o Senhor nos diz pelas palavras do profeta Joel: "Voltai para mim com todo o vosso coração". Todos nós, mais ou menos, estamos desviados do caminho de Deus, e o Senhor te chama, meu irmão e minha irmã, a voltar para Ele! Quais são as nossas atitudes que devem voltar para o Senhor? Quais são as nossas palavras que devem voltar para o Senhor? Quais são os nossos pensamentos que podem estar voltados para pessoas, situações e ideias contrárias ao projeto de Deus? O nosso Deus é o Deus do amor e da misericórdia, que o profeta Joel nos diz que é "inclinado a perdoar". A inclinação de Deus não é para te castigar, para julgar os teus pecados; a inclinação de Deus é para ser amor, te acolher do jeito que você está e procurar transformar o teu coração pela Sua misericórdia.
Para isso, é necessário que você volte para o Senhor, com sua oração, seu jejum, sua penitência; que você, meu irmão e minha irmã, faça uma Quaresma sincera – não como os fariseus e publicanos, aqueles do Evangelho de hoje ((Mt 6, 1-6. 16-18) que, no tempo forte de conversão, saíam por aí dizendo para Deus e o mundo que estavam fazendo penitência, mas somente da boca para fora, pois o seu coração não estava voltado para Deus. Por exemplo, você não precisa dizer para ninguém qual é a sua penitência, você não tem a obrigação de dizer para ninguém se faz uma, duas, cinco, trinta penitências. É a sua penitência para com Deus, você não precisa demonstrar isso para ninguém. O importante é que, no final desta Quaresma, a sua penitência se transforme em gesto concreto. A sua penitência deve se transformar em atitudes concretas para com os mais necessitados, e esse dinheiro que você economizou deve ser revertido para transformar a vida de alguém. Se você não ajudar ninguém, de que valeu a sua penitência?
Do mesmo modo, a sua oração deve ser uma oração, em primeiro lugar, pela sua própria conversão. Você pode rezar pela conversão do seu marido, da sua esposa, dos seus pais, dos seus filhos, pela conversão do padre... Mas, em primeiro lugar, você deve rezar pela sua conversão, para que essa passagem do profeta Joel – "Voltai para mim com todo o vosso coração" – não seja apenas mais uma frase da Palavra de Deus que passa na nossa vida, mas que encontre morada no nosso coração e direcione nossa vida para nos encontrarmos com o Senhor. Pois, a partir da minha conversão pessoal, eu posso converter a minha família, as pessoas que eu amo e a sociedade – como nos pede a Igreja, para superarmos a violência por meio da fraternidade. E como podemos superar a violência se somos os primeiros a julgar uns aos outros, os primeiros a incitar o ódio, o preconceito, a discriminação? Como posso pedir para Deus converter o estado político brasileiro se eu, em primeiro lugar, não busco a minha própria conversão? Já refletimos diversas vezes que é fácil julgar quem está sob a ótica ou sob a mira das câmeras, mas e a nossa atitude? E a nossa busca de conversão?
Hoje, por acaso, eu estava assistindo ao telejornal na hora do almoço e vi que o prefeito de Diadema decidiu entrar na justiça contra a própria prefeitura para exigir seus direitos. E várias pessoas começaram a dizer nas Redes Sociais que o prefeito não presta.... Então eu meditava: "E se fosse eu que tivesse trabalhado em uma empresa e ela não tivesse pago meus direitos, eu ficaria quieto?". Porque julgar o outro é fácil... Não estou dizendo que ele está certo ou errado, é a justiça que vai dizer se ele tem direito ou não àquilo que está exigindo. Mas quando é seu direito e alguém diz que você não tem este direito, como você se sente? Às vezes precisamos, em primeiro lugar, buscar a conversão do nosso coração, talvez fazendo o "jejum da língua" e parando de falar mal dos outros – do governo, do técnico de futebol... Em vez de falar mal do outro, engula! Feche a boca! Faça jejum de não falar mal de alguém! Ainda que você não consiga todos os dias, comece este exercício para que essa coisa negativa não fique tomando conta do seu coração.
A segunda leitura (2Cor 5, 20 – 6, 2), nos diz: "Irmãos: somos, pois, embaixadores de Cristo". Será que eu sou digno, com as minhas atitudes de hoje, no primeiro dia da Quaresma do ano de 2018, de representar Jesus para a minha família e para os meus amigos? Representar Jesus na empresa onde eu trabalho, para as pessoas que buscam em mim atitudes evangélicas de amor, de solidariedade, de compaixão, de amizade, de carinho, de acolhimento? Ser embaixador de Cristo significa comungar dos mesmos ideais de Cristo, dos mesmos valores de Jesus Cristo, nosso Senhor. Jesus não condenou ninguém, Jesus não julgou ninguém, Jesus acolheu aqueles que estavam errados, Jesus corrigiu no amor os que estavam trilhando caminhos tortuosos. Aqueles que O pregaram no dia de Sua crucificação, Ele perdoou gritando: "Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem" (Lc 23, 34). Que ao recebermos as cinzas no dia de hoje, deixemos que as palavras de Paulo toquem nosso coração: "Deixai-vos reconciliar com Deus". Você que está afastado de Deus, afastado da Igreja, afastado de uma espiritualidade com o Senhor; você que há algum tempo não conversa com Deus, mas vive uma espiritualidade fria, de um Deus morto: volte! Reconcilie-se com Deus! Você que não conversa com alguém, que está com ódio no seu coração: reconcilie-se com Deus em primeiro lugar, e você verá o quão mais fácil será reconciliar-se com seu irmão ou sua irmã.
Que o Espírito Santo de Deus nos guie nesta caminhada quaresmal, para que, no deserto do nosso caminhar, os males não nos façam desanimar e as tentações não nos iludam a fim de nos impedir de chegar à Terra Prometida. Que possamos deixar o Espírito Santo de Deus e a passagem do Santo Evangelho – "Convertei-vos e crede no Evangelho" – ressoar no nosso coração todos os dias desta Quaresma.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quarta-feira de Cinzas (Ano B) – 14/02/2018 (Missa às 15h).

Preocupar-se com os doentes e realizar gestos concretos
11/02/2018
Nós estamos celebrando o 6º Domingo do Tempo Comum, neste dia em que a Igreja recorda também Nossa Senhora de Lourdes, a padroeira dos doentes e enfermos. Nossa Senhora, que aparece no século XIX em um pequeno povoado na França a uma jovem, pedindo que ela retornasse à gruta durante 15 dias. E essa jovem vai todos os dias naquela gruta até que no último dia Nossa Senhora se revela para ela como Nossa Senhora Imaculada Conceição e pede àquela jovem que possa construir naquele local uma igreja que seja refúgio para todas as pessoas doentes, físicas e espirituais. Para que as pessoas que ali passarem, façam uma experiência de Deus. E lá estive durante três dias, acompanhando peregrinos Italianos, quando lá morava, e confesso que nunca estive em uma cidade com tamanha espiritualidade como a pequena cidade de Lourdes. Pessoas vindo do mundo inteiro ali se encontram para rezar e entregar suas vidas à Deus. Muitos milagres inexplicáveis aconteceram naquela cidade. Todos os dias um grande milagre acontece naquela cidade também, quando pessoas vindas do mundo inteiro dedicam uma semana, um mês, às vezes um ano de sua vida, para acolher os doentes. A cidade inteira vive em função dos doentes: há pessoas de maca com soro e remédios são levados pelos voluntários até os locais de oração. É uma cidade que vive uma espiritualidade profunda, do coração misericordioso e acolhedor de Jesus.
Que nossa igreja hoje seja a extensão do santuário de Lourdes. Que os doentes que aqui vierem, possam fazer essa experiência do amor do Senhor e que nós, que estamos bem de saúde, possamos compreender a importância de acolher os doentes, os necessitados, aqueles que precisam de apoio, aqueles que precisam de ânimo, de oração. Nesse sentido, a liturgia de hoje vem a calhar com a festa que celebramos. Na Primeira Leitura, do livro do Levítico[Lv 13,1-2.44-46], nós temos a orientação dos sacerdotes para que haja harmonia e a saúde do povo de Israel seja preservada. Diferentemente de hoje, em que nós conhecemos milhares de doenças, naquela época não se conhecia muitas doenças. E aquilo que não se conhecia era afastado, sobretudo as doenças que eram transmitidas através do toque. E, portanto, as pessoas que naquela época tinham a lepra, eram afastadas do convívio de seus amigos, familiares e até mesmo da comunidade de fé para preservar a saúde dos demais. E por isso está escrito: “o homem atingido por este mal andará com vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando ‘impuro! impuro!’ Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e orar fora do acampamento”.
E, assim, a lei judaica foi sendo prescrita ao longo dos anos, mas nunca se buscou um momento de acolher estes leprosos. E aquilo que era uma lei para preservar a saúde, tornou-se uma lei que afastava os doentes da sua família, sociedade e igreja. No Evangelho de Marcos [Mc 1,40-45], vemos que Jesus vai na contramão do que sua tradição prescrevia. Um leproso – doente e excluído pela sociedade – vai ao seu encontro e Jesus toca neste doente e o cura. O que este Evangelho tem a nos dizer? Em primeiro lugar, sobre a fé deste homem doente que, embora excluído da sociedade, afastado da sua família – sem direito a participar da sua igreja e que enfrenta o desafio da distância porque estava afastado da cidade –, enfrenta a multidão que podia bater nele e expulsá-lo novamente da cidade para ir ao encontro de Jesus porque ele tem fé. A fé curou aquele doente.
Muitas pessoas vão na igreja, mas não porque tem fé. Vão porque a vó ensinou, a mãe ensinou, o pai ensinou, mas ainda não fizeram a experiência de Cristo misericordioso e acolhedor no seu coração. E é esta experiência íntima de Cristo, profunda e real, que nós devemos fazer na nossa vida. Porque o nosso discurso não pode ser vazio. A nossa fé não pode ser desassociada de nossas atitudes. E a atitude de Jesus foi de acolhida. Foi de ir ao encontro daquele doente, tocá-lo e curá-lo. Deste modo, na Segunda Leitura [1Cor 10,31-11,1], São Paulo fala para que nós sejamos imitadores de Cristo Jesus. E nos perguntamos hoje: até que ponto eu estou imitando, praticando as virtudes de Jesus Cristo Nosso Senhor? Quando um doente se aproxima de mim, eu o afasto ou o acolho? E as pessoas da minha família que estão doentes, hospitalizadas, algumas até abandonadas em asilos, será que eu estou indo visitar? Onde está a nossa prática de imitar as atitudes de Jesus? Somente ir à missa? Isto não é suficiente. É o primeiro passo de muitos outros que devem ser dados para vivermos o projeto de Jesus.
Essa semana, um ministro de nossa comunidade disse no grupo do WhatsApp que está indo sozinho visitar doentes nos asilos aqui do território paroquial. Quantos ministros aqui vestem a túnica bonita, mas não vão ao encontro dos doentes quando o padre pede: “por favor, visitem os doentes de nossa paróquia”? Tem ministros que preferem ficar vestidos com a túnica, se apresentando para a comunidade, na pureza da veste branca, mas na hora de viver o Evangelho estão correndo dos doentes da nossa comunidade. E eu pergunto para os nossos ministros se estamos corretamente vivendo o projeto de Jesus. Quando um ministro diz que está indo visitar os doentes sozinho e muitos que têm disponibilidade e tempo não se colocam à disposição, deveriam deixar seu ministério aqui nesta paróquia. Porque vestir a túnica não é simplesmente para aparecer, é para servir. E quanto mais eu sou visto, mais eu devo dar o meu testemunho. Esta mensagem serve também para todos nós que temos pessoas doentes que nós conhecemos e não dedicamos tempo para ir ao encontro das pessoas necessitadas. Somente quem já ficou internado, já ficou abandonado, sabe a importância de um sorriso, de um toque, da atenção. Somente quem passou por essa necessidade sabe. E se você se colocar no lugar daquele leproso do Evangelho de hoje, excluído da sua família, trabalho e dignidade humana, você vai entender o que estou falando. E se nós queremos viver, verdadeiramente, o projeto de Jesus Cristo Nosso Senhor, é hora de passarmos do puro sentimentalismo e irmos ao encontro da prática do Santo Evangelho.
Que o Senhor Jesus, nessa liturgia, toque profundamente o nosso coração. Sobretudo o coração daqueles que são assíduos na celebração da santa missa, para que possamos dar um passo a mais na nossa fé e no nosso testemunho de levar todos para Cristo Jesus. E que esse Cristo possa acalentar as dores da nossa alma e coração, as nossas necessidades físicas e espirituais, como cantamos no Salmo 31 da liturgia de hoje: “Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio”. Que o Senhor possa resgatar a alegria dos doentes que vêm a essa celebração buscando a cura. Que o Senhor possa resgatar a alegria e que seja nosso refúgio, nos amparando, nos abraçando e tocando em todas as nossas enfermidades.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 6º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 11/02/2018 (Domingo, missa das 10h).

A necessidade de pregar o Evangelho e estar a serviço
04/02/2018
Estamos celebrando o Quinto Domingo do Tempo Comum nesta busca de conhecermos quem é Jesus e iniciarmos – ou continuarmos – a percorrer o nosso caminhar em direção à vontade de Deus. Nesse sentido, a liturgia de hoje vem nos ajudar a meditar sobre em quem colocamos nossa confiança. Na Primeira Leitura [Jó 7,1-4.6-7], temos um contexto interessante, pois se ensinava – e hoje ainda algumas pessoas pensam isso também – que Deus recompensa os bons e castiga os maus. No templo de Judá começaram a questionar: “se Deus castiga os maus, porque aquela pessoa ali está matando, roubando ou traindo sua família e não acontece nada com ele?”. E, então, começou-se a refletir sobre esse castigo de Deus. E essa leitura serve para nos apresentar um Deus que é misericordioso, um Deus que ama a todos, indistintamente. O que acontece é que nós, muitas vezes, não colocamos Deus como prioridade em nossas vidas.
A história de Jó, mesmo sendo uma história literária – ou seja, não aconteceu de fato –, é uma história para nos ajudar a refletir sobre a vontade de Deus. Jó era uma pessoa muita invejada, pois ele tinha uma família muito numerosa e, naquela época, ter muitos filhos, diferente de hoje, era uma bênção de Deus. Jó também tinha certa riqueza e alguns diziam: “será que se ele não tivesse essa família tão bonita, teria essa fé toda? E se ele perdesse toda a sua riqueza, será que ele continuaria firme em Deus?”. E o que acontece é que Jó perde toda a sua família e depois perde toda a sua riqueza e, consequentemente, perdeu todos seus amigos. E aí alguns diziam: “cadê a sua fé em seu Deus agora?”. Jó então, depois de passar por uma crise – pois a crise faz parte da existência humana, por mais que nós não queiramos passar pelas crises que a vida nos faz enfrentar, ela nos fortalece – de perder sua família, bens e amigos, restitui a sua fé e sua integridade, voltando a acreditar em Deus. Essa leitura nos ensina que devemos colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas. A família é importante? Sim! Mas quem está acima da família? Deus! Deus em primeiro lugar.
Às vezes somos tão agarrados com nossa família que chegamos ao ponto de idolatrá-la e abandonar a Deus, em alguns casos. Quantas mães que não conseguem cortar o cordão umbilical? Quantos problemas temos de sogra(o) com nora e genro, pois não cortaram o cordão umbilical? Quantas pessoas não conseguem deixar a família e guiar sua própria vida? A família é importante e devemos protegê-la sim, mas também devemos dar espaço e a oportunidade de nossas famílias crescerem e caminharem por conta própria e saber que um dia, mais cedo ou mais tarde, nos separamos, seja porque os filhos crescem e se mudam ou porque, às vezes, os filhos, infelizmente, partem antes dos pais. Na ordem natural das coisas, os pais partem primeiro para junto de Deus e aqueles filhos que não conseguem entender uma vida sem o pai e sem a mãe, entram em depressão profunda. Passar pela crise, pela dor do luto, pelo sofrimento e pela separação do ente querido é natural, mas não podemos viver o resto da vida em luto. E quando Deus não está em primeiro lugar na minha vida, eu vou viver esse luto eternamente.
E é algo em que devemos pensar, acima das riquezas materiais, que são importantes para nos dar qualidade de vida. Mas não podemos colocar a riqueza ao posto de Deus. Porque assim, se perdemos a riqueza, perdemos tudo. E quantas pessoas pensam mais na riqueza do que em Deus? Pensam mais na riqueza do que na própria família. Quantos problemas de casais que, de tanto pensar no dinheiro, a família acaba sendo destruída, fragmentada. A família não consegue viver em harmonia porque tudo gira em torno do dinheiro. Se você perde a família ou o dinheiro, você nunca vai perder a sua fé, se colocar Deus em primeiro lugar. E a vida e o testemunho de Jó são um exemplo para todos nós. E é também o que relata o Salmo 146 da liturgia de hoje: “Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações.”. A nossa vida deve ser um eterno louvor a Deus, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, igual no casamento. Louvar eternamente ao Senhor por tudo que ele faz. O salmista nos diz: “Ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura; fixa o número de todas as estrelas, e chama a cada uma por seu nome”.
E quantos corações despedaçados Deus conforta! Essa semana foi atípica e vim mais vezes do que de costume à igreja. E achei interessante pois, todos os dias em que passei aqui, tinha alguém rezando pra Deus nesses bancos. E mais interessante ainda é que são pessoas que não frequentam a igreja. Quantas pessoas chorando, quantas pessoas entregando a vida, com aquele olhar fixo em Nosso Senhor Jesus Cristo. Talvez não encontrou refúgio em sua família, no seu grupo de amigos, mas encontraram consolo no silêncio aqui da igreja. É isso que o salmista nos fala: Deus nos toma no colo e deseja curar as nossas feridas. Mas, para isso, não podemos nos revoltar contra Ele. Pois nem tudo acontece porque Deus planejou. Deus nos deu a liberdade e o conceito de liberdade no cristianismo é fundamental para entendermos isto. Deus não está lá em cima jogando videogame escolhendo quem morre a cada momento. Não! Deus nos deu a liberdade e vai nos acompanhando e apresentando caminhos, mas é necessário que nós sigamos o bom caminho, pois ele não obriga ninguém.
Esse Deus que está sempre próximo aos mais necessitados é aquele que vemos no Evangelho de hoje [Mc 1,29-39], em que Jesus, ao sair da sinagoga, vai para a casa de Pedro e, vendo sua sogra doente, se aproxima, toca nela e restitui a sua saúde. Esse Evangelho tem três atitudes fundamentais que servem para nós. A primeira é ir ao encontro do necessitado, pois, como pregávamos domingo passado, nossas palavras não podem estar dissociadas das nossas atitudes. E Jesus disse: “Vinde até mim todos que estão cansados, como ovelha sem pastor, e eu lhes darei abrigo, vou curar suas feridas”. E é Jesus que vai ao encontro do doente. Quantos doentes temos na nossa família e que não visitamos? Quantas pessoas deprimidas, isoladas e nós não vamos ao encontro?
A segunda atitude é que Jesus chega à doente e a toca. E nós, às vezes, temos discursos bonitos, mas quando nos aproximamos de alguém enfermo ou doente, nós mantemos distância. E só quem já precisou de um abraço, sabe da importância de um gesto de carinho, de um beijo, de um acolhimento. Ontem eu estava para começar a missa e uma senhora que perdeu o filho veio me ver. Quando ela perdeu o filho, estava internada na UTI e não pode acompanhar o velório e o enterro. Quando ela me viu, perguntou se podia me dar um abraço. E eu não tenho palavras para traduzir o que foi aquele abraço. Um abraço de agradecimento e consolo, um abraço de entrega da sua vida em Deus. São tantas coisas que daria para falar daquele abraço. E este gesto me deu tamanho fôlego, que eu comecei a celebrar a missa com tanto entusiasmo que eu acho que aquele abraço curou muitas feridas em meu coração. Um abraço pode transformar a nossa vida. E quantas pessoas em nossas famílias e em nosso convívio social estão precisando de um abraço, de carinho e atenção e, muitas vezes, nós não temos uma atitude cristã de ir ao encontro e acolher, tocar e ajudar as pessoas.
A terceira atitude foi que, depois de restituir a saúde daquela mulher, como diz o Evangelho, ela se colocou a servir a Jesus e aos discípulos. Essa atitude do serviço é fundamental para nós pois, depois que faço a experiência de Jesus na minha vida, depois que faço a experiência da cura física ou espiritual, eu devo me colocar a serviço do Reino dos Céus. Quantas pessoas acabam vindo à igreja como se aqui fosse um supermercado: vem, pega o que quer e depois vai embora. Quando está doente e desempregado, com problema na família, vem à igreja. Depois que conseguiu a graça, desaparece. Quantos permanecem para servir o Reino dos Céus? A sogra de Pedro não foi embora, ela ficou. Ela contribuiu no serviço do anúncio do Reino e assim também devemos ser todos nós: após fazermos a experiência da cura, a experiência de Jesus, devemos nos colocar a serviço dando catequese, na pastoral da acolhida, na pastoral dos músicos, com os ministros, coroinhas, junto às pessoas que ajudam na manutenção ou que rezam, por exemplo. Ou seja, devemos, de algum modo, nos colocarmos a serviço do próximo. Esse deve ser o nosso objetivo: ajudar, nem que seja com o mínimo do nosso tempo, da construção do Reino dos Céus. Porque, como disse São Paulo na Segunda Leitura [1Cor 9,16-19.22-23], “pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho!”.
Quem faz a experiência real de Cristo Jesus, se torna um pregador do Santo Evangelho e, muitas vezes, acreditamos que pregar o Evangelho é pegar o microfone e falar bonito, não é? Acima de tudo, pregar o Evangelho é viver, no testemunho, o que Jesus nos pede. Você prega o Evangelho com testemunho silencioso no seu matrimônio, prega o Evangelho educando seu filho pra Jesus, corrigindo em Cristo Jesus. Você prega o Evangelho no seu trabalho quando te convidam para qualquer tipo de corrupção e você rejeita essa corrupção. Você está pregando o Evangelho quando pessoas da sua escola e no seu grupo de amigos te levam valores que são contrários ao projeto de Deus e você diz: “disso eu não participo porque a minha fé não permite”. Em tudo isto, você está testemunhando o Evangelho e a sua fé, e se colocando a serviço do Reino dos Céus. Disse Paulo: “com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do Evangelho eu faço tudo, para ter parte nele.”.
Que, ao celebrarmos a liturgia de hoje, nós possamos louvar ao Senhor, como nos diz o Salmo 146 da liturgia de hoje, pois Ele deseja confortar os nossos corações. Independente das nossas tristezas, das nossas amarguras, das nossas decepções, confiemos em Deus. Ele que deseja vir ao nosso encontro, como foi ao encontro da sogra de Pedro, e curar nossas enfermidades físicas e espirituais para que possamos nos levantar, assim como ela fez, e nos colocarmos a serviço do Santo Evangelho. Porque pregar o Evangelho é uma necessidade de todos que fizeram a experiência do Cristo, o ressuscitado.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 5º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 04/02/2018 (Domingo, missa das 10h).

Ser profeta é pregar aquilo que se vive
28/01/2018
Celebramos, na última quinta-feira, 25 de janeiro, o aniversário de nossa paróquia! E nas missas deste fim de semana, estamos comemorando os 78 anos em que aqui foi erguida uma nova paróquia, como porção do povo de Deus reconhecida pela Igreja Católica – que nós temos como um caminho de fé, de vida e de salvação –, tendo a possibilidade de um sacerdote, de uma comunidade que se reúne para celebrar o Santo Sacramento e de ser, nesta região, um sinal de esperança, de amor, de fraternidade; um sinal de transformação dos corações e da realidade social. Muitas atividades foram realizadas nestes 78 anos, muitos padres passaram por aqui, muitos leigos e agentes de pastoral ajudaram nesta comunidade; muitas pessoas reencontraram o caminho da felicidade e muitos casais foram restaurados. Que Deus continue a nos amparar, nos proteger e suscitar, no coração deste povo aqui reunido, o ardente desejo de continuar a manter as portas desta igreja aberta, e que as nossas atividades sejam sempre em função de apresentar Jesus Cristo, nosso Senhor, a todos os corações.
Nesse sentido, temos a alegria de a liturgia de hoje, proposta pela Igreja, vir de encontro com o que nossa comunidade deseja, que é vivermos o nosso profetismo. Pelo batismo, todos nós nos tornamos profetas, para falar em nome de Deus, para anunciar a esperança em Deus, para denunciar as injustiças. Mas a nossa palavra deve estar conjugada, necessariamente, com as nossas atitudes. Na primeira leitura [Dt 18, 15-20], nós estamos num contexto em que o profetismo não é exclusividade do povo de Israel. Existiam muitas religiões, muitas tribos que tinham os seus profetas, sobretudo os cananeus e os assírios. Mas profetas de um modo diferente... Profetas que, após exalarem alguns "perfumes de plantas", começavam a falar em nome de Deus. Outros que, ritmados por uma dança ou um canto, entravam em uma espécie de transe para falar em nome de Deus. E o autor do livro do Deuteronômio vem nos colocar que nem todo profeta fala em nome de Deus. Primeiro é Deus quem escolhe o profeta e, depois, este profeta deve responder ao chamado do Senhor. E ao falar em nome de Deus, as nossas palavras devem estar em consonância, de acordo com aquilo que vivemos no nosso dia a dia. Porque não existe profeta que denuncie, que fale de Deus sem viver aquilo que profetiza.
Assim, nós somos chamados à atenção, pela Igreja, se eu e você não estamos, de algum modo, falando uma coisa e fazendo outra. Profetas do nosso tempo estão indo a cartomantes, a adivinhos, a outros lugares para saber a vontade de Deus, mas deixando de colocarem-se de joelhos diante do Sacrário. Têm pessoas que fazem aquilo que o seu signo pede, mas não realizam aquilo que Deus fala em seu coração. Os profetas de hoje, muitas vezes não são ouvidos porque as suas atitudes não correspondem às suas palavras. Nesse sentido, Moisés se torna exemplo para nós, porque é retirado do meio do povo e, após ser purificado em Deus, volta para conduzir este povo à verdade, à purificação, à salvação. Hoje, eu e você somos chamados a ser profetas. Profeta como padre, profeta como pai, como mãe, como esposo, como esposa, como professor... Você que lidera algum grupo de pessoas também é chamado a ser profeta, e o seu profetismo só terá sentido, significado, só será real e verdadeiro na medida em que as suas palavras corresponderem aos seus atos. Porque quantas são as pessoas, hoje, que falam o que não vivem. Todos nós, meus irmãos, somos pecadores; o que nos distingue, talvez, é o quanto nós não estamos acostumados com nosso pecado ou com a nossa discrepância entre aquilo que falamos e aquilo que vivemos. Quantos são os filhos, hoje, que questionam os pais – "Mas por que eu não posso fazer se você faz?", "Mas por que eu não posso ir em tal lugar se você vai?"... Na medida em que um jovem nos questiona, muitas vezes nos calamos, porque não temos resposta para dar diante da nossa falta de testemunho. Testemunho este que leva Jesus, no Evangelho de hoje [Mc 1, 21-28], a encantar o povo que estava na sinagoga.
Jesus, num dia de sábado, como era costume, vai à sinagoga – que, nesta passagem, não era a sinagoga que Ele costumava frequentar. Ali, tinha-se o hábito de chamar alguém do meio do povo para refletir sobre a leitura proposta naquele dia. Jesus é escolhido e, ao começar a falar, encanta o coração de Seus ouvintes. Porque Jesus – diz a Palavra de Deus – falava com autoridade, e não como os escribas. Os escribas eram os estudiosos das Sagradas Escrituras, que sabiam tudo a respeito da Lei, mas que, fora da sinagoga, não praticavam o que pregavam lá dentro. Desse modo, ainda hoje podemos ter pessoas que pregam algo dentro da igreja, mas que, fora dela, vivem outro projeto, que não é o projeto de Deus. E neste chamado que Deus faz a cada um de nós no dia do nosso batismo, para sermos profetas, somos chamados a falar de Deus com amor, encantando o coração dos nossos ouvintes. Na medida em que as minhas atitudes correspondem às minhas palavras, não há o que temer para falar em nome de Deus! Um pai e uma mãe que educam seus filhos de acordo com suas atitudes, não têm o que temer; um irmão que corrige seu irmão, um amigo que corrige o outro amigo diante da sua própria postura, não tem o que temer. Mas quando queremos corrigir as pessoas sem viver daquele modo, torna-se difícil exercer o nosso profetismo.
Como Moisés e como Jesus, nós devemos pregar o Reino de Deus, e não a nós próprios. Porque muitos profetas podem nos confundir, pregando suas próprias convicções, suas próprias necessidades, em vez de falarem do Reino de Deus, proposto por Jesus. Se aqui estamos é para pregar o Reino de Jesus – que não é nosso! Nós somos participantes deste Reino. E na medida em que eu falo com amor, que eu falo com autoridade, os espíritos imundos caem diante de nós, como aconteceu no Evangelho de hoje. Quando as nossas palavras encontram ressonância nas nossas atitudes, os espíritos imundos vão se afastando de nós. Mas, muitas vezes, nós acabamos nos acostumando com os espíritos impuros. E quantos espíritos impuros podem estar alojados em nosso coração, alojados em nosso subconsciente, alojados em nossas atitudes, em lugares que frequentamos, em amizades que não ajudam a nossa maturidade cristã de viver o projeto de Deus.
Seja onde quer que nós estejamos, ali somos chamados por Jesus a dar testemunho desta profecia – quando não falamos em nome próprio, mas falamos em nome de Deus. Para isso, é necessário anunciarmos o amor, a misericórdia e a justiça. E quantas pessoas, em nome de Deus muitas vezes, anunciando o desamor, o preconceito, a exclusão... Essa semana, quantas pessoas propagando o ódio nas Redes Sociais! Quando o ex-presidente da república é julgado em segunda instância, pessoas que não entendem o mínimo de direito, deixando-se levarem pelos meios de comunicação, continuaram a instigar o ódio nos grupos de conversa... Não estou absolvendo nem mesmo condenando, porque não cabe a mim, não cabe a nós, mas à justiça brasileira. Cabe a nós, como profetas do amor, rezar para que seja feita a justiça. Mas tem gente se fazendo juiz! E quantas vezes Jesus advertiu para não sermos juízes uns dos outros? Se ele for condenado, que seja feita a justiça; se for absolvido, igualmente, que seja feita a justiça. O que cabe a nós, como cristãos, não é propagar o ódio, mas o amor. O cristão vive o amor, não o ódio, para todas as pessoas, indistintamente.
Paulo nos fala, na segunda leitura [1Cor 7, 32-35], que ele gostaria que nós tivéssemos menos preocupações. "Irmãos, eu gostaria que estivésseis livres de preocupações". Eu também gostaria que vocês estivessem sem preocupações, mas é impossível. Nós estamos constantemente preocupados – com o nosso ser, com a nossa fé, com a nossa família, com o trabalho, com o matrimônio, com a educação dos nossos filhos, com o futuro da sociedade brasileira, com o futuro desta paróquia a qual hoje comemoramos os 78 anos de vida... As preocupações fazem parte da nossa vida. O que Paulo quer dizer é para não deixarmos o que é essencial para ficarmos preocupados com o que é supérfluo. E quantas vezes nós deixamos de ser profetas porque nos preocupamos com coisas e situações que não podemos mudar, enquanto que com o lugar onde estamos, com as pessoas que fazem parte da nossa vida – com os quais podemos ser profetas – nós não nos preocupamos. O povo de Israel estava com seu coração fechado quando Deus lhes falava. E a resposta do Salmo 94 (95) à primeira leitura de hoje é justamente nesse sentido: "Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus!".
Que ao celebrarmos esta eucaristia, comemorando o aniversário da nossa paróquia, o nosso coração não se feche àquilo que Deus está nos chamando: para sermos profetas não do ódio, mas do amor; da justiça e não da injustiça; profetas da transformação do coração e da sociedade; não para ficarmos parados observando, inertes à realidade que vai sendo desconstruída dia após dia pelos meios de comunicação e por valores contrários ao projeto de Deus, que estão sendo implantados no nosso coração. Que o nosso coração se abra para podermos equacionar, configurar as nossas palavras com as nossas atitudes. Que as preocupações desnecessárias da nossa vida sejam purificadas por Nosso Senhor Jesus Cristo para que, nesta sociedade sedenta de amor, eu e você sejamos profetas da esperança, profetas de um novo amanhecer. Que o nosso coração não se feche, nem hoje nem nunca, para a voz de Deus, para a voz de Jesus e dos novos profetas que vão surgindo na Igreja, na nossa sociedade e, até mesmo, nas nossas famílias.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo do Tempo Comum (Ano B ) – 28/01/2018 (Domingo, missa das 10h).

Pregar o Evangelho da Salvação e viver no tempo de Deus
21/01/2018
Estamos celebrando o 3º Domingo do Tempo Comum, no qual a Igreja continua a nos propor o chamado de Deus, recordando que é Ele que nos chama. Desde o ventre de nossa mãe, Ele nos conhece: sabe nossas fragilidades, nossos pecados, dons, virtudes e falhas. Mas, mesmo assim, Deus continua a nos chamar. E a resposta é sempre nossa, não do outro. Eu devo dar a minha resposta ao chamado de Deus. E é nesse contexto do chamamento divino que a Igreja nos apresenta a Primeira Leitura, do livro do profeta Jonas [Jn 3,1-5.10]. Esta leitura nos fala de um rapaz um tanto teimoso. Porque Deus o chama para ser missionário, para evangelizar e espalhar Sua Palavra, mas Jonas vai no sentido oposto do que Deus quer.
Desculpa se eu escandalizo vocês, mas este livro não é histórico, mas sim um livro literário. Em outras palavras, Jonas não existiu efetivamente. Este livro foi escrito pelos catequistas e pelos evangelizadores do período em que o povo de Israel estava centrado em si mesmo e não queria acreditar de modo nenhum de que Deus agia nos outros povos, sobretudo na vida dos pagãos. Então, alguém começou a refletir sobre esta escolha do povo de Israel – que não estava de acordo com o projeto de Deus – e escreve o livro de Jonas para orientar, instruir e informar o povo de Israel que o nosso Deus é o Deus do amor e da misericórdia. Independente se é o povo de Israel ou se é o povo pagão, Deus chama a todos e deseja salvar a todos, indistintamente. E, para isso, Ele chama a nós, crentes, para irmos e pregar essa Palavra. Portanto, se tem alguém com quem você brigou há algum tempo e você tem ódio daquela pessoa, saiba que você até pode ter ódio, mas Deus continua amando aquela pessoa. Se você já condenou e crucificou alguém que fez algo errado no passado, Deus continua amando essa pessoa. Deus não ama o pecado, mas ama o pecador e luta para que ele converta o seu coração. E essa também deve ser a nossa atitude: não condenarmos os pecadores, mas sim o pecado, e lutar para que o pecador alcance o caminho da salvação.
O que não pode acontecer é sermos teimosos como Jonas. Porque Deus chama Jonas para ir à cidade de Nínive, mas Jonas vai no sentido oposto. Será que Deus não está nos chamando para pregar a Palavra em casa, na igreja, em casa, no trabalho, para sermos mais fiéis na fé que professamos e nós estamos indo no sentido oposto ao que Deus nos pede? Será necessário cairmos no mar em nossas vidas e sermos engolidos por um peixe? E esse peixe pode ser muita coisa. Pode ser as coisas ruins que acontecem na nossa vida como as situações de tristeza e desolação. Será que somente assim entenderemos que Deus está nos chamando para uma vida nova? É importante que a Igreja do terceiro milênio entenda que nós, que professamos a fé em Deus, não selecionamos quem se salva e quem não. Isso compete a Deus. A nossa missão é pregar o Evangelho da Salvação. E assim como Jonas, que é enviado para uma cidade grande – uma metrópole – para a qual eram necessários três dias de caminhada para ser atravessada, nós também encontramos hoje dificuldades na nossa metrópole. Dificuldade de pessoas com muitos modos diferentes de pensar; pessoas com classes sociais diferentes, formações diferentes; pessoas com espiritualidades diferentes e com filosofias de vida diferentes. Mas é nessa diversidade que, como Jonas, somos chamados por Deus para ir e pregar o Evangelho.
Do mesmo modo, Paulo, na Segunda Leitura de hoje [1Cor 7,29-31] é enviado à cidade de Corinto, uma cidade metropolitana e portuária, à qual vinham pessoas do mundo inteiro. Deste modo, Paulo teve que encontrar uma linguagem que alcançasse o coração daqueles homens e mulheres. E Paulo escreve a eles que o tempo está abreviado. O que Paulo quer dizer com isso? Estamos em um contexto em que a cidade de Corinto era uma cidade com pessoas diversas, sobretudo marinheiros, homens, de diversas espiritualidades, filosofias de vida, compreensão do mundo e formação academia. Enfim, pessoas das mais variadas raças e credos possíveis. Estamos em um contexto em que a comunidade estava nascendo em Corinto, alimentada pela espiritualidade de Paulo, que ainda não tinha entendido que nós não sabemos quando Jesus vai voltar exatamente. Paulo pregava que Jesus estava para voltar, mas é somente mais tarde Paulo vai entender que nós não sabemos quando Deus voltará. Por isso, ele escreve: “se você está casado, cuida do seu casamento; se não está casado, não se case, porque Jesus está para voltar”.
Para complicar um pouco mais, Paulo fala que nosso corpo é templo vivo do Espírito Santo e que devemos cuidar dele, das nossas escolhas e dos lugares que frequentamos assim como cuidamos da Igreja, do corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, nessa cidade, a deusa mais famosa era a deusa Afrodite, que era a deusa do amor, da beleza corporal e do sexo. Logo, Paulo tem que falar de uma religião onde nós não vivemos em função do sexo, mas vivemos em função de Deus. É para Deus que nascemos, é em Deus que nos movemos e para Deus que nos dirigimos. É neste contexto difícil que Paulo não se cala e encontra palavras que podem tocar o coração do povo de Corintos. E é nesse contexto que nós também vivemos, em que muitos deuses hoje são adorados, inclusive o deus do sexo, da pornografia e do erotismo. Em meio a isso, também nós, devemos encontrar palavras que toquem o coração das pessoas. Hoje, não adianta mais dizer: “isso é pecado, você vai para o inferno”. Você deve encontrar palavras que possam amadurecer o coração das pessoas, inclusive dos jovens.
É nessa busca de amadurecer os corações que a Igreja nos propõe o Evangelho de Marcos [Mc 1,14-20] onde Jesus nos fala para convertermos o nosso coração e cremos no Evangelho. O evangelista se utiliza de um lado diferente, mais teológico e simbólico do que os demais. Porque ele quer apresentar o caminho para seguir Jesus Cristo, filho de Deus, o nosso salvador. E ele coloca na boca de Jesus essas palavras: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.
Convertei-vos e crede no Evangelho!”. O evangelista não está preocupado com o tempo cronológico, mas com o tempo kairológico. Kairós é o tempo de Deus, e Cronos é o tempo que vivemos baseado no relógio. Hoje, por exemplo, é dia 21 de janeiro de 2018. Esse é o tempo cronológico. O tempo kairológico é o tempo de Deus, onde não existe mês, ano, horas e minutos. Quando eu era mais jovem, um pregador da minha comunidade disse algo que me fez decorar e entender o tempo de Deus e o tempo cronológico. Quando você vem à missa e fica pensando que está demorando muito e depois da bênção final já vai embora correndo, você está vivendo o tempo cronológico. Mas quando você vai à missa e no final você tem a impressão que o tempo quase não passou e pensa que acabou rápido, você entrou no tempo kairológico. Você está no Kairós, no tempo de Deus. E é neste tempo de Deus que você ouve a voz de Jesus te chamando: “vem e segue-me que vou fazer de você pescador de homens”. É no tempo kairológico que Jesus chama Pedro, André, Tiago e João bem como os demais apóstolos. E é neste tempo kairológico que Deus também deseja te chamar. Quando você está mergulhado em Deus, inserido no mistério da salvação, com seu ouvido, seu olhar e sua atenção voltados para Deus, é neste momento que ele te chama para ser pescador de homens.
É nesse contexto que a Igreja recorda que você é chamado para ser apóstolo na sua casa, no seu trabalho. Com seus dons, seu modo de ser e seus talentos para anunciar o Evangelho da Salvação. E nesse mundo de tantas possibilidades, peçamos ao Senhor que o Salmo 24 da liturgia de hoje nos ajude a entender qual é o caminho que devemos seguir porque, diante de tantas escolhas, não raras vezes nos perdemos pelas estradas da vida. Que a verdade do Senhor possa nos orientar e nos conduzir. Que ao celebrar essa Eucaristia, comungando essa Palavra e do sacrifício do Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele nos mostre Seu caminho, Sua verdade e nos conduza à felicidade e à salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo do Tempo Comum (Ano B ) – 21/01/2018 (Domingo, missa das 7h30).

Silenciar o coração para ouvir a voz do Senhor
14/01/2018
Meus irmãos e minhas irmãs, nós estamos celebrando o 2º Domingo do Tempo Comum. E, ao celebrar este início do Tempo Comum, a Igreja nos convida a ouvirmos a voz de Deus, porque, diante de tanto barulho, muitas vezes nós não ouvimos Deus falando conosco, e não raras as vezes, quando conseguimos ouvi-Lo, não compreendemos qual é a Sua vontade para nossa vida. Nesse sentindo, a Primeira Leitura [1Sm 3, 3b-10. 19] conta a história de um jovenzinho – Samuel – que estava estudando para ser sacerdote. Certa noite, Deus o chamou pelo nome por quatro vezes. Na primeira vez, ele acordou e foi até Eli – o sacerdote que o instruía –, que disse: "Eu não te chamei. Volta a dormir!". Na segunda vez, idem: "Não te chamei, meu filho. Volta a dormir!". Na terceira vez, Eli pensou: "Não é possível! Pode ser Deus que está falando com Samuel", e disse ao jovem: "Se você ouvir novamente o seu nome, responda: 'Eis-me aqui, Senhor!'". E Samuel fez isso na quarta vez que Deus o chamou.
É interessante o contexto dessa leitura, porque estamos no período em que o povo de Israel estava deixando de ser nômade para estabelecer morada, em um território que muitas pessoas queriam invadir, conquistar, para fazê-los de escravos. Então, o povo precisava fazer alianças, instituir exércitos, definir a questão financeira e tantas outras coisas. E quando iam para a guerra, voltavam machucados, seus familiares eram mortos, a religião ia ficando cada vez mais fraca... É nesse contexto que Deus escolhe o jovem Samuel para servi-Lo como sacerdote, profeta e líder. E a história se torna ainda mais interessante por ser a primeira vez que nós vemos Deus chamando alguém para exercer essas três funções. Normalmente, o sacerdote estava rezando para o profeta ficar quieto (pois o profeta ficava criticando o sacerdote e o líder); o profeta, por sua vez, estava falando mal de todo mundo e dizendo que tínhamos que ouvir a voz de Deus; e o líder tentava apaziguar todos os corações. E na figura de uma única pessoa, um jovem, Deus reúne essas três funções.
Nessa leitura, nós nos encontramos, então, na medida em que somos capazes de, em primeiro lugar, silenciar o nosso coração para ouvir a Deus – porque, diante de tanto barulho, temos dificuldade não apenas com o barulho exterior, mas também com o barulho interior; às vezes até estamos em um local quieto, sem barulhos externos, mas nossa mente está trabalhando o tempo todo: muitos rumores, muitas vozes, muitas atividades, muitas coisas. Todo ano, nós padres vamos para um retiro, e costumamos brincar que nosso retiro começa, no mínimo, no segundo dia, porque no primeiro ainda estamos acelerados, preocupados com a paróquia, pensando nas muitas coisas que temos que fazer ao mesmo tempo... Até começarmos a desacelerar, leva tempo, como também leva tempo para você ouvir a voz de Deus falando no seu coração. E a pergunta que nos fazemos hoje é: eu tenho conseguido silenciar, exterior e interiormente? Tem gente que não sabe chegar em casa e não ligar a TV, o rádio, o celular... Fazer algum barulho. Tem gente que tem medo do silêncio, e Deus fala conosco no silêncio. Então, você tem conseguido silenciar o seu coração? Em meio a seus muitos afazeres, você tem conseguido reservar um tempo para se encontrar com Deus?
Segundo: essa leitura nos ensina a importância das pessoas mais velhas em nossa vida. Samuel, jovem, não entendia que era Deus que estava falando com ele, e foi ao encontro do sacerdote Eli, figura mais velha. Nós, muitas vezes, temos dificuldade em ouvir as pessoas mais experientes. E, por sua vez, os mais experientes nem sempre têm paciência com os mais jovens. Eli foi uma figura fundamental na edificação, na formulação do coração e das ações de Samuel; se não fosse Eli como instrumento de Deus na vida dele, talvez Samuel nunca tivesse entendido qual era a vontade do Senhor. Será que nós estamos ouvindo os mais velhos? Será que nós temos a humildade de ir ao encontro das pessoas mais experientes para pedir orientação? E será que nós, enquanto mais velhos, temos paciência com os mais jovens? Mais jovens no sentido de idade, mas também no sentindo de experiência, por terem começado alguma coisa mais tarde – a namorar, a trabalhar, a vir à igreja... Às vezes não temos paciência com as pessoas que estão chegando agora, e precisamos ter.
É necessário, também, pensarmos na figura de Eli como sacerdote, porque, na paróquia, independentemente se é o padre Tiago ou outro padre, o sacerdote é aquele que orienta o povo a ele confiado, e muitas vezes não o vemos como um instrumento de Deus na comunidade, vemos somente seu lado humano. É necessário olhar o sacerdote com o olhar da fé e ir ao seu encontro para também deixar-se instruir, orientar por ele. Quantas pessoas vêm à igreja para conversar com o padre, pedir orientação. Ao chegar diante do sacerdote, a pessoa encontra paz, encontra tranquilidade para continuar o seu caminho e exercer o seu batismo – pois, pelo batismo, nos tornamos sacerdotes, profetas e pastores, como Samuel. Sacerdotes para sermos uma bênção na vida um do outro; profetas para denunciarmos o que está errado; e pastores para apontarmos o caminho certo, o caminho de Deus, e exercer esta liderança na vida das pessoas. Pode ser que, na sua casa, a sua família esteja fragmentada, dividida, precisando de uma figura como Samuel, e Deus pode estar lhe chamando para unir a sua família novamente. Lá no seu trabalho, pode ser que as pessoas estejam em "pé de guerra", um passando por cima do outro, e você pode estar sendo chamado por Deus para exercer, ali, uma liderança evangélica. Aqui, nesta comunidade de fé, Deus pode estar lhe chamando para exercer algum tipo de liderança, para conduzir alguma pastoral nesta igreja. Enfim, Deus vai agindo.
O Salmo 39 (40) de hoje é uma resposta belíssima à Primeira Leitura, porque diz: "Eis que venho, Senhor, com prazer faço a vossa vontade!". Ir ao encontro de Deus não por obrigação, mas com prazer realizar a vontade de Deus em nossa vida. E uma das vontades de Deus é que nós aprendamos a apontar o Cristo Jesus, o nosso Salvador – como vemos no Evangelho [Jo 1,35-42], quando João Batista, um homem muito aclamado, uma pessoa muito querida, sendo seguida por tantas pessoas, é capaz de ter a humildade de, ao ver Jesus passando, dizer: "Eis o Cordeiro de Deus!". "Eu não sou o Cordeiro. Eu não sou o Salvador", e aponta para Jesus. E os dois discípulos, então, começam a seguir o Senhor. Nós não somos o Cristo, nós não somos salvadores; nós apontamos o caminho da salvação. Quando entendemos a nossa missão, quando entendemos a nossa vocação, nós respondemos ao chamado de Deus indicando, para nossa família e para nossos amigos, o caminho de Jesus Cristo, nosso Senhor. E a outra pergunta que nos fazemos hoje é: que caminho eu estou apontando? Para quem eu estou apontando? Porque, muitas vezes, as pessoas chegam com dificuldades diante de nós e nós apresentamos simpatias, horóscopos, apresentamos o psicólogo (que é até recomendável que todos procurem), mas não falamos para ir à igreja, não falamos para encontrar Jesus. Alguns, pior ainda, apontam o bar, apontam as drogas... Eu estou apontando Jesus ou estou apontando caminhos contrários ao projeto de Deus? Para quem eu estou apontando e que caminho estou apontando? O caminho para a felicidade? O caminho para a salvação?
Depois, ainda no Evangelho, nós vemos que André volta para casa para falar com seu irmão mais velho, chamado Simão. André chega em casa e convida Simão para conhecer Jesus, que larga tudo e vai. E Jesus, ao vê-lo, diz: "'Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas' (que quer dizer pedra)". Em outro Evangelho, Jesus vai dizer: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja!" [ref. Mt 16, 18a]. Se não fosse André, Simão talvez não teria conhecido Jesus. Será que nós estamos apontando Jesus? Estamos levando as pessoas a Jesus Cristo, nosso Senhor? É necessário que, ao nos encontrarmos com Cristo, voltemos para casa e apresentemos Jesus às pessoas. E quantas vezes nós não fazemos isso... Falamos de tudo, menos de Jesus. Isso quando não menosprezamos as pessoas! Porque se, antes, eu falei que os jovens devem prestar atenção nos mais velhos, agora os mais velhos também precisam prestar atenção nos mais novos. Simão poderia ter dispensado André por se achar mais experiente, mas não, ele foi aonde o irmão estava indicando e sua vida foi transformada. Às vezes, olhamos para alguém e dizemos: "Esse aí não vai acrescentar em nada! Não vou chamá-lo para estar comigo". Às vezes, na igreja, nós fazemos discriminação entre as pessoas: "Não, aquele ali não tem condições!". E em quantas pessoas, nesta paróquia, nós já descobrimos verdadeiros dons, verdadeiras lideranças para conduzir pastorais, grupos, pessoas... Portanto, não podemos menosprezar ninguém. Jesus poderia ter chamado um intelectual, mas chamou um pescador semianalfabeto para conduzir a Sua Igreja. Porque o mais importante não é o conhecimento, o mais importante é a nossa disponibilidade para realizar a vontade de Deus.
Peçamos ao Senhor que saibamos silenciar o nosso coração, por dentro e por fora, para sermos capazes de ouvir a voz de Deus. E, ao responder – não por obrigação, com medo de ir para o inferno ou porque a mãe ou o pai ensinou, mas com prazer realizar a vontade de Deus! Com prazer descobrir que a nossa vocação é a felicidade! Com prazer descobrir que a nossa vocação é a verdade! Com prazer descobrir que nós somos vocacionados para o Céu, para a Morada Eterna! Que possamos, com o salmista, responder: "Eis que venho, Senhor, com prazer faço a vossa vontade!".
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo do Tempo Comum (Ano B) – 14/01/2018 (Domingo, missa das 10h).

Jesus veio para todos, não apenas para alguns
07/01/2018
Hoje é a grande Festa da Epifania, palavra grega que significa manifestação. E, neste caso, é Jesus quem se manifesta. Temos os famosos três reis magos que representam os três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. “Sem” representa os semitas, que são os povos árabes e os hebreus, que são muito distintos e variam de acordo com o lugar, clima e cultura. Assim, suas características são diferentes e cada um dos semitas têm uma maneira de viver o dia-a-dia. Os Camitas, que são os descendentes de “Cam”, são os negros, o povo da África. E temos também “Jafé”, que são os arianos, os brancos. Para lembrar nossa história, de modo mais específico, Hitler achava que a melhor raça que existia era a raça Ariana, por exemplo. Os povos do Afeganistão são arianos, bem como outros povos da Ásia, inclusive perto do Nepal, no Tibet, que são pessoas loiras, de olhos claros.
Qual é o melhor desses povos? Não existe melhor. Os reis magos são a representação dos povos da Terra e é interessante notar que, na ocasião do nascimento de Jesus, eles procuravam pela fé. A estrela é um símbolo. Não poderia uma estrela baixar apenas acima de uma casa, sendo que as estrelas estão há milhões de quilômetros de distância da Terra. É um simbolismo. A estrela é a fé que guia as pessoas que O procuram. Povo este que hoje somos nós. Agimos como os reis magos que, vendo os acontecimentos do mundo e iluminados pela fé de que Jesus Cristo ama a todos indistintamente, proclamamos que Ele veio para salvar todo o mundo.
Jesus, ao longo de sua peregrinação e de seu apostolado na Terra Prometida, dizia: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”. Ele disse “todos” e não “alguns”. Portanto, não se pode haver uma situação assim como ocorreu antigamente na qual os portugueses chegaram no Brasil e acharam que os índios não tinham alma e, deste modo, os tratavam como animais. Não pode! Todo ser humano tem uma alma e é filho de Deus. Hoje temos aqui duas crianças que serão batizadas. Eles são filhos de um casal, mas também são filhos de Deus. E hoje, de um modo especial, entram para fazer parte dessa grande família que é a igreja.
Hoje devemos pedir a Jesus que nunca saiamos atrás de Herodes para ter explicações, como é comum entre nós, cristãos, que debandam para outras religiões. Inclusive, existem cristãos que vão fazer casamento na Índia, com toda aquela cerimônia dos indianos. Isso é como perguntar a Herodes se Jesus nasceu. Jesus se apresenta a nós pela nossa fé. Quando os três reis magos foram perguntar a Herodes, a estrela desapareceu, pois queriam saber por meio de outros. Mas, quando foram atrás de Jesus, em Belém, a estrela reapareceu e eles ficaram felizes. Ou seja, nós devemos ser movimentados pela nossa fé, tendo como opção Jesus e seus mandamentos, fundamentados em amar a Deus e ao próximo. Aí está a semente do nosso cristianismo: o primeiro passo, amar a Deus; depois, ao nosso próximo.
Homilia: Frei Bruno Manzoni – Solenidade da Epifania do Senhor – 07/01/2018 (Domingo, missa das 10h).

Por Jesus Cristo, filho de Maria, somos livres!
01/01/2018
Crianças, jovens, adultos, irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos à Santa Missa que dá início a este ano de 2018! Ano que queremos consagrar ao coração de Deus para que o Senhor possa abençoar a nossa vida, a nossa família, as nossas decisões e o nosso caminhar. A Igreja se alegra em poder celebrar, com a sociedade civil, este início de ano; para nós, cristãos católicos, o ano litúrgico começou lá atrás, com o primeiro domingo do Advento, mas a Igreja se une à sociedade para, juntos, rezarmos, pedirmos a Deus que abençoe este próximo ano.
Neste dia, a Igreja faz memória de Santa Maria, Mãe de Deus, ela que é, para nós, modelo de discipulado, modelo de obediência, modelo de mãe, de esposa, de mulher dedicada a realizar a vontade Deus. E, na figura de Maria, todos nós buscamos nos encontrar, para que, neste ano de 2018, possamos dar um passo a mais na fé e deixar que Deus conduza a nossa vida, como conduziu a vida de Maria. Nós não adoramos Nossa Senhora, nós a veneramos e temos, nesta mulher, este grande modelo de observância, modelo de missionária. Nas Bodas de Caná, Maria foi aquela que estava atenta ao que acontecia, e vendo a possibilidade de os noivos não terem uma festa à altura e da alegria ser retirada do coração dos convidados, diz aos serviçais: "Façam tudo o que Ele vos disser". Também nós, neste ano de 2018, somos convidados a estarmos atentos ao que acontece ao nosso redor. Se temos pessoas tristes, abatidas, angustiadas, que perderam a esperança, na possibilidade de não terem uma vida plenamente feliz e realizada, que podem estar tomando decisões equivocadas... É também nossa missão nos encontrarmos com elas e, como Maria, dizer: "Façamos tudo o que Jesus nos disser".
Se por uma mulher o pecado entrou no mundo, foi também por uma mulher que a Salvação procriou na história da humanidade, e esta mulher é Maria de Nazaré. E pelo filho de Maria – Jesus Cristo, nosso Senhor – é que nós alcançamos a graça da liberdade. Quantas pessoas dizem que não conseguem fazer algo porque estão presas... Presas ao pecado, presas a algumas amizades, presas a frequentarem certos lugares, presas a assistirem algum programa de televisão, presas em algum modo de pensar que não corresponde à vontade Deus. E é necessário lembrarmos que, para o cristão, não existe esse tipo de prisão. Nós somos livres! Pelo batismo, todos nós nos tornamos livres. E a nossa liberdade foi conquistada a um preço muito alto: o sangue de Jesus Cristo derramado do alto do Calvário. São Paulo nos diz, na segunda leitura de hoje [Gl 4, 4-7]: "Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva [...] Assim, já não és escravo, mas filho". Pelo nascimento de Jesus Cristo nós nos tornamos livres e não pode haver nada que nos aprisione. Se alguma coisa está te aprisionando, se você se sente preso, se você se sente amarrado, algemado, deixe isso em 2017. Comece o ano de 2018 na liberdade de filhos e filhas de Deus!
Na primeira leitura [Nm 6, 22-27], estamos no contexto em que o povo saiu da escravidão do Egito. Quem libertou o povo foi Deus e quem liderou este povo foi Moisés. E aqui nós temos a bênção de Aarão, para abençoar, guardar, proteger e orientar o povo em direção à terra prometida. No primeiro dia do ano, a Igreja coloca essa leitura como caminho para nós, para que também nós nos sintamos abençoados por Deus e, ao deixar a "escravidão do Egito" no ano de 2017, em 2018, tomemos posse da nossa liberdade, assumamos a responsabilidade das nossas escolhas e caminhemos em direção à "terra prometida". Por isso, a Palavra de Deus diz: "O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!".
Nesta sociedade em que estamos perdendo o hábito de pedir: "Benção, mãe", "Bênção, pai", "Bênção, padrinho", "Bênção, madrinha", "Bênção, vovô", "Bênção, vovó", Bênção, padre"... É necessário recordarmos a importância da bênção. Porque quando pedimos a bênção, estamos colocando Deus à frente da nossa vida. E qual bênção pode ser mais poderosa que a de uma mãe e a de um pai abençoando seus filhos? É necessário que nós comecemos ou retomemos o hábito de pedir a bênção, para que o Senhor esteja a nossa frente, como estava à frente do povo de Israel em direção à terra prometida. É importante lembrar de pedir a bênção, deixar que Deus vá conduzindo a nossa vida. E nós precisamos desses sinais sensíveis na nossa vida, recordar que Deus está nos abençoando todos os dias, ao falar com a nossa mãe, com o nosso pai, mesmo que por telefone, sempre colocando Deus a nossa frente.
O Evangelho de hoje [Lc 2, 16-21], meus irmãos, nos fala dos pastores, que foram capazes de, como Maria, mãe do nosso Salvador, estar atentos aos sinais de Deus. E ao enxergarem os sinais de Deus, seja na estrela, seja em sonho, seja em outros sinais sensíveis, estes pastores foram às presas ao encontro do Salvador. Também nós devemos estar atentos aos sinais que Deus vai revelando na nossa vida e ir às presas ao encontro de Jesus – porque, às vezes, para fazer coisas erradas somos rápidos, tiramos energia até de onde não tem; mas para fazer a vontade de Deus somos lentos. E é necessário, ainda, como os pastores, irmos às pressas quando enxergarmos os sinais de Deus – porque, às vezes, nós tomamos decisões muito apressados, sem consultar a vontade Deus, sem rezar antes, sem colocar Deus a frente da nossa vida. E quando é para fazer coisa errada, então? Esquecemos até que Deus existe, ou não queremos recordar que Ele está no meio de nós.
É necessário irmos às pressas para realizar a vontade de Deus, e aqui nos perguntamos: no ano de 2017, você colocou Deus a frente da sua vida? Você foi capaz de rezar antes de tomar alguma decisão? Quantas vezes você rezou antes de tomar uma decisão ou, até mesmo, de falar alguma coisa para alguém, de prometer algo para alguém?
A Palavra de Deus nos diz que os pastores, ao se encontrarem com Maria, José e Jesus, relataram esse grande sinal de Deus; e, ao falarem deste sinal de Deus, todos os ouviram e ficaram admirados com aquilo que contavam. Também nós, quando formos falar da nossa fé, devemos falar com alegria, com entusiasmo. Quantas vezes nós falamos de uma Igreja fria, de uma Igreja que não é acolhedora, de um Deus que é morto, não de um Deus ressuscitado, que é próximo de nós... Ao invés disso, falamos de um Deus que é distante, que não acompanha a nossa vida, um Deus que castiga. Quantas vezes nós ensinamos as nossas crianças ou falamos em nossas conversar informais: "Cuidado, Deus castiga!", "Cuidado, Deus vai te castigar!"... Ora, o Deus da primeira leitura está castigando ou abençoando? Está aprisionando ou libertando? Por isso, nós temos que tirar essa ideia da nossa mentalidade. É necessário falarmos com alegria, com entusiasmo, para que as pessoas fiquem maravilhadas com a fé que nós professamos. Que neste ano de 2018, possamos falar com um pouco mais de alegria e entusiasmos sobre a fé que nós professamos.
E, depois, diz a Palavra: "...voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido". Que também nós, ao sairmos da igreja hoje e ao percorremos o caminho da nossa vida, possamos louvar e glorificar ao Senhor por tudo que Ele realizou na nossa vida no ano de 2017 e por tudo que ele tem a realizar neste ano de 2018.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Solenidade da Santa Mãe de Deus (Ano B) - 01/01/2018 (Segunda-feira, missa às 7h30).

Honrar os pais e apoiá-los em suas dificuldades
31/12/2017
Queridas irmãs e irmãos, mais uma vez, sejam todos muito bem-vindos e acolhidos. Nós estamos celebrando a festa da Sagrada Família de Nazaré. Dentro das festividades do Natal, a igreja coloca a Festa da Sagrada Família para nos recordar a importância da nossa família e de que a nossa busca de santidade deve ser iniciada, primeiramente, dentro da nossa família. E indica Maria e José como modelos de pai, de mãe, de esposa, de marido, de devotos e daqueles que buscam seguir a vontade de Deus. E todos nós que professamos a nossa fé em Deus devemos nos esforçar para alcançar as virtudes de José e de Maria para assim sermos, também nós, portadores de santidade para nosso matrimônio e toda a nossa família. E, para nos ajudar, a Igreja nos apresenta a Primeira Leitura do livro do Eclesiástico [Eclo, 3,3-7.14-17a], que é uma coletânea de sabedorias dos anciãos, das pessoas mais velhas, que foram observando o que acontecia ao seu redor e depois transcreveram tudo isto em um livro. E a sabedoria do livro do Eclesiástico nos ensina a honrar, a respeitar. A palavra “honra” aparece cinco vezes no decorrer da Primeira Leitura de hoje. Honra entendida aqui, para o autor, como sinônimo de respeito, de compromisso, de responsabilidade.
Palavras estão, cada vez mais, fugindo do nosso cotidiano. Respeitarmos uns aos outros, comprometermo-nos uns com os outros, respeitar o pai, a mãe, o matrimônio, os nossos filhos, os idosos e tantas outras pessoas que poderíamos citar aqui. A Palavra de Deus nos diz: “meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive”. Importante ressaltar que aqui, quando se fala “pai”, entende-se “mãe” junto. Quantos pais e mães abandonados, deixados de lado, nesse mundo onde a sociedade vai, cada vez mais, perdendo seus valores. Lembrando que foram nossos pais que nos deram a vida, que passaram noites acordados, que nos levaram ao hospital quando necessário, que nos deram alimentação, roupa, educação. Eles estavam presentes em nossa vida quando ninguém mais estava lá. E aí nós vamos crescendo e vamos deixando os nossos pais, sobretudo em idade avançada, de lado, abandonados. E isso não é novo, isso já acontecia e a Igreja, bem como todos aqueles que acreditam em Deus, vêm lutando contra isto há muito tempo. E é necessário que também nós entendamos a importância de não desampararmos os nossos pais. Os nossos filhos vão crescendo e vão se esquecendo que também ficarão velhinhos. Nós vamos envelhecendo e nos esquecemos de que também nós ficaremos mais velhos.
E, como o ser humano é movido mais por exemplos do que por palavras, imagine os seus filhos se o virem maltratando seus pais. Quando chegar a vez deles, você acha que eles te tratarão com carinho? Não vão, porque viram vocês maltratando os avós e, assim, eles também vão te maltratar. Se ele não vê você visitando os seus pais, quando ele crescer, você acha que ele vai te visitar? Muito provavelmente não. Se ele não vê você dando carinho e atenção – sobretudo diante das fragilidades: da enfermidade e da idade avançada –, você acha que seu filho vai cuidar de você? Não. Porque ele não viu o exemplo. A mesma coisa com o respeito: se você não respeita o seu pai e sua mãe, como você quer o respeito dos seus filhos? É fato que todos nós queríamos mudar alguma coisa nos nossos pais. Eu mesmo parei de brigar com meu pai e minha mãe quando eu entendi que eles são daquele jeito e que eu não devo fazer deles o que eu quero. Eles são daquele jeito, são os pais que Deus me deu. E, aos poucos, se eu acho que algo deve ser mudado na vida deles, devo agir devagar. Demorei para entender que algumas coisas os meus pais não entendem. Posso explicar, até desenhar, mas não adianta. Botaram na cabeça e não há o que mude.
Esta semana eu tive uma experiência que me fez refletir muito sobre isso. Saí 3 dias para visitar um local e lá eu conheci uma família de japoneses. E como não eram de igreja, demoramos um pouquinho para estabelecer uma relação. Estávamos em várias famílias naquela casa de campo e em determinado momento fui para um quarto no qual estavam uma série de crianças e jovens. E havia um menino bem pequeno, de 4 anos. E ele estava com um tablet na mão – para quem não conhece, parece uma televisãozinha que você pode apertar a tela com o dedo –, jogando. Eu estava com meu celular, vendo as mensagens. Aos poucos, foram saindo aqueles jovens até que ficaram apenas aquele menininho e eu. Ele olhou procurando onde estavam as pessoas e, ao ver apenas a mim, correu em minha direção para mostrar o jogo que ele estava jogando. Perguntei a ele como jogava. E ele explicou rapidamente. Pedi a ele para explicar de novo, mais devagar. Novamente não entendi e disse para ele explicar mas com o tablet na minha mão. Ele concordou e explicou de novo. Novamente, não entendi muito bem e pedi para observar ele jogar. E ele me perguntou se eu havia entendido. Disse que sim para deixar ele feliz porque na verdade eu não estava entendendo nada.
E aí eu fiquei imaginando: se eu, que ainda não tenho nem 40 anos, não entendi, imagina a minha mãe, o meu pai e a minha vó de 84 anos. Não vão entender. E a nossa sociedade – e isto já está comprovado – muda a cada 5 anos e, em meio a essa atualização, a gente vai se perdendo. Em um passado não muito distante, as coisas mudavam de geração em geração. Depois passaram a mudar a cada 10 anos, a cada 7. Hoje tudo muda a cada 5 anos. E como faz para a gente acompanhar todas estas mudanças? Quando os jovens, sobretudo os do crisma, vêm se confessar e o pecado tem relação com o pai e a mãe, eu pergunto qual a dificuldade e ela é sempre a mesma: a comunicação. O pai não entende o filho e o filho não entende os pais. E eu sempre digo para os jovens que é muito mais fácil você entender seus pais do que o contrário, de entenderem o que você vive na escola com seus amigos e as novas tecnologias.
Quando nós entendemos a partir do outro, as nossas dificuldades tendem a diminuir. Mas, para isso, é necessária humildade, bondade e não ficar respondendo aos nossos pais e aos mais velhos, como diz a Palavra de Deus: “mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhe, em nenhum dos dias de sua vida”. Quantos pais perdendo a lucidez e seus filhos os abandonando nas casas de repouso que, em um passado não muito distante, eram chamadas de asilo devido às pessoas ficarem ali exiladas, excluídas. Hoje, quantas casas vamos visitar em que a família não cuida de seus idosos. Fico muito feliz quando vou visitar os doentes ou idosos de nossa comunidade e vejo que estão sendo bem tratados, em lugar limpo e asseado. Mas, em muitos lugares que vamos, vemos que são maltratados e esquecidos. É já comprovado que a primeira coisa que passa pela cabeça das pessoas doentes, quando são maltratadas e esquecidas, é o desejo de morrer. Porque deixaram de dar atenção e carinho a elas. Agora, quando a pessoa é bem tratada e querida, mesmo que não consiga mover um dedo, ela não pede para morrer pois ela gosta de ser amada. E quantas pessoas por aí estão pedindo para morrer porque foram abandonadas, esquecidas, exiladas do convívio dos filhos e dos netos.
Ainda essa semana fui em um parque e achei tão bonito um filho levando a mãe no parque aquático. Vi quatro vezes o filho com a mãe na cadeira de rodas: entrando na água, levando a mãe no banheiro, levando a mãe para almoçar, conversando com ela. Onde é que a gente vê uma coisa dessa hoje em dia? Fiquei encantado com muitas coisas lá, mas o que mais me chamou a atenção foi este filho cuidado de sua mãe com tanto carinho, enquanto vemos tantos pais abandonados por aí. E a Segunda Leitura[Cl 3, 12-21] é um ensinamento muito forte para nós que queremos viver a vontade de Deus. E a Palavra nos diz assim: “vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos”. Nós somos santos para Deus. Deus espera que alcancemos a santidade. Mas eu vou te contar um segredo: não se alcança a santidade fora da família, ela vem junto. É na família que nós devemos alcançar a santidade. E família a gente sabe que não se escolhe para nascer. E, assim, como a gente não escolhe a cor do cabelo e dos olhos, a gente não escolhe a família. A família é um presente de Deus e é nesta família que nós somos chamados a viver a santidade. E aí o apóstolo nos ensina: “revesti-vos de sincera misericórdia”. Família que não sabe perdoar é família que não permanece unida. Quantas vezes Jesus pediu para que perdoássemos? Setenta vezes sete, ou seja, infinitamente. Família que deixa de perdoar é família que está fadada ao fracasso, à separação, à fragmentação. Jesus disse em outro Evangelho: “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Todos nós somos pecadores, meus irmãos, e a nossa família, por mais que a gente queira que seja de outro modo, é daquele jeito que ela é.
A leitura continua dizendo: “revesti-vos de bondade”. Quanta falta de bondade existe dentro dos nossos lares. A mãe pede para o filho pegar um copo de água e ele nega com brutalidade. Por acaso não lembram que sua mãe trocou você, levou você no hospital, lhe deu remédio? Os pais sofrem para criar os filhos e muitos deles crescem e não dão satisfação nem carinho aos pais. “Revesti-vos de humildade”. Quanta falta de humildade, às vezes, existe dentro de nossos lares, sobretudo em nossos jovens. Pois, a partir de certa idade, a gente acredita que toda a sabedoria do universo entrou de uma vez em nossa cabeça e que pai, mãe, avô e avó não sabem mais nada. Só quem sabe do mundo agora somos nós. E esquecemos que nossos pais têm muita estrada percorrida ainda que nem tudo eles saibam. Quantos maridos não aceitam a opinião da esposa e tomam decisões que vão influenciar a vida de toda família sozinhos. Quantas mulheres hoje em dia estão tomando decisões também sem consultar os maridos, por isso a leitura diz: “esposas, sede solícitas com vossos maridos” e “maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas”. Ou seja, o casal deve estar em comunhão.
“Revesti-vos de paciência”. A paciência está cada vez menor dentro das casas. Nós vamos visitar algumas famílias e percebemos que qualquer mínima coisa é motivo para uma discussão, uma explosão. Isto significa que muitas outras coisas não estão sendo acertadas. “Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente”. O suporte bíblico significa ser um apoio para o outro. Quando está manco, apoiar ele fisicamente e ir junto. Quando o outro cai, estende a mão, levanta ele e o faz continuar caminhando. É este o suporte necessário. Mas por vezes, dentro dos lares, quando o outro cai acontece de empurrarem um pouco mais ainda para ele ficar no chão, em vez de estenderem a mão e ajudar a levantá-lo. Sobretudo aos idosos.
Se você acha que está difícil a situação em sua casa embora você tente resolvê-la de várias maneiras, olhe o que o Evangelho de hoje[Lc2, 22-40] nos diz. Simeão estava constantemente orando a Deus esperando o dia em que seus olhos pudessem contemplar a Salvação e este dia chegou. Quanto você está rezando pela sua família, pela santificação do seu matrimônio e do seu lar? Veja Ana, que com 84 anos, ia todo dia ao templo, rezando e aguardando o feliz dia. Quantas vezes a gente reza ou vamos ao templo? Se nós dedicássemos 10% do tempo que utilizamos em conversas no celular indo na igreja, imagine o quanto você iria! Ou então 10% do tempo que você pega o celular, se você rezasse. Estariam rezando bastante! Não perca a esperança! Reze pela sua família, reze pela santificação de seu matrimônio, reze pela santificação dos seus filhos! E isso não significa ser bobo, porque às vezes a gente confunde. Porque não pode ser ingênuo e bobo. Pois há maridos que ficam escravizando as esposas e isso não pode ocorrer. Tem esposa que escravizam os maridos, filhos que escravizam os pais, pais que escravizam os filhos. Nada disso pode ocorrer. Igualmente quando os gênios das pessoas não batem. Acompanhei um caso aqui na paróquia, no qual uma filha alugou a casa, vendeu todos os móveis e foi morar com o pai para cuidar dele, levando também seu marido. Tudo que a filha ou o marido faziam, o pai reclamava. Aguentaram dois anos nesta vida e vieram aqui chorando pois não achavam correto abandonar o pai mas também não aguentavam mais aquela situação. E aí eu fui conversando. E quando entendi que os gênios não batem, eu recomendei que voltassem para sua casa. E isso não significa que ela estaria abandonando o pai pois ela pode continuar visitando, levando comida. Porque, se está vivendo um inferno dentro de casa, não dá mais para suportar. Deus quer a nossa felicidade. E isso não implica em abandonar os pais.
O mesmo se aplica para casais. Quando a esposa começa a agredir o marido ou vice-versa, algo precisa ser mudado pois isto não pode acontecer. Se chegou a este ponto, alguma ação precisa ser tomada pois você não vai ficar apanhando dentro de casa. E as leis estão aí para serem cumpridas. O intuito nunca é abandonar e sim ajudar. Mas, às vezes, o único modo de ajudar é tomando atitudes drásticas. Cada caso é um caso. Fico imaginando se um dia meu pai quisesse tirar minha vó de dentro da casa dela. Seria a Terceira Guerra Mundial. Ela está lá há 40 anos. Dentro de casa ela é quase uma santa, mas tirem ela de lá para ver. Porque ela sabe onde está cada coisinha dela. Mesmo que seja mais fácil de cuidar fora dali, tem que tomar muito cuidado em como proceder para não arrumar outra confusão. Assim, é necessário saber como proceder.
Deste modo, concluo dizendo que a Palavra de Deus nos fala: “que a paz de Deus reine em vossos corações a qual fostes chamados como membros de um só corpo”. Assim como a gente não escolhe a cor do cabelo, a cor da pele e a cor dos olhos, a família em que a gente nasce a gente também não escolhe. Assim como a família deve ser um corpo, não há como deixar somente seu braço quer ir para um lugar e manter o seu corpo aqui. Assim também nós temos que estar unidos. Quando alguém nasce com um membro do corpo adoentado, atrofiado, nós não cortamos, mas sim trabalha-se para que aquele membro alcance a maior saúde possível. Desse modo também, na sua família, se há algum membro atrofiado, você reze por ele, lute por ele e o trate para que ele alcance a maior saúde espiritual, emocional e psicológica possível, mas não o corte. Que ao celebrarmos esta Eucaristia, o Corpo e o Sangue de Cristo transformem o nosso coração para que sejamos capazes de compreender nossa família, amá-la e lutar por sua santificação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Sagrada Família de Jesus, Maria e José (Ano B) – 31/12/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Pregar a paz, a luz e a salvação
25/12/2017
Meus irmãos e irmãs, sejam muito bem-vindos e acolhidos nesta festividade do Natal do Senhor. Nós, ao celebrarmos esta festividade do Natal de Jesus Cristo, celebramos o nascimento Daquele que é nosso único e verdadeiro Deus, este Deus que se encarna na história da humanidade para nos salvar. Não podemos nunca nos esquecer que, ao celebrar o Natal, estamos celebrando o nascimento Daquele que dará a vida pela nossa salvação, pela remissão dos nossos pecados e que, ressuscitando, abriu as portas da humanidade para todos nós.
A leitura que a Igreja nos propõe [Is 52, 7-10], nos fala: "Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz". O contexto é o mesmo que refletimos no 3º Domingo do Advento, quando o povo estava ainda na escravidão do Exílio da Babilônia e começa a se lamuriar porque a liberdade está próxima, mas não por causa de Deus. E o profeta Isaías vem nos alertar que Deus age de diferentes modos. Deus tem um modo de agir que, muitas vezes, nós não compreendemos, mas Ele está caminhando conosco. E ao alcançarmos a liberdade, nós devemos ser mensageiros da paz; ao "sair do exílio da Babilônia", ao retornar para casa, nós devemos pregar a paz. Quando somos batizados, quando somos crismados, aceitando a fé em Jesus Cristo, nosso Senhor, nós abandonamos as trevas e tomamos posse da luz de Deus. E ao caminhar por nossa história pregando e anunciando essa paz, nós levamos luz para os corações.
O Evangelho proposto pela Igreja hoje [Jo 1, 1-18] é o prólogo, ou seja, a introdução deste Evangelho. Para nós, parece não ter muita importância hoje, mas a comunidade joanina, perseguida pelo império, na qual pessoas eram assassinadas por professar a fé em Jesus Cristo, viam neste trecho do prólogo do Evangelho de São João que a graça de Deus caminha conosco ao longo de toda a história; que este Deus deu a vida pela nossa salvação e que existia antes de tudo. Nele, tudo foi feito; para Ele, tudo deve ser feito. É para Jesus que nós voltamos a nossa vida. Independentemente das dificuldades que nós passamos, dos sofrimentos, das perseguições.
Todos nós, mais ou menos, temos dificuldades, fomos perseguidos, às vezes somos caluniados... Mas se vivemos para Deus, se voltamos nossa vida para Deus, somente Ele! E é o que Deus vê em nosso coração que nos interessa de fato. Quando alcançamos essa liberdade de consciência, nós alcançamos a graça de sermos profetas como João Batista, que não era a Luz, mas veio para dar testemunho desta Luz. Nós não somos o Cristo, nós não somos o Filho de Deus, mas sendo batizados neste nome, sendo verdadeiros adoradores do Menino Deus, este Deus que se encarna na história para nos salvar e nos libertar, nós passamos a anunciar esta Luz para aqueles, sobretudo, que estão nas trevas.
Quantas pessoas nas trevas nós encontramos... Quantas pessoas, nesta festividade, passaram juntas, reunidas, festejando, mas não se lembraram do nascimento de Jesus Cristo... Vir à igreja no dia 25 de dezembro pela manhã é um testemunho silencioso que nós estamos dando. E, muitas vezes, um testemunho silencioso vale muito mais do que longas pregações.
Que possamos, ao celebrar este Natal, recordar que a nossa vida é uma vida para louvarmos e glorificarmos a Deus nas nossas atitudes e nos nossos passos, como verdadeiros anunciadores da paz, da luz e da salvação. Que possamos levar esta paz para nossa casa, para as pessoas com quem vamos nos encontrar neste dia santo e feliz de Natal. Que o Menino Jesus possa continuar crescendo e encontrando morada no nosso coração.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Missa do Dia (Ano B) - 25/12/2017 (Segunda-feira, missa às 7h30).

Jesus quer nascer também em nossos corações
24/12/2017
Queridas irmãs e irmãos, Feliz Natal! Cristo nasce, mais uma vez, no nosso coração. Hoje é dia de festejarmos porque a luz brilha nas trevas e a esperança vence o medo. Nesta noite, temos a graça de fortalecer a esperança dos nossos corações. Após percorrermos o tempo do advento, em preparação para o santo Natal do Senhor, Jesus Cristo nasceu nessa noite e procura espaço na manjedoura dos nossos corações. Hoje é o dia de acolhermos Jesus na nossa vida e deixarmos que Ele vá crescendo e encontrando espaço nos nossos sonhos, nas nossas atitudes, nas nossas esperanças. Ele é o Príncipe da Paz. É Ele que vem dissipar as trevas que podem, por algum motivo, estar ocultando a paz.
Na Primeira Leitura, do livro do profeta Isaías [Is 9, 1-6], nós temos um texto do século VIII a.C., quando um governador judaico começa a estabelecer pactos de aliança com povos estrangeiros e pagãos. E os sacerdotes e profetas estão, constantemente, orientando o governador a tomar cuidado com esses pactos. E não demorou muito para que um deles desse errado e um povo fosse invadido e, mais uma vez, passasse por mortes, pobrezas, doenças e angústias. E é neste contexto de escuridão que o profeta Isaías vem nos dizer: “o povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam as sombras da morte, uma luz resplandeceu”. O povo começa, agora, a reencontrar a sua unidade. Independente do pacto dos governadores com outros povos e dos motivos, agora estão unidos. Deus ilumina a nossa vida, nossa caminhada em direção a sua vontade. E a sua vontade é que sejamos livres e felizes.
Para você que estabeleceu pactos dos quais está se arrependendo, que tomou decisões que te levaram para a escuridão, nesta noite Deus deseja iluminar a sua vida, seu matrimônio, sua família. Não deixe que as trevas tomem conta do seu coração. Assim como o Cristo nascente passou em nosso meio, Ele também deseja ser o centro da sua vida, o foco da sua atenção. Porque, ao final da batalha, nós seremos vencedores e poderemos festejar a alegria dessa vitória como nos diz o profeta: “fizestes crescer a alegria e aumentaste a felicidade; todos se regozijam em tua presença como alegres ceifeiros na colheita”. O povo, quando tinha uma bela safra, fazia uma grande festa. E se nós nos deixarmos ser conduzidos por Deus, pelo Cristo, pelo Emanuel – o Deus conosco –, também nós poderemos colher os frutos desta escolha. Nós podemos usufruir desta colheita e festejar com o que Deus tem preparado para nós quando confiamos nele.
Algo similar ocorria também quando os guerreiros voltavam vitoriosos de suas inúmeras batalhas: dividiam o que tinham conquistado e festejavam essa conquista. Também nós estamos em constante batalha, em constantes guerras com forças espirituais. O Papa Francisco vem dizendo há quatro anos para não deixarmos com que a força do mal tome conta de nosso coração, para nós não caiamos na tentação de acreditar que a força do mal não existe. Ela existe e quer nos levar para as trevas. Vá em direção à luz, não das trevas. Nesta batalha que travamos todos os dias, nós podemos ser mais merecedores, como diz São Paulo.
No Evangelho [Lc 2, 1-14], temos a figura de Maria e de José que vão para Belém, que significa a casa do pão. Jesus poderia ter nascido em Jerusalém, mas Jesus escolheu nascer em Belém. Ele, que mais tarde será o pão da vida, que nos alimenta e que nos dá força e coragem para enfrentar as nossas batalhas. Jesus poderia ter nascido em um palácio, suntuoso. Mas não. Ele sequer encontrou hospedagem na estrebaria. Se Jesus tivesse nascido em um palácio, poucas pessoas teriam acesso a Ele. Mas como nasceu em uma estrebaria, por onde passavam os pastores e o povo excluído da sociedade daquele momento, os considerados pecadores puderam se aproximar de Jesus. Com isso, nós acreditamos que Jesus nasce para todos nós, sobretudo ao encontro dos pobres, dos necessitados. Jesus nasce em uma manjedoura de madeira, simbolizando a sua pobreza e que mais tarde vai lembrar o madeiro do cruz. Jesus nasce na pobreza e também morre nela. Mas ressuscita na glória de Deus. A pobreza espiritual é o caminho para que nós possamos compreender o que é a vontade de Deus porque, muitas vezes, nos preocupamos com o exterior e esquecemos do nosso interior. Muitas vezes nos preocupamos em preparar a nossa casa, com a roupa que vamos vestir, com as pessoas que vamos convidar para esta noite, mas nós nos esquecemos de preparar a manjedoura do nosso coração.
Você está com o seu coração preparado para que Jesus possa nascer nele? Se você não se preparou, que o faça agora: abra o seu coração e deixe Jesus encontrar espaço nos seus sentimentos. O Anjo do Senhor, que foi até os pastores, também quer vir até nós para nos encher de luz, para nos trazer a paz. Jesus é o Príncipe da Paz e aquieta os corações agitados. Você que está preocupado em terminar de cozinhar o que você começou; você que está preocupado com quem você deixou lá na sua casa, concentre-se em Jesus neste momento. Aproveite esta oportunidade para que Jesus possa estabelecer uma relação com você. É o anjo que nos diz para não termos medo. Não tenha medo de aceitar Jesus na sua vida.
Se você estava afastado e hoje voltou para a igreja, louve a Ele, agradeça a Deus por esse retorno. Assim como eu tive a graça de ouvir essa semana o testemunho de uma senhora que, por dez anos, se afastou da igreja por problemas particulares e disse: “padre, eu briguei com Deus, mas hoje eu estou de volta porque minha neta ficou insistindo para eu vir à missa; e, ao vir, Deus tocou no meu coração e não desejo nunca mais abandonar essa fé”. Essa neta foi um anjo na vida desta avó. Talvez quem te convidou para vir rezar aqui hoje possa ser um anjo na sua vida. A graça e a salvação são para todos, não apenas para alguns escolhidos. E você não está excluído desta salvação! Basta você dar o seu sim, como Maria, como José, como os pastores em Belém: abandonando as paixões mundanas e vivendo um mundo com equilíbrio, justiça e dignidade. Abandonar as paixões mundanas significa não nos deixarmos levar por puro sentimentalismo e nos permitirmos ser conduzidos pelo próprio e querido Deus, que se dá em nosso coração. Quantas paixões nos fazem falar coisas que não queremos ou ir a lugares que não gostaríamos ou, ainda, estabelecer relação com pessoas que não deveríamos? As paixões são importantes em nossa vida, mas, como tudo, não devem ocorrer de modo desordenado. Encontrar o equilíbrio significa dizer “não” para aquilo que não agrada a Deus e que nos aprisiona nas trevas do pecado.
Que nessa noite santa o menino Jesus possa encontrar, verdadeiramente, espaço e aconchego na morada do meu e do seu coração.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Missa da Noite (Ano B) – 24/12/2017 (Domingo, missa às 20h).

Preparar o interior mais que o exterior para a chegada do Menino Deus
24/12/2017
Estamos celebrando o 4º Domingo do Advento, completando nosso ciclo de preparação para o Santo Natal do Senhor. Quando a Coroa do Advento se completa, rogamos a Deus que o nosso coração também esteja completo para receber Jesus Cristo, nosso Senhor, na nossa vida, na nossa casa e em nossa família, pois Advento é tempo de preparação. Como a mamãe e o papai que entraram com a quarta vela, nós também estamos nos preparando para que Jesus possa nascer no nosso coração. E na figura de Maria grávida, neste 4º Domingo do Advento, nos encontramos alegres, vigilantes, à espera da chegada do Menino Deus em nossa vida.
A Igreja, neste dia, nos convida a refletir se estamos, de fato, preparando nosso coração, nosso interior, ou se estamos preocupados demasiadamente com o exterior. Na primeira leitura [2Sm 7, 1-5. 8b-12. 14a-16], temos a figura de Davi, um jovem muito tímido que sai do campo e se torna um grande líder, um grande guerreiro, até assumir o reinado de Israel, completando a obra começada por Deus de reunir as 12 tribos de Israel. E, após vencer tantas batalhas, Davi decide construir um templo bonito, suntuoso para o Senhor. Até então, Deus caminhava com Seu povo na Arca da Aliança, que ficava embaixo de uma tenda; conforme o povo de Israel caminhava, a tenda caminhava junto com eles. Davi, então, decide construir este templo, e é aí que entra a figura do profeta Natã, alertando o rei Davi que seria bom sim fazer o templo para Deus, mas que, antes, era necessário que seus corações estivessem voltados para Ele, direcionados para o Senhor. Antes de construir uma bela igreja, é necessário levar o amor de Deus àqueles que ainda não o conhecem, é necessário ir ao encontro dos pobres, excluídos, afastados, sem voz e nem vez, porque Deus ama a todos. E não podemos nos esquecer disso, pois muitas vezes caímos na tentação de ficarmos fechados dentro da igreja e nos esquecermos dos desafios que estão além dos muros de nossa comunidade de fé.
Atualizando essa leitura, podemos refletir que talvez estejamos preocupados demais com o exterior e deixando de prestar atenção no nosso interior. Neste Natal, podemos estar preocupados com a roupa que vamos vestir, o modo de cabelo que vamos usar, quem vai na ceia, se nossa casa está limpa... Mas esquecendo de preparar o nosso coração para o Protagonista, o Aniversariante, que é Jesus. E a pergunta que fazemos no início desta pregação é justamente esta: você tem preparado seu coração com o mesmo entusiasmo que está preparando as festividades desta noite? Se é na sua casa, onde você limpou tudo, será que fez a mesma coisa em seu coração, jogando fora o que não presta? É necessário colocarmos Jesus no centro de nossa vida neste Natal. É importante sim que nossa casa esteja limpa e que estejamos bem vestidos, pois vamos receber visitas; mas nada disso pode ter maior significado do que preparar a manjedoura do nosso coração para recebermos o Menino Deus. E, assim como o profeta Natã alerta o rei Davi, hoje a Igreja nos alerta para que nós não caiamos na tentação de nos preocuparmos demasiadamente com o exterior e deixarmos de lado o nosso interior.
No Evangelho [Lc 1, 26-38], temos a mensagem do Anjo Gabriel a Maria, lá na cidade da Galileia, onde ela fica com medo quando recebe a mensagem do anjo, mas, mesmo assim, diz: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!". Galileia significa uma flor, na linguagem de alguns biblistas – sobretudo São Jerônimo, que traduziu a Bíblia do Hebraico e do Grego para o Latim –, e esta flor deseja também desabrochar na nossa vida. Maria precisou de um tempo para estar preparada para receber a mensagem do anjo; nós também precisamos ir nos preparando para receber a mensagem que Deus deseja nos dar. E, constantemente, Deus está falando conosco, por meio dos acontecimentos da nossa vida, dos pequenos sinais. Por exemplo, hoje eu fui tomar café da manhã e, infelizmente, uma senhora foi atropelada na minha frente, aqui na Vieira de Carvalho. Eu e mais um pessoal ligamos para a emergência e, de lá até aqui, vim meditando como nossa vida pode acabar em um piscar de olhos, sem nem nos darmos conta. São sinais, pequenos e grandes, que temos que acolher como mensagem de Deus para direcionarmos a nossa vida.
Medo, meus irmãos, todos nós temos. Maria também teve medo quando o anjo anunciou que ela seria a Mãe do Salvador. Talvez nós tenhamos medo de assumir nossa vocação, de assumir responsabilidades no mercado de trabalho, responsabilidades na igreja e no projeto de Deus; mas é o próprio Senhor que vai acalmando o nosso coração e direcionando a nossa postura quando O colocamos à frente e somos capazes de fazer como Maria: "Faça-se em mim segundo a tua palavra!". Você está com medo? Está indeciso? Faça como Maria! Coloque Deus a sua frente e deixe que Ele conduza suas decisões e seus passos, para que possamos, como São Paulo na segunda leitura [Rm 16, 25-27], dar glória a Deus por tudo em nossas vidas, permanecermos fiéis a Deus em todas as circunstâncias.
No dia de hoje, em que nos encontraremos com familiares e amigos, não deixe de dar seu testemunho – público, se for possível. Mas se não for, depois de cumprimentar a todos, faça sua oração pessoal, colocando sua vida nas mãos deste Menino que deseja nascer no nosso coração. Diante dos desafios que se apresentam na nossa história, façamos como Maria: "Faça-se em mim segundo a Sua vontade".
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo do Advento (Ano B) – 24/12/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Alegremo-nos no Senhor e foquemos naquilo que é bom
17/12/2017
Nós estamos celebrando o Terceiro Domingo do Advento, esse tempo de espera para a chegada do nosso Salvador. O domingo de hoje é conhecido como Domingo Gaudete. Quando se celebrava a missa em latim, o padre dizia: “alegrai-vos sempre no Senhor” neste domingo. Então, esta data ficou conhecida por Domingo da Alegria. Alegria da proximidade do nascimento do nosso Salvador. Assim como os pais se alegram quando o filho está para nascer, também nós devemos nos alegrar pela chegada do menino Deus. Você está se preparando para este Natal? Está percorrendo o caminho do Advento como a Igreja nos pede? Se você está, com certeza hoje o seu coração está em festa pois, já na próxima segunda-feira, é Natal. Sim, no próximo domingo já será véspera de Natal. Portanto, hoje é dia de nos alegrarmos com esta proximidade do Salvador.
A Liturgia da Palavra nos coloca para reflexão a leitura do profeta Isaías [Is 61,1-2a.10-11], que nos diz: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos”. No contexto dessa Palavra do Senhor, o povo já havia saído do exílio e voltado para Jerusalém. Mas a reconstrução da fé do povo parecia muito lenta: a igreja dos judeus estava ainda em reconstrução e tudo parecia muito devagar. As pessoas, então, estavam desanimadas pela demora em restabelecer a alegria de adorar ao Deus único e verdadeiro. Estavam ansiosas pelo momento em que as famílias estariam, verdadeiramente, unidas como no passado, antes do exílio da Babilônia. O profeta, então, nos diz que o Espírito do Senhor Deus está sobre ele e também sobre todos nós.
O Senhor nos unge para levarmos a Boa Nova, a Boa Notícia. Nós, que fomos batizados, fomos ungidos por Deus para levarmos essa Boa Nova a todas as pessoas. Contudo, será que assumimos que somos ungidos de Deus? Muitas vezes acreditamos que o Papa é ungido, os bispos e padres são ungidos, mas esquecemos que todo batizado é ungido de Deus. Eu e você somos chamados por Deus para levar a Boa Notícia e não a má notícia. E quanta gente negativa tem por aí, dizendo que nada está bom e que nada vai dar certo! Para as pessoas que estão tristes e abatidas, temos que levar alegria, curar as feridas da alma. Quantas pessoas estão com a alma dilacerada porque passaram por diversas religiões, porque cresceram em uma família desestruturada; pessoas que estão desestabilizadas com sua situação financeira porque não tiveram uma educação adequada. E nós, ungidos de Deus, somos chamados para curar essas feridas da alma, pregar a redenção aos cativos e a liberdade aos que estão presos. Muitas pessoas estão presas nas penitenciárias, mas várias estão também presas em seu modo de pensar, em seu modo de agir, no seu modo de se comportar perante seu matrimônio, sua família e seus filhos. Até mesmo diante do projeto de Deus, muitas pessoas estão aprisionadas no seu modo retrógrado ou infantil de pensá-lo.
O Evangelho de hoje[Jo 1,6-8.19-28] nos fala de João Batista, o último dos grandes profetas, que veio para aplainar e preparar os corações para que recebessem a mensagem do Filho de Deus. Assim, como os pais e padrinhos das crianças irão aplainar o coração desses batizandos, nós, ungidos de Deus, devemos preparar todos os corações para a mensagem de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador. E preparar um coração leva tempo, requer dedicação e uma linguagem apropriada. Os padrinhos da criança não podem falar de teologia bíblica, tem que usar uma linguagem que ela compreenda. E, assim, todos nós devemos falar em uma linguagem acessível – em casa, no trabalho e em outros lugares – para dizer que somos cristãos, católicos e acreditamos em Deus. Não podemos esquecer que somos meros instrumentos nas mãos Dele pois, como diz o profeta, não somos a luz, mas viemos para dar testemunho da luz.
Diz a Palavra de Deus: “Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”. Nós não nos colocamos como a própria luz de Deus encarnada, nós somos instrumentos nas mãos do Senhor. E, assim como João Batista se deixou ser conduzido pelo deserto de sua vida – até proclamar que Jesus viria para nos salvar, que o Messias estava chegando no deserto da nossa história –, nós também devemos preparar os nossos corações para a chegada do menino Deus. Jesus é a luz, e esta luz está para nascer no Natal, para dissipar nossas trevas, direcionar a nossa caminhada, tirar nossa visão turva do projeto de Deus, para compreendermos para onde o Senhor deseja nos levar enquanto pessoas, família e comunidade de fé. E, para isso, é necessário o testemunho e João é claro ao dizer isto.
João confessou e não negou. Será que nós confessamos nossa fé ou a negamos? Pois, muitas vezes, vamos à igreja, rezamos em casa, somos madrinhas, padrinhos, batizamos nossos filhos, casamos na igreja, mas nos falta o testemunho. Você nega ou confessa sua fé no trabalho quando fala dela? Precisamos confessar, dizer: “eu creio no caminho que a Igreja me apresenta como caminho de Salvação; creio na minha família, creio na educação religiosa dos meus filhos, creio que preciso ir à igreja aos domingos, pois é dia do meu Salvador”. Confessar e não negar a sua fé. Quantas vezes, para estarmos bem entre as pessoas, negamos a nossa fé em Deus?
Peçamos ao Senhor, nesta liturgia, jamais negar nossa fé e nosso testemunho, assim como Paulo orienta a comunidade de Tessalonicenses [1Ts 5,16-24]. Paulo, entre os anos 5 e 52 da era cristã, foi com Silas e Timóteo para a cidade de Tessaloni, onde havia muitos judeus diásporas, ou seja, judeus que foram perseguidos, abandonaram suas terras e ali se estabeleceram. Em uma cidade com muitas religiões e muitas ideologias e filosofias de vida, Paulo, em três meses de pregação, funda uma comunidade fiel a Jesus Cristo, mas, por causa da perseguição, essa comunidade começa a esmorecer, a perder a alegria e o entusiasmo. Paulo, então, escreve essas palavras: “Estai sempre alegres! Rezai sem cessar. Dai graças em todas as circunstâncias, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo. Não apagueis o espírito! Não desprezeis as profecias, mas examinai tudo e guardai o que for bom”. A Palavra de Deus nos diz: “Estai sempre alegres”. A alegria de quem crê em Jesus Cristo deve ser constante, por mais que os desafios batam na nossa porta. Por mais que a tristeza tente tomar conta do nosso coração, a alegria deve sempre brotar da nossa vida e do nosso testemunho porque, mais do que palavras, nós precisamos de testemunhos. E quantas pessoas deixam de frequentar a igreja pois só viam gente “morta”, emburrada e triste. Se eu convido alguém para ir a algum lugar e digo que é bom e, quando a pessoa vai, percebe que é pior do que imaginava – que as pessoas são chatas, por exemplo –, ela não se sente acolhida e não volta mais. E quantas pessoas conhecem uma igreja triste, abatida, sem compromisso, de portas fechadas, que não sabe acolher, que não sabe sorrir! Se você sair da igreja triste, não deixe ninguém ver, não dê esse contratestemunho. Tem que voltar para casa alegre e feliz porque celebrei a minha fé. Quando vou a um evento da igreja, não volto para casa triste: volto reanimado. Esse é o caminho do cristão, é assim que agregamos pessoas, não com rancor e mágoa. Quantas pessoas já ouvi dizer: “meu pai vai na igreja e volta para casa chutando tudo, gritando”? Você acha que um filho vai para a igreja se vê o pai voltando para casa maltratando as pessoas? Nunca vai! Mas, se o pai chega em casa, acolhe, conversa e orienta, por pior que seja o erro da família, passa a imagem do Deus acolhedor, que corrige no amor e não na pancada e na ignorância.
Rezai sem cessar. Na igreja, a gente reza, mas quantos fazem da missa dominical uma simples cultura? A bisavó ia, a vovó ia, a mamãe vai, eu vou também. Mas não sente Deus no seu coração. Diante das tribulações, ao invés de rezar, procura outras coisas ou desanima. A comunidade estava desanimada com a perseguição e Paulo diz: rezai sem cessar. Se você está sendo perseguido, reze sem cessar. Se você está com tribulação no seu matrimônio, reze sem cessar. Se você está com dificuldade na educação de seus filhos, reze sem cessar. Se está com dificuldade para se colocar no mercado de trabalho, reze sem cessar. Nunca deixa de rezar.
Eu disse para os jovens que vieram na missa da 7h30: “que bom que vocês vieram”. Pois é triste ver os jovens trabalhando na igreja, mas deixando de rezar. E quantas pessoas que hoje são adultas e nem fé tem mais, que trabalham tanto na igreja mas nunca foram de rezar? E se não rezamos, o que estamos fazendo aqui? Algo equivocado está acontecendo. Hoje meu coração ficou extremamente entusiasmado com os jovens na missa, por saber que eles estavam se preparando, rezando, para depois servir às crianças carentes de nossa comunidade paroquial. “Dai graças em todas as circunstâncias, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo” mesmo nas perseguições e dificuldades. Daí graças sempre a Deus.
Quanta gente só vê o lado negativo. Nada está bom, tudo está ruim, nada vai dar certo. E o cristão não pode ser assim. Se não olharmos e projetarmos o futuro, o que será daqueles que virão depois de nós? O que será da nossa família e da educação de nossas crianças? Quando eu cheguei aqui, contei 12 jovens nas 4 missas. Hoje, graças a Deus, esse número passa de 50! Se daqui 3 anos tiver 100 e, em mais 3 anos, houver 200, já é metade da igreja. Mas, se for desanimar porque só tem 50, não faz nada. E quanta gente desanima e só vê as coisas ruins, não vê os frutos... e é muito importante vermos e celebrarmos esses frutos.
Ainda não temos a pastoral familiar, mas eu não desanimei. Já temos 2 grupos do ECC que se reúnem todo mês, com 8 casais de um lado, mais 8 do outro. Ano que vem terão mais 8 em cada semestre. Se Deus quiser, daqui a um ano e meio, teremos 40 casais e conseguiremos montar a pastoral familiar. Eu vou olhar para o futuro sem desanimar. E que futuro você está projetando para sua vida de fé, para sua vida matrimonial, familiar, profissional? Diz ainda o apóstolo: “Não apagueis o espírito!”. Pois, às vezes, temos uma chamazinha acesa, mas um monte de vento soprando para apagar. Aí você, que já está desanimado, apaga aquele restinho que ainda existe. Não apagueis o Espírito Santo. Nós somos o templo vivo do Espírito Santo e não podemos apagar essa chama que está acesa no nosso coração, ainda que ela pareça insignificante. Pode ser que um dia ela venha a fumegar verdadeiramente, em uma grande brasa, em um grande fogareiro, iluminando toda a sua família e todas as pessoas que você ama. Portanto, não apague sua chama. E no top 10 da Sagrada Bíblia, o que mais gosto é: “não desprezeis as profecias, mas examinai tudo e guardai o que for bom”. Ouvimos de tudo nessa vida, e o apostolo há dois mil anos já nos disse isso: vamos ouvir besteiras, coisas boas, coisas que não valem nada, coisas que não vão agregar. Mas devemos manter conosco somente aquilo que agrega, que forma o nosso coração, que dá esperança à nossa vida. Mas, quantas vezes somos peneira somente para coisas negativas e para o que é mau? “Ouvi tudo e ficai com o que é bom”.
Você ouviu algo ruim de Jesus Cristo? Vá atrás, fique com o que é bom. Ouviu algo ruim sobre a Igreja Católica? Vá atrás e descubra o que é certo e o que é errado e fique com o que é bom. Descobriu algo difícil da sua família? Fique com o que é bom, pois besteira a gente ouve todos os dias de nossas vidas, mas retemos em nosso coração aquilo que nós desejamos. Que, na proximidade do Santo Natal, possamos restabelecer a confiança de sermos ungidos para levar a esperança a todos os corações. Que possamos nos alegrar sempre, mesmo diante de todas as atribulações da nossa vida, para que, neste Natal, Jesus possa encontrar espaço na nossa vida, no nosso coração e nos nossos sonhos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo do Advento (Ano B) – 17/12/2017 (Domingo, missa das 10h).

Preparar o coração para a vinda do Senhor
10/12/2017
Queridos irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o 2º Domingo do Advento, tempo de preparar o nosso coração para a chegada do Menino Deus, o Emanuel, o Deus conosco. Semana passada, a Igreja nos convidava a refletir sobre a nossa vigilância, estarmos todos atentos àquilo que pode acontecer ao nosso redor e aos sinais de Deus que vão se revelando nas pequenas e nas grandes coisas da nossa vida. Neste segundo domingo em direção ao santo Natal, Deus nos convida a refletir sobre a nossa preparação. Como nosso coração está sendo preparado para a chegada do Menino Deus? Não podemos chegar ao Santo Natal despreparados – "Nossa, já chegou o Natal!". O cristão católico deve percorrer o caminho que leva a manjedoura do seu coração a estar preparada para a noite santa, o dia santo do Natal de nosso Senhor Jesus Cristo.
Na primeira leitura que a Igreja nos convida a refletir [Is 40, 1-5. 9-11], o povo estava exilado no reino da Babilônia, e este exílio estava para acabar. Mas como isso seria possível por meio de um rei estrangeiro que tinha um deus pagão? O profeta Isaías escreve nos alertando para prepararmos o nosso coração independentemente de como o Senhor for agir para nos libertar. O importante é que, no dia em que formos libertos, o nosso coração esteja preparado. Nós dizemos constantemente que "Deus escreve certo por linhas tortas"; em outras palavras, queremos dizer que não compreendemos como Deus age em nossa vida nem mesmo por meio de quem. E se o povo exilado na Babilônia foi liberto por um rei estrangeiro que adorava um deus pagão, por que não acreditar que o Senhor se utilizou deste rei para libertar o Seu povo? Deus pode agir de muitos modos em nossa vida, e passados mais de 2.500 anos é necessário que a gente tire aquela imagem de filme da nossa cabeça, de que Deus desce da nuvem e diz: "Oi, tudo bem? Vim te libertar". Não é assim que Deus age! Deus vai agindo ao longo da história, por meio de instrumentos humanos.
Por quantos exílios nós não passamos... Quantas situações de escravidão, de cegueira espiritual nós enfrentamos... Enquanto estamos no nosso exílio, é necessário não perdermos a fé e a esperança. E ao sairmos do exílio, meus irmãos e irmãs, temos ainda uma caminhada para chegar à Jerusalém novamente, um percurso de deserto no qual vamos refletindo sobre nossas atitudes, sobre nossas escolhas, para quando chegarmos à Jerusalém podermos estar com nosso coração preparado ou, ao menos, sensível à mensagem que Deus nos traz.
Estamos tão agitados... Às vezes, logo cedo! Hoje mesmo eu entrei no carro e o rádio estava ligado, um pouco alto; então, desliguei e pensei: "Chega de barulho, um pouco de silêncio". Mais adiante, vi uma senhorinha vindo devagarinho à missa, e achei bonito, porque acredito que, enquanto vinha, ela estava pensando sobre as coisas de Deus. Andamos com tantas coisas na cabeça... Mas nos é necessário, neste percurso de casa até a igreja e neste percurso de hoje até o dia 24 de dezembro, prepararmos o coração para a chegada do Menino Deus.
O Salmo 34 da liturgia de hoje, tão bonito, diz: "Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei". Olha que oração linda o salmista nos escreve! "Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar, a paz para o seu povo e seus amigos, para os que voltam ao Senhor seu coração" – Deus deseja nos trazer esta paz! – "A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão [...] O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas; a justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus". Esta esperança do salmista, que escreve este salmo após o retorno do exílio, na reconstrução do templo de Jerusalém, deve ser também a nossa oração, na esperança de um Deus que reconstrói a nossa fé, a nossa caminhada, a nossa esperança.
Para muitos, pode parecer que Deus está demorando a agir, e foi por isso que Pedro escreveu, na segunda leitura de hoje [2Pd 3, 8-14]: "Caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Para nós, pode parecer que está demorando, mas Deus é quem sabe o tempo certo para agir na nossa vida. Às vezes, nós somos como crianças que querem tudo na hora. Por exemplo, tinha uma coroinha hoje que queria ter uma função na missa e não deixaram (tinha uma explicação, mas eu não sei porque não me intrometo). E o bonito é que o pai foi conversar com a criança e disse assim para ela: "Filha, eles sabem o que é certo. Eles escolhem. O seu tempo vai chegar". Às vezes, nós somos como crianças querendo as coisas na nossa hora, no nosso momento, e não esperamos o tempo de Deus, não esperamos que as coisas aconteçam no tempo certo na nossa vida.
Nesse sentido, o Evangelho de hoje [Mc 1,1-8] nos mostra que João Batista, em algum momento de sua vida, foi tocado para preparar os corações. E foi só naquele momento em que sentiu forte o chamado de Deus na sua vida que ele saiu anunciando o caminho para a conversão e o batismo para o arrependimento dos pecados. Da mesma maneira, Jesus também esperou 30 anos de Sua vida para sentir que era o momento certo de Se revelar como filho de Deus.
Que possamos, neste 2º Domingo do Advento, preparar verdadeiramente o nosso coração para que, quando chegar o dia e a hora, o Senhor não nos encontre desapercebidos, entretidos com outras coisas que não com as coisas de Deus. Que o Senhor amadureça o nosso coração para que saibamos aguardar o tempo de Deus. E, como cantamos no Salmo 34 da liturgia de hoje, peçamos ao Senhor, do fundo do nosso coração, que Ele nos mostre a Sua vontade, que Ele nos mostre a salvação e nos conceda a graça de uma vida nova em Seu amor!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo do Advento (Ano B) – 10/12/2017 (Domingo, missa das 7h30).

Recordemos a fidelidade de Deus para conosco
03/12/2017
Meus irmãos e irmãs, hoje damos início a este Tempo do Advento, que é um tempo de espera. Momento de aguardarmos Jesus ser gerado, gestado no nosso coração e no seio de nossa família para que, no dia 25 de dezembro, Jesus possa, mais uma vez, encontrar espaço no nosso interior e ir crescendo dentro dos nossos sentimentos, das nossas atitudes. Por isso, é necessário, a partir de hoje, nós “virarmos a chavinha”, como diz o ditado popular. Sairmos de um Tempo Comum e entrarmos no Advento, que é um tempo importante e muito forte para a Igreja. E a liturgia que celebramos, aqui na casa do Senhor, deve ser levada para a nossa casa, para nossa família e nosso ambiente de trabalho. A liturgia também nos pede que mudemos a cor, que agora será roxa até o dia 25 de dezembro. Isto significa que este novo Tempo da Igreja será de conversão: devemos converter as nossas atitudes, os nossos sentimentos, as nossas palavras. Convertermos, em resumo, o nosso testemunho. Não iremos cantar o Hino de Louvor até o dia 24 de dezembro, na Missa do Galo, na qual cantaremos este Hino com muita alegria pois Jesus, mais uma vez, renasce em nosso meio, na nossa vida.
E para nos prepararmos para este momento, o presépio, em casa, é fundamental. Hoje iremos abençoar os presépios e eu peço a vocês que o montem em família. A gente gasta tempo para tanta coisa – para ver jogo de futebol, assistir ao último capítulo da novela, para comer uma pizza, para jogar baralho – mas será que a gente usa este tempo juntos montando o presépio? Ao montá-lo, conversar um pouco sobre as imagens que ali estão: o quanto Nossa Senhora sofreu para gestar aquela criança; o quão difícil foi para São José acreditar na mensagem do anjo; por que Jesus ainda não é colocado na manjedoura, mas sim esperamos para colocá-lo; nesse tempo de espera, o que deve ser mudado na nossa vida. Talvez conversar um pouquinho sobre o que deve ser alterado na atitude de cada um enquanto família.
Você esposa, converse com seu esposo. Já que se fala de muitas coisas, mas raramente se fala um do outro. Conversar sobre sua casa, seu matrimônio, sobre a educação dos filhos, sobre os desafios que assolam a felicidade do seu matrimônio e da sua família. Como vocês querem estar daqui a 5 anos, daqui a 10 anos, quando estiverem bem velhinhos, com um carregando o outro. Conversar sobre a família e sobre esse forte Tempo do Advento, onde a nossa vida deve ser transformada. Mas a pregação do sacerdote e a Santíssima Eucaristia não farão nada de diferente se você não abrir as portas do seu coração. É necessário abri-las para que Jesus vá encontrando espaço nesta manjedoura que, a partir de hoje, deve ser preparada com muito carinho por mais que você não tenha experiência católica na sua vida, por mais que você tenha abandonado por algum tempo a espiritualidade cristã católica.
Nós vemos na Primeira Leitura [Is, 63,16b-17.19b.64,2b-7], que se passou por volta do século V antes de Cristo, que aquele povo tinha saído do Exílio da Babilônia e voltado para casa, mas com a fé fragmentada. O povo estava enfraquecido e seu templo em ruínas. E, ao voltar para casa, foi necessário reconstruir a sua fé. A fé pessoal, a fé familiar, a fé dos jovens. Foi necessário reconstruir o templo e eles foram felizes porque entenderam que Deus jamais nos abandona. Como nos disse na leitura: “nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam”; e diz mais: “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. Por nós reconhecermos que Deus jamais nos abandona e que é o único que caminha conosco ao longo de nossa história é que devemos, como o barro, sermos modelados nas mãos Dele. A reconstrução de nossa fé, de nossos valores ou, até mesmo, a reconstrução familiar tornam-se mais fáceis porque nós colocamos nas mãos de Deus aquilo que é a Sua vontade. Transformar a nossa vida e os nossos sentimentos.
Os desafios são tantos para mim e para você, assim como foram no passado e serão no futuro. Mas olhando para a Segunda Leitura [1Cor 1,3-9], Paulo diz à comunidade de Coríntios, que era uma comunidade portuária de cerca de 500 mil pessoas. Para se ter uma ideia, no último censo do IBGE, a cidade de Santo André tinha cerca de 680 mil habitantes. Portanto, uma cidade quase do tamanho de Santo André, mas com a diferença que havia pessoas do mundo inteiro, com diversas raças, povos, línguas, religiões e filosofias. E, para ajudar, dois terços da população eram escravos. Paulo escreve para esta comunidade – que foi fundada na pregação, na oração e no amor – para que eles sejam perseverantes: “nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre vós”. O testemunho de Cristo é condição fundamental para que Deus continue agindo em nosso coração, na nossa comunidade, na nossa família. E Paulo conclui a carta dizendo “Deus é fiel”. Vemos outras religiões dizendo “Deus é fiel” e colocando a frase no carro e em vários outros lugares. E nós, cristãos católicos, com uma dificuldade imensa de falarmos da fidelidade de Deus.
E é muito importante falarmos não somente da fidelidade de Deus para conosco, jamais nos abandonando, mas também da nossa fidelidade. Seja na vida matrimonial, como os casais que completam bodas aqui na comunidade; na paternidade, como São José para com Jesus; na maternidade, como Maria para com seu filho; à sua Igreja, como muitas vezes seus avós ou seus pais. Mas fidelidade é uma palavra que devemos frisar também neste Tempo do Advento.
E Jesus nos diz, no Evangelho de Marcos [Mc 13, 33-37]: “cuidado! Ficai atentos”. Quando alguém lhe diz para tomar cuidado, o que você pensa? Que há perigo à vista? Que precisa prestar mais atenção? E é justamente isto que Jesus está dizendo para seus discípulos e para nós. Para ligarmos o alerta, pois não sabemos quanto tempo ainda temos para reconstruir o nosso templo, a nossa fé, a nossa família. Cuidado com o testemunho ou com a falta de testemunho que você dá no seu matrimônio, na sua casa, no seu trabalho, com seus amigos. Cuidado quando você não recorda a fidelidade de Deus e a sua própria fidelidade.
Portanto, hoje é dia de tomarmos cuidado e pensarmos no futuro. Porque a vida não é feita só do presente, mas de passado, presente e futuro. O que nós queremos realizar no nosso futuro? Possamos, ao montar o presépio na nossa casa e ao rezarmos em família a novena de natal, nos deixarmos ser verdadeiramente conduzidos pelo Senhor Jesus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 1º Domingo do Advento (Ano B) – 03/12/2017 (Domingo, missa das 7h30).

É missão do leigo cuidar das ovelhas que lhe forem confiadas
26/11/2017
Nós estamos celebrando a Solenidade de Cristo, Rei do Universo, porque fora de Jesus nós não encontramos a Salvação. Essa é a nossa fé! Nós acreditamos neste Deus misericordioso, neste Deus justo, o Bom Pastor que vem dar a vida por Suas ovelhas, este pastor que convida todos nós a termos um coração semelhante ao Seu. E é justamente nesta Festa de Jesus Cristo, Rei do Universo que o Papa Francisco instituiu o Ano do Laicato, que começa hoje e vai até o último domingo do mês de novembro de 2018. Ao longo desse ano, a Igreja vai refletir sobre o papel do leigo, de cada batizado. Leigo é entendido, na Igreja, não como aquele que não sabe de nada, mas como os homens e mulheres que não assumiram a vocação sacerdotal ou religiosa e, a partir do Batismo, vivem o projeto de Deus no mundo, na família, no trabalho, na comunidade. E o que a Igreja nos pede com o Ano do Laicato? Que estes leigos e leigas, em 2018, possam levar à frente a tarefa de evangelizar, confiada por Jesus a cada batizado.
Cada um de nós deve assumir a responsabilidade de viver o que nos disse Jesus: "Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15), "Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28, 19). Estes trechos são um imperativo categórico, ou seja, uma instrução dada por Jesus Cristo de que todos nós, eu e você, devemos ser evangelizadores. É um dever que brota do nosso batismo, portanto, hoje também é dia de recordarmos a data em que fomos batizados.
E este dever do cristão católico batizado nunca deve se confundir com o dever dos padres, dos bispos... Porque qual o problema que aconteceu na Igreja, que estamos superando devagarinho? O leigo quis tomar o lugar do padre em algumas coisas – começou a celebrar casamento, realizar a Celebração da Palavra... – e o padre quis tomar o lugar do leigo – começou a construir igreja, arrumar a fiação da paróquia, ser cantor... E as funções foram se confundindo. Agora, queremos recolocar cada um em sua função. Porque se, por exemplo, o padre inventa de ficar construindo igreja, subindo no telhado, trocando telha, quem vai dar a unção a um doente? Quem vai confessar? Quem vai celebrar a missa? Por sua vez, o leigo também não pode querer tomar o lugar do padre de pastor, de presidente e orientador da comunidade. Por isso, a Constituição Lumen Gentium, um dos melhores e mais importantes documentos da Igreja, escrito em comunhão por todos os bispos, nos diz algo muito importante: "A fundamentação e participação do leigo na vida da Igreja não é uma permissão dada pela hierarquia, pelos bispos e padres, mas um dever de cada batizado. Os fiéis, pelo batismo, foram incorporados a Cristo".
Eu e você fomos incorporados no coração de Cristo e, por isso, temos obrigações, deveres para com este Cristo que deu a vida pela nossa Salvação. E nós podemos dividir estes deveres em três pontos essenciais. Primeiro, o leigo é chamado a contribuir no interior da igreja. Como? Na vida comunitária. Porque ser católico não é simplesmente participar da Santa Missa, rezar o terço, as orações devocionais; ser cristão católico é formarmos uma comunidade, uma família da qual você também é convidado a fazer parte junto com as pessoas que já estão envolvidas. Você é convidado a participar da Liturgia, como os leitores, os ministros, os coroinhas e cerimoniários, os músicos, a Pastoral da Acolhida, o animador... Porque o padre não reza a missa sozinho, ele precisa do povo. E o padre está a serviço do povo na Liturgia.
Você também é convidado a participar na organização e administração da comunidade. O pároco não é formado em Administração de Empresas, Contabilidade, Engenharia... Por isso, precisa dos leigos, precisa do povo. Por exemplo, aqui na comunidade, sete leigos me ajudam na administração. E têm pessoas agora me ajudando na parte estrutural da paróquia, tem um paroquiano me ajudando a rever a parte elétrica da igreja... Em tudo isso o leigo pode ajudar, auxiliar, e o padre não deve querer fazer tudo sozinho. Assim, o leigo é chamado a contribuir nas diversas pastorais. Nós temos os Vicentinos, a Catequese, a Comissão de Festas... Enfim, só aqui em Santa Teresinha nós temos mais de 30 pastorais para você escolher onde pode contribuir.
E o leigo é convidado, por último, a contribuir na ação de índole secular, construindo uma sociedade mais justa e fraterna. Por que isso? Porque nós celebramos a Eucaristia em ação de graças para tomarmos forças e irmos para o mundo, e no mundo sermos luz para aqueles que estão nas trevas. É no mundo que você é convidado a viver o Evangelho, não apenas dentro da igreja. E o Papa Francisco nos diz: "Assim como o leigo não pode substituir o pastor" – ou seja, os padres, os bispos – "o pastor não pode substituir os leigos e leigas no que lhes compete por sua vocação e missão". A sua vocação, a sua missão, meu irmão, minha irmã, é ser, no mundo, sinal de luz, sinal de esperança. A sua vocação é ser, no mundo, o bom pastor, cuidando das ovelhas que lhe foram confiadas: seu esposo, sua esposa, seus filhos, seu afilhado ou afilhada, o padre cuidando da comunidade, as pessoas que você coordena no seu serviço... E a primeira leitura [Ez 34, 11-12. 15-17] nos ajuda muito nesse sentido.
"Assim diz o Senhor Deus: Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas". Nós somos convidados a procurar nossas ovelhas e cuidar com carinho destas que nos foram confiadas. Será que você está cuidando bem do seu esposo, da sua esposa, dos seus filhos, do seu afilhado, da sua afilhada? Você está cuidando bem dos seus pais? Muitas vezes, nós não cuidamos bem deles e só nos damos conta quando estamos perdendo ou já perdemos. E a leitura continua: "Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersas num dia de nuvens e escuridão". Ir ao encontro e resgatar as ovelhas. Quantas ovelhas perdidas... E nós as abandonamos muitas e muitas vezes. Depois, a leitura ainda diz: "Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente e vigiar a ovelha gorda e forte". Preste atenção que a Palavra de Deus diz que ele vai cuidar da ovelha machucada. Ele não vai bater na ovelha que se perdeu - como nós, muitas vezes, fazemos quando alguém erra, levando a pessoa a chorar, ficar deprimida, para, depois, ficar adulando. Em vez de cuidarmos de quem cometeu algum erro, a gente bate mais ainda em quem já está machucado. É como com os cachorros. Quando fazem alguma arte e você dá uma bronca neles, da próxima vez que se aproxima, eles fogem de você. O ser humano é do mesmo jeito. Se você chega e alguém te bate, quando você o vir de novo irá se afastar. Então, quando alguém erra, a gente tem que primeiro acolher, enfaixar a perna quebrada, curar sua ferida para, depois, formar. Porque tem gente que já está com o seu moral lá embaixo por ter errado, e você vai e coloca a pessoa ainda mais para baixo. Isso não é evangélico.
E quando a leitura diz: "...vigiar a ovelha gorda e forte", vale a pena recordarmos que é importante cuidar do que nós temos, porque senão vem alguém querendo roubar a nossa ovelha. A gente cuidou dela desde pequenininha, engordou, deixou o pelo bonito para, agora, vir alguém querer roubá-la de nós? Então, esposa, cuide do seu marido, porque senão outra pessoa pode querer cuidar e você ficará cheia de ciúme. Marido, cuide da sua esposa, porque se você não cuidar, não der carinho, atenção, outro alguém pode querer dar. Você pai, você mãe, cuide dos seus filhos, porque se você não cuida, alguém lá fora vai cuidar – as más companhias, as drogas, a prostituição... Tem que cuidar! Porque, muitas vezes, a gente se preocupa com os de fora e esquece os de dentro. E neste dia em que celebramos a Festa de Cristo, Rei do Universo e a abertura do ano dos leigos na Igreja, é necessário cuidarmos uns dos outros para que, como diz a segunda leitura de hoje [1Cor 15, 20-26. 28), Deus seja tudo para todos. Porque Deus deu a vida pela nossa salvação.
Peçamos, nesta eucaristia, meus irmãos e irmãs, que ao celebrarmos esta Palavra de Deus, celebrarmos o Corpo e o Sangue de Cristo, sejamos, na vida um do outro, bons pastores, como Cristo amou a cada um de nós, as Suas ovelhas.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (Ano A) – 26/11/2017 (Domingo, missa das 7h30).

Usar nossos talentos com sabedoria
19/11/2017
Nós estamos celebrando o 33º Domingo do Tempo Comum e o Papa Francisco institui, a partir deste ano 2017, esta data como o Dia Mundial do Pobre porque nós precisamos estar mais atentos às necessidades dos nossos irmãos e irmãs e amá-los não apenas com palavras ou poesias, mas com gestos concretos. Com o tema: “não amemos com palavras, mas com obras”, o Papa Francisco se inspira no primeiro livro de João [1Jo 3,18], o qual diz: “meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”.
São João Crisóstomo, mais tarde, escreve: “queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que ele seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez”. O Papa Francisco chama a atenção para que o Evangelho seja encarnado na nossa vida. Não somente no nosso coração, mas também nas nossas obras.
Gostaria de agradecer a Deus por esta comunidade e, especialmente, por este domingo da partilha, em que nós trazemos alimentos e produtos de higiene pessoal e, assim, vamos ajudar os nossos irmãos e irmãs necessitados. Ontem mesmo nós ajudamos 89 famílias com o apoio dos vicentinos! Deus abençoe a sua generosidade em ajudar as famílias necessitadas! Existem pessoas necessitadas espiritualmente, é verdade, mas não podemos nunca nos esquecer daqueles que pouco ou nada tem.
Olhando para a ambientação preparada para esta missa, nós recordamos, no primeiro item, as pessoas que não têm água potável na sua casa. Quantas vezes nós deixamos as nossas torneiras abertas para escovar os dentes ou ficamos quase uma hora tomando banho com a água escorrendo? E quanta gente neste mundo – por exemplo, em nosso Nordeste ou na África – não tem água potável em casa? Quantas família não têm saneamento básico? E quantas doenças são deliberadas por falta de saneamento básico? Quantas pessoas não têm moradia e estão vivendo de favor ou em condições sub-humanas? E quantos doentes nós temos no nosso Brasil!
O segundo item da ambientação são os remédios. No último ano, foram mais de 2 milhões de brasileiros que deixaram seus convênios médicos pela condição financeira e voltaram para o Sistema Único de Saúde. Quantas pessoas nas filas dos hospitais: nas filas dos exames, para receber remédio, para intervenção cirúrgica! Quantas pessoas necessitadas de alimentos e nós os desperdiçamos em nossas casas, colocando no prato mais do que podemos comer! Quantas pessoas passando necessidade, estando na aridez de suas vidas, tal qual aquelas terras que não podem gerar alimentos.
O terceiro item da ambientação, a vela, nos recorda a esperança. Esperança que não deve abandonar o nosso coração porque, quando perdemos a esperança, perdemos tudo. Por isso, é necessário, como diz a liturgia de hoje, aprendermos a valorizar os talentos que Deus nos deu. Talento que, na linguagem Deus e da época do cobrador de impostos, é a questão financeira. O talento equivale a não sei quantos denários (moeda da época), mas era um valor considerável. E o patrão, alguém que se abastava de alguns bens, entregou 5 talentos para uma pessoa, 2 para outro e 1 para o terceiro. Aquele que pegou 5, logo saiu e foi obter mais 5 talentos; o que recebeu 2, pensou um pouquinho, mas foi e multiplicou a quantia de 2 talentos para 4 talentos; aquele que tinha apenas 1 disse: “esse homem é bravo; se eu chegar aqui e não tiver nada eu estarei perdido!”. Assim, ele fez um buraco e enterrou o dinheiro para escondê-lo.
Quando o patrão voltou, o que tinha 5 talentos, disse: “estão aqui os seus 5 e mais 5; eu multipliquei!”. Aquele que tinha 2 talentos, disse: “eu tinha 2, agora tenho mais 2; eu consegui multiplicar”. Quando chegou o terceiro, ele disse: “Senhor, o que me deste está aqui de volta; o que era teu, estou entregando”. E o patrão concluiu: “servo mau e preguiçoso!” por não ter multiplicado os talentos.
O que Jesus está querendo dizer com esta parábola de hoje? Ele está falando que tudo aquilo que Ele nos deu deve ser multiplicado com inteligência e coragem. E, através disso, a conta bancária também. Porque se você deixar o seu dinheiro parado na conta corrente, daqui a 5 anos ele vai valer muito menos. Você tem que procurar alguma aplicação: colocar na poupança, no CDB, no tesouro direto. O importante é você não deixar o seu dinheiro parado. Ainda mais você que é daquele tempo em que colocava o dinheiro debaixo do colchão. Quando for pegá-lo, já mudou a moeda e não vai valer mais nada.
E, deste modo, muitas vezes, o nosso medo nos deixa estáticos. Nós ficamos paralisados com a possibilidade de nosso patrão ser severo conosco. Por vezes, paralisados com a possibilidade de Deus ficar chateado, bravo conosco. Tem até esposo que fica paralisado com medo da esposa e exalta a mulher lá nas alturas. Porque a mulher é quem administra bem os bens da casa. Antigamente, o homem saia para trabalhar e ela dizia quanto de farinha, quanto de carne por dia ou quantos frangos tinham que ser matados. Ela administrava a casa, então o homem elogia a mulher que administra bem os bens da sua família, como fala a Primeira Leitura de hoje [Pr 31,10-13.19-20.30-31]. Cada um tem o seu dom. A mulher, boa parte das vezes, tem este dom. O homem, por sua vez, normalmente tem outros dons. Os filhos possuem, cada um, seus dons. Um outro problema nas famílias, que tem diminuído, mas ainda existe: o pai e a mãe querem obrigar os filhos a fazerem o que eles próprios querem e não o que o filho deseja para a sua vida, para a sua felicidade. E isso, às vezes, paralisa o jovem.
Devemos buscar entender o que está paralisando a nossa vida. Será que estamos multiplicando os talentos que Deus nos concedeu ou estamos paralisados, com medo? Estamos fazendo buracos pelas ruas, ou dentro de casa, atrás do guarda roupa, para esconder as coisas e não multiplicando?
Quantas vezes os empresários têm medo de investir, de inovar, de dar responsabilidades para os mais jovens! Aqui na comunidade já escutei: “mas como um jovem de 20 anos pode me ajudar?”. Pode ajudar e muito, assim como o jovem não pode pensar: “como uma pessoa de 80 anos pode me ajudar?”. Pode ajudar em muita coisa! Porque tem experiências que você jovem não tem, assim como o idoso não tem experiências que um jovem de 20 anos possui. E assim um vai ajudando o outro.
Quantas paróquias estão ficando vazias porque tem medo de investir em novas iniciativas de evangelização! O Papa Francisco insiste para que tenhamos estas inovações, mas quantas vezes ficamos paralisados pensando que “assim está bom, não precisa encher a igreja”; ou ainda, “por que aumentar o dízimo? Por que fazer festa? Assim está bom!!”. Não se pensa no futuro! Em quantas paróquias por aí o padre quer aumentar o espaço, mas não tem terreno. E nós precisamos ser corajosos, porque quantas pessoas tem medo do padre ou tem medo do patrão!
Medo todos nós temos, mas se, especificamente, o padre da comunidade tem medo nós nunca conseguiremos avançar. Vou pegar o exemplo de um casal e sua filha. Um dia eu os chamei no meio da assembleia, para ajudar outra paróquia quando eu era seminarista. Vieram, foram se envolvendo com a comunidade, participaram da liturgia, depois do EJC, ficaram envolvidos e agora estão aqui conosco, trabalhando no EJC da paróquia e na pastoral do dízimo, porque lá atrás alguém os chamou para trabalhar e eles foram perseverantes! Um outro paroquiano sentava-se sempre no mesmo lugar. Depois de três meses que ele, a esposa e as duas filhas sempre estavam aqui aos domingos, eu precisava de alguém que ajudasse na secretaria porque a gente não tinha como pagar. Aí chamei eles, e começaram a ajudar. Depois começaram a me ajudar também na contabilidade, depois no CAEP. Hoje coordenam pastoral em nossa comunidade. Se eu não tivesse chamado, como teria sido? Quantas outras pessoas nós poderíamos chamar, mas nós temos medo e ele nos paralisa!
Peçamos a Deus que, nesta Eucaristia, o medo que assolava a comunidade de Tessalonicenses – de acordo com a Segunda Leitura de hoje [1Ts 5,1-6], com medo da segunda vinda de Jesus Cristo Nosso Senhor – não tome conta do nosso coração. Que sejamos capazes de olhar ao nosso redor e sabermos onde podemos investir os nossos talentos, os dons que Deus nos concedeu. Que o Senhor nos permita multiplicar as suas obras evangélicas através de gestos concretos de amor e de solidariedade para com os que mais necessitam.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 33º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 19/11/2017 (Domingo, Missa das 7h30).

Que estejamos sempre preparados para o que há de vir
12/11/2017
Hoje nos encontramos para celebrar a nossa fé, a Eucaristia e a Sua Palavra, juntamente com estas crianças que farão a renovação das promessas do batismo, neste 32º Domingo do Tempo Comum, no qual o ano litúrgico vai se encerrando. Temos apenas mais dois domingos, além deste, para começar o Advento – a preparação para o Santo Natal do Senhor. E, nesta reta final do Tempo Comum, a Igreja nos convida a nos prepararmos para as coisas últimas. Porque a nossa vida é natural: nascemos, crescemos, vivemos e, depois, morremos. E a morte é uma passagem para aquilo que daremos continuidade na morada eterna. Mas, pode acontecer também, do Senhor Jesus vir antes, a chamada Parusia, que significa o estudo das coisas últimas, das coisas finais. Quando Deus voltará para nos levar junto de Seu Pai Celeste. Se Jesus aparecer hoje, será que nós estamos preparados para a Sua vinda?
Por isso, a Igreja nos coloca, na Primeira Leitura, um trecho do Livro da Sabedoria [Sb 6,12-16], que é uma coletânea de reflexões de pessoas que viveram por muitos anos e foram colocando no papel suas indicações para viver bem o projeto de Deus. Segundo os biblistas, se fosse escrito hoje, seria um livro de autoajuda. Portanto, é um livro de “autoajuda” dentro da bíblia. E, o que este texto nos diz? A sabedoria é um tema do ser humano e deve ser buscada. Ela não aparece do dia para a noite, é a consequência de uma busca. A sabedoria e o conhecimento não são conquistados por osmose: tem que estudar bastante, muitas vezes com sacrifícios de tempo. E a Palavra de Deus nos diz que devemos nos esforçar para conquistar esta sabedoria e amá-la. E todos nós devemos buscá-la, em seus vários tipos: a sabedoria dos livros, da vida, das pessoas mais experientes, das Sagradas Escrituras e das questões espirituais. Por que tantas pessoas buscam ajuda em horóscopos, em livro de autoajuda, e em outros lugares que não as convém, mas não buscam sabedoria nas coisas espirituais? A sabedoria é muito importante para que saibamos como lidar com várias situações no nosso dia-a-dia: em uma enfermidade, quando alguém não gosta de nós mas queremos lidar com esta pessoa, nos relacionamentos, no matrimônio, para educar os filhos, para entrar no mercado de trabalho, para suportar os colegas de trabalho mais difíceis. Tem que ter paciência e muita sabedoria.
E é necessário conquistarmos essa sabedoria, até mesmo quando nós erramos, porque todos falhamos. E por que não aprender com os nossos erros e, também, com os erros dos outros? Quando eu estava no seminário, um padre foi nos dar direção espiritual e ele dizia assim: “se vocês forem bons observadores, com certeza vocês não vão errar muito, porque vocês já estão vendo os erros que os padres cometem e é só não reproduzi-los em suas paróquias”. E é um grande fato. A gente passava por algumas igrejas e ia observando. Não que a gente não cometa erro hoje, porque cometemos. Mas, se o outro já errou naquilo, por que você vai errar também?
Vocês que são filhos e, por muitas vezes são teimosos, aprendam a ouvir seus pais pois eles já cometeram erros e têm ensinamentos valiosos. Para você que é casado e conhece alguém perto de você que está em uma situação matrimonial complicada: você sabe das dificuldades, você vai cometer os mesmos erros? Não! Você que é pai ou mãe e está vendo o filho do outro sofrendo, porque foi mal educado, porque foi ausente ou por outro motivo qualquer: você vai cometer o mesmo erro? Não! Aprenda com os erros dos outros! Você que, na escola, está vendo ou conhece alguém que está usando drogas: você precisa usar drogas para saber que aquilo é errado? Não! Você pode aprender com os erros dos outros também. Se vemos alguém fazendo algo errado e isto trouxe prejuízo a ela, aprendemos a não fazer igual. Infelizmente, há pessoas que apenas aprendem quando experimentam e se dão mal. Só aprendem que tomada dá choque quando coloca os dedos lá, por mais que se avise previamente. Adultos, tenham muita paciência com nossas crianças e jovens, pois eles estão em um processo de aprendizado, em busca desta sabedoria. E a nossa vida é um eterno aprendizado, mas para isso é necessário estarmos sempre atentos ao nosso redor porque nem tudo se aprende nos livros. Só assim teremos a sabedoria suficiente para estarmos sempre preparados para as situações.
E falando em estar preparado, no Evangelho de Mateus [Mt 25,1-13], Jesus fala das 10 virgens, das 5 prudentes e das 5 imprudentes. E a Igreja nos convida a refletir em qual dos dois grupos nós estamos. Jesus disse que, para uma festa de casamento, estavam as 10 virgens segurando lamparinas. E, no tempo de Jesus, o noivo ia até a casa na noiva, buscá-la. E saiam em procissão pelas ruas até o local da cerimônia do casamento. E as 10 virgens iam com as lamparinas acesas iluminando o caminho.
Hoje são as noivas que atrasam, mas no tempo de Jesus foi o noivo. Ele atrasou – e, pelo visto, atrasou bastante - e as virgens acabaram até dormindo, achando que o noivo tinha desistido do casamento. Mas o noivo apareceu e 5 daquelas virgens tinham bastante óleo para deixar as lamparinas acesas, mas as outras só levaram aquele pouquinho para aquele percurso pequeno. As virgens poderiam ter colocado mais óleo para as lamparinas, mas não o fizeram. E, quando o noivo chegou, não tinham mais óleo e não puderam participar daquela procissão, daquele casamento, porque causariam vexame. Jesus quer dizer que, quem não estiver com sua lâmpada acesa, atento, não poderá entrar na festa da eternidade. E quando Jesus voltar, será que nós estaremos com as nossas lâmpadas acesas? Devemos estaremos preparados pois não sabemos nem o dia e nem a hora que o Senhor virá. Quem aqui já teve prova surpresa? Se não soubermos o conteúdo o tempo todo, se não estivermos preparados, não nos sairemos bem.
Fazendo uma analogia com a bíblia, pergunto a você: como está seu nível do reservatório de óleo? O óleo do amor, o óleo da misericórdia, o óleo da justiça. Porque a Igreja é muito clara ao dizer que, para estarmos na morada eterna, não basta participar da missa e fazer as suas orações devocionais. É necessário termos um coração voltado para Deus e repleto de coisas boas. Ou seja, fazermos das nossas escolhas e das nossas atitudes, uma vida devotada a Deus. Buscar viver o Evangelho no seu matrimônio, na sua escola, com seus amigos, no seu trabalho, dentro da igreja e procurar viver o dia de hoje porque tem tanta gente preocupada com o futuro que se esquece de pensar no hoje.
Tem gente que vai fazer o ENEM esse final de semana. Se estivesse só preocupada com o ENEM lá na frente e não tivesse estudado, seria só no chute. Mas se estudou, não! Quanta gente fica pensando só lá no futuro e não muda as atitudes ao pensar no hoje! Quanta gente reclamando da previdência e do governo, mas você já tomou a sua decisão hoje para que tenha algo no futuro? Ou tudo que entra no seu bolso, sai? Você é organizado financeiramente?
Quantas coisas nas quais a gente se preocupa com o amanhã e não consegue viver o hoje! Os casais, quando marcam a data do casamento, ficam preocupados com a igreja, com o vestido, com o apartamento, com enxoval... ficam preocupados com tantas coisas e se esquecem de viver o relacionamento em si. Tem casal que casa e depois de 1 ou 2 meses estão separados porque faz 2 anos que não estão juntos: só estão pensando na festa do casamento, na casa, na cortina, mas não estão vivendo o momento presente.
É isso que Paulo nos fala quando escreve a Carta aos Tessalonicenses [1Ts 4,13-18], na Segunda Leitura de hoje. Uma comunidade fundada por ele e que estava preocupada com a vinda de Jesus. Porque, diferente de nós hoje - que temos clara convicção que não sabemos o dia e a hora que o Senhor virá e, por isso, a gente não fica aguardando Ele vir e sim vivemos a nossa vida -, a comunidade de Tessalonicenses estava querendo parar de fazer tudo, parar de trabalhar, de ajudar os pobres, de buscar justiça, de lutar por um mundo mais justo e até de evangelizar porque Jesus está voltando. “Ele irá resolver todos os nossos problemas”, pensavam. E aí Paulo escreve dizendo que isso está errado, está equivocado: nós não devemos ficar sentados de braços cruzados esperando o Senhor voltar, nós devemos tocar a nossa vida e, ao vivê-la, nós praticamos o Santo Evangelho. E muitas pessoas, hoje em dia, ficam paralisados esperando as coisas se resolverem e não empreendem esforços para sair de uma situação de dificuldade seja no relacionamento, em situações de família ou na reentrada no mercado de trabalho.
Peçamos a Deus que possamos, ao longo da nossa jornada nesta terra, ser capazes de acolher, a cada dia, a sabedoria individual e a das coisas pequenas. Que saibamos viver! Que possamos – como diz o Salmo 62, da liturgia de hoje –, ter uma alma, um coração e uma vida sedentos pelo Senhor: “a minh’alma tem sede de vós, e vos deseja, ó Senhor”. Para que, desejando estar com o Senhor, alcancemos a sabedoria, estando com nossas lâmpadas sempre acesas e o nosso coração sempre preparado. Para que, ansiando estar com o Senhor, não caiamos na tentação de ficarmos paralisados, esperando que os problemas se resolvam sozinhos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 32º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 12/11/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Nosso lugar é o céu!
05/11/2017
Nós estamos celebrando a Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus, uma festa comemorada no dia 1º de novembro, mas que, devido sua importância teológica na nossa vida prática de fé, os bispos do Brasil pediram permissão à Santa Sé para celebrar sempre no domingo depois do dia 1º de novembro, para que todos os fiéis católicos pudessem participar desta Santa Missa, porque Jesus nos pede: "Sede Santos como vosso Pai celeste é Santo" (Mt 5, 48). Desde o dia do nosso Batismo, o Senhor nos chama, a todos nós, para a santidade. A nossa meta é realizarmos a vontade de Deus, a exemplo de Santa Teresinha, de São Francisco, São Tarcísio, São Benedito, Santa Edwiges e dos demais santos. Estamos caminhando em direção a Jesus e buscando ter um coração semelhante ao coração do nosso Salvador, deixando que a nossa vida e as nossas decisões sejam conduzidas pelo Espírito Santo de Deus. Essa é a nossa missão, essa é a nossa caminhada.
A segunda leitura de hoje (1Jo 3, 1-3) diz: "Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!". Nós ganhamos um presente imensurável! E qual o pai que não fica feliz quando seus filhos estão no caminho correto? Será que Deus está feliz com a nossa postura? Será que Deus está feliz com as nossas atitudes, com o caminho que estamos percorrendo em nossa vida? É necessário termos ciência de onde queremos chegar, e nosso lugar, irmãos e irmãs, é o céu. Celebramos essa festa para recordar, desde o século IX, aqueles homens e mulheres que a Igreja não reconheceu como santos e santas, mas que estão diante de Deus; aqueles homens e mulheres que não conseguiram a fama da santidade, como Santa Teresinha e os demais santos que aqui estão representados por imagens, santos da minha e da sua devoção. Mas quantos não são os homens e as mulheres que vivem a santidade em casa, no trabalho... Quantos não são aqueles homens e mulheres que morreram por causa da fé e que sequer ficamos sabendo. Com certeza, todos estes estão na morada eterna, junto com Deus e com os anjos, e um dia nós também queremos ir para lá.
Para ir para o céu é necessário rezar o terço, participar da Santa Missa (fundamental!)... Mas nada disso tem significado se, lá na sua casa, no seu trabalho, com seus amigos; nesta sociedade dilacerada pelo pecado, pela discórdia, pela opressão, pelo preconceito, enfim, pelos valores contrários ao Evangelho; se, lá fora, nós não formos capazes de viver o Evangelho que Jesus Cristo, nosso Senhor, pede a cada um de nós. E é o que Jesus nos fala no Evangelho de hoje (Mt 5, 1-12a): "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus [...] Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus". Bem-aventurados são aqueles que praticam os ensinamentos de Jesus, e o próprio Senhor nos diz: "Será grande a vossa recompensa nos céus".
A nossa recompensa é ganharmos a morada eterna, mas para alcançarmos a morada eterna são necessárias atitudes concretas de fé e de vida, como nos fala a primeira leitura (Ap 7, 2-4. 9-14): "Eram cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel [...] Todos proclamavam com voz forte: 'A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro'". A nossa missão para participarmos dos cento e quarenta e quatro mil – que é um número simbólico: 12 apóstolos multiplicados pelas 12 tribos de Israel – é proclamarmos que Deus é o nosso Salvador, e todas as vezes que proclamamos que Jesus é o nosso Salvador nos deparamos com dificuldades, porque quando procuramos instruir, corrigir, quando procuramos viver a santidade no cotidiano da nossa vida, somos incompreendidos, mas não é porque somos incompreendidos que podemos deixar de viver os valores do Santo Evangelho. É necessário traduzir estes valores em palavras e gestos compreensíveis, porque nós cremos em Jesus, porque vivemos o sermão da bem-aventurança, porque cremos na intercessão dos santos, porque trilhamos o caminho dos santos em direção a Jesus, porque deixamos o Espírito Santo nos conduzir, porque cremos da Igreja Católica Apostólica e Romana como um caminho de Salvação da nossa vida. Sinta-se tranquilo, pois todas as vezes que você é incompreendido Jesus está lhe purificando, Jesus está lavando o seu coração, a sua vida e o seu testemunho.
"Quem são esses vestidos com roupas brancas? De onde vieram? [...] Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro". Para viver o Evangelho, nós vivemos tribulações em casa, no trabalho, na sociedade e até dentro da igreja, mas essas tribulações lavam e alvejam as nossas roupas no sangue do Cordeiro. O Cordeiro é Cristo Jesus, que deseja purificar os nossos pensamentos, as nossas palavras e nossas atitudes. É o que diz o Salmo 23 (24): "É assim a geração dos que procuram o Senhor". Será que nossa geração está procurando o Senhor com o coração sincero? "Quem subirá até o monte do Senhor? Quem ficará em sua santa habitação? Quem tem mãos puras e inocente coração, quem não dirige sua mente para o crime".
Que possamos deixar o Senhor conduzir a nossa vida, nosso ser em busca de santidade, Ele que nos diz: "Sede santos como vosso Pai Celeste é santo". Que o Senhor toque profundamente a nossa vida, os nossos medos, as nossas dificuldades; que Ele nos tome pela mão para que, trilhando o caminho rumo ao céu, jamais esmoreçamos diante do desafio de viver o Evangelho da santidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Todos os Santos (Ano A) – 05/11/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Que nos libertemos da tristeza e nos preparemos para a morada eterna
02/11/2017
Queridas irmãs e irmãos, sejam, mais uma vez, muito bem-vindos. Estamos vivenciando, nesta missa, a celebração dos fiéis defuntos, onde temos como símbolo uma frase muito dita também pelo padre Marcelo: “Saudade sim, tristeza não”. Sentimos saudade daqueles que nos precedem no Reino dos Céus. Assim como também sentimos daqueles a quem amamos e nos deixam por qualquer motivo que seja. Mas a tristeza em nosso coração deve, pouco a pouco, ser substituída pela certeza de que nós estaremos todos, um dia, na morada eterna. Porque, como diz a liturgia de hoje, no prefácio da Santa Missa antes da Consagração: “Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada”. A nossa vida mortal é transformada por Deus no final de nossa existência terrena.
Tudo na vida tem um começo, um meio e um fim. Na nossa vida terrena também é deste modo. Mas nós, meus irmãos e irmãs, nascemos para a eternidade e nós cremos nela. Este corpo mortal dará lugar a um corpo glorificado, um dia. Assim como vemos aqui nesta ambientação que a liturgia nos preparou: a morte – representada pelos ramos secos – faz sua passagem pela cruz – que representa a esperança – e encontra, na flor, a manifestação da ressurreição. O roxo ou o preto nos lembra a tristeza e o luto que, ao passar pela cruz, dá lugar ao branco, à Páscoa, à passagem, à ressurreição que nossos irmãos e irmãs que partiram antes de nós estão gozando junto de Deus.
Deus é aquele que nos conforta, nos ampara e consola a nossa tristeza e as nossas lágrimas, como ouvimos na Primeira Leitura [Is 25, 6a.7-9]: “o Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra”. O Senhor de ontem é o Senhor de hoje e consola as nossas lágrimas e tristeza. Hoje é dia de recordarmos os nossos entes queridos e relembrar aqueles que fizeram parte de nossa vida e se foram para junto de Deus. E, muitas vezes, o que fica em nosso coração são aqueles últimos momentos de enfermidade, de internação hospitalar, de fragilidade humana, o velório, o enterro. Mas e todo o resto da vida? São os outros momentos que nós devemos guardar com maior alegria: quando conhecemos, das festas que fizemos juntos, das confraternizações, dos passeios, das orientações, da vida conjunta, afinal não vivemos sozinhos. Não nascemos para viver isolados, mas sempre como família, como igreja. E os nossos entes queridos, que nós pedimos a Deus que os acolha, tiveram uma vida e é ela que deve ser recordada. Os seus bons frutos devem ser recordados no dia de hoje e devemos agradecer a Deus pela oportunidade que estes nossos irmãos e irmãs tiveram de praticar o bem, o amor, a justiça e a solidariedade. E ao recordarmos aqueles que nos precedem, devemos também pensar em nossa vida terrena. Devemos pensar nas nossas escolhas, de como estamos nos preparando – todos nós, eu e você – para a eternidade. De uma coisa nós temos certeza: Deus virá. Jesus voltará em sua segunda vinda, como ouvimos no Evangelho de Mateus [Mt 25, 31-46]. Ou nós iremos ao seu encontro. De um modo ou outro, nos encontraremos com Jesus Cristo.
“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso”. E ali irá separar “as ovelhas dos cabritos”. E aqueles que permanecerão do lado de Deus são aqueles que ajudaram os que estavam com fome, com sede, o estrangeiro, o nu, o doente e aquele que estava preso, com diz Jesus no Evangelho: “eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar”. E diz isso de todas as vezes em que foram feitas estas coisas e não apenas de vez em quando. Não apenas quando Jesus lembrar, mas sim “todas as vezes que fizeste isto a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeste”. A nossa preparação para a eternidade é nos ajudarmos, uns aos outros, e não vivermos de modo isolado. Não devemos nos afastar uns dos outros ou não olharmos as necessidades daqueles que passam pela nossa vida. Ajudando-nos, estamos preparando o nosso coração e nossa fé para contemplar a eternidade.
São Paulo, na Segunda Leitura [Rm 5, 5-11], nos diz que a esperança não decepciona. Os nossos pecados foram pagos por um preço muito alto: a cruz do Nosso Senhor Jesus Cristo. E é a esperança que Jesus venha, a possibilidade de converter o nosso coração e a busca de praticarmos este Evangelho no dia a dia da nossa vida que nos preparam para a morada eterna.
Que possamos, como o salmista [Sl 129], aclamar o Senhor das profundezas das nossas tristezas e inseguranças, das profundezas das nossas saudades e de nosso coração. Clamemos de modo que Ele venha em nosso socorro, para que estas tristezas que não nos permitem continuar caminhando – porque estamos com saudade –, deem lugar à esperança da ressurreição. Peçamos que o Senhor nos conforte de nossas lágrimas de saudade e que Ele nos resgate em todas as nossas necessidades físicas e espirituais. Que este Deus da esperança ouça o nosso clamor e aprecie a nossa fé para que, como igreja e comunidade, possamos um dia chegarmos à Igreja Triunfante.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Comemoração dos Fiéis Defuntos (Ano A) – 02/11/2017 (Quinta-feira, Missa das 10h).

Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos
29/10/2017
Nós estamos celebrando o 30º Domingo do Tempo Comum, e a Igreja nos convida a recolocarmos Deus no Seu devido lugar em nossas vidas e a não nos esquecermos de que amar a Deus é também amar ao nosso semelhante e de que amor deve ser traduzido em gestos concretos. Na primeira leitura [Ex 22, 20-26], nós temos um povo que está no deserto, em direção à terra prometida. Haviam acabado de sair da escravidão, na qual passavam vergonha, necessidades, tinham dificuldades... Enfim, era um povo oprimido, sedento de liberdade. Ao conseguir esta liberdade, o povo esqueceu que uns deveriam estar juntos dos outros e começou, mesmo caminhando na mesma direção, a se separar, a deixar as viúvas abandonadas – e, naquela época, por se tratar de uma sociedade muito diferente da nossa, o que dava segurança à mulher era seu esposo e seu filho, assim como o pai era para as crianças e, na medida em que perdiam o pai, elas ficavam abandonadas. Deus, então, vem recordar para não nos esquecermos das viúvas e dos órfãos, para nos ajudarmos uns aos outros nesta travessia em direção à terra prometida.
Passou-se um tempo. As dificuldades são outras. Mas parece que algumas coisas ainda não mudaram. Porque, muitas vezes, nós, cristãos, devotos de Deus, caminhando na mesma direção para construir uma sociedade justa, fraterna, igualitária, para anteciparmos a Jerusalém Celeste no hoje de nossa vida por meio de nossas escolhas e atitudes, continuamos a deixar as pessoas abandonadas, sofrendo sozinhas. E nós, irmãos e irmãs, devemos ser este braço, esta palavra, esta presença de Deus na vida de todos, mas, sobretudo, daqueles que têm maior necessidade. Porque não é preciso que passemos fome para sabermos o que é esta fome; não é preciso que passemos por alguma turbulência no matrimônio para sabermos qual é a dificuldade; não é preciso que você valorize um ente querido para que você valorize o outro; não é preciso que você chegue à idade avançada ou tenha alguma enfermidade para saber como é que os idosos e os doentes se sentem abandonados. Nós somos uma fé de compromisso, uma fé de amor concreto, de solidariedade, de compaixão, de presença na vida do outro. E se nós não nos dermos as mãos, seremos cada vez mais frágeis nas nossas escolhas, podendo nos equivocar na direção que estamos escolhendo e não encontrar a terra prometida.
Nesse sentido, no Evangelho da liturgia de hoje [Mt 22, 34-40], já é o sexto ou sétimo domingo seguido em que os anciãos, os fariseus e os mestres da lei colocam Jesus à prova. E depois de tantas perguntas difíceis – como aquela da semana passada: "Devemos pagar o imposto a Cesar?", e Jesus responde: "Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César" –, hoje eles inventam de perguntar a Jesus qual é o maior dos mandamentos. Para nós, parece muito óbvio, porque aprendemos na Catequese. Mas para o povo de Israel, não era simples. Eles receberam os 10 mandamentos da lei de Moisés, mas, passados alguns séculos, de 10 se tornaram 613 mandamentos, dos quais 365 continham o dizer: "Você não pode..." (não pode comer carne de porco, não pode trabalhar no sábado etc.) e 248 continham: "Você tem que..." (tem que fazer exatamente assim). Qualquer deslize era traduzido em perigo de ir para o inferno!
Agora, vamos imaginar: se, hoje, ainda temos anafalbetos, imagine 27 anos atrás; imagine esse povo, muito devoto, tendo que decorar 613 mandamentos! A gente pergunta do Evangelho do domingo passado e já não se lembra; às vezes, não recordamos nem o que comemos no dia anterior. Então, imagine se aquele povo conseguia decorar os 613 mandamentos... Não conseguia! Só um grupo muito reduzido de pessoas conseguia decorar, e um menor ainda conseguia viver estes mandamentos. Com isso, o povo estava perdido, sem saber o que era mais importante, com tantas regras; e Jesus diz: "Amar a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo". Colocar Deus à frente! Porque quando colocamos Deus à frente, todos os demais mandamentos não são obrigação para nós, são um prazer, porque praticamos o que Deus nos pede por amor, e não por obrigação.
O cristianismo já tem 2mil anos e nós cometemos o mesmo pecado do povo judeu; criamos uma série de regras, de normas e de leis, e, muitas vezes, nos esquecemos do que é essencial: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Como os pais que têm mais de um filho; se vêem um deles maltratando o outro, eles ficam felizes? Não ficam. Quando vêem que o filho está passando necessidade física, espiritual, emocional ou familiar e os outros não estendem a mão para ajudar, eles ficam felizes? Também não ficam. Será que Deus está feliz com nossas atitudes? Muitas vezes, nos tornamos individualistas, nos tornamos pessoas que querem ter o seu próprio mundo, esquecendo de que todos nós somos filhos de Deus, que fomos criados pelo mesmo Pai e que este Pai deseja que caminhemos na mesma direção. Dificuldades, todos nós temos, mas devemos amar até aqueles que não buscam a santidade, nas perseguições e nas dificuldades.
Nosso objetivo é chegar à morada eterna. É o que Paulo nos fala na segunda leitura [1Ts 1, 5c-10], em que a comunidade sofria com a perseguição dos judeus e Paulo sai às pressas para não ser condenado à morte, mas envia seu irmão Timóteo para fortalecer esta comunidade de fé. E este fortalecimento também pode ser para nós, que enfrentamos dificuldades dentro de casa, no trabalho, na igreja; dificuldades com aqueles que não crêem em nossa fé, para permanecermos firmes na adoração ao Deus vivo, único e verdadeiro, abandonando os falsos deuses e abandonando práticas daqueles que não querem chegar à morada eterna.
Que o Espírito Santo de Deus nos seja favorável para que possamos abrir nossos olhos e nosso entendimento às pessoas mais necessitadas. E que, diante de tantas regras, normas e leis, não nos esqueçamos do que é essencial: colocarmos Deus à frente de nossa vida e nos ajudarmos uns aos outros.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 30º Domingo do Tempo Comum, Mês Missionário (Ano A) – 29/10/2017 (Domingo, Missa das 7h30).

Deus age de modos que nem podemos imaginar
22/10/2017
Queridos irmãos e irmãs, estamos celebrando o 29º Domingo do Tempo Comum e a Igreja nos convida a continuar refletindo sobre o nosso compromisso com Deus mesmo diante dos desafios, das perseguições, da suposta demora de Deus em agir na nossa vida e quando, diante das encruzilhadas da história, devemos assumir a fé que professamos.
Na Primeira Leitura, do profeta Isaías [Is 45,1.4-6], nós estamos em um contexto no qual o povo está no Exílio da Babilônia e os sacerdotes, anciãos e profetas não cansam de dizer que Deus não abandona o seu povo e de que, no tempo certo, Deus há de libertá-los. Mas acontece que um tal de Ciro, que é um rei pagão, está ganhando a guerra e, com isso, a possibilidade de o povo ser libertado se torna cada vez mais real. Porém o povo começa a se questionar como que um rei pagão, que adora o deus Marduk, vai os libertar. “Não seria o nosso Deus que deveria nos libertar?”. Aí entra a voz do profeta para dizer que Deus se utiliza até mesmo de pessoas pagãs para nos trazer a liberdade e a salvação. E é por isso que o profeta escreve: “eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há deus. Armei-te guerreiro, sem me reconheceres, para que todos saibam, do Oriente ao Ocidente, que fora de mim outro não existe. Eu sou o Senhor, não há outro”.
Nós cremos em um único Deus e Ele age através de pessoas que, muitas vezes, nós não imaginamos. Inclusive no povo de Israel. Eles serão libertados por um rei pagão. E por que não pode ter sido Deus que agiu na vida de Ciro para libertar o povo de Israel? Na minha vida, por exemplo, não foram só cristãos católicos que me ajudaram. Eu já tive espíritas me ajudando, assim como pessoas da Seicho-No-Ie, das neopentecostais. Já tive também pagãos me auxiliando. E Deus, certamente, pode ter se utilizado destas pessoas para me ajudar. Só que nós somos preconceituosos e queremos, muitas vezes, ditar as regras para Deus.
Se, de fato, só as pessoas que rezassem nos ajudassem, somente aqueles que rezam cinco rosários por dia, vão na missa toda semana ou todo dia, ajudariam as pessoas e seriam instrumentos de Deus. Eu mesmo conheço muita gente que não frequenta a igreja e tem um coração enorme; mas conheço gente que vai toda semana na missa e tem o coração mais duro do que pedra. Nós temos esta facilidade em querer julgar e, muitas vezes, queremos julgar a ação de Deus. E a Igreja, muito sabiamente, no Concílio Vaticano II, na década de 60, nos alertou e confirmou que a Igreja Católica é o caminho de salvação. Mas também diz que nas outras culturas, sejam elas quais forem, Deus pode ter colocado a semente do verbo, da verdade e da salvação.
Portanto, nós cremos que a Igreja Católica é o caminho correto. Quem aqui troca o certo pelo duvidoso? A não ser que você seja um adolescente rebelde querendo desconfiar de tudo e provar que o outro está errado. Contudo, se você crê – sobretudo com a tua ação – que a Igreja Católica é o caminho de salvação, você não vai trocar o certo pelo duvidoso. Se você troca, é porque você não fez o voto certo. Mas aí a questão não está na igreja, mas sim em você que não entendeu o que significa participar da Igreja fundada por Cristo. E, ao participar desta Igreja, você não pode limitar a ação do Espírito Santo porque, por exemplo, mesmo em tribos africanas ou em tribos indígenas do nosso país, ali pode ter sim a semente da salvação e Deus pode agir.
No nosso trabalho, ao encontrarmos um pagão ou um ateu, ele pode nos ajudar e, por vezes, ser um instrumento de Deus na nossa vida. E pode ser que alguém da minha família, que frequenta a igreja, nunca foi. Deus pode se utilizar de muitos meios porque Ele é o Deus do impossível. Deus nunca nos abandona; nós que, muitas vezes, O abandonamos e nos revoltamos contra Ele.
No Evangelho de Mateus [Mt 22,15-21], Jesus já está em Jerusalém, depois do Domingo de Ramos. Já está sendo cercado pelos anciãos, pelos sumo sacerdotes e pelos fariseus. Já é a quinta ou sexta semana em que estamos falando do mesmo assunto. Eles estão buscando crucificar Jesus Cristo e, no Evangelho de hoje, eles inventam uma fórmula quase mágica, colocando Jesus numa verdadeira “sinuca de bico”. Depois de elogiá-lo, dizem para Ele assim: “Mestre, é lícito ou não pagar imposto a César?". Para entender, vale a pena lembrar que o povo de Israel foi escravizado, invadido e conquistado pelo assírios e pelos gregos. E, no período de Jesus, a posse era dos romanos. Portanto, deviam pagar imposto a César, basicamente todo mês. Imagine que, se Jesus diz que é permitido pagar imposto a César, Jesus está frustrando todo aquele povo que está seguindo Ele porque, afinal, Jesus é o libertador. Se Jesus vai contra o imposto, Jesus está indo contra o imperador e, assim, Ele teria que ser preso. E agora, o que fazer?
Tenho certeza que nenhum de nós aqui gostaria de pagar imposto. Quando você vai no mercado e olha na nota fiscal ao valor do imposto pago, não dá um nervoso nas suas entranhas, no mais profundo do seu ser? Mas tem que pagar, não tem jeito. E quando você faz seu imposto de renda e vem aquele valor a mais para você enviar para o governo? Você também não fica feliz, mas tem que pagar. Então, o que Jesus diz, concluindo o evangelho? "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
Jesus não está legitimando uma política de impostos. Jesus está diferenciando o que é de Deus e o que é dos homens. Por outro lado, Jesus está colocando César no seu lugar pois quando o imperador coloca sua fisionomia, sua imagem na moeda - que se chamava denário -, não é porque ele era bonito. César queria ser um deus entre os homens. E a nossa adoração e o nosso louvor deve ser somente a Deus. Em hipótese alguma aos homens.
Jesus, então, coloca César no seu lugar, mas também não vai contra o império porque fazer revolta ou tumulto não vai resolver o problema. O império romano era muito maior que o povo de Israel. Eles eram uma formiguinha comparados ao império. Qual é o jeito de transformar? Através da formação das nossas crianças, dos nossos jovens, de uma consciência educada de modo digno e coerente.
Imagine se todos nós votássemos conscientemente nos políticos. Será que teríamos tantos problemas quanto temos? Pesquisas e mais pesquisas já foram feitas e mostram que o povo não lembra nem em quem votou. Não lembra do vereador, dos deputados, do senador. Normalmente, a pessoa lembra do prefeito, do governador e do presidente, mas dos outros não se lembram. Será que nós estamos conscientes da nossa missão de transformar as nossas realidades? Porque, na maioria dos casos, nós não estamos. E Jesus deixa claro para darmos a Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens. A Deus, o nosso louvor, a nossa adoração, a nossa oração; aos homens, aquilo que é dos homens: a política, a organização social de nossa sociedade, a formação das nossas crianças, dos nossos jovens, a consciência moral, a consciência ética de cada pessoa. Quando um político não pratica o seu cargo de modo coerente, aquele cargo não é de Deus. A política pode ser de Deus, mas se ela não é exercitada de modo coerente, de modo digno, ela passa a ser dos homens e não mais de Deus.
São Paulo escreveu para a comunidade de Tessalonicenses, no primeiro escrito do novo testamento, e incentiva a comunidade a não desanimar diante dos medos, das incompreensões e das perseguições que estão sofrendo. E esta carta serve para todos nós que temos medo de enfrentar as perseguições. Para nós, que às vezes estamos na mesma missa, mas somos uma igreja desunida, uma igreja incoerente com o que Jesus nos apresenta. Esta carta serve para todos aqueles que creem que Deus está demorando em agir. Ele tarda, mas não falha e foi o que nós ouvimos e cantamos no Salmo 95 da liturgia de hoje.
Este Deus meus irmãos, jamais nos desampara. Mas Ele também quer nos formar, numa consciência - criativa e ativa - de que nossas realidades devem ser transformadas pelo meu, pelo seu, pelo nosso testemunho!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 29º Domingo do Tempo Comum, Mês Missionário (Ano A) – 22/10/2017 (Domingo, missa das 10h).

Deus nos convida para participarmos de Seu banquete
15/10/2017
Nós estamos celebrando o 28º Domingo do Tempo Comum, neste mês missionário. Em outubro, mundialmente, todas as igrejas rezam pelas vocações, para que haja mais missionários, de perto ou de longe, mas que todos nós, batizados, sejamos missionários de Jesus e da sua Igreja. E neste 28º Domingo do Tempo Comum, a Igreja continua nos convidando, por meio da história da revelação, ao nosso compromisso com Deus de colocarmos em prática os valores que nós celebramos.
Na primeira Leitura [Is 25, 6-10a], nós temos o profeta Isaías exortando o povo de que Deus não vai nos abandonar. Estamos no contexto em que a política externa e a política interna do povo de Israel estão em decadência. Os pobres vão ficando cada vez mais pobres e até os ricos, que tinham um pouco mais de condições, começam também a ficar pobres. No tempo do profeta Isaías, era comum que o povo se aproximasse por um determinado tempo do templo e ofertasse um sacrifício de acordo com a sua condição financeira. Oferecia-se um par de pombas, um cabrito, um carneiro... Quem tinha mais dinheiro oferecia um boi ou, quem sabe, uma boiada. E o que faziam? Levavam no templo e, lá, cortavam no meio: metade era o dízimo, para manter o templo, e com a outra metade (ou uma parte dela) algumas famílias faziam um banquete ao redor do templo.
A mentalidade era que nós estávamos partilhando da mesma mesa com Deus. Hoje o nosso banquete é aqui no altar - é um banquete incruento, ou seja, sem sangue nenhum. Mas no tempo de Isaías era normal. E qual era o problema? O problema era que muitas pessoas, por sua pobreza, não conseguiam mais comprar nem um par de pombinhas para oferecer a Deus e, assim, não podiam mais comer à mesa com Deus no templo. O profeta Isaías, então, fica indignado com essa situação e diz ao povo que o próprio Deus vai preparar um belo banquete para todos, com ricas iguarias. Ou seja, não será arroz e feijão, mas pratos finos, pratos deliciosos para todo o seu povo, algo que o Salmo de hoje relata de outro modo, dizendo que Deus é nosso pastor e nada há de faltar; passando pelos prados e campinas verdejantes, Deus estará sempre ao nosso lado. Deus nunca vai nos abandonar.
Já no Evangelho de Mateus [Mt 22, 1-14], continuando a sequência de três parábolas, Jesus nos exorta que Ele está nos chamando para a Sua festa, para o banquete definitivo. Conta uma parábola em que o rei preparou uma grande festa e, após estar tudo pronto, com cada detalhe bem organizado, chamou os convidados, mas estes simplesmente rejeitaram o convite. Quando você cozinha e prepara um prato bem gostoso, arruma a mesa, faz tudo com muito amor... Convida o outro para comer e ele rejeita ou almoça sem nem dar satisfação, você não fica chateado? É claro que fica! Para os professores, quando você prepara uma aula por horas, às vezes fica ali por uma, duas, cinco, sete horas preparando para dar uma aula de 40 minutos, e o seu aluno não dá a menor atenção para o que está falando, você não fica chateado? Fica! Eu já tive a oportunidade de dar aula e é de ficar chateado mesmo, porque você prepara com muito carinho e não te dão a mínima atenção...
Pois Deus também fica chateado quando somos convidados para Sua festa e nós não lhe damos atenção. E Deus está nos chamando! Desde o ventre da nossa mãe, Deus está nos chamando para participar deste grande banquete, que é o banquete da eternidade. Mas nós não nos importamos para o chamado de Deus... E o que acontece? Deus sai, então, chamando todas as pessoas, indistintamente. Uns vêm, outros não, mas para entrar e participar desta festa é necessário estar devidamente trajado. O que Jesus quer dizer por este "traje"? O traje da pureza, o traje do amor, o traje do perdão, o traje da justiça, o traje dos valores apresentados por Jesus Cristo, nosso Senhor. É com estes trajes de sentimentos que nós somos convidados a participar deste banquete, e se não estivermos devidamente trajados, nós seremos convidados a nos retirar da festa.
E a pergunta que nos fazemos hoje é: será que eu quero, de fato, participar desta festa ou estou menosprezando o chamado de Deus? Ou até estou aceitando o convite, mas não estou me preparando devidamente para esta festa? Quando somos convidados para uma festa de casamento, para uma formatura ou Primeira Comunhão, a gente se prepara. As mulheres ficam lá 13 horas, 19 horas no salão de cabeleireiro... Mas será que a gente gasta tanto tempo assim se preparando também para participar do banquete Eucarístico Como eu me preparo para vir à igreja? Qual a roupa que eu coloco? De quais sentimentos eu procuro me revestir? Ainda que eu seja pecador, ainda que eu seja frágil, ainda que eu tenha as minhas dificuldades, será que eu busco a minha melhor vestimenta no sentido de sentimento para me aproximar da igreja, de Jesus e de Sua Palavra?
Nesta Eucarística, a Igreja nos convida a recordar este pastor que não permitirá que nos falte coisa alguma; a Igreja nos recorda que, mesmo diante das dificuldades políticas, financeiras e sociais, Deus está ao nosso lado, mas é necessário abrirmos o nosso coração para escutarmos o chamado de Deus e irmos devidamente trajados para esta grande festa do banquete da eternidade. Que Santa Teresinha e Nossa Senhora da Conceição Aparecida nos ajudem, a mim e a você, a nos vestirmos do melhor modo para nos encontrarmos com o Dono da festa.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 28º Domingo do Tempo Comum, Mês Missionário (Ano A) – 15/10/2017 (Domingo, missa das 10h).

Que, a exemplo de Nossa Senhora, possamos interceder uns pelos outros
12/10/2017
Nós estamos celebrando a Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, ela que, em 1717, apareceu nas águas turvas do Rio Paraíba do Sul. E, este ano, completam-se os 300 anos da presença materna de Nossa Senhora na vida do povo brasileiro. Por isso, nós fomos agraciados: fizeram um manto novo para Nossa Senhora Aparecida, com 300 pedrinhas, uma para cada ano da presença de Maria em nossas vidas! Queremos agradecer à senhora que sempre nos agracia, a cada ano, com um manto novo para nossa imagem. Agradecer, também, à Pastoral das Artes, que reestabeleceu a importância da juventude e das crianças em nossa comunidade com a bela entrada de Nossa Senhora que fizeram após o Hino de Louvor. E, ainda, agradecer ao povo português, que descobriu as terras brasileiras e trouxe a devoção à Imaculada Conceição ao Brasil; por meio dos oratórios, igrejas, capelas, terços e rosários, essa devoção foi se espalhando por todo o território nacional.
E, em 1717, em um momento de dificuldade, quando Domingos, Pedro e João precisavam levar peixe para casa, estes pescadores descobrem a maternal intercessão de Nossa Senhora. Ao jogarem suas redes, pegaram o corpo da imagem da Imaculada Conceição; depois, confiando uma segunda vez, pegaram a cabeça; e, na terceira vez, encheram as redes de peixe! A partir dali, começa esta grande devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. E, ao celebrarmos esta fé, recordamos que temos uma mãe diante de Deus que intercede por mim, por você, por todos nós – como ela fez no Evangelho de hoje [Jo 2, 1-11], nas Bodas de Caná. Maria, atenta ao que estava acontecendo, percebeu que acabara o vinho; então, pede aos empregados que façam tudo o que Jesus lhes disser. Nossa Senhora nos ensina, irmãos e irmãs, a estarmos atentos ao que acontece ao nosso redor. Muitas vezes, as coisas passam despercebidas diante dos nossos olhos, e nós, como Nossa Senhora, podemos ser intercessores. Nossa Senhora intercedeu por aquele casal de noivos junto a seu filho, Jesus; eu e você podemos interceder por nossa família, pelo nosso matrimônio, pela educação dos nossos filhos, pela enfermidade de alguém. No trabalho, você pode ser um intercessor; na igreja, você pode ser um intercessor; na sua vida, você pode interceder para fazer o bem. Como Ester, na Primeira Leitura de hoje [Est 5, 1b-2; 7, 2b-3), na qual ela, com sua beleza, encanta o rei, e o rei, deslumbrado com tamanha beleza, promete a Ester que iria conceder o que ela quisesse, nem que fosse a metade do seu reino. Aqui, nós recordamos de sempre ter cuidado com as promessas que fazemos, sobretudo quando você promete mas não tem a intenção de cumprir. Promessa feita deve ser cumprida! Podem nos tirar tudo nessa vida, mas não podem nos tirar nossas palavras e nossas atitudes.
A rainha Ester, em vez de pedir apenas por si, pede por seu povo que estava escravizado, que estava sofrendo. Naquela ocasião, ela poderia ter pedido riquezas, poderia ter pedido a metade do reino! Mas não. Ela se lembra dos pobres, dos escravizados e dos necessitados. Portanto, a nossa devoção à mãezinha do céu deve nos ajudar a prestarmos atenção ao que acontece ao nosso redor e intercedermos pelas pessoas, por aqueles que estão escravizados, que estão aprisionados, por aqueles que sofrem. Hoje, as prisões são outras; hoje, a maior prisão é a da nossa mentalidade, o nosso preconceito contra algumas posições, o nosso preconceito sobre a classe política. Se nós não intercedermos, não formos ativos, o nosso povo brasileiro nunca vai melhorar, e o caminho para melhorar é, sim – por mais que não se goste de ouvir –, por meio da política. Ester foi política! Ela se aproximou do rei e, ali, transformou o seu coração. Nós precisamos nos aproximar das pessoas que ditam as regras e as leis para transformá-las. Se você precisa de algo na sua empresa, é do seu patrão que você precisa se aproximar; não adianta ficar fazendo fofoca, não vai resolver. Se você precisa mudar alguma coisa no seu matrimônio, é perto da sua esposa e do seu esposo que você tem que chegar, é com ela ou com ele que você tem que conversar; não é no bar, não é no WhatsApp, é com a pessoa que você deve falar. A dificuldade da nossa mentalidade vem com os valores que a sociedade está pregando, contra a família, contra o matrimônio, contra os valores cristãos e evangélicos – que nós estamos perdendo. E, como Ester e como Maria, nós devemos interceder dentro de casa, na catequese das nossas crianças, no acompanhamento de nossos jovens, levando estes valores para dentro do nosso trabalho quando nos perguntarem, orientando as crianças sobre aquilo que a televisão está ensinando mas que nós, por causa da nossa fé, somos contrários.
Você tem uma batalha a ser vencida dentro de casa, na educação do seu filho, na santificação do seu matrimônio; você tem uma batalha a ser vencida lá fora, nesta sociedade cada vez mais secularizada: com seu voto, pela conscientização de nossas crianças e jovens, por meio de debates conscientes e maduros, e não de gritarias, xingamentos e preconceitos. Ester se utilizou da sua beleza; nós podemos nos utilizar da nossa inteligência, dos nossos dons para transformar o mundo e transformar os corações. Quantas pessoas tristes nós temos neste mundo... As pessoas daquela festa – que não era como hoje, que o Buffet só te dá três horas, mas era uma festa de sete dias, normalmente – iam ficar muito tristes se tivesse acabado o vinho. Mas Nossa Senhora intercede por eles. As pessoas estão tristes, pois estão enfermas, desempregadas, com depressão; estão tristes por diversas situações, e nós devemos interceder por elas, ajudando-as a resgatar a sua alegria. Na segunda leitura (Ap 12, 1. 5. 13a. 15-16a), Nossa Senhora – aquela mulher revestida de sol – defendeu seu filho Jesus contra o dragão. Nós também devemos ser defensores de Jesus e de seus valores, defendendo a nossa fé e a nossa família.
Peçamos ao Senhor nesta eucaristia que, pela intercessão de Nossa Senhora, possamos ser verdadeira família, possamos ser devotos da mãezinha do céu e colocarmos em prática os seus valores. Como cantamos antes da homilia: "Nossa Senhora, me dê a mão". Que Nossa Senhora estenda sua mão a cada um de nós; que Nossa Senhora nos cubra com seu manto sagrado, por mais que estejamos tristes, desamparados, desolados, por mais que estejamos perdidos sem um norte, sem uma direção em nossa vida. Assim como indicou o caminho àqueles empregados – "Fazei tudo o que meu filho Jesus vos disser" –, que ela também nos tome pela mão e nos aponte o caminho do seu Filho, o caminho da libertação, o caminho da salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Ano A) – 12/10/2017 (Quinta-feira, missa às 10h).

Somos todos responsáveis pela vinha do Senhor
08/10/2017
Estamos celebrando o 27º Domingo do Tempo Comum, onde a igreja nos convida a refletir sobre a obra da criação, essa grande vinha que o Senhor plantou e confiou a cada um de nós, a mim e a você, a fim de cuidarmos da obra da criação Dele. Na Primeira Leitura[Is 5, 1-7] – uma leitura muito conhecida pelo povo judeu –, quando diante das situações de perseguição, opressão e afastamento do povo da fé e do verdadeiro Deus, o profeta proclama este trecho: “vou cantar para meu amado o cântico da vinha de um amigo meu: um amigo meu possuía uma vinha em fértil encosta. Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videiras escolhidas, edificou uma torre no meio e construiu um lagar; esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens. Agora, habitantes de Jerusalém e cidadãos de Judá, julgai a minha situação e a de minha vinha. O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz?”.
É esta pergunta que Deus lança a cada um de nós: o que mais Ele poderia fazer pela sua vinha e não fez? Sendo que ele plantou a vinha com carinho, com amor. Cercou-a para que nada de mau acontecesse com ela. Regou, deixou tudo organizado e disse para o povo tomar conta dela. Mas o povo não cuidou. Sabe quando você deixa sua casa arrumada, sai de casa e espera que em seu retorno tudo continue no lugar? Daí quando retorna, vê louça para tudo quanto é lado, talher jogado, coisas para todos os cantos? Meu pai ficava bravo quando a gente mexia nas ferramentas dele pois ele as deixava todas certinhas. Às vezes, quando ele ia trabalhar, a gente inventava de fazer alguma coisa e quando ele voltava, as ferramentas estavam todas bagunçadas. E aí ele ficava nervoso. E isso acontece com todo mundo.
Assim como Deus deixou tudo ajeitado. Mas enquanto esperava que esta vinha produzisse bons frutos, produziu uvas azedas. O nosso fruto não agradou ao coração de Deus. Mas, mesmo assim, Deus continua cuidando com carinho desta vinha e a experiência do salmista[Sl 79] confirma que mesmo que nós não cuidemos com carinho, Deus continua a zelar por esta vinha. É claro que nós acabamos sofrendo muito por isso. Sofremos na escravidão do Egito, no exílio da Babilônia, com tantos jovens se afastando do caminho da Salvação. Hoje as prisões e escravidões são outras com, sobretudo, a escravidão de pensamento, onde valores modernos da sociedade não nos permitem mais preservar os valores de Deus, na qual os valores apresentados pela sociedade moderna desqualificam aqueles que defendem a família e preservam a vida, gerada a exemplo das duas mamães gestantes que temos aqui.
E quantas mulheres acabam abortando por diversos motivos! Quando a criação está no ventre da mãe, não tem culpa alguma dos pecados que os pais tenham cometido. E a liturgia da Igreja vem procurar nos alertar para defender a vida em todas as circunstâncias: desde a concepção até a morte natural. Temos crianças sendo abortadas no ventre da sua mãe; temos mulheres sendo maltratadas no período da gestação; temos um sistema público de saúde que, muitas vezes, não cuida adequadamente das nossas crianças, dos bebês prematuros, das mães em período de gestação. Temos uma mentalidade, muitas vezes, de que aqueles que são mais velhos ou ficaram doentes devem ser descartados. E quantas pessoas idosas estão descartadas nos asilos ou até mesmo em suas casas, onde os filhos e parentes não mais os visitam. Essas são as uvas azedas que a Primeira Leitura está nos falando. E são essas uvas azedas que nos fazem afastar de Deus por causa de nossos pensamentos e atitudes que não correspondem àquilo que Deus espera de nós.
Como no Evangelho[Mt 21, 33-43], em que Jesus já entrou na cidade santa de Jerusalém e já passou o Domingo de Ramos. As pessoas procuram meios de crucificar Jesus até o ponto Dele contar aquela parábola do domingo passado, na qual o primeiro filho foi chamado pelo pai para ir trabalhar na vinha e ele responde: “pai, não vou”. Mas daí pensou melhor e vai ajudar o pai na vinha. Depois o pai perguntou ao segundo filho, que disse: “claro, já estou indo; vai na frente que estou chegando”. Mas este filho não apareceu. Jesus, portanto, pergunta: “qual dos dois fez a vontade do pai? O primeiro ou o segundo?”. O primeiro, porque se arrependeu de não ter dado seu sim ao pai, ou seja, a Deus. E Jesus diz que “as prostitutas e os publicanos os precederão no Reino dos Céus” porque eles, até então, não haviam se convertido mas a partir do momento em que o fizeram, mudaram de vida.
E Jesus continua com a segunda parábola, contando esta história do vinhateiro. E que, ligada à Primeira Leitura, Jesus vai dizer que o vinhateiro preparou uma vinha, deixou-a bem cuidada e a regou. Entregou-a nas mãos de alguns agricultores e na hora da colheita o proprietário pediu que seus empregados fossem lá. A uns, os agricultores apedrejaram; a outros, espancaram; e a outros, ainda, eles mataram. Então o proprietário enviou uma nova turma, em número maior. E fizeram a mesma coisa. Aí ele pensou em enviar o seu filho porque a este eles iriam respeitar. Quem é o Filho? Jesus. Ele foi enviado e, quando o viram, pensaram: “este é o herdeiro, vamos matá-lo para que a vinha seja nossa”. E fizeram isso: espancaram-no, mataram-no e ficaram com a vinha. O que Jesus diz no final da parábola? “Qual será a reação do dono da vinha quando voltar e ver que seus empregados e seu filho foram espancados e mortos?”. Se você fosse o pai, o dono da vinha, o que você faria? Talvez pensasse no mesmo destino, na mesma punição para aquelas pessoas. E Jesus está falando de quem? Dos fariseus, dos saduceus. Jesus está falando daqueles que dizem viver uma fé mas não vivem. E que Ele próprio, Filho de Deus, vai sofrer aquela consequência do filho do dono da vinha. E nós devemos nos perguntar: em que grupo nós estamos? Daqueles que vão para cuidar da vinha ou daqueles que matam por causa da vinha?
Quando se pratica o aborto ou se toma posse daquilo que não é seu; quando não cuidamos uns dos outros ou incentivo para que as famílias sejam desfiguradas, para que os casais se separem ou para que um pai e uma mãe pratiquem o aborto, estou matando o dono da vinha. E é isso que o Evangelho de hoje deseja nos ajudar a refletir. Que nós podemos ser aqueles empregados que vão cuidar com muito carinho dessa vinha, desta obra da criação que Deus nos concedeu, de todo ecossistema. Lembrando aqui de São Francisco de Assis, cujo dia foi nesta última quarta-feira, que defende a natureza, a paz e a vida. Nós podemos valorizar a vida ensinando as nossas crianças, os nossos jovens a se afastar do mundo das drogas e da prostituição. Nós podemos defender a vinha na medida em que nós lutamos pelos casais, pelas famílias. Peçamos ao Senhor nesta eucaristia que, se ainda temos dúvidas em nosso coração, o Senhor, o dono da vinha, possa purificar os nossos pensamentos e as nossas atitudes para que no dia do julgamento sejamos avaliados por nossas atitudes positivas em defesa da vida, da família e dos valores do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 27º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 08/10/2017 (Domingo, Missa das 7h30).

Dia da Padroeira - Converter o nosso coração para termos os mesmos sentimentos de Jesus
01/10/2017
Na alegria de festejar a Padroeira desta paróquia, Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, santa tão querida e amada por nossa Igreja, nós ouvimos a Palavra de Deus, que nos foi proclamada. Nosso maior tesouro é Jesus, e esta santa que hoje festejamos traz o nome de Jesus – Santa Teresinha do Menino Jesus! Nosso encontro é um encontro com Jesus. Todos os domingo, na Santa Missa, nós vimos à igreja para encontrar Jesus. Lógico, também para encontrar o padre, os irmãos e irmãs, mas principalmente para encontrar Jesus. E eu fico contente por vocês, logo de manhãzinha, já terem vindo aqui para celebrarmos a missa. Os jovens, que estão cantando tão bonito... Graças a Deus! Devemos louvar e agradecer a Deus por tudo, mesmo em meio a esta crise que estamos atravessando. Nós temos fé, justamente, para termos a certeza de que Jesus caminha no nosso meio – "Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28, 20b). E, com Ele, nós ultrapassaremos os mais profundos abismos sem temer mal nenhum [ref. Sl 23, 4].
O que Jesus pede a nós? Que nós abramos o coração para ouvirmos Sua Palavra. Na primeira leitura [Ez 18, 25-28], o profeta diz que o povo falava para Deus: "Olha, o Senhor está errado, viu? Nós fazemos tudo direitinho, cumprimos todas as leis... O que mais o Senhor quer?". E Deus dizia: "Não, vocês não são corretos. Vocês cumprem as leis, mas o coração de vocês é duro! Vocês se esquecem de algo importante: a misericordiosa, o amor, a comunhão fraterna". Porque pode acontecer de a pessoa ser tão correta, mas não perdoar ninguém; cumprir todos os seus deveres, mas não praticar a misericórdia. Então, é preciso conversão. Conversão para quê? Aquilo que São Paulo disse na segunda leitura que nós ouvimos [Fl 2, 1-11]: para que a vossa alegria seja completa, para que não tenha, no meio de vocês, brigas, divisões... Para que todos se amem, um ajude o outro como for possível; que um procure conhecer o outro – porque, às vezes, pode acontecer de vocês virem à missa durante anos e anos, e nunca terem olhado um para a cara do outro. Então, o que Deus pede de nós é um coração bom, misericordioso, amoroso, que reparte o pão, que não vai na onda deste mundo do consumismo – cada um pensando só em comprar, comprar e comprar para si mesmo.
A conversão do coração é para quê? Para termos, em nós, os mesmos sentimentos de Jesus Cristo. Vocês já pensaram nisso? Olha que bonito! Vejam o que o apóstolo Paulo nos recomenda: "Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus" (Fl 2, 5). Muitos aqui, certamente, já namoraram, se apaixonaram... E quando estamos apaixonados, queremos ter os mesmos sentimentos da pessoa amada. Qualquer coisinha que acontece com a pessoa que ele ama, o outro já toma as dores! Ou seja, tem os mesmos sentimentos da pessoa amada. No fundo, São Paulo está dizendo para amarmos Jesus, para termos em nosso coração e reproduzirmos em nossa vida o que Ele fez.
E, no Evangelho [Mt 21, 28-32], Jesus conta uma parábola muito bonita. O pai tinha dois filhos. Falou para um: "Vai trabalhar na minha vinha". O filho: "Vou sim, papai!". Foi nada! Virou as costas e não foi! Daí, o pai falou o mesmo para o outro filho. E este retrucou: "Ah! Mas de novo o senhor me pedindo? Só eu que faço as coisas? Não vou não!". Mas depois foi. Quem fez a vontade de Deus? O que disse que ia, mas não foi, ou o que falou que não ia, mas foi? O que falou que não ia, mas depois foi! Jesus está querendo dizer que se nós rezarmos muito, cumprirmos os nossos deveres, mas não tivermos os mesmos sentimentos que Ele e não fizermos o que Ele nos manda, não adianta nada. E Jesus ainda fala uma coisa até pesada: "Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele" (Mt 21, 31b-32). Desta forma, nós somos convidados, pela Palavra de Deus, a procurar a conversão todos os dias.
Quem praticou tudo isso na sua vida? Santa Teresinha do Menino Jesus. Ela procurou transmitir uma mensagem que viveu: a descoberta do amor de Cristo, para ter os mesmos sentimentos que Ele em seu coração. E ela ensinou, através de seus escritos autobiográficos, "História de Uma Alma", como fazer esse caminho para ter os sentimentos de Jesus. Primeira coisa: tornar-se pequeno, ter humildade, não querer competir com o outro nem ser maior que ninguém ou brilhar mais do que todo mundo. É o sentimento da fraternidade: "Vós sois todos irmãos e um só é vosso Pai" [Ref. Mt 23, 8]; "Que ninguém considere o outro inferior ou você superior, somos irmãos" [ref. Fl 2,3]. É esta fraternidade que brota da filiação divina: somos, em Cristo, filhos de Deus e irmãos entre nós. Devemos proceder com humildade, nada de violência, agressão, ódio, rancor. Então, Santa Teresinha ensinou a prática do amor; e, para amar, é preciso ter humildade, fazer-se pequeno e, sobretudo, colocar-se nas mãos de Deus. É um conselho do Evangelho: "Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus" [Ref. Mt 18, 3]. Mas Jesus, quando fala isso, não está dizendo que devemos ser como crianças na sua irresponsabilidade – porque uma criança não pode assumir responsabilidades; mas Jesus está dizendo daquela confiança que a criança tem no pai e na mãe, ou seja, esta confiança em Deus, que é nosso Pai, que cuida de nós.
Além desse caminho de conversão para termos os mesmos sentimentos de Jesus, na humildade, na simplicidade e nesta confiança total no amor de Deus por nós, Santa Teresinha também nos ensina a não desanimarmos, apesar de nossas fragilidades e dos nossos defeitos, e a aprendermos a viver com os outros, em comunidade. Santa Teresinha viveu dentro de um convento, no Carmelo; eram umas 22 freiras vivendo ali, fechadas, rezando. Não era fácil a convivência. Mas quem tem amor no coração e procura se converter, aprende a conviver. Hoje nós estamos em uma época em que o egoísmo e o narcisismo cresceram muito, cada um pensa só em si, compete... E é muito difícil viver com as pessoas, ter capacidade de convivência com os outros. Então, a grande lição de Santa Teresinha é esta capacidade, a humildade e a confiança em Deus – que a conversão nos dá – para conviver com os outros, fazendo assim o que Jesus nos pediu: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei" [Ref. Jo 15, 12] – o mandamento do amor na prática do dia a dia. E Santa Teresinha é muito querida porque ela disse que, tudo isso, nós devemos fazer aos pouquinhos. Mas sem parar. Os pequenos gestos, pequenos atos de bondade vão se acumulando, acumulando, e nós vamos nos acostumando a fazer o bem, a amar o próximo com o pouquinho de cada dia que você faz. E, assim, todo mundo pode se santificar.
Vamos pedir a Santa Teresinha que interceda por nós, para que este Evangelho que ouvimos e meditamos seja praticado por cada um de nós. E que assim como sua padroeira, a santa das rosas, esta paróquia dê, à nossa Diocese, o perfume do amor fraterno.
Homilia: Dom Pedro Carlos Cipollini – 26º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 01/10/2017 (Dia de Santa Teresinha, Missa das 7h30).

Especial Tríduo de Santa Teresinha – Vigiar e manter-se firme ao plano de Deus
30/09/2017
Conta uma velha história que uma vez alguém reclamava para o Nosso Senhor que sofria muito e Ele lhe respondeu: “é assim que Eu trato meus amigos”. E ouviu uma resposta: “é por isso que tens poucos”. Mas seriam estes poucos e bons? Imersos neste raciocínio, vamos pensar um pouco na história de Santa Teresinha, que sofreu bastante: ao nascer, logo cedo, foi tirada de sua mãe pois esta não tinha leite; ficou um ano fora do convívio familiar e, após voltar, aos 4 anos de idade, perde sua mãe. Com isso, ela foi criada cheia de zelo e tornou-se mimosa. O pai da filha caçula terá todo carinho para com ela, bem como suas irmãs. Ela caminhou duramente até os 14 anos quando então ela atende a Deus. Uma chamada de atenção dura e, dado que ela e Deus se amavam muito, ela mudou de vida realmente a partir deste momento que ela chama de pequena via, que nada mais é do que uma grande graça.
E hoje, dia 30 de setembro de 2017, está completando 120 anos de sua morte. Eu queria ver se encaixava alguma coisa aqui dos textos da liturgia de hoje com a trajetória de Santa Teresinha e, já na Primeira Leitura, do profeta Ezequiel [Ez 18, 25-28], temos: “vocês dizem que a minha conduta não é correta? É a minha ou a vossa?”. E assim também foi a jovem Teresinha, que sempre teve sua vida de acordo com a conduta e a vontade de Deus.
E a liturgia de hoje nos recorda um pouco a do domingo passado, com aquela questão dos trabalhadores que eram pagos igualmente, com uma moeda de prata, de acordo com o combinado. Sempre, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em que trabalhei por muitos anos, o povo se espantava: mas como é possível que um trabalhe uma hora e ganhe o mesmo que quem trabalhou doze? Mas no Reino dos Céus o que vale é a última hora, não é a primeira! E hoje, nesta Primeira Leitura, está mais ou menos dizendo isso na parte em que cita que o justo deixa de ser justo e morre; assim como quando o ímpio deixa de ser ímpio, vai para Deus. Contudo, onde eu me identifiquei mais com Santa Teresinha foi na Segunda Leitura, na Carta de São Paulo aos Filipenses [Fl 2, 1-11]. Os Filipenses eram muito amigos de Paulo, o que era recíproco. Paulo também era bem dedicado para com seus irmãos de Filipe. E ele vai dizer: “Se existe consolação na vida em Cristo, tornai então completa a minha alegria”. E como é que ele iria tornar completa a sua alegria? Paulo diz aqui: “aspirai as coisas do amor – as coisas de Deus –, vivei em harmonia, procurando a unidade”. E como isto é difícil dentro de nossas comunidades, né? Como é difícil essa santa unidade! Há um mundo mais competitivo que o nosso de hoje? Nos dias de hoje não faça nada por competição. Não faça nada para se vangloriar ou ser mais do que o outro.
Não se julgue mais importante. Pelo contrário: julgue que o outro é mais importante que você. Mas é para julgar de verdade, não é de mentirinha não. O outro é mais importante. Mas o passo que ele está dando eu vou tentar também. Tenham entre vós o mesmo sentimento que teve o Cristo. Pois quando nós nos batizamos e nos crismamos, nós assumimos estes gestos de Jesus, mas depois esquecemos de vivê-los, o que nos leva ao fim desta Segunda Leitura: “esvazie-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo”. Não é para ficar rastejando aos pés dos outros. Deus não quer isso. Deus quer que a gente se volte, se doe para os outros. Quando estive à frente da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, eu dizia à cozinheira que não era para ninguém responder a quem batesse naquela porta pedindo um prato de comida que não havia, porque se dissessem que não tinha, estariam mentindo! Ultimamente, havia um rapaz que passava lá. Eu perguntei para o pessoal o nome dele e ninguém sabia. E olha que fazia uns 5 meses que o rapaz passava por lá. A coisa mais importante que a gente tem é o nome. A gente dá um prato de comida e não sabe o nome, a idade, de onde vem. Lembremos que Santa Teresinha esvaziou-se a si mesma e assumiu a condição de escrava. Assim Jesus fez para que nós aprendamos a agir como Santa Teresinha que, após uma beliscada de Deus aos 14 anos, naquela noite de natal, teve um grande amadurecimento e passou, de fato, a assumir esse papel. É interessante como Santa Teresinha dizia que, anteriormente, era “uma fulana insuportável”. Para isto, ela exaltou e pôs acima de todo nome, o nome de Jesus. Nome ao qual nós temos acesso mas muitas vezes não dizemos ao outro, não partilhamos com o outro.
No Evangelho do domingo passado [Mt 20, 1-16], o trabalhador reclamava que passou o dia todo trabalhando sob o sol e seu patrão estava querendo igualá-lo ao outro, que pouco trabalhou. E o patrão disse que os dois necessitavam, independentemente da quantidade que trabalharam. É importante lembrar que ninguém tem poderes para pagar o trabalho de um homem, nós devemos receber segundo nossas necessidades. E estou citando o Evangelho da semana passada pois o de hoje [Mt 21, 28-32] está bem parecido, visto que o que importa é a última hora. Quando Ele me chamou, como me encontrou? Eu faço, faço, faço e, quando chega minha hora, estou fazendo ainda? Se não está, foi tudo por água abaixo. Se eu não fiz, mas agora estou fazendo, então está tudo certo. Outra forma seria agir de má fé e deixar, por preguiça, tudo para a última hora. Mas será que é possível mesmo ter condições de deixar tudo para a última hora? Algumas pessoas reclamam por ter que acordar muito cedo para trabalhar, pegar muitos ônibus. Mas e aqueles que acordam cedo para procurar emprego? Devemos ser mais gratos.
Um homem tinha dois filhos e disse ao primeiro para ir trabalhar na vinha. Este, porém, respondeu que não queria, mas depois mudou de opinião e foi. A sua presença deu sentido ao pedido do pai. O pai, então, fez o mesmo pedido ao segundo filho, que prontamente aceitou. Contudo, não cumpriu com sua palavra. E isso acontece muito, atualmente, em nossa igreja: no dia de nosso batizado, de nossa crisma, nosso casamento, nossa ordenação, nós estamos presentes, mas e depois? Eu vivo o “estar aqui”? Será que, quando o Senhor chegar e bater à minha porta, irá me encontrar vigilante igual no dia do meu batizado, crisma, ordenação ou matrimônio? Ou eu me esqueci?
Portanto, muitas vezes nós damos o sim a Deus e depois vivemos outra realidade. Acredito que a maioria de nós aqui somos batizados e crismados, demos nosso sim. Mas como está sendo hoje? E se Deus vier hoje te fazer uma visita e eu estiver em casa, mas amanhã eu não estiver mais? O hoje já passou. Como Ele me encontrará se eu não estiver lá? Eu costumava dizer aos noivos que, quando são noivos, vão para a cozinha, lavam e enxugam pratos e depois que casam deixam tudo para a esposa, o que não é correto.
Nós, meus irmãos, devemos viver nossa vida, nossa caminhada. A vida de Teresinha foi tão curta. Aquela menina que, mesmo mimada, buscava a Deus. E Ele dizia: “Ah Teresa, te quero para mim!”. E ela também tinha um amor tremendo para com Deus. E, assim, Deus a chama de modo muito rápido e de uma forma muito terrível, tendo ela morrido de tuberculose.
Portanto, tudo isto é para nos perguntarmos: “como estamos hoje se Deus nos chama?”. Nós vamos nos colocar verdadeiramente nas mãos de Deus para que, a qualquer instante que Deus bater em nossas portas, digamos: “presente, Senhor”? Estejamos atentos e vigilantes, assim como Teresinha o foi, mesmo diante da dor e sofrimento.
Homilia: Pe. Antônio Moura - Sábado da 25ª Semana do Tempo Comum (Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum, Ano A) - 30/09/2017 (3º Dia do Tríduo de Santa Teresinha, Missa das 16h).

Especial Tríduo de Santa Teresinha - Sejamos como Jesus na vida do outro
29/09/2017
Caros irmãos, quando celebramos um Tríduo, nós devemos ter no coração uma coisa muito importante: preparar-se. Estar preparado para algo grande. E este Tríduo, na Igreja, significa que algo tão grande está vindo que, se não fizermos uma preparação, aquilo passa sem percebermos. E já estamos no segundo dia, o que significa que estamos no meio do caminho. É tempo de percebermos o porquê de estarmos aqui, e nada melhor do que percebemos isso tendo, hoje, uma Festa na igreja, a Festa dos Mensageiros de Deus.
Deus não pode falar diretamente conosco porque não seríamos capazes de entender, de aprender, de aceitar, de aguentá-Lo falando diretamente conosco, pois Deus é tão grande e poderoso que nossa pequena cabeça explodiria se Ele tentasse falar conosco diretamente. Imaginemo-nos como sendo um copo que alguém vem e tenta colocar 500 litros de água dentro; não suportaríamos. Por isso, desde sempre, Deus inspira pessoas, e estas pessoas falam em nome de Deus e trazem Sua mensagem. Quando você vai ao encontro do outro e diz uma coisa boa, você está sendo um mensageiro de Deus. Quando você vai ao encontro do outro e consegue ajudá-lo no seu momento de dificuldade ou tristeza, você está sendo um mensageiro de Deus.
Hoje, nós falamos de três formas de mensagem. A primeira forma nós vamos chamar de "Mensagem Rafael". Quando é que eu me torno Rafael na vida do outro? Quando eu deixo que Deus, através de mim, seja um sinal de cura no outro. E ai de nós se não formos sinais de cura na vida do outro... E como é que podemos ser sinais de cura na vida do outro? Quantas vezes o outro está precisando de alguém que, simplesmente, sente-se com ele e escute o que ele tem a dizer. Geralmente, o que ele tem a dizer não é bom; ele tem inflamações para dizer, coisas para colocar para fora e precisa de alguém que o escute. E se você se dispõe a escutá-lo, pode ter certeza, você está sendo a mensagem Rafael na vida dele! Porque a mensagem Rafael significa: Deus curou. Se possível, diga uma palavra para ele. Quantas vezes encontramos, em nossa vida, pessoas que estão perdidas, não sabem o que fazer. E se nós fizermos do jeito certo, essa pessoa pode entender.
Então, é possível ser Rafael na vida do outro quando nós abrimos nosso coração para o coração do outro, em primeiro lugar. É fácil? Não é fácil, porque o outro, quando está precisando de ajuda, se torna uma pessoa mais difícil. É possível que todos nós já tenhamos visto – nem que seja na televisão, em algum programa de animais – que, quando um animal está ferido, ele se torna perigoso. Não porque seja mal, pode ser um animal dócil, bonzinho. Mas se tem um espinho na patinha dele e se você for tentar tirar, ele ataca. O irmão sofrido é assim também. Por isso, para sermos Rafael na vida dele, nós temos que, em primeiro lugar, não ter medo do seu ataque. Às vezes, você vai chegar perto e ele vai dizer uma palavra ruim, vai tentar te afastar. Nesse momento, lembre-se: não é ele que está fazendo isso, é o machucado dele. Ele está machucado e precisa que você tire o seu espinho.
Existe, também, uma segunda forma de mensagem, que podemos chamar de "Mensagem Gabriel". E o que é a forma de mensagem Gabriel? Gabriel significa: força de Deus. Nós estamos vivendo em um mundo onde tomar decisão não é fácil. São muitas opções – "E agora, o que eu vou escolher? Como é que eu vou escolher? Será certo ou não? Por isso, é preciso de alguém que sempre esteja junto para dizer: "Conte comigo! Independentemente se você acertar ou errar, conte comigo, pois estou contigo para te dar forças". Isso é ser Gabriel na vida do outro! E todos nós podemos ser Gabriel na vida do outro, porque o outro precisa de alguém que esteja ali, que seja presente na vida dele. É assim que Deus age na nossa vida quando deixamos que Ele seja a nossa força.
E tem a terceira forma de mensagem, que é a forma Miguel. Miguel é uma pergunta: quem é igual a Deus? E se alguém lhe fizer esta pergunta, bata no peito e diga: "Eu"! Quando eu faço a vontade de Deus, eu sou igual a Ele. Quando deixo Deus entrar na minha vida, eu sou igual a Ele. Porque, através de mim, Deus vai falar; através de mim, Deus vai agir. Eu sou Deus? Não, nem nunca serei. Mas posso ser como Deus. E quando eu me torno como Deus? Quando faço aquilo que Deus faz. Só para entendermos isso, veio Jesus e, de tudo aquilo que fez, Ele disse: "Você também pode! Você é capaz!". E o que é que Jesus fazia? Fazia presença na vida do outro. Olhava para o outro. E se Ele quisesse fazer uma pergunta, era: "O que você está querendo? O que você está precisando? Como eu posso ser útil na sua vida? Tem algo que eu posso fazer para você? Se sim, estou aqui, do seu lado. A hora que você quiser, estou aqui". Ele não olhava se a pessoa prestava ou não, se a pessoa era boa ou ruim, se era desta cor ou daquela, se fazia desse jeito ou de outro. Mas Ele via uma coisa importante: a pessoa. E, novamente, perguntava: "Você está precisando de ajuda? Você quer um companheiro para caminhar junto? Você quer alguém para chorar junto? Você quer alguém para se alegrar junto?".
Na primeira leitura [Dn 7, 9-10. 13-14], Daniel estava tendo uma visão. Em sua visão tinha Deus, e do trono de Deus saía um rio de fogo que demonstrava o Seu poder, demonstrava a Sua glória. A visão continuava e Daniel foi levado diante de Deus. E, entre as nuvens, vinha um como "filho de homem", ou seja, alguém que era humano. A visão de Daniel nos diz uma coisa muito importante: quer se aproximar de Deus? Torne-se humano. "Ah, padre, mas já sou humano". Será? Todos nós somos seres humanos. Agora, só é humano quem é capaz de olhar para o outro e enxergá-lo. O humano é aquele que não está preocupado com o que o outro pensa, com o que o outro faz, mas está preocupado em ajudá-lo.
Muita gente era "jogada fora" no tempo de Jesus. Se tivesse algum tipo de doença, pecado ou comportamento contrário, era "jogado fora". E se você ler nos Evangelhos, Jesus foi ao encontro destes que tinham sido excluídos. Quando alguém era leproso, ele não podia se aproximar de ninguém e ninguém dele. O leproso tinha que andar com a roupa rasgada, com um sininho na mão e gritando: "Leproso! Leproso!", para que ninguém se aproximasse dele. Um dia, um leproso se aproximou de Jesus, e Jesus disse: "O que você quer?". Ele respondeu: "Eu quero ser curado!". E Jesus tocou naquele homem. O Evangelho é lindo nesse momento, porque diz assim: "Imediatamente, o homem foi curado e podia entrar na cidade", mas Jesus não podia mais entrar na cidade, porque havia tocado no leproso. Isso é ser humano! O que vale é ajudar o outro, mesmo que eu seja prejudicado por aquilo. Mas não tem alegria maior do que perceber que o outro, agora, pode voltar a ser quem ele era!
Certo dia, um pecador queria ver Jesus, mas ele era tão terrível que não podia aparecer em público, então, se escondeu em uma árvore. E Jesus foi passando, olhou para a árvore e disse: "Desce, Zaqueu, eu quero comer na tua casa". Comer na casa de alguém que vai aparecer no Jornal Nacional e que você vai ser fotografado junto? E que, na hora em que disserem que ele não presta, vão dizer que você também não presta? Pois é, Jesus fez isso! Jesus foi comer na casa dele e, enquanto estava lá, não pediu nada; não perguntou se ele queria se converter ou se estava arrependido, apenas foi comer na casa dele. E Zaqueu disse que havia tomado uma decisão, a de devolver o que roubou; de pegar metade de tudo o que tinha e distribuir entre as pessoas que havia prejudicado. Humano é aquele que aceita o outro. E quando aceitamos o outro, o outro também se aceita. E quando se aceita, ele pode mudar de vida.
Esta é a mensagem do Evangelho de hoje [Jo 1,47-51]. Jesus vê um homem que está vindo ao seu encontro – Natanael – e diz: "Aquele homem merece ser ouvido, porque não tem falsidade, ele é honesto para consigo mesmo. O que ele gosta, ele diz, e o que não gosta, também diz". Aquele homem ouviu e perguntou a Jesus de onde Ele o conhecia, e Jesus respondeu: "Eu te vi, eu vi o seu jeito de viver, e se você quiser caminhar comigo, você terá coisas maiores".
Estamos celebrando o Tríduo de Santa Teresinha, uma menina que queria ser freira e que não podia, pois não tinha idade, mas que insistiu, persistiu, conseguiu autorização papal e foi morar num convento. Chegando ao convento, encontrou alguém que não lhe foi muito agradável. Uma das passagens da história de Santa Teresinha diz que tinha uma freira velhinha muito chata, e Teresinha foi fazer suas orações, teve uma inspiração e entendeu o sentido de sua ida ao convento: ser um sentido na vida desta sua irmã. E se aproximou, aos poucos, da freira. O tempo foi passando e a irmã foi melhorando... Certo dia, a freira que era tão chata apareceu com um sorriso e disse que havia encontrado um sentido para viver, pois alguém lembrou que ela existia. Será que não é isso que temos que aprender? Será que nós não fomos colocados perto do outro para sermos uma luz para aquela pessoa?
Senhor, Deus de amor e de bondade, aqui estamos nós. Precisamos da Tua cura, precisamos da Tua força, precisamos da Tua presença. Vem, Senhor! Toca em nosso coração, age em nossa vida e fortalece nosso ser para nos tornarmos, como Teresinha, mensageiros do Vosso amor. Quando estivermos desanimados, vem ser nossa força; quando estivermos em dúvida, vem ser nossa certeza; quando quisermos desistir, vem nos resgatar. Porque, sem Ti, nada somos. Faz-nos perceber que Contigo somos mais! Perdoe nossos pecados e ilumine nossa vida. Faz de nós semelhantes a Ti, Jesus.
Homilia: Pe. Romeu Izidório - Festa de São Miguel, São Gabriel e São Rafael Arcanjos (Ano A), 29/09/2017 (2º Dia do Tríduo de Santa Teresinha, Missa às 19h30).

Especial Tríduo de Santa Teresinha – Pelo exemplo de nossa Padroeira, promover a Nova Evangelização
28/09/2017
Meus irmãos e minhas irmãs, louvado seja nosso Senhor, Jesus Cristo! Fico muito feliz em poder celebrar esta eucaristia entre vocês, nesta noite de preparação para os festejos da padroeira, Santa Teresinha. Fico agraciado e espero que esta eucaristia revigore o nosso desejo de sermos doutores de uma nova evangelização, na cultura do encontro, na disponibilidade do serviço e, principalmente, no crescimento da comunidade paroquial. Fico feliz em ver a comunidade reunida durante a semana. Vejo, pelo menos, 200 pessoas aqui na igreja! E fico muito feliz em vê-los assim, animados. Tenho certeza que, a cada ano, esse número aumentará mais, porque a evangelização estará acontecendo e a Festa da Padroeira será aquele grande encontro da comunidade – não que já não o seja, mas nós temos que ter sempre o desejo de aumentar a família. Se a igreja é a família de Deus, nós devemos ser perseverantes para alcançar os irmãos e as irmãs que estão ainda longe da casa do Pai.
E fico mais feliz ainda por encontrar tanta criança na missa! Fico muito feliz porque, juntos, nós vamos fazendo uma experiência bonita de nos encontrarmos com Jesus, de termos Jesus bem pertinho de nós. Quando a gente vem à igreja, temos que ter a alegria de nos encontrarmos com Jesus. Vocês ouviram, no Evangelho [Lc 9, 7-9], um homem – o rei Herodes – que queria ver Jesus, mas tinha medo, tinha vergonha. Porque ele queria ver quem era Jesus, mas não queria viver na presença Dele, não queria ter Jesus como amigo. Quando a gente vem à igreja, a gente vem, na verdade, procurar fazer amizade com Jesus. Por isso é que as crianças, nesta etapa da Pré-Catequese, Catequese de Primeira Eucaristia e Perseverança, têm que criar amizade com Jesus. E a missa é o principal lugar para fazermos esta amizade. Na missa a gente ouve Jesus falar, a gente fala com Jesus, a gente canta com Jesus; a missa é onde a gente reza com Jesus, onde a gente vive o momento mais especial da nossa vida com Jesus. Então, na igreja nós sempre temos que nos encontrar com Jesus.
Quando não nos encontramos com Ele, acabamos vivendo como o rei Herodes, que tinha medo; queria ver Jesus para ver o movimento que Ele fazia, mas não queria acolhê-Lo como proposta transformadora na sua vida. Nós vivemos em um mundo onde a cultura do isolamento, da divisão, da guerra e do ódio quer, justamente, fazer com que a gente veja Jesus de lampejo, mas não assuma o Seu caminho. Tanto que vivemos inúmeras propostas religiosas que não nos levam a um encontro transformador e pessoal com a pessoa de Cristo. As pessoas querem falar com Jesus, mas, muitas vezes, não querem converter o coração para aquilo que Jesus ensina, não querem ser modificados pelo sacrifício de Jesus na cruz e por Sua presença na eucaristia. A gente pensa que, muitas vezes, este distanciamento, esse ficar longe das coisas de Deus é coisa só do mundo de hoje. Não! Quantas pessoas escolhem viver sem Deus... Mas vocês estão certas, crianças, vocês estão de parabéns! Porque quando a gente vem à igreja desde pequeno, a gente não fica sem vir à igreja quando cresce. Então, vocês vão fazer um compromisso com Jesus e com Santa Teresinha: depois que vocês fizerem a Primeira Eucaristia, depois que fizerem a Crisma ou quando vocês não forem mais coroinhas, vocês vão prometer para Jesus que não vão deixar de vir à igreja, porque a igreja é o lugar certo para aprendermos a fazer as coisas certas.
Nestes dias, nós estamos celebrando a Festa de Santa Teresinha. E vocês sabem que ela, desde pequena, assim como as crianças aqui da comunidade, já era apaixonada por Jesus? Santa Teresinha vivia em uma cidade bem pequena e os pais dela a incentivavam a frequentar a paróquia – olha só, papai e mamãe, a transformação na vida do seu filho! Eu sei que, muitas vezes, quando somos adultos, temos um pouco de indisposição... Mas olha a transformação que pode acontecer quando pensamos no futuro dos nossos filhos! Os pais Santa Teresinha a incentivavam, assim como a suas irmãs, desde pequenas, a irem à igreja, até que Teresinha descobriu um chamado. Um chamado que não foi em voz alta, mas um toque de Jesus em seu coração. E ela se apaixonou por Jesus.
Todos nós, desde pequenos, devemos nos apaixonar por Jesus, porque Ele é o melhor amigo que podemos ter. É por isso que, na Catequese, vocês fazem atividades coletivas, por isso que vocês receberam a bíblia, que vocês estão fazendo os encontros, que o Pe. Tiago fala que tem que vir à missa, vir servir... Para que você descubra que não existe melhor amigo na vida do que Jesus! E é por isso que Santa Teresinha, quando ficou adolescente, com seus 15 anos, decidiu ser freira. Aí vocês vão falar: "Pai, mãe, eu não quero mais ir à igreja, senão vou virar padre, senão vou virar freira!". Não, não é assim… Jesus vai mostrando, quando estamos na presença Dele, qual o melhor caminho para a nossa felicidade. Ele vai nos inspirando, nos tocando, nos ajudando a ver como seremos mais felizes em nossa vida. Então, se você tem um desejo no seu coração e for uma coisa boa, você tem que, todo dia, pedir a Jesus que lhe mostre se isso é o melhor mesmo para você. Foi o que aconteceu com Santa Teresinha. E, por isso, quando ficou moça, ela abraçou a vida religiosa e disse uma frase muito bonita: "No coração da Igreja, eu quero ser o amor". E ela viveu a juventude dela para Jesus.
Entenderam bem a mensagem? Entenderam por que vocês têm que estar aqui desde crianças? É neste horizonte da resposta do chamado de Deus, minhas irmãs e meus irmãos, que nós queremos pensar a nova evangelização. Quando nós falamos em "nova evangelização" e olhamos para o Papa Francisco – inspirado por Deus, convocando toda a Igreja para sairmos em uma ação missionária, para alcançarmos os homens e as mulheres do nosso viver para Cristo –, nós temos que lembrar as experiências simples e transformadoras de acolher Jesus em nossa vida, e a comunidade deve ser o lugar privilegiado para este encontro pessoal com Jesus. Por isso, nós devemos ter criatividade pastoral no nosso tempo, para reconstruirmos a nossa maneira de ser Igreja.
Não é à toa que a primeira leitura [Ag 1, 1-8] é a profecia de Ageu, que nos chama a atenção para o processo de reconstrução do templo de Jerusalém. Depois da grande experiência do exílio da Babilônia, no séc. VI a.C., o povo tinha sido dominado politica e religiosamente; tinha se dividido por causa da incoerência de sua fé e da incoerência de sua vida. Mas Deus deu a oportunidade da reconstrução da história deste povo e, por isso, eles não reconstruíram somente o seu templo material, mas a sua pertença, a sua identidade. E Deus está dando esta mesma oportunidade a nós, que somos a Sua Igreja no hoje de nosso tempo, para também nós reconstruirmos a nossa maneira de sermos cristãos, de sermos católicos no mundo de hoje. E como o mundo precisa de Deus... Como o mundo precisa de gente de fé, desapegada, animada, disposta a levar a Palavra de Deus de maneira nova, de acordo com os desafios da nossa história, do nosso hoje. Por isso, uma das grandes convocações da Igreja no Brasil é que estejamos em estado permanente de missão e que a igreja seja um lugar onde a gente experimente, de forma privilegiada, a Palavra de Deus, onde todos se sintam corresponsáveis pela evangelização.
Então, nós, adultos, para ensinarmos a nossas crianças, devemos eliminar aqueles clichês: "Ah, eu não vou participar da pastoral da minha paróquia porque tem 'os donos da igreja' lá". Sabe por que tem "dono" na igreja? Porque você não está fazendo a sua parte! Se você faz a sua parte como membro, a comunidade cresce, se expande, se renova, e é isso que a gente tem que lembrar quando entramos no templo e escutamos a convocação para a vida paroquial. Vocês, aqui, estão num lugar privilegiado. Vocês têm uma igreja numa região de eixo, bairro perto da avenida, com prédios novos sendo construídos, casais novos chegando, famílias se formando... O Pe. Tiago é bem disposto, animado, canta, toca, dança, escreve, declama poemas, sabe de tudo, inteligentíssimo... Então, vejam bem, vocês têm tudo para fazer a comunidade deslanchar e as pessoas terem orgulho de ser Paróquia Santa Teresinha! Mas vocês precisam da criatividade da fé, da criatividade do Evangelho, da disponibilidade de sair do comodismo para ir ao trabalho, para ir ao encontro das pessoas, principalmente daquelas que estão sofrendo, principalmente daquelas que estão distantes. Vocês têm tudo para fazerem isto aqui se transformar num centro da irradiação da mensagem de Jesus!
Santa Teresinha ensina isso com simplicidade, com humildade, com doação e, também, com sacrifício. Quando olhamos para a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, que em apenas 24 anos fez uma reforma missionária sem nunca sair do Carmelo, fez uma renovação dentro da Igreja sem nunca sair do convento, podemos perceber a padroeira que vocês têm aqui! E ela é este exemplo de santidade tão grande porque foi alcançada e tocada por Cristo. Porque não foi egoísta, levando as pessoas a Deus por meio da oração, da dedicação à vida religiosa, da obediência e de uma cabeça aberta, onde cabia o mundo inteiro! Santa Teresinha é Padroeira das Missões porque seu coração foi, de tal forma, transformado por Jesus que sua mente sabia, o tempo inteiro, por Quem ela rezava, por Quem ela dedicava sua vida, por Quem ela fazia tantos sacrifícios, físicos e espirituais. Ela nos ensinou que nós também podemos ser missionários, por mais que tenhamos pouco tempo. Quando somos alcançados por Jesus, nos tornamos verdadeiros evangelizadores.
Peçamos a intercessão de Santa Teresinha, para que ela nos ajude, ajude esta paróquia, ajude a nossa Diocese de Santo André – que está vivendo o Sínodo Diocesano, este grande desejo da Igreja de ser missionária no meio destes quase 3 milhões de habitantes do ABC Paulista; são 100 paróquias, mas quantas pessoas não sabem o caminho da igreja... Quantas pessoas que não conhecem a Palavra de Deus, quantas pessoas que estão sofrendo com uma doença do nosso tempo chamada desesperança... Que Santa Teresinha interceda e que nós também tenhamos o desejo de ser, na Igreja, o amor – como ela teve –, para que todos encontrem Cristo: caminho, verdade e vida.
Homilia: Pe. Felipe Sobrinho - Quinta-feira da 25ª Semana do Tempo Comum (Ano A) - 28/09/2017 (1º Dia do Tríduo de Santa Teresinha, Missa das 19h30).

O momento de conversão é o hoje!
24/09/2017
Estamos celebrando o 25º Domingo do Tempo Comum e a liturgia do dia nos convida a buscarmos a nossa conversão no hoje e não no amanhã. A liturgia nos convida a não sermos egoístas, mesquinhos, invejosos, mas sim a nos alegrarmos com aqueles que recebem algo que vai lhes ajudar. E, com o apóstolo Paulo, refletir sobre a nossa vivência em Cristo Jesus, a fim de termos o centro de nossa história Nele.
Na Primeira Leitura, do livro do profeta Isaías [Is 55, 6-9], ele nos fala para escutarmos o Senhor enquanto Ele pode ser ouvido; para encontrarmos o Senhor enquanto Ele pode ser achado. E nós, obviamente, temos o mau hábito de deixarmos para amanhã o que podemos começar hoje. Quando se fala em conversão de vida, alguns podem pensar que isto é algo para ser pensado quando se está mais velho, quando está perto do momento do Senhor nos levar. Mas está certo isto? Está errado! A conversão é no hoje de nossa vida e não daqui a 10, 30 ou 60 anos. A conversão deve ser agora. Buscar o Senhor no momento presente. Nossa padroeira morreu tão jovem! Se ela tivesse esperado ficar mais velha, hoje ela não estaria aqui no altar. E muita gente deixa demais as coisas para depois. Por exemplo: amanhã começo meu regime ou a fazer exercícios físicos. Ou então pior: semana que vem eu começo a estudar para a prova. Não se estuda de véspera para a prova, é bem antes que se prepara para ela.
Já parou para pensar quantas vezes acabamos deixando algo para depois? Pessoas com dificuldades na família pensam que daqui a algum tempo podem mudar seu relacionamento com esposa, filhos ou pais. E pode ser que, lá na frente, você não tenha este tempo, esta oportunidade. Portanto, é necessário mudar hoje. Buscar a Deus enquanto Ele pode ser achado. Não deixe para amanhã o que pode ser realizado hoje. O mesmo se dá com a solidariedade, que vemos no Evangelho de hoje [Mt 20, 1-16]. Nele, temos o patrão que vai na praça para buscar trabalhadores para sua colheita. Este Evangelho me lembra sempre de quando eu era mais jovem, em uma situação em que me ofereceram uma proposta de trabalho e não aceitei – e, por não aceitar, acabei ficando sem emprego durante 8 meses e o desespero bateu. Eu levantava 3h30 da manhã e pegava o primeiro ônibus em Mauá e vinha aqui para Santo André, onde havia centrais de atendimento ao trabalhador. Eu chegava umas 4h40 e a fila já estava virando o quarteirão. E acabava sendo atendido 9h ou 10h da manhã e, na grande maioria das vezes, não havia nenhuma oportunidade. Daí eu ia embora e, na próxima semana, voltava para ver se havia surgido algo.
Este Evangelho sempre me lembra isso porque aquelas pessoas na praça estavam igualmente necessitadas de trabalho. Não sabemos a quantidade de familiares, de filhos, se havia algum doente ou por qual condição estavam naquela praça precisando de trabalho. E o patrão chega e chama alguns às 7h da manhã. Ao ver que o serviço era muito, recruta mais alguns às 9h. Vendo que necessitava de mais empregados, volta novamente às 12h e às 15h. Estava terminando o dia e os trabalhadores não estavam conseguindo terminar o trabalho. Então, o patrão ainda chama mais uma leva de pessoas às 17h. Quando terminou o serviço, ele pede para o administrador dar uma moeda de prata para cada um, a começar dos últimos até os primeiros, que chegaram 7h da manhã. Então para os que chegaram às 17h, foi dada uma moeda de prata. Para os das 15h, também. Assim como ocorreu com aqueles chamados às 12h, 9h e às 7h. Vendo o que ocorreu, os trabalhadores que iniciaram a labuta às 7h ficaram revoltados. Alegavam que haviam trabalhado o dia todo naquele sol escaldante e tinham sido igualados àqueles que trabalharam menos que eles. E aí o patrão é obrigado a dizer: “não foi o que combinamos, uma moeda de prata para cada um? Eu não tenho o direito de fazer o que eu quero com o meu dinheiro?”.
Com o dinheiro que você tem em sua conta corrente ou embaixo do seu colchão, você faz o que quiser com ele? Sim, ainda que nem tão bem empregado de vez em quando. Mas faz. Você que faz porque o dinheiro é seu. O patrão não tem este direito também? Sim, ele tem. Ele foi injusto com alguém? Ele não combinou lá no começo do dia este pagamento de uma moeda de prata? Sendo assim, ele pagou justamente uma moeda de prata. Então qual é o problema aqui? O legalismo. Na verdade, neste Evangelho, segundo alguns biblistas, Jesus está falando também para os fariseus, que são aqueles que entendem tudo de leis, que rezam e que na teoria são uma maravilha, assim como alguns católicos que a gente conhece. Mas, na prática, a coisa muda de figura. Ficam com inveja do outro, que recebeu uma moeda de prata porque trabalhou 5 minutos. E se ele precisa, se é alguém necessitado? Alguns dias atrás, os vicentinos da paróquia me ensinaram uma coisa que eu não sabia. O contexto era que vieram falar comigo que havia gente recebendo mais cestas do que devia. Então, como em tudo que acontece na paróquia, eu os chamei para conversar para saber o que estava ocorrendo. Quis saber se as cestas eram todas iguais e disseram-me que não. Quis, então, saber o porquê desta diferença. Explicaram-me que em uma casa com 2 pessoas há menos necessidade do que em uma casa com 12 pessoas e os alimentos são distribuídos de acordo com a necessidade de cada família. E eu os parabenizei pela iniciativa e, assim, soube o que responder quando viessem falar sobre o assunto.
Se nós pensássemos deste modo, assim como aqueles trabalhadores, daríamos comida, teoricamente, para 12 mas que apenas 2 poderiam comer. Adiantaria? Não. Tantas vezes temos pessoas necessitadas perto de nós e não estendemos a nossa mão, não somos solidários com elas. E quantas pessoas precisam de nossa solidariedade! Há quinze dias, eu fui almoçar na casa de um paroquiano que me contou uma história interessante e lhe sou muito grato por isso. Ele disse que contratou alguns haitianos para trabalhar com ele e que, algumas vezes, 1 haitiano equivale a 3 brasileiros, porque trabalham bastante e enquanto não falam para parar, eles continuam. Almoçamos e, quando voltamos, os haitianos ainda estavam trabalhando sem ter almoçado. O motivo? Eles não tinham o que comer. Então fizeram uma vaquinha e deram alimentação para os haitianos. Conversa vai e conversa vem, começaram a descobrir um pouco mais sobre a vida e cultura destas pessoas. E, para surpresa de muitos, eles disseram que levantam e não tem nada para comer e saem para a rua para ver se encontram algum lugar para trabalharem e para se alimentarem. E não raras são as vezes em que não encontram nada. E sabe o que fazem nessa situação? Comem um mato que nasce em uma região de lama para manter o estômago com alguma coisa.
Será que estas pessoas não são necessitadas? Sim. E se essa pessoa que contratou quiser pagar um pouco mais para estes aqui para que eles possam ajudar a sua família lá, estão sendo injustos? Não, ele está sendo solidário. Mas, aos olhos de quem não vive o Evangelho, de algum egoísta ou ciumento, o patrão estaria sendo injusto. Portanto, é necessário entendermos o contexto do que acontece em nossa vida. E se nós buscamos uma vida em Cristo Jesus, como Paulo nos ensina na Segunda Leitura [Fl 1, 20-24.27], viver para nós é Cristo, morrer para nós é lucro. A nossa vida deve estar em Cristo e os sentimento Dele devem ser os nossos. E o próprio Cristo partilhou os 5 pães e 2 peixes. Ele mesmo ajudou as pessoas em suas dificuldades e nós também devemos ser solidários uns com os outros. Como nesta comunidade de Filipos à qual Paulo é imensamente agradecido porque ela foi a comunidade mais rica que Paulo conseguiu evangelizar. Era composta de aposentados do exército romano e administradores, somente pessoas com dinheiro. E na primeira oportunidade em que Jerusalém passou necessidade, foi a comunidade de Filipos que fez a coleta para auxiliá-la. E diversas vezes Paulo escreve agradecido a esta comunidade porque ela é solidária e entende a necessidade que os outros estão vivendo. Escreve também para fortalecê-los na fé e na espiritualidade, para incentivá-los na solidariedade e para que nunca esqueçam que Cristo é o centro da vida de cada um. E mesmo preso, possivelmente em Éfeso, Paulo diz: “viver para mim é Cristo, morrer para mim é lucro”. E termina a Segunda Leitura de hoje dizendo: “só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo”.
Que possamos, eu e você, colocarmos o Evangelho da Salvação em primeiro lugar na nossa vida. Que não deixemos para amanhã o que podemos realizar no hoje da nossa vida. Que o ciúme, a avareza e a mesquinhez se afastem do nosso coração e das nossas atitudes. E que, vivendo para Cristo, possamos colocar o Evangelho como prioridade em nossa história.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 25º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 24/09/2017 (Domingo, Missa de Abertura da Semana da Padroeira, às 18h30).

O perdão cura, liberta e transforma
17/09/2017
Estamos celebrando o 24º domingo do Tempo Comum, e a Igreja nos convida a refletir sobre o sagrado perdão. Porque uma pessoa que não sabe perdoar é uma pessoa que vive no rancor, na amargura. E quantas pessoas rancorosas, quantas pessoas amargas existem pela falta de perdão... A falta de perdão nos distancia das pessoas, a falta de perdão cria uma barreira entre nós e, muitas vezes, um abismo que nós não conseguimos mais ultrapassar. Se não perdoamos, não conseguimos manter a nossa proximidade. O ser humano precisa aprender a perdoar, e quando este ser humano diz que tem uma fé, esta fé lhe convida a seguir um caminho em que o perdão seja um sentimento, uma experiência constante ao longo de sua história.
Na primeira leitura, do livro da sabedoria - que são aspectos práticos da vida de fé, escritos no século II a.C. -, o autor, chamado Jesus Ben Sirac, estava preocupado porque a invasão da cultura helenística (a cultura grega, em que não existia o perdão, mas as batalhas, as grandes epopeias, os grandes desafios entre os reis) fazia com que os jovens não vivenciassem mais o perdão, mas a vingança, o rancor, o ódio contra as pessoas. E um dos aspectos práticos que Jesus Bem Sirac descreve na primeira leitura de hoje [Eclo 27, 33 – 28, 9] é: "O rancor e a raiva são coisas detestáveis". Se você tem rancor no seu coração, a Palavra de Deus diz que este é um sentimento detestável. "Até o pecador procura dominá-las". Se até o pecador procura dominar o rancor e a raiva, o que deve fazer o devoto de Deus, um adorador do Senhor, uma pessoa que trilha o caminho da salvação? Deve ser ainda melhor do que o pecador, porque o pecador domina! Nós devemos eliminar o rancor e a raiva do nosso coração.
Lá na frente, a leitura vai dizer: "Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados?". Muitas vezes, nós pedimos perdão a Deus dos nossos pecados, mas não conseguimos perdoar o pecado do outro! Jesus, em uma passagem do Evangelho, nos diz: "Aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra!" [ref. Jo 8, 7]. Todos nós somos pecadores, e quando eu me coloco no lugar do outro, quando eu procuro entender o outro - não legitimar o erro do outro, mas procurar entender as fragilidades do meu irmão - o meu relacionamento com ele, com certeza, será diferente, eu não vou ter raiva no meu coração, talvez somente por cinco minutinhos, mas depois passa. E, aliás, é naqueles cinco minutinhos que a gente não fala nada, a gente não toma atitude nenhuma, a gente se afasta e fica em silêncio. É a melhor coisa a fazer, porque a gente demora uma eternidade para conquistar alguém, depois, duas, três palavrinhas erradas, pronto, acabou tudo! Como aconteceu com um casal que namorava há oito anos e, no dia do matrimônio, na festa, um soltou uma palavra atravessada para o outro e o casamento acabou ali, ou seja, não tinha o mínimo de perdão neste casal. Este casamento foi invalidado pela Igreja, mas o que eu quero dizer é que, muitas vezes, a gente demora tanto tempo para conquistar algo e duas, três palavrinhas acabam com toda uma história que poderia ter sido vivenciada.
Nesse sentido, o Salmo de hoje, o Salmo 102, nos apresenta um Deus humano, com sentimentos humanos: "O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso". Nós queremos um Deus que é bondoso, que tem paciência, que tem carinho para com cada um de nós. Será que nós somos carinhosos uns com os outros? Ou jogamos pedra quando o outro faz alguma coisa errada? Apontando os erros: "Você fez aquilo de novo!", "Você não tem jeito!", "Você não muda o rumo da sua vida!", "Você diz que vai mudar e não muda nunca!". Imagina se Deus fosse desistir da gente! O tanto que nós já erramos ao longo da nossa vida... O Salmo ainda nos diz: "Pois ele te perdoa toda culpa e cura toda a tua enfermidade, da sepultura ele salva a tua vida" - e nos dá a graça da ressurreição - "E te cerca de carinho e compaixão". Mesmo, aos olhos do mundo, você não valendo nada, Deus ainda te cerca de carinho e compaixão! "Não fica sempre repetindo as suas queixas...", pois tem gente que fica repetindo o tempo todo o erro do outro e não deixa que o outro esqueça aquela falta. Sabe aquele pecado que você cometeu e se arrependeu com todas as suas forças, e vem alguém que sabe o seu ponto fraco e apunhala você? Isso é ficar repetindo as queixas do outro. Se fosse você no lugar, você iria gostar? Provavelmente não. E quando a gente não tem forças físicas para atingir alguém, o que a gente usa? A língua, que é uma das armas mais poderosas que nós temos. A nossa língua deve ser adestrada, contida, para não magoar o outro. "...Nem guarda eternamente o seu rancor", mas há pessoas que são diferentes, estão ali para fazer com que o outro não esqueça nunca o erro que cometeu: "Lembra, lá em 1917, aquele dia que estávamos jogando bola e você pisou no meu pé? Eu te xinguei!", "Lembra, lá naquela Copa de 1954, que a gente estava assistindo o jogo juntos e a gente saiu na mão?". E fica repetindo e guardando rancor. "Eu não quero mais ver você nem pintado de ouro, porque em 1714 você me xingou!". Conhece gente assim, que guarda tudo?
Depois, o Salmo diz: "Não nos trata como exigem nossas faltas". Imagina se Deus nos tratasse como nós tratamos os nossos semelhantes... Como seria o tratamento de Deus para conosco? Será que seria com tanto carinho, com tanta compaixão? Como seria o tratamento de Deus se Ele se espelhasse em nós, nas nossas atitudes? "Nem nos pune em proporção às nossas culpas". Se Deus fosse nos punir de acordo com nossos pecados, quais seriam as nossas punições? Como seria Deus nos punindo de acordo com os nossos pecados?
Nesse sentido, o Evangelho de hoje [Mt 18, 21-35] nos fala do velho e querido Pedro, que pergunta para Jesus: "Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?". Por que Pedro pergunta "sete vezes"? Porque sete, na Bíblia, é o número da perfeição. Aí Jesus responde: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete", ou seja, infinitamente! Eu devo perdoar o meu irmão infinitamente! Não significa ser bobo, não é isso. Tem que ter a correção fraterna, mas perdoar significa não guardar rancor da pessoa. Então, é assim: setenta vezes sete, infinitamente! E Jesus conta uma parábola de um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados, até que chegou um que lhe devia uma enorme fortuna. Eu tentei calcular quanto seria esta fortuna hoje e uns disseram 40 bilhões, outros 40 milhões e mais alguns números que ficaram girando por aí. Vamos supor, então, que a dívida era de 40 milhões. O rei mandou que o empregado fosse vendido como escravo, que era a lei da época, e o empregado ajoelhou aos pés do rei e disse: "Senhor, não faça isso, dá-me um prazo e eu te pagarei tudo!". O rei, cheio de compaixão, disse: "Eu vou dar um tempo para você se restabelecer e pagar sua dívida". Foi a criatura sair da frente do rei para encontrar alguém a quem emprestou um dia de serviço. Ele pegou o outro e começou a estrangular, dizendo: "Me paga o dia de serviço senão vou te vender como escravo! Você não vale nada! Você tem que me pagar!". Não deu alguns passos e já havia se esquecido que havia sido perdoado de uma fortuna imensa... O rei teve compaixão com ele e ele não teve compaixão com aquele que lhe devia um dia de serviço. A notícia se espalhou e chegou aos ouvidos do rei. Então, o rei chamou o empegado e o entregou aos torturadores, até que ele pagasse as suas dívidas.
O que Jesus conclui com essa história? Se nós não aprendermos a perdoar o nosso irmão, o destino daquele a quem não soubemos perdoar será também o nosso destino. É por isso que o perdão é uma condição fundamental para todos nós. Se queremos o perdão de Deus nas nossas faltas, é necessário aprendermos a perdoar os nossos semelhantes. São Paulo escreveu na segunda leitura de hoje [Rm 14, 7-9]: "Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos". Quer nasçamos, quer morramos, é para Jesus que o fazemos! A nossa vida deve ser direcionada para o Senhor, e se a nossa vida, meus irmãos, é direcionada para Jesus, nós devemos buscar ter um coração semelhante ao Dele. As atitudes de Jesus devem ser também as nossas.
Que o Espirito Santo de Deus nos toque profundamente para que saibamos entender onde a nossa vida deve ser transformada, onde nossas atitudes devem ser transformadas, onde o nosso relacionamento, o julgamento para com o outro deve ser transformado. Que o Senhor, pelo Seu sangue precioso no alto do Calvário, lave e purifique o nosso coração de qualquer tipo de raiva, rancor ou ressentimento!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 24º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 17/09/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Exercer a correção fraterna na pedagogia do amor
10/09/2017
Nós estamos celebrando o 23º Domingo do Tempo Comum, e a Palavra de Deus nos convida a tomarmos consciência da nossa corresponsabilidade, uns para com os outros. A vida do outro é nossa responsabilidade; a salvação da alma do outro é nossa responsabilidade. E, para que isso se torne compreensível para todos nós, o Salmo 94 (95) da liturgia de hoje nos diz: "Não fecheis o coração; ouvi, hoje, a voz de Deus!". Ficar com o coração fechado nos impede, nos impossibilita de compreender o que Deus espera de nós. Quando estamos com o coração fechado, Deus fala e a gente não ouve ou não entende. E quantos de nós estamos com o coração fechado? Fechado para aquilo que Deus deseja de cada um de nós...
Hoje, Ele nos fala, por meio da Sagrada Escritura, que devemos ser profetas, como o profeta Ezequiel. Muito tempo atrás, Ezequiel entendeu que deveria ser uma sentinela, ou seja, ficar vigiando. A sentinela fica atenta a tudo que está acontecendo para que, ao primeiro sinal de perigo, ela possa alertar. Se alguma coisa não está dando certo, a sentinela tem que dizer, caso contrário, a culpa é dela. E Deus fala para o profeta Ezequiel – lembrando que todos nós somos profetas pelo Batismo – que vai tocar seu coração para ir corrigir quem está fazendo a coisa errada.
Quando o pecador está fazendo alguma coisa errada, nós temos que ir falar para ele. Deus nos diz na primeira leitura [Ez 33, 7-9]: "Se eu disser ao ímpio que ele vai morrer, e tu não lhe falares, advertindo-o a respeito de sua conduta, o ímpio vai morrer por própria culpa, mas eu te pedirei contas da sua morte. Mas, se advertires o ímpio a respeito de sua conduta, para que se arrependa, e ele não se arrepender, o ímpio morrerá por própria culpa, porém tu salvarás tua vida". A omissão é um pecado. Nós somos responsáveis uns pelos outros, não podemos simplesmente lavar as nossas mãos. Antes, temos que buscar orientar, educar, corrigir o outro. Quando ensinamos alguém a escrever, por exemplo, a gente pega na mão e vai orientando; quando aprendemos a dirigir, precisamos de um instrutor que nos oriente e conduza. Não devemos desistir do outro quando ele erra, mas procurar incentivá-lo a superar o seu erro e a sua dificuldade. É o que Jesus nos fala no Evangelho de hoje [Mt 18,15-20]. Ele nos ensina a pedagogia do amor.
Quando o esposo precisa corrigir a esposa ou a esposa corrigir o esposo, como eles fazem? Como os pais corrigem os filhos? Como corrigir os funcionários que estão sob nossa responsabilidade? Como corrigir alguém na igreja? É pela pedagogia do amor, que Jesus nos ensina. Em primeiro lugar, quando alguém está fazendo alguma coisa errada, você o chama para conversar em particular, sem expor a pessoa. Se, depois de falar uma, duas, três vezes em particular, não teve jeito, você chama mais duas ou três pessoas para conversar com ela. Se ela continuar com a cabeça dura e não quiser modificar o seu coração, você chama a comunidade toda – que pode ser sua família. Mas se, mesmo assim, não der certo, aí será necessário dar um "susto" na pessoa, ou seja, romper com ela, porque tem gente que, enquanto não sente medo ou percebe que será deixado de lado, não muda de vida. E Jesus disse: "Se nem mesmo a Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público". Quem quer estar ao lado de um pecador público? Ninguém. Mas, ao menos, você tentou inúmeras vezes... E alguns, de fato, mudam, mas só depois do susto.
Na Igreja, existe a excomunhão, que é quando você está fora da comunhão enquanto não se arrepende do seu pecado grave. E acontece igual ao Evangelho: antes, a gente chama para conversar inúmeras vezes. Algumas faltas mais sérias geram excomunhão automática, mas esse estado não é irreversível, basta que o pecador se arrependa e seja absolvido pela Igreja. E há vários casos em que a pessoa pediu perdão e voltou. O que não pode é a pessoa ficar no caminho errado e a gente passando a mão na cabeça dela. O próprio Jesus não permite isso. E São Paulo vai dizer, na segunda leitura de hoje [Rm 13, 8-10], que o maior mandamento é a caridade. É o amor!
O amor se sacrifica, o amor se doa, o amor corrige. Quem não corrige é porque não ama. Se o pai e a mãe não amassem seus filhos, deixariam que fizessem tudo na hora em que quisessem. Mas, por amor, eles corrigem. O padre, em uma comunidade, se não a amasse, deixaria todo mundo fazer o que quisesse. Mas, porque ama, corrige; porque ama, procura orientar o melhor caminho. E quem gosta de ser corrigido? Ninguém. Nem eu, nem você, nem as crianças. E, quanto mais velhos, mais teimosos vamos ficando... Mas, quem ama, procura nos corrigir e, por isso, você deve agradecer a quem te corrige. Você deve agradecer ao teu pai e à tua mãe, e não ficar bravo com eles. Você deve agradecer ao teu professor, tua professora, porque eles querem o teu bem. Quem quer o teu bem sempre vai te falar a verdade! A verdade na caridade, a verdade no amor.
Pais: corrijam seus filhos no amor, corrijam seus filhos com carinho. Esposo, esposa: corrijam um ao outro com amor. Pelo WhatsApp não vale, viu?! Casal bom é casal que conversa. Família boa é família que conversa. Qual foi a última vez que você conversou com sua esposa, com seu esposo? Não sobre as contas, não sobre os filhos... Mas sobre vocês dois? Se faz tempo, vocês precisam retomar. Quando a gente ama, precisa ouvir o outro, precisa sentir o outro. Por isso, muitas vezes precisamos ser diretos no que dizemos, e não ficar rodeando nem "dando sinais". Tenha certeza que seu filho entendeu o que você quis dizer; tenha certeza que seu esposo ou sua esposa entendeu o que você quis dizer; tenha certeza que seu funcionário entendeu o que você quis dizer. Muitas vezes, a pessoa simplesmente não nos entende.
Portanto, ao celebramos esta eucaristia, peçamos a Deus que renove, em nosso coração, a disposição de sermos verdadeiras sentinelas de Deus, guardando e protegendo os bens espirituais, guardando e protegendo a nossa Igreja, guardando e protegendo os valores do Evangelho, a ética. Que sejamos sentinelas da nossa família, do nosso matrimônio; sentinelas na educação dos nossos filhos. Que sejamos adeptos à pedagogia do amor de Nosso Senhor Jesus Cristo ao corrigirmos o outro, por mais que nosso coração chegue ao extremo para ver se a pessoa muda sua mentalidade, sua postura, não para o nosso bem, mas para o bem da própria pessoa, pela salvação da sua alma e pelo bem da humanidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 23º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 10/09/2017 (Domingo, Missa das 10h).

O Senhor nos chama e dá forças para carregarmos a nossa cruz
03/09/2017
Empolguemo-nos hoje para celebrar o 22º Domingo do Tempo Comum, onde a Igreja nos convida, neste mês dedicado à Sagrada Palavra de Deus, a descobrirmos o que, de fato, a Palavra nos traz enquanto compromisso. Isto porque, muitas vezes, ficamos na superficialidade do que diz a Palavra de Deus. Sendo assim, em setembro – mês da Bíblia na igreja do Brasil –, nos dedicamos a refletir um pouco sobre a importância de nos aprofundarmos e adentrarmos naquilo que significa a Palavra em seus contextos histórico e teológico e na nossa missão cotidiana, na nossa vida diária. Muitas vezes, ficamos somente com a parte que nos convém e não com aquilo que interessa a Deus nos dizer. Quando algo nos traz um sentimento bom, nós guardamos no coração. Mas quando a Palavra de Deus nos interroga, nos questiona, nos faz refletir e nos convida a nos comprometer, então a deixamos de lado.
A experiência do salmista é fantástica [Sl 62]: “a minh’alma tem sede de vós como a terra sedenta, ó meu Deus”. O salmista sente-se necessitado de Deus como uma terra seca precisa de água. Será que nós nos sentimos, da mesma forma, necessitados de Deus? De tal modo a ficarmos esperando o domingo para irmos à missa, de não deixarmos de rezar todos os dias, de meditarmos a Palavra de Deus e de deixar Deus ir conduzindo as nossas decisões, sonhos, família e a educação dos nossos filhos? Na Primeira Leitura [Jr 20, 7-9], 650 anos antes de Cristo, o profeta dá um testemunho maravilhoso. No início da sua vocação, ele se recorda que não foi ele que precisou ir ao encontro de Deus, mas Deus que veio ao seu encontro. “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir”. Como em um caso de amor, Deus foi seduzindo o profeta Jeremias desde sua juventude e ele aceitou o chamado do Senhor para ser profeta. O profeta é aquele que anuncia a Palavra de Deus, seu amor e sua justiça, mas também denuncia as injustiças e contrariedades do coração humano. E, por isso, o profeta é rejeitado, acaba sendo deixado de lado pela sua família e pelos seus amigos. As pessoas ficam questionando o profeta e, é claro, ele entra em crise vocacional, existencial. Pois quando começamos a falar alguma coisa e as pessoas nos deixam de lado, ficamos angustiados e pensamos: será que só eu estou errado? E a Igreja fala em seu coração: “continua”. Mas ninguém te dá ouvidos. O profeta chega a dizer: “não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome de Deus”. Neste ponto, ele já entra em uma crise profunda de fé, o que talvez alguns de nós já tenhamos enfrentado. Eu já entrei em várias, mas tem mais de 10 anos que não acontece, graças a Deus. Mas quem aqui não teve crise de fé? Se não entrou, é porque, provavelmente, não se questionou muito. Se você se questionar um pouquinho, entra em crise. Na vida religiosa, há tanta coisa a ser questionada, a ser buscada. E é essa superação da crise de fé nos faz amadurecer no conhecimento e no comprometimento com a Palavra do Senhor. E quando o profeta entra em crise, olha o que ele diz: “senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar”. Ele queria abandonar a Deus, deixar de ser profeta, mas sentia o fogo abrasador dentro do seu coração. E, assim, ele não consegue deixar de ser profeta, pois o chamado de Deus é mais forte do que ele. Essa é uma verdadeira vocação, um verdadeiro amor, que independente dos sofrimentos e das angústias das incompreensões. Mesmo com tudo isto, o profeta ainda continua praticando a vontade do Senhor. Imagina você, pai e mãe, quando você for educar seu filho: se ele ficar uma semana sem falar com você e então você deixar de educá-lo, como vai ser? Se a esposa precisa corrigir o marido – ou o marido precisa corrigir a esposa – e um dos dois diz para “não falar comigo essa semana” e você nunca mais falar, isto não vai resolver o problema. Isso é chantagem emocional, que é uma das primeiras coisas que a gente aprende na vida. Aprende que, ao chorar, ganha o peito da mamãe, ganha colo. E isto leva a uma situação insustentável, na qual todo mundo começa a fazer chantagem emocional: primeiro com os pais, depois com a namorada, com os amigos, no trabalho... e, assim, vamos fazendo chantagem emocional uns com os outros. E o verdadeiro profeta não se deixa conduzir por chantagem emocional. O profeta fala, questiona, e é aquele que, na Palavra de hoje, assume sua cruz de cada dia e segue o nosso mestre. Este mestre que, para nós, não é um filósofo, não é um líder sindical, mas é o próprio Deus encarnado na história da humanidade, que deseja nos conduzir à salvação. E lembramos o Evangelho de domingo passado [Mt 16, 13-20] quando Jesus pergunta: “quem dizem os homens que eu sou?”. E os discípulos, rapidamente, respondem: “uns dizem que é Elias; outros, João Batista ou um dos profetas”. E Jesus complementa sua pergunta: “e vocês, que dizem?”. Aí Pedro levanta a voz, estufa o peito e diz: “tu és o Messias, o filho do Deus vivo”. E Jesus fala: “feliz és tu, Pedro, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai, que está no céu; por isso digo: tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha igreja e o poder do inferno não há de prevalecer sobre ela”. Só foi elogiar e lá vem Pedro de novo, que acerta uma, erra duas; acerta duas, erra três e assim vai indo. No Evangelho de hoje [Mt 16, 21-27], Jesus disse que deveria ir a Jerusalém anunciar a Palavra de Deus, fazer o bem, realizar milagres, curar os doentes, mas que, para isso, deveria sofrer muito, morrer e ressuscitar no terceiro dia. Mais do que depressa, Pedro pegou Jesus pelo braço e disse: “para com esse papo, isso não; vamos parar com essa história de morrer, com essa história de sofrimento que não é por aí”. Jesus, que tinha acabado de elogiar Pedro, diz: “afasta-te de mim, Satanás, já que tu não pensas como Deus, mas como os homens; tu és uma pedra de tropeço para mim”. Pedro tinha acabado de dizer que Jesus era o Messias, mas cinco minutos depois dá uma mancada dessa. E Jesus fica bravo porque Pedro ainda não entendeu, mesmo proclamando Jesus como o Messias. E talvez assim somos nós – proclamamos Jesus como nosso Deus, mas não entendemos o que significa ser Cristão, seguir o cristianismo. Então, Jesus diz: “aquele que não renunciar a si mesmo a cada dia, tomar a sua cruz e me seguir, não é digno de mim”. E nós, muitas vezes, abandonamos nossas cruzes pelo caminho. Quando a cruz é pesada, deixamos ela de lado e só pegamos as mais bonitinhas. Tem gente que tem cruzes maravilhosas, mas a cruz do sofrimento é difícil de ver hoje em dia. Tem cruz estilizada, com diamante, de ouro, de prata. E esquecemos que a cruz lembra sofrimento e sacrifício. Não existe cruz sem sacrifício e sofrimento. Por vezes, nós romantizamos a cruz de Jesus e, portanto, é necessário recordarmos, constantemente, que o real significado da cruz é o sacrifício senão corremos o risco de abandonar as cruzes da nossa vida. Quando o matrimônio fica pesado, a gente abandona; quando o filho dá problema, a gente abandona; quando o trabalho dá problema, a gente quer trocar. Quando algo na nossa vida dá problema é como se apenas trocasse o aplicativo do celular. E não é assim na vida de fé: nela, temos que assumir a cruz e carregá-la, sempre e constantemente. E a pergunta que nos fazemos hoje, irmãos e irmãs, é a seguinte: você aceita Jesus como seu Messias? Ao aceitá-lo, você reconhece a sua cruz, a cruz de nossa salvação e a cruz que nós devemos seguir e carregar todos os dias? Ou as palavras de Jesus para Pedro são para nós hoje? “Afasta-te de mim Satanás, tu és uma pedra de tropeço para mim”.
E, muitas vezes, nós acabamos sendo Satanás dentro de casa, no emprego, com nossos amigos ou nas atividades que nós desenvolvemos porque não pensamos como Deus, e sim como os homens. E, nessa sociedade cada vez mais secularizada, os valores contrários ao Evangelho estão tomando conta do nosso coração, estão conduzindo matrimônio, a educação dos nossos filhos e a nossa postura no mercado de trabalho e no lazer. E, desta forma, vamos nos afastando do projeto de Jesus. Por isso, Paulo retrata na Segunda Leitura [Rm 12, 1-2] o seguinte: “pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Já viram sacrifício sem dor? Não existe sacrifício sem dor. Existe sacrifício sem sofrimento? Não existe. Mamãe e papai, que acordam cedo para cuidar do filho doente – ou que está chorando e não sabe porquê –, entendem o que é um sacrifício. Quando você não quer levantar de manhã para ir trabalhar pois está frio ou chovendo, pegar trem, metrô, também realiza um sacrifico para trazer o pão de cada dia para dentro de casa. Quando você quer chamar a atenção do seu filho e ele começa a chorar na sua frente – e seu coração fica angustiado porque seu filho está chorando –, é um sacrifício que vocês, pai e mãe, têm que fazer. Esses dias eu precisava corrigir uma pessoa que presta serviços para igreja – uma jovem com muita boa vontade mas que começou a errar nas mesmas coisas. Na hora que chamei para conversar, os olhos dela encheram de lágrimas e eu pensava: “Senhor, ajude-me a manter o foco aqui”. Porque meus olhos começaram a encher de lágrimas junto e foi virando um desastre porque eu precisava corrigir a pessoa e era difícil. Mas eu não podia deixar de fazer naquele momento, para o bem dela e para o bem da igreja. Portanto, tem coisas que temos que fazer com sacrifício. Hoje mesmo, teve mãe que estava dormindo na missa das 7h30 porque acordou 4h30 da manhã para fazer lanchinho para os filhos que estão no Encontro Vocacional da Diocese. Fizeram um sacrifico de amor. E nosso amor por Jesus também deve nos levar ao sacrifício de amor.
Em um momento posterior, ainda na Segunda Leitura, Paulo nos diz: “não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar”. Não se conformar com o mundo significa que somos nós que devemos transformá-lo. Devemos ser fermento na massa, sal da terra e luz do mundo, como disse Jesus, e não deixar que os valores secularizados da sociedade pós-moderna permeiem o nosso coração, adentrem nossa casa e eduquem nossas crianças e jovens. Peçamos ao Senhor que, ao redescobrirmos nossa vocação, recordemos o dia em que o Senhor nos seduziu e nos convidou para participarmos da sua caminhada de fé, de amor e de salvação. Que possamos renovar, constantemente, este compromisso, que é um sacrifício e um testemunho dos valores do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 22º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 03/09/2017 (Domingo, missa das 10h).

Administrar bem os poderes que Deus nos concede
27/08/2017
Nós estamos celebrando o 21º domingo do Tempo Comum, dia da vocação dos serviços leigos na comunidade, em que a Igreja nos recorda que nós, o povo de Deus, somos o corpo místico que forma a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e os nossos dons e carismas devem ser colocados à disposição de Deus e da sociedade do melhor modo possível. Por exemplo, se você sabe cantar, venha cantar; se você sabe consertar as coisas, conserte as coisas da comunidade; se você gosta de pintar, de escrever, de tirar fotografia... Você, criança, que gosta de servir aqui, como coroinha; depois, servir como cerimoniário, como ministro, também como leitor... Enfim, hoje é dia de todos os ministérios que formam a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e nós rogamos que cada fiel batizado possa, no íntimo do seu coração, assumir pelo menos um ministério na igreja, onde todos nós formamos esse grande corpo, a esposa de Cristo. E, assim, seremos mais fortes, seremos mais resistentes às forças contrárias ao projeto da salvação.
A Igreja, nos dias de hoje, nos ajuda a refletir sobre o poder que nos é dado ao longo de nossa vida. Na primeira leitura [Is 22, 19-23], temos as figuras de Sobina e Eliacim. Nós estamos por volta do ano 790 a.C, no qual existiam reinados, grandes castelos... E Sobina era o administrador do palácio real, que detinha o poder das chaves, ou seja, o poder de escolher quem ia falar com o rei, o poder de decidir quem seria contratado para trabalhar no castelo, o poder de decidir qual homem do povo ia oferecer seus produtos ao palácio. E funcionava assim: quem pagasse mais, conseguia; quem pagasse menos, ficava por último. Se algum comerciante ou alguém importante da cidade quisesse falar, Sobina tinha que ter algum benefício; se ele não tivesse, nada acontecia. Se algum produto fosse entrar no palácio, Sobina tirava o dele por fora, senão o produto não entrava. Pois bem, e o que Isaías falou? Que Deus haveria de destituir Sobina de seu cargo e colocar Eliacim no poder das chaves, porque Eliacim era um homem justo, que saberia administrar este poder das chaves. Não teria propina que atrairia Eliacim, ele não aceitaria nenhum tipo de chantagem financeira ou emocional e seria o homem justo para exercer aquela função.
No Evangelho [Mt 16, 13-20], nós também temos alguém que recebe as chaves: Pedro. Jesus está evangelizando e, de repente, chama os discípulos mais para longe, e pergunta a eles: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?". Eles, rapidamente, respondem: "Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas". Logicamente, Jesus fica muito triste, porque os discípulos já estavam com Ele há três anos, Ele já tinha falado tanto, já tinha feito milagres, já tinha feito tanta coisa... Mas o povo ainda não havia entendido. Então, Jesus diz: “O povo não entendeu nada até agora. Mas e vocês, que estão comigo, almoçam comigo, caminham comigo, viajam comigo... Quem vocês dizem que eu sou?" E Pedro responde: "Tu és o Messias, o filho do Deus vivo”, proclamando Jesus Cristo como o Salvador, o próprio Messias – porque Jesus não é um simples líder político, não é um vidente, não é um filósofo; Jesus é o Messias, é Ele que nos salva! Então, diante dessa profissão de fé, Jesus lhe diz: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus". Olha o poder que Pedro recebe de Jesus! Pela Sua lei, a nossa Igreja foi fundada sobre a rocha firme deste que proclamou Jesus como o Messias, o Salvador. Ele recebeu o poder das chaves: "Tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus". E Pedro exerce esse mistério apostólico com fidelidade, sabendo administrar o poder que lhe foi dado.
Você pode até falar, olhando para a história da Igreja, que se recorda de alguns Papas que fizeram coisas erradas. Mas, então, deve se recordar também que, se eles fizeram, perderam o poder das chaves. Se algum bispo faz coisas erradas ele perde o poder de cuidar da Diocese dele. E se padres fazem coisas erradas eles perdem o poder de cuidar de suas paróquias. Então, olhando para a Igreja, nós podemos até julgar, mas aí eu lhe pergunto: e nós? Será que nós estamos administrando bem o poder que Deus nos deu, as chaves que Ele nos deu? Administrar, por exemplo, a sua liberdade. Porque temos liberdade, mas sabemos usufruir desta liberdade? Você que exerce alguma função na sua empresa, de liderança, de gerência, de organização... Você sabe exercer esta liberdade ou você dá privilégios a algumas pessoas porque às vezes elas lhe dão presentinhos, porque você pode conseguir, quem sabe, algum benefício com elas? Você que tem a liberdade, por exemplo, de dirigir; será que você sabe exercer bem esse poder de pegar no volante? Porque nós sabemos que, pelo menos uma vez por mês, na televisão, vemos alguém que morreu atropelado, e muitas vezes o motorista estava bêbado, fora de si, ou seja, ele não soube administrar sua liberdade. Você que é casado, sabe administrar o seu matrimônio? Será que você sabe administrar a sua vida familiar? Porque quantos gostariam de estar casados mas não estão, não tiveram essa oportunidade... E você que o é, muitas vezes, não valoriza a sua esposa, o seu esposo... Você que é pai e mãe, está sabendo administrar bem o poder que tem dentro de casa, com seus filhos? Porque se você não cuidar bem dos seus filhos, nós sabemos que o conselho tutelar vem e os tira de você, avaliando que os pais não têm condições de acompanhar e educar essas crianças.
Então, quando a gente critica a história de alguém, quando a gente critica os nossos políticos, achando um absurdo este país estar na lama... E nós, quem somos? Será que sabemos administrar os poderes que Deus nos deu? Ou não sabemos? Porque, se não sabemos, o profeta Isaías é muito claro ao dizer que a oportunidade lhe foi dada, mas se você não souber administrar, a chave lhe será tirada. Antes de julgar o outro, é necessário olhar para mim mesmo, com o poder das chaves que eu tenho, e me questionar se estou administrando bem a minha vida, as pessoas que estão sob a minha responsabilidade, a minha família, o meu matrimônio, a minha casa, os meus bens particulares. Porque questionar o outro, criticar o outro é fácil, mas e eu?
Peçamos a Deus que, ao celebrarmos esta eucaristia, o Senhor renove, em nosso coração, as nossas responsabilidades, os nossos compromissos, e nos ajude a sermos fiéis servidores de Deus e do nosso próximo, administrando bem tudo aquilo que Ele nos concedeu. Que saibamos, no serviço, no amor, na simplicidade de Eliacim e de Pedro, administrar bem a nossa vida, a nossa fé, as nossas responsabilidades, o matrimônio, a educação dos nossos filhos. E que qualquer tipo de liderança que Deus nos conceder ao longo da nossa vida seja feita a partir do serviço e do amor a Deus e ao próximo.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 21º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 27/08/2017 (Domingo, missa das 7h30).

Que pela intercessão de Nossa Senhora reencontremos o Deus vivo em nosso coração
20/08/2017
Que, pela intercessão de Nossa Senhora, reencontremos o Deus vivo em nosso coração
Nós estamos celebrando o Mês Vocacional e hoje falamos da vocação religiosa, homens e mulheres que consagraram sua vida a Jesus, consagrando o seu tempo, a sua energia e seu carisma para ajudar a humanidade a ser uma humanidade melhor. Como as freiras, que dedicam sua vida nas escolas a cuidar das crianças e a cuidar de idosos; como os homens que se tornam freis e padres, dedicando sua a vida à educação, às missões, aos trabalhos nas periferias e nos meios de comunicação. Queremos pedir a Deus que suscite em nossa comunidade, sobretudo nos nossos jovens, o desejo de se consagrar inteiramente ao Senhor.
Neste dia, em que a Igreja celebra a Assunção de Nossa Senhora, uma festa muito antiga na nossa tradição cristã e católica, que no Oriente tem o nome de Dormição de Maria, Maria teria dormido e os anjos a levado aos céus, onde ela está, diante de Deus, intercedendo por nós. E aqui, no Ociente, depois do ano de 1950, no dia 1º de novembro, o Papa Pio XII proclamou o Dogma da Assunção de Nossa Senhora. O que é um Dogma? Uma verdade de fé, em que nós acreditamos que Maria está junto de Deus, intercedendo por cada um de nós. Devemos recordar que não é Maria que salva, quem salva é Jesus, o nosso Salvador! Mas Jesus nasceu de Maria. Diz a Palavra de Deus, na segunda leitura [1Cor 15,20-27 a] que se por um homem o pecado veio ao mundo, foi por um homem que nós fomos perdoados deste pecado. Quem é este homem? É Jesus! E em Jesus nós encontramos muito do que sua mãe, Maria Santíssima, lhe ensinou.
Em Maria nós encontramos um modelo de discipulado, porque, muito jovem, ela estava em oração e buscava ouvir a voz de Deus e colocá-la em prática. Tanto que, entre 13 e 14 anos, Deus a convidou para ser a Mãe do Salvador, e ela ficou com medo, naturalmente, mas respondeu SIM. E o seu SIM foi perseverante. Perseverante quando ela foi incompreendida por José, quando ela foi incompreendida por seus pais, quando ela foi incompreendida por outras pessoas. Mas ela se manteve firme. Seu filho foi perseguido, foi condenado à morte, foi crucificado, morreu. E ela se manteve firme. Enquanto a Igreja nascente estava sendo perseguida por causa dos valores do Evangelho, Maria era uma força vital para que os discípulos permanecessem unidos. Portanto, Maria, para nós, é um grande modelo de santidade, um grande modelo de discípula. E, seguindo esse modelo, sejamos discipulados na pregação da Palavra de Deus, discipulados na vivência dos valores do Evangelho, nas situações difíceis da nossa vida, nas enfermidades, quando passamos necessidade, quando perdemos um ente querido na nossa vida - como Maria perdeu seu esposo José, perdeu seu filho Jesus... Mas esteve ali, firme! Firme no projeto de Deus, este projeto que diz que nós, como Maria, estamos em uma constante batalha com aqueles que não creem, que não fazem a experiência do amor, da verdade, da ressurreição, como nós o fazemos.
A primeira leitura [Ap 11, 19a; 12, 1. 3-6a. 10ab] fala de uma mulher tendo a lua debaixo dos seus pés e uma coroa revestida de 12 estrelas. A Igreja reconhece essa mulher de dois modos: a figura de Maria Santíssima presente, fortalecendo e intercedendo pela sua Igreja; e a própria Igreja, esposa de Cristo, que luta contra os dragões que vêm querendo nos afastar da verdade do Santo Evangelho. E nós, meu irmão e minha irmã, como ontem e como hoje, devemos lutar nessa batalha espiritual daqueles que não creem na ressurreição, daqueles que não creem no bem, daqueles que não creem no perdão, daqueles que não creem no amor. Maria, no seu tempo, foi perseverante; e nós, hoje, devemos ser perseverantes em viver o projeto de Deus, porque nessa batalha contra a sociedade, o perdão está sendo colocado de lado. A vida virou mercadoria, em que médicos, em vez de falarem claramente sobre o aborto para uma mãe, dizem sobre a "interrupção voluntária da gravidez", porque senão vai chocar a mamãe. Mas é para chocar mesmo! Porque o aborto é assassinato de uma vida! Uma sociedade que não está mais defendo os valores familiares, os valores matrimoniais, em que o matrimônio se tornou, para muitos, simplesmente um contrato. Em que a Igreja, para muitos, virou um mercado e não um lugar para fortalecer, enriquecer e amadurecer a nossa fé. E tantos outros valores que nós, ao sairmos da igreja, devemos ir para casa, para o trabalho e colocar em prática estes valores do Santo Evangelho.
Como Maria, somos convidados a ir ao encontro de pessoas necessitadas. No Evangelho de hoje [Lc 1, 39-56], Maria, ao receber a mensagem do anjo, se coloca à disposição de sua prima Isabel; ela caminha mais de 100 km para visitar esta prima de idade avançada que ficou grávida, e se coloca a serviço dela. Muitas vezes, nós temos dificuldade de nos colocar a serviço um dos outros. Vemos pessoas passando necessidades, mas não estendemos a mão; vemos um doente abandonado, mas não vamos visitar; uma família sendo desmoronada, mas não nos colocamos à disposição para ser um ponto de luz, um ponto de salvação, uma orientação para encontrar o caminho de Deus; jovens trilhando caminhos tortuosos e, muitas vezes, sequer rezamos por estas pessoas. Maria é aquela que, diante de Isabel, recorda a obra da salvação - que, desde o dia da criação do universo, passando por Abraão, passando por grandes profetas, Deus esteve e está presente em nossas vidas. E também nós, eu e você, quando nos encontramos com alguém, no cotidiano da nossa vida, somos convidados a recordar - como recordaremos ao final desta missa, em um testemunho que será lido - que Deus realiza a Sua obra em nossas vidas. No passado, Ele realizou; hoje, Ele continua realizando!
Que ao celebramos esta eucaristia, a intercessão de Nossa Senhora, assunta ao céu, nos ajude a reencontrar essa experiência do Deus vivo e verdadeiro em nosso coração. Que saibamos reconhecer que Jesus é o nosso verdadeiro salvador, mas a seta, a maior indicação para o caminho de Jesus é a Sua própria mãe, Maria Santíssima. Que, nos colocando a serviço um dos outros, nos colocando à disposição nessa grande batalha espiritual que o mundo necessita, saibamos reconhecer a ação de Deus na humanidade e na nossa própria história.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Assunção de Nossa Senhora (Ano A) – 20/08/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Como Jesus, ir ao encontro de nossa família diante das tribulações
13/08/2017
Queridos irmãos e irmãs, neste domingo em que celebramos as vocações familiares, vamos recordar, juntos, nossa tradição cristã e católica: não tem bênção mais poderosa do que a bênção do pai e da mãe! E, neste domingo, também celebramos o Dia dos Pais. Portanto, obrigado, papai, pela sua vocação! Pelo seu dom, pela sua missão; obrigado por cuidar do seu filho com muito amor, com muito carinho, com muita dedicação. Muitas vezes, nós, filhos, não entendemos o amor do pai e tendemos a valorizar mais o amor da nossa mãe. Mas são amores iguais, manifestados de maneiras diferentes. E que bom que assim o é! Porque Deus nos fez homem e mulher, e agimos de modo diferente. Assim como, na primeira leitura [1Rs 19, 9a. 11-13ª], Elias teve sua dificuldade em entender a presença de Deus, nós, filhos, temos nossas dificuldades em entender o amor do nosso pai, entender como é que o amor dele é traduzido em atitudes, palavras e emoções que transpareçam para cada um de nós.
Elias, quando foi para aquela gruta, aquela caverna no monte, ficou esperando Deus se manifestar de modo estrondoso, por meio do fogo, do vento, de um terremoto... Mas Deus não estava presente em nada disso. Onde é que Deus estava presente? Na brisa suave. Deus não se manifestou com fogo, com vento ou com terremoto, como muitos grupos estavam acostumados – e, muitas vezes, nós, filhos, como Elias, esperamos que nossos pais se manifestem de determinado modo, quando, na verdade, eles se apresentam para nós de um modo que não esperamos. E só por isso nós não vamos valorizá-los? Vamos sim! É importante aprendermos a olhar os nossos pais com olhar diferente. Muitos, talvez, pensem: "Mas eu gostaria que meu pai fosse igual a fulano". Sabia que o "fulano" também tem suas dificuldades? "Eu queria que meu pai fosse mais tranquilo", "Como eu queria que meu pai fosse mais atencioso". Reze por ele! Dê você primeiro o exemplo para o seu pai! Fato é: pai perfeito não existe. Perfeito só Deus! É igual criança: tem criança perfeita? Não tem. Igualmente, os pais também não são perfeitos, mas nós os amamos, porque se amarmos somente quem é perfeito, quem é que nós vamos amar? Somente Deus. Mas Deus nos fez para nos relacionarmos uns com os outros.
Deus nos planejou para nascermos dentro de uma família, e esta família tem suas dificuldades, como todos nós temos. Mas é importante amarmos aqueles que nos deram a vida – o papai e a mamãe – e aprendermos a ver o melhor deles, sempre com muito amor. Como Jesus, no Evangelho de hoje [Mt 14, 22-33], no qual Ele sobe ao monte para orar, depois da multiplicação dos pães, e pede para seus discípulos irem para a outra margem do lago de Genesaré. Ao irem, os discípulos encontram uma tempestade, uma ventania às 3h da manhã, e ficam com muito medo. Jesus, sentindo este medo de seus discípulos, vem ao encontro deles. Mas Pedro e os outros se assustam ainda mais – e quem não se assustaria? Ver alguém andando sobre as águas, às 3h da manhã... Quem não ia ficar com medo?
Então, Pedro diz: "Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água". E Jesus responde: "Vem!". Pedro começa a andar, mas, de repente, sente que está afundando. E começa a gritar para o Senhor! E quem é que ajuda Pedro? Jesus! Jesus estende a mão e ajuda Pedro a não afundar. Nós, queridos irmãos e irmãs, somos estes discípulos dentro da barca, que, como a Igreja nos recorda, passam por tribulações. Às vezes, a família passa por tribulações, e a pergunta aqui é: quando o vento está soprando forte, você percebe que Jesus está aí, pronto para lhe ajudar? Porque Jesus está pertinho da gente, pronto para nos ajudar, e a gente às vezes não percebe! Jesus está aí e nos convida a ir ao Seu encontro, mas, às vezes porque não confiamos, nós começamos a afundar.
Aqui temos, também, uma outra pergunta: se Pedro não tivesse estendido sua mão para que Jesus pegasse, Jesus teria ajudado Pedro? Mas como Ele iria ajudar? Fazia-se necessário que Pedro estendesse a sua mão. Você já viu alguém se afogando, pelo menos nos filmes? Quando alguém está se afogando, ele fica parado, prostrado? Não. Ele, ao menos, mexe os braços para tentar se salvar. Pois tem família que está se afogando e o pai e a mãe estão parados, não mexendo sequer os braços. Tem pai e mãe que está vendo o filho ir ladeira abaixo e não está fazendo nada. É necessário, pelo menos, mexer os braços! Dar um grito, pelo menos! Mas tem muita gente que fica quieta, parada, muda, estática. Esse Evangelho é para você! Deixe Jesus tocar a sua mão e lhe resgatar de suas dificuldades. Jesus quer lhe ajudar! Pode parecer que Ele está longe – como para os discípulos, que acreditavam que Jesus estava distante, lá no monte; mas Ele estava ali, perto deles. Pode ser que a gente se assuste, tantas vezes, com a presença de Jesus, mas quando Ele vê que estamos nos afogando, Ele vem ao nosso encontro. Porém, se ficamos parados, é difícil para Deus nos ajudar. É necessário estendermos a nossa mão.
E você, pai, pode ser também a figura de Jesus na vida da sua família, indo ao encontro daqueles que estão com medo, que estão desesperados por causa dos ventos que sopram forte. Tem dia que nossos filhos não dormem à noite, com medo dos pesadelos; tem dia que não dormem por causa de alguma enfermidade... E nós é que vamos ao encontro de nossos filhos, acalmando-os. Às vezes, nossos filhos estão com dificuldade porque fizeram alguma coisa errada e somos nós que devemos acalmar a tempestade do coração de nossas crianças. Independentemente se são pequenos, adolescentes ou já crescidos, todos são filhos e todos querem um abraço, uma palavra de conforto, alguém que estenda a mão para lhes resgatar. E nós devemos ser Jesus na vida dos nossos filhos. Do mesmo modo que você, filho, também deve ser Jesus na vida do seu pai, da sua mãe; porque enquanto papai e mamãe estão colocando comida dentro de casa, enquanto têm dinheiro parar pagar convênio e outras necessidades, enquanto estão levando para a escola... Eles servem. Depois, quando vão envelhecendo e as enfermidades chegam, nós vamos abandonando os nossos pais. Você, na medida em que não estende a mão para o seu pai, para a sua mãe, não está sendo Jesus para eles, não está praticando esse Evangelho da Salvação.
Neste domingo em que a Igreja celebra o início da Semana da Família, peçamos a Deus que resgate o sentido de ser família; peçamos a Deus que resgate o sentido matrimonial de nossa vida; peçamos a Deus que resgate o sentido de sermos pai, de sermos mãe para os nossos filhos. Que o Espirito Santo de Deus nos seja favorável e nos ajude a encontrarmos espaço no nosso coração para que as palavras proferidas nesta missa possam encontrar ressonância nas atitudes concretas de nossa vida.
Homilia: Pe. Tiago Silva - 19º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 13/08/2017 (Dia dos Pais, Missa das 10h).

Transfigurar nosso coração para melhor servirmos ao projeto de evangelização
06/08/2017
Estamos, em agosto, celebrando o Mês Vocacional. E, a cada domingo, refletiremos sobre uma das vocações: a vocação sacerdotal, matrimonial, religiosa e leiga, a partir da qual vivemos o projeto de Deus no cotidiano, em nossa vida. A Liturgia nos preparou a imagem de Nossa Senhora, que irá nos acompanhar durante este mês, como rainha e mãe de todas as vocações, intercedendo por toda a Igreja. Hoje, de modo particular, falamos sobre a vocação sacerdotal, e vale a pena sempre refletir e recordar que os padres não caem do céu. Se nem Jesus caiu do céu e precisou ser gerado no seio da Virgem Maria, o que vamos falar dos padres? Muitas vezes vemos os padres – sobretudo nas paróquias que nunca tiveram ausência de padres – e nos esquecemos de rezar por eles. Temos paróquias, no Brasil, onde o padre tem 60, 70, às vezes até 80 comunidades para cuidar e só consegue ir lá uma vez por ano! Têm padres que conheci, no norte do país, que precisam ficar até três dias e meio dentro de um barco para chegar a sua comunidade. Semana passada, fui visitar Dom Nelson, que está cuidando de uma Diocese no sul do país, e lá há um padre que cuida de 42 comunidades. Eu perguntei como ele dá conta e ele disse: "Não sou eu que dou conta, é o Espírito Santo, pois não tem o que fazer; de minha parte, eu me organizo, saio na segunda, volto na sexta, visitando o que dá".
Precisamos rezar mais pelas vocações, sobretudo esta comunidade, na qual não sabemos dizer, com 77 anos de existência, se saiu alguma vocação sacerdotal daqui, se enviamos alguém para o seminário, se alguém se tornou padre. Se em 77 anos não sabemos, alguma coisa errada tem. Ou não estamos valorizando a figura do padre ou não estamos rezando ou não falamos na catequese sobre a importância da vocação sacerdotal. E quando digo catequese, refiro-me à pré-catequese, a de primeira Eucaristia, de Perseverança e a da Crisma. É necessário tocar no assunto para que possa despertar no jovem essa possibilidade, esse interesse. O que acontece é que, quando falamos disso para o jovem, ele foge. Então, devemos dizer: "Já pensou na possibilidade de ir para o seminário?". E quando ele responder que não, devemos dizer: "Então, pense". Não precisa dizer mais nada. Comente isso.
Aqui, no ABC, somos 2.800.000 habitantes, e temos apenas 110 padres diocesanos. Se não fossem os religiosos virem ajudar, não daríamos conta. Há paróquias com 80 mil pessoas. Se todos fossem católicos, o padre ficaria doido, pois já não daria conta se todos os católicos viessem de uma vez. Então, é necessário rezar pelos padres, porque sem esta figura é difícil termos os sacramentos da eucaristia, da confissão e da unção dos enfermos a todos os fiéis cristãos católicos. Vamos conversar em casa, com as crianças, sobre a possibilidade de se consagrar a Deus, os homens como padres e as mulheres como freiras. No passado, havia aquela história de as pessoas dizerem: "Pelo menos um dos meus filhos tem que ir para o seminário ou para o convento". Hoje, falam: "Deus me livre se ele for". Quando contei para minha mãe que iria para o seminário, ela quase surtou, mas sobreviveu. Todo mundo chorou, mas estão todos bem, graças a Deus.
Estamos celebrando hoje a festa da Transfiguração do Senhor, a qual é celebrada todo dia 06 de agosto, para nos recordar não somente a humanidade de Jesus, mas sobretudo a sua divindade. Porque nós não acreditamos que Jesus é simplesmente um líder, um filósofo, e que sua filosofia muda nossa vida. Jesus não deve ser comparado a Buda, ao Dalai Lama, ao Neymar, ao Roberto Carlos ou a sei lá quem. Jesus é Deus, 100% homem e 100% Deus. É um dogma cristão para nós que temos fé. Não podemos esquecer que seguimos uma pessoa encarnada na história e que deu a vida pela nossa salvação. E a liturgia de hoje – que cai no domingo apenas uma vez a cada sete anos e temos que aproveitar essa ocasião – nos convida a recordar esse Deus, que também é misericordioso. E, assim como Deus é misericordioso ao assumir a forma humana, também nós devemos ser em nossas vidas. Na Primeira Leitura [Dn 7, 9-10. 13-14], em um período de cultura ou de experiência apocalíptica – onde se falava muito sobre o fim dos tempos, sobre o fim do mundo –, Daniel, em um momento de oração, tem uma visão fantástica de um Deus que vai salvar os seus filhos. Não de um Deus que vai condenar, que vai nos excluir da Sua salvação, mas sim de um Deus que deseja salvar todos os Seus filhos e, de um modo carinhoso, vai acolher aqueles que obedecem Seus ensinamentos e que seguem a Sua voz. Portanto, hoje é dia de recordarmos um Deus de amor, misericórdia e compaixão. Os pais não devem ficar dizendo aos filhos que Deus castiga e o padre vai brigar. Aí a criança não chega perto do padre por causa de medo. Ao contrário, devem apresentar esse Deus de amor às nossas crianças. Pare de falar tanto do castigo de Deus e fale deste amor. Convença pelo amor, pela acolhida, pela história da salvação, com os quais Deus vai, constantemente, nos perdoando e nos reorientando para o caminho da salvação.
No Evangelho [Mt 17, 1-9], nós temos a figura de Jesus que, frequentemente, rezava e, hoje, sobe ao Monte Tabor. Diferente de outras vezes, agora, Jesus sobe com Pedro, Tiago e João. E, em um momento de oração profunda, Jesus é transfigurado: suas vestes ficam brancas como a luz, lembrando a santidade de Jesus. Após isto, vem uma nuvem e, com ela, a voz do próprio Deus dizendo: "Este é meu filho amado, escutai-o". Até aí, tudo parece muito bonito, tudo muito maravilhoso. Mas não podemos esquecer quem estava com Jesus lá em cima (Pedro, Tiago e João) e por que eles foram chamados. Provavelmente, porque estes precisavam fazer a experiência não do Cristo humano, mas do Cristo Deus. Fazer a experiência da transfiguração, de transformar o seu coração e a sua mentalidade. Pedro porque, quando Jesus disse que precisava dar a Sua vida pela nossa salvação, chama Jesus de canto e diz para Ele parar com essa ideia, pois isso não ia levar a nada. E Jesus diz a ele: "Afasta-te de mim, Satanás; tu és uma pedra de tropeço para mim". Então, Pedro pede que Ele lave não só seus pés, mas seu corpo inteiro. Mas, não contente, Pedro, lá na frente, nega Jesus três vezes quando Ele está no calvário. Tiago e João, cuja sua mãezinha era muito santa, pediu que colocasse seus filhos um à direita e outro à esquerda de Deus. E Jesus responde que não cabe a Ele dizer quem ficará ao seu lado, mas ao Seu Pai, que está no céu. O que a santa mãezinha de Tiago e João queria? Holofotes para os seus filhos. Queria glórias para eles. E o fato de seguir Jesus, meus irmãos e irmãs, não é para termos holofotes, não é para termos as luzes sobre nós, mas sim para o serviço aos mais necessitados, para o serviço de evangelização e para vivermos o projeto de Deus.
Alguns olham para o padre e pensam como é legal: aonde ele chega, todos olham, cumprimentam, abraçam; todo mundo fica olhando quando ele celebra a missa; é lindo o rito do bispo na ordenação; é lindo quando ele conduz as procissões. São coisas bonitas, de fato. Porém, se esquecem de que o padre levanta cedo, tem que visitar doentes em casa ou no hospital, tem que ir ao cemitério, fazer reuniões, lidar com as famílias e casais com problemas, conduzir as pastorais e finanças da igreja e tudo mais que vai tirando os cabelos do padre. Lembramos das coisas bonitas, mas esquecemos das outras coisas que compõem a nossa vocação como um todo. E talvez Pedro, Tiago e João estivessem lá não por serem especiais, mas porque precisavam mais desse momento de oração e de reconhecer Jesus como o próprio Deus.
Nas figuras de Pedro, Tiago e João, talvez encontramos cada um de nós hoje, que vemos em Jesus não o próprio Deus, mas um líder. Que vemos em Jesus talvez uma alma evoluída, como pregam algumas religiões. Não! Jesus é o próprio Deus! E vir à igreja é ter essa experiência da transfiguração de Cristo: restabelecer e revigorar a nossa fé para compreender o que Deus nos diz, assim como o Pai falou: "Esse é o meu filho amado, escutai-o". Será que estamos escutando Jesus? Será que ouvimos o que Jesus tem a nos dizer? Será que adoramos a Jesus como nosso próprio Deus? Jesus pode estar falando pelos pais, professora, catequista ou outras pessoas. Os pais estão ouvindo Jesus nos filhos? No esposo ou na esposa? Nos amigos que Deus vai colocando ao longo da nossa vida? Ou será que ainda precisamos converter tanto o nosso coração pois buscamos apenas os holofotes e as glórias? Tem gente que pensa que a vida matrimonial é apenas glórias, e só quem casou sabe os desafios de se viver uma vida em comum. No dia do casamento é tudo maravilhoso, mas depois as dificuldades vão aparecendo. Outros acreditam que estar na igreja, liderando uma pastoral, também é só glórias e louvor. Aí, quando assume a coordenação, se dá conta de que deve prestar contas para o padre e para a pastoral, fazer a programação e lidar com os conflitos do grupo. Vamos esquecendo essas coisas e não podemos nunca nos esquecer.
Como também não podemos nos esquecer de subir ao monte mas lá não permanecermos, pois senão caímos na tentação de Pedro, que estava lá rezando com Jesus e quis construir três tendas: uma para Jesus, uma para Moisés – lembrando as leis – e outra para Elias – lembrando os profetas. Pedro ficou tão extasiado com seu momento de oração que não se importou de ficar no vento e na chuva. Tem gente que é assim: quando conhece Jesus, se esquece das coisas, quer ficar só na igreja e se esquece da vida. Tem gente que quer ficar só no monte. Às vezes, eu tenho que perguntar se a pessoa foi para casa, se o marido ou a esposa está bem, pois a pessoa quer ficar somente dentro da igreja e esquece a vida lá fora. Quando faz encontro de jovens ou de casais, faz uma experiência de louvor com o Espírito Santo e quer ficar na igreja o tempo todo. Então, temos que lembrar que isso é bom, mas a missão está lá embaixo, descendo a planície. Se fosse bom, Jesus teria dito para ficarem lá. Mas não, Ele pegou os três e desceu a planície, pois é nela que vivemos a nossa vocação e missão: dentro de casa, no matrimônio, no trabalho, no lazer, quando saímos para passear com nossos amigos. E quantas pessoas precisam ser evangelizadas quando descemos a planície! Pois a evangelização não se dá no alto do monte Tabor, se dá na planície, diante do monte. Portanto, eu venho à igreja, faço a experiência de Jesus, mas eu não fico ali o tempo todo. Eu preciso voltar para casa, para o trabalho, preciso sair com os amigos, confraternizar, descontrair e, ali, na planície, viver este projeto de Deus.
Que o Espírito Santo do Senhor, ao celebrarmos a Festa da Transfiguração, nos seja favorável para que a imagem de um Deus carrasco e opressor seja purificada do nosso coração, pois Deus ama a todos e deseja salvar a todos, igualmente. Que ao celebrar essa eucaristia possamos meditar se, na figura de Pedro, Tiago e João, nós não nos encontramos, neste momento em que Jesus nos convida a subir ao monte Tabor, não porque somos especiais, mas porque precisamos transfigurar o nosso coração, a nossa mentalidade, os nossos planos, os nossos anseios e desejos. Por mais que ir à igreja seja maravilhoso não nos esqueçamos de descer à planície, voltar para casa, para o trabalho, para nossos amigos e amigas, e cumprir nossa missão de sermos luz para aqueles que estão nas trevas.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Transfiguração do Senhor (Ano A) – 06/08/2017 (Domingo, Missa das 10h).

A verdadeira pérola preciosa
30/07/2017
Nós estamos celebrando o 17º domingo do tempo comum, em que a Igreja nos convida a refletir sobre os nossos pedidos e sobre a responsabilidade daquilo que temos diante da nossa vida e das atribuições que a própria vida estabelece para cada um de nós, e também a descobrir quais os valores que nós temos, onde estão estes valores e como nós nos comportamos, valorizando ou não os tesouros que Deus nos concede.
Na primeira leitura [1Rs 3, 5. 7-12], nós temos um grande rei, chamado Salomão, que tem uma história peculiar. Ele era filho de Davi, aquele que, chamado desde muito jovem para ser guerreiro, tornou-se rei e conseguiu unir as 12 tribos de Israel. E, diferentemente dos reis anteriores a ele, que morreram assassinados ou que não deixaram uma descendência, Davi morreu naturalmente e deixou um filho – Salomão –, algo que, até então, para o povo de Israel, não havia acontecido desde que Abraão saiu de Ur, dos Caldeus. Portando, os autores do livro dos Reis querem legitimar esta herança de Salomão e mostrar a espiritualidade daquele que é o sucessor do grande Davi.
O problema era que Salomão era adolescente e, como todo adolescente, deve ter ficado com muito medo. Então, se questionava: "Como assim eu vou assumir todo este reino? Como eu vou colocar em prática tudo o que os grandes reis do passado fizeram?". Foi diante da sua dúvida, do seu medo, da sua inquietude, que Salomão colocou o joelho no chão e rezou pedindo a Deus a graça de saber como governar aquele povo. Na oração, Deus vem ao seu encontro e pergunta o que é que ele deseja. E, então, os autores deste livro mostram a maturidade de Salomão, mesmo sendo adolescente, quando ele vai dizer: "Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal".
O que é que os adolescentes de hoje pediriam? Um X-box? Muito dinheiro na conta? Já Salomão, pediu o que? A graça de governar bem o seu povo. Salomão pede a graça do discernimento, ou seja, sabedoria para compreender o que é mau e o que é bom e, assim, poder governar bem o seu povo. Deste modo, diante da resposta de Salomão, Deus lhe diz: "Já que pediste estes dons, e não pediste para ti longos anos de vida nem riquezas nem morte para teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o seu pedido: dou-te um coração sábio, dou-te um coração inteligente como nunca houve outro igual a ti nem haverá depois de ti". Deste modo, Salomão se coloca à disposição de Deus.
E o que esta leitura nos ensina? Em primeiro lugar: quando estamos em dúvida, inquietos, sem saber o que fazer, com medo de assumir uma responsabilidade, nós rezamos. A primeira coisa é rezar! Não é sair às pressas fazendo besteira por aí, mas, em primeiro lugar, aquietar o seu coração e rezar. A oração é aquela que vai nos ajudar a clarear as nossas possibilidades de escolha.
Em segundo lugar, devemos tomar cuidado com aquilo que pedimos para Deus, porque, muitas vezes, pedimos algo que vai satisfazer as nossas necessidades e não as necessidades do Reino de Deus. E o próprio Jesus vai nos dizer, mais tarde, para colocarmos o Reino de Deus em primeiro lugar na nossa vida, assim como os 10 mandamentos vão nos ensinar a amar a Deus sobre todas as coisas. Portanto, nas situações onde estamos em dúvida, com medo, peçamos a graça do Espírito Santo, peçamos a presença de Deus na nossa vida, pois todos nós precisamos governar a nossa própria vida. Se eu vou para a esquerda ou para a direita, se faço Medicina ou Direito, se vou ser cantor ou corredor, tenho que pedir para Deus o discernimento. Os pais têm que governar os seus filhos, e a arte de educar requer de nós também a arte de governar, porque um bom líder será seguido por aqueles que ele têm sobre sua autoridade; mas se ele não for um bom líder, ninguém vai segui-lo, e muitos pais e mães acabam conduzindo seus filhos pelo autoritarismo e não pela autoridade de pai e de mãe.
Assumir alguma função ou cargo de liderança na empresa em que trabalhamos também requer de nós a arte de governar. Em um passado não muito distante, nas casas um pouco mais ricas, tinha-se a figura da governanta. Nas novelas, quando eu era pequeno e assistia, tinha sempre essa figura da governanta. E o que a governanta fazia? Ela cuidava da casa, deixava tudo organizado, direcionava os funcionários da casa. Nós temos também que saber governar e organizar a nossa casa, temos que saber organizar a nossa vida, as nossas atividades. Porque tem gente que diz que não tem tempo para a família, para os filhos ou para igreja, e isso acontece porque não está sabendo governar a própria vida, está colocando outras coisas à frente de Deus.
Salomão pediu a graça de saber discernir entre o bem e o mal. A Palavra de Deus nos diz: "Eis que ponho, à tua frente, a bênção e a morte, a vida e a maldição. Escolhas a vida e viverás". A nossa vida é feita de escolhas, e se eu não me deixo conduzir por essa graça de Deus, acabo enveredando por caminhos tortuosos que podem ficar me flagelando ao longo da minha vida porque eu não soube fazer as escolhas certas. Para que possamos descobrir como fazer essas escolhas, é necessário descobrirmos esse tesouro escondido no amor de Deus, de que Jesus nos fala no Evangelho de hoje [Mt 13, 44-52] em duas parábolas: em uma, um homem saiu procurando um tesouro escondido nos campos e, ao encontrá-lo, enterrou novamente, voltou para sua casa, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele terreno, porque aquele terreno era precioso; na outra, outro homem encontrou uma pérola preciosa, foi para casa, vendeu tudo e comprou aquela pérola porque ela era muito importante. Diante disso, devemos nos questionar: o que é importante na nossa vida? Você sabe dizer, se alguém te perguntar hoje, o que é mais importante para você? Sua chapinha, seu tênis, seu celular, sua conta no Facebook... O que é mais importante para você?
Jesus vai dizer que o Reino do Céu é comparado a este tesouro escondido, e este deve ser, para nós, a coisa mais importante de nossas vidas. Deus deve ser sempre prioridade em nossa história. "Amar a Deus sobre todas as coisas". E sabe qual é o contexto em que Jesus fala neste evangelho de hoje? Diferente dos últimos dois domingos, em que Jesus contou aquelas parábolas longas e estava falando para uma grande multidão, quando esta multidão foi embora, Jesus reuniu os 12 discípulos e foi para casa. E, diante da mesa, Jesus começa então a conversar com as pessoas mais próximas a Ele. Desse modo, este Evangelho é para você que se considera próximo a Deus, que se considera Católico Apostólico Romano, que se considera defensor dos valores evangélicos.
Qual é o seu tesouro? Onde está a sua pérola preciosa? Será que você já descobriu essa pérola na sua vida? Porque muitos não descobrem ou, quando descobren, já é tarde demais. Por exemplo, um pai e uma mãe que não foram valorizados, um esposo ou uma esposa que não foram valorizados, os filhos que nós não vimos crescer. Ontem, celebrei o casamento do meu irmão, que está com 26 anos de idade, e falei: "Meu Deus, estou ficando velho". Como já passou o tempo... Temos 10 anos de diferença de idade, eu o vi nascer, troquei a fralda dele e, ontem, um homem estava diante de mim pedindo para se casar. Pela minha mente, passou justamente isso: quanta coisa eu não perdi da vida do meu irmão! Quantas coisas nós podíamos ter desfrutado juntos ainda quando éramos adolescentes, mas não foi possível. Mas, daqui para frente, podemos mudar isso, e essa foi a nossa conversa ontem, ao final do casamento. Falamos de nos aproximar mais, aproveitar o nosso tempo de vida. Isso é descobrir a pérola preciosa! Não precisamos esperar perder a pessoa amada, aqueles que nos são importantes, para só depois valorizarmos. Vamos valorizar agora, no hoje da nossa vida e da nossa história!
Quando descobrirmos o tesouro escondido, quando descobrirmos a pérola preciosa, nós descobriremos o que realmente importa na nossa vida. Quando colocamos Deus em primeiro lugar, toda a nossa vida é devotada a Deus, toda a nossa vida é direcionada para o Senhor. E, deste modo, cumprimos o que São Paulo nos fala na segunda leitura [Rm 8, 28-30]: "Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus". Se você ama o Senhor, se nós amamos a Deus, toda a nossa vida é direcionada a Ele, todas as nossas escolhas são direcionadas para Deus. O nosso matrimônio é direcionado para Deus, os nossos filhos são direcionados para Deus, os valores econômicos que temos são direcionados para Deus, acordar todos os dias para trabalhar é direcionado para Deus.
Rendamos graças a Deus por tudo o que temos e somos. Que o Espírito Santo nos seja favorável para que, revalorizando nossas escolhas, orações e a palavra que Deus toca em nossos corações, como tocou no coração de Salomão, possamos descobrir a verdade e trilhar o caminho da salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 17º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 30/07/2017 (Domingo, Missa das 18h30).

A nossa missão é ter um coração como o coração de Deus
23/07/2017
Nós estamos celebrando o 16º Domingo do Tempo Comum, onde a Igreja nos convida a procurarmos nos esforçar para ter um olhar como o olhar de Deus; sabermos julgar as pessoas a partir não de critérios humanos, mas do próprio coração de Deus. Do mesmo modo que o Evangelho nos convidará a refletir sobre que tipo de semente nós somos, o joio ou o trigo, e como lidamos com este joio e com este trigo na nossa vida.
Na primeira leitura [Sb 12, 13. 16-19], nós estamos no ano 50 a.C. O povo judeu, embora muito devoto, um povo que frequentava a sinagoga (a sua igreja) e fazia suas orações, tinha uma grande dificuldade de acolher quem se convertia e procurava se inserir na comunidade de fé – de modo especial, os cananeus, os quais muitos não eram aceitos ao se converterem. Uma pessoa que havia viajado o mundo e crescido, principalmente, na cultura helênica, ou seja, filosófica (portanto, com questionamentos maiores), ao retornar para casa, vê o povo judeu fechando-se para as pessoas que buscavam viver o projeto de Deus – sobretudo, os fariseus. Aqueles que conheciam a lei com todos os seus 613 mandamentos, que praticavam as orações continuamente e tinham as respostas na ponta da língua, eram os que mais excluíam quem estava chegando. Então, o autor escreve este livro da Sabedoria, especialmente o capítulo 12, para nos orientar a ter um coração como o coração de Deus e aprendermos a ajudar o outro, não na lei pela lei – o legalismo –, mas a partir da compaixão, do amor que parte do coração de Deus.
Por isso, ele escreve: "Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto" (Sb 12, 13). Primeiro, nós temos um único Deus, e é Jesus que nos salva. Segundo, a justiça de Deus é perfeita, e ela é perfeita porque Deus não julga segundo os critérios humanos. Nós, muitas vezes, descartamos as pessoas porque elas não foram capazes de cumprir algumas leis ou alguns preceitos. Falar de amor, de perdão e, sobretudo, de compaixão é sentir as dores do outro. Independentemente do que os cananeus fizeram no passado, agora eles buscavam uma vida nova; independentemente se alguém é ladrão, assassino, usuário de drogas... Agora ele pode buscar uma vida nova. Na família, no matrimônio, quando alguém se desviou do caminho, embora ele tenha errado, se estiver disposto a recomeçar, ele agora poderá buscar uma vida nova. Portanto, eu devo procurar olhar para estas pessoas com o olhar compassivo de Deus. Porque Jesus vai dizer, mais tarde, no Evangelho: "Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra" [ref. Jo 8, 7].
Deste modo, é necessário buscar, neste caminho de fé, ter o coração o mais próximo possível do coração de Deus. Este Deus que, ao nascer da nossa vida e, sobretudo, no dia do Batismo, semeia no nosso coração sentimentos bons. Mas, ao longo da vida, outras pessoas e situações vão semeando o joio. E o Evangelho de hoje [Mt 13, 24-43] nos fala, na primeira parábola – a do trigo e do joio –, que o semeador saiu a semear mas eis que chegou o outro semeador e semeou sementes ruins. Quando começou a crescer, os trabalhadores disseram: "Senhor, semeastes coisas ruins em nosso meio?". "Não, não fui eu". E quem foi? O inimigo. E aí, então, o dono da colheita fez algo diferente do que muitos de nós faríamos. Alguns diriam: "Vamos colocar fogo em tudo!", porque já não se sabe mais o que é bom e o que é ruim mesmo, então melhor começar tudo de novo. Mas o que o dono fez? "Deixai crescer. Ao crescer, nós vamos visualizar o que é trigo e o que é joio. O joio a gente separa, amarra para não escapar e, depois, coloca fogo. E o trigo a gente salva".
Muitas vezes, nós não temos essa paciência de esperar que o trigo e o joio cresçam. Nós queremos colocar fogo em tudo, não é verdade? Portanto, é necessário ter paciência. Em uma escola, um professor que tem 30 alunos, se tem cinco que são ruins, vai deixar os outros 25 abandonados? Ou mesmo o contrário: se tem 25 ruins, ele vai deixar os cinco bons abandonados? Ou vai abandonar a sala de aula ou a sua missão de ensinar? Não vai – ou não deveria, pelo menos. Uma mãe e um pai que têm seus dez filhos, se um filho tem algum tipo de dificuldade, vão abandonar os outros nove? Não, eles vão cuidar de todos igualmente – e toda mãe e pai que têm mais de um filho dizem a mesma coisa: eu os crio de forma igual, não sei por que eles são tão diferentes! Porque nós somos diferentes. E, ao crescermos, vamos separando o joio do trigo.
Muitos não têm paciência de esperar ou de separar o certo do errado, o ruim do bom. Quantas pessoas, por exemplo, não querem jogar uma bomba lá em Brasília? Mas não tem trigo lá? Só tem joio? Tem muito trigo bom trabalhando lá! Tem muito trigo bom trabalhando na política. Não é para jogar uma bomba e explodir todo mundo, não é para colocar fogo em tudo; é para separar o joio do trigo. Na nossa vida, devemos separar o joio do trigo. E eu pergunto a você agora: você é um joio ou um trigo? No fim dos tempos – como diz o final do Evangelho –, o Senhor enviará os seus anjos para recolher... E aí? Você será recolhido e jogado no fogo ou será salvo? Deus queira que a gente se salve! Ainda que sejamos um joio, que o Senhor converta o nosso coração.
A segunda parábola que Jesus conta é a da semente de mostarda: embora sendo uma pequena semente, torna-se uma árvore esplendorosa, onde os passarinhos vêm pousar e fazer seus ninhos. Às vezes, pequenas ideias que nós não valorizamos se tornam grandes ideias; às vezes, nós não valorizamos pequenos projetos que podem transformar a nossa realidade, podem transformar o mundo; às vezes, uma pequena iniciativa dentro de casa pode transformar o nosso relacionamento, mas nós não a valorizamos. E não damos tempo para que aquela pequena semente se torne uma grande árvore e venha a produzir os seus frutos.
A terceira parábola do Evangelho de hoje é a do fermento na massa, na qual, ao colocar uma medida de fermento para três medidas de farinha, nós podemos fazer um belo pão – pelo menos esse era o modelo no tempo de Jesus. E o que acontece com o fermento? Se colocamos muito, a massa cresce e transborda, ou seja, estraga tudo. Tem gente que coloca fermento demais nas coisas e acaba estragando tudo... E o que é que aparece quando você mistura a massa: a farinha ou o fermento? A farinha. Tem cristão que quer aparecer demais e acaba estragando a receita da Evangelização, da transformação do coração do ser humano. O fermento, por mais química que tenha, precisa de algum tempo; pouco ou muito, ele precisa de tempo para fazer a massa crescer. Tem gente que não espera ou não tem paciência para esperar o tempo certo das coisas. E neste tempo de fast-food, estamos perdendo a habilidade de esperar. Ainda ontem, estava conversando com uma pessoa da comunidade que, há mais ou menos dois anos, me pedia para iniciarmos um projeto. E eu dizia: "Filho, calma. Espere. No tempo certo, vai acontecer". E ontem aconteceu! Ao começarmos nossa conversa, eu disse: "Chegou o tempo!", e a primeira frase que ele me disse foi: "Padre, como é difícil esperar...". E quantos de nós não somos assim também? Como é difícil esperar o tempo certo!
O fermento tem sua missão, mas ele precisa do seu tempo. Às vezes, acontece alguma coisa na nossa casa e nós não damos o devido tempo para consertar aquela situação. Às vezes, o filho começa a dar problema – e pai e mãe, quando descobrem que o filho está dando problema, é porque ele já estava com problema há um bom tempo... E querem consertar do dia para a noite! Não vão conseguir. Precisam de tempo. Precisam da quantidade certa de fermento, ou seja, de palavras, de correção, de carinho, de orientação. Às vezes, é importante deixar o filho um pouquinho de "castigo" – os pais modernos agora chamam de "cantinho do pensamento" –, porque assim ele vai refletindo sobre a vida, assim "o fermento vai agindo". Portanto, é necessário esperar o tempo certo para que as coisas aconteçam. Quando alguém chega à comunidade, é preciso dar tempo para que ela entenda o nosso processo de evangelização. Quando alguém quer iniciar algum projeto, é preciso dar tempo para que isso aconteça, seja no campo profissional, na nossa família ou aqui na paróquia.
"Padre, e como é que eu faço para descobrir o que é joio e o que é trigo? Como é que eu faço para saber se aquela pequena semente vai se transformar em uma árvore esplendorosa? Como é que eu faço para saber a quantidade certa de fermento?". São Paulo nos explica na segunda leitura de hoje [Rm 8, 26-27]: peça a ajuda do Espírito Santo de Deus! "Irmãos, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor" (Rm 8, 26). Todos os dias, pedir o Espírito Santo de Deus: "Vem, Espírito Santo, transforma o meu coração", "Vem, Espírito Santo, conduz a minha vida", "Vem, Espírito Santo, me dá o discernimento necessário para conduzir a educação dos meus filhos, o meu matrimônio, o meu trabalho, os meus projetos", "Vem, Espírito Santo, acalmar o meu coração", "Vem, Espírito Santo, me dá força para enfrentar os obstáculos do dia a dia", "Vem, Espírito Santo"! Pedir o Espírito Santo de Deus para termos, como Jesus, um coração compassivo – como nos diz o salmista, no Salmo 85: "Ó, Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!".
A nossa missão é ter um coração como o coração de Deus. Independentemente de como esteja o seu coração hoje, Deus deseja transformá-lo! Independentemente de como estejam os seus anseios, os seus medos, Deus deseja transformá-los! Independentemente da dificuldade que você tenha na sua casa, no seu trabalho, Deus deseja transformá-las! Mas é necessário deixar que o próprio Espírito Santo de Deus nos conduza, para que, como o salmista, como o autor da primeira leitura e como São Paulo Apóstolo, possamos, no caminhar da nossa história, ter um coração compassivo como o coração de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 16º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 23/07/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Sejamos a semente que dá frutos em abundância
16/07/2017
Nós estamos celebrando o 15º Domingo do Tempo Comum e a Igreja nos convida a confiar na providência de Deus, no tempo e no modo Dele. Para isso, é necessário que o nosso coração se transforme em um terreno fértil, como cantamos no Salmo [Sl 64] da liturgia de hoje: “A semente caiu em terra boa e deu fruto”. Fruto este que, na linguagem de São Paulo, será concretizado por meio da ação do Espírito Santo, que habita em nosso coração.
Na Primeira Leitura, do livro do Profeta Isaías [Is 55,10-11], nós estamos entre os anos 550 e 540 a.C. O povo está no Exílio da Babilônia e, assim como todo ser humano, chega um momento em que ele começa a cansar porque os profetas estão falando que Deus está vindo para nos salvar. Os sacerdotes dizem o tempo todo que Deus está preparando o momento certo da libertação. Mas onde está este Deus? E começam a questionar os sacerdotes e os profetas.
“Esse Deus existe mesmo? Esse Deus não é um pouco lento? Quem está sofrendo somos nós”. E é por isso que alguns capítulos do livro do profeta Isaías são chamados de Livro da Consolação. Porque neles o profeta está consolando o povo para que tenham paciência pois Deus tarda, mas não falha. Deus não é homem para romper com a sua promessa. Se ele prometeu, ele vai cumprir! O que de fato acontece, anos depois, é a libertação do povo do Exílio da Babilônia e sua volta para Jerusalém para reconstruir o templo. E, deste modo, reconstruir também a sua fé - como já refletimos em outros momentos da liturgia dominical.
E o profeta, muito sabiamente, utiliza-se de uma analogia para dizer que Deus não há de falhar. Diz que, assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais – mas vêm irrigar e fecundar a terra e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação –, assim a Palavra, ao sair da boca de Deus, não voltará para Ele vazia; antes, realizará tudo o que for da Sua vontade e produzirá os efeitos que Deus pretendeu ao enviá-la. A linguagem figurada da água e da neve explica-se porque a água, em qualquer terreno onde ela esteja, ela penetra, do mesmo modo que a neve faz quando começa a derreter: se transforma em água e também vai fecundando a terra. Assim, a Palavra de Deus vai fecundar as palavras do ser humano e este produzirá os seus frutos. E, neste caso específico do povo de Israel, é a libertação do Exílio da Babilônia.
O que esta leitura nos faz questionar? Se nós confiamos em Deus. E será que nós confiamos em Deus? Em caso afirmativo, será que nós esperamos o tempo de Deus ou queremos que as coisas aconteçam no nosso tempo? E aqui, todos nós devemos nos questionar porque, nessa sociedade onde as coisas são muito rápidas, estamos perdendo a habilidade de esperar, de aguardar. E Deus, assim como uma mãe ou como um pai, sabe o que é bom para os seus filhos. Ele nos dá o que nós precisamos na hora certa e do modo correto.
Por que não dizer para aquele povo que ele deveria ficar um pouco de castigo? De vez em quando faz bem, para meditar sobre a própria vida, as próprias escolhas. Por que não dizer para aquele povo que precisava de mais tempo para entender a causa de estarem no exílio? Por que não dizer que você precisa de mais tempo para superar a dificuldade que está vivendo no hoje da sua história? Temos que aprender a esperar o tempo de Deus. Fato é que Deus não volta atrás na sua promessa e ele prometeu salvar todos os seus filhos. Para isso, é necessário deixar que a Sua Palavra, a Sua graça e os Seus ensinamentos penetrem o terreno fecundo do nosso coração.
Deste modo, nós entramos no Evangelho [Mt 13, 1-23] no qual Jesus, ao sair, vai para a beira do mar da Galileia e começa a contar parábolas. E os discípulos lhe perguntam: “por que falas ao povo em parábolas?”. E Jesus vai dizer: “havereis de ouvir, sem nada entender; havereis de olhar, sem nada ver; porque o coração deste povo se tornou insensível“. Será que as palavras de Jesus são para nós atualmente? Estamos nos tornando um coração insensível? Insensível diante da graça de Deus, da pobreza do outro, das injustiças dessa sociedade, das preocupações, dos receios da minha casa, das pessoas que eu amo ou das pessoas que convivem comigo? Será que nosso coração não está se tornando insensível de tal modo que a Palavra de Deus não consegue entrar na nossa vida? Neste caso, o nosso coração está sendo um desses terrenos que Jesus explica na parábola de hoje: aquele em que a semente caiu na beira do caminho e os pássaros vieram e logo a comeram.
Hoje em dia, muitas coisas nos tiram a atenção da Palavra de Deus. Talvez a internet, o celular, os amigos ou a televisão. Quantas vezes a gente sai da missa e não lembra qual foi o Evangelho do dia? Essa sempre foi uma preocupação minha desde quando entrei para o seminário. E por isso eu fico repetindo várias vezes para que quando as pessoas saiam daqui pelo menos lembrem qual foi o Evangelho. Porque senão, analogamente ao que fala o Evangelho, os passarinhos vêm e as roubam. Ou pior ainda, como Jesus vai dizer: “todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração“. Será que o Maligno não está roubando a semente do amor de Deus, cuja qual Ele está plantando na nossa vida? Por que, tantas vezes, a gente volta para casa e não lembra o que aconteceu na igreja? É o Maligno que está roubando a semente que está em nosso coração. Ou então, como ocorre no terreno pedregoso, onde até tem terra: a semente logo germina e brota, mas quando vem o primeiro sol forte ou a primeira tempestade, ela morre porque não tem raiz profunda.
E quantas tempestades a gente já não teve na nossa vida? Eu não sei vocês, mas eu tive um monte de tempestade e, “vira e mexe”, elas querem voltar. Se não tivermos uma raiz profunda, seremos levados na enxurrada. Os teólogos modernos dizem que este tipo de terreno pode ser referente aos cristãos que ficam pulando de galho em galho. Cristãos que vão, de igreja em igreja, esperando que algo extraordinário aconteça. Em outros casos, podem ser aqueles cristãos católicos que acreditam que a missa só é válida se ela for um missa de cura e libertação, se tiver a bênção do Santíssimo, só se o padre falar bonito ou, melhor ainda, se o padre nos fizer chorar. Isso mesmo: acreditam que se o padre não fizer chorar, então a missa não foi boa. Esses são os cristãos que, segundo os teólogos modernos, vivem neste terreno pedregoso porque não conseguem crescer a sua raiz, não conseguem se comprometer com o que diz a igreja e com a sua comunidade. Assim, nos primeiros desafios, o que ele faz? Some da igreja. A fé não deve ser um supermercado. Deve ser um local, um estado de espírito, onde deixamos Deus fecundar a nossa vida e o nosso coração.
Outro local para a semente, de acordo com o Evangelho, é no meio dos espinhos aonde ela até brota e cresce, mas logo os espinhos começam a sufocá-la. E aqui, o que pode ser esse sufocar? As preocupações do dia-a-dia. Quando nós não confiamos plenamente em Deus, as preocupações vão nos sufocando! Pode ser o acúmulo de riquezas, onde as pessoas se preocupam mais em acumular bens do que em viver o projeto de Deus. Podem ser também amizades que nos sufocam. Os adolescentes e o povo que vai entrando na universidade normalmente são sufocados por amizades, por ideias ou filosofias que os levam a se afastar da experiência de Deus e logo abandonam o caminho da fé. Será que você, jovem que está entrando ou cursando a universidade, não está tendo espinhos que sufocam a sua fé?
Por último, Jesus coloca a terra boa, aquela em que a semente cai, é fecundada e a sua raiz vai fundo. Ela cresce e dá frutos. E frutos em abundância que, na linguagem de São Paulo, ocorre quando nós deixamos o Espírito Santo conduzir a nossa vida, a nossa história.
Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, ao celebrarmos o 15º Domingo do Tempo Comum, meditemos se estamos esperando o tempo de Deus, se temos deixado Deus agir ao seu modo e ao tempo que Ele deseja. Questionemos hoje, a partir da Palavra e da Eucaristia que vamos comungar, que tipo de terreno o meu coração está se tornando. E, assim como diz o Salmo 64, produzir o fruto da graça e do amor de Deus. Com certeza, Deus tem um plano para a sua vida, um propósito para a sua existência. Deixe o Espírito Santo conduzir o seu coração, os seus sonhos, os seus medos, as suas angústias e as suas dúvidas para que, no tempo certo, Deus possa produzir os seus frutos na sua vida e na sua história.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 15º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 16/07/2017 (Domingo, Missa das 10h).

É o Senhor que sustenta nossas vidas
09/07/2017
Nós estamos celebrando o 14º domingo do Tempo Comum, em que a Igreja convida todos nós a nos aproximarmos de Deus e deixarmos que o Senhor nos sustente todos os dias da nossa vida, sobretudo quando nosso fardo está pesado, quando as situações e os obstáculos de nossa vida parecem ser insuperáveis. Por exemplo, quando passei por um momento de fragilidade, no qual pude sentir pela primeira vez o que é estar nas mãos dos médicos e acolher tudo os que eles tinham a dizer; ou como as pessoas que perderam seus entes queridos. Nesses momentos, é somente Deus que pode nos sustentar, é somente Ele que pode confortar o nosso coração. E para que Ele nos conforte, para que Ele nos sustente, é necessário que nós façamos a experiência neste Deus do amor, neste Deus da compaixão, pois nós não cremos em um Deus carrasco, não cremos em um Deus vingativo.
É o que a primeira leitura [Zc 9, 9-10] nos ensina, que temos um Rei e este Rei vem ao nosso encontro. Não somos somente nós que vamos, mas Ele também vem ao nosso encontro. Com humildade, este Rei se inclina para nos resgatar e nos ajudar a superar as nossas dificuldades. Ele vem, segundo o profeta Zacarias, para nos trazer a paz, a paz que nós precisamos para educar os afilhados, para educar os nossos filhos, para conduzir uma comunidade paroquial, para viver o matrimônio, para não buscar respostas, para confiar em Deus quando questionamos o porquê de um ente querido partir para a casa do Pai, entre outras inúmeras situações. E esta paz de espírito que tanto necessitamos, nós encontramos somente em Deus. Um Deus de amor, um Deus de misericórdia.
Segundo o Evangelho de hoje [Mt 11, 25-30], este Rei, este Senhor vem ao nosso encontro. O contexto é que os apóstolos haviam sido mandados em missão, deveriam pregar ao mundo. Quem já saiu para viver algum tipo de experiência missionária ou para enfrentar algum desafio, sabe como é difícil. Nós ficamos cansados, ficamos em dúvida, às vezes queremos desistir. Depois de Jesus enviar os apóstolos em missão, eles retornam cansados, fatigados, alguns sem esperança, talvez não querendo voltar mais para pregar a Palavra do Senhor. E é neste contexto, talvez de decepção humana, que Jesus se aproxima dos seus apóstolos, dos seus amigos para dizer: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso".
Na missão da nossa vida, tantas e tantas vezes nós nos sentimos cansados, nós nos sentimos fatigados, e nós deveríamos buscar este repouso, buscar esta energia, buscar esta paz de espírito não nos bares, nas bebidas, no jogo, no shopping, comprando coisas pela internet. Deveríamos - e devemos - buscar refúgio no Senhor, pois é Nele que nós encontramos abrigo. E, assim, eu digo àqueles que perderam seus entes queridos: deixe Deus confortar o seu coração, deixe o Senhor te sustentar. Não busque respostas, porque não existem. Simplesmente, deixe Deus conduzir. É Ele quem nos dá esta paz.
Você que está com dificuldade em sua família, no seu trabalho, nas missões que Deus te confiou... Procure refúgio no Senhor, pois Ele é manso e humilde de coração. Então, rezamos: "Jesus, manso e humilde de coração, fazei do nosso coração semelhante ao Vosso". Quando nós temos por meta na nossa vida ter um coração semelhante ao de Jesus, não significa dizer que não enfrentaremos problemas, não significa dizer que as pessoas que mais amamos não partirão para a casa do Pai, não significa dizer que nós não teremos enfermidades; mas significa dizer que, diante de qualquer situação da vida, teremos maior condição de superar estes obstáculos, porque teremos um coração igual ao coração do nosso Salvador!
Para isso, meus irmãos, é necessário entender o que Paulo nos escreve na segunda leitura de hoje [Rm 8, 9. 11-13], para não vivermos segundo a carne, mas vivermos segundo o Espírito, pois quando vivemos segundo a carne nos tornamos pessoas competitivas, pessoas autossuficientes, pessoas que colocam a razão acima de tudo; nós não deixamos que Deus conduza a nossa vida, somos pessoas agressivas, às vezes fisicamente, às vezes verbalmente. Mas quando agimos pelo Espírito de Deus, é o próprio Senhor que vai conduzindo os nossos pensamentos, as nossas escolhas, vai conduzindo todo o nosso ser para que, diante das dificuldades da vida, o próprio Senhor nos ensine a agir conforme o Seu coração.
Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo. Todos nós, batizados, somos de Cristo, mas é necessário tomarmos posse desta cidadania. Como dizem os jovens, é necessário "vestirmos a camisa". Você talvez vista a camisa do seu time com tanto orgulho; "vista a camisa" do Espírito Santo de Deus! Aos integrantes da Equipe de Nossa Senhora, da Renovação Carismática Católica, Vicentinos, Apostolado da Oração e de tantos outros movimentos, se a gente veste a camisa desses movimentos com tanto orgulho, vamos com mais orgulho ainda "vestir a camisa" do Espirito Santo de Deus, para que sejamos verdadeiramente integrante desta grande família.
Que a experiência do salmista, no salmo 144, que nos diz: "Bendirei, eternamente, vosso nome, ó Senhor!", seja nosso maior testemunho. Que, diante das enfermidades, dos obstáculos, dos medos, das dúvidas, seja no coração de Cristo que encontremos o nosso refúgio. O salmista nos diz, ainda: "Misericórdia e piedade é o Senhor. Ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos. Sua ternura abraça toda criatura" - inclusive você! "O Senhor é amor fiel em Sua Palavra, é santidade em toda obra que Ele faz. Ele sustenta todo aquele que vacila e levanta todo aquele que tombou". Que o Senhor Jesus Cristo nos ajude, sustente, inflame o nosso coração, para que, resgatados das nossas tristezas, dos nossos medos, das nossas dúvidas, encontremos repouso no Seu Sagrado e Imaculado Coração!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 14º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 09/07/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Como Pedro e Paulo, comprometer-se com o Evangelho da Salvação
02/07/2017
Estamos celebrando a festa de São Pedro e São Paulo. Esta solenidade é celebrada, tradicionalmente, no dia 29 de junho; mas, no Brasil, os bispos optaram por celebrá-la no domingo posterior à data, para que todo povo cristão católico pudesse participar desta celebração eucarística. E, assim, juntos, também nos unimos ao Papa, que nesse dia 29, como aconteceu na última quinta-feira, coloca o pálio sobre os arcebispos – que são os bispos que cuidam de uma região grande, coordenando outros bispos, como Dom Odilo Pedro Scherer, que é o cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo. Dessa forma, o Papa escolhe outros cardeais para também seguirem o exemplo de Pedro e Paulo de serem testemunhas deste Evangelho que deve estar firmado na fé apostólica da Igreja e deve ser anunciado – a exemplo de São Paulo – aos confins da terra. Deste modo, nós, irmãos e irmãs, somos convidados a refletir sobre quem é Jesus para nós, junto com Pedro, no Evangelho de hoje [Mt 16, 13-19], e com os demais apóstolos.
Estamos no contexto em que Jesus estava na cidade de Jerusalém, pregando a Palavra, curando os doentes... Fazendo tantas coisas maravilhosas. Mas, de repente, Ele faz uma pausa e diz para os discípulos: "Vamos para Cesareia de Filipe". E, aí, eles O seguem – acredito que sem entenderem nada do que estava acontecendo – e vão para uma região afastada, mais pobre, e de onde, segundo alguns biblistas, dava para enxergar a grande cidade suntuosa de Jerusalém. Ali, então, Jesus pergunta: "Quem dizem os homens que eu sou?". Mas, diante disso, nós nos perguntamos: por que Jesus teve que tirar o povo lá de Jerusalém e se afastar? Porque o ser humano, quando está envolvido em algo, muitas vezes não compreende aquilo pelo que está passando, e é necessário nos afastarmos um pouco para enxergarmos melhor e podermos discernir sobre as situações da nossa vida. Por exemplo, às vezes as pessoas nos perguntam: "O que eu faço diante disto?", porque estamos afastados da situação, não estamos envolvidos emocionalmente e, deste modo, conseguimos observar melhor. Sempre que converso com as pessoas aqui na igreja, eu digo: "Vá para casa, reze primeiro e depois falamos" – sobre o que quer que seja, porque há a necessidade de nos afastarmos um pouco para meditar.
E retirando os discípulos de Jerusalém e convidando-os a observarem aquela grande cidade e o que eles estavam realizando ali, Jesus queria saber se eles tinham entendido quem Ele era. Perguntados, os apóstolos responderam: "Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas". E, com certeza, Jesus deve ter ficado triste, pois ficou três anos falando que Ele era o Filho de Deus, o Enviado, e o povo não entendeu nada... Jesus, então, disse: "Tá bom. Eles, lá fora, não entenderam. Mas nós treze, aqui, estamos juntos todos os dias. E vós, quem dizeis que eu sou?". Deve ter ficado aquele silêncio sepulcral – como quando eu pergunto quantos anos tem a paróquia [77 anos] ou por que a cor da minha roupa, hoje, é vermelha [porque celebramos a festa de dois mártires da Igreja]. Jesus perguntou, ficou aquele silêncio mas, de repente, aquele que menos esperavam, o mais simples dos apóstolos, Pedro, disse: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". E, aí, Jesus deve ter dado aquele sorriso bonito antes de dizer: "Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la".
O Evangelho de hoje é fundamental para nós pois, antes de praticar o discipulado em Jesus Cristo, é necessário reconhecer que Ele não é um simples profeta, não é um simples líder, um simples guerreiro, um militante, um mago. Jesus é o Messias! O Salvador! Santa Teresinha é uma santa mulher, mas ela não salva; ela apresenta o Salvador, que é Jesus. Nossa Senhora foi uma santa mulher; dentre todas, foi a escolhida, o primeiro tabernáculo, a mãe de Jesus, a arca da aliança – no sentido de carregar Cristo em seu ventre. Mas ela salva? Não. Quem salva é Jesus! Jesus é o nosso Salvador! E isso deve estar claro para todos nós, cristãos católicos. Deve estar claro que o Salvador é Jesus, e esse Salvador, pelo qual nós professamos a fé, instituiu uma Igreja de dois mil anos – "sobre esta pedra construirei a minha Igreja". Desde Pedro a Francisco, são 268 Papas. De modo ininterrupto, a Igreja mantém a sucessão apostólica e o guardião dessa fé que foi crescendo e se alicerçando ao longo da história. Isso nos faz entender que nós professamos uma fé também na Igreja, e é esta Igreja que nos instrui para vivermos o Evangelho da Salvação. Portanto, não posso frequentar uma igreja e ser contrário a ela. Posso até discordar de algumas coisas, mas com a consciência de que, para mudar, eu devo percorrer o caminho certo. E quantos cristãos católicos que não concordam com a Igreja que frequentam... Que não concordam com o magistério da Igreja, com aquilo que o sucessor de Pedro, o Papa Francisco, nos ensina.
Depois, entendemos também, a partir desta Palavra, que assumir Jesus como o Messias significa nos comprometermos com o Evangelho da Salvação. E comprometer-se significa assumir riscos, assumir batalhas – batalhas espirituais, batalhas na nossa casa, no mercado de trabalho, a partir da nossa profissão... Na nossa vida, enfrentamos batalhas e não podemos desistir, não podemos voltar atrás ou ficar com medo. Ao contrário, devemos enfrentar – como Pedro na primeira leitura [At 12, 1-11], na qual Herodes, tentando fazer uma social com os judeus, prende alguns cristãos. Mas ele não os prendeu para dar um susto, e sim para torturá-los. Praticaram tortura com aqueles cristãos, e ainda hoje muitos sofrem por se declararem cristãos. Como em alguns locais do Oriente Médio. Cristãos, simplesmente porque carregam uma cruz, são fuzilados; cristãos, por professaram o nome de Jesus, são degolados por extremistas do estado islâmico. Em pequenas cidades e povoados, quem se declara cristão não consegue nem ir ao mercado comprar uma bala, um ovo, um pãozinho, um litro de leite. Esses cristãos, perseguidos hoje por causa do Santo Evangelho, são como Pedro: pessoas fervorosas, firmes, que assumem a sua fé porque creem – como cantamos no Salmo 33 (34) – que Deus não nos abandona; e o Papa está constantemente incentivando-os a não abandonarem suas terras, pois é a única esperança que ainda temos de fazer o Evangelho continuar a ser pregado nesses lugares.
Pedro foi preso por quatro grupos de soldados com quatro soldados em cada grupo, ou seja, 16 soldados para cuidar de apenas um homem. E, mesmo assim, Deus o libertou. Ao ser libertado, o anjo pede que ele vista as sandálias e coloque o cinto – que é sinal de serviço, de missão, de comprometimento com o Evangelho –, e Pedro continua sua missão até, provavelmente, o ano 64 d.C., quando é crucificado de ponta cabeça, em Roma, por causa do Santo Evangelho. Deus não nos abandona, mas nós também não podemos abandonar a missão que nos foi confiada. A Pedro, ser o chefe da Igreja; a você, ser esposo ou esposa, pai ou mãe, funcionário no seu trabalho, agente de pastoral aqui na igreja... Os desafios não são poucos, mas não podemos desanimar, para que, ao final da nossa vida, possamos dizer, como São Paulo a Timóteo, na segunda leitura [2Tm 4, 6-8. 17-18]: "Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça". Se nós partíssemos hoje, será que poderíamos dizer, como Paulo, "combati o bom combate"? Ou fui medroso? Abandonei a corrida? Porque tem gente que dá a volta na esquiva e já está desistindo... No primeiro desafio, já abandona o barco... Tem gente que reza uma Ave-Maria e já acha que fez muita coisa. Quando não. Assumir Jesus como o Messias significa se comprometer. Receber a coroa da justiça – como Santa Teresinha, como Nossa Senhora, como Pedro e Paulo – requer de nós um compromisso vivo, autêntico e coerente com a fé que professamos.
Que a experiência do salmista da liturgia de hoje nos fortaleça: "Contemplai a Sua face e alegrai-vos, e vosso rosto não se cubra de vergonha. Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido; e o Senhor o libertou de toda a angústia". Quem já pediu algo para Deus e foi atendido? Os testemunhos valem mais do que as palavras... Que este Deus continue nos acompanhando como acompanhou Pedro e Paulo, e que de todos os temores nos livre o Senhor Deus, sejam temores físicos, espirituais, psicológicos. Sejam quais forem os nosso temores, que hoje, em nome de Jesus, pelo sangue do Senhor derramado do alto da cruz, seja purificada a sua vida e restaurado o seu coração.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de São Pedro e São Paulo (Ano A) – 02/07/2017 (Domingo, Missa das 10h).

Não tenhais medo: Cristo nos chama a cumprirmos nossa missão de batizados
25/06/2017
Queridos irmãos e irmãs, antes de iniciar esta homilia, gostaria de comentar que também estamos recebendo visitantes de outros países em nossa paróquia, e fico muito feliz que nossa comunidade tem sido bem acolhedora com os participantes, sejam eles de perto ou de longe. Nós estamos celebrando o 12º Domingo do Tempo Comum e, gota a gota, vamos buscando ter esta intimidade com Jesus Cristo, procurando aprender do Seu Sagrado Coração como vivenciarmos este grande projeto de amor que Deus tem para cada um de nós. E a Igreja nos convida, neste momento, a refletir sobre a nossa missão profética, como batizados, de anunciar este amor de Deus.
Ontem, dia 24 de junho, fizemos memória de São João Batista, uma data muito especial para nós, porque São João foi o último dos grandes profetas, que anunciou a conversão dos pecados e a misericórdia de Deus – algo que eu e você devemos fazer constantemente em nossa vida. Portanto, neste contexto, recordamos a pia batismal, que a Pastoral Litúrgica preparou para nós, local onde todos nós – crianças, jovens ou adultos – uma vez já renascemos para uma vida nova no amor de Deus. E durante esta vida cristã, muitas vezes nós dizemos que não conseguimos abandonar o pecado ou algum tipo de inclinação que nós temos, seja algum modo de ser, alguma postura ou algum vício. Se Jesus Cristo nos salvou pelo Seu sangue derramado, e somos também purificados por esta água do batismo, nada pode nos impedir de seguir este projeto do amor de Deus. Nós somos livres!
São Paulo, ao escrever à comunidade de Romanos na Segunda Leitura [Rm 5, 12-15], nos diz que foi por um homem que o pecado entrou no mundo, mas foi também por um homem que nós fomos libertos. E este homem é Jesus Cristo. Por Ele nós fomos salvos e, portanto, nada pode nos impedir. Muitas vezes, nós dizemos que não conseguimos abandonar o nosso modo de ser. Por exemplo, para quem é preguiçoso. Para deixar de sê-lo, é necessária uma postura firme: "Eu vou mudar de vida, vou ser uma pessoa diferente". E o que a gente mais ouve por aí é a desculpa de que a pessoa não consegue mudar ou não é capaz de realizar determinada tarefa. Falam também que é muito difícil ser o que Jesus nos pede. E ficam, assim, acomodados, do jeito que são.
Todos nós precisamos mudar algo em nossa vida. Portanto, a desculpa de que somos aprisionados a qualquer tipo de pecado não pode existir nos nossos lábios, pois somos cristãos libertos. E, recordando o nosso batismo, lembramos que somos feitos sacerdotes para ser uma bênção na vida uns dos outros, e não causa de divisão. Se vemos algum conflito, não temos que incentivá-lo, mas separá-lo, conciliá-lo. É assim que deve ser nossa ação. É também pelo batismo que nós nos tornamos pastores para cuidar uns dos outros. Os pais cuidam dos seus filhos; os filhos cuidam dos pais; a esposa, do esposo; o esposo, da esposa; os padrinhos, dos afilhados; o padre, da comunidade; a comunidade, do padre; uma pessoa que tem uma função na empresa cuida daqueles que estão sob a sua responsabilidade. Isso é pastorear. E, ademais, nós somos também profetas, fato no qual eu quero me deter um pouco, a partir da Primeira Leitura de hoje [Jr 20,10-13], do profeta Jeremias. Somos todos profetas para anunciar a verdade e denunciar as injustiças. Assim, pelo batismo, não podemos ser mudos ou omissos. E o que significa ser omisso? É saber que algo deve ser mudado e, mesmo assim, não falar nada. E está cheio de gente por aí que não faz nada para mudar, fica bem quietinho. E vocês não podem ser assim.
Na Primeira Leitura, nós estamos no século VII a.C., no qual Jeremias viveu sob o reinado de dois reis: um chamado Josias, que era um bom homem, e outro chamado Joaquim, que não era malvado mas "não batia muito bem da cabeça". Josias, este homem muito bom, procurou purificar o reino de Judá. Então, para eliminar tudo que era estranho ao projeto de Deus, tudo aquilo com o que Deus não concordava, Josias foi conversando, educando, procurando trabalhar junto aos catequistas para ensinar as crianças e suas famílias do melhor modo possível, conversou com os sacerdotes e ficou longos anos trabalhando para mudar a cultura daquele povo. Mas, como as coisas que são boas, infelizmente, não duram para sempre, Josias morreu. Assim, Joaquim assumiu o reino e fez o contrário do que seu pai fez. Começou a chamar todos os povos estrangeiros de volta, a aceitar todo tipo de idolatrias, fez aliança com outros povos para guerrear com terceiros. E, com tudo isso, o reino de Judá tornou-se uma confusão. E o profeta, diante daquilo que está errado, o que deve fazer? Denunciar. E Jeremias começou, então, a denunciar o que via. Quando tudo estava bom e ele falava apenas do amor de Deus, o povo aplaudia e gostava muito de Jeremias; porém, quando ele começou a apontar as falhas daquele povo de cabeça dura, pedindo que eles se convertessem daquela idolatria, mostrando que pessoas injustas estavam liderando o reino e aquilo não era do agrado de Deus, o povo não gostou. E, assim, Jeremias ficou sozinho. Até os seus amigos mais próximos o abandonaram. Porém, em vez de desanimar, ele elevou um grande louvor a Deus e permaneceu firme na sua missão de denunciar o que está errado.
Quando você corre o risco de ficar sozinho, você aceita a imposição dos homens ou fica com o que Deus lhe pede? Será que nós somos profetas, como Deus deseja, ou fazemos apenas a "política da boa vizinhança" para não perdermos os amigos e estar bem com todos, sem arrumar confusão com ninguém? Porque está cheio de gente assim. Não pode existir devoto de Deus que aceite as coisas erradas. Se o Brasil é um país, em sua maioria, cristão – e cristão católico –, alguma coisa não está muito certa, dado o que temos visto por aí. Portanto, o que está faltando? Está faltando nós assumirmos a nossa postura de cristãos católicos. Deus nunca vai nos abandonar, mas pode ser que os homens sim. E pela minha história de vida e por tudo aquilo que já presenciei, eu nunca vi uma pessoa que assuma um compromisso verdadeiro e real de ser cristão que, de algum modo, não seja perseguido por causa da sua fé. Há maridos perseguidos pelas esposas, esposas perseguidas pelos maridos, filhos pelos pais, pais pelos filhos. Em empresas, patrões perseguindo seus empregados. E, até mesmo, alunos pelos professores. E ninguém faz nada contra isso. E a culpa desta situação ser assim, atualmente, é nossa. Porque, em um passado no qual eu era criança, cresci inspirado por pessoas que, ao verem algo errado, falavam. Cresci vendo pessoas mais velhas indo para as ruas e assumindo a sua missão de cidadãos – e, no caso daqueles que têm fé, de profetas do reino de denunciar as injustiças. Nós conseguimos a democracia indo para as ruas. Nós conseguimos tantas coisas assumindo juntos a nossa responsabilidade. E hoje, o que a gente faz? Manda um WhatsApp, "dá um like" no Facebook e acha que fez a maior profecia do universo. E nos tornamos cada vez mais isolados uns dos outros. E onde é que nossa sociedade vai parar deste jeito, com a ditadura dos poderosos? Por conta de uma pequena porção da sociedade, estamos perdendo nossas características e liberdade de viver o projeto de Deus. Isso não é justo. E, dia após dia, as coisas estão mudando no nosso país e na nossa sociedade, e nós estamos alienados, iludidos com tantas promessas feitas.
Jesus, no Evangelho de hoje [Mt 10, 26-33], diz a seus apóstolos que eles terão uma grande dificuldade na vida apostólica. E diz três vezes: "Não tenhais medo". Diz a eles que, o que eles escutam ao pé do ouvido, devem proclamar de cima dos telhados. "Ide pelo mundo e anunciai a minha Palavra sem medo". E nós, como Seus profetas deste terceiro milênio, temos esta Palavra de Jesus também para nós: não devemos ter medo! Seja de ficarmos sozinhos ou de sermos incompreendidos. Devemos encontrar meios de transformar a realidade ao nosso redor com argumentos, de modo simpático, tendo coerência em nossas palavras e em nosso testemunho. Fato é que seremos perseguidos. Mas para aquele que não vive o projeto de Deus e não assume a sua missão, Jesus conclui o Evangelho de hoje dizendo: "Aqueles que me renegarem, eu o renegarei diante do meu Pai; mas aqueles que me assumirem, eu os assumirei diante Dele". Será que Jesus vai nos assumir ou nos rejeitar a partir da nossa escolha de vida, atitudes e palavras?
Portanto, digo a você: não tenhais medo! Recorde o dia do seu batismo, o dia da sua consagração. Lembre as obras que Deus fez na sua vida. Seja testemunho desse amor de Deus. Não cai um fio da nossa cabeça sem que Deus o permita! Deus sabe de todas as coisas, mas Ele nos dá a graça da liberdade para que nós façamos as nossas escolhas. E é a nossa escolha que vai determinar se, um dia, Jesus estará conosco ou se seremos rejeitados, a partir da nossa postura e vivência de fé. Que nesse fim de semana dedicado a São João Batista, possamos renovar nosso compromisso de amor para com Deus. Que possamos ser, verdadeiramente, profetas, e não termos medo de nada e nem de ninguém, pois Deus nos diz, no final do Evangelho de hoje, que estará conosco até o fim dos tempos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 12º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 25/06/2017 (Domingo, missa das 10h).

Sejamos uma nação santa para que Deus opere milagres em nossas vidas
18/06/2017
Estamos celebrando o 11º Domingo do Tempo Comum. Após celebrarmos as festas – os períodos fortes de Quaresma e de Páscoa –, agora retomamos o caminho do Tempo Comum, que possui 36 semanas, no qual, domingo após domingo, através do olhar do evangelista Mateus, iremos acompanhar Jesus e buscar, deste modo, termos os mesmos olhares, sentimentos e atitudes de Jesus na nossa vida e história. No dia de hoje, a Igreja nos convida a refletir sobre os falsos sacerdotes e a ouvirmos e guardarmos as palavras do Senhor e colocarmos em prática o que Ele nos pede: para sermos missionários, trabalhadores no Reino do Senhor. E como Jesus Cristo e São Paulo, não medirmos esforços para pregarmos e testemunharmos o Evangelho da Salvação.
Na Primeira Leitura [Ex 19, 2-6a], o povo tinha saído da escravidão do Egito em direção à terra prometida. Depois de caminhar cerca de 420 Km, ter passado fome e sede, superado doenças e tantos obstáculos, eles se encontram diante do Monte Sinai. E, ali, acontece algo que o povo de Israel não esperava, e muito menos Moisés: os sacerdotes, que deveriam ser um exemplo, fortalecer e animar o povo para continuar a sua busca, haviam desistido de alcançar a terra prometida. Moisés se vê desesperado e sobe ao monte para ouvir o que Deus tem a lhe dizer. Diante de nossos desesperos, já aprendemos que temos que ouvir a voz de Deus. E, justamente ao subir a montanha, o que é que Deus fala a Moisés – e, consequentemente, a seu povo e a cada um de nós? "Se ouvires a minha voz e guardares a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos porque minha é toda a terra". Se nós ouvirmos a voz de Deus e guardarmos a Sua Palavra, seremos essa porção escolhida do povo de Israel. Deus nunca abandonou seu povo, e não é porque os sacerdotes o abandonaram que Deus também vai abandoná-los. Mas, diante da ausência dos representantes de Deus, o povo deve continuar a sua caminhada, iluminados pela liderança de Moisés, ouvindo e guardando a Palavra de Deus. Por isso que a nossa confiança não deve ser depositada única e exclusivamente nos homens, mas sempre em Deus, este Deus que nos fala. E nós devemos perguntar hoje para nós mesmos: eu tenho ouvido a voz de Deus? Eu tenho ouvido o que Deus tem me dito? Eu tenho guardado a palavra que o Senhor tem plantado em meu coração?
Em quantas missas você já foi até hoje? E de quantos Evangelhos você se lembra? De quantas leituras bíblicas você se recorda? Neste mundo de tanta informação, o que é que fica no nosso coração da Palavra proclamada, ouvida e que deve ser guardada em nossa vida? À medida em que ouvimos e guardamos a Palavra do Senhor, nós seremos para Deus – diz a Sagrada Palavra – um reino de sacerdotes e uma nação santa. Na Primeira Aliança, já havia um significado muito importante: sermos sacerdotes de Deus. Com o nosso batismo, nós nos tornamos, efetivamente, pela Nova Aliança de Jesus Cristo, Nosso Senhor, participantes do sacerdócio batismal, para sermos uma bênção na vida uns dos outros. E você, tem sido esta bênção? Ou você tem sido uma maldição na vida do outro? Na história da humanidade, a luta entre o bem e o mal sempre existiu, sempre existirá. Em cada coração humano ela também existe, e é necessário assumirmos o bem, a luz, a verdade, e deixarmos tudo que não é de Deus para trás. Neste sentido, nos tornaremos esta nação santa que Deus espera de nós.
Como será que está o coração de Deus hoje, vendo que o cristianismo é a maior religião do mundo, mas um terço ou mais de sua população passa fome, e enquanto milhões de seres humanos vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de um dólar por dia para viver? Será que nós somos ou estamos sendo esta nação santa que Deus espera de nós? A verdade é que não estamos. Mas será que estamos lutando para ser? Na minha casa, no meu trabalho, no meu grupo de convivência, na paróquia que eu participo, eu estou buscando ser essa nação santa?
Tanto no passado quanto no presente, faltavam e ainda faltam operários. Isso sempre aconteceu, e não é por isso que vamos desanimar. Jesus, no Evangelho de hoje [Mt 9,36 - 10,8], está diante de uma grande multidão. E Jesus, diz o Evangelho, olha para aquela multidão e compadece-se dela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas que não têm pastor - como nos foi dito na Primeira Leitura. Passou-se algum tempo e o povo ainda se sentia abandonado, porque os pastores, os sacerdotes, estavam mais preocupados em ganhar dinheiro ou viver a liturgia do que em praticar o Evangelho da Salvação. Por isso Jesus diz que "a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para sua colheita!". A nossa missão é continuar rezando para que Deus suscite no coração de cada batizado o compromisso para sermos uma nação santa.
Segundo os biblistas, esta palavra – compadecer-se –, no português, não possui uma palavra que chegue perto do significado em hebraico, que é algo como sentir as dores do outro nas suas próprias entranhas. Talvez, o mais perto que a gente consiga chegar seja as dores do parto, para as mulheres, ou, então, a dor das pedras no rim, uma dor insuportável. É esta dor que a palavra hebraica significa para Jesus. Sentir a dor junto com o outro. E é Jesus que, sentindo a dor dos seus discípulos, daquela multidão, diz: "A messe é grande, mas os operários são poucos". E, de fato, o são. Por isso é necessário que nós, para chegarmos a ser uma nação santa, lutemos para que haja mais operários para a messe do Senhor.
E, assim, Jesus escolhe os doze apóstolos. Todos iguais? Não. Mas doze pessoas diferentes para expressar a universalidade das doze tribos de Israel. Ou seja, os apóstolos devem chegar até os confins da terra. E Jesus diz assim: "Não deveis ir aonde moram os pagãos nem entrar na cidade dos samaritanos". Vocês devem estar se perguntando: "Mas, padre, Jesus está dizendo para eles não evangelizarem os pagãos? Há alguma coisa errada". Não, não há, pois Jesus diz assim: "Primeiro, antes de ir aos pagãos e samaritanos, ide às ovelhas perdidas da casa de Israel". Por que Jesus fala isso? Porque de que adianta irmos atrás dos pagãos, se aqueles que estão perdidos, estão abandonados? Sabe aquela história que alguns valorizam mais os que chegaram ontem na vida da gente do que aqueles que estão há muito tempo? Você deve conhecer alguém assim. "Estou com ele/ela há tanto tempo mas apareceu alguém semana passada e ele dá mais atenção a essa pessoa do que para mim". Os filhos são craques nisso: dão mais atenção aos amigos que acabaram de conhecer, do que para o pai e a mãe. E nós, às vezes, fazemos isso também: valorizamos mais aqueles que chegaram há pouco tempo – ou mesmo os que estão distantes – e nos esquecemos das ovelhas perdidas.
Enquanto eu lia este Evangelho, recordei que, dois ou três meses atrás, visitei um estabelecimento que fica a duas ruas da igreja. Lá, um rapaz falou assim: "Padre, o senhor pode visitar minha mãe?". Eu respondi que sim e fui até a casa dela. Cumprimentei a mãe e perguntei se ela era católica. Com muito entusiasmo, ela me respondeu: "Ah, padre, sou muito católica! Eu frequentava a Paróquia de Santa Teresinha!". "Verdade? O que a senhora fazia lá?", perguntei surpreso. Foi quando ela me disse que havia participado de várias pastorais. E quando a questionei por que nunca tinham me falado dela, ela respondeu: "É, padre, faz uns três anos que ninguém vem me visitar...". Fiquei completamente desconcertado. E aí a gente se recorda de que, enquanto são jovens e crianças, nós achamos bonito, maravilhoso. Mas quando as pessoas vão ficando velhas, vão sendo colocadas de lado, de escanteio. E quanta gente doente, abandonada, excluída da nossa comunidade paroquial... É a estes que Jesus pede para irmos primeiro. Valorizarmos aqueles que aqui estão, acolhermos a todos, incluirmos neste grande Corpo de Cristo para, depois, irmos às casas, batermos nas residências. E, à medida em que estamos organizados e sabendo acolher aos que chegam, aí sim realizarmos a nossa missão. E aqui eu pergunto: será que nós já estamos prontos para ir bater nas casas? Ou precisamos ainda aprender a acolher, precisamos ainda ir ao encontro das pessoas que estão afastadas?
Eu passei algumas crises no seminário, e é natural. Dizem que quem não passa por crises, não cresce. E uma das crises por que passei foi a seguinte: eu já me achava chato com aquela idade, então, imagina quando eu ficasse velho, quem iria me aguentar? E foi um trabalho árduo, rezando para que o Senhor tirasse isso do meu coração. Porque, senão, a gente fica mais preocupado com a velhice do que em viver o tempo presente. E, graças a Deus, Ele curou. Está nas mãos Dele: algum dia, alguém cuida. Mas fiquei pensando muito nisso, e constantemente penso nas pessoas idosas de nossa comunidade, nas pessoas doentes ou naqueles que se afastaram. E aí dizem assim: "Padre, você não ligou para a pessoa?". E eu respondo: “E você, ligou para ela?". "Padre, o senhor foi visitar o fulano?". E eu digo: "E você, foi?". Porque nem Jesus conseguia fazer tudo sozinho. E por que ele chama os doze apóstolos? Para ajudá-Lo. Para sermos uma nação santa, o padre deve ir? Deve. Mas quantas vezes o padre faz mais coisas que os leigos poderiam fazer no lugar do padre? Porque se o padre se dedica a fazer as coisas que os leigos podem fazer, o padre não faz o que ele precisa, que é celebrar missa, atender confissão, dar unção para os doentes, ir no cemitério e tantas outras funções que só o padre pode realizar. Por isso devemos, todos nós, ser esta nação santa e ir ao encontro das pessoas.
O que é que Jesus nos diz? "Em vosso caminho anunciai que o Reino dos Céus está próximo". Nossa missão é pregar a conversão dos corações. Se nós esquecermos que devemos pregar a conversão dos corações, nós nos perderemos. Expulsar os demônios, curar os enfermos, tudo isso é consequência da busca da conversão do nosso coração e das nossas atitudes. Como Paulo, nas entrelinhas da Segunda Leitura de hoje [Rm 5, 6-11], em que nós estamos no ano 58 da era cristã. Paulo havia ido para o oriente, fundado diversas comunidades. E então, ele disse: "Acho que aqui já fiz minha missão. Agora eu quero ir para o Ocidente". Ele queria ir para a Espanha. Aí, os discípulos começaram a reclamar, e Paulo, então, escreve esta carta aos Romanos para dizer que, como Jesus não mediu esforços para salvar os ímpios, os pecadores, também nós não devemos medir esforços para salvar as pessoas. Na Espanha, tinha gente para ser salva, e a missão de Paulo era ir para lá. E ele fundou a comunidade. E como é triste quando um padre sai de uma paróquia e a paróquia afunda... Significa dizer que a nação santa não entendeu que ela tinha que ser santa. Ela só era santa enquanto tinha um sacerdote à frente. E aí, está tudo errado.
Será que, quando o padre Tiago sair, as pastorais vão continuar trabalhando? Será que, quando o padre Tiago sair, a comunidade vai continuar entusiasta do Santo Evangelho? Será que, as pastorais que nós temos hoje - que já passaram das trinta - continua fiel se o coordenador sair? Será que a pastoral continua realizando a missão dela se, por algum motivo, trocarmos os coordenadores? Você, pai e mãe, pode levar isso para sua casa. Na sua frente, seu filho faz tudo que você pede; mas e quando você não está perto, será que ele faz? E aí? É você aquele sacerdote que está conduzindo aquele povo. É você o Moisés da sua família. Será que a sua família permanece fiel? Será que você não tem medido esforços e tem lutado para que a sua família, a sua pastoral, esta paróquia, sejam uma nação santa, independentemente de onde estivermos?
Que o Espírito Santo de Deus, meus irmãos e irmãs, nos seja favorável para que, ao percorrermos o deserto da nossa história, o Senhor fale em nosso coração, como falou ao coração de Moisés. Que Jesus nos ensine a sentir as dores, os sofrimentos e as angústias do outro com o mais profundo do nosso ser. E, como Paulo apóstolo e Jesus Cristo, Nosso Senhor, nunca meçamos esforços para viver o Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 11º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 18/06/2017 (Domingo, missa das 10h).

Deus age na nossa história pela Eucaristia e pela Palavra
15/06/2017
Estamos celebrando a Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo, uma solenidade que está intimamente ligada com a Quinta-feira Santa. Porém, se lá, naquela ocasião, Jesus celebrava Sua última ceia, para partir em direção ao Calvário e dar a Sua vida pela nossa salvação, hoje nos encontramos conscientes de que Cristo é o nosso Salvador e que, proclamando Jesus Cristo como nosso Deus e Senhor, devemos colocar em prática o que Ele nos pede. E o que Ele nos pede é que, ao comermos do Seu corpo, nós tenhamos parte na Sua vida. Assim como Ele está no Pai – como acabamos de ouvir no Evangelho (Jo 6, 51-58) – e participa da vida do Pai, aqueles que comem o Seu corpo viverão eternamente e terão parte com Ele. O que significa ter parte na vida de Jesus? Significa comungarmos de Seus sentimentos, comungarmos de Seus ideais de vida, comungarmos do Seu testemunho. Porque de que adianta participarmos da Eucaristia se esta Eucaristia não se torna, para nós, sustento e remédio para nossa caminhada cristã?
Deus vem acompanhando Seu povo desde o início da história da humanidade, e como ouvimos na primeira leitura (Dt 8, 2-3. 14b-16a), nos pede para lembrarmos que Ele sempre esteve conosco e sempre estará ao nosso lado; ao participarmos da Sua Páscoa, recordarmos que Deus está conosco. "Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu" (Dt 8, 2a). Quais são os caminhos por onde Deus vem nos conduzindo ao longo de nossa vida? Quando nós olhamos para trás e somos capazes de ler a nossa história à luz da fé, com certeza identificamos momentos, situações, pessoas em que Deus agiu na nossa vida para estarmos aqui hoje. Portanto, hoje é dia de recordarmos o quanto Deus nos ama, o quanto Deus caminha conosco.
A leitura continua: "... nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor" (Dt 8, 3b). Hoje também é dia, meus irmãos e irmãs, de recordar que a Eucaristia é sustento e remédio para a nossa vida, mas que a Palavra de Deus, como diz a Igreja, tem o mesmo peso, igual medida e mesmo valor em nossa vida. Ainda ontem estava ensinando a um cerimoniário algumas coisas da liturgia, e perguntava a ele: "O que tem a mesma importância que a Eucaristia em nossa vida?". Ele ficou pensando, pensando... "O que será?". E quando eu disse: "A Palavra!", ele respondeu: "Nossa, estava diante de mim e eu não percebi", como muitos cristãos católicos ainda não percebem a importância da Palavra de Deus na sua vida.
Deus age na Palavra e na Eucaristia. Nós tantas vezes nos comovemos diante de Jesus Cristo Eucarístico, mas não nos comovemos diante de Sua Palavra, diante de tudo o que Ele realizou ao longo da história da humanidade. Portanto, hoje é dia de recordarmos este Deus que caminha e caminhou conosco ao longo da história, este Deus que tantos cristãos católicos perguntam onde está diante de tanta corrupção. Deus está se manifestando por meio da justiça, do direito; nem sempre como a gente deseja, mas Ele vai agindo, vai caminhando. O que não podemos é perder a esperança.
Deus também vem agindo na história desta paróquia há 77 anos, e continua suscitando no coração deste povo o sentido de pertença à igreja, de corresponsabilidade. Ainda não como nós desejamos, mas estamos caminhando. Por isso eu digo para as pessoas que, ontem, ficaram desanimadas porque não tinha gente suficiente na arrumação dos tapetes de Corpus Christi, que viram a igreja ficando vazia quando foi dando 22h, 22h30, com tanta coisa ainda para fazer: não desanime! Você foi um testemunho ontem. Tudo o que você fez e faz não é para satisfazer o padre, não é para satisfazer o ego da sua pastoral, mas é para agradecer a Deus, é para satisfazer a vontade do Senhor. E eu garanto que, pelo seu testemunho, Deus vai continuar suscitando pessoas para ajudar a nossa comunidade. Na história do povo de Israel houve altos e baixos, assim como acontece na nossa vida, familiar, social, profissional e, igualmente, na vida de comunidade. Mesmo não estando aqui todas as pastorais, olha que lindo o trabalho que foi realizado! "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles", disse Jesus [ref. Mt 18, 20]. Então, louvado seja Deus por você que dedicou o seu tempo! Por você que esteve aqui, que foi atrás das coisas, separou borra de café, trouxe areia, sal grosso, serragem... O importante é que estivemos juntos, testemunhando o quanto é importante este "caminhar juntos", como Igreja e como família.
E é o que São Paulo nos escreve na segunda leitura (1Cor 10, 16-17): "Irmãos, o cálice da bênção, o cálice que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo?" Sim! Aquilo que comungamos no altar do santo sacrifício deve nos fazer participantes dessa grande família cristã católica, na qual todos nós queremos nos sentir cada vez mais comprometidos com a causa do Reino. "Lembra-te", disse Deus, "ficaram 40 anos no deserto!" [ref. Dt 8, 2]. Há quanto tempo você está frequentando a igreja? Já vai desistir? Não, não vamos desanimar! Deus vai agir, Ele está agindo em nossa vida! Para você que está com pressa hoje, pressa de resolver algo em seu trabalho, para resolver um problema de relacionamento, um problema matrimonial, um problema com seus filhos ou com seus pais; você das pastorais e movimentos que está com pressa, calma! Acalma o teu coração. Deus age no tempo certo, no momento certo, e a história nos revela isso. Coloque a sua pastoral, a sua família, no cálice que você vai comungar hoje, no corpo e no sangue de Cristo que você vai comungar. Coloque seus anseios, suas esperanças, suas angustias, seus medos... Coloque tudo isso no Corpo e no Sangue de Cristo e deixe Jesus agir.
"E o pão que partimos, não é comunhão com o Corpo de Cristo?" Sim! Do mesmo modo. "Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão" (1Cor 10, 17). Que ao celebrarmos esta Eucaristia, participarmos da Mesa da Palavra e do Corpo Eucarístico de nosso Senhor, Jesus Cristo, possamos nos lembrar de que a história não é feita de apenas um dia, de apenas uma missa, apenas uma reunião ou apenas um diálogo; a história é feita caminhando, enfrentando os obstáculos, superando todos os desafios, ouvindo a voz de Deus e deixando o Senhor nos conduzir. Que a nossa comunidade paroquial, a cada celebração eucarística, torne-se mais unida, torne-se verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Cristo, doado em sacrifício por amor de muitos [ref. Mt 26, 26-28].
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Ano A) – 15/06/2017 (Quinta-feira, missa às 9h).

A Santíssima Trindade é nosso exemplo de amor e união a ser seguido
11/06/2017
Nós estamos celebrando a festa da Santíssima Trindade, que é a primeira festa do Tempo Comum, no qual, depois de celebrarmos a Páscoa – em que a Igreja nos convida a fazermos a nossa passagem para uma vida nova, no amor de Deus –, podemos apreciar a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo e irmos nos configurando a sua pessoa e àquilo tudo que Ele realizou, pregou e testemunhou. E a festa da Santíssima Trindade nos coloca novamente neste tempo, quando a Igreja nos convida a sermos uma comunidade de amor. Embora sejamos diferentes pessoas, nós queremos formar um só corpo para vivermos este grande amor divino.
A festa da Santíssima Trindade é muito difícil de ser explicada pois, apesar de termos muitas informações sobre Ela, mesmo após lermos tudo, nos perguntamos: o que é mesmo a Santíssima Trindade? Então, este é um mistério da fé. E mistério a gente não explica. Mas o fato é que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, embora sejam três pessoas diferentes, formam uma só pessoa na Trindade Santa. E, assim, nós entendemos que, nesta festa, a Igreja nos convida a sermos essa comunhão de amor, assim como o Pai, o Filho e o Espírito Santo o são. Viver esta comunhão de amor na nossa família e aqui na nossa comunidade paroquial.
Na sexta-feira passada, estava em reunião com os padres e nós meditamos sobre esse Evangelho. E, após falarmos de muitos modos sobre ele, um dos padres disse assim: "Eu tenho uma historinha que me contaram quando eu era criança e que me ajuda a entender bastante a Santíssima Trindade. Diz esta história que havia alguns homens caminhando no deserto, os chamados beduínos, e um deles parou e colocou o ouvido perto da areia. Então, os demais pararam e o questionaram: 'O que está acontecendo?', e ele disse que estava ouvindo o deserto gritar, pois ele (o deserto) tem desejo de se tornar floresta". Então eu perguntei para o padre o significado dessa história e ele me disse que, para o deserto se tornar floresta, precisa ser cuidado: que levemos água para ele e que, por muitos anos, nos dediquemos a esse deserto para que a areia que não tem vida possa ir, aos poucos, se transformando em terreno fértil. Deste modo é a Santíssima Trindade e o projeto de Deus em nossa vida. Porque há muitos gritando para serem uma floresta, porém possuem um coração como o deserto, sem vida. A floresta tem vida, produz seus frutos. E não se pode transformar o deserto em floresta de um dia para o outro. Deste modo, se nós quisermos transformar os corações das pessoas em floresta, é necessário primeiro que nós estejamos unidos.
O padre não faz a comunidade sozinho. Nós fazemos a comunidade juntos. Uma só missa salva? Apenas um dia de catequese resolve minha vida? Somente o dia em que celebro o matrimônio resolve? Não resolve. Precisa de tempo para Jesus ir realizando sua obra em nossa vida. E nesta dedicação de tempo para Deus, muitas vezes nos equivocamos e acabamos nos afastando do Senhor. Deste modo, entramos na Primeira Leitura, do livro do Êxodo [Ex 34, 4b-6. 8-9], na qual Moisés subiu na montanha para rezar a Deus. O povo ficou lá embaixo e muitos já tinham passado fome, sede ou ficado doentes. Então, nesta dificuldade, fizeram um bezerro de ouro para adorar no lugar de Deus. Quando Moisés desceu da montanha, ficou furioso com o povo pois haviam feito esta imagem para adorá-la. Moisés, então, os fez destruir o bezerro e voltou para a montanha, para orar e pedir a Deus a graça de como conduzir o seu povo. E, então, Deus, que estava conhecido como um carrasco, "desceu da nuvem e permaneceu com Moisés", de acordo com a leitura. Assim, Moisés reconheceu sua culpa e a do seu povo, do mesmo modo que nós, ao errarmos, devemos reconhecer nossas falhas. E Moisés disse: "Embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua".
Muitas vezes, nós somos este povo de cabeça dura. E para que Deus transforme a nossa vida, é necessário reconhecer os nossos erros, converter a nossa vida e transformar o nosso coração. Devemos nos aproximar de Deus, assim como Moisés, e reconhecer os nossos erros, deixando Deus conduzir as nossas vidas. A Moisés, Deus deu 10 mandamentos. A nós, Deus pode falar por meio de uma criança, da Santa Missa, de filmes, livros ou de alguém que encontramos ao longo de nossa caminhada. Deus quer agir em nossa vida e Ele não mede esforços para isso. O que o Evangelho de hoje [Jo 3, 16-18] nos diz é: "Deus amou tanto o mundo que enviou o seu único filho para nos salvar". Olha o tamanho do amor de Deus! Só tinha um Filho, O enviou ao mundo e Este foi crucificado por causa do meu e do seu coração duro, de pedra que por vezes não assume que está errado. Mas, segundo a Bíblia, para que nós sejamos salvos é necessário reconhecermos a nossa salvação em Jesus Cristo. E a Palavra de Deus é muito clara: quem reconhecer o nome de Jesus e tê-Lo como seu Salvador, será salvo! Mas aquele que não o fizer já está condenado.
A Igreja nos diz que Deus age na cultura das pessoas que não O conhecem de diversos modos. E também nos fala que nós, que O conhecemos, devemos assumir a responsabilidade de nossas escolhas. Quando eu estava na catequese, minha catequista ensinou o que era pecado. E eu perguntei como sabemos se pecamos ou não. E ela disse: "Quando a gente erra e não sabemos que aquilo é errado, aconteceu o pecado, mas não tivemos culpa". Se sabemos que Jesus é o nosso Salvador, por que nós, muitas vezes, não assumimos a nossa fé? Deus nos deu a liberdade, mas em meio a estas opções de escolha, devemos assumir a responsabilidade. E quantas pessoas em casa, no trabalho ou na escola não assumem que Jesus é o seu Salvador? Jesus é o nosso Salvador e não podemos ter medo de proclamar Cristo como nosso único Deus e nosso Salvador. E, neste ato de proclamar, com a nossa palavra e o nosso testemunho, procurarmos converter muitos corações para este Salvador.
Nesta busca de converter os corações, muitas vezes seremos incompreendidos. Desta forma, entendemos a Segunda Leitura [2Cor 13, 11-13]. São Paulo foi a uma cidade bem difícil, com muitas línguas e culturas. Lá, ele começou a pregar o nome de Jesus e a converter muitos corações. Após terminar sua missão nesta comunidade, foi para outro local. E este povo começou a falar mal de São Paulo pelas costas, até que escreveram uma carta para ele com as reclamações. Então, São Paulo decidiu voltar a Corinto e, ao chegar lá, conversou e disse para o povo: "Alegrai-vos no Senhor". E disse também: "Trabalhai no vosso aperfeiçoamento". Como Jesus diz em Seu Evangelho: "Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito" [ref. Mt 5, 48]. Quantas vezes trabalhamos em cima do erro do outro, mas não trabalhamos no nosso aperfeiçoamento? São Paulo disse para aquele povo começar a olhar para seus próprios erros em vez de ficarem cuidando uns da vida dos outros. E isso talvez sirva para nós também: muitas vezes falamos da vida do outro, da família do outro, do namorado do outro, do filho do outro, do partido político do outro, mas não falamos dos nossos valores, daquilo em que nosso coração precisa ser transformado. Reflita: em que o seu coração precisa ser transformado hoje? O que precisa ser aperfeiçoado no nosso coração?
E Paulo continua: "Encorajai-vos". Havia gente desanimada, e porque alguns começaram a falar mal de Paulo, outros se desanimaram. Se falam mal de outra pessoa, você vai desanimar? Não, está errado! Se falam mal da política brasileira, você vai desanimar? Não desanime! Reze para que Deus transforme nossa política. Tenha fé! A sua comunidade não vai bem? Em vez de mudar de comunidade, insira-se na paróquia e venha ajudar a transformar a realidade. Tem alguma coisa que não está boa? Procure transformar. Tem gente que vive para causar discórdia na vida do outro e nunca para unir. A Santíssima Trindade é uma comunhão de amor. Não existe discórdia na Santíssima Trindade, assim como não deve existir discórdia na família, no matrimônio, entre pais e filhos ou dentro da comunidade. Busquemos viver tudo o que a Santíssima Trindade nos ensina e, deste modo, estaremos vivendo na paz. E, uma vez em paz, poderemos, como diz o responsório de hoje [Dn 3, 52-56], louvar a Deus eternamente por tudo que Ele realiza, realizou e há de realizar em nossa história.
Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, vamos pedir a Deus que esta Trindade Santa de amor toque o nosso coração para que, assim, possamos renunciar aos desejos que nos afastam de Deus. Que possamos, como Moisés, estar próximos do Senhor e ouvir o que Ele tem a nos dizer. Que proclamando que Jesus é o Nosso Salvador, renunciemos a tudo que nos afasta da Santíssima Trindade. E, por mais que haja pessoas negativas perto de nós, possamos permanecer positivos, perseverantes, esperançosos e dando glória a Deus, deixando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo conduzam a nossa vida, a nossa família e a nossa comunidade paroquial.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade da Santíssima Trindade (Ano A) – 11/06/2017 (Domingo, missa das 10h).

Que a ação do Espírito Santo nos una em verdadeiras atitudes de fé
04/06/2017
Estamos celebrando o Pentecostes, que é a conclusão do período pascal para nós, cristãos católicos. A Festa de Pentecostes é a festa da unidade da Igreja, pois o Espírito Santo é aquele que vem para nos unir, que vem para nos dar o discernimento, é aquele que vem para abrasar, para aquecer e impulsionar o nosso coração e nossa vida, para colocarmos em prática o que Jesus Cristo, o nosso Salvador, nos pede.
A ação do Espírito Santo vai acontecer necessariamente na vida de comunidade, pois se o Espírito Santo é aquele que une, sua ação não acontecerá se estivermos isolados, e sim na vida de Igreja e comunidade, na responsabilidade da fé que nós professamos. Essa fé muitas vezes nos coloca em situações difíceis, como situações de incertezas, de medo, de cansaço e de fadiga. No Evangelho de hoje [Jo 20, 19-23], Jesus vê seus discípulos com medo e inseguros, e ao anoitecer entra pelas portas fechadas e diz a eles: "A paz esteja convosco". Por duas vezes Jesus diz isso no Evangelho de hoje. O anoitecer, na Bíblia, é sempre aquele momento de medo e incerteza, e é Jesus que vem para nos trazer a paz. E se Ele ainda repetiu, imaginem como o povo não estava inquieto!
Jesus vem trazer a paz ao nosso coração, mas o fato é: de que adiantam as palavras se nós não assumirmos o que elas significam para nós? Jesus entra pelas portas fechadas e aparece para os discípulos, mas se estes não acolhem Sua palavra, não adianta nada! Jesus apresenta a paz, mas se os discípulos não a acolhem, não tem validade alguma. Jesus está constantemente tentando acalmar o nosso coração, mas se não acolhermos Sua Palavra, ela não tem eficácia na nossa vida. Assim como vir à igreja mas não buscar colocar em prática o que Jesus nos pede; os frutos podem até vir, mas tardarão mais a chegar. É por isso que católico não pode dizer: "Pau que nasce torno, morre torto". Isso não funciona para nós, pois, para Deus, nada é impossível!
O Evangelho de hoje, junto com a Primeira Leitura [At, 2, 1-11], nos ajuda mais ainda, pois Jesus sopra sobre os discípulos, e este sopro nos recorda o sopro da criação, quando Deus sopra sobre o barro e cria o ser humano a sua imagem e semelhança. O sopro do Evangelho de João é uma recriação, é uma nova oportunidade de vivermos o projeto de Deus. Portanto, celebrar a Festa de Pentecostes é celebrar a oportunidade de nos recriarmos em Deus, pela ação do Espírito Santo, deixar Deus fazer novas coisas em nossa vida. E aprendemos onde nossa vida deve ser transformada na vida em comunidade, pois é no confronto com o outro que descubro o que deve ser transformado na minha vida, nas minhas atitudes.
Quando o Espírito Santo aparece em línguas de fogo, com ventania, para os discípulos? No dia de Pentecostes, que não é uma festa cristã, é uma festa judaica para recordar o tempo da primeira colheita, quando o povo saiu da escravidão do Egito em direção à terra prometida. Deus se utiliza de um fato histórico e concreto para enviar o Espírito Santo sobre os povos diferentes, que estão reunidos no mesmo lugar e passam a falar a mesma língua. Deus se manifesta a essas pessoas em sua língua, mas Ele se revela a todas as pessoas de algum modo. Há dois mil anos foi daquela forma. E hoje, como Deus se manifesta para nós? Como o Espírito Santo age em nossa vida hoje? A Primeira Leitura tem muitas explicações, e o fato é que Pentecostes e a Torre de Babel se contrapõem. Na Torre de Babel, o povo tentou construir um grande edifício para chegar perto de Deus e se tornar maior que Ele. Com essa soberba, o prédio desmoronou e cada um começou a falar línguas diferentes. Quando a soberba e o individualismo tomam conta do nosso coração, quando queremos ser maiores que Deus, o pecado toma conta de nós, e é o Espírito Santo que deseja nos agregar, deseja nos reunir e fazer com que, embora falando diferentes línguas em diferentes nações, falemos a mesma linguagem.
Qual é a linguagem universal? É a linguagem do amor, da solidariedade e do perdão. Se você vê alguém que fala outra língua passando fome e lhe dá algo para comer, quem não entenderá isso? Se você estiver na Índia e vir alguém machucado tentando subir uma escada com dificuldade, e lhe oferecer ajuda, ele entenderá mesmo sem falar a mesma língua.
É essa linguagem universal do amor e da solidariedade que nós, cristãos, devemos aprender a colocar em prática, deixando que o Espírito Santo da recriação vá modelando e transformando a nossa vida e a nossa história. E, nessa transformação, a vida em comunidade é fundamental para que o Espírito Santo nos conduza e molde a nossa vida. Pois, embora sendo diferentes membros, como diz a Segunda Leitura [1Cor 12, 3b-7. 12-13], formamos um só corpo, cuja cabeça é Jesus. E este corpo, embora tenha diferentes dons e carismas, caminha junto na unidade. A divisão não nos permite formar o corpo de Cristo. Quando há divisão dentro de casa, é difícil viver o Evangelho. Quando, na empresa em que trabalho, há divisão, é difícil formar um só corpo. Na paróquia que frequento, se não formarmos um só corpo, embora com diferentes carismas, se torna difícil caminharmos juntos. Por isso a importância de acolhermos a todos, indistintamente. Todos nós temos um dom para colocar à disposição desse único corpo que é Jesus Cristo, nosso Senhor.
E, assim, compreendendo essa linguagem universal do amor, queremos pedir a Deus que envie o Espírito Santo sobre nós, como cantamos no Salmo 103 da liturgia de hoje. Que o Senhor renove nosso coração e continue renovando essa paróquia de Santa Teresinha, renovando nossa disposição em servi-Lo, amá-Lo e praticar os valores do Santo Evangelho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Pentecostes (Ano A) – 04/06/2017 (Domingo, missa das 10h).

Sair em missão e fazer discípulos para Cristo
28/05/2017
Minhas irmãs e irmãos, estamos celebrando a Festa da Ascensão do Senhor, já iniciando a conclusão deste Tempo Pascal. No próximo domingo, teremos a Festa de Pentecostes, recordando o cumprimento da promessa que Jesus nos fez no domingo passado, quando disse que não nos deixaria órfãos, mas enviaria para nós o Espírito Santo Paráclito [ref. Jo 14, 15-21], Aquele que nos une, Aquele que nos impulsiona, Aquele que nos dá força para viver o projeto de Deus. Hoje, a liturgia nos faz recordar que Jesus ficou 40 dias com os discípulos após a Sua ressurreição, como ouvimos na primeira leitura [At 1, 1-11]. Na Quaresma, falávamos muito do "quarenta". E o que significa este número? Na Bíblia, quarenta é sempre um tempo de conversão, de alternância de rota, de transformação; tempo, sobretudo, de mudança de vida.
Jesus, ao permanecer 40 dias com seus discípulos, nos convida a continuar essa mudança de vida em Cristo, nosso Senhor. Mas, como em toda pedagogia, em algum momento é hora de terminar. Nós sempre precisamos, em algum momento, encerrar um ciclo para começar outro em nossa vida. E todos os anos a liturgia nos proporciona esse momento de transformação de vida. Assim, no final do Evangelho de hoje [Mt 28, 16-20], Jesus aparece pela última vez aos seus discípulos e diz a eles: "Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!" (Mt 28, 19-20a). "Ide e fazei" – no imperativo. É uma ordem, não tem conversa. É Jesus falando no Evangelho de hoje: ide e fazei! Nós somos uma Igreja missionária, nossa fé nos leva a "ir", não a ficar parados. Nós estamos em constante movimento para ir ao encontro e fazer novos discípulos para Jesus Cristo, nosso Senhor. Nesta saída em missão, somos convidados a chamar as pessoas para uma conversão de vida, batizando-as "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo".
O Batismo é sempre um batismo de conversão. Portanto, somos convidados a levar as pessoas a uma conversão de vida. E nesta conversão de vida, nós devemos ser todos pedagogos, todos professores, ensinando o outro a observar tudo o que Jesus nos ensinou. E como eu faço para ensinar as pessoas? Praticando a pedagogia do amor. Ensinar as pessoas a amar o Evangelho por amor, não por temor – porque quanta gente, ainda hoje, vai à igreja por medo do inferno... Não é para ir à igreja por medo do inferno, é para ir por amor. Quantos pais e mães dizem a seus filhos: "Não faça isso que Deus castiga!". Quantas vezes nós ensinamos as pessoas a temer a Deus, e não a amar a Deus... Temos que ensinar a pedagogia do amor. É nesta pedagogia do amor, meus irmãos e irmãs, que nós seremos batizados pelo Espírito Santo de Deus.
Jesus não nos deixa órfãos. Na semana que vem, celebraremos a Festa de Pentecostes, esta festa que deseja continuar transformando os nossos corações. Para quê? Diz a primeira leitura de hoje: para sermos testemunhas de Jesus "até os confins da terra" [ref. At 1, 8]. A nossa missão é ir pelo mundo e ser essas testemunhas do amor de Deus. Onde quer que nós estejamos, ser testemunhas. Na igreja, na Quermesse, em casa, no trabalho, no lazer, nas férias, no domingo, na quarta-feira... Todos os dias e onde quer que estejamos, ser testemunhas do Senhor. Este Senhor que é carinhoso, este Senhor que é onipotente, como nos diz o autor da segunda leitura de hoje [Ef 1, 17-23]: "Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa mencionar não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro" (Ef 1, 20s). Nós cremos, sim, em um Deus todo-poderoso, mas um Deus amoroso, um Deus misericordioso.
Isso nos faz lembrar das pessoas que chegam aqui na igreja desesperadas: "Padre, fizeram um 'trabalho' pra mim!" (trabalho, simpatia, quebranto...). Em que Deus você crê? Existe alguma força maior que Deus na tua vida? Se não existe, por que temer? É um raciocínio simples e lógico: Deus é todo-poderoso! Deus é o Deus do impossível! Se eu creio em Deus, nada do que as pessoas fazem pode me atingir. Mas nós somos atingidos por aquilo que nós permitimos. Somos nós que damos poder às palavras quando acreditamos naquilo que o outro diz. Portanto, eu devo denunciar essas coisas e colocar Deus na minha vida como sendo todo-poderoso.
E concluo com uma das principais passagens das Sagradas Escrituras – que eu amo! Quando Jesus sobe para junto de Deus, aparecem dois homens vestidos de branco e dizem: "Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu" (At 1, 11). Esta leitura nos ensina constantemente. E Lucas, quando escreve, está nos alertando que a nossa missão de cristãos é irmos nos encontrar com as pessoas que estão em nossa realidade. Não é para ficarmos só olhando para o céu, esperando Jesus voltar – e quanta gente olha para o céu, mas não consegue olhar para frente, não consegue olhar para a realidade que está diante dos seus olhos. Para sermos uma Igreja missionária, para sermos uma Igreja da justiça, é necessário olhar para frente, olhar para as coisas que nos questionam, para podermos transformá-las. De que adianta ficar olhando para o céu? Jesus foi, e Ele vai voltar! Mas, enquanto não volta, a nossa missão é ir e fazer discípulos de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Que ao celebrarmos a Festa da Ascensão do Senhor, meus irmãos e irmãs, o Espírito Santo de Deus possa nos tocar, para que aprendamos a olhar um pouquinho menos para o céu e mais para as realidades que nos questionam – na igreja, na sociedade, em casa, no matrimônio e na família. Para que, indo e observando tudo o que Jesus nos ensinou, possamos formar novos discípulos e missionários de Jesus Cristo, nosso Senhor. Que este Espírito Santo de Deus revele a verdade, a verdade que cura, que liberta e que edifica os nossos corações.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Ascensão do Senhor (Ano A) – 28/05/2017 (Domingo, missa das 7h30).

Deixemos Deus agir em nossas vidas
21/05/2017
Estamos celebrando o 6º domingo da Páscoa, fazendo a nossa caminhada nesta passagem para uma vida nova, no amor de Cristo. Meditamos os quatro primeiros domingos pascais sobre a ressurreição de Cristo – porque nós não cremos em um Deus morto, mas sim em um Deus que, passando pela morte, ressuscitou para uma vida no amor de Deus Pai. E todos nós somos convidados a fazer esta passagem. Do quinto domingo em diante, nós começamos a entender que Jesus é a porta de entrada para a nossa Salvação. E aqueles que escolhem a porta certa, encontrarão o Caminho, a Verdade e a Vida. Percorrendo esta trajetória, nós estaremos, um dia, junto de Deus, contemplando a eternidade na morada eterna. Agora, é necessário sabermos fazer esta escolha da porta certa. É necessário seguirmos o caminho que o Senhor nos propõe, descobrindo qual é a verdade que forma o nosso coração, a verdade que vai direcionando a nossa vida. A Palavra de Deus nos diz que “conhecereis a verdade e a ela vos libertará”[Jo 8, 32]. Nesta caminhada, nós vamos reconhecendo que Cristo permaneceu conosco após sua ressurreição durante 50 dias e depois subiu para sentar-se à direita de Deus Pai todo-poderoso, como dizemos na profissão de fé, todos os domingos e dias santos de guarda. Esta festa da Ascensão do Senhor será celebrada no próximo domingo. Mesmo Jesus subindo aos céus, ele nos diz, no Evangelho de hoje [Jo 14, 15-21], que não nos deixará órfãos pois enviará o Espírito da Verdade, o Espírito Santo, o Paráclito. Mas só vai fazer a experiência deste Espírito quem amar a Jesus e obedecer aos seus mandamentos. E aí vem a questão: nós amamos a Deus?
A sociedade nos fala, de modo muito eloquente e bonito – e tantas vezes poético –, sobre o amor. Mas este amor que nos é apresentado é um amor traduzido em atitudes? Quantas famílias a gente acompanha que reclamam devido ao fato que ouvem de seu companheiro que ele o ama mas não demonstra este amor! Será que o amor que nós temos por Deus também é assim? Será que, lá no fundo, talvez Deus não esteja também nos questionando sobre o amor que nós professamos com os lábios que temos para com ele mas na vida cotidiana não traduzimos estas palavras em atitudes concretas? E é gostoso quando a esposa não só fala mas demonstra o amor. No caso dos filhos para com os pais, também é verdadeiro. Quando os filhos falam que amam mas não demonstram isto, também há uma angústia. Mas quando traduzem em atitudes, nós ficamos felizes. A partir do seu testemunho e das suas escolhas, você acredita que Deus está feliz ou triste? Medite sobre isso e, a partir daquilo que seu coração sentiu, você saberá o quanto precisa transformar, converter o seu coração para receber o Paráclito pois, daqui a 14 dias, celebraremos a festa da unidade, do Espírito Santo de Deus: a festa de Pentecostes.
A Palavra de Deus nos diz: "Se me amares, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade e assim não vos deixareis órfãos". Nós não estamos órfãos, mas para sentir a ação do Espírito Santo de Deus em nossas vidas, é necessário amarmos a Deus sobre todas as coisas, sendo este o primeiro mandamento; e o segundo: amar o nosso próximo como a nós mesmos. Será que estamos conseguindo enxergar no outro a face de Jesus? Se, diante das brigas ou confusões em que nós nos metemos ao longo da nossa vida, nós víssemos Jesus no rosto do outro, nossas atitudes certamente seriam diferentes. Mesmo em casa, quando as discussões vão acontecendo, se nós lembrarmos que é Jesus que está ali, nós pensamos melhor. Pois nos primeiros cinco segundos de raiva é que saem as piores besteiras. Assim, ganhamos tempo para respirar, pensar, meditar e saber o que falar. E nesta busca, meus irmãos e irmãs, de reconhecer que Jesus é nosso Salvador, que nós fomos convidados a conhecê-Lo verdadeiramente. No domingo passado, Filipe, protagonista da Primeira Leitura de hoje [At 8,5-8.14-17], pede para Jesus mostrar-lhe o Pai. E Jesus diz para Filipe, em uma bronca delicada: "Há tanto tempo estás comigo e ainda não me conheces? Quem me viu, viu o Pai". E, então, Filipe desperta para a realidade. E depois de entender que Jesus e o Pai são um só, Filipe vai em missão à Samaria, após a ressurreição de Cristo.
Havia uma divisão histórica entre os samaritanos e os judeus. Tais povos odiavam-se. Filipe é capaz de ultrapassar a barreira cultural deste ódio, imposto pelos seus ancestrais, ultrapassar o limite geográfico e ir até a Samaria pregar a Palavra de Deus, pregar o amor. Quando nós fazemos a experiência do Cristo ressuscitado, nós ultrapassamos as barreiras que nos impedem de vivermos o Evangelho. E Filipe, neste sentido, torna-se modelo para nós, porque não fica parado e vai praticar o Evangelho da Salvação. E, ao pregar, falava com tanta convicção que, de acordo com a Primeira Leitura, todos eram unânimes em ouvi-lo. Quando eu li esta passagem, fiquei imaginando como seria bom se, quando o Papa falasse, todos nós estivéssemos atentos ao que ele nos diz. Como seria bom que nós estivéssemos atentos ao falar de nosso bispo, Dom Pedro. Igualmente bom seria se, ao final da missa, o padre perguntasse o que ele disse de mensagem e a pessoa respondesse o que foi falado. Imagine que maravilha se nossos filhos sempre nos ouvissem com atenção, se esposo e esposa escutassem um ao outro, se pais ouvissem os filhos, se estivéssemos atentos àquilo que Deus deseja nos falar por meio das pessoas que Ele coloca em nossas vidas. Nós temos que aprender que a gente não ouve só aquilo que nos agrada, mas sim aquilo que é necessário. Como no encontro de casais que aconteceu no início de maio, no qual os participantes nem sempre ouviram coisas que lhes agradavam, mas certamente muito do que foi falado serviu para suas vidas matrimoniais.
É assim nossa vida. Quando o Papa fala que o Banco do Vaticano tem que entrar em ordem ou que os padres pedófilos têm que sofrer as consequências dos seus atos, todos enaltecemos isso e apoiamos, com razão. Porém, quando o Papa fala: “você deve ouvir e respeitar seu cônjuge, deve ser presente na vida do seu filho e deve perdoar quem te ofendeu” as palmas somem. Isto porque nós não queremos nos comprometer. E esse é um grande problema da nossa vida: porque vamos ouvindo somente aquilo que nos agrada e que não toca diretamente no rumo que damos a nossa vida. E, enquanto eu não permitir que o Evangelho toque a minha vida, nada será transformado e o Espírito Santo não poderá agir na minha história.
Após deixar que a ação da graça de Deus nos edifique, é a Igreja que a confirma. Depois de Filipe pregar, vêm Pedro e João invocar o Espírito Santo para trazer a confirmação àquela comunidade de samaritanos. Por exemplo, em nossa Missa da Crisma, quem é que veio aqui na igreja? O Bispo, o sucessor dos apóstolos. Ele veio confirmar que 48 pessoas desejam ser cristãs católicas apostólicas romanas porque é a Igreja que legitima a nossa vida de fé, assim como ocorre no batismo.
Portanto, é importante deixar que a Igreja conduza a nossa vida. A Igreja, como uma mãe amorosa, só deseja o bem aos seus filhos. Mas, à medida que os filhos rebeldes não ouvem essa mãe, as consequências virão. Tudo isto por causa das nossas escolhas e porque não deixamos Deus agir em nossas vidas por meio do Espírito Santo que sopra na Igreja. Logo, é necessário, como diz o autor da Segunda Leitura [1Pd 3,15-18]: “caríssimos, santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo”. Santificar o nosso coração significa deixar Deus purificar os nossos sentimentos. Dar a oportunidade de Deus ir lavando os nossos pensamentos, as nossas palavras, as nossas atitudes. E continua: “estais sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir”. O que significa isso? Significa estarmos sempre prontos a dar resposta da nossa fé. A Igreja nos convida a sermos missionários mas, para isto, é necessário ter a coragem de buscar as respostas. E quantos católicos, pais e mães ou padrinhos não dão a resposta da fé para os seus filhos, para os seus afilhados! Quantas pessoas frequentam a Igreja e não sabem o porquê frequentam! O problema não está em não saber mas sim em não buscar formar-se.
Há duas semanas, tivemos uma formação no Santuário Nosso Senhor do Bonfim e, de nossa paróquia, estiveram presentes cerca de 70 pessoas. No mínimo, passam por aqui, em cada final de semana, entre 700 e 800 pessoas. Imaginem quantas pessoas poderiam estar ali! Ontem pela manhã, tivemos formação pastoral aqui com o Padre Felipe - que aliás foi muito boa – e estávamos em, aproximadamente, 100 pessoas. De 700 para 100, ainda somos poucos e é necessário darmos razões a nossa esperança para essa sociedade que nos questiona: “por que buscar a verdade?”, “por que casar na Igreja?”, “por que ter mais de um filho?”, “por que educar meu filho?”, “por que não deixar meu filho usar droga?”. Há tantas questões que a Igreja me apresenta e eu devo buscar ser capaz ensinar as pessoas. Um coroinha aqui esses dias me perguntou: “por que tiveram as Cruzadas e a Santa Inquisição?”. Outros me perguntam: “por que a Eucaristia é o Corpo de Cristo?”, “por que a ressurreição?”, “por que a Santíssima Trindade?”. Muitos são os questionamentos! E quantos deles nós sabemos responder?
Se a gente fosse deixar casar só quem soubesse o porquê do casamento, acredito que seriam poucos. Normalmente porque querem fotos bonitas ou porque é uma tradição familiar. Se a gente fosse perguntar para os pais e padrinhos o porquê de batizar, ouviríamos: “porque a criança não está dormindo direito”, “porque é tradição”. E este porquê está num tríplice alicerce que eu peço para todos decorarem. O primeiro são as Sagradas Escrituras, sobre as quais os nossos irmãos protestantes dizem que tudo está respondido nelas. Desculpa decepcioná-los, mas nem tudo está respondido lá. Para nós, este é o primeiro alicerce. O segundo alicerce é a tradição da Igreja de dois mil anos de história. Muitas das nossas questões dos dias de hoje a Igreja já respondeu. É só ver, com relação ao passado, o que foi respondido e atualizado para uma linguagem moderna. E o terceiro, é o Magistério da Igreja, que está constantemente nos orientando sobre as diversas questões da Ciência, da Moral, da Política. Se nós buscarmos ali, com certeza teremos muitas respostas.
Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, que nesta busca de conversão a Jesus, deixemos Deus ir convertendo nossos corações como transformou os corações de Filipe, do samaritano e de todos aqueles que se permitem estarem um tempo com Deus e com a sua Igreja. E que o Espírito Santo que virá sobre nós, na festa de Pentecostes, encontre o nosso coração aberto e disponível para a verdade que cura, liberta, edifica e santifica o nosso coração, a nossa igreja, a nossa casa e a nossa família.
Homilia: Pe. Tiago Silva - 6º Domingo da Páscoa (Ano A) - 21/05/2017 (Domingo, Missa das 10h).

O Espírito Santo conduz nossos passos e ilumina nossa vida!
14/05/2017
Estamos celebrando, meus irmãos e irmãs, neste Dia das Mães, o quinto domingo da Páscoa, em que a Igreja nos convida a fazer esta passagem, reencontrando o Cristo Ressuscitado em nossa vida. E neste Dia das Mães, por que não fazer a passagem de um recomeço na compreensão da importância delas em nossa vida e em nossa história? É necessário reconhecer a importância de Deus, assim como a importância da família e de nossa mãe no nosso crescimento, nas nossas escolhas e na nossa caminhada de fé.
O Evangelho de hoje [Jo 14, 1-12] nos diz para termos fé! É Jesus que nos pede: "Tendes fé em Deus, tende fé em mim também" (Jo 14, 1b). Acreditar em alguém é também um sinal de fé. Acreditar no esposo, acreditar na esposa, nos pais, nos filhos, é depositar nossa fé em alguém. Portanto, para fazer a primeira experiência importante de fé em nossa vida, é necessário reconhecer o que Jesus nos disse no Evangelho de domingo passado [Jo 10, 1-10]: que Ele, o próprio Filho de Deus, é a porta. Aqueles que entram por esta porta, reconhecerão o Bom Pastor e O seguirão. Este Pastor que nos diz, no Evangelho de hoje, que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Caminho que somos obrigados a trilhar para chegar a esta vida, e vida em abundância. Mas tem gente que, em vez de fazer uma linha reta para a felicidade, inventa de fazer algumas curvas. E, nestas curvas, você pode acabar se machucando diante das suas escolhas.
Portanto, se nós, ao ouvirmos a voz do Pastor e adentrarmos pela porta, deixarmos Jesus nos conduzir, reconheceremos qual é o verdadeiro caminho que devemos trilhar. E não dá para chegar a algum lugar se nós não sabemos o caminho. Não inventaram o "Waze" da fé ainda. A gente tem que saber, como no estilo antigo, pegar o mapa, o guia de ruas, folhear, ver que esta página vai para lá, esta outra para cá, direita, esquerda... Porque não tem caminho automático para a fé. É necessário saber para onde estamos indo, onde nós queremos chegar e quais caminhos iremos trilhar para chegar ao objetivo almejado. Isso serve para a nossa vida de fé em Deus, para a vida familiar, matrimonial. Isso serve para a nossa vida acadêmica, para a nossa vida profissional e também para nossa vida de fé.
Jesus diz que Ele é a verdade. E nos diz: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jo 8, 32). É necessário reconhecermos quais são as verdades. A verdade de fé em Jesus, que é o filho de Deus, que deu a vida pela nossa salvação. Reconhecer que a Igreja Católica é um caminho de salvação. Reconhecer a importância da família em nossa vida. Reconhecer a importância da nossa mãe, no dia de hoje, em nossa trajetória. Reconhecer o que, de fato, é verdade, porque somente reconhecendo a verdade, iremos resolver os possíveis problemas que podem estar nos desviando do caminho e desta vida, e vida em abundância.
É nesta dinâmica de buscar a fé que, lá em 1917, quando o mundo passava por uma grande turbulência, Nossa Senhora de Fátima, cujo centenário estamos celebrando (e no dia de ontem, 13 de maio de 2017, os pastorinhos Jacinto e Francisca foram canonizados, tornaram-se santos) aparece para indicar que, mesmo na turbulência, o nosso caminho é o caminho de Jesus Cristo, nosso Senhor. Por que não invocar a intercessão materna de Maria para nos ajudar a sair das turbulências em que nos encontramos? Por que não pedir a intercessão materna de Maria para que saiamos das guerras em que nos encontramos? Quantas famílias em turbulência, quantos casais em guerra, quantos pais em guerra com os seus filhos...
Nossa Senhora vem sempre como um sinal de paz, o que, na maioria dos casos, as mamães também o são. Enquanto está todo mundo "pegando fogo", vem a mãe colocando "panos quentes", acalmando o coração, separando aqueles que já perderam a razão. É a figura materna. Os homens e as mulheres têm, igualmente, missões importantes na educação dos filhos. Mas, neste Dia das Mães, queremos reconhecer a importância da mãe na nossa vida: a mãezinha do céu, que educou o filho, Jesus, e, ao longo destes dois mil anos, vem nos apontando caminhos quando estamos perdidos, para voltarmos para Jesus; e a nossa mãezinha terrena, aquela que vem constantemente nos ajudando a reencontrar o caminho da felicidade e, sobretudo, a termos fé e deixarmos Deus ir transformando, moldando o nosso coração. Um coração que busca a divindade, mas que ainda é um coração humano, que tem suas falhas, como vemos na primeira leitura de hoje [At 6, 1-7]: uma Igreja completamente humana, em que os fiéis de origem grega estão discutindo com os fiéis de origem judaica. E já que a Igreja Católica nos orienta a sermos também uma igreja doméstica, por que não reconhecer que, dentro das nossas casas, embora busquemos a divindade, nós também deixamos a nossa humanidade falar mais alto? E aí vêm as confusões e acontecem as incompreensões da nossa caminhada de fé. E quando não está claro o que devemos fazer, o que é que os apóstolos nos ensinam? A invocar o Espírito Santo de Deus.
Eles tinham um problema pontual: as viúvas e os órfãos estavam abandonados, porque os apóstolos não davam conta de fazer tudo – assim como o padre, na igreja, se não tiver as pastorais, não dá conta de fazer tudo sozinho; assim como, em casa, a mãe às vezes não dá conta de tudo, o pai às vezes não dá conta de tudo e o que você pede para os filhos, às vezes eles não dão conta de fazer. Por isso é necessário estarmos unidos. Problemas devem ser resolvidos, e como é que a gente resolve um problema? Chamando Deus para fazer parte! Convocando o Espírito Santo para nos conduzir! Os apóstolos rezaram, invocaram o Espírito Santo, e o Espírito Santo tocou nos corações deles para que eles escolhessem sete homens de boa fama para irem visitar essas pessoas, onde se inicia o diaconato: o serviço na Igreja. E aqui nós aprendemos o quê? Que diante das dificuldades da nossa vida, devemos invocar o Espírito Santo de Deus.
Diante dos problemas que surgem dentro de casa, você invoca o Espírito Santo? Ou vai acessar o Facebook? Já foi comprovado que se você está em crise e olha as alegrias dos outros, você entra mais em crise ainda. Então você, que já estava irritado, acaba escrevendo besteira no Facebook, e talvez a única pessoa que deveria ler a mensagem nem chega a ver, mas todo mundo já viu o que você escreveu. Quando eu tenho um problema ou uma dificuldade, eu invoco o Espírito Santo e peço que Ele me dê discernimento. Assim como na Igreja primitiva os problemas foram resolvidos colocando o Espírito Santo à frente, os problemas da nossa vida cotidiana neste terceiro milênio também devem ser resolvidos colocando o Espírito Santo à frente.
Quando O colocamos à frente, nós seguimos aquilo que o autor da Segunda Carta de São Pedro nos ensina: nos aproximarmos de Deus. Muitos, infelizmente, estão afastados do Senhor. Às vezes, a gente até vai à igreja, mas está afastado de Deus, como alguns que, vivendo a vida familiar, morando sob o mesmo teto, ainda estão afastados uns dos outros. Portanto, ao nos aproximarmos do Espírito Santo, nos aproximamos de Deus, nos aproximamos da verdade, nos aproximamos do caminho que Jesus espera de cada um de nós. E, assim, edificamos, construímos o edifício espiritual que o autor da segunda leitura [1Pd 2, 4-9] nos ensina. Construindo este edifício espiritual, podem vir as chuvas! Podem vir as tempestades! Até sentiremos, porque algumas tempestades que batem sobre nossas vidas são fortes. Mas nós não vamos cair, porque Deus e o Espírito Santo não permitirão!
Peçamos a Deus, na liturgia de hoje, que o Senhor fortaleça a nossa fé. Ajude-nos a reconhecer qual é o caminho que devemos trilhar, qual é a verdade para chegarmos a vida, e vida em abundância. Que resolvamos os problemas que se apresentam no dia a dia de nossa vida invocando o Espírito Santo de Deus e, assim, edificando a nossa fé, a nossa casa e a nossa família no edifício espiritual de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva - 5º Domingo da Páscoa (Ano A) - 14/05/2017 (Domingo – Dia das Mães, Missa das 10h).

A espiritualidade do bom pastor
07/05/2017
Estamos celebrando, irmãos e irmãs, o quarto domingo da Páscoa, dia em que a Igreja faz memória de todos os pastores e reza pelas vocações. Vocações que devem partir deste "escutar a palavra" do pastor, do compreender o que Ele tem a nos dizer e seguir os seus passos. De modo particular, rezamos pelas vocações sacerdotais, pois sem esta vocação não temos os Sacramentos da Igreja e não temos a sucessão apostólica, assim, nos falta o essencial para a vida da Igreja. Mas também, de modo abrangente, rezamos por todas as vocações: religiosas, missionárias, matrimoniais... Porque, pelo batismo, todos nós somos convidados a sermos bons pastores e cuidar das ovelhas que Deus nos concedeu. Que neste domingo de oração pelas vocações, Deus abençoe os sacerdotes, os religiosos e todas as famílias do mundo. Famílias que devem ser como Jesus: bons pastores. Famílias que, ao viverem o Evangelho, estão dispostas a irem ao encontro das suas ovelhas; amá-las, como Jesus, de modo incondicional; estabelecer relação, intimidade, amizade, carinho, compreensão, correção fraterna, paciência; para, juntos, percorrerem este caminho da salvação e da felicidade.
Todos nós temos algum tipo de ovelha para cuidar e, por isso, devemos ser bons pastores. Como os pais cuidam dos filhos, a esposa cuida do esposo, como os filhos cuidam dos pais, a todos nós Deus concede pessoas para cuidar e zelar, e esta vocação parte da espiritualidade do bom pastor. Este bom pastor que não é ladrão, não é assaltante, não entra pela porta dos fundos – como nos diz a Palavra de Deus hoje; mas ele entra pela porta da frente, onde suas ovelhas escutam a sua voz, as suas ovelhas o reconhecem e seguem os seus passos. Ser pastor significa estar atento ao que Deus nos fala e, depois, colocar em prática. Como? Com os verbos que o Evangelho de hoje [Jo 10, 1-10] nos apresenta: ouvir, conhecer e conduzir – três verbos fundamentais para nós que queremos viver essa espiritualidade do bom pastor em nossa vida. E colocando em prática essa missão à qual Deus nos convida, Ele nos convoca a sermos pastores uns dos outros.
As ovelhas estão atentas à voz do pastor. Ele fala e as ovelhas vêm correndo. Por quê? Porque o pastor cuida das ovelhas. Se ele as maltratasse, será que elas viriam até ele? Não viriam. Mas porque ele ama, elas vêm ao seu encontro. Assim, também o nosso ministério de pastorear alguém deve ser pelo amor, não pela dor. E quantas vezes nós invertemos, colocamos a dor, o medo na frente do amor... Quantas vezes, dentro nos nossos lares, agimos com agressividade em vez de agirmos com amor para com aqueles que Deus nos concedeu amar, cuidar e zelar? Quantos filhos são educados no medo e não no amor; quantos matrimônios são edificados não pelo amor, mas pelo medo de perder a pessoa querida ou algum benefício. Portanto, a espiritualidade do bom pastor coloca no nosso coração a necessidade de viver o amor e de cuidar de nossas ovelhas individualmente, reconhecendo que elas não são iguais. E, graças a Deus que não são iguais! Somos diferentes, foi dessa maneira que Deus nos criou. Ele nos ama como somos, mas deseja transformar aquilo que ainda não é perfeito em nossa vida. A própria Palavra de Deus nos ensina: "Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5, 48). Buscar a perfeição significa estar em constante mudança e amadurecimento da nossa vida, da nossa compreensão humana, religiosa e espiritual. Deste modo, nossas imperfeições devem ser trabalhadas e purificadas pela espiritualidade do bom pastor. Todos nós, mais ou menos, temos imperfeições, e à medida que vou ouvindo a voz do pastor, vou me deixando ser transformado pela sua palavra e pelo seu exemplo.
Para ouvir a voz do pastor é necessário conhecê-lo. Ninguém ama aquilo que não conhece. Portanto, eu devo conhecer Jesus Cristo, devo saber Sua história, Sua vida, Seu testemunho. Devo saber o que Ele fez e faz ao longo de toda a história da humanidade. Devo ter intimidade com Cristo, algo que conseguimos por meio da oração e do estudo da Palavra de Deus. É necessário nos aprofundarmos nessa intimidade com Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que se encarnou na história da humanidade para nos ensinar a amar; um amor que perdoa, um amor que luta, que restaura, um amor que ressuscita! É essa espiritualidade do bom pastor que devemos exercer na nossa vida familiar, profissional, pastoral. Em nossa paróquia, os coordenadores devem ter a espiritualidade do bom pastor, aquele que ama de modo incondicional; aquele que deixa as 99 ovelhas e sai em busca da ovelha perdida, desgarrada. O bom pastor vai atrás da ovelha machucada para curar suas feridas e trazê-la para perto, e só depois vai orientando, formando e edificando o seu coração.
Diz a Palavra de Deus que o pastor vai à frente e as ovelhas vão atrás, seguindo-o. Também nós, na nossa vocação de cristãos, ao sermos pastores uns dos outros, devemos demonstrar confiança a nossas ovelhas, para que elas confiem em nós. Porque palavra e exemplo devem se completar. Às vezes, temos boas palavras, mas poucos exemplos. Então, algo deve ser transformado em nossas vidas para sermos bons pastores. Se eu e você somos bons pastores, será que as ovelhas que nós conduzimos nos seguem com verdadeira convicção? Será que as ovelhas que são a nós confiadas confiam verdadeiramente em nós como bons pastores? Na sua família, as pessoas confiam em você? Se confiam, louvado seja Deus! Mas se não confiam, é porque em algum momento você as fez desconfiar das suas decisões. Então, temos também que voltar atrás, reconhecer os nossos erros, reestabelecer o relacionamento para continuarmos caminhando e demonstrando que nós podemos ser confiáveis. O pastor é aquele que, depois de estabelecer relação, conduz as suas ovelhas. E as ovelhas confiam no pastor. Se dissermos a uma criancinha: "Pule!", ela pula. Por quê? Porque ela confia no pai, na mãe ou em quem ela tem proximidade, intimidade. Deus é o nosso pastor e, de vez em quando, ele está dizendo: "Pule!", e a gente fica em dúvida. Às vezes, estamos tão perto da Salvação, mas não confiamos na voz de Deus. Talvez porque a gente não confie no nosso pastor... Se você está em dúvida, é porque algo deve ser transformado na sua vida. Pense, reze, medite para que, encontrando o que deve ser transformado, você coloque no coração de Deus e a graça do Senhor transforme a sua vida.
A Palavra de Deus nos diz: "Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Agora que sou adulto, experiente, tenho que pensar como alguém experiente" [ref. 1 Cor 13,11]. É necessário avançar para águas mais profundas; é necessário amadurecer a nossa fé, a nossa caminhada e a nossa missão de bons pastores. Bons pastores que estão constantemente a falar do Evangelho da Salvação – como Pedro que, no dia de Pentecostes, foi capaz de levantar a voz e proclamar Jesus Cristo como Salvador da sua vida, chamando todos para um batismo de conversão. O batismo não é apenas social, mas um batismo de fé, que transforma a nossa vida, nossa história, nossos sentimentos, palavras e atitudes. Esse é o verdadeiro batismo. Os padrinhos têm a missão de ensinar as crianças e ajudar os pais na edificação do coração delas. Neste sentido – palavra e exemplo –, o que Pedro nos ensina na primeira leitura de hoje [At 2, 14a. 36-41] é a sermos capazes de, ao testemunhar, sabermos falar de Cristo; e, ao falar, sabermos testemunhar esse Deus que deu a vida para nossa salvação.
A missão de todo bom pastor, de todo batizado, é pregar a conversão. E, ao nos convertermos, toda a nossa vida deve se converter em um testemunho autêntico da fé que nós professamos. Como os crismados, estes que são os novos adultos da nossa fé! Eles assumiram, sábado passado, diante do sucessor dos apóstolos – nosso bispo, Dom Pedro – que querem testemunhar a fé cristã. E precisam, agora, da nossa acolhida, do nosso testemunho, da nossa paciência e da nossa compreensão para que, sentindo-se parte desta grande família, possam ir amadurecendo a sua fé. Esta fé que deve ser testemunhada e anunciada dentro da igreja, em casa, na escola, com a namorada ou o namorado... Em todos os lugares. Para que? Para que, como diz o autor da carta de São Pedro, da segunda leitura de hoje [1Pd 2, 20b-25], as ovelhas desgarradas possam voltar para o Senhor. E eu e você sabemos que existem muitas ovelhas desgarradas... Deus deseja a nossa plena felicidade, mas enquanto não nos voltarmos para Deus de corpo e alma, fica difícil Deus transformar a nossa vida. E o autor da carta de Pedro convida esse povo triste, abatido, destruído, a voltar para Deus e reconhecer Nele o bom pastor, Salvador da sua vida e da sua história.
Ao celebrarmos esta eucaristia, meus irmãos e irmãs, sejamos capazes de reconhecer a voz do bom pastor – como no Salmo 22, da liturgia de hoje. O pastor que nos ama, o pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, o pastor que conhece cada uma desde o ventre da sua mãe e nos chama pelo nome. Para que, andando neste redil, Deus vá formando o nosso coração, a nossa vida e a nossa caminhada. Que possamos nos deixar ser conduzidos, cativados e iluminados pelo bom pastor. "O senhor é o pastor que me conduz, para as águas repousantes me encaminha" (Salmo 22).
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo da Páscoa, Dia Mundial de Oração pelas Vocações (Ano A) – 07/05/2017 (Domingo, missa das 10h).

Reconheçamos Jesus, que se faz presente em meio à comunidade
29/04/2017
Prezado Padre Tiago – responsável por esta paróquia de Santa Teresinha –, queridos crismandos, queridos irmãos e irmãs: nesta celebração eucarística, nos reunimos em torno de Jesus. Ele, que é sinalizado aqui pelo Círio Pascal. Jesus disse certa vez: “eu sou a luz do mundo”. De fato, Ele é a luz que vence as trevas da morte. Jesus é vida!
Neste Tempo Pascal, nós recordamos o núcleo da nossa fé. Jesus morreu. Ele entrou na morte, mas, lá de dentro da morte, ele a matou. Fez com que ela implodisse porque a morte não pode matar o próprio Deus. Jesus é homem, mas também é Deus! Deus-homem verdadeiro. Jesus, morrendo na cruz, nos mostrou o que é um amor capaz de dar a vida. E não foram somente o martírio, a dor e a morte de Cristo que nos redimiram, mas sim a causa de tudo isso, que é o amor de Jesus Cristo para com o Pai e para conosco. Cada um aqui é amado por Jesus. Ele já deu a vida por nós, em nome de cada um. E isso é o bastante para que nós nos reunamos – como estamos fazendo aqui – para comemorar. E o que Jesus nos pede? Que vivamos esse amor que Ele viveu ao dar-se, por nós, na cruz. O amor capaz de sair de si, do seu egoísmo, de ir ao encontro do outro, construir relações fraternas e um mundo justo. Um mundo de paz, que todos nós queremos. É difícil? Sim, é muito difícil. Mas Jesus está aí para nos ajudar.
Veja só o que o Evangelho [Lc 24,13-35] nos narra nessa conhecida passagem dos discípulos de Emaús. Depois da morte de Jesus, seus discípulos se dispersaram. Esses dois discípulos iam embora, tristes pelo caminho, lamentando pelo que tinha acontecido e dizendo: “tudo acabou; esse sonho maravilhoso que nós deslumbramos com Jesus, de um mundo novo de amor e paz, se acabou”. Mas, caminhando no meio deles, entra ali um personagem que pergunta: “por que vocês estão assim tristes, preocupados?” E dizem os discípulos: “mas você não sabe o que aconteceu em Jerusalém?” E contam o que tinha acontecido a este forasteiro, que é o próprio Jesus, o qual eles não reconheceram. Era Jesus ressuscitado, com seu corpo espiritual e eles não perceberam. Então, Jesus vai explicando as escrituras para eles e, deste modo, os olhos deles vão se abrindo, os corações se aquecendo. Ouvindo a Palavra eles vão encontrando o verdadeiro caminho de compreender quem foi Jesus e qual foi sua missão.
Já estava tarde e eles iam entrar em casa. Convidaram o forasteiro para ficar pois já era tarde. Ele aceita, entra e, na hora de tomar a refeição, Jesus parte o pão, justamente este gesto que o caracterizou durante toda a sua vida. Assim, naquele momento, eles percebem que é Jesus, mas Ele desaparece. Cristo quer nos dizer que, hoje, nós temos a missão de viver o seu mandamento do amor. Ao encontrarmos dificuldades em meio à caminhada em busca de realizar o que ele nos pede, nós temos o auxílio da Sua Palavra. A Palavra de Deus, que estamos ouvindo e meditando. Esta Palavra que nos dá força, guia, ilumina e anima nos momentos difíceis. E temos também a Eucaristia, o pão partilhado, que nos fortalece. E, mais ainda, de junto do Pai, Jesus envia o Espírito Santo que nos fortalece e nos faz vencer os obstáculos.
Quantas vezes nós estamos por aí como os discípulos de Emaús: decepcionados, tristes, na caminhada da vida? Quantas coisas impedem a nossa caminhada mais rápida para Deus! Quantas tristezas e decepções! Mas então Jesus nos aparece com a Sua Palavra. Nós encontramos Jesus na Palavra de Deus, na Eucaristia e também com o Espírito Santo que nos fortalece para fazer o que os discípulos fizeram. E o que eles fizeram? Voltaram para Jerusalém cheios de ânimo para anunciar aos outros que tinham se encontrado com Jesus. Para proclamar que Jesus estava vivo, que Ele venceu a morte. E desta mesma forma, pode vencer a morte na nossa vida e nos ajudar a construir o Reino da Vida, a Civilização do Amor, que começa aqui e vai por toda a eternidade no Reino de Deus. Jesus nos dá força. Ele está conosco e não nos abandona.
Quanto a vocês, queridos irmãos e irmãs que serão crismados, hoje é um dia importante na vida de fé de cada um. Vocês foram batizados e receberam o dom da fé, da esperança, do amor e da caridade. E hoje vocês vão receber estes sete dons do Espírito Santo, para vocês serem cristãos rumo à santidade. O que é um santo? É um cristão verdadeiro, sem falsidade. Aquele que assume a amizade verdadeira com Jesus, espera tudo dEle e não tem medo de anunciar que encontrou a felicidade no Filho de Deus. Hoje é dia de vocês aprimorarem, aprofundarem, selarem uma amizade profunda com Jesus. Não é o dia de dizer que “já fui batizado, fiz primeira comunhão, fui crismado e, pronto: agora já me formei”. Não pode fazer isto. Às vezes a pessoa é crismada e some da igreja. Não!! Agora que começa! Não existe cristão sem comunidade. Nós vimos no Evangelho que Jesus parte o pão no meio deles, que o Cristo fala com eles. Portanto, é na comunidade de fé que nós devemos participar.
Venham participar ativamente da comunidade! Tem lugar para vocês! Toda comunidade tem lugar para os que querem, realmente, se engajar e viver sua fé juntos com os demais, por meio da partilha, participação e celebração. Em primeiro lugar, a comunidade de fé não é apenas para fazer coisas. É para celebrar, louvar, bendizer a Deus como estamos fazendo aqui. E, a partir da celebração, aí sim nós vamos viver e dar testemunho, como estes discípulos que partiram o pão com Jesus e depois foram anunciar.
Meus queridos irmãos e irmãs, vamos bendizer a Deus por vocês. É um dia feliz também para a comunidade. Nós louvamos a Deus pelos catequistas de vocês que se dedicaram para prepará-los todo esse tempo. Que vocês sejam fortes, firmes, amem Jesus. Eu sei que muitos de vocês são jovens e estudam e, às vezes, lá na escola, falam: “eu sou católico, vou na missa, vou ser crismado”. E muitas dificuldades vocês devem encontrar. Porque, por vezes, na realidade que nos circunda, parece não haver mais lugar para Deus. As pessoas acham que a ciência pode explicar tudo. Não, a ciência não tem a última palavra. Ela nos ajuda demais, mas quem tem a última palavra é Deus. E nós não devemos ser ingênuos. Deus é uma presença totalizante e verdadeira. E onde Ele mora? No nosso coração.
Hoje, vocês recebem os dons do Espírito Santo e, acreditem, Ele é a força do amor de Deus para iluminá-los, para não deixar que vocês desanimem, para mostrar aquilo que realmente pode fazer vocês felizes. Às vezes, aparecem coisas que nos enganam: “faça isso que você vai ser feliz”. E o Santo Espírito de Deus nos ajuda a discernir, ver se a circunstância é verdadeira mesmo, porque as coisas, por vezes, começam bem e terminam muito mal. É preciso ter a Luz do Espírito Santo e, ao invocá-la todo dia, vocês serão muito felizes, certamente.
Homilia: Dom Pedro Carlos Cipollini (bispo diocesano) – 3º Domingo da Páscoa (Ano A) – 29/04/2017 (Sábado, Missa da Crisma, 18h30).

É na comunidade de fé que fazemos a verdadeira experiência do Ressuscitado
23/04/2017
Meus irmãos e irmãs, nós estamos celebrando o segundo domingo da Páscoa, este domingo que, para nós, é o Domingo da Misericórdia. Este domingo que deve ser, para nós, a oportunidade, caso ainda não tenhamos feito, de ressuscitarmos com Cristo para uma vida nova em Seu amor; de fazermos a nossa passagem, deixando o homem velho para trás, a mulher velha para trás, e ressuscitando com Cristo para uma vida nova. Esta vida nova que se dá, necessariamente – segundo o Evangelho de hoje [Jo 20, 19-31] – dentro da comunidade reunida.
No primeiro dia da semana, ao anoitecer, estando fechadas as portas, Jesus entra e se coloca diante dos discípulos. O primeiro dia da semana é o domingo, e é também no primeiro dia da semana que Jesus ressuscita. A noite é o momento das trevas, da escuridão; na linguagem bíblica, a noite é o momento dos desafios que devemos enfrentar. E os discípulos, além de estarem reunidos à noite, estão com as portas fechadas: estão com medo, estão inseguros. Mas Jesus, mesmo assim, adentra. E diz por três vezes: a paz esteja convosco. Jesus é aquele que ultrapassa as portas fechadas, Jesus é aquele que traz luz na escuridão – como rezamos no Sábado Santo –, Jesus é aquele que traz paz ao nosso coração. Agora, tudo isso é feito onde? Dentro da comunidade religiosa.
E por que Tomé não fez essa experiência? Porque ele não estava presente. No primeiro dia da semana, enquanto todo mundo se reunia, ele resolveu fazer outra coisa. E, é óbvio, quando terminou a experiência com Cristo, os discípulos saíram falando: "Vimos o Senhor! Vimos o Senhor! Vimos o Senhor!". Imagina a alegria deste povo, quando saiu daquela casa! Tomé, no mínimo, ficou curioso: "Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei" (Jo 20, 25b). Como algumas pessoas que eu ouvi essa semana: "Nossa, a Semana Santa foi tão bonita, pena que eu perdi". Perdeu! Só no ano que vem agora... A experiência fora da comunidade não me permite fazer verdadeiramente a experiência do Ressuscitado.
Mas, passados oito dias – Jesus poderia ter aparecido a Tomé em qualquer dia, mas esperou oito dias e apareceu de novo. Em que dia? No domingo! Onde? Na comunidade reunida! Por isso que Tomé faz a experiência do Ressuscitado, porque ele está presente na comunidade. E, aqui, nós lembramos a Catequese que é dada na Igreja: eu não posso ser católico e dizer "eu rezo em casa". Louvado seja Deus se você reza em casa! Mas a verdadeira oração está na vida de comunidade. Quem não participa da comunidade reunida não faz a experiência plena do Cristo Ressuscitado.
Jesus Cristo sopra sobre os discípulos, dando a eles a oportunidade de uma nova criação. Lá no livro do Genesis, nós ouvimos que Deus soprou sobre o barro e deu a ele a identidade de ser humano. Esse ser humano, depois, foi manchado pela culpa do pecado original e de tantas atitudes contrárias ao projeto de Deus. E neste Domingo da Misericórdia, Jesus aparece aos discípulos e sopra sobre eles, dando a possibilidade de uma nova criação: a possibilidade de uma nova experiência de Cristo, o Ressuscitado. E dando à Igreja a autoridade de perdoar os pecados. "Mas eu confesso com Deus", "Mas eu converso tanto com Deus"... Que bom, continue fazendo isso. Mas a Palavra de Deus e a doutrina cristã católica dizem que confissão verdadeira é com o sacerdote, que, agindo na pessoa de Cristo, não está para julgar, mas para ser misericordioso. O Papa Francisco, nos últimos três ou quatro anos, está insistentemente tratando deste assunto, pedindo que os padres sejam, no confessionário, misericordiosos. Porque, como Jesus, nós devemos dar a misericórdia a todas as pessoas. Acolher, curar as feridas e, depois, formar o seu coração. Portanto, como cristão católico, não posso dizer: "Confesso com Deus". Não posso, porque a fé que eu professo não me permite dizer tal coisa.
E termino o Evangelho lembrando que Jesus nos diz: "Bem-aventurados os que creram sem terem visto!" (Jo 20, 29b). Nós, meus irmãos e irmãs, eu e você, somos bem-aventurados porque cremos sem termos visto o Senhor! Quando nós nos sentimos bem-aventurados porque fazemos a experiência do Ressuscitado, a nossa vida é transformada, como foi transformada a vida dos primeiros discípulos dos Atos dos Apóstolos, da primeira leitura de hoje [At 2, 42-47], que nos diz que eles eram perseverantes. Perseverar no caminho do Senhor é uma condição fundamental para chegarmos à plenitude da felicidade e da salvação em Cristo Jesus. E neste segundo domingo da Páscoa, em que estamos todos renovamos, será que nós somos também perseverantes? Eu persevero na minha oração? Eu persevero na minha fé? Sou perseverante na minha vida matrimonial, na minha vida familiar? Sou perseverante nas coisas que eu começo (porque tem gente que começa e nunca termina o que começou, sempre para pela metade)? Sou perseverante nas minhas ideias, naquilo que a minha Igreja me recomenda? A perseverança é, meus irmãos e minhas irmãs, fundamental.
O livro dos Atos dos Apóstolos diz que eles eram perseverantes na vida de irmãos. A irmandade que se dá, sobretudo, dentro da comunidade de fé. Eles eram perseverantes na oração e na partilha dos bens, diz a Palavra de Deus. A oração é fundamental! Porque se eu não rezo, como é que Deus vai conduzir a minha vida, se eu não dou a oportunidade de Ele falar ao meu coração? Quando Jesus entrou lá na comunidade dos discípulos, com as portas fechadas, eles não começaram a gritar, mas ficaram em silêncio, ouvindo o que Deus tinha a dizer. Às vezes, externamente, nós estamos em silêncio, mas interiormente não conseguimos silenciar. Existem muitos tipos de oração e é importante que cada um descubra o seu modo de rezar. E que esta oração, ao transformar o seu coração, transforme também suas atitudes para com os seus semelhantes e para com a sociedade.
Depois, diz a Palavra que eles eram perseverantes em partilhar os bens. Não significa sair daqui, pegar a escritura da sua casa e entregar para uma instituição, mas significa não ser preso aos bens materiais. E quantas pessoas não fazem a experiência do Ressuscitado porque estão presos, aprisionados ao "ter" e não ao "ser". Quantas vezes já não ouvimos: "Ah, eu não vou à igreja porque tenho que rebocar a parede da minha casa", "Eu não vou à igreja porque tenho que formatar meu computador", "Eu não vou à igreja porque tenho que limpar a casa, tenho que lavar roupa, tenho que passar..."? Todos nós temos obrigações e deveres. Mas se Cristo é importante na minha vida, eu vou colocá-Lo como prioridade. Lavar a roupa, lustrar o carro, limpar a casa... Tudo isso pode ser feito sem problema nenhum, mas em primeiro lugar vem Jesus, Deus, a minha fé.
Um exemplo que me vem é o do meu pai, que eu admiro muito. Ele é um homem muito simples, mas uma coisa ele sempre me ensinou: Deus em primeiro lugar! Ele veio construindo a nossa casa inteirinha, e é interessante porque a gente trabalhava cedo, desde as 6h da manhã até 8h, 10h, às vezes 11h da noite. Mas no sábado, que era o dia da missa na nossa comunidade, dava 18h e ele dizia: "Para tudo!", aí nós tomávamos banho e íamos à missa. Às vezes, quando jovem, eu queria sair, queria ir para a balada. Aí ele dizia assim: "Vá, não tem problema. Mas o que você vai fazer primeiro? Missa!". E isso foi entrando no meu coração de tal maneira que, quando eu não podia ir no sábado, eu ia no domingo. Depois comecei a ajudar minha comunidade. E aí, com o tempo, mesmo com as atividades da igreja eu não deixava de ir para o banco e rezar. Às vezes eu ia a outra comunidade, sentava no último banco e ficava lá, só ouvindo. Porque a experiência de Deus na oração é fundamental na nossa caminhada de fé.
O autor da carta de Pedro, da segunda leitura de hoje [1Pd 1, 3-9], nos diz que, na experiência de Cristo, nós nascemos novamente. E a Páscoa é essa oportunidade de renascermos em Jesus Cristo, nosso Senhor. Porque, para nós, é motivo de alegria – diz o autor da carta. Por isso, ao sair da missa, se você estiver meio bronco, nem cumprimente o povo. Vá direto para casa, se acalme e depois você cumprimenta. Porque se tem uma coisa triste é ver católico saindo da igreja bravo. Aí as pessoas vão dizer: "É dessa igreja que ele veio? Eu não vou nessa igreja de jeito nenhum!". Temos que ter alegria no nosso coração! Problemas todos nós temos, mas a alegria do Ressuscitado deve ser sempre maior no nosso coração. Esta alegria que, de acordo com o autor da segunda leitura de hoje, será provada como o ouro e a prata para serem purificados. A nossa fé, meus irmãos e minhas irmãs, também será purificada, porque encontraremos desafios ao longo da nossa experiência de vida cristã católica. Mas à medida que Jesus vai separando o joio do trigo, meu coração vai se tornando puro, como o coração de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Que Jesus Cristo, manso e humilde de coração, faça do nosso coração semelhante ao Seu, para que sejamos fonte de misericórdia para aqueles que não amam, não esperam e não creem.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo da Páscoa (Ano A) – 23/04/2017 (Domingo da Misericórdia, Missa das 7h30).

Testemunhar a alegria do Cristo Ressuscitado
16/04/2017
Como igreja e família, nos reunimos para celebrar esta Páscoa do Senhor! E, como nos diz São Pedro no livro dos Atos dos Apóstolos [At 10, 34a. 37-43], somos convidados, meus irmãos e minhas irmãs, a ser testemunhas. É isto que a Igreja e Jesus nos convidam hoje: após percorrermos essa semana de passagem em nossas vidas, somos convidados a testemunhar tudo aquilo que Deus realizou pela história da humanidade, tudo aquilo que Deus tem realizado em nossa vida e nesta comunidade paroquial. Somos convidados a testemunhar que nós, cristãos e católicos, não cremos em um Deus morto, mas em um Cristo ressuscitado!
Nós, cristãos católicos, embora com muitas dificuldades, queremos levar alegria a este mundo. Nós devemos ser homens e mulheres da alegria! Homens e mulheres da esperança, da justiça, do amor, da paz, da perseverança. Por isso, ao sairmos da igreja hoje, que Jesus ressuscite a esperança em nosso coração, ressuscite a disposição de testemunharmos, no mundo, o amor de Cristo por nós e, para o mundo, que Deus ressuscitou! E, eu e você, somos testemunhas desta ressurreição, como aquelas mulheres que foram logo cedo ao túmulo e voltaram à comunidade para anunciar que Cristo havia ressuscitado.
Aqui estamos, todos nós, para recordar uns aos outros que Cristo ressuscitou. Nós não podemos – e não devemos – ser uma igreja isolada, mas uma igreja comunitária. Uma igreja familiar, em que um dá força ao outro. Nós devemos ser como aquele jovem do Evangelho de hoje [Jo 20, 1-9] que, embora com mais pique, mais disposição, esperou o idoso chegar. Às vezes estamos com muita pressa, e é necessário esperar aqueles que estão vindo. Do mesmo modo, também nos é necessário ser como Pedro, que não ficou brigando com o jovem porque ele foi à frente. Às vezes os mais idosos não têm paciência com os mais jovens... Sejam os mais jovens ou os mais velhos, todos nós devemos entrar juntos neste templo, neste túmulo, e juntos fazer a experiência do Ressuscitado: ir à comunidade e incentivar a nossa igreja a testemunhar este amor de Deus por cada um de nós.
"Cristo ressuscitou!", diz São Paulo aos Colossenses [Cl 3, 1-4], e por isso nós somos convidados a nos esforçar a buscar as coisas do alto, as coisas celestes. A nossa missão é chegar ao céu, mas não chegaremos ao céu nem buscaremos as coisas do alto se não formos capazes de ressuscitar os sonhos das pessoas que estão ao nosso redor. Uma antiga teologia cristã diz que a cruz é vertical porque une a terra ao céu, mas também é horizontal porque nos une, a todos nós, como diferentes pessoas, com diferentes dons, diferentes carismas, diferentes expressões de fé na mesma fé em Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos. Por isso, esforcemo-nos sim a buscar as coisas do alto, mas jamais, em hipótese alguma, esqueçamo-nos dessa cruz horizontal, porque Deus, o mundo, a sociedade, os mais pobres, os injustiçados, as pessoas sem voz e sem vez precisam de nós, precisam de mim e de você, os "novos cristos", os novos ungidos pelo nosso Batismo e pela Eucaristia que comungamos semanalmente, para levar ao mundo a luz do Ressuscitado, levar ao mundo a esperança de que, juntos, como igreja, com Cristo Ressuscitado, podemos transformar o mundo, podemos transformar os corações e, assim, antecipar, nesta terra, o céu que nos espera um dia na Jerusalém Celeste.
Que, como igreja, como família e como comunidade, não nos deixemos desanimar pelos percalços da nossa vida. Que as nossas diferenças de expressão de fé, de religiosidade, de idade, de compreensão de igreja, nunca nos separe. Mas, unidos na mesma música do Cristo Ressuscitado entre os mortos, saibamos, de mãos dadas, caminhar em direção à vontade de Jesus Cristo, nosso Senhor!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Páscoa (Ano A) – 16/04/2017 (Missa com Procissão do Ressuscitado, às 6h)

Jesus é a luz que ilumina e transforma nossas vidas
15/04/2017
Que alegria, meus irmãos e irmãs, podermos celebrar a passagem de Cristo para uma vida nova diante de Deus! Passagem esta que eu e você estamos celebrando neste momento à medida que formos capazes de, com Cristo, morrermos para o pecado. Nos encontramos nesta noite que, para nós, deve ser uma noite de transformação porque, com Jesus Cristo, queremos ressuscitar para uma vida nova, em seu amor. Esta é a noite em que Cristo, vencendo o mal e a morte, trouxe a libertação para todo o gênero humano e abriu caminho através do deserto da vida à terra prometida. Terra prometida não só aos batizados, mas também a todos aqueles que ouvem o chamado de Deus e deixam-se guiar, ou seja, permitem-se ser transformados pelo Senhor. Como nos diz o livro do Deuteronômio [Dt 4,24]: “o Senhor que é o fogo abrasador”. Este fogo novo que acendemos nesta noite e que há de nos iluminar ao longo de todo este ano litúrgico.
Fogo que nos ilumina e nos direciona, sobretudo quando nos encontramos trevas. E é a Luz do Senhor, do Cristo Ressuscitado, que deve dirigir o nosso caminhar. Diante das escuridões e das incertezas, nós queremos cair na tentação de desviar nossa atenção, mas devemos nos voltar para o Cristo Jesus, o Nosso Salvador! É Ele que ilumina a nossa vida. É Ele este fogo novo, capaz de purificar o ouro e a prata e que hoje deseja purificar também os nossos corações. É o Círio Pascal, é o Cristo Ressuscitado que em João [Jo 8,12] diz: ”eu sou a Luz do Mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. Se nós não quisermos andar nas trevas basta seguirmos a luz de Cristo Jesus que, com um preço muito alto, nos presenteou com a liberdade. E foi o preço da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Jesus é a luz, que é a presença viva de Cristo a iluminar nossa caminhada de povo fiel. Na infidelidade de nossas incoerências de vida, encontramos dificuldade em seguir o Cristo, luz do mundo. É a luz do Exulte, que cantamos no início desta celebração: “Ó noite de alegria verdadeira que reúne, novamente, o céu e a terra inteira”. A treva humana vai sendo tomada, pouco a pouco, pela luz de Deus. Cantamos muito bonito, como povo peregrino nesta terra. Mas aquilo que cantamos com os nossos lábios deve ressoar dentro do nosso coração.
Nesta noite, celebramos a história da Salvação, conduzida por este Deus que se revela na história da humanidade, como ouvimos nas primeiras leituras, enquanto as luzes da igreja estavam apagadas. E o Círio é o centro desta celebração eucarística, devendo sempre continuar aceso durante o ano litúrgico. Ele representa este Deus que, desde o início da história da humanidade, vem nos conduzindo, nos orientando. Tivemos há pouco a leitura da criação do homem à imagem e semelhança de Deus [Gn 1,1.26-31a]. Eu e você somos a imagem e semelhança de Deus, mas à medida que nós não nos deixamos iluminar por Cristo, à medida que as trevas vão tomando conta do nosso coração, vamos deixando de ser mais semelhantes a Cristo Jesus. Hoje, nesta noite, Deus deseja restabelecer a obra da criação. Ele, que o criou à Sua imagem e semelhança, com um coração puro, como o da criança que hoje será aqui batizada. E hoje é dia de renovarmos essa pureza do nosso coração, nesta recriação de Deus em nossa história. A recriação do mundo e da humanidade na morte e ressurreição do Senhor, como escutamos na Carta aos Romanos [Rm 6,3-11].
É o batismo, que São Paulo nos escreve. São Paulo que, depois de duas décadas da sua conversão, é capaz de expressar o significado da Morte e Ressurreição de Jesus para nós, cristãos, em três pontos essenciais. O primeiro: para São Paulo, o batismo é um mergulho. Imerge-se na morte de Jesus como passagem para uma vida nova. Mergulho que esta criança irá fazer nessa noite e que nós temos que fazer da Sexta-feira Santa para o Sábado Santo a fim de ressuscitarmos para uma vida nova com Jesus, que deseja adentrar na nossa vida, no cotidiano, dia após dia da nossa história. O segundo ponto: a fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, desdobra-se em práticas do dia-a-dia da nossa vida. Crucificar a velha criatura com Cristo Jesus, escrava do pecado para ressuscitar com Ele como criatura nova liberta de todo egoísmo e imersa na vida divina. Quais são os pecados que nós devemos crucificar com Cristo para com Ele ressuscitarmos para uma vida nova? E, por último: o batismo nos convida a uma relação íntima com o Senhor. A vida da pessoa batizada está, intimamente e decisivamente, relacionada com o próprio ser de Jesus Cristo. A minha vida e a sua estão intrinsecamente conectadas a Cristo Jesus, nosso Salvador. Ele nos perdoa de nossos pecados e, agora, é necessário que nós nos perdoemos, abracemos a ressurreição e a vida nova em Cristo e permaneçamos nessa Vigília Pascal. Deve ser característica de todo cristão batizado prosseguir e perseguir a mesma causa de Jesus, nosso Cristo e nosso Salvador, cultivando em cada um de nós o que o Deus Filho ensinou. E viver como Ele viveu: amando, perdoando, pregando a justiça, indo ao encontro dos pobres e necessitados, transformando o coração das pessoas com quem Ele se encontrava. É amando como Jesus amou e morrendo, com o Cristo, para tudo aquilo que não pertence a Deus que ressuscitaremos para uma vida nova.
Que esta celebração da Vigília Pascal renove em nós o compromisso de vivermos, professarmos e testemunharmos a fé em Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos. Cristo Ressuscitou! Aleluia, Aleluia!!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Vigília Pascal (Ano A) – 15/04/2017 (Sábado, Missa das 19h).

Morrer com Cristo para, também com Ele, ressuscitarmos para uma vida nova!
14/04/2017
Queridos irmãos e irmãs, nos reunimos neste dia santo suplicando ao Senhor que saibamos, assim como o salmista, como profeta e como o nosso Salvador, entregar a nossa vida e o nosso espírito nas mãos de Deus para que Ele nos conduza segundo a Sua vontade. A liturgia de hoje não necessita de muitas palavras, pois ela, por si só, já representa muito quando conseguimos vivenciá-la – como estamos fazendo hoje; quando conseguimos, na Sexta-feira Santa, sair da rotina do nosso dia a dia, fazer as coisas devagar, meditar sobre o amor de Deus por nós e em quanto a nossa vida precisa ser transformada para termos um coração semelhante ao coração de Jesus.
A primeira leitura [Is 52,13 – 53,12], leitura do servo sofredor, nos fala que aquele servo que se abandona nos braços de Deus será bem sucedido, porque encontrará a verdade. Ele demonstrará a verdade, como ouvimos Jesus na narração da Paixão [Jo 18,1 – 19,42] dizendo: "Eu vim para dar testemunho da verdade" [ref. Jo 18, 37]. O mesmo João, ouvindo as palavras do Mestre, nos dirá: "A verdade vos libertará" [ref. Jo 8, 32]. E, nesta tarde, nos questionamos: qual a verdade que estamos celebrando? É a verdade de um Deus que se encarna na história da humanidade e, no alto do madeiro da cruz, morre por causa dos nossos pecados. Na linguagem do profeta Isaías, "ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; [...] ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz; e suas feridas, o preço da nossa cura" [ref. Is 53, 4s].
Muitos nos chamam de masoquistas porque celebramos as dores de Cristo. Mas, na linguagem do profeta Isaías, se não fossem as dores de Cristo, nós não teríamos curadas as nossas feridas, os nossos crimes não seriam perdoados e nós não alcançaríamos a paz de espírito. Quando vivemos a Semana Santa conforme a Igreja nos pede, este é um dia de verdadeira paz para nós, pois buscamos verdadeiramente nos sintonizar nesse Cristo, o servo sofredor que dá a vida pela nossa salvação. Com Ele, entregamos nosso espírito, nossa vida, nossos corações, nossos sonhos e esperanças, pedindo que nos cure de nossas enfermidades físicas e espirituais, do nosso modo de pensar e de viver o Santo Evangelho.
Este Cristo que, segundo a narração de João, é consciente daquilo que está acontecendo. A Sua entrega, por amor a cada um de nós, é uma entrega consciente, como deve ser também a nossa entrega nesta tarde, neste dia santo. Uma entrega, a Deus, consciente de que, morrendo com Ele, nós ressuscitaremos para uma vida nova. E, para que isso aconteça, é necessário sepultarmos os nossos pecados, nossas incoerências de vida, a nossa falta de compromisso com o Evangelho, com a Igreja, com a fé que professamos e com o testemunho profético que devemos dar neste mundo dilacerado pelas trevas do erro e do pecado. Este Cristo é o sumo sacerdote eminente que eleva a Deus a perfeita oferenda. Como um cordeiro sem mancha e sem pecado, Ele dá a vida pela nossa Salvação. E como diz a segunda leitura de hoje [Hb 4, 14-16; 5, 7-9], é com esse sumo e eterno sacerdote que devemos permanecer firmes na fé que professamos. Por mais que o mundo nos chame de loucos e incoerentes, aqui estamos porque permanecemos firmes nesta fé.
"Aproximemo-nos, então" – como diz o autor da carta aos Hebreus – "com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno" (Hb 4, 16). Hoje, o trono da graça é a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cruz que iremos adorar e beijar, a cruz à qual iremos entregar a nossa vida, porque é neste Deus, que deu a vida pela nossa salvação, que nós cremos que alcançaremos a graça, alcançaremos a maior de todas as vitórias: a vitória da graça sobre o pecado! A vitória da vida sobre a morte!
Que, continuando a nossa caminhada pascal, possamos nos sepultar com Cristo para, também com Ele, ressuscitarmos para uma vida nova no seu amor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Paixão do Senhor (Ano A) – 14/04/2017 (Sexta-feira Santa, Celebração das 15h).

Jesus nos ensina que ser cristão é estar a serviço
13/04/2017
Queridas irmãs e irmãos, que alegria nos encontrarmos depois de percorrermos esta longa jornada da caminhada quaresmal para celebrarmos o Tríduo Pascal e o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor! A nossa alegria se torna ainda mais intensa porque vejo no meio da assembleia pessoas que retornaram à igreja para esta Quinta-feira Santa. Meu coração se alegra, ainda mais, porque há aqueles que nunca estiveram em uma celebração da Quinta-feira Santa e aqui estão esta noite. Que bom que você veio! Que bom que você atendeu o chamado de Jesus para percorrer estes três dias fundamentais da vida de nosso Salvador. Que esta passagem do Nosso Mestre e Senhor seja também a nossa passagem para uma vida nova, no amor de Cristo. Para vivermos o serviço e praticarmos o Evangelho da Salvação.
Na noite de hoje, meus irmãos e irmãs, Jesus sabe que será traído por um daqueles que está ao seu lado. É nessa noite que Jesus, no Horto das Oliveiras, vai chegar a transpirar sangue. Logo após isto, Nosso Mestre ainda será preso e irá para a cadeia de Caifás, onde será insultado por causa de nossos pecados. Mas não estamos aqui para falar das situações difíceis – ao menos, não agora – porque hoje, nesta noite, Jesus institui o sacramento do amor, a Santa Eucaristia que, para nós, é fonte de salvação. E Jesus institui nesta ceia o sacerdócio ministerial, ou seja, o papel do padre, para exercer sua função de serviço no meio da comunidade. Serviço que também era o papel dos doze apóstolos, que estão aqui representados por novos coordenadores de nossa comunidade. Lembrando que, há cerca de 2 anos, tínhamos cerca de 10 pessoas conduzindo todos os trabalhos da igreja e Deus suscitou do meio de vocês, do meio da assembleia, novas lideranças, que também devem buscar servir como Jesus Cristo Nosso Senhor serviu aos seus discípulos: no amor, na verdade, na compreensão.
A Palavra de Deus hoje, na Primeira Leitura, do livro do Êxodo [Ex 12, 1-8.11-14] vai nos falar deste amor de Deus que, mesmo com nosso pecado original e com o povo se esquecendo de Deus e caindo na escravidão, não nos abandona na escravidão do Egito. Ele suscita dois líderes – Aarão e Moisés – para conduzir este povo em direção à liberdade. É Deus que vai suscitando no meio da história da humanidade, diante de situações pontuais ou complexas, homens e mulheres que vão conduzir aqueles que lhes estão confiados em direção à liberdade. Muitos que aqui estão são líderes dentro de casa – esposo, esposa, pai, mãe, arrimo de família. Portanto são convidados também a conduzir sua casa, sua família, as pessoas que você ama em direção à libertação. E por mais que pareça fácil arrancar alguém da escravidão, nunca é. Sobretudo quando ela é mais psicológica do que física, o que acontece muito, ainda mais em nossa sociedade atual. E esta Palavra nos diz, então, que devemos estar atentos, prontos para aquilo que Deus nos diz.
Você está pronto para ouvir o que Deus tem a lhe dizer? Em várias circunstâncias Deus fala conosco, mas Sua Palavra passa batida porque nós não estamos atentos ao que o Senhor nos fala. Em muitas situações, não cumprimos com o que o Senhor nos pede. No caso desta leitura, o Senhor pedia para o povo matar um cordeiro, assá-lo, partilhá-lo e, depois, marcar suas portas com o sinal de filhos e filhas de Deus por onde o Senhor iria passar. Ali, Ele iria preservar todos aqueles que estivessem com a porta de casa marcada. Hoje, o Senhor quer marcar a porta do nosso coração com um sinal visível para ele, não para as pessoas. Porque, por vezes, estamos mais preocupados com o que os outros vão falar de nós do que em nos apresentarmos verdadeiramente para o Senhor. Será que nós podemos deixar Deus marcar o nosso coração esta noite? Este Deus deseja marcar o nosso coração para que possamos ser conduzidos pela Sua graça e pelo pastor que está nessa comunidade, que hoje sou eu mas, amanhã, pode não ser mais. Que qualquer pastor que esteja aqui nesta comunidade possa vos conduzir em direção à liberdade, em direção à salvação! Liberdade que pode se apresentar diante de nós para que saiamos às pressas. E, muitas vezes, por estarmos aprisionados a pessoas, conceitos ou situações, nós não conseguimos deixar nosso passado para trás e permanecemos na escravidão. Sendo assim, todo sacerdote deve conduzir aqueles que lhe estão confiados para a liberdade. E nós, no dia de nosso batismo, alcançamos como graça de Deus um sacerdócio real. Eu e você somos sacerdotes pelo nosso batismo. E é importante recordarmos isso, como já frisamos em outras celebrações. Como sacerdotes, devemos levar a bênção para as pessoas e sermos um sinal de Deus na vida uns dos outros.
Como Jesus Cristo, Nosso Senhor, que mesmo sabendo que seria traído, é capaz de celebrar a última ceia com os seus discípulos. Mas, antes de celebrar a última ceia, Jesus nos dá o mandamento do amor-serviço, de lavarmos os pés uns dos outros, até mesmo daqueles que, porventura, possam nos trair. Será que, quando sabemos que alguém vai nos trair – ou, pelo menos, não está de acordo com aquilo que nós pensamos –, nós tratamos estas pessoas do mesmo modo ou já lançamos sobre elas o nosso preconceito? O preconceito nos afasta uns dos outros e do amor-serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo, como mostra a liturgia de hoje, que nos ensina a sermos servos uns dos outros, de nos colocarmos a serviço aos pés uns dos outros. Esta ação, no tempo de Nosso Senhor, era função dos escravos. E o que Jesus nos pede nas entrelinhas? Que sejamos escravos uns dos outros. Ou seja, que nos coloquemos em atitude de serviço e de amor. Lavemos os pés uns dos outros sem esperar nada em troca. O sacerdote, onde quer que ele esteja, deve exercer seu ministério sem esperar nada em troca. Uma curiosidade, por exemplo, é o primeiro título do Santo Padre, o Papa. Muitos falam que ele é o monarca, que ele é o superior da Igreja Católica. Mas vocês nunca devem ter ouvido que ele é chamado de “servo dos servos”. Este é o primeiro título do Papa. O apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo tem este título e quer ensinar também a todos nós a servirmos uns aos outros como estes apóstolos que hoje aqui estão e vão se deixar lavar os pés. Todos nós devemos nos colocar a serviço porque uma liderança na igreja não é para o nosso status, mas sim para nos colocarmos a serviço. Estes novos coordenadores devem se inspirar no amor-serviço daqueles que possuem mais tempo de caminhada na liderança das pastorais. Para servir, nós deixamos de lado as nossas arrogâncias e amarguras para colocar o Amor de Deus em primeiro lugar. Assim como, dentro de nossos lares, não devemos nos sentir superiores, mas sim servos uns dos outros. Nos sentirmos sacerdotes, no sentido de ser aquele que se coloca o tempo inteiro à disposição para ouvir como um bom pastor, para orientar, para curar as feridas e, de vez em quando, puxar a orelha, porque também faz parte. Quem ama, educa. Quem ama, corrige.
E Nosso Senhor Jesus Cristo atuando como escravo, se colocando como servo, também nos corrigiu. E embora nós nos emocionemos com o amor-serviço de Cristo, quando Ele deseja nos corrigir, nós tapamos os ouvidos e o nosso coração para o que Ele tem a nos dizer. Seja através do Papa, do nosso bispo, do padre da paróquia Santa Teresinha, dos nossos coordenadores, da nossa esposa, esposo, pais e até de nossos filhos, deixemo-nos ser corrigidos por todos. A experiência de Jesus Cristo Nosso Senhor, como São Paulo realizou, nos transforma. Melhor dizendo, nos dá a grande oportunidade de fazermos a experiência da transformação da nossa inteligência e das nossas atitudes. Paulo, de perseguidor dos cristãos, se torna perseguido por causa do Evangelho. Se torna, por Jesus, servo dos servos. Este Paulo, que vê na Eucaristia não apenas uma simbologia – como muitos católicos, infelizmente, ainda veem: um pedacinho de pão, um pouquinho de vinho. Não é uma simbologia, não é uma mera rememoração ao que aconteceu cerca de 2000 anos atrás. Mas, na linguagem de São Paulo: “isto é o meu corpo, isto é o meu sangue”. Ou seja, em cada eucaristia, independente dos pecados do sacerdote e da comunidade que celebra a eucaristia, é o próprio Cristo que celebra sua última ceia e que, por amor, se dá em alimento a cada um de nós.
E, ao celebrarmos a última ceia de Jesus, não podemos deixar de reconhecer que, em muitas situações, nós não temos a devida atenção ao Senhor e não reverenciamos a Santa Eucaristia como deve ser feito. Que, por vezes, não nos aproximamos da Eucaristia com verdadeiro amor, com o coração aberto e purificado a fim de aceitarmos aquilo que o Corpo e Sangue de Jesus Cristo Nosso Senhor deseja transformar em nosso coração, na nossa mente e nas nossas atitudes. Que ao celebrarmos o amor-serviço de hoje, possamos estar atentos ao que o Senhor nos pede. Que possamos deixar que o nosso coração seja marcado com o sinal sagrado. O sinal indelével, que ninguém pode retirar, a não ser nós mesmos se rejeitarmos o amor de Cristo. Que sejamos como o povo de Israel, atentos para sairmos às pressas para atravessar o Mar Vermelho, deixando as nossas escravidões e passado, alcançando a graça da liberdade, que nos convida a viver o amor – não o amor sentimental, mas o amor-serviço. Um amor coerente com a fé que nós professamos. Que o santo sacrifício da Eucaristia de Jesus Cristo Nosso Senhor, no alto do calvário, não seja em vão. Porque foi por este Cristo que nós alcançamos a verdade e a graça da salvação. Que ao nos aproximarmos da Eucaristia hoje, sejamos como Paulo, transformados pela graça de Deus nas nossas atitudes e na nossa inteligência com um testemunho que nos qualifica como embaixadores de Cristo para aqueles que não creem, não amam e não esperam.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Ceia do Senhor (Ano A) – 13/04/2017 (Quinta-feira, Missa das 20h).

Que esta Semana Santa seja nossa Jerusalém!
09/04/2017
HOMILIA EXTERNA:
Meus irmãos e minhas irmãs, aqui nos encontramos, nesta praça, para, publicamente, darmos início à principal semana de nossa fé cristã e católica, a mais importante para todos nós. Porque Cristo toma a firme decisão de entrar em Jerusalém e dar a Sua vida pela nossa salvação, pela remissão dos nossos pecados e para abrir as portas da eternidade, onde todos nós queremos um dia gozar da alegria de estar com Cristo Jesus – nosso Deus! Nosso Salvador! –, com nossos antepassados, com os anjos e com todos os santos.
Jesus, diferente de um rei humano, é um rei divino. Aquele que entra em Jerusalém montado num jumentinho. É com um sinal de humildade que o Cristo Jesus inicia Sua entrada naquela cidade. Que todos nós, reconhecendo o quanto necessitamos ser humildes em nossas atitudes, em nossas palavras e em nosso testemunho de vida cristã e católica, entremos também em nossa Semana Santa. Que esta Semana Santa seja para nós – em casa, no trabalho, na escola, nos lugares que frequentamos... – a nossa Jerusalém. Mas que saibamos, com todos os cristãos católicos, acompanhar Jesus até o alto do Calvário. Que não gritemos apenas "Hosana, hei! Hosana, há!" no início desta semana mas O abandonemos ao longo de Seu caminho até a ressurreição.
Nós não acreditamos em um Deus morto, mas em um Deus vivo! Em que a ressureição só é possível após a morte. Portanto, que ao percorrermos este caminho em direção ao Calvário, possamos ir depositando sobre o sepulcro os nossos pecados, as nossas falhas, as nossas incoerências de vida, para que, ao ressuscitarmos com Cristo no próximo domingo, possamos, de fato, ressuscitar para uma vida nova no amor, na misericórdia e na compaixão de Deus.
Que o Senhor nos auxilie ao longo desta semana. Que o Senhor olhe pelo nosso Brasil, pelos poderes políticos, Judiciário, Legislativo... Que o Senhor olhe por este mundo que está pregando a guerra. Que o Senhor visite os povos escravos, visite aqueles que estão na pobreza. Que o Senhor nos ajude, a todos nós, a deixarmos o sepulcro e ressuscitarmos para uma vida nova em Seu amor!
HOMILIA INTERNA
Hoje iniciamos a principal semana de nossa fé, quando Cristo, nosso Senhor, no oferecimento de Sua vida, redime os nossos pecados e abre as portas do Paraíso para cada um de nós. Esta semana deve ser, para nós, meus irmãos e irmãs, um divisor de águas. Porque, a cada Semana Santa, a cada Páscoa, a Igreja nos convida a deixarmos o homem velho para trás, a mulher velha para trás, e ressuscitarmos com Cristo para uma vida nova!
Nosso Senhor toma a firme decisão de entrar em Jerusalém sabendo que aquele povo que O aclamou gritando "Hosana ao filho de Davi!" será o mesmo povo que, dias depois, gritará "Crucifica-o! Crucifica-o!". Jesus entra em Jerusalém na firme decisão de dar a Sua vida pela nossa salvação! Que esta Semana Santa seja, para nós, também esse momento de tomarmos uma firme decisão; de deixarmos de vivenciar um cristianismo morto, descompromissado, e, com Cristo Jesus, assumir o nosso compromisso profético – compromisso profético que o quarto canto do servo sofredor, da primeira leitura de hoje [Is 50, 4-7], nos convida a refletir. Como o profeta Isaías e como Jesus, eu e você somos convidados a sermos profetas. E o profeta é aquele que está atento à voz de Deus, o profeta é aquele que está atento ao que acontece ao seu redor e, diante das injustiças, das situações contrárias ao projeto de Deus, não se cala, o profeta fala. Portanto, que o Senhor abra os nossos ouvidos hoje. Que o Senhor nos dê a graça de sabermos falar da verdade, da justiça e da salvação.
Isaías nos diz: "O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida" (Is 50, 4a). Como o profeta, nós devemos reconhecer que Deus nos dá língua para falar de amor, de justiça, e não para ficar fazendo fofoca, para ficar apontando o dedo para os erros dos outros e falando mal das fragilidades alheias, para olharmos para o nosso Brasil e simplesmente reclamar de tudo o que acontece e não sermos capazes de lutar por uma sociedade mais digna, mais fraterna, igualitária. O Senhor nos dá língua para falar da verdade e do amor, e não para ficar reclamando de tudo que acontece dentro de casa. Porque reclamar é fácil. Mas o que fazer para transformar as realidades?
No emprego, muitas vezes somos assolados pelo desânimo, porque vamos na mesma onda de quem não tem fé, que só fica reclamando do chefe, da empresa, que o país está um desastre, que a política não presta... Mas o que nós fazemos para transformar isso? Em casa, eu sou capaz de chamar o outro para uma conversa, para dialogar, ou eu só reclamo? Na empresa, quando me é dada a oportunidade de falar algo, eu falo ou me calo? Na sociedade política, quando tenho a oportunidade de dar o meu voto, eu voto branco? Eu voto nulo? Eu vou para as urnas sem saber em quem vou votar? Depois não adianta ficar reclamando, porque, na oportunidade de ter feito algo, você não fez. Portanto, que o Senhor renove a nossa disposição de falar, mas falar de modo a transformar as coisas, não a fim de colocar mais ódio no coração das pessoas, de desmotiva-las, de reduzir aqueles que erraram a uma situação ainda mais baixa do que já estão.
Isaías continua: "Ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo" (Is 50, 4b). Na compreensão do profeta, é Deus quem nos desperta. E é Ele quem vai preparando o nosso ouvido para ouvir o que deve edificar o nosso coração. Como é que nós acordamos todos os dias? Correndo? Já estressados, gritando? Ou nós rezamos? Levantamos com calma, respiramos, fazemos a nossa oração, dizemos: "Senhor, toma conta do meu dia", "Senhor, eu vou cuidar das minhas crianças agora, dai-me paciência", "Senhor, terei um dia atribulado na empresa, me ajude"? Mas, na medida em que eu levanto desenfreado, vou para o banheiro, tomo banho, faço as coisas e sequer recordo que Deus é Aquele que me despertou, Aquele que me dá a graça, a oportunidade de um novo dia, como é que eu vou lembrar que Deus estará ao meu lado?
A nossa fé não deve ser uma fé somente de Semana Santa, mas deve ser uma fé onde Deus nos acompanha nos 365 dias do ano, onde Deus nos acompanha os sete dias da semana, as 24 horas do nosso dia. Deus está conosco, mas somos nós que, muitas vezes, não prestamos atenção. Este Deus, meus irmãos e irmãs, que abre os nossos ouvidos para que nós não resistamos a Sua Palavra e nem voltemos atrás. Deus está constantemente falando conosco, por meio de um amigo, de uma frase, de um convite, de uma criança, de pequenos sinais; mas quando não estou sintonizado com Ele, como faço para entender o que "Aquele que fala" fala ao meu coração? Portanto, se eu não for capaz de ter uma língua profética, se eu não for capaz de ter um ouvido profético, um coração profético, eu não consigo profetizar neste mundo desiludido de Deus, eu não consigo profetizar neste mundo desiludido de justiça, neste mundo que não mais defende os valores familiares e cristãos.
Quando olhamos para Jesus que vai ser crucificado pela nossa salvação e lembramos que Ele é profeta, lembramos que também a nossa fé nos faz entrar em Jerusalém e enfrentar os desafios do nosso Calvário, assumir a nossa cruz todos os dias e carregá-la. E não é fácil carregar a nossa cruz. Mas quando estamos imbuídos do espírito profético, as palavras de Isaías tocam o nosso coração – ele que diz: "Conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado" (Is 50, 7). Quando Deus está à nossa frente, quando temos convicção dos valores que devemos pregar e testemunhar, o nosso rosto se torna um rosto de pedra, para que, ao nos baterem, quem quer que seja, não desviemos, mas permaneçamos firmes em nosso propósito de testemunhar os valores de nossa fé; os valores de nossa política, tão desrespeitada por pessoas incoerentes, que deveriam estar nos representando no Congresso. Temos, graças a Deus, pessoas que ainda lutam lá dentro. Mas se eu e você perdermos a esperança, nada vai transformar o nosso mundo! Não existe mágica, o que existe é uma ação profética que deve transformar de dentro para fora. E eu digo isso a você porque conheço pessoas que, dentro do sistema político, ainda que com uma única voz, estão lutando para transformar o nosso país. E se nós não educarmos as nossas crianças para lutar por um país mais justo e fraterno, o que será do Brasil no futuro? Se nós perdermos a esperança de que nossa família pode ser transformada, o que nos resta a não ser assinar o divórcio (o que Deus não deseja para nós)? Se nós nos deixarmos desanimar pelos 13 milhões de desempregados do nosso país, o que nos resta? Sentar e chorar? Você que é crescido sabe que sentar e chorar não resolve os nossos problemas. O que resolve é se levantar, colocar-se de pé e enfrentar o Calvário, enfrentar os desafios e transformar a nossa realidade.
Foi com este pensamento que o profeta Isaías profetizou; é com este pensamento que Jesus entra em Jerusalém. E é com este pensamento que eu convido você, meu irmão e minha irmã, a percorrer conosco o caminho desta Semana Santa. Muitos serão os nossos obstáculos, muitas serão as tentações que quererão nos impedir de chegar a esta igreja ao longo desta semana. Mas se nós enfrentarmos os desafios, eles serão superados!
O Cristo Jesus que fez o Seu aniquilamento; o Deus que não fez do Seu ser uma usurpação, mas abriu mão de Sua condição divina para se tornar homem igual a mim, igual a você, nos diz que, na nossa humanidade, nós podemos ser santos, nós podemos ser profetas se deixarmos Deus conduzir a nossa vida. E é por isso que São Paulo nos diz que "todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: 'Jesus Cristo é o Senhor' para a glória de Deus Pai" (Fl 2, 10s).
Que ao findar desta Semana Santa possamos proclamar com maior convicção, com maior testemunho, com maior amor que Jesus Cristo é o Nosso Senhor! Que Santa Teresinha do Menino Jesus nos proteja ao longo desta semana, para que as cruzes, os obstáculos ou a subida do Calvário não nos desanimem; para que, com Jesus, na Sua Páscoa, façamos, também nós, a nossa passagem para uma vida nova no amor de Cristo.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Ano A) – 09/04/2017 (Domingo, Missa das 9h30).

Jesus te chama pelo nome para que vivas conforme a vontade do Pai!
02/04/2017
Estamos celebrando o 5º domingo da quaresma, que é o último deste período que antecede a Semana Santa. Se você vai viajar, não se esqueça de ir à missa onde quer que você esteja. No mundo ideal, o cristão católico não viaja na Semana Santa: ele permanece em sua comunidade para celebrar o principal mistério da nossa fé, que é a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
A liturgia de hoje deseja nos mostrar – depois de Jesus dizer que ele é a água viva que sacia toda a sede para aquela mulher samaritana e depois de, como vimos domingo passado, Jesus curar aquele cego de nascença – que Jesus vai realizar o seu mais importante milagre: a cura, ou melhor, a ressurreição de Lázaro. Mas, antes de falar sobre Lázaro, lancemos nosso olhar para a Primeira Leitura [Ez 37, 12-14]. Estamos no ano 597 a.C. e o povo tem como governante, o Rei Joaquim, que é um bom rei, porém não conseguiu impedir a invasão de Nabucodonosor. Este dominou Jerusalém e levou todo o povo de Israel para o exílio da Babilônia. Lá o povo fica desanimado porque, anteriormente, tudo estava bom e próspero e, então, perderam as suas riquezas e pessoas amadas, que ficaram em Jerusalém. E é neste contexto que Ezequiel tem uma visão na qual o povo de Deus é como um morto em uma vala, onde já as pessoas já não têm mais carne nem pele, somente os ossos. E são a esses ossos que Deus vai restaurar, regenerar e dar uma segunda oportunidade para viver o seu projeto de amor. Agora, não é como aquele Espírito Santo de Gênesis, capítulo 2, quando Deus molda o ser humano do barro e dá a ele o sopro da vida. Agora, Deus sopra sobre o povo de Israel, dando a eles a graça de ressuscitar, ou renovar a sua caminhada para que a esperança seja revitalizada e eles possam voltar para Jerusalém, a sua terra natal. Talvez nós, hoje aqui, sejamos esse povo e estejamos perdendo a esperança em algo importante para nós como por exemplo, alguns que estão com problemas familiares ou de saúde.
Esta semana, nosso país bateu um novo recorde negativo. Agora temos 13 milhões de desempregados. Quantos pais e mães estão perdendo a sua esperança de poder levar o pão de cada dia para o seu lar? Talvez você esteja com um problema familiar, matrimonial ou no trabalho. E todos nós passamos por dificuldades. Mas, diante dos problemas, nós desanimamos ou ouvimos a voz de Deus ressoando em nossos corações? O sopro de Deus nos tocando, regenerando nosso coração, nossa vida, matrimônio, sonhos e esperanças para nos levantarmos e lutarmos para retornar a nossa Terra Prometida, local da nossa felicidade. É neste sentido que o profeta nos diz: “quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor”. Deus deseja abrir a sepultura em que nos encontramos seja ela do medo, da indiferença ou da ignorância, na qual ficamos por acreditar que somente nós temos a solução dos problemas, ou que somente nós sabemos resolver tudo nesta vida. O profeta ainda diz: “porei em vós o meu Espírito, para que vivais, e vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço”.
Nós temos um Deus que cumpre com as suas promessas. Ao longo da história da revelação, tudo que Deus nos prometeu, ele cumpriu. Sendo assim, aqui vem uma pergunta: nós, cristãos católicos, cumprimos com todas as promessas que fazemos? Os padrinhos estão conscientes de suas promessas? Os casais que prometeram amor e fidelidade estão conscientes da promessa que fizeram? Os casais de noivos que desejam se casar estão conscientes das promessas que vão fazer? Os agentes de pastoral estão conscientes das promessas que fazem diante de Deus, de levar com seriedade esse trabalho apostólico e evangélico missionário? Será que nós cumprimos com a nossa missão de sermos um povo santo, unido e missionário e que leva o amor, a misericórdia e a compaixão de Deus a todas as pessoas? É necessário recordarmos as nossas promessas, renovarmos o nosso compromisso e nunca perdermos a esperança.
Há dois anos, tínhamos poucas esperanças de que, no nosso país, os políticos pudessem sofrer as consequências da sua irresponsabilidade política e jurídica diante do povo brasileiro. E agora estamos vendo que isto está acontecendo. Deus vai agindo através dos seres humanos e, portanto, não podemos nunca perder a esperança. O Papa Francisco, quando foi eleito, nos disse em sua primeira carta: “não vos deixeis roubar a esperança”. Quando perdemos a esperança, perdermos tudo e nos tornamos como aquele povo de Israel: nas covas, com os ossos ressequidos. E é Deus, nesse Evangelho de hoje [Jo 11, 1-45], que deseja soprar em seu coração esta nova oportunidade de levantar e caminhar de volta para a Terra Prometida, onde Jesus prega a palavra do Senhor seis séculos depois quando o povo já havia esquecido o quanto Deus agiu na historia da salvação.
Cristo passou nos povoados dando sinais da sua graça e fazendo milagres de cura. Mas ainda faltava um milagre fundamental: a ressurreição de Lázaro. Vemos Jesus já percorrendo povoados vizinhos e, então, ele toma a firme decisão de ir até Jerusalém. Decisão esta que nós também devemos tomar na nossa vida. Cristo olha para Jerusalém e sabe que lá vai sofrer sua Paixão e Morte e, graças a Deus, ressuscitará. E está firme na decisão pois sabe que precisa caminhar e enfrentar o calvário.
Estamos no final da Quaresma. Será que nós tomamos a firme decisão de cumprir com a vontade de Deus? Ou desistimos diante dos obstáculos? Próxima semana, vivenciaremos o Domingo de Ramos e vamos cantar alegremente “Hosana ao filho de Davi”. É Deus que vai entrando na cidade de Jerusalém. E poucos dias depois, o mesmo povo vai gritar “crucifica-o, crucifica-o”, demonstrando a nossa incoerência de fé. Mas este Cristo que deseja transformar no nosso coração, não é incoerente. Ele olha Jerusalém, mira e vai. E, antes de chegar lá, para em Betânia, uma cidade onde os viajantes costumavam parar para descansar. Nesta cidade, Jesus tem três grandes amigos, Marta, Maria e Lázaro. Antes de chegar em Betânia, Jesus sabe que seu amigo Lázaro está morrendo e, então, tem que tomar outra firme decisão importante: ir ao encontro do seu amigo e restaurar sua saúde ou deixá-lo morrer. O que nós faríamos? É uma decisão difícil, pois Jesus sabe que o povo precisa de mais um grande sinal, talvez o mais importante antes de sua ressurreição. Então Jesus espera dois dias e Lázaro morre. Após isso, vem Marta ao seu encontro e diz: “Senhor, se tivesses estado lá, meu irmão não teria morrido”. E, de fato, era verdade. Jesus tinha restaurado a saúde de tantas pessoas então por que não foi ao encontro de Lázaro, que era seu amigo? Porque Jesus – e o contexto do Evangelho nos diz isso – precisava esperar para que aquele povo cresse que ele é verdadeiramente o filho de Deus e tem o poder até mesmo de ressuscitar os mortos. E assim, Jesus, quatro dias depois, chega em Betânia. Ao chegar, ouviu novamente a reclamação sobre sua ausência, desta vez de Maria. Diferente da primeira vez, Jesus vê o povo chorando e também chora. Este é o único relato bíblico em que isso acontece. Lázaro era seu amigo, mas o projeto de Deus é ainda mais importante do que esta amizade. Jesus, depois de chorar, vai ate onde Lázaro está sepultado e pede que a pedra seja retirada. E a tradução do grego diz que Cristo gritou, falou com voz forte: “Lázaro, vem para fora”.
Esse “vem para fora” significa ouvir a voz do Messias, a voz do Salvador. Esta voz que todos nós precisamos ouvir para ressuscitarmos com Cristo para uma vida nova e que muitas vezes não ouvimos, diante de tantos barulhos na nossa vida. Deus está falando conosco e nós não ouvimos. Talvez não consigamos pois estamos vivendo uma linguagem errada, como dito por Paulo na Segunda Leitura [Rm 8, 8-11], “estamos vivendo segundo a carne, e não segundo o Espírito Santo de Deus”. Aquele Espírito que soprou em Gênesis, que soprou também em Israel. Esse Espírito Santo de Deus que sopra sobre todos nós que somos templos vivos do Espírito Santo de Deus! Enquanto eu não vivo segundo o Espírito, estou vivendo conforme a carne. E quando estou vivendo segundo a carne, estou vivendo de acordo com o pecado e, assim, não ouço a voz de Deus.
Que ao comungarmos nesta celebração eucarística, possamos sentir o Espírito Santo de Deus soprar sobre nós. Que possamos, como Lázaro, ouvir a voz do Senhor nos chamando pelo nome e dizendo no nosso coração, “vem para fora”. Você, que por qualquer motivo está nas trevas, no túmulo, ou está com seus ossos ressequidos com a falta de esperança, deixe o Senhor chama-lo pelo nome. Venha para fora! Venha viver uma vida segundo o Espírito, venha viver uma vida conforme a vontade de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quinto Domingo da Quaresma (Ano A) – 02/04/2017 (Domingo, missa das 10h).

Deus deseja transformar as nossas atitudes e o nosso coração
26/03/2017
Hoje estamos celebrando o quarto domingo da Quaresma, tempo no qual, por meio dos exercícios do jejum, da oração e da caridade, buscamos a conversão do nosso coração. E é importante recordarmos que o Tempo da Quaresma é o tempo de despertamos para a necessidade da conversão não só do nosso coração, mas também dos nossos comportamentos e das nossas escolhas. É por isso que São Paulo, fazendo um jogo de trevas e luz, vai nos dizer no final da segunda leitura de hoje [Ef 5, 8-14]: "Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá". Despertar para uma vida nova é condição para todos nós que buscamos a conversão do nosso coração, a conversão da nossa mentalidade e a conversão do nosso comportamento.
Na primeira leitura [1Sm 16, 1b. 6-7. 10-13ª] nós temos Samuel, o escolhido por Deus para identificar quem seria o novo rei de Israel. Ele vai à casa de uma família cujo pai tem sete filhos; dos sete, seis ficam para se apresentar. Pegam, então, o mais alto, o mais bonito, o mais forte – Eliab – e já colocam-no de frente para Samuel, que o vê e pensa: "Tem que ser este! Alto, forte, bonito, robusto. Este vai ser um bom rei!". Mas Deus fala em seu coração: "Será que estes são todos os filhos que este homem tem?". Samuel questiona o pai, Jessé, que diz existir ainda um outro filho, que estava na lavoura, cuidando dos afazeres. Mas era o filho mais novo, o mais 'fraco', o menos experiente... Ele pede que o chamem, e quando Davi entra na casa, Deus fala ao coração de Samuel: "Este é o escolhido! Este é digno!", porque "Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração" (1Sm 16, 7b).
E, aqui, nós refletimos: nós, cristãos, julgamos uns aos outros pela aparência ou vemos as pessoas pelo coração? É normal escutarmos: "Eu não gosto de fulano. Não sei por que, mas não fui com a cara dele". Também, não nos aproximamos para conhecer o outro! Não damos a oportunidade para ele mostrar suas qualidades, mostrar com o que pode contribuir em nossa vida... Quantas oportunidades já perdemos ao longo de nossa vida porque não demos chance às pessoas?
Se Samuel não tivesse seguido a voz de Deus, talvez o povo de Israel não tivesse conseguido tantas conquistas. Davi, aquele menino pequeno, 'magrinho', torna-se um grande guerreiro! A história nos conta, até mesmo, que foi o pequeno Davi quem derrotou o grande Golias. O reinado de Davi foi o único capaz de unir as doze tribos de Israel. O que nenhum rei, até então, havia conseguido, aquele menino 'mirradinho', 'bicho do mato', conseguiu fazer! Quantas vezes, nestes dois anos em que estou aqui nesta paróquia, já não rezamos para escolher uma coordenação; nem sempre acertamos, mas, às vezes, as pessoas dizem: "mas ele?" e, então, a pessoa começa a transformar aquela pastoral, aquele movimento, começa a apresentar dons que nem sequer nós havíamos visto.
Portanto, é necessário começarmos, em primeiro lugar, a ouvir a voz de Deus; em segundo lugar, aprender a julgar as pessoas com os critérios de Deus, não com os nossos critérios humanos; e, em terceiro lugar, dar oportunidade para que as pessoas demonstrem os seus dons, seus carismas, suas qualidades. Tudo pelo benefício da construção do Reino e de uma sociedade mais justa e mais igualitária, esta sociedade que diz ser justa, diz buscar a igualdade, mas que, muitas vezes, exclui as pessoas, sobretudo os pequenos, os pobres, os doentes.
Como no Evangelho de hoje [Jo 9, 1-41], em que um cego de nascença está perto da piscina de Siloé, vivendo de esmolas – porque o povo judeu excluía os pecadores, até mesmo aqueles que, na mentalidade da época, carregavam a culpa de seus pais, pois acreditavam que, quando os pais pecavam, passavam para os filhos carregarem seus fardos e estes vinham com alguma deficiência: coxo, aleijado, cego... Porque seus pais pecaram ou eles mesmos poderiam ter pecado dentro do ventre da mãe (não entendo como!), e aí Deus castigava. Imaginem, hoje, se nossos filhos fossem carregar os nossos pecados... Ou se fossem ser flagelados ou sofrer alguma coisa por causa dos nossos pecados... Pois esta era a mentalidade daquela época.
Aquele homem, que é excluído pela mentalidade da época, também é excluído porque é impedido de trabalhar, então fica ali, na beira do templo, pedindo esmolas. E os discípulos, aproximando-se e vendo este homem, questionam Jesus: "Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?" (Jo 9, 2), e Jesus aponta a primeira barreira, dizendo que ele não tem culpa dos pecados de seus pais. E faz lama, coloca nos olhos daquele homem e faz com que ele volte a enxergar, mas só depois de ir à piscina de Siloé. O que eu gosto aqui no texto deste evangelista é que não é simplesmente tocar: mágica, está curado! Primeiro, a pessoa teve que acreditar e, depois, que ir ao templo se lavar. Se aquele cego não tivesse acreditado nas palavras de Jesus, talvez só tivesse passado a manga da camisa nos olhos e ido embora. Mas não, ele foi até a piscina! Quantas vezes Deus nos pede para irmos à piscina e a gente não vai…
Ao voltar, este homem dá testemunho, mas não ainda por reconhecer que Jesus é o Messias. Como muitas pessoas que chegam à igreja. Encontram-se, têm um sentimento bonito, mas ainda não entenderam que Jesus não é um mago, não é uma alma caridosa... Jesus é o Messias! Ele é o nosso Salvador! Isto deve ser claro para cada um de nós.
Depois, os fariseus perguntam àquele homem o que está acontecendo, e começa toda a discussão do porquê de ele ter nascido daquele jeito, por que ele foi curado, de que ele foi curado, por quem etc. etc. E aí os pais entram na história. Quando procurados e interrogados, eles respondem: "Nós não sabemos de nada! Perguntem a ele mesmo, que já é maior de idade" [ref. Jo 9, 21]. Não porque desconfiavam do filho nem porque estavam contentes de o filho voltar a enxergar – aliás, o evangelista não fala, em nenhum momento, que os pais ficaram felizes pelo filho ter voltado a enxergar. Mas sabe por que os pais disseram para irem falar com o filho deles? Porque todo aquele que professasse que Jesus era o Messias era expulso do templo e expulso da cidade.
Se lhe perguntarem qual é a sua fé, você, tendo o risco de ser expulso, vai assumi-la ou vai dizer: "pergunte à minha esposa, é ela quem me traz aqui na igreja" ou "pergunte aos meus pais, pois foram eles que me trouxeram e até hoje estou frequentando; não entendo o porquê, mas já faz 70 anos que venho, então vou continuar"? Não é assim. Primeiro, nós não devemos renegar a fé; segundo, devemos enfrentar as consequências das nossas escolhas, não lavarmos as mãos entregando ao outro a responsabilidade de uma fé que todos nós professamos.
Para concluir, este homem se encontra com Jesus novamente e, aí sim, entendendo que Jesus é o Messias, prostra-se diante Dele, reconhece-O como seu Salvador e passa a segui-Lo. A primeira transformação é física, porque ele deixa de ser cego, mas a segunda é a mais importante, porque é o seu coração que se transforma! Às vezes, nós passamos por transformações físicas mas não por transformações espirituais, e é por isso que São Paulo diz para a comunidade de Éfeso: "Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá" (Ef 5, 14). São Paulo fala para aqueles homens e mulheres que, embora dizendo seguir a Cristo, permanecem nas trevas do medo, nas trevas da ignorância, nas trevas dos comportamentos contrários ao projeto de Deus.
Ao celebrarmos esta eucaristia – no Domingo da Alegria! – possamos todos nos alegrar, porque Cristo vem ao nosso encontro, cura nossas enfermidades físicas e, sobretudo, deseja curar nossas enfermidades espirituais, para que, despertando para uma vida nova no Senhor, possamos, de fato, converter a nossa vida e o nosso comportamento.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quarto Domingo da Quaresma (Ano A) – 26/03/2017 (Domingo, missa das 7h30).

É Jesus quem sacia todas as nossas necessidades
19/03/2017
Nós estamos celebrando o 3° Domingo da Quaresma e, hoje, é dia 19 de março, dia de fazermos memória a São José, o patrono da igreja, o pai adotivo de Jesus. E, na figura deste homem, queremos pedir a Deus que nos faça como ele, atentos à Palavra de Deus. Que, como São José, saibamos interpretar o sinal que o Senhor nos faz, através do qual Ele nos envia para assumirmos a nossa vocação, a nossa missão e cumprirmos com aquilo que Deus espera de cada um de nós. Que em nossa vocação de sacerdote, de pai, de mãe, sejamos fiéis a Jesus. Que nos dons que Deus nos concedeu – seja de carpinteiro, médico, advogado, dentre tantos outros – cada um, na sua vocação, possa colocar-se a serviço de Jesus. São José, que enfrenta os obstáculos da vida para cumprir com o chamado de Deus, seja nosso mestre e intercessor nessa caminhada que percorremos, eu e você, para praticarmos a vontade do Senhor que, muitas vezes, esbarram nas nossas incompreensões ou na nossa mentalidade de escravos. Deus nos deu a liberdade pelo sacrifício da cruz. A cruz de Jesus é a nossa salvação. A vitória de Cristo sobre o pecado e a morte nos dá a graça da liberdade. Mas uma liberdade que deve ser usufruída no cotidiano da nossa existência.
Na Primeira Leitura [Ex 17, 3-7], nós temos o povo de Israel que está no deserto – assim como nós estamos no deserto desta quaresma – em busca da terra prometida e porque faltou água eles se revoltam contra Deus e queriam apedrejar Moisés a tal ponto de ele precisar chamar 70 homens para lhe ajudar, tamanha a fúria do povo. Mas vamos entender o contexto: há pouco tempo, o povo estava na escravidão do Egito e lá, todo dia, rezavam para que o Senhor os libertasse daquela situação. Eles pediram e Deus ouviu. Enviou Moisés e libertou o povo. Logo no primeiro dia em que o povo estava saindo do Egito, surgiu o primeiro obstáculo: o Mar Vermelho. E alguns já se revoltaram falando que o Senhor os havia levado até lá para morrer pois os soldados estavam logo atrás deles. E o Senhor fez o povo passar através do Mar Vermelho. E o povo agradeceu esta graça e disse que o Senhor era muito bom, maravilhoso, fazendo até cantos com muita alegria. Continuada a caminhada, dado que eles não se prepararam, o alimento veio a faltar. E quando a comida já estava faltando, voltaram a reclamar que, no Egito, eles possuíam carne, pão além de outros alimentos enquanto que, ali, eles estavam morrendo de fome. Blasfemam contra Deus. E o que Deus faz? Envia o maná, o pão que cai dos céus. O povo acorda e, ao ver tal milagre, brada novamente o quanto Deus é maravilhoso e continuam a caminhar. Em um momento seguinte, veio a faltar água e, pela terceira vez, o povo blasfema contra Deus. Por quê? Porque ainda tinham uma mentalidade de escravos.
Quantas vezes nós fomos agraciados por Deus com tantas maravilhas, mas ainda assim nos revoltamos contra o Senhor! Porque talvez nós tenhamos essa mentalidade de escravos e não assumimos a nossa responsabilidade e liberdade de fazer a nossa travessia caminhando e enfrentando os obstáculos do deserto. Obstáculos e desafios que todos nós devemos enfrentar. Ou será que em todos os obstáculos que acontecem em minha vida eu vou blasfemar contra Deus? Essa é uma pergunta para você! Mas na medida em que eu fecho o meu coração, aquilo que Deus realiza em minha história passa desapercebido. Por isso cantamos no Salmo 94: “hoje não fecheis o vosso coração mas ouvi a voz do Senhor”. São José não fechou o seu coração, ouviu a voz de Deus, enfrentou os desafios e se tornou um exemplo de pai, de esposo, de fiel testemunha do projeto de Deus. Projeto este que é para cada um de nós e deve nos ajudar a superar os obstáculos ou, sobretudo, mentalidades que, muitas vezes, nem nossas são. São de familiares, de amigos e outras pessoas que vão colocando ideias contrárias ao projeto de Deus em nossa vida.
Nesse contexto, podemos entrar no Evangelho de hoje [Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42] que, aliás, é um evangelho longo. Ele começa em 721 a.C., quando o povo de Jerusalém é invadido e escravizado no exílio da Babilônia. Para lá eles vão e ficam apenas 4% da população dos Judeus. Ficam apenas os idosos, os doentes, os aleijados, as pessoas que não teriam serventia para os babilônios. Esse povo ficou sozinho, sem defesa nenhuma. O que os outros povos fizeram? Vieram e tomaram posse do lugar. O que aconteceu? Começaram se conhecer, a casar, a terem filhos. E esse povo que veio de fora trouxe culturas diferentes, deuses diferentes e outras coisas mais. Mas muitos judeus ainda permaneceram fiéis. E como quem espera sempre alcança, Deus libertou o povo do exílio da Babilônia e aqueles 96% agora voltam com seus filhos, netos, tataranetos. Voltam querendo a terra de volta pois entendiam que aquele lugar era de posse deles, inclusive alegando que os atuais habitantes eram pagãos e incrédulos por não terem permanecidos firmes e se misturado com outras culturas. Queriam reconstruir o templo mas não deixaram fazer isto e ainda expulsaram o povo dali. E o que este povo fez? Foram para um outro monte e construíram um templo mais simples para eles. No ano 6 d.C, este outro templo também é destruído. E é nesse contexto de oito séculos de discórdia que Jesus vai e senta no poço, do qual uma mulher samaritana se aproxima e Jesus diz para ela: “dá-me de beber”. A mulher disse: “pedes a mim que sou uma mulher samaritana?” Em primeiro lugar, naquele tempo, um homem não poderia pedir a uma mulher. Em segundo lugar, ela era uma samaritana, a quem os judeus odiavam. É aí que Jesus rompe a barreira e estabelece um diálogo com essa mulher. E, neste diálogo, Jesus vai apresentar quem é a verdadeira água da vida. Aquela água que há de saciar toda a nossa sede, seja ela espiritual, material ou emocional. Jesus é exatamente essa água viva! E quando a mulher entende isso ela, automaticamente, quer voltar para casa, para anunciar aos seus amigos que ela conheceu o Salvador. Quando ela pede desta água, Jesus diz: “Tudo bem, me traga seu marido”. E ela diz: “Mas senhor, eu não sou casada”. E Jesus disse: “Disseste bem, porque os seu cinco ex-maridos não são seus maridos”. E aqui existem muitas explicações, muitas teologias, mas a que eu mais gosto é a interpretação de que estes cinco maridos não eram exatamente cinco homens, mas sim cinco deuses que os samaritanos começaram a adorar na ausência do povo de Israel. E estes cinco outros deuses não são capazes de saciar a sede daquela mulher assim como o Deus vivo e verdadeiro que enviou o Seu Filho amado pela nossa Salvação.
Ele é a fonte da água viva. Nenhum outro Deus, nenhuma outra religião, expressão religiosa ou cultural pode saciar a nossa sede. E então a mulher vai para a casa e o povo sai correndo para ver quem ele é. Encantam-se com Jesus, que fica dois dias com eles. E, no final deste evangelho, eles dizem: “já não cremos por causa das tuas palavras (da samaritana), pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo”. Quando fazemos a experiência de Deus, queremos anunciar para o mundo que Ele sacia toda a nossa sede. Jesus sacia todas as nossas necessidades e o povo fica curioso para saber quem é Jesus. Mas é necessário que cada um faça sua própria experiência. Assim como pedimos para que cada pai e padrinho eduquem essas crianças apresentando Jesus para elas. Deste modo, no dia do crisma, elas já podem dizer: “Não precisamos mais das suas palavras porque fizemos a experiência real e verdadeira de Jesus”.
Quantas pessoas vieram para a igreja um pouco desconfiadas? O que aquele padre vai falar? O que vai acrescentar em minha vida? Em que a comunidade de Santa Teresinha pode me ajudar? Vieram meio desconfiados, tem gente que até nunca chegou perto do padre. E depois que vieram e fizeram a experiência de Deus, hoje são pessoas perseverantes. Essas pessoas fizeram a experiência da água viva, experiência a qual você é convidado também a fazer! Algo que para o mundo lá fora pode ser idiotice, pode ser algo estranho. E aí que São Paulo escreve a Carta aos Romanos [Rm 5,1-2.5-8], dizendo que é a fé que justifica a nossa luz. É pela fé que aqui estamos e trabalhamos nessa comunidade. É pela fé que nós procuramos transformar este mundo que, cada vez mais, sofre com a ausência de Deus. É a fé que nos justifica, nos qualifica e nos impulsiona, assim como impulsionou a São José. Acreditar nas palavras e nos sonhos de Deus, acreditar em sua vocação de que poderia ser um bom pai, um bom trabalhador e um bom missionário das causas do Reino de Deus.
Que o Espírito Santo do Senhor nos seja favorável para que deixemos de buscar outras águas e busquemos a verdadeira água, que sacia toda a nossa sede.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Terceiro Domingo da Quaresma (Ano A) – 19/03/2017 (Domingo, missa das 10h).

Confiar em Deus para irmos aonde Ele nos enviar
12/03/2017
Nós estamos celebrando o segundo domingo da nossa caminhada quaresmal e da nossa busca de conversão para vivermos o projeto de Deus. A liturgia de hoje nos convida a ouvir a voz do Senhor, deixar que Ele conduza a nossa vida e, configurando o nosso coração, ser um sinal do Seu amor e da Sua salvação aonde quer que Ele nos envie, assim como Abraão o fizera, quando, na terra de Ur, dos caldeus, foi capaz de ouvir a voz do Senhor. Mesmo em uma terra pagã, mesmo com pessoas que não acreditavam, Abraão ouve a voz de Deus; sai de sua terra, vai para uma terra desconhecida, onde não conhecia ninguém, e, deixando-se ser conduzido por Deus, ali constrói uma família, edifica uma nação para o Senhor, da qual eu, você, todos os cristãos, todos os judeus, todos os muçulmanos fazemos parte. Nós fazemos parte desta mesma família na qual nosso pai na fé, Abraão, nos conduziu para terras desconhecidas para ali edificar a fé no Deus único, no Deus verdadeiro.
A figura de Abraão nos faz refletir, meus irmãos e irmãs, sobre estarmos atentos a ouvir o chamado do Senhor. Porque, diante de tanto barulho, quanto nós ouvimos da voz de Deus? E quando somos capazes de ouvir, nós temos coragem, despojamento para nos deixarmos ser conduzidos? Para que o Senhor nos envie aonde Ele quer, e não aonde nós queremos? Para deixar que Deus conduza a nossa vida? Para sermos capazes de confiar em Deus? Porque Abraão sai de sua terra e deixa sua família na confiança, simplesmente confiando que Deus iria lhe prover uma casa, um sustento, amigos e uma família. E assim acontece. Muitas vezes, nós dizemos que confiamos em Deus e, quando acontece alguma coisa em que precisamos demonstrar a nossa confiança no Senhor, ficamos parados, temos dificuldade em responder a esse chamado.
Portanto, hoje, a Igreja nos convida a ouvir a voz do Senhor, ir aonde Ele nos envia – e cada um de nós é enviado, em algum lugar (em casa, no trabalho, aqui na comunidade, na sociedade), a viver o projeto de Deus – e, assim, confiarmos também em Deus. Que Ele há de prover, há de nos sustentar, há de nos amparar diante da missão que Ele confia a cada um de nós. Nesse sentido, o Evangelho de hoje [Mt 17, 1-9] traz a figura de três homens que confiaram bastante em Jesus: Pedro, Tiago e João. Confiando, largaram tudo e foram seguir o Senhor. Mas não basta seguir Jesus, é necessário deixa-Lo transformar a nossa vida, transformar os nossos pensamentos, transformar as nossas atitudes, purificar o que, em nossos pensamentos e atitudes, está equivocado quando se fala do projeto de Deus.
Para entendermos bem este Evangelho, Jesus chama Pedro, Tiago e João e os leva ao Monte Tabor. Como toda vez que Jesus ia ao monte era para rezar, eles assim o fizeram. Estavam lá rezando e, de repente, Jesus se transfigura! E a voz de Deus aparece dizendo: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!" [Mt 17, 5b]. Mais do que rapidamente, Pedro – que era o mais próximo de Jesus, o mais velho e mais íntimo do mestre – diz: "Senhor, vamos fazer três tendas! Está tão bom aqui. Deus apareceu, o senhor está aqui e, se não bastasse, ainda tem Moisés, representando a tradição, e Elias, representando os profetas. Está maravilhoso aqui, por que iríamos embora? Vamos fazer três tendas: uma para Ti, uma para Moisés e outra para Elias" [ref. Mt 17, 4]. E, aí, é claro que Jesus não permite que isso aconteça.
E para entendermos por que Jesus não permite que isso aconteça, vamos lembrar um pouquinho quem é Pedro. Pedro é aquele que se torna chefe da Igreja, mas só depois de dar algumas mancadas – como muitos de nós quando ingressamos na comunidade, que achamos que sabemos tudo e precisamos ir aprendendo aos pouquinhos. Quais foram as mancadas mais clássicas de Pedro? A primeira foi a negação [ref. Mt 26, 69-75]. Como se não bastasse uma vez, ele negou Jesus por três vezes! E tem uma segunda mancada bem clássica de Pedro, quando Jesus fala que tem que sofrer, tem que ser flagelado, tem que morrer e que vai ressuscitar no terceiro dia pela nossa salvação. O que é que Pedro fala? "Senhor, isso jamais vai acontecer com você!". E o que é que Jesus responde a Pedro? "Afasta-te de mim, satanás, porque tu não pensas como Deus, mas como os homens. Tu és uma pedra de tropeço" [ref. Mt 16, 21-23]. Olha quem Jesus levou com Ele ao Monte Tabor!
Agora, vamos falar de Tiago e João. Muito devotos, obedientes à mamãe sobretudo. As mães, muito santas, sempre querendo o bem dos filhos... Certa vez, quando os discípulos estavam se confraternizando, a mãe de Tiago e de João, mais do que depressa, disse para Jesus: "Senhor, meus filhos estão te seguindo, coloca um a tua direita e um a tua esquerda no Reino". E Jesus, então, diz a ela: "Filha, desculpe, mas não compete a mim, e sim a meu Pai dizer quem sentará a minha direita e a minha esquerda" [ref. Mt 20, 20-23]. E aí nós entendemos que Tiago e João não estão seguindo Jesus porque Ele é o Salvador, mas talvez porque lhes dava status, aparência, fama.
Daí vem a pergunta: foi privilégio subir com Jesus ao Monte Tabor? Ou foi para "puxar a orelha" dos três que Jesus os levou consigo? E eu lhe faço, agora, uma outra pergunta: se fosse você, Jesus tinha lhe chamado para subir na montanha ou para ficar lá embaixo? A tua resposta dirá o quanto você precisa se comprometer com o Evangelho de Jesus Cristo. Porque se for para você subir, muita coisa precisa ser transformada no seu coração, no seu modo de pensar e de agir.
Depois: monte, montanha, lugar alto. Na Bíblia, isso sempre faz referência a um lugar de oração, lugar de encontro com Deus. E foi também um monte o lugar da transfiguração, lugar da Teofania – palavra difícil para dizer que Deus se manifesta na história dos homens e das mulheres. A igreja, para nós, é o nosso monte. Saímos de casa e vamos à igreja para rezar, para orar, para nos encontrarmos com Deus, para nos emocionarmos, para refletir, para sermos transformados. E muitos, quando encontram Jesus, são iguais a Pedro, querem fazer "tendas". Nunca iam à igreja e, de repente, querem ir todos os dias, inclusive nos feriados. E acham ruim quando a igreja está fechada. Mas, passados um, dois, três meses, cadê o "devoto", cadê o "cristão convertido"? Não passou de mero sentimentalismo, mera emoção – como, muitas vezes, alguns o fazem no dia do seu matrimônio, no dia do batizado dos filhos... Dizem se comprometer, mas acabam não se comprometendo. E quantas outras promessas fazemos mas não nos comprometemos...
Subir ao monte sempre é importante; fazer a experiência de Deus é maravilhoso; sentir-se transfigurado, regenerado, restaurado em Jesus Cristo é uma experiência inenarrável para qualquer ser humano. Mas não podemos parar por aí. Devemos descer da montanha e ir aonde Jesus nos envia, onde está a verdadeira missão do cristão comprometido com o Evangelho da Salvação. Ser cristão no monte é fácil; ser cristão aqui dentro da igreja é fácil. Mas e ser cristão em casa, ser cristão no trabalho, ser cristão com os amigos, ser cristão onde vamos passear e nos confraternizar? É ali que o mundo precisa.
É a experiência que São Paulo faz ao ser transformado por Jesus. Ele abandona sua vida, como fez Abraão, e vai aonde Deus o envia. Em uma de suas missões, encontra um jovem muito tímido, muito acanhado, com vários problemas de saúde, chamado Timóteo. Mesmo assim, Timóteo deixa sua mãe, deixa seu pai, deixa sua família e vai para as viagens missionárias com São Paulo. E é capaz de se submeter a uma cirurgia, uma circuncisão, para não escandalizar àqueles judeus que estavam se convertendo ao cristianismo. É capaz de deixar Paulo seguir para outras viagens e assumir a sua responsabilidade de cristão adulto na fé. E é neste contexto que Paulo escreve para ele, dizendo: "Caríssimo, sofre comigo pelo Evangelho" – pois ele estava doente – "fortificado pelo poder de Deus. Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras" – que são importantes, mas não são fundamentais – "mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus desde toda a eternidade" [2Tm 1, 8b-9]. Nós somos chamados à santidade. Nós somos chamados à liberdade. Nós somos chamados, meus irmãos e irmãs, à responsabilidade com este Evangelho da Salvação.
Que a liturgia de hoje nos convide, todos nós, a destamparmos os nossos ouvidos para ouvir o que Deus tem a nos dizer; deixarmo-nos ser conduzidos, como Abraão, como Pedro, Tiago, João, como São Paulo, como Timóteo; sairmos da nossa zona de conforto, onde talvez esteja muito cômodo viver o Evangelho. E, deixando-nos ser conduzidos, confiar que a Graça de Deus nos sustentará, nos amparará e nos direcionará, como cantamos no Salmo 32. Que a Graça do Senhor nos conduza no deserto desta Quaresma, para que, por meio dos exercícios espirituais do jejum, da caridade e da oração, possamos nos comprometer com Jesus, com Seu Evangelho e com a prática da justiça.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Segundo Domingo da Quaresma (Ano A) – 12/03/2017 (Domingo, missa das 10h).

Que saibamos reconhecer e valorizar o paraíso em que vivemos
05/03/2017
Estamos vivendo o primeiro domingo da Quaresma, onde a Igreja nos convida a diminuirmos um pouco o passo e lançarmos um olhar para dentro de nós mesmos para aquilo que precisa ser convertido. Todos nós, mais ou menos, precisamos nos converter; buscar um coração semelhante ao de Jesus. Alguns podem questionar por que, na Quaresma, a Igreja fica tão triste. Na verdade, a Igreja não está triste, nós acreditamos em um Deus ressuscitado! Mas este é um tempo de diminuirmos o passo e lançarmos um olhar reflexivo para dentro de nós. Por isso, a cor litúrgica é o roxo, que é a cor da penitência; por isso, também, não temos Hino de Louvor na celebração, os cantos devem ser mais tranquilos... Diminuímos tudo para nos ajudar a refletir. Assim como os exercícios espirituais da consagração, do jejum e da caridade. Estes três devem nos ajudar, ao final desta Quaresma, a sermos melhores cristãos, seguidores do nosso Salvador, Jesus Cristo.
Por isso, a liturgia de hoje nos convida a renunciar ao pecado, a não querermos ser maiores do que Deus, a sermos capazes de dizer "não" àquilo que nos separa do amor do Senhor e a deixar de dar desculpas pelos nossos pecados, pois ganhamos a graça da liberdade pela Paixão, Morte e Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo no alto do calvário. Na Primeira Leitura (Gn 2, 7-9; 3, 1-7), temos as figures de Eva, Adão, a serpente e o Paraíso. Esse texto foi escrito, bem provavelmente, no século X a.C. – um dos últimos livros do Pentateuco a ser escrito, muito possivelmente no tempo do Rei Salomão –, e está repleto de imagens simbólicas, signos escondidos, que se referem à Mesopotâmia, a outros países, a outras culturas. Lançando um olhar atualizado sobre a Palavra de Deus, nós podemos refletir que, muitas vezes, estamos no Paraíso, mas não estamos contentes; e, aí, vem alguma serpente perto da gente e começa a falar em nosso ouvido, como falou no ouvido de Eva. Fala algumas vezes e não damos atenção, mas com a insistência, começamos a pensar na possibilidade de pecar, até que chegamos ao ato de experimentarmos o fruto proibido, que pode ser muitas coisas... Muitas vezes, em casa, estamos bem com a família e no matrimônio, mas vem alguma serpente e começa a falar que, de outro jeito, é melhor; assim, esquecemos que estamos no Paraíso e experimentamos o fruto proibido. Com ele, vem o pecado; e, com o pecado, vem a vergonha. Adão e Eva não tinham vergonha, mas, depois do pecado, sentiram vergonha.
Este texto nos faz refletir que talvez não estejamos no paraíso, mas estamos vivendo bem mesmo assim, mas as serpentes da história vem lançando vozes sobre nós para que a gente consiga uma casa melhor, um carro melhor, uma roupa de marca melhor, para que viajemos para lugares que não temos condições. A pessoa arruma dois empregos, não fica contente, pois, quanto mais se tem, mais se quer, e começa a fazer bicos, não tem mais tempo para a família e para os filhos. Alguns chegam ao ponto que não vêm na igreja porque não têm tempo, mas a sociedade diz que tempo é questão de prioridade, se Deus não é prioridade na sua vida, você não vai encontrar tempo mesmo. Devemos deixar essa muleta de lado, pois, quem tem Deus como prioridade, encontra tempo para Ele, como você pode dizer que não tem tempo para a família, se esta é a sua primeira vocação? A sua primeira vocação é o matrimônio pra você que é casado. Para você que é pai e mãe é cuidar dos seus filhos, é participar do crescimento deles, mas muitas vezes por causa da ganância, nos afastamos deles. Muitas vezes por causa de uma juventude tardia, por exemplo, não viveu o que tinha que viver com 20 anos, quer viver com 40 ou 50, quer virar uma jovenzinho e fazer coisas que já não dá mais, e aí vai experimentar o fruto proibido, então o paraíso acaba. Talvez esse paraíso não seja real, seja uma ilusão para muitos, que vivem de ilusão de que a família está boa, o matrimônio está bom, a vida na Igreja está boa, mas na verdade está tudo pela metade, não assumimos verdadeiramente. O fato é que, quando nos deixamos levar pela voz da serpente, nós experimentamos o fruto proibido, este fruto que acaba com o nosso paraíso, e Deus não deseja isso para nós, Ele deseja que permaneçamos sempre firmes neste paraíso que ele criou para nós.
Por outro lado, olhando a figura de Eva ainda, quando pecarmos não vamos levar mais gente conosco não, Eva pecou, mas não contente, levou o fruto para o marido, e tem gente que é exatamente assim, faz coisa errada, e não satisfeita, ainda convida “a torcida do Corinthians” para ir junto e dizer: “eu não vou errar sozinho, pelo menos tenho uma arquibancada comigo”, e isto está errado! Devemos assumir nossa responsabilidade e sobretudo denunciar e evitar o pecado.
É isso que Jesus nos apresenta hoje no Evangelho, Ele que fica 40 dias no deserto, que é o lugar das tentações e dos desafios, o próprio demônio vai ao seu encontro, e é ele que nos separa de Deus, ele causa abismo entre nós e Deus, entre nós e a nossa vocação, entre nós e as pessoas que nós amamos. É a este tentador que Jesus nos convida a renunciar, porque ele nos oferece bens materiais, status, facilidades, mas não vivemos para isso, e sim para realizar a vontade de Deus, lembrando que tentação é coisa boa! Se não fosse não nos sentiríamos atraídos, ela encanta, mas temos que aprender a renunciar, evitar as tentações e dizer não ao pecado. A Igreja nos convida hoje, primeiro domingo da Quaresma a renunciar, evitar e dizer não ao pecado, não ao tentador, não ao inimigo, não aquele que deseja nos separar do amor de Deus.
Deste modo, devemos aprender também a deixar de colocar a culpa em alguém ou dizer que não conseguimos evitar a tentação. A Segunda Leitura (Rm 5,12.17-19) nos diz que se por um homem o pecado entrou pelo mundo, foi por um homem que a graça de Deus nos salvou, e esse homem é Jesus, que por sua Paixão, Morte e Ressurreição, fomos salvos e libertos do pecado do primeiro homem e por isso não podemos dizer que não conseguimos evitar, ou culpar os outros por nossos atos. Neste contexto entendemos o que São Paulo nos diz: “pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo”. Com efeito, conclui o apóstolo, como pela desobediência de um só homem, a humanidade toda foi estabelecida em uma situação de pecado, assim também, pela obediência de um só homem, Jesus, toda a humanidade passará por uma situação de justiça. É pela Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo que alcançamos as graças da liberdade e salvação.
Somos livres e agraciados para tomar conta do dom da criação, deste imenso jardim que Deus presenteou para a humanidade. E é deste modo que os bispos do Brasil nos convidam nesta Quaresma a refletirmos sobre a fraternidade, os biomas brasileiros e a defesa da vida. O objetivo geral desta campanha é cuidarmos da criação, a casa comum, como chama o Papa Francisco, e de um modo especial, dos biomas brasileiros, que são dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho. Este jardim que Deus nos presenteou está sendo corrompido pela ganância do ser humano, por causa do pecado. Assim como no passado Adão e Eva não cuidaram do paraíso, hoje não estamos cuidando da natureza que Deus nos presenteou. Deste modo, a fauna, a flora e a biodiversidade do nosso planeta correm um sério risco de vida. Por isso a Igreja nos convida e relembrar o 6 biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampas e Pantanal, que enriquecem a biodiversidade do nosso planeta, e cada um diferente do outro, como também somos diferentes uns dos outros, e se não tomarmos conta deles, as futuras gerações pagarão pelo nosso pecado, como também pagamos pelo pecado de Adão e Eva até a Ressurreição de Cristo.
Que saibamos ser capazes de evitar as vozes das serpentes que aparecem ao longo de nossas vidas. Se cairmos em pecado, que não levemos ninguém conosco, pois devemos ser responsáveis por nossos atos, que saibamos renunciar ao pecado como nos ensina Jesus, e reconhecer que pela Paixão, Morte e Ressurreição de nosso Salvador nós alcançamos a graça da liberdade para vivermos o bem, o amor e a justiça, cuidando da criação e de cada ser humano que é imagem e semelhança de Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 1º Domingo da Quaresma (Ano A) – 05/03/2017 (Domingo – Missa das 10h).

Eis o tempo de conversão para os nossos corações!
01/03/2017
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos! Deus abençoe a todos que puderam, respondendo ao chamado da igreja, iniciar este tempo quaresmal com a verdadeira intenção da conversão de nosso coração. Nós iniciamos este tempo forte da quaresma como um passo importante na nossa busca de vivermos o projeto de Deus. Após os passeios, as visitas, as confraternizações de carnaval, agora, diminuímos os passos, nos concentramos em nós mesmos e buscamos, deste modo, a real mudança em nossos corações, como cantamos no salmo 50: “piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra Vós”.
O tempo da quaresma é propício para reconhecer que somos frágeis, que todos nós – sem exceção nesta terra, como diz o Papa Francisco – somos pecadores e necessitamos converter o nosso coração. Por isso que este tempo é muito importante para nós. Para muitos, a vida é só festa, é só passear, se divertir, se confraternizar, conquistar isso, conquistar aquilo. Mas, muitas vezes, nos esquecemos que devemos converter o nosso coração e buscar tê-lo semelhante ao de Jesus Cristo, nosso Senhor! Por isso a Igreja, pedagogicamente, nos convida, neste tempo, a um recolhimento através do jejum, da penitência e da caridade. Nos convida a olhar para dentro de nós mesmos, para identificar quais são os pontos que devem ser transformados pela Graça de Deus. Pois todos nós os temos, mas o que muitos não fazem é parar e refletir. Talvez aquela história do dedo que aponta para alguém – quando se aponta para alguém, você tem três dedos apontando para si próprio –, se torne necessária nesse momento da quaresma. Ao invés de olharmos para os outros, devemos olhar para nós e reconhecermos que somos pecadores: “piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra Vós”. Entendendo o pecado contra Deus, a sociedade, a comunidade, a natureza e contra nós mesmos.
Desde o final da década de 60, a Igreja do Brasil reflete, durante a quaresma, sobre um tema social. Este ano, o tema é “fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. E o lema é “cultivar e guardar a criação [Gn 2,15]”. Mas por que que a igreja fala da natureza? Porque, ao preservarmos a natureza, estamos preservando a vida, e o Evangelho para as futuras gerações, que necessitam dos biomas, da fauna, da flora e da biodiversidade, para viver bem neste planeta. Por isto, este ano, o nosso olhar para a sociedade é um olhar direcionado à natureza, nos seis biomas que compõem a nossa biodiversidade do território brasileiro: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica – que é onde estamos –, Pantanal e Pampa. Estes biomas estão ameaçados pela ganância e pela exploração do ser humano e a quaresma vem nos ajudar a refletir sobre este tema importante para a nossa sobrevivência neste planeta. Ao longo da quaresma, iremos refletir sobre cada um destes biomas ou, de modo geral, sobre as consequências de maltratar os biomas brasileiros. Mas, de modo particular, nós queremos aprofundar os conhecimentos sobre cada bioma. Conhecer melhor e nos comprometer com as populações originárias de cada um destes biomas, como os nossos índios. Reforçar o compromisso com a biodiversidade, com os solos, com as águas, compreender o impacto das grandes concentrações populacionais sobre o bioma, podermos manter as articulações entre as igrejas cristãs – sejam elas tradicionais, históricas ou pentecostais – e outras religiões. Comprometer as autoridades públicas com a sua responsabilidade de cuidar de nosso país. Contribuir para a construção de um novo paradigma econômico e ecológico, e compreender o desafio da evolução de toda a biodiversidade do planeta, para podermos, como nos pede o Papa Francisco, “Louvar e guardar a criação”. Diante deste cenário de conversão, meus irmãos e irmãs, a Igreja nos convida a não vivermos uma religião de aparências.
No livro do profeta Joel [Jl 2, 12-18], o povo havia sofrido uma praga de gafanhotos, que veio e comeu toda a produção de grãos daquele período. Por conta disso, o povo se revolta contra Deus e começa a blasfemar contra o Senhor, assim como, muitas vezes, muitos católicos costumam fazer diante de situações que não compreendem. Então o profeta Joel convida o povo para, ao invés de reclamar, blasfemar e se revoltar contra Deus, buscar uma reaproximação do Senhor, com jejum, penitências e sacrifício, ofertados a este Deus que jamais os abandonou, ao longo da história.
Mas este jejum, esta caridade e estes sacrifícios não devem ser feitos de modo exterior, o que ainda hoje acontece. Com pessoas que pagam dízimos; com pessoas que marcam a intenção na missa, mas não vem rezar pela pessoa que faleceu; pelas pessoas que pedem para realizarmos visitas no hospital, mas não vão lá visitar a pessoa enferma; e tantos outros sacrifícios que entregamos na mão do outro, mas nós não nos comprometemos com eles. Por isso, o profeta nos diz: “Rasgai o vosso coração, mas não as vestes”. Deus deseja a conversão profunda do nosso coração para deixarmos de viver de aparências!
Quantas pessoas, ao saírem da igreja hoje, com o sinal das cinzas na testa, saíram escondendo pra ninguém ver que são católicos. Hoje eu tirei um tempinho para mexer no Facebook, e achei tão bonito ver tantos jovens postando selfie dizendo: “fui à missa de quarta-feira de cinzas, inicio o meu processo de conversão!” Que lindo! Onde as pessoas dão testemunho de tantas coisas, vi hoje tantos jovens testemunhando que foram à missa! Alguns foram à missa às 6 horas da manhã. Já até perguntei para a liturgia hoje pois, ano que vem, quero fazer missa de manhã porque hoje muitos disseram que não vieram porque tiveram que trabalhar até mais tarde ou tiveram que ir para a faculdade. Então vamos tentar realizar mais um horário de missa no próximo ano.
Devemos procurar nos esforçar para a conversão do nosso coração. Afinal de contas, São Paulo nos diz: “ Pela graça de Deus, nós somos embaixadores de Cristo!”. O embaixador é aquele que representa alguém: uma nação ou uma instituição. Nós representamos o nosso Salvador. Por isso, é necessário, diz o apóstolo, “nos deixarmos reconciliar com Deus”. E se você está hoje aqui nesta missa e está revoltado contra sua família ou contra alguém e, dado que somos a imagem e semelhança de Deus, saiba que você está revoltado contra Deus. Portanto, deixe-se reconciliar com o Senhor, buscando um coração simples, humilde, misericordioso, generoso, sacrifical, como o de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Um dos salmos que mais gosto nas Sagradas Escrituras é o salmo 50, que fala da misericórdia e está liturgia de hoje, nos colocando bem no centro dela, dizendo assim: “eu reconheço toda a minha iniquidade, o meu pecado está sempre a minha frente, foi contra vós que eu pequei e pratiquei o que é mau aos vossos olhos.” Se todos nós somos pecadores, algo ruim nós praticamos contra Deus e hoje é o dia do início do nosso processo de conversão. E daqui a, exatamente, 46 dias iremos celebrar a Páscoa de Jesus Cristo. E, ao celebrar a passagem do nosso Salvador, oxalá possamos, eu e você, celebrar também a nossa passagem, deixando o homem velho, a mulher velha para trás e ressuscitando com Cristo para uma vida nova!
Por isto o salmista nos diz: “criai em mim um coração que seja puro”. Se todos tivéssemos um coração puro, como a nossa sociedade seria diferente! Não existiria vingança, ódio, chacina ou pessoas usufruindo do bem e do direito do ser humano, da sociedade e da natureza. A Igreja nos convida a refletir: “dai-me de novo um espírito decidido”, a decisão de seguir o nosso Salvador! Não só na Quarta-feira de Cinzas para depois voltar no Domingo de Ramos ou alguns, pior ainda, só voltando na Sexta-feira Santa para ver se a cova do morto está funda e jogar ele lá dentro. E não esperam nem enterrar pois pensam que quem já foi na procissão, já está salvo! Quem só enterra Jesus, não se salva não. É preciso ressuscitar com Ele e, para ressuscitar com Cristo, é necessário um espírito decidido para tornar-se um ser humano melhor, um cristão melhor, um católico melhor!
“Ó Senhor não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito”! Eu e você somos o Templo do Espírito Santo. E não é Deus que retira o Seu Espírito de nós, somos nós que deixamos a graça do Espírito Santo, que foi plantado e configurado no nosso coração, no dia do nosso batismo.
Como estou feliz hoje! A missa da tarde tinha muita gente e, agora, quase está faltando banco na igreja. Porque nós tomamos a decisão de iniciar a quaresma como a igreja nos pede: recordando que somos frágeis, que somos pó, e ao pó todos nós retornaremos.
Que possamos, meus irmãos e irmãs, no início desta quaresma, tomarmos a firme decisão de rasgarmos o nosso coração e não as vestes. Rasgando nosso coração, como diz o Evangelho [Mt 6, 1-6.16-18], não teremos necessidade de demonstrar ao mundo o nosso jejum ou a caridade que fazemos, nem o bem que realizamos ao nosso próximo. Não precisaremos dizer para o mundo que rezamos dez minutos, meia hora ou sete dias porque Deus conhece nosso coração. Que este Deus, que nos conhece por dentro e por fora, nos seja favorável para que este primeiro passo seja decisivo na busca de vivermos o projeto do nosso Salvador.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quarta-feira de Cinzas (Ano A) – 01/03/2017 (Quarta-feira – Missa das 19h30).

O que nos afasta de Deus?
26/02/2017
Meus irmãos e minhas irmãs, estamos celebrando o 8º domingo do Tempo Comum, o último domingo antes de iniciarmos o tempo quaresmal, aquele tempo de jejum, de caridade e de penitência, buscando a conversão do nosso coração para ressuscitarmos o Cristo Jesus no dia da sua passagem, ou seja, no dia da Páscoa do nosso Salvador. Desde já, convido todos para a Santa Missa de Quarta-feira de Cinzas para começarmos bem a nossa Quaresma, pois não é um dia opcional para os devotos, é dia de participar da Santa Missa. Em nossa paróquia, teremos missas às 15h e às 19h30.
Na liturgia de hoje, somos convidados a reconhecer que Deus não nos abandona e que, em nossa vida, devemos tomar cuidado com os bens materiais, porque se nos fixarmos somente neles podemos nos afastar de Deus. E, depois, São Paulo está nos dizendo para sermos bons administradores da graça do Senhor, para sermos fiéis àquilo que nos comprometemos.
Na primeira leitura, do livro do profeta Isaías [Is 49, 14-15], o povo está entristecido porque o templo de Jerusalém está em ruínas; foi demolido na invasão, há 40 anos, e nada de reconstruírem-no. Como o templo era um sinal, um ponto de unidade, o povo foi se perdendo, e diversas situações contrárias ao projeto de Deus foram entrando em seus corações, nas famílias e na religião judaica. Muitos, então, começaram a se questionar: "Onde está Deus? Por que Ele está em silêncio?". E é justamente o profeta Isaías que, em um gesto profético, vai recordar o povo de que, embora Deus esteja em silêncio, Ele não nos abandona - o que, de fato, vai acontecer depois, porque o templo será reconstruído e, depois de 70 anos, será destruído novamente. Porém, nesse contexto, Isaías diz: "Se uma mãe é capaz de não se esquecer do seu filho, se uma mãe é capaz de dar a vida pelo se filho, o que é que Deus não fará por nós?". Como um filho ou uma filha confiam em uma mãe, nós devemos confiar em Deus, mesmo que Ele esteja em silêncio; no silêncio da missa, no silêncio das suas orações... Devemos confiar que Ele não nos abandonará. O que acontece, muitas vezes, é que nós não esperamos o tempo de Deus, não esperamos Deus agir no tempo certo em nossa história e acabamos como o povo de Israel, revoltando-nos ou deixando que nossa fé vá se enfraquecendo. E, assim, outros valores vão entrando no nosso coração. Por isso é necessário fazer uma opção de vida. Apesar do silêncio e das dificuldades da nossa história, Deus está sempre conosco e nós confiamos nisso.
No Evangelho de hoje [Mt 6,24-34], é o 6º domingo em que Jesus está discorrendo sobre o Sermão da Montanha. E a primeira reflexão objetiva deste Sermão da Montanha é que não devemos ser pobres de espírito. Nesta passagem, Jesus vai nos dizer que não podemos servir a dois senhores, porque servindo a um, odiaremos o outro, ou serviremos o outro e odiaremos o primeiro. E o que é que nos afasta de Deus? Os bens materiais, a avareza, as preocupações do dia a dia. Tudo isso nos afasta de Deus.
Jesus termina nos dizendo, no Evangelho de hoje, que bastam as preocupações de hoje; não podemos ficar nos preocupando exageradamente com o amanhã. E refletindo sobre este Evangelho, nós nos questionamos quais são as nossas preocupações. Nós estamos preocupados em construir o Reino, em praticar a justiça? Ou só estamos preocupados sobre o que vamos vestir à noite, com o cabeleireiro que a gente vai, com o que vou comer amanhã?
Não que estas coisas não sejam importantes. Elas são, e já refletimos sobre isto no livro de Eclesiastes, que diz que devemos nos cuidar, passear e nos divertir. Mas a vida não consiste só nisso, e para algumas pessoas Deus é o Deus da beleza, é o Deus do carro novo, é o Deus do celular novo, é o Deus da aparência externa. E onde fica o Deus verdadeiro em nossa vida e na nossa história? O fato é que quando colocamos Deus como prioridade em nossa história, tendo ou não tendo os bens materiais nós continuamos a viver bem. Agora, se colocamos os bens materiais como prioridade, nós nos perderemos. E à medida que vou colocando os bens materiais, a aparência e o "ter" à frente de Deus, eu vou me afastando do Senhor. E se me afasto dos Seus valores, o que acaba acontecendo? Afasto-me da vida, afasto-me dos valores familiares, afasto-me da proximidade dos filhos, afasto-me dos meus verdadeiros amigos e, por consequência, vou me levando para uma vida sem Deus.
Assim, nós nos perguntamos hoje: quais são as nossas preocupações? E quais são as reais preocupações que nós devemos ter? O fato é que só quem passa pela mesma coisa vai compreender pelo que o outro está passando. Ainda essa semana, veio à igreja um jovem com síndrome do pânico. E ele dizia: "Padre, ninguém me entende!". E eu disse: "Filho, ninguém vai te entender mesmo! A não ser que passe por isso". Só vai entender a pessoa que passou por aquilo. Talvez ninguém entenda e ache que é "frescura", mas devemos nos esforçar para entender. E as nossas preocupações, sejam elas quais forem, não podem tomar o lugar de Deus na nossa vida. Devemos ser bons catequizadores.
São Paulo vai nos dizer na segunda leitura [1Cor 4, 1-5]: "Irmãos, que todo mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. A este respeito, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis". Viemos a este mundo para servir, e como diz o Evangelho: "Somos servos inúteis, não fizemos mais do que deveríamos ter feito para construir o Reino de Deus e para praticar a Sua justiça". Quando nos sentimos superiores, quando o nosso ego fala mais alto, o Evangelho vai ficando em segundo plano. Quando eu não entendo que o matrimônio é um servir, quando não entendo que o trabalho na sociedade é um servir ao outro, quando não entendo que o trabalho na comunidade de fé é um serviço e não um status, isso não é o projeto de Deus na nossa vida. São Paulo diz que devemos ser bons administradores da fé, da graça de Deus, da graça que Ele nos concedeu.
O fato é que devemos administrar o nosso tempo para Deus. Nas 24 horas do seu dia, quanto tempo você dedica para Deus? Do seu mês, quanto tempo você se dedica para Deus? Agora, quanto tempo você se dedica a outras coisas? Para a televisão, para os amigos, para as redes sociais, para o futebol... Não que essas coisas não sejam importantes, são sim! Mas as coisas de Deus devem ser prioridade, assim como a minha família. Quantas vezes ouvi mulheres dizendo: "Padre, eu sou viúva de marido vivo, pois ou ele está trabalhando ou está com os amigos, e mesmo quando está em casa é sempre a mesma coisa, ou está bebendo ou está na TV". E ouço homens dizendo a mesma coisa de suas esposas também.
Onde está o nosso tempo? Como administrar as coisas importantes? A família é um ponto fundamental da nossa história. Há diversidade na comunidade e nos trabalhos aqui dentro, somos mais de 25 pastorais, temos diversas dificuldades, e como administrar todos estes conflitos, como administrar os conflitos familiares, como administrar os conflitos no trabalho e das pessoas que estão sob a sua orientação? Pois ali você também está vivendo o Santo Evangelho.
E, por último, São Paulo nos diz para sermos fiéis. Fidelidade é fundamental! Hoje nós damos o nosso sim; e amanhã? Nós contrariamos o que aprendemos hoje? Professamos a fé aqui na santa Igreja e, ao sair daqui, muitas vezes, já começamos a blasfemar contra Deus e contra a Igreja. Portanto, sejamos fiéis a Deus, fiéis à Igreja, fiéis à justiça, fiéis aos valores familiares, fiéis ao matrimônio, enfim, fiéis a tudo que professamos, pois, deste modo, estaremos, juntos, praticando o que Jesus nos pede, anunciando Sua Palavra e praticando a justiça da salvação.
Que o Espírito Santo de Deus nos seja favorável para que as palavras de hoje encontrem espaço no nosso coração e possam produzir frutos no tempo certo, seguindo a vontade Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 8º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 26/02/2017 (Domingo – Missa das 10h).

O que nos faz diferentes dos pagãos?
19/02/2017
Hoje estamos celebrando o 7º Domingo do Tempo Comum, e a Liturgia nos convida a não nos deixarmos confundir pelas sabedorias do mundo, para que a nossa vida seja uma vida em busca de sermos santos, como nosso Pai Celeste é santo.
Nesta busca pela santidade, São Paulo vai nos dizer na Segunda Leitura de hoje [1Cor 3, 16-23]: "Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus" [1Cor 3, 16-19]. Para alcançarmos a santidade – aquilo que Deus nos pede –, faz-se necessário não nos deixarmos iludir pelas sabedorias deste mundo. Buscar a verdade, estudar, é sempre fundamental; mas, para nós, a sabedoria de Deus é infinitamente superior à sabedoria dos homens. Por mais que nos esforcemos, nunca chegaremos a ter a sabedoria de Deus. E nessa busca dos homens por alcançar a sabedoria, a verdade, muitas vezes acabam distorcendo aquilo que Deus nos pede. E é por isso que Paulo, nas entrelinhas, vai nos recomendar que tomemos cuidado com as pregações que nós ouvimos e com as pessoas que nós seguimos – naquela mesma linha de quatro domingos atrás: "Cuidado! Você é de Paulo, de Apolo, de Cefas ou de Cristo?" [ref. 1Cor 1, 10-13. 17]. Todos nós somos de Jesus Cristo! Jesus é o nosso verdadeiro Mestre. E, neste discipulado do verdadeiro Mestre, buscamos ter um coração como o coração de Jesus.
Já no Antigo Testamento, na Primeira Leitura de hoje [Lv 19, 1-2. 17-18], do livro de Levítico, que é o livro das leis, o Senhor pede a Moisés: "Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e dize-lhes: 'Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo'". E o que é ser santo? Muitas vezes, nós olhamos para os santos da Igreja e imaginamos que são super-homens e supermulheres. Neste mundo onde os astros de Hollywood, da música, do futebol vão nos encantando, ser santo significa viver nossa humanidade. Santa Teresinha, São Francisco, Santo Antônio... O que eles fizeram de diferente? Entregaram-se mais nas mãos de Deus; deixaram-se conduzir mais pelas mãos do Senhor; foram deixando-se moldar por Deus em seus sentimentos – algo que, muitas vezes, nós não permitimos que Deus realize em nossas vidas, porque queremos ser nós os condutores de nossa história. Para alcançar a santidade é necessário deixar Deus conduzir a nossa vida.
E, depois, acreditar, ter convicção de que não é impossível alcançar a santidade. Porque já se tornou algo natural as pessoas dizerem: "não, eu não sou santo, eu não consigo alcançar a santidade"; se tornou um tabu para nós: "Ah, já que eu não vou ser santo mesmo, vou vivendo meio lá, meio cá...". Mas, aí, onde entra a coerência da nossa fé? Deus nos pede para sermos santos como Ele é santo. Portanto, a busca pela santidade não é opcional para nós, é uma busca constante, dia após dia. Acontece num estalar de dedos? Não. Num piscar de olhos? Não. Do dia para a noite? Não. Acontece no tempo de Deus, no tempo de cada pessoa, à medida que eu deixo Deus configurar meu coração, meus pensamentos e minhas atitudes.
De modo particular, a Primeira Leitura nos dá três grandes lições. A primeira: "Não tenhas no coração ódio contra teu irmão" [Lv 19, 17a]. Para sermos santos, não podemos odiar. Quanta gente com ódio guardado no coração, às vezes nem se sabe mais o porquê... Se queremos ser discípulos de Deus, não podemos cultivar o ódio em nosso coração.
A segunda: "Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele" [Lv 19, 17b]. Repreender o outro. Uma grande dificuldade nossa de relacionamento e de viver o projeto de Deus é que, por causa da "política da boa vizinhança", eu me calo. Estou vendo a coisa errada acontecer, mas para não ser "o chato" da história eu fico quieto e deixo o circo pegar fogo; deixo o outro fazer a coisa errada e fico observando de camarote; estou vendo que ele vai cair no abismo e não falo nada. E a Palavra de Deus diz o que? Que eu vou ser culpado do pecado dele e, ainda, do meu pecado de omissão! Porque não o repreendi. E já falamos aqui inúmeras vezes: o cristão deve ser profeta, e profeta denuncia o que está errado, profeta aponta o caminho de Deus, profeta acompanha. Portanto, a repreensão é fundamental. Os pais não repreendem os filhos? E por que, quando crescemos, não deixamos mais as pessoas nos repreenderem? Ou será que a gente sabe de tudo? Não, não sabemos de tudo. E é no relacionamento, formando comunidade, verdadeiras amizades, que vamos crescendo e encontrando o caminho da verdade.
E a terceira lição: "Não procures vingança, nem guardes rancor dos teus compatriotas" [Lv 19, 18a]. Guardar rancor. Quanto rancor no coração deste povo, meu Deus... Quantos familiares não conversam uns com os outros, às vezes nem se lembram mais o motivo, mas vão cultivando aquele rancor e endurecendo seus corações... E o rancor faz mal para quem, para o outro ou para mim? É para mim mesmo, não para o outro; é para mim que o rancor faz mal. Mas, muitas vezes, nós guardamos rancor, o cultivamos como um bichinho de estimação e não deixamos Deus purificar o nosso coração. Este Deus que há cinco semanas está nos falando do discurso da montanha. Lá, no Monte Sinai, Jesus está nos ensinando a amar.
E nesta pedagogia de ensinar o que é o amor, Jesus hoje nos diz para não agirmos com violência, porque violência gera violência. Diz a Palavra de Deus: "Vós ouvistes o que foi dito: 'Olho por olho e dente por dente!'. Eu, porém, vos digo: não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!" [Mt 5, 38s]. E Jesus vai discorrendo a Catequese sobre a lei de talião, ou seja, se alguém lhe dá um tapa você revida mais forte, o outro revida ainda mais forte e assim por diante. Quem ama não revida! Quem ama não vive a lei de talião – "olho por olho e dente por dente". Quem ama vive o projeto de Deus, este projeto que nos ensina a não agir como a sociedade vem nos apontando.
É necessário lutarmos contra valores que são pregados, que são ensinados e são contrários ao projeto de Deus. Por isso Jesus diz: "Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!" [Mt 5, 44a]. Por que a gente insiste em brigar uns com os outros? Se alguém se diz seu inimigo, você vai se tornar inimigo da pessoa? Se você é cristão, não. Deixe que ele seja seu inimigo e reze por ele! Quantas experiências eu já testemunhei, já vivi, de alguém se declarar inimigo do outro e o outro dizer: "Deus te abençoe"... E é interessante quando a pessoa vem para brigar com você e você dá uma resposta que ela não está esperando – "Deus te abençoe"; a pessoa perde até o rumo. Você vai cultivar o rancor? Não, você reza! "Senhor, está nas Tuas mãos, seja feita a Tua vontade". Quantas pessoas olhando para o passado... Se nós nos prendermos ao passado, às pessoas que têm inveja da gente, que tentaram nos passar a perna, nós não vivemos. Entregue estas pessoas nas mãos do Senhor e vamos em frente! Porque Deus nos deu a graça da liberdade, e nesta graça da liberdade é necessário escolhermos o amor. Senão, Jesus nos pergunta: "O que nos faz diferentes dos pagãos?". A gente que vem à missa, que reza, que ensina aos nossos filhos o caminho de Jesus, que quer ser um bom padrinho, uma boa madrinha, um bom pai, uma boa mãe; o que nos torna diferentes dos pagãos senão vivermos o que Deus nos pede? Nós somos cristãos ou somos pagãos? A escolha é nossa.
Que possamos, ao celebrar esta eucaristia, não nos deixar iludir pelas sabedorias do mundo. Que o ódio, o rancor, a amargura se afastem do nosso coração. Que saibamos, na caridade e no amor, corrigirmo-nos mutuamente para que, conhecendo a verdade, cheguemos ao caminho da santidade pedida, exigida, esperada por Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 7º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 19/02/2017 (Domingo – Missa das 10h).

Que nosso Sim ao Senhor seja convicto!
12/02/2017
Nós estamos celebrando o 6º Domingo do Tempo Comum e a Igreja nos convida a fazermos a nossa escolha em Deus, na liberdade. Nos convida a retomarmos a essência dos mandamentos de Deus e não nos deixarmos enganar por discursos, retóricas ou palavras de sabedoria que não nos levam ao Senhor.
A Primeira Leitura é do livro do Eclesiástico[Eclo 15, 16-21], que também é conhecido como livro de Ben Sirá pois foi escrito por Jesus Ben Sirá. Ele era um judeu muito devoto, um homem de uma fé muito forte que, no século II a.C., ao ver os jovens, as novas gerações, desviarem-se do caminho do Senhor – influenciados sobretudo pela cultura helenística e outras culturas pagãs que foram chegando ao território –, escreve este livro para apontar o caminho para a retomada da fé, do verdadeiro caminho de Deus. Ali, então, ele vai nos dizer para observarmos os mandamentos e sabermos fazer a escolha na liberdade. Para Jesus Ben Sirá, a Torá, que é o conjunto dos primeiros cinco livros da bíblia, é a súmula da sabedoria. Nestes livros estão contidos todos os ensinamentos necessários para vivermos o projeto de Deus e onde Ele nos coloca os conceitos de a vida e morte, de benção e maldição. “Escolha a vida e viverás, escolha a morte e morrerás”, diz a Palavra de Deus.
Atualmente, como também no passado, nós temos o hábito de colocar a culpa em alguém pelos nossos erros. E neste contexto, a Palavra de Deus de hoje nos diz muito claramente que somos nós que fazemos as nossas escolhas. Por isso, Jesus Ben Sirá utiliza a linguagem de contrastes (do fogo e da água, da vida e da morte, do bem e do mal) para nos dizer que, qualquer um destes que escolhermos, nós iremos trilhar tal caminho, e que não podemos ficar culpando os demais pelas nossas escolhas.
Nós estamos escolhendo a vida ou a morte? Estamos escolhendo, meus irmãos e irmãs, uma vida em Deus ou uma vida com a ausência do Senhor? Não é porque eu venho na santa missa todo domingo que eu escolhi uma vida em Deus. Porque a missa não substitui minhas orações diárias nem meu testemunho fora da igreja e, em especial, dentro da minha casa. Estou escolhendo Deus também fora da igreja? Esta é uma pergunta que devemos nos fazer constantemente senão, de outra forma, o pecado vai entrando em nosso coração e aí a tendência de escolhermos o que não é de Deus vai se tornando cada vez maior. Por isso o Salmo 118 que foi cantado hoje diz: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo”! Ou seja, avançando na jornada de fé, que se faz caminhando. Vamos progredindo, dia após dia, nos afastando do pecado e caminhando em direção à felicidade eterna. Esta é a nossa missão!
Neste caminho de discipulado, devemos recordar o que é essencial, amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. É o que Jesus nos recorda no Evangelho de hoje [Mt 5, 17-37], um trecho longo sobre o qual poderíamos ficar debatendo durante um grande período tamanha a quantidade de informação que ali consta. Mas ele é, basicamente, a continuação do Sermão da Montanha, no qual Jesus está no Monte Sinai, sendo o novo Moisés, e nos fala para sermos pobres de espírito, como refletimos há dois domingos. E, agora, Jesus está dizendo para tomarmos cuidado com os nossos julgamentos e com as nossas atitudes. Os nossos julgamentos devem ser maiores do que dos fariseus, que viviam a lei pela lei: se errou ou pecou, está excluído, sem misericórdia ou perdão. Neste contexto, Jesus vem resgatar a figura Deste Deus do amor, da misericórdia e da compaixão. Isto não significa que podemos fazer o que quisermos, a torto e a direito, mas sim que devemos recordar os mandamentos, os ensinamentos de Deus. Jesus vai explicando tudo aquilo que foi dito neste longo Evangelho e, ao final, Ele termina dizendo: “Seja o vosso 'sim', 'Sim', e o vosso 'não', 'Não’. ”
O nosso Sim para Deus é um sim consciente, incondicional? O nosso Não para o pecado e para todas as coisas que são contrárias aos projetos de Deus, é um não verdadeiro? É algo que devemos meditar todos os dias porque o pecado é tentador. É obvio que ele somente é tentador se não estivermos tomados de uma espiritualidade capaz de criar um escudo, gerando em nós algo que nos afaste do pecado. Se isto não ocorre, nós deixamos de caminhar e progredir na lei do Senhor Deus, como nos diz o salmo de hoje.
E, na Segunda Leitura, na carta de São Paulo aos Coríntios[1 Cor 2, 6-10], é abordada a continuação da leitura das últimas três semanas, da qual eu já citei que a comunidade estava dividida – porque uns gostavam de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas – e ali o discipulado foi confundido no assunto da verdadeira adoração a Jesus. Paulo continua discorrendo em sua carta aos Coríntios, recordando hoje que a sabedoria de Deus não é comparável à sabedoria dos homens e que devemos tomar cuidado com o que muitos homens nos dizem, sobretudo os de boa retórica, de belas palavras e até os de boa aparência. Ontem eu dizia aos doentes que vieram à missa: na enfermidade, devemos tomar cuidado com estes falsos pregadores que vão até a nossa casa e querem nos desviar do caminho de Deus. Nestas situações eles vão bater em nossa porta e dizem: “vá à minha igreja que você vai ser curado, lá você vai ter a salvação e a sua redenção”. Outros vão até lá e sugerem que façam outras coisas que não estão de acordo com nossa religião. Neste momento, devemos recordar o Evangelho: que nosso sim seja Sim e que nosso não seja Não.
Se quer ir na minha casa falar sobre novela, futebol, sobre o passado, sobre o cotidiano ou falar de fé sem tentar trazer o outro para minha religião, tudo bem. Se não, abro a porta da minha casa e digo: vá com Deus. E nós devemos aprender a fazer isto porque tem gente que não sabe conversar. Há muitas pessoas que vêm com aquela palavra mansa, conversa mole, e vai nos levando. Quando a gente menos espera já estamos em outras realizando atos que contrariam a nossa fé como, por exemplo, fazendo simpatias. Desse modo, Deus vai ficando para trás.
Ainda ontem uma pessoa queria conversar comigo e disse: “Padre, eu estou indo na Igreja Católica, mas eu também estou indo em outra igreja. O que faço”? Eu disse: “Filho, escolhe o teu caminho. A nossa fé é muito clara. Agora, é você que tem que fazer a escolha do teu caminho e não sou eu quem vai escolher por você. Se quiser vir e que eu te apresente o que é a Igreja Católica, o que é a religião cristã, estou à disposição. Mas a única orientação que te dou agora é que você escolha um caminho. Você não pode seguir os dois porque as nossas convicções religiosas são muito diferentes”. De modo simples, na resposta que dei para a pessoa, não fui prosélito, não tentei trazer a pessoa para minha fé. Acolhi e me coloquei à disposição. E rogo a Deus que ele venha conversar comigo para aprofundar seus passos na fé.
Que a Palavra de Deus nos ilumine e que o salmo de hoje nos ajude a nos afastarmos do pecado para que assim possamos rezar, convictamente, ao longo desta semana: “Ensinai-me a viver vossos preceitos; quero guardá-los fielmente, até o fim! Dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei e de todo o coração a guardarei”. Que possamos, como igreja, família, comunidade, discípulos e missionários de Nosso Senhor Jesus Cristo, ser felizes sem o pecado em nosso caminho. Que possamos, dia a dia, progredir na lei do Senhor Deus!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 6º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 12/02/2017 (Domingo – Missa das 7h30)

É em nossas diferenças que nos completamos
09/02/2017
Queridos irmãos e irmãs, neste dia nos reunimos para pedir a Deus que abençoe, santifique, guarde, cure e liberte a nossa família. A família que é, para Jesus, para a Igreja, e deve ser para cada um de nós, um bem precioso, a tal ponto de sermos capazes – como aquela mulher fenícia, que vimos no Evangelho de hoje [Mc 7, 24-30] – de superar a vergonha e o preconceito "dos hebreus e dos judeus" (que rejeitavam os fenícios por serem pagãos) e ir ao encontro de Jesus; cair aos Seus pés agradecendo, até mesmo, pelas migalhas de atenção que, por ventura, Jesus possa nos dar. Ela acreditou, ela confiou em vez de ficar se lamentando porque a filha estava com o espírito impuro – que podia ser uma enfermidade, uma exclusão social, algum tipo de deficiência física... Não sabemos o que era, mas fato é que ela não ficou se lamentando. Ela se levantou, mirou onde estava o Salvador, foi ao seu encontro, colocou-se aos Seus pés esperando ao menos uma migalha de atenção; e o que ela recebeu foi a cura do próprio Jesus!
Talvez, hoje, muitos de nós estejamos pensando: "O que eu estou fazendo aqui? Por que eu vim até aqui?"; já outros podem ter vindo com muita confiança, muita esperança de que Deus pode tocar seus entes queridos, seus familiares. E essa mulher é modelo para nós nesta eucaristia – nós, que não devemos ficar nos lamentando pelas exclusões que sofremos da sociedade, seja por nossa situação financeira, nossa cor de pele, nosso estudo... Nada disso é importante para Jesus! Todos nós somos iguais, porque fomos criados à imagem e semelhança do próprio autor da vida, como vimos na Primeira Leitura, do Livro do Gênesis [Gn 2, 18-25], em uma das duas narrações que falam sobre a criação da humanidade.
Deus viu que o homem estava só e não quis deixá-lo só, porque não nascemos e nem fomos criados para viver sozinhos, fomos criados para nos relacionar – por isso que toda vez que alguém está muito sozinho, algum problema está passando; alguma dificuldade física, emocional, espiritual ou psicológica essa pessoa está passando, porque Deus não criou o ser humano para o isolamento. Deus cria o homem e depois cria os animais, e o homem dá nome para esses animais. A ordem da criação é que o homem cuide da natureza, que o homem gerencie a natureza; o homem está acima da natureza. Muitas vezes, damos mais atenção ao cachorrinho ou ao gatinho do que ao marido, aos filhos; damos mais atenção ao passarinho do que à esposa. Está errado! Completamente errado! Às vezes, mesmo não tendo animal de estimação, ficamos cuidando de outros "bichinhos" pelo celular: os nossos amigos do Facebook, por exemplo. "O que ele está fazendo?", "Postou uma foto... Onde é que ele está?", "Como é que ele conseguiu dinheiro para ir àquele lugar tão bonito?", "Como é que ela consegue ir para tal lugar?", "Ela não deveria estar trabalhando?"... E a gente começa a cuidar da vida dos outros e não damos atenção para quem está do nosso lado.
Quantas famílias em crise vêm conversar, e a gente pergunta: "Vocês têm conversado?". Conversam sobre a conta para pagar, sobre os problemas do filho, do emprego, talvez sobre a novela, sobre o vizinho, sobre o que o padre falou na homilia... Mas não conversam sobre o seu relacionamento. Olhar no olho é difícil, eu sei. Muitos casais não conseguem olhar nos olhos um do outro. Falar dos outros, de fora, nós conseguimos, mas para falar de nós temos uma dificuldade imensa. Os filhos, então, quando sabem que fizeram alguma coisa errada, os olhos até lacrimejam... Porque o pecado nos envergonha! E que bom que nos envergonha, pois faz-nos afastar do que é errado. No dia em que o pecado deixar de nos envergonhar é porque estamos quase perdidos completamente...
Deus viu que o homem não estava feliz e lançou sobre ele um sono profundo, tirou dele uma costela e, desta costela, fez uma auxiliar: fez a mulher! Quando o homem despertou, lá estava ela: linda, bela e formosa! Diz a Palavra de Deus que estavam nus e, ainda assim, não tinham vergonha um do outro. Essa passagem nos faz lembrar de alguns pontos. O primeiro deles é que, às vezes, caímos num sono tão profundo que Deus nos apresenta a pessoa amada, e talvez até tenhamos consciência dela, mas continuamos neste sono profundo. Quantas vezes eu já ouvi pessoas se lamentando porque perderam alguém especial em sua vida... Porque estavam curtindo o momento, vivendo sua adolescência (às vezes tardia), e o sono era tão profundo que perderam sua época e, depois, não conseguiram mais reencontrar aquela pessoa que passou por sua vida. Será que você não está meio sonolento ou sonolenta? Não está indo no impulso e deixando de perceber o tesouro que tem ao seu lado? Porque um dos problemas do ser humano é só valorizar o que tem quando perde... Estamos num sono tão profundo que não conseguimos reconhecer o bem precioso que Deus colocou ao nosso lado, e talvez só vamos dar valor quando acabarmos perdendo a possibilidade de tê-lo ou tê-la junto de nós.
Eu já devo ter lido umas quinhentas vezes essa leitura, mas confesso que é a primeira vez que Deus me abre os olhos para entender deste modo a palavra "auxiliar". "Deus criou uma auxiliar para o homem" [ref. Gn 2, 18]. Toda vez que lia sobre isso, eu entendia "auxiliar" de um modo pejorativo, ou seja, a mulher sendo inferior ao homem. E, hoje, quando fui para casa preparar a homilia, eu estava cansado, sentei no sofá e comecei a ler; e comecei a meditar sobre as palavras; e lembrei que "auxiliar" é aquilo que nos auxilia em alguma coisa, é aquilo que completa o que falta em algo. A saída auxiliar da televisão é para que? Para colocar alguma coisa que ela não tem, que não consegue abranger. E a mulher veio justamente para completar aquilo que o homem não consegue! Portanto, não é um modo pejorativo de entender a mulher, significa que ela veio para nos dar a extensão daquilo que não temos condições. Já viram algum homem tendo filho por aí? Quantas coisas as mulheres fazem muito melhor do que os homens... Mas muitos homens se sentem superiores às mulheres, assim como a mulher, às vezes, também se sente superior ao homem e começa a menosprezar seu marido, seus filhos, talvez seu irmão... Enquanto nos sentirmos superiores uns aos outros, nunca conseguiremos ter um relacionamento de igual para igual. E, em uma família, enquanto um se sentir maior do que o outro, nunca haverá plena felicidade, porque sempre vai ter alguém conduzindo as coisas de modo equivocado.
No casamento, nós dizemos o que? Que o homem e a mulher se tornam um só coração e uma só alma. Não significa dizer que somos iguais, porque Deus nos fez diferentes; mas é justamente em nossas diferenças que nos completamos, que um se torna o auxiliar do outro, a extensão daquilo que eu, na minha humanidade masculina ou feminina, não sou capaz de realizar. Quando o ser humano não entende desse modo, quando um quer ser mais do que o outro, o pecado invade o nosso coração, e à medida que o pecado vai invadindo o nosso coração, diz a Palavra de Deus, nós ficamos envergonhados. Quantas vergonhas nós passamos em nossa vida porque nos sentimos superiores às pessoas que convivem conosco... Quando acreditamos que podemos conduzir tudo na nossa casa e não somos capazes de olhar no olho do outro, reconhecendo que devemos dar as mãos para cuidar da obra da criação; quando a ganância toma conta da nossa vida, do matrimônio, da família... Não existe mais espaço, não existe mais tempo para viver.
Estamos querendo sempre mais e mais e mais... Quantas pessoas acabam trabalhando mais do que devem e não dão atenção a sua família? Quantas vezes nós nem precisamos, mas, por ganância, estamos em dois empregos, pensando que o bem material trará felicidade. Foi por causa da ganância que Adão comeu o fruto proibido, foi por causa da ganância que Eva colocou no coração de Adão a possibilidade de comer do fruto proibido. Mas Eva não é a culpada. Ela apresentou a possibilidade, mas quem mordeu a maçã não foi ela, foi ele – e essa é outra mania que a gente tem, de sempre culpar o outro. "A culpa é dele", "Foi ele que não me deu atenção", "Foi ela que não me chamou para conversar", "Foi ela que não me pediu desculpas", "Foi ele...", "Foi ele...", "Foi ele...". Quando é que eu vou aprender a dizer que "fui eu"? Você já consegue? Já conseguiu, alguma vez, no seu relacionamento ou com qualquer pessoa que seja, reconhecer que o erro foi seu, assumir a sua humanidade, o seu lado pecador, reconhecer a sua fragilidade? Já conseguiu olhar no olho do outro e dizer: "Perdão, eu errei!"? Todos nós podemos errar! Quando o outro erra, eu aprendo a acolher o seu erro com a humanidade de Jesus; quando eu erro, recordo que sou humano, que sou falho e que posso pedir perdão.
Que na liturgia de hoje possamos abandonar o nosso isolamento. O isolamento espiritual que nos faz acreditar que sem rezar, sem a Igreja, sem Jesus nós podemos fazer tudo; a Palavra de Deus nos diz que sem Jesus nós nada podemos, sem Jesus nós nada somos, sem Jesus nós nada conseguimos. O isolamento de convivência, pois quantas vezes nos sentimos isolados ou nos isolamos mesmo sendo casados, mesmo sendo pai e mãe; isolamo-nos de quem mora conosco! Que, nesta noite, Jesus envie o Seu Espírito Santo para nos despertar do nosso sono profundo. Sono profundo da indiferença que, muitas vezes, faz-nos sentir sozinhos dentro de casa, porque nosso ente querido não presta atenção em nós. Que acordemos deste sono profundo e reconheçamos o valor do matrimônio, a importância de dedicarmos tempo aos nossos filhos, aos nossos pais, às pessoas que nos são importantes. Que Deus nos ensine a valorizar aquilo que nos falta, aqueles que são nossos auxiliares, aqueles que nos completam: a minha mãe me completa em algo, o meu pai me completa em algo, a minha esposa, o meu esposo, os meus filhos...
Nós não nascemos para o isolamento, não nascemos para o sono profundo e muito menos nascemos para o pecado. Renuncie ao pecado nesta noite, o pecado da indiferença com a sua família, o pecado da indiferença com o seu matrimônio, o pecado da indiferença com Deus. Se você se sente rejeitado, excluído, lembre-se da mulher do Evangelho de hoje: levante-se e assuma a sua responsabilidade, assuma a sua vocação, coloque-se em pé e caminhe, vá ao encontro da sua felicidade, lute pela sua vida, pelo seu amor, lute pelas pessoas que você ama! Ainda que, aos olhos do mundo, você esteja clamando, mendigando por migalhas, Jesus pode lhe dizer – e não sou eu quem lhe dirá, mas é Jesus que, dependendo da sua fé, irá lhe dizer na missa de hoje: "Vá para casa, a pessoa que você ama está curada!"; "Vá para casa, você está curado da sua enfermidade física, espiritual, emocional, psicológica!". Aquela mulher só conseguiu a cura da sua filha porque não ficou sentada, com a cara fechada, chorando e esperando o tempo passar; ela se levantou, lutou, caminhou, clamou ao Deus que tudo pode e alcançou o seu milagre!
Que você alcance o milagre que espera nesta eucaristia! Deixe Jesus falar com você, como Ele falou com a mulher do Evangelho de hoje.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Quinta-feira da 5ª Semana do Tempo Comum (Ano A) – 09/02/2017 (Missa da Família)

Que sejamos luz para o mundo!
05/02/2017
Caros irmãos e irmãs, vamos olhar para esta Palavra de Deus que nós escutamos, que talvez já tenhamos ouvido tantas vezes: "Vós sois o sal da terra. [...] Vós sois a luz do mundo" [ref. Mt 5, 13-16]. Luz que, se vocês observarem bem, tem presença constante em toda a Liturgia de hoje, desde a Primeira Leitura [Is 58, 7-10], no Salmo que nós cantamos [Sl 111 (112)] e no Evangelho [Mt 5, 13-16].
Vamos puxar um pouquinho da memória, lembrar uma celebração que tivemos neste Ano Litúrgico: o Natal do Senhor (mais precisamente a missa da noite). Nela, ouvimos uma frase do começo do Evangelho de São João que nos diz que "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. [...] Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens" [ref. Jo 1, 1-18]. Lembram-se disso? Nós escutamos São João nos falar de Deus como Palavra e definir Jesus Cristo como luz que ilumina todo homem. E, no Evangelho de hoje, o próprio Jesus volta-se para os discípulos e diz: "Vocês são a luz do mundo". Por que Ele diz isso? Não era Jesus Cristo essa luz? Por que Ele fala agora para os discípulos? Isso está certo? Sim! Porque nós, como cristãos, como batizados – pensando nas crianças que vão ser batizadas, nos jovens que vão ser agraciados com o sacramento da Crisma e em todos nós, fiéis, todos que somos filhos e filhas de Deus a partir da graça dos sacramentos –, nós somos iluminados por Cristo para também iluminarmos o outro. Assim com a lua – que não tem brilho próprio, mas reflete a luz do sol – nós, por nós mesmos, refletimos a luz deste Sol que é Deus, que é Jesus Cristo. Assim, nos tornamos luz para o outro.
Jesus é a luz, e sobre a ação Dele nós também refletimos essa luz. Mas qual o caminho? Qual o canal pelo qual começamos a refletir essa luz? Pela ação da graça de Deus em nós, ação da misericórdia de Deus em nós. Primeiro, nós temos que eliminar toda escuridão para estar na graça de Deus, estar sobre a misericórdia de Deus, sobre a unção do Seu perdão. Nós ouvimos falar tanto da misericórdia de Deus no último ano que se passou – 2016, Ano da Misericórdia. Quando nós deixamos para trás as obras das trevas, do pecado, quando buscamos o perdão de Deus e agimos de acordo com Sua Palavra, aí a luz de Cristo começa a nos iluminar e nós começamos, no nosso dia a dia, a refletir essa luz.
E, de forma especial, a Liturgia de hoje, na Primeira Leitura, nos mostra algo bem claro sobre essa luz: que, quando vivemos a justiça, as obras de misericórdia, quando fazemos o bem para o nosso irmão, nós estamos permitindo que a luz de Cristo, da Sua Palavra Viva sobre nós, ilumine o nosso próximo. Nos pequenos gestos, atos de caridade, de misericórdia, o cuidado com o próximo, o cuidado dentro ou fora de casa, na comunidade... Pequenos gestos também são sinais da graça de Deus, da Sua misericórdia, do Seu amor em nosso meio. Às vezes, nós temos o costume de olhar apenas para as coisas grandes, não é mesmo? Mas percebamos que a ação da graça de Deus começa nas coisas pequenas, em atitudes e gestos.
Quantas vezes a pessoa vai sempre à missa, vai no domingo, partilha o alimento... Mas se ela não vive, lá fora, o que vive dentro da igreja, alguém que não participa pergunta: "Para que você vai tanto à igreja se você não vive o Evangelho?". Por isso, a nossa luz deve brilhar a partir desses gestos, das coisas pequenas, da misericórdia, da caridade, do cuidado com o próximo, dentro e fora da igreja, dentro e fora de casa. Devemos permitir que a Palavra de Deus – que é a luz que ilumina nossos passos – possa, então, também iluminar nossas atitudes, dia após dia, para que nós nos tornemos essa luz que brilha nas trevas, essa luz que está ali para iluminar toda a casa.
Jesus Cristo é a luz que ilumina todo homem. Sua luz, quando nos atinge, nos dá a capacidade de, através das nossas atitudes no dia a dia, da coerência com a Palavra de Deus e com a fé que rezamos, iluminar o mundo, a sociedade, as nossas famílias, dentro da própria igreja, os nossos grupos, movimentos e pastorais.
Há uma forma simples de compreender quando Jesus nos fala que somos a luz do mundo: as nossas obras devem realmente ser vistas. Ninguém faz para aparecer, mas é um testemunho que deve ser dado. Quando a gente olha alguém que realmente vive a sua fé, nos sentimos tocados, convencidos; percebemos que realmente é possível viver essa fé, é possível ser misericordioso, é possível fazer a caridade. Às vezes, quando estamos fazendo alguma coisa, nem sequer imaginamos, mas o irmão está olhando. Nossas atitudes devem iluminar o próximo. Não devemos viver a fé para aparecer, para ser julgado como "o mais santo", como alguém que está "lá em cima", no alto. O que importa é que nossas atitudes, quando são coerentes com a nossa fé, com a Palavra de Deus, com o Cristo que nós celebramos na Eucaristia, elas se tornam luz, elas iluminam, os outros veem e tomam como exemplo. E devem mesmo tomar como exemplo! Um exemplo positivo, que edifique.
Então, pensemos: minhas atitudes no dia a dia, na minha casa, na minha comunidade, no meu trabalho, no estudo, são coerentes com a Palavra que eu ouço? São coerentes com a oração que eu faço em toda Santa Missa? Quando se tornarem coerentes, quando vermos que aquilo que nós celebramos nós também vivemos, estaremos refletindo essa luz de Cristo.
Lembro-me de uma frase de Santo Alberto Hurtado – um santo chileno, jesuíta – que dizia assim: "A missa é a minha vida, e a minha vida é uma missa prolongada". Aquilo que ele celebrava e rezava era o ápice da vida dele, mas aquilo que ele vivia na celebração, a Palavra que ele proclamava, o que ele rezava, o sacrifício que celebrava se estendia no dia a dia. Estendia-se nas suas atitudes cotidianas e, então, tornava-se uma luz que iluminava o mundo. Luz não por si própria, mas que refletia a grande luz que é Jesus, o Sol que é Jesus Cristo.
E que assim seja a vida de cada um de nós. Que possamos, sendo coerentes com a Palavra, com o que celebramos, com os sacramentos que recebemos ou vamos receber, ser essa luz. Que Deus permita-nos essa graça! Tendo a coerência com Sua Palavra, com o Evangelho, sermos uma luz que ilumina todo o mundo.
Homilia: Frei Sérgio Sambl (Ordem dos Agostinianos Recoletos – Paróquia Santa Rita, Vitória/ES) – 5º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 05/02/2017 (Missa das 10h).

Valorizemos o "ser" acima do "ter"
29/01/2017
Queridos irmãs e irmãos, estamos em festa pelos 77 anos de nossa comunidade paroquial! E queremos render graças a Deus por tudo que Ele tem realizado na história desta comunidade e em nossas vidas. A liturgia de hoje nos contribui meditando sobre a fidelidade a Deus, a pobreza espiritual e reconhecermos que o nosso verdadeiro e único mestre é Jesus Cristo, Nosso Deus e Salvador.
Na leitura da profecia de Sofonias [Sf 2,3; 3,12-13], estamos no século VII a.C. e o povo vivia muito sofrido, muito maltratado, devido às guerras, às invasões, às culturas e religiões de outros povos que foram influenciando o povo de Israel. Já não bastasse tudo isso, ainda o rei daquele período foi inventar de ser um adivinho e começou a querer prever o futuro. E, acreditando nessas coisas, entregou seu único filho em sacrifício aos deuses pagãos. Nessas circunstâncias, a cabeça do povo estava uma confusão total. E é diante deste contexto, no qual muitos haviam perdido a esperança, que o profeta Sofonias levanta a sua voz para dizer que o nosso Deus não nos abandona e que devemos ser fiéis a Deus, sobretudo como os pobres. Porque no ontem e no hoje – não que os ricos não sejam – os pobres sempre demonstraram muita fidelidade à sua fé. Então o profeta diz: “Sejamos como os pobres, pobres em espírito, porque eles são fiéis ao projeto de Deus”. E este Deus há de vir nos salvar: “Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade; achareis talvez um refúgio no dia da cólera do Senhor... serão apascentados e repousarão, e ninguém os molestará.“.
Devemos ser fiéis como os pobres que, embora não tendo nada, são fiéis à fé que professam. Este contexto é importante para entendermos o Evangelho de Mateus [Mt 5,1-12a] em que Jesus vai dizer: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Jesus está falando que só os pobres serão salvos? Não! É a mesma coisa do profeta Sofonias. Só que Jesus vai até o Monte Sinai, que é o local da aliança, onde Deus entrega a Moisés os mandamentos, sendo que o primeiro deles é “amar a Deus sobre todas as coisas”. E o nosso próximo, como a nós mesmos.
Quando nós amamos a Deus sobre todas as coisas, não importa se temos bens materiais ou não. Deus é a nossa felicidade. Quando nós amamos o nosso próximo por aquilo que ele é e não por aquilo que ele tem – ou por aquilo que ele pode nos proporcionar –, nós encontramos a verdadeira felicidade. Mas quando nós nos aproximamos de alguém porque ele pode nos dar status, pode nos oferecer um trabalho, pode nos fazer alguma coisa que vai ajudar a nossa vida financeira, aí nós não encontramos a felicidade nesta amizade. Por isso que colocar Deus em primeiro lugar é fundamental na nossa vida particular, na vida matrimonial dos casais, como os que hoje estão aqui celebrando 10 e 20 anos de casados. É fundamental também colocar Deus em primeiro lugar quando se vai educar uma criança no caminho de Jesus. É igualmente importante colocar Deus em primeiro lugar antes do templo, da nossa igreja, que completa 77 anos. Devemos saber que, embora tenhamos uma igreja muito bonita, mais importante do que uma bela igreja é o Templo do Espírito Santo de Deus, que habita em nós. Ainda que acontecesse um terremoto e toda esta estrutura viesse ao chão, a nossa igreja iria acabar? Se ela acabar, isto significa dizer que estes 77 anos em que frequentamos essa paróquia não serviram para absolutamente nada.
Quando nós aprendermos que é mais importante “ser” do que “ter”, nós encontraremos a razão do nosso viver. E quantas pessoas colocam o ter em primeiro lugar! Não que dinheiro não seja importante. Ele o é, para sobrevivermos, para vivermos bem, para nos alimentarmos, para passearmos. Mas ele não pode ser a única busca de nossa vida, muito menos ser a primeira. Nos 20 anos de matrimônio de um casal, se eles tivessem colocado o dinheiro em primeiro lugar, será que teriam permanecido juntos até hoje? Você, casado, reflita sobre isto.
Hoje em dia, a primeira coisa na qual os casais pensam quando vão se unir é comprar um “apê”. Se possível, com 90 m². Depois precisa colocar a luz, a cortina. Precisa comprar a mesa do jeito que quer, TV de 55 polegadas, full HD, 4K, com acesso à internet, wi-fi, NETFLIX. Enfim, uma série de coisas a se pensar. Onde ficou o matrimônio? Ficou na estrutura da casa?
Ontem, um casal celebrou 50 anos de matrimônio e eu perguntei a eles: “quando vocês se casaram, o que vocês juntaram?” A resposta da mulher, exatamente como ela falou, foi: “nós juntamos as nossas misérias, padre”. Quantos casais, ao invés de juntarem as suas misérias para serem felizes, colocam a sua felicidade nos bens materiais e, portanto, nunca encontram a felicidade. É importante ter dinheiro? Sim. Mas são felizes nas palavras de Jesus os pobres em espírito. Aqueles que, mesmo possuindo, não se agarram ao seu ter financeiro. O mais importante é o ser. Eu me aproximo de alguém, eu amo alguém, não por aquilo que ele pode me oferecer, mas por aquilo que podemos construir juntos.
E a vida familiar é o caminhar juntos, sendo um só coração, uma só alma. Vivendo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. Assim como o crismado, que já adulto assume de modo maduro: “eu quero ser cristão! Eu quero ser católico!” Há outros que dizem que querem, mas nem nas missas aparecem. Que tipo de cristão católico você é? Não é! Nós somos aquilo que demonstramos, aquilo que professamos, aquilo que defendemos com a nossa vida. Há muitos que dizem que frequentam a paróquia Santa Teresinha há 20 anos, 30 anos ou 40 anos. Ontem mesmo teve alguém que falou para mim: “padre, eu frequento esta paróquia há 70 anos!” Que bom! Louvado seja Deus! Mas será que nós defendemos esta paróquia? Nós amamos esta paróquia? Nós lutamos por essa paróquia ou somos meros frequentadores? Nós somos uma família, assim como dentro de nossas casas. E, em muitos lares, infelizmente, temos casais que só dormem na mesma cama e sob o mesmo teto mas que não vivem a realidade do amor, da comunhão, da solidariedade, da compaixão e da amizade. E na medida, meus irmãos e irmãs, em que a nossa humanidade vai crescendo com o conhecimento da humanidade de Jesus Cristo, que professamos e comungamos, vamos reconhecendo que Ele é o nosso verdadeiro Mestre e Salvador. E aí a discórdia não existe mais dentro de casa e nem dentro da nossa comunidade. Como vai nos dizer São Paulo na Segunda Leitura de hoje, da primeira Carta aos Coríntios [1Cor 1, 26-31].
Na semana passada, nós refletimos que Paulo fundou uma comunidade mas depois veio outro profeta chamado Apolo, que falava muito bonito e aí as pessoas começaram a dizer: “eu não quero mais ouvir mais Paulo não; agora quero ouvir Apolo”. Outro falava: “eu só quero ouvir Cefas porque ele fala bonito, porque faz chorar”. Então São Paulo, sabiamente, pergunta: “nós somos de Paulo, de Apolo, de Cefas ou de Jesus Cristo?”
De quem nós somos? De quem você é? Devemos ser de Jesus Cristo. Aquela era uma cultura influenciada pela cultura helenística, da sabedoria, em que desde criança você tinha que escolher alguém para ser seu mestre, para lhe educar na arte da vida. E aí eles confundiram o anúncio missionário com estes mestres da sabedoria filosófica. Mais ou menos como se hoje nós quiséssemos estudar na melhor escola de Santo André. Mas o que tem a ver estudar na melhor escola de Santo André com ser discípulo de Jesus Cristo, Nosso Senhor?
E é neste contexto que Paulo nos diz: “Entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres. Na verdade, Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir os sábios”. Olha o sinal de estupidez que, para muitos, é a cruz. Era um sinal de fracasso. E a cruz se tornou o maior símbolo de vitória da história da humanidade. É o maior símbolo que temos! É o símbolo mais propagado na história da humanidade: a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para muitos, é fracasso. Para muitos, é estupidez. Mas, para nós, é sinal de Salvação!
Deus escolheu o que o mundo considera como fraco para, assim, confundir o que é forte. Quantas coisas nós defendemos e que o mundo, atualmente, está desvalorizando! Como a vida em família, o sacramento do matrimônio. Hoje já se casa com regime de separação total de bens porque, se daqui a um tempo não der certo, vai cada um para o seu canto. O que se espera viver no futuro se você já casa e cada um fica com contas separadas a serem pagas? Isto está correto para quem disse que seria um só coração, uma só alma e construir uma vida juntos? É como se o padre assumisse uma paróquia e dissesse: vou ficar aqui apenas uma semana e qualquer problema vou embora. Não tem esforço nenhum para superar as dificuldades. Para nós, o matrimônio é sacramento indissolúvel. Enquanto para a sociedade de hoje é um vínculo contratual entre duas pessoas que, se não der certo, vai cada um para o seu lado. E devemos lutar contra isso!
Nós, meus irmãos e minhas irmãs, devemos observar o que diz São Paulo: “Quem se gloria, glorie-se no Senhor”. Que ao celebrarmos esta eucaristia, sejamos pobres de espírito, deixando Deus preencher nosso ser não simplesmente com bens materiais – e repito: são importantes, mas não são o principal objetivo da nossa vida – para que, na pobreza evangélica, saibamos o que é verdadeiramente importante para nós, para nossa família, para a história desta comunidade de Santa Teresinha. Embora sejamos uma paróquia muito bonita, o mais importante para nós é sermos uma família paroquial, dando as mãos. Embora diferentes, caminhemos na mesma direção de vivermos os valores evangélicos mesmo neste mundo distorcido e dilacerado por tantas pessoas gananciosas, mentirosas e que estão usufruindo do direito do pobre, do indefeso e das classes menos favorecidas. Que sejamos, neste mundo, sinal do verdadeiro amor de Deus, que encontra espaço em nossos corações, em nossas casas e em nossas famílias!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 29/01/2017 (Domingo – Missa das 10h).

Jesus é a Luz e a Salvação da nossa vida
22/01/2017
Estamos celebrando o 3º Domingo do Tempo Comum, que é o Tempo da esperança, de constantemente renovarmos a nossa caminhada de fé, refletindo sobre as atitudes de Jesus em Sua vida pública, que nos fazem perseverar em nossas convicções. Por isso, a Liturgia de hoje nos convida a meditar sobre a luz de Deus que ilumina as trevas e nos traz novas esperanças, nos convida a ouvir o chamado de Deus em nossa vida e que o Evangelho vivido não cause, em cada um de nós, a divisão, que é contrária ao projeto de Deus.
Na Primeira Leitura, do livro do profeta Isaías (Is 8,23b - 9,3), estamos no oitavo século antes de Jesus Cristo; o povo está muito sofrido pela escravidão, pelo exílio, pela influência de outras culturas, outras ideologias... O paganismo vai se inserindo no seio da comunidade, os pobres vão ficando cada vez mais pobres e os políticos sempre prometendo que aquela situação de opressão irá acabar. Diante desse cenário, surge o profeta Isaías, trabalhando a diferença entre luz e trevas, luz e sombra, para nos recordar que o nosso Deus é o Deus da esperança, que Ele há de nos salvar. Assim como nos salvou ao longo de toda a história, Ele há de ajudar a superar tudo o que o povo está sofrendo, sobretudo na terra de Zabulon e de Neftali. E por isso o profeta diz: "O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu" (Is 9,2).
Há poucas semanas celebramos o Natal, e eu pergunto a vocês: quem é a luz para nós? Jesus é a nossa luz! Para que o povo saia da escuridão é necessário que se deixe iluminar por Deus, pela Sua Palavra, pelos Seus ensinamentos. Será que nós nos deixamos iluminar por Deus? Os nossos pensamentos, os nossos sonhos são iluminados pelo próprio Deus? Para muitos que estão cansados, desistiram, não têm mais esperança no país, na família, nos jovens, nas crianças... Será que Deus continua iluminando a nossa vida? Ele continua! Mas será que nós nos deixamos ser iluminados? Porque onde há luz, as trevas vão se dissipando. Você tem deixado Deus dissipar as trevas do seu coração, da sua vida, da sua mentalidade? Cantamos no Salmo 26: "O Senhor é minha luz e salvação, o Senhor é a proteção da minha vida"; será que, de fato, o Senhor é a nossa luz, é a nossa salvação?
Se o Senhor é a nossa luz e salvação, se faz necessário nos comprometermos com a fé que nós professamos. Fé, meus irmãos e irmãs, que leva Jesus Cristo, nosso Senhor, no Evangelho de hoje (Mt 4, 12-23), após a morte de João Batista, a ir para uma terra de pagãos, um local difícil de viver o Evangelho. Jesus poderia ter começado num lugar mais fácil, num local menor, sem tantas dificuldades. Mas não! Recordando o que o profeta Isaías fala no capítulo 8 de seu livro, Jesus vai para a terra de Zabulon e Neftali. E, ali, na Galiléia dos pagãos, "o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e, para os que viviam na região escura da morte, brilhou uma luz" (Mt 4, 16). Quem é a luz? Jesus! Jesus é a luz e Jesus vai até aquele povo sofrido para iluminar e resgatar a esperança deles. Isso nos faz recordar que a nossa missão, meus irmãos e irmãs, não é ir aos lugares mais fáceis, mas aonde se faz necessária a nossa missão. Você tem enfrentado as dificuldades ou você tem ido pelo lado mais fácil? O mundo precisa de pessoas corajosas, de cristãos que vivam verdadeiramente o projeto de Deus. Por isso Jesus passa por aquele povo dizendo: "Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo" (Mt 4,17). E a conversão é uma condição fundamental para nossa salvação.
Nós temos buscado a conversão do nosso coração? Ou já nos acostumamos com a nossa vida? Todos nós precisamos converter algo em nossa vida; o que eu e você precisamos converter? Você continua buscando a conversão do seu coração? Ou você já se acostumou ao modo que vive e prega a sua fé? Por isso a Palavra de Jesus é também para nós hoje: "Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo"! E, à medida que eu me converto, eu sou capaz de ouvir a voz de Jesus me chamando, como chamou Pedro, André, Tiago e João, que imediatamente – diz a Palavra de Deus –, ao ouvir o chamado de Jesus, deixaram as redes e O seguiram, deixaram a barca e o pai e O seguiram. Você tem ouvido o chamado de Deus em sua vida? Tem conseguido abandonar a sua zona de conforto para seguir Jesus? Ou aquela voz está ressoando em seu ouvido e nada de você responder?
Quem de nós não tem medo de responder a este chamado, meus irmãos? Eu sempre tive medo... Até na última missão que o Bispo me enviou eu continuei com medo, mas o medo não pode nos paralisar. E não é de agora! Quando eu tinha 14 anos, acabei de fazer a Crisma e fui chamado para dar a Catequese de Crisma; eu pensava: "Senhor Jesus, eu não consigo falar para três ou quatro pessoas reunidas... O que eu vou falar?", mas com muito medo eu disse "sim" e Deus foi me capacitando. Quantas pessoas, nesta comunidade, que eu fui chamando e diziam: "Não, padre, eu não, pelo amor de Deus!", e sim, você veio! Aceitou o chamado e hoje está ajudando a evangelizar nossa comunidade de fé. Por isso, para aceitar o chamado de Deus três coisas são fundamentais. A primeira delas, que eu aprendi lá na pastoral vocacional, é que não é o padre que chama, é o próprio Jesus! Muitas vezes, através de um instrumento humano – o padre, o catequista, uma criança, uma palavra que ouvimos na Santa Missa... Mas é o próprio Jesus nos chamando a sermos pescadores de almas.
Mas para isso, meus irmãos, é necessário um segundo ponto: ter coragem! E quanta coragem está faltando para os cristãos católicos, que muitas vezes não conseguem, na sua vida cotidiana, testemunhar a sua fé. Lá na empresa onde trabalha, não consegue dizer: "Eu sou cristão, sou católico, a minha fé é esta, os meus valores são estes". No grupo de amigos – sem querer afastar todo mundo, porque o cristão não deve ser chato, como já refletimos –, você não precisa fazer o que os outros fazem se você não quer, se a sua fé não permite e se isso não corresponde aos seus valores. Dentro de casa, na educação dos filhos, quantos pais e mães eu já acolhi nesta comunidade que vieram chorar porque os filhos fazem o que querem dentro de casa e porque perderam as rédeas com os filhos; e por que não dizer, com coragem: "Esta casa é minha, você está sob meu teto, nesta casa são os meus valores, é a minha educação que você vai seguir!"? Quantos pais não fazem isso e vão deixando os filhos fazerem o que querem, vão deixando seus valores, deixando sua fé, deixando suas convicções de lado... Para seguir Jesus é necessário coragem! O Cristianismo não é para medrosos, é para quem tem coragem! Também não é para quem fica em cima do muro. É necessário sairmos da nossa zona de conforto e aceitarmos o convite de Deus de anunciar o Evangelho onde Ele nos pede.
E, por último, é necessário acolher e se comprometer com a Palavra do nosso Mestre. Comprometimento, muitas vezes, continua a faltar para cada um de nós. Será que eu estou comprometido com a fé que eu professo com meus lábios, com a fé que eu professo nos valores que a Igreja me apresenta? Ou simplesmente lanço palavras ao ar e não me comprometo com aquilo que eu professo? Quantas palavras são jogadas pelos ares e acabamos não nos comprometendo com aquilo que professamos... A falta de compromisso gera divisão na comunidade.
A divisão na comunidade de Coríntios, na Segunda Leitura de hoje (1Cor 1,10 - 13. 17), é muito visível. Paulo, após fundar a comunidade de Coríntios, vai para outras missões, e aí começam a vir outros pregadores. Eu também não sabia, mas Paulo, embora escrevesse muito bem, não era um bom pregador; Apolo era o grande retórico, a pessoa que falava com convicção. E depois que Apolo passa pela comunidade de Coríntios, começam os grupinhos: "Eu só sigo aquilo que Apolo fala"; o outro dizia: "Não, eu estou com Paulo"; o outro: "Não, eu estou com Cefas". Nesse contexto é que Paulo escreve a Segunda Leitura de hoje, para nos dizer: "Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar. Com efeito, pessoas da família de Cloé informaram-me a vosso respeito, meus irmãos, que está havendo contendas entre vós. Digo isso porque cada um de vós afirma: 'Eu sou de Paulo'; ou: 'Eu sou de Apolo'; ou: 'Eu sou de Cefas'..." (1Cor 1, 10-13a). Mas nós não somos todos de Cristo?
De quem nós somos? Nós somos de Cristo! Nós somos de Cristo e não podemos deixar que haja divisão entre nós. Dentro de casa não pode haver divisão, no matrimônio, na família, na Igreja, na nossa comunidade... Não pode haver divisão, porque todos nós somos de Cristo! Por isso, vamos pedir a Deus que, ao celebrarmos esta Eucaristia, Jesus possa iluminar verdadeiramente a nossa vida, para que, como cantamos no Salmo 26, Ele seja a nossa verdadeira salvação. Iluminados pelo Cristo, deixemo-nos conduzir por Sua Palavra, que nos chama para sermos discípulos, missionários, pescadores de almas. E não permitamos que nada e nem ninguém cause divisão entre nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º domingo do Tempo Comum (Ano A) – 22/01/2017 (Domingo – Missa das 10h).

Deus nos chama e pede que escolhamos, com autoridade, o caminho da Salvação
15/01/2017
Meus irmãos e irmãs, a liturgia deste final de semana nos faz meditar sobre o chamado de Deus em nossas vidas. Quando se fala em chamado, normalmente, nós já terceirizamos o serviço e pensamos que isso é papel só de padres e freiras. Mas não é. Todos nós somos chamados e, de uma forma particular e especial, aquele que é batizado. Todos nós que fomos batizados somos convidados a sermos sinais do amor de Deus. E a liturgia de hoje vai mostrar várias faces deste fato.
Na Primeira Leitura [Is, 9,3.5-6], continuamos a reflexão daquilo que foi meditado domingo passado. Isaías está chegando em Jerusalém, que está em ruínas. E, naquela situação complicada de meados de 500 a.C., podemos observar sacrifícios que existiam ali. Muitos se tornaram escravos na Babilônia, mas muitos morreram. Muitos outros nasceram e não puderam conhecer Jerusalém. Então quando se fala: “voltar para sua terra”, isto soa bem para quem conhece esse lugar. Porém, como muitos nasceram na Babilônia, a realidade deles está ali. Assim, podemos entender uma preocupação deste povo escolhido por Deus: são chamados a voltar para sua terra e, mesmo sem conhecê-la, eles dirigem-se para lá. Dessa forma, vamos entendendo, nesta catequese, que existe um Deus que nos escolhe, nos chama e nos envia. Eu não sou um abandonado, um esquecido. Independentemente da situação que cada um de nós esteja passando, isto não quer dizer que fomos esquecidos por Deus. Nosso Pai fica inquieto diante de nossas cruzes, fica impaciente diante do nosso sofrimento. Sendo assim, Isaías, olhando as ruínas de Jerusalém, vai começar a alimentar o coração desse povo que, mesmo diante deste cenário, faz a experiência do amor de Deus, que não se esqueceu deles e não se esquece de nós. É por isso que o profeta começa essa grande catequese falando a cada um de nós sobre esse chamado que Deus faz, um chamado específico “para restaurar e reconduzir”, o que vai ao encontro do papel de todos nós batizados: devemos nos sentir comprometidos com a vida do outro. Eu tenho que restaurar a vida do outro, eu tenho que reconduzir o irmão, a partir do meu testemunho, para Deus. É para isso que serve o batismo: para me dar força para ser testemunho vivo e sinal de esperança na vida do outro, conduzindo ele para Deus.
Tenho que buscar o Céu, e não ser mais um “bonzinho” na terra. Deus não precisa de gente apenas “boazinha”. A igreja não precisa de gente somente “boazinha”. Quem é esse “bonzinho”? É aquele que faz aquilo que lhe convém, ou seja, um interesseiro. Porque a pessoa “boa” é boa no seu caráter. Pode estar tudo ruim ao seu redor, mas ela vai continuar sendo boa pois está no caráter dela. Deus precisa de homens e mulheres que assimilem essa vontade Dele e sejam pessoas boas e não “boazinhas”. Eu não posso ser interesseiro na vida do outro, eu tenho que ser “bom”, pois assim experimento a bondade de Deus na minha vida. Mesmo reconhecendo o que já fiz, reconheço que Deus me ama e por isso sou bom na vida do outro, pois assim Deus mostra sua bondade em minha vida e temos como reflexo a Salvação. Eu não posso ter outro horizonte além do céu. Mesmo tendo a chance do purgatório, este não me interessa. Eu quero o céu! Quero estar diante de Deus! Portanto ser bom na vida terrena vai permitir que a bondade possa brotar das minhas atitudes e das minhas mãos e, deste modo, eu atingirei meu objetivo. Deus me ensinou a ser bom e me mostra onde ele me quer. Claro que isso exige de nós desafios e sacrifícios, pois não entendemos muitas coisas. Por exemplo, quando somos crianças e a nossa mãe diz: “não quero que você converse com aquela pessoa”. Em um primeiro momento, não entendemos. Porque justamente aquela pessoa que ela vetou é a mais legal da turma, a mais popular e divertida. Mas, com o passar do tempo, compreendemos o motivo pelo qual nossa mãe disse aquilo. Deus também é assim. Em Sua caminhada conosco fala: “Não quero que você faça certas coisas que te levem à perdição”. E, muitas vezes, nós questionamos porque Nosso Pai nos proíbe certas coisas. Contudo, no decorrer do tempo e com a maturidade da fé, percebemos que aquilo que Ele nos proibiu não iria acrescentar nada na minha fé, na minha caminhada e da minha intimidade com Ele. Deus administra a nossa teimosia. E, quando negligenciamos este cuidado, muitas vezes corremos o risco de configurar nossa vida de forma errada. Aí pensamos que não tem mais jeito. Mas Deus é Aquele que sempre vai arrumar um jeito para poder me tirar das armadilhas que crio para mim mesmo. Por isso, tenho que ser sinal de Salvação na vida do outro.
Na Segunda Leitura[1Cor 1,1-3], Paulo está na comunidade de Coríntios, em um local que possui dois grandes portos. Ou seja, é um lugar com um movimento muito grande de gente que não é dali. Então não é possível fazer uma pregação contínua, como uma catequese. Esse povo era muito ligado à cultura grega, que têm vários deuses e acredita no uso indiscriminado do corpo como fonte de prazer. Portanto, estas filosofias não correspondem à nossa fé. Com isso, Paulo começa a colocar valores nesta comunidade, dizendo o que é uma comunidade voltada para Cristo. Paulo fala que foi chamado por Jesus e por isso tem autoridade. Ninguém questiona o que ele está dizendo pois ele experimentou a presença real do Cristo. Vocês se lembram da semana passada, quando meditamos a importância da bênção do pai e da mãe aos seus filhos? É essa a autoridade da palavra. Quando os pais fazem carinho sobre os filhos, ninguém mais tira. Não existe uma suspensão de bênção: ela foi dada e ficou. Mas a autoridade dos pais não se resume somente a dizer: “aqui na minha casa não entram essas coisas”. Os jovens devem entender e dizer: “não vou fazer isso, porque não foi isso que meus pais me ensinaram; nós temos fé”. Isso é a autoridade dada pelo batismo. Eu tenho que ter essa autoridade, eu não posso ser aquele que vai agradar a todo mundo. Quase não encontramos mais símbolos da fé católica nas casas. Muitas vezes somos recebidos com objetos de outras crenças na sala. E, se isso entrou na minha casa, significa que não tenho autoridade sobre ela. Jesus pediu que você pudesse levá-Lo para sua casa e, muitas vezes, começamos a levar outras coisas não condizentes com a religião. Assim, Paulo está gritando até hoje: “Não precisamos disso”. Nós temos o Deus vivo na nossa vida e na nossa caminhada. Não são as superstições que vão me proteger, é o próprio Deus! Ele nos deseja santos. E santo não é aquele que acredita que o importante é só rezar. Santo é aquele que enxerga o reino de Jerusalém em ruínas, mas se mantém firme na fé.
O que Jesus espera de mim é que, mesmo em meio a essa situação dolorida e sofrida, eu ainda mantenha essa intimidade com Ele. No Evangelho de hoje [Jo 1,29-34], João vai dizer “eis o cordeiro de Deus que tira O pecado do mundo”, no singular, pois para João só existe um pecado no mundo, que abre as portas e alimenta todos os outros pecados, que é a distância de Deus, que é renunciar o projeto de Salvação. Quando eu permito que essas coisas, que não são de Deus, entrem na minha casa, estou dizendo, publicamente, que não confio em Jesus e que seus ensinamentos não me trazem segurança. Quando João diz que Ele vai tirar o pecado, ele se refere a esta distância, pois quando faço outras opções estou me distanciando de Jesus. A segunda característica que João vai ressaltar é a força do Espírito Santo, que traz luz às situações. Quanto mais eu me aproximo dessa luz, mais eu reconheço a graça de Deus na minha vida e vou me distanciando dos pecados. Pois, imerso na caridade dada por Deus, eu quero assumi-Lo na minha vida, quero ser santo, quero o Céu. Quanto mais distante eu fico daquilo que Deus oferece pra mim em seu projeto de amor, quanto mais me afasto da Sua luz e me envolvo nas trevas dos meus vícios, menos eu enxergo pois já estou na negritude dos meus pecados. E tudo muda em nossa vida, para pior, com o pecado. João chama a atenção para combatermos esse pecado maior e assim fecharmos as portas para os outros pecados. Se eu tenho um pecado com o qual eu quero acabar, mas permaneço distante de Deus, continuo o alimentando pois não tenho forças para acabar com ele. Na minha distância de Deus eu continuo fortalecendo minhas maldades. Mas, quanto mais me aproximo de Deus e inundo-me de Sua graça, perdão e misericórdia, mais forças tenho para lutar.
Toda a liturgia de hoje nos fala sobre o chamado. Mas um chamado honesto. Eu não posso arrumar “jeitinho brasileiro” na fé, eu não posso tentar puxar o tapete de Deus. A Fé não pode ser dúbia. Tenho que ter autoridade para dizer: “isso eu não quero; isso não é da minha fé”. É nessa autoridade – dada pela graça de Deus, e que a liturgia de hoje nos faz meditar –, é dentro desse caminho que eu devo seguir. Desde as coisas pequenas até as coisas maiores, pois senão o ciclo do pecado se alimenta até nossa vida terminar.
Temos que caminhar para Deus e levar os outros para Ele. Não porque a igreja precisa de mais fiéis, mas sim porque fiz a experiência com Deus e fico inconformado com o fato do outro não ter feito. A liturgia de hoje nos chama a meditar sobre os passos que devemos dar voltados para o coração de Deus, mesmo diante de nossas dores, como diz a Primeira Leitura, ou sendo convidados a sermos santos, como diz a Segunda Leitura. Tenho que saber lutar contra os pecados, tendo autoridade sobre a minha vida, assumindo o que Deus me oferece e dizer NÃO para o que atrapalha minha vida. Deste modo, vamos buscando cada vez mais sermos de Deus.
O bonito disso tudo é o caminho e como ele é construído. Porque é Nele, com Ele e por Ele que nossa vida tem sentido. Temos a certeza de que não estamos sozinhos: é Deus que trabalha e se cansa para poder me colocar de novo no caminho. Ele trabalha de uma forma incansável e, na hora do reconhecimento daquilo que o Pai fez por mim, eu não posso colocar o mérito em outras coisas. É só por Deus que nossa vida tem sentido. E essas batalhas são gostosas de se realizar pois vou me aproximando cada vez mais do coração de Deus. E por isso vale a pena ser santo. Por isso vale a pena olhar os problemas e enxergar neles também a mão de Deus reconstruindo tudo. Mas isso depende de nosso coração aberto para reconhecer o amor de Deus em nossas vidas e, de modo especial, no meio de nossas famílias.
Homilia: Pe. Fernando Valladares – 2º domingo do tempo comum (Ano A) – 15/01/2017 (Domingo – Missa das 10h).

Sejamos como os magos: homens e mulheres loucos por Jesus!
08/01/2017
A Epifania do Senhor nos lembra do caminho feito desde o Advento. O Advento e o Tempo do Natal nos fazem meditar sobre este grande mistério da fé: a primeira vinda de Cristo, o nascimento de Nosso Senhor, que assumiu a nossa condição humana. Ao mesmo tempo, essas liturgias nos fazem meditar também sobre a segunda vinda de Cristo, que será em nossa morte. A Epifania nos faz refletir, portanto, sobre a importância deste amor de Deus, que já vai nos preparando, dentro dessa importância, para que, quando o Senhor nos chamar, estejamos prontos.
Quando falamos de morte, parece que é sempre o outro que vai morrer. Vamos usar como exemplo esta situação dos jogadores da Chapecoense. Era uma viagem; eles iam jogar ali e depois voltar. Mas quem disse que eles iam voltar? A vida é sensível, por isso tenho que valorizar quem está perto de mim, porque a qualquer momento eu posso ser chamado a dar conta daquilo que sou e daquilo que fiz. Desse modo, o Advento, o Natal e a Epifania são momentos muito fortes, nos quais meditamos bastante não só sobre a primeira vinda de Cristo, mas também sobre a segunda vinda de Jesus, ou seja, quando Ele, face a face, diante da minha própria história, irá me julgar.
Encerrando este Tempo do Natal, também somos convidados a sermos homens e mulheres de esperança, porque tudo se consome no tempo, menos aquilo que Deus plantou em nós, que é o Seu amor. Se existe algo eterno que podemos experimentar na terra é o amor! As pessoas que amei, as pessoas que me amam... Depois que eu morrer, terei essas pessoas na mente. Eu posso até ir para o inferno, e lá no inferno eu terei a memória das pessoas que me amaram, as experiências de amor que tive durante a vida. Disse Dom Bosco que quando a gente morre e vai para o céu, Nossa Senhora nos acolhe e vai nos apresentando todas as pessoas que a gente amou na terra e todas as pessoas por quem rezamos na terra. Por isso somos homens e mulheres de esperança, de oração: porque a nossa história não se consome aqui.
O último Domingo do Advento teve um cenário quase parecido com o do Evangelho de hoje [Mt 2, 1-12]. Lá, José sonhou e tomou a decisão de aceitar Maria como esposa [ref. Mt 1, 18-24]; aqui, os Reis Magos sonham e mudam seu caminho para voltarem para suas casas. Hoje, nós somos convidados a sermos homens e mulheres ousados, ou seja, que têm a capacidade de sonhar. O que é a fé? É o sonho de Deus se realizando na minha vida, na tua vida! Eu tenho que ter esta capacidade de sonhar, sonhar com um mundo melhor, sonhar com minha família melhor, sonhar em chegar ao céu... E lutar para que este sonho se realize.
Na primeira leitura [Is 60, 1-6], nós estamos no séc. VI a.C. Este texto foi escrito 500, 550 anos a.C. É um tempo em que o povo de Israel é liberto. Esse povo era escravo na Babilônia e ficou muitos anos ali, mas agora eles são libertos e voltam a Jerusalém. Só que Nabucodonosor, rei da Babilônia, antes de invadir Jerusalém, destrói tudo, não sobra nada. E, agora, este pessoal que está voltando para Jerusalém – sem dinheiro, porque eram escravos – vai ter que reconstruir a cidade. É olhando para isso que Isaías é usado como instrumento de Deus para poder fazer este povo sonhar e ter esperança. Nas reportagens por aí, quando falam de Jerusalém, de Israel, vocês devem trazer à memória que as construções lá são, em sua maioria, feitas de pedras. São pedras claras, pedras brancas, e existe uma lei em Israel para que seja mantido assim. Agora vamos imaginar: deserto; Jerusalém é um lugar alto; estas pedras estão quebradas, estão moídas num monte, num lugar alto; com o reflexo do sol, aquilo brilha – não porque é uma coisa sobrenatural, mas porque é uma pedra polida, porque ela está quebrada. Isaías, olhando isso ao chegar em Jerusalém, olhando lá em cima, vê uma cidade em ruínas. Mas a ruína não ofuscou o seu brilho. Isso lembra também, a cada um de nós, que existem algumas situações em nossas vidas onde aquilo que Deus plantou em nós não se apaga, tal qual Jerusalém nos ensina.
Quantas coisas nos destroem por dentro? Quantas situações nos machucam? Seja a morte, seja um acidente, seja o desemprego, seja a doença ou, então, quando eu me lembro do meu pecado. Isso nos quebra por dentro. Eu não queria ter feito aquilo e fiz; me comportei como Jerusalém, todo quebrado por dentro, envergonhado de mim mesmo. Mas por maior que seja o meu pecado, o meu sofrimento, isso não é quase nada perto daquilo que Deus já plantou em mim: a Sua graça, a Sua bênção, esta luz que me faz continuar a seguir o Seu caminho. Mesmo moídos, mesmo quebrados dentro deste caminho, nós devemos refletir um pouco mais ao olharmos para nossos obstáculos, e perceber que existe um Deus prontinho para nos resgatar e nos tirar daquela situação.
Isso, diante do mundo que aí está, é uma loucura, porque o mundo se envolve com o dinheiro, com o poder... E só. Tanto é que a desculpa para o aborto qual é? "Tadinha desta criança, vai nascer pobre, vai passar necessidade... Então por que deixar nascer? Não é melhor abortar? Vai deixar mais uma pessoa sofrendo no mundo?". Tudo isso a gente ouve por aí, porque o mais importante não é o dom que Deus deu para aquela família, o mais importante é o dinheiro. Não é que "se eu for abençoado, eu terei um filho", é "se eu tiver a bênção do dinheiro, aí sim eu terei um filho". Olha como as pessoas estão se pervertendo... É justamente isso que Isaías quer mostrar para cada um de nós. As coisas de Deus são coisas de gente maluca! Quantos de nós não somos criticados por estarmos aqui, com a igreja toda celebrando a Santa Missa? Quantos de nós não podemos falar em casa, para a vizinhança que fomos à missa, porque seremos motivo de chacota? Porque o povo não aceita aquilo que Jesus nos oferece. Quantas famílias já se recusaram a batizar seus filhos? Talvez você já tenha sido criticado porque quis batizar seu filho, seu afilhado.
Olhe só o Evangelho. O Evangelho de hoje é uma grande Catequese, mas quero me deter aos magos. Alguns textos falam magos, alguns falam sábios, outros falam reis... Mas nós sabemos que é destes três que estamos falando. Gente maluca! Quem é que sai do seu reinado, do seu território, da sua casa, para passar meses a fio num deserto, que durante o dia passa dos 50ºC e à noite vai a 0ºC, atrás de uma estrela? Que maluquice é essa? Largam tudo para ir atrás de uma estrela! E não é para andar confortavelmente, é de camelo! É deserto! Um lugar onde você vai passar necessidade, passar fome. E eles vão carregando tesouros! Aí, acham um menino lá, numa manjedoura, num lugar que era só para ter animais. Eles abrem seus cofres para aqueles que nem conhecem e dão ouro, incenso e mirra. Ouro para uma criança? Mirra? Mirra é para quem já está em fase de falecimento, mirra é para os defuntos. É para alguém que está morrendo que você oferece mirra, não para um recém-nascido. Coisa de doido! É como se a gente oferecesse um caixão para um recém-nascido. Coisa de gente louca! E nós devemos ser loucos por Cristo!
Nós, diante de muitos que nos condenam, devemos assumir esta loucura, devemos assumir este Deus. Porque, senão, nós vamos buscar não aquilo que o Senhor deseja de nós, mas a aceitação dos outros. E é aí que eu começo a esconder as coisas que são de Deus... Quantos de nós falamos em Jesus na escola, no trabalho...? Temos vergonha das coisas de Deus! Temos vergonha de sermos tratados como gente maluca! Os magos não tiveram vergonha, eles fizeram a vontade de Deus e foram adorar o Cristo.
Quantos de nós, nos dias de hoje, abençoamos os nossos filhos? Ou quantos dos filhos pedem a bênção a seus pais? Hoje não fazemos mais isso, porque dá vergonha. Nós não temos a coragem destes pagãos – os magos – de abençoar nossos filhos, porque dá vergonha, porque a gente paga mico. Se o Papa Francisco aparecer na porta da igreja, todos nós vamos ficar felizes, pois é o Papa que vem nos visitar! Mas se, atrás do Papa, estiver a minha mãe, eu vou pedir bênção a ela primeiro! E se, atrás, estiver o meu pai, eu vou pedir bênção a ele primeiro! Porque o Papa a gente sempre vai ter – estamos num tempo em que temos dois papas, além dos bispos, cardeais, padres... Mas ninguém dá a bênção que aquela mulher, a minha mãe, e aquele homem, o meu pai, me dão. Em casa eu tenho uma fonte de bênção! No dia em que eles morrerem, ninguém mais na face da terra vai poder me dar aquela bênção que meus pais me dão. E isso não passa pelo caráter. Meu pai pode ser um marginal; minha mãe, uma prostituta – entre um homem e outro ela me abençoa, e vale! Porque a bênção que ela me dá não está ligada ao pecado dela, está na divindade de ser mãe. Meu pai pode ser um morador de rua e, lá da sarjeta, me olhar e me abençoar. Valeu! Porque não está ligado ao que ele tem, mas à divindade que Deus deu a ele de ser meu pai.
Então, são essas coisas loucas, que o mundo quer que a gente passe a esquecer, que vamos tendo vergonha de mostrar para nossos filhos – que eles são dons de Deus e por isso eu os abençoo. Meu filho não é um acidente! Não é uma aventura! Meu filho é o dom de Deus na minha vida! E aí a gente vai reconhecendo essas bênçãos de Deus. Por isso eu tenho que sonhar, por isso eu tenho que ter um coração voltado para Deus: para que eu possa reconhecer os sinais do Seu amor acontecendo na simplicidade da minha vida. Aquela mulher que lavou a louça, aquele homem que sai cedo para trabalhar: eles são a simplicidade. Talvez não seja o pai ou a mãe que você queria, mas foram os presentes que Deus te deu. É dom de Deus! Eu não tenho que escolher pai e mãe, porque Deus escolheu a minha história, porque a minha família é fonte de bênção.
Diferente dos magos, que não tiveram medo de serem tratados como gente maluca, nós temos medo de passar vergonha no mundo como ele está. Como é bonito a gente entrar em um restaurante e ver uma família que está rezando antes da refeição e o restaurante todo parado para tirar sarro; como é bonito, lá no fast food da vida, os jovens pararem para rezar e a lanchonete toda parada, para tirar sarro. São os magos do nosso tempo! Não ter medo de pagar mico em nome de Deus, não ter medo de passar vergonha perto daquilo que Deus dá, perto daquilo que Deus oferece. E a gente está chegando neste nível: eu tenho vergonha de pôr em prática as coisas que Deus me ensinou, eu tenho vergonha de pôr em prática as coisas que Deus espera de mim; eu quero colocar em prática aquilo que o mundo deseja de mim. Mas, como eu disse no início, tudo se consome no tempo, menos aquilo que Deus plantou em cada um de nós!
Segunda leitura: Paulo escreve para a comunidade de Éfeso [Ef 3, 2-3a.5-6]. Paulo está preso em Roma, ele sabe que ali será o fim dele. Então, ele espalha esta carta catequética, orientando a comunidade de Éfeso, falando sobre este dom, esta maravilha – como diz o próprio texto, a graça. O que é a graça? É saber olhar o filho como um todo, olhar a esposa, o esposo, olhar o irmão. Isto é algo tão importante em nossa vida... A família é um dom tão levado a sério por Deus que a segunda pessoa da trindade assume a nossa condição humana para ser nosso irmão. E a gente se esquece disso. A gente coloca a trindade simplesmente como um Deus perfeito, mas esquece que um destes "deuses" assumiu a nossa condição humana para poder ser nosso irmão. A família é algo muito sério, a ponto de Cristo querer ser nosso irmão!
Uma coisa que estamos perdendo em nossas casas é sentarmos juntos e almoçar, jantar, conversar. Hoje também não existe mais isso. Hoje nós temos vergonha de nos juntarmos em casa. Cada um tem o seu espaço, sua TV. Cada um assiste o seu programa. A gente não senta mais junto. Sabe quando a gente vai se juntar? Quando alguém morre. Aí tem um caixão e fica todo mundo em volta, chorando... Aí já passou! Não tem mais ninguém ali, é só um corpo. O que eu poderia ter feito, não fiz. E agora quero fazer com aquele corpo...
Ter este espírito natalino muitas vezes pode nos perverter. Queremos ser caridosos, fazer atos de caridade... Aí atravessamos a cidade para ajudar os moradores de rua. Isso é válido, é necessário, tem que ser feito. Mas eu, como pai, sou incapaz de dar dois passos e atravessar a sala para abraçar o meu filho. Eu vou ao asilo fazer caridade, mas quando chego em casa não sou capaz de passar por um obstáculo, que muitas vezes é uma mesinha de centro, para sentar ao lado do meu pai e da minha mãe. Então, de que vale esta caridade que eu faço, esse combustível todo que eu gasto, se não sou capaz de atravessar uma sala? O que me separa do meu pai e da minha mãe, muitas vezes, é um tapete, e eu não consigo superar isso. Se nós quisermos fazer um caminho sério com Jesus Cristo, nós devemos ser homens e mulheres loucos – algo que vamos conseguir por meio de um abraço, de um beijo, de um perdão.
E aqui, encerrando então esta homilia, o que vem a ser a Epifania? Epifania é ter esta graça do amor de Deus; é não celebrar o Natal só em dezembro, mas viver esse Natal todos os dias deste ano. Quem foi que disse que a gente só tem que se encontrar no Natal, que a gente só tem que confraternizar no Ano Novo? Desejar coisas boas para o outro, dizer como ele é importante na minha vida... Quem é que marcou data para isso? Para quem vive este sonho dado por Deus, todo dia é Natal! Todo dia é um dia de confraternização, dia de se reconciliar. E voltamos naquilo que eu dizia no início, porque eu não sei quem vai ser o próximo. Pode ser meu pai, minha mãe, posso ser eu mesmo... Não sei. Talvez eu não tenha a chance de dizer para as pessoas que amo o quanto elas são importantes para mim, o quanto eu tenho que pedir perdão, o quanto eu tenho que dar o meu perdão. Eu não sei se vou ter outra chance. Então, o momento é agora! Não no caixão, mas agora!
Hoje, encerrando este Tempo do Natal, vamos pedir esta grande graça: que o Senhor venha orientar nosso coração para que possamos ser loucos por Jesus, homens e mulheres malucos por Ele! E que possamos colocar em prática tudo aquilo que Ele nos ensinou, começando pela nossa casa, reconhecendo o dom de Deus na nossa casa, a bênção de Deus dentro da nossa casa. Assim, celebremos então o Natal! Este tempo que não tem data, que eu posso celebrar todos os dias da minha vida, com a minha família, com todos aqueles com quem eu quero partilhar esta luz de Deus. Peçamos esta graça! Que possamos, de verdade, mesmo diante das situações que nos deixam quebrados por dentro, reconhecer a graça dada por Deus, começando dentro de nós.
Homilia: Pe. Fernando Valladares – Epifania do Senhor (Ano A) – 08/01/2017 (Domingo – Missa das 10h).

Que em 2017 sejamos bênção na vida das pessoas
31/12/2016
Na última missa do ano de 2016, assim como na primeira de 2017, a Igreja nos convida a fazer memória de Maria. O título, chamado em grego de "Theotókos", que significa "Mãe de Deus", foi dado depois de uma longa discussão entre os bispos no Concílio de Éfeso, em 431 d.C., e dali em diante a Igreja vem celebrando esta Solenidade para nos recordar a importância de Maria na história da Salvação. Além disso, em 1968, o Papa Paulo VI convidou a humanidade a se reunir todo dia 1º de Janeiro para rezarmos, também, para que o próximo ano que se inicia possa ser um ano de paz. Se rezando já está desse jeito, imagine se não rezássemos! Nós, graças a Deus, não enfrentamos guerras, como enfrenta a Síria e outros países vizinhos, mas quantas pessoas morrem, sofrem e são afastadas de seus familiares por causa das guerras...
Portanto, esta Santa Missa nos faz refletir sobre diversos aspectos. No Evangelho de hoje [Lc 2, 16-21] vemos que os pastores foram às pressas à cidade de Belém para cumprimentar o Menino Jesus na manjedoura. Esta passagem nos faz refletir que Deus nos chama frequentemente, por meio de sinais; às vezes, nos chama às pressas, e nós muitas vezes vamos devagar ou, até mesmo, paramos enquanto Deus está nos convocando para ir ao encontro de Seu filho Jesus e ser um sinal de salvação, de paz e de reconciliação. Os pastores, Deus chamou para irem ao encontro do Menino Jesus; e nós, para que Deus está nos chamando neste ano de 2017? Para ser um ponto de paz dentro de casa? Para ser um ponto de comunhão na empresa em que trabalhamos? Para ser um anjo na vida de alguém que está ferido ou desanimado? Para que Deus nos chama? Deus não nos criou para nada, Deus nos criou para sermos uma bênção.
A primeira leitura de hoje [Nm 6, 22-27] é muito propícia para falarmos de bênçãos. Naquele tempo, a ação litúrgica era diferente da missa como estamos acostumados hoje, e os sacerdotes hebreus davam outro tipo de bênção no final dos rituais, uma bênção para fortalecer e amparar o povo de Deus em seu retorno para casa, no retorno ao seu ofício e para que, ali, na sua vida cotidiana, a pessoa fosse uma bênção. Quando participamos da missa, será que nos sentimos levando essa bênção de Deus conosco? Maria Santíssima aceitou o chamado do Senhor e portou o próprio Filho de Deus, a bênção que se encarna no mundo; e nós, cristãos católicos, somos convidados a ser uma bênção na vida das pessoas. No ano de 2016, você foi mais uma bênção na vida do outro ou mais um motivo negativo? Será que neste ano de 2017 nós podemos ser melhores?
Todo fim de ano recebemos essas mensagens maravilhosas. Das tantas mensagens que recebi, normalmente de mesmo cunho, uma dizia assim: "Você quer um ano diferente? Não espere amanhã, comece hoje! Por que esperar o dia de amanhã para sermos diferentes?", e ler aquilo me fez refletir como, de fato, nós esperamos sempre o amanhã. "Eu vou conversar com meu filho", mas deixa para depois, semana que vem ou para quando ele entrar de férias; "Eu vou levar minha esposa para jantar", mas deixa chegar o aniversário dela, o Natal, as férias... E, assim, nunca fazemos o que nos propomos. Para que esperar o dia de amanhã se podemos começar hoje? Não precisamos que o ano recomece para ter uma nova vida! Já que a sociedade nos permite isso, aproveitemos o ano novo como um ponto positivo. Mas não vamos deixar para depois de amanhã!
Hoje de manhã, comecei a refletir sobre o que eu preciso mudar na minha vida. Sentei na sala para decidir o que ia fazer primeiro, peguei um livro e fique mais de 1h lendo. No começo, eu estava tão angustiado pelas tantas coisas que tinha para fazer... Mas conforme foi passando o tempo, e com a oração, o meu coração foi se acalmando e, no final, eu não queria mais largar o livro! Quantas vezes demoramos em fazer certas coisas, mas, depois, não queremos mais parar de fazê-las. Como tirar férias, para quem trabalha quase 24 horas por dia. Às vezes, não queremos sair com nossos amigos porque estamos cansados, mas quando chegamos lá o cansaço desaparece.
Quantas graças Deus realiza em nossa vida quando nos deixamos ser acolhidos e abençoados por Ele e quando somos uma bênção na vida uns dos outros. Se Moisés abençoou o povo, imagine um pai e uma mãe abençoando seu filho! Você tem abençoado seus filhos? Tem pedido bênção a seus pais? É bom pedir, pois não há amor maior neste mundo do que o amor de um pai e de uma mãe. É claro que muitos de nós não conseguimos expressar nosso amor, temos dificuldade; tem gente que é uma flor desabrochando todo dia, têm outros que parecem uma pedra e se fecham em si mesmos. Se você é uma flor, continue desabrochando o seu sorriso, sendo uma bênção e perdoando; mas se você é uma pedra, deixe Deus transformar a sua vida, os seus sentimentos e o seu coração em um coração de carne. Deus deseja lhe colocar um coração de carne! Não somos máquinas, somos seres humanos e necessitamos de bênção, de amor e de perdão, ao mesmo modo em que devemos dar também esse amor e esse perdão e sermos uma bênção uns para os outros.
Nesse ano de 2016, do qual tanta gente está falando mal, você sabia que, na economia, as vendas foram melhores do que em 2015? Só vemos o que aconteceu de ruim, mas não vemos o que aconteceu de bom. Será que também não estamos equivocados em alguma coisa na nossa vida, achando que está tudo ruim quando têm coisas boas acontecendo? Você é uma pessoa positiva ou negativa? Você tem glorificado a Deus pelas coisas que aconteceram na sua vida esse ano? Quantas coisas Deus realizou na minha vida que eu tenho para agradecer? No meu trabalho, coisas que eu nem imaginava... Nesta comunidade... Na vida de nossas famílias... Será que precisamos mesmo reclamar tanto? Ou temos coisas boas para glorificar a Deus como os pastores?
Maria vivia três verbos importantes: observar, conservar e meditar. Precisamos aprender a olhar para o mundo com os olhos de Deus, um olhar amoroso e misericordioso, um olhar positivo, sem ver somente do ponto de vista negativo. Certa vez, eu ouvi uma pregação sobre olhar as coisas como Deus nos pede; essa pregação dizia para fazermos o exercício de olhar tudo pelo lado positivo, e venho me esforçando para isso desde então. Quando pessoas buscam ajuda aqui na igreja, a primeira coisa que faço é tentar entender o que está acontecendo; a segunda é descobrir coisas positivas na vida delas, e quantas coisas positivas elas não percebem que têm. Será que você também não precisa observar um pouco mais a sua vida, as suas escolhas, a sua vocação, as graças que Deus lhe concedeu, e valorizar um pouco mais em vez de reclamar? Quantas coisas positivas deixamos passar, mas as negativas saímos derramando em cima dos outros. Quantas coisas boas fazem por nós e não agradecemos, mas deixa alguém fazer uma coisa errada! Reclamamos quando alguém fala coisas negativas e enche nossa cabeça com queixas, mas por que também eu não mudo a minha vida e transformo as minhas atitudes e palavras, sendo uma pessoa mais positiva? Nessa vida corrida, perdemos o hábito de meditar, mas devemos encontrar mais tempo para Deus e para meditar sobre as coisas que nos aconteceram. Por exemplo, você meditou sobre como foi esse ano? Se não meditou, ainda dá tempo! Medite sobre quantas coisas Deus realizou na sua vida ao longo de 2016.
Se não formos fiéis com aquilo que Deus nos pede, podemos sair do caminho – que foi o que aconteceu com a comunidade de Gálatas, na segunda leitura de hoje [Gl 4, 4-7). São Paulo havia convertido a comunidade, mas assim que ele voltou para Éfeso, em 55 d.C., os judaizantes – aqueles que queriam fazer tudo igual aos judeus –começaram a falar ao povo que Paulo estava errado. Quando Paulo descobriu, escreveu de volta dizendo que temos um Deus que, por amor, se encarnou na historia. Depois, disse que, ao se encarnar, esse mesmo Deus criou uma intimidade com o ser humano a tal ponto de O chamarmos de Pai. Isso, para um judeu, era um absurdo, porque, para eles, Deus não podia ser próximo da humanidade. Será que já nos sentimos no colo de Deus? Será que já nos sentimos acariciados por Deus? Ou levamos tudo a ferro e fogo, como faziam os judaizantes? Paulo nos fala: "por este Deus que se encarna na nossa história nós fomos libertos, e o preço da nossa liberdade é a cruz, e por essa cruz já não somos mais escravos, mas filhos de Deus". Será que nos sentimos escravos ou filhos de Deus? Você se sente escravo na sua vida? Ou você tem liberdade? Deus nos criou para a liberdade, e é justamente o pecado que nos retira essa liberdade. Mas Deus a conquistou de volta para nós, e quando eu digo que não consigo abandonar o vício, o pecado, uma forma de pensamento; quando digo que não consigo mudar a minha vida, meu relacionamento e meu modo de ver o mundo e de me relacionar com as pessoas, significa dizer que eu não alcancei essa liberdade, que está a um "sim" da nossa vida: basta aceitar Jesus Cristo e deixá-Lo crescer em nossos corações e em nossos sentimentos.
Que este ano de 2017 seja, para nós, um recomeço – não como os outros, que a gente só prometia e, talvez, não cumpria; mas um recomeço de fato, recomeçar em Cristo Jesus! E que, com a liberdade de filhos e filhas de Deus, assumamos a nossa vocação de ser uma bênção na vida das pessoas que passam e convivem conosco ao longo da nossa historia. Como diz o Salmo 66, "Que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção" para que este ano de 2017 seja um ano agraciado e abençoado pelo próprio Deus, feito homem na historia da humanidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria (Ano A) – 31/12/2016 (Sábado).

Jesus Cristo é a Palavra que se encarna na história da humanidade!
25/12/2016
Irmãos e irmãs, mais uma vez, sejam todos muito bem-vindos. E que alegria te ver aqui hoje celebrando a Santa Missa do Natal! Neste período, temos duas celebrações importantes: a da Vigília – e quem não pôde participar, no ano que vem, procure esforçar-se mais um pouquinho para vir – e, no dia seguinte, a Missa do Natal. E, olhando o ano litúrgico como um todo, nós temos duas festas importantíssimas para nós, cristãos católicos: a festa do Natal, com estas duas celebrações, e a festa da Páscoa, com o Tríduo Pascal – quinta, sexta e sábado – e o dia da Páscoa, o domingo do Senhor. Portanto, é com muita alegria que vejo a comunidade participando da Santa Missa neste dia de Natal.
Nós nos encontramos para celebrar a nossa fé neste dia santo do Natal do Senhor. E que alegria celebrar esta festa que nos possibilita a reconciliação com Deus e permite que o Menino Jesus renasça no nosso coração, na nossa vida. O Natal também incentiva que a divindade existente em cada um de nós possa ir crescendo para iluminar o mundo. Rezamos há pouco, na oração da coleta, que é a oração após o hino de louvor: “Ó Deus, que admiravelmente criaste o ser humano e, mais admiravelmente, restabeleceste a sua dignidade”. Nós somos fruto do amor de Deus mas, por causa do pecado, nós nos afastamos dele. E, mesmo assim, Deus não nos abandonou. Mais admiravelmente ainda, com a encarnação do Seu filho Jesus Cristo, Nosso Salvador, Deus restabelece a dignidade do ser humano. E continua: “dai-nos participar da divindade do Vosso Filho que se dignou assumir a nossa humanidade”. Nós somos convidados, irmãos e irmãs, a participar da divindade de Cristo, a sermos luz neste mundo. Deus se encarnou na história da humanidade e nos ensinou que o amor é o caminho para vivermos a felicidade e chegarmos à Salvação. Viver o amor é viver a divindade que está contida em cada um de nós, obras perfeitas da criação do próprio Deus, que nos fez únicos, à Sua imagem e semelhança. No Evangelho [Jo 1, 1-18], ouvimos que no princípio era a Palavra, e a Palavra se fez luz, a Palavra se encarnou. Deus se encarna na história da humanidade. Deus não precisava criar o ser humano mas, por amor, nos criou. E é por amor que Ele vem ao nosso encontro para nos resgatar. Por isso, esta missa é em ação de graças por este Deus que vem ao nosso encontro e nos pede, de modo muito simples, que possamos deixá-lo crescer no nosso coração, nos nossos sentimentos, nas nossas atitudes, para que, na medida em que este Cristo vai crescendo em nós, possamos anunciar ao mundo este amor encarnado na história pela nossa salvação. Sermos como João Batista, no Evangelho de hoje, que nos diz que “João veio para dar testemunho da luz para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não é a luz mas veio para dar testemunho da luz”. Como batizados, como cristãos, nós somos convidados pelo próprio Deus a dar testemunho desta luz e irradiarmos o mundo com amor, paz, justiça, solidariedade e compaixão. Conquistarmos o mundo para Cristo com os sentimentos mais puros, que o próprio Deus, que nasce no Natal, ensina a cada um. Nós não somos a luz, mas viemos para dar o nosso testemunho desta luz. Você tem sido um testemunho desta luz no seu matrimônio, na sua casa, na educação do seus filhos, na educação dos seus afilhados, na sua empresa, no seu trabalho, com o seus amigos, na festa que você foi ontem? Você foi um testemunho de luz? Você rezou? Nós não somos a luz, mas a divindade que existe em cada um de nós nos permite ser um ponto de luz, que direciona para a própria luz, que é Cristo Jesus, o Emanuel, o Deus conosco, a Palavra que se fez carne e habitou em meio a nós. Na medida em que esta divindade, esta luz, vai crescendo em cada um de nós, nos tornamos mensageiros da paz. Diz o profeta Isaías, na Primeira Leitura [Is 52, 7-10]: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem, prega a salvação e diz a Sião: ‘Reina teu Deus!’“ Como cantamos no salmo 97, “os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus”. Será que somos iguais ao que o profeta Isaías espera que sejamos? Mensageiros da paz, que anunciam a verdade de Jesus Cristo, que levam o amor, a luz, a paz, o perdão, a solidariedade e que pregam a salvação?
Jesus é o nosso Salvador e, onde quer que estejamos, isto deve ser claro para quem convive conosco. Todas as pessoas que convivem conosco devem saber a nossa fé, devem ter claro que nós não renunciamos a nossa fé por causa de modismos, por causa de situações, por causa de coleguismos, por causa do trabalho, por causa de namoro. Não, nós não renunciamos a nossa fé e ao celebrar este Natal, ao vir à igreja neste dia 25/12, nós estamos renovando isto nos nossos corações e sendo mensageiros da paz, do amor, mensageiros da salvação. Salvação esta que se encarnou na nossa história como São Paulo nos fala na Segunda Leitura de hoje [Hb 1, 1-6]: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio de seu Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo.” Deus já havia falado aos profetas mas, posteriormente, Deus se encarna na história, se faz homem e fala a cada um de nós. Mas esta é Sua primeira encarnação. Quando será a segunda vinda de Cristo? Devemos estar preparados. Devemos ir deixando este Cristo ir crescendo, amadurecendo, tomando conta dos nossos corações. A Palavra de Deus nos diz que até os anjos devem adorá-lo. Será que nós, meros mortais, temos adorado o verdadeiro Deus? Temos nos colocado a rezar, temos nos colocado de joelhos e agradecido a Deus por tudo que temos e somos?
Que neste Natal, meus irmãos e irmãs, possamos ser mensageiros da paz, possamos ir ao mundo e irradiá-lo com amor e com a felicidade de sermos cristãos, símbolos e missionários de Jesus Cristo, nosso Senhor. Deus se encarna na nossa história! Ele quer tomar conta do nosso coração. Abramos as portas dos nossos corações para que Deus possa morar na manjedoura dos nossos sentimentos. E, na medida em que o tempo vai passando, com a participação na eucaristia e a reflexão sobre a Palavra de Deus, esta divindade encarnada na história vai tomando conta de cada um de nós para sermos, no mundo, uma luz para aqueles que estão nas trevas. Que possamos anunciar juntos para que o mundo inteiro saiba qual é a nossa fé, qual é o nosso Deus, quem é o nosso Salvador: “os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus”.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo - Missa do Dia (Ano A) – 25/12/2016 (Domingo).

Nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo, o Senhor!
24/12/2016
Meus irmãos, estamos celebrando o Santo Natal do Senhor! Estamos celebrando uma fé, não uma filosofia. Estamos celebrando um acontecimento histórico. Não é um conto de fadas, não é uma história da carochinha, não é um conto da mitologia grega ou de outros povos, é um acontecimento histórico! Para nós, que somos homens e mulheres de fé, Deus se encarna na história humana para nos ensinar o amor e o caminho da salvação, e é importante termos isso claro, porque é este Amor encarnado na história da humanidade que vai dar a vida pela nossa salvação e abrir as portas do Paraíso para cada um de nós.
O mistério do Natal e o mistério da Páscoa se completam, um ao outro. As duas grandes festas cristãs, para nós, são o Santo Natal e a Páscoa de Jesus Cristo, nosso Senhor. Portanto, celebremos com intensidade este evento histórico, que aconteceu num momento histórico da humanidade. Não é um conto criado para nos entreter, é uma história real de um Deus que, por amor, encarna-se na história para nos salvar.
Ouvimos no Evangelho de Lucas (Lc 2, 1-14) que no tempo de César Augusto houve um recenseamento e, por isso, Maria e José estavam em Belém quando se completaram os dias para o parto, no momento histórico em que Maria dá à luz seu filho Jesus Cristo, nosso Senhor. Poderia ter sido em muitos lugares do mundo, mas foi justamente num lugar simples, Belém, numa manjedoura, num curral, junto dos animais, que Jesus nasceu. Belém significa "a casa do pão". Jesus é o pão da vida para cada um de nós; aquele que come e bebe do Seu corpo e do Seu sangue permanecerá Nele e terá lugar na Morada Eterna [ref. Jo 6, 56]. Existe lugar mais propício para Jesus nascer do que Belém, "a casa do pão"? Jesus, que se dá na Eucaristia, no sacrifício de amor por cada um de nós em toda celebração eucarística que nós participamos.
Diz o Evangelho que Maria deu à luz. Hoje eu estava refletindo: por que "dar à luz"? Uma criança que nasce é uma nova esperança para a humanidade. Dizemos constantemente que as crianças são o futuro da nossa sociedade, portanto, cada criança que nasce é uma nova luz de esperança que renasce na história da humanidade, e cabe a cada um de nós, discípulos de Jesus Cristo, nosso Senhor, deixar que este Cristo, o Menino Deus que nasce nesta noite, cresça em nossos corações, para que as nossas atitudes, as nossas palavras, as nossas escolhas, os nossos ensinamentos às crianças levem-nas a ser um ponto de esperança para esta sociedade cada vez mais corrompida por tantas situações contrárias ao projeto de Deus.
Celebrar o Natal de Jesus Cristo, nosso Senhor, é celebrar a esperança que renasce em nossos corações de que, a partir deste ano litúrgico, a nossa vida pode ser diferente, as nossas escolhas podem ser diferentes, esta sociedade pode ser diferente, o matrimônio pode ser diferente; de que o anúncio do Evangelho, a vivência do amor, a prática da justiça podem ser diferentes. E que aquela Luz que há dois mil anos nasceu e brilhou, brilhe para nós como brilhou para os pastores, como ouvimos no Evangelho de hoje: "Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz e eles ficaram com muito medo" [Lc 2, 9].
O medo limita a ação humana na história. O medo nos impede de sermos pessoas melhores. O medo, muitas vezes, nos impede de pedirmos perdão a um ente querido, de nos aproximarmos de Deus, acreditando que somos pecadores e que nosso pecado não tem perdão. O medo nos prende de transformarmos a nossa família, mudarmos o relacionamento matrimonial, envolvermo-nos nesta sociedade para ser um ponto de luz. O medo, às vezes, faz-nos ir mal nas provas, nos testes, nas situações que a vida nos apresenta. O medo nos paralisa como quis paralisar aqueles pastores, mas a luz de Deus não permitiu e eles foram ao encontro do Menino Deus.
Você que está com medo, você que está paralisado, você que está sem esperança, você que está sem a certeza do porquê de estar aqui hoje: é o anjo do Senhor que veio ao teu encontro também! E, como os pastores, nós podemos ir ao encontro do Menino Jesus na manjedoura, nós podemos ir ao encontro de Maria e de José, nós podemos tocar no Cristo que se dá em Sua Palavra e na Santa Eucaristia. O anjo disse aos pastores: "Não tenhais medo!" [Lc 2, 10a]. O anjo do Senhor, hoje, também lhe diz: não tenha medo! Quem de nós não tem algum medo? Todos nós temos medo de algo, e é justamente a graça de Deus encarnada na história que nos ajuda a enfrentar este medo.
Jesus vai dizer: "Eis que estou à porta, e bato" [Ap 3, 20a]; Ele está batendo na porta do nosso coração. A você que há algum tempo não vem à igreja, Jesus está batendo no seu coração, está batendo na porta da sua casa, convidando-lhe a vir e fazer a verdadeira morada com Ele e, como os pastores, entregar a Ele o que você tem. Não estou falando de dinheiro, estou falando do teu coração! Estou falando dos teus pensamentos, dos teus sonhos, das tuas esperanças... Entregue-se a Jesus!
Os pastores não eram homens de fé, eram até rejeitados pela sociedade. E, muitas vezes, nós nos sentimos assim também, rejeitados pela sociedade, rejeitados pela família, às vezes rejeitados pelos amigos, talvez até rejeitado pela igreja. Mas Deus não lhe rejeita, Deus lhe ama como você é! O anjo do Senhor poderia ter aparecido a Herodes, poderia ter aparecido aos poderosos, mas apareceu aos excluídos da sociedade, porque a lógica de Deus é inversa, ela vai ao encontro dos últimos, dos excluídos, para que este povo reunido venha e, juntos, possamos iluminar esta sociedade, levando alegria – a alegria que o anjo anunciou: "Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor" [Lc 2, 10b-11]. A alegria anunciada aos pastores é a alegria anunciada a cada um de nós nesta noite!
Quantas pessoas, infelizmente, passam sozinhas a noite de Natal... Quantas famílias nem sequer conversam, às vezes vão dormir mais cedo para não ouvir os fogos, para não ouvir as comemorações, porque aquilo lhes angustia... E nós devemos ser essa alegria levada a estas pessoas que estão abandonadas. Não é de hoje, meus irmãos e irmãs, que a exclusão acompanha a história do ser humano, e não é de hoje que a graça de Deus acompanha a mesma história do ser humano. Deus chama Abraão, guardião dos caldeus, um povo pagão, para ser uma só luz, para ser um ponto de referência, para ser um líder, para criar um povo de fé, um povo de fidelidade. Deus também lhe chama para que você seja um homem, uma mulher de fé. Lidere a sua casa, a sua família, a sua empresa, as pessoas que estão sob a sua direção, os seus amigos, o seu grupo de convivência, para que você seja este ponto de luz, de esperança, de amor, de justiça, de paz e de salvação. Em resumo, Deus nos chama a sermos profetas.
Profetismo que nós ganhamos no dia do nosso Batismo, profetismo que faz Isaías, na primeira leitura de hoje (Is 9, 1-6), dizer: "O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu" [Is 9, 2]. Quando você está em qualquer tipo de escuridão que a história lhe apresenta, qual é o seu ponto de referência? Se você fica perdido é porque você ainda não encontrou Jesus! Ao encontrarmos Jesus nós até podemos, num primeiro momento, não saber o que fazer, porque somos humanos; mas a luz de Deus ilumina o nosso coração, a nossa vida e as nossas decisões, e nós que andávamos nas trevas encontramos, então, uma direção, encontramos um guia para nos retirar desta escuridão. E nós que vivemos na luz não podemos nunca, jamais, em hipótese alguma, esquecermo-nos daqueles que estão nas trevas; nas trevas da depressão, nas trevas do medo, nas trevas da incompreensão, nas trevas da autossuficiência, da arrogância... Seja em qual treva for, devemos ser profetas, devemos ser luz para aqueles que caminham na escuridão, para, juntos, irradiarmos o mundo com o amor de Deus, este Deus que, nascendo na história, torna-se, na linguagem do profeta Isaías, um "Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz" [Is 9, 6b].
Você já pediu conselhos para Jesus? Antes de procurar um psicólogo, você já perguntou a Jesus o que está precisando na sua vida? Mesmo antes de procurar um sacerdote, você já se ajoelhou e perguntou a Jesus o que você deveria fazer? Na dificuldade de educar esta nova geração que está aprendendo cada vez mais rápido esta avalanche de informações, você já perguntou para o "Conselheiro Admirável" como educar o seu filho? Você que passa ou já passou por dificuldades no matrimônio, a quem você pediu socorro? Foi ao "Conselheiro Admirável"? Se não foi, a partir de hoje procure este "Conselheiro Admirável"! Ele é um "Deus forte", Ele nos ajuda a superar todas as dificuldades da nossa história. Mas, para isso, é preciso ouvir a Sua voz. Neste mundo de tantos barulhos, tantos holofotes, tantas pessoas falando, tantas informações, será que recorremos a este Deus forte?
Ele é o Príncipe da Paz! Você que está com seu coração agitado, independente da situação que você esteja passando, Deus deseja acalmar o seu coração. Deixe Jesus acalmar o seu coração, porque, como cantamos no salmo 95, "Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor". É o Ungido de Deus o nosso Salvador, este Deus que, na linguagem de São Paulo, é "a graça que se manifesta na história da humanidade, trazendo a salvação para todos os homens" [ref. Tt 2, 11]. Não é salvação só para o padre; não é salvação só para quem aceita Jesus; é salvação para todos! Deus está de braços abertos – escancarados! –, mas você precisa abraçar este amor. Ele não vai jogar um laço em você, amarrá-lo, força-lo; é necessário que você diga o seu sim.
Dar o nosso sim incondicional a Deus, esta graça nos ensina a abandonar a impiedade das paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio. Você é uma pessoa equilibrada? Deus lhe ajuda a ser uma pessoa equilibrada? Se você quer encontrar o equilíbrio, reze! Deixe Deus configurar o seu coração. Você que está acostumado a configurar o seu celular do jeito que você quer, você que está acostumado a configurar a sua televisão do jeito que você quer, você que está acostumado a arrumar a sua casa ou o seu apartamento do jeito que você quer, com Deus é ao contrário: não é você que configura Deus, é Deus que configura o seu coração! E não existe "mensagem criptografada" que Deus não conheça.
Celebramos hoje, meus irmãos e irmãs, a primeira vinda de Cristo, a encarnação de Deus na história da humanidade, e ao nos deixarmos ser conduzidos por Jesus percorreremos uma trajetória que nos levará à segunda vinda do nosso Salvador. Que a Sua graça, o Seu amor e a luz que iluminou os pastores, ilumine o nosso coração, para que, quando Jesus voltar, encontre-nos, a cada um de nós, a nossa casa, a nossa família, iluminados pelos valores do Santo Evangelho.
"Hoje nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo, o Senhor"! Deixemo-nos conduzir por este Deus que quer nascer em nossos corações. Que na manjedoura do nosso ser, Jesus encontre a Sua morada.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo - Missa da Noite (Ano A) – 24/12/2016 (Sábado).

Enfrentemos firmes as dificuldades pois o Senhor não nos abandona
18/12/2016
Hoje, estamos celebrando o 4° Domingo do Advento e a Igreja nos convida a aceitarmos o chamado que Deus nos faz e não fugirmos das dificuldades que a vida nos apresenta. Nem a mesmo abandonar o Deus único e verdadeiro, recorrendo a outros deuses ou a outras religiões. E a professar, verdadeiramente, com a nossa razão e com o nosso coração, que Jesus é 100% Deus e 100% homem.
No Evangelho [Mt 1, 18-24], nós temos a figura de São José. Estamos acostumados a ouvir falar de Maria: do “Sim” de Maria, que Maria contribuiu na história da salvação, que Maria é modelo do discipulado. Mas, sem José, não teria sido possível que Maria cumprisse tudo aquilo que Deus lhe havia preparado.
José dá a Jesus a descendência de Davi, pois os profetas diziam que era desta descendência que iria nascer o Emanuel, o Deus Conosco, como ouvimos na Primeira Leitura do Livro do Profeta Isaías [Is 7,10-14]. Ao dar esta descendência, José contribui para que Jesus seja o Messias esperado. Ao aceitar ser o pai adotivo de Jesus, José contribui na educação desta criança, sendo a presença masculina na vida de Jesus, ensinando a sua profissão, ensinando as coisas de Deus junto com a sua esposa, Maria Santíssima. Falando assim, até parece fácil. Mas, logo no começo, todo o ocorrido torna-se bem conflituoso no coração de José. Quando fica sabendo que a sua noiva estava grávida, entra em crise, naturalmente, e afasta-se de Maria, em silêncio e em segredo. Mas, em sonho, Deus fala com José para que ele aceite Maria como sua esposa e que tome conta de Jesus Cristo, o Emanuel, o Nosso Salvador. José volta atrás em sua escolha e permanece com sua noiva Maria. Se José não tivesse feito isso, o que teria acontecido com Maria? Teria sido condenada por adultério, por infringir a Lei. Teria sido condenada em praça publica! A sua condenação? Apedrejamento! E Jesus teria nascido? Não.
Daí a importância de reconhecermos em José um dos principais personagens da história da Salvação. E, na figura de José, notarmos que diante das situações de insegurança, de medo, nós não precisamos abandonar a nossa missão porque Deus é o nosso sustento, a nossa fortaleza. Quantas situações da nossa vida nós queremos, às vezes, abandonar? Quantos pais e mães, ao saberem que a mulher está grávida, começam a tremer dos pés aos fios do cabelo, dizendo: “O que eu vou fazer agora?”. É natural que dê medo, porque somos humanos. Qual o ser humano que não tem medo? Todos nós temos! Mas, com Deus, nós enfrentamos as dificuldades de nossa vida. Como cristãos, nós assumimos a nossa missão ou nós abandonamos?
Hoje, temos mulheres grávidas aqui para a bênção das gestantes. Quantas mulheres, hoje em dia, ao saberem que estão grávidas, por medo, recorrem às clinicas clandestinas de aborto! Quantos homens, ao saberem que vão ser pais, incentivam as mulheres a irem a estas clínicas clandestinas de aborto! Para muitos está se tornando natural abortar. A sociedade, neste assunto, começa a dizer sobre o direito de escolha da mulher, o que é muito lícito. Sou a favor do direito de escolha da mulher e também do homem. Desde que, primeiro: estejam em perfeitas condições de juízo, de saber tomar a sua decisão. Segundo: se fizerem alguma coisa, que suas escolhas sejam para si e não para o outro. O que isto nos leva a refletir? Que a criança desde a concepção é outro ser humano. Não é uma verruga que eu corto e tiro. É um ser humano, como a ciência já diz. Embora uma parte dos cientistas - não sabemos o porquê - não aceitem que a vida começa a partir da concepção.
Na semana passada, ouvi um filósofo que estava discutindo essas questões de aborto no Congresso Nacional e resolveu entrar no viés da fé. Ele disse assim: “Se vocês quiserem falar de fé, podemos até falar. Mas não é uma questão de fé, é uma questão de lógica. Mas se vocês querem falar da questão da fé, a Igreja Católica tem uma Pontifícia Academia de Ciências com vários cientistas do mundo, dos quais cerca de 20 deles já receberam o prêmio Nobel em alguma área da Ciência. E estes cientistas dizem que a vida começa a partir da concepção. Se quiserem ir por esse lado, podemos ir, não tem problema. Mas não estamos discutindo questões religiosas, estamos discutindo questão de vida!”.
Você aceita que alguém decida sobre a sua vida? Você aceita que o outro decida se você vai nascer, se você vai viver ou morrer? Então por que estão colocando na cabeça, sobretudo dos nossos jovens, que as crianças no ventre materno não são uma vida? O aborto pode ser também um trauma para a mulher. Em oito anos como padre, eu já perdi a conta de quantas mulheres eu atendi e continuo atendendo com dificuldades psicológicas, com traumas porque abortaram. Tudo isto por uma decisão mal feita, cuja consequência vai ser levada para o resto das suas vidas.
Portanto, voltando à figura de São José, diante das situações de dificuldade, nós as enfrentamos ou corremos? Quantos casais que, nas primeiras dificuldades da vida matrimonial, querem sair correndo, abandonando a família que acabaram de instituir, de gerar, de selar! Quantas dificuldades os nossos jovens estão enfrentando por não terem condições de enfrentar os problemas da vida? Que a figura de São José nos ajude, irmãos e irmãs, a não fugirmos dos nossos problemas, mas os enfrentarmos com a ajuda da graça de Deus. Problemas, que teremos ao longo de nossa vida, para os quais devemos tomar cuidado para não tomarmos decisões erradas, como nos diz o profeta Isaías, num contexto maior, na Primeira Leitura de hoje na qual Acaz, um jovem instituído Rei em 754 a.C, encontra Judá em uma situação de verdadeira dificuldade, onde os povos estão querendo invadi-la. Diferente de outros momentos, onde as tribos de Israel reuniam-se para enfrentar os inimigos dessa vez não estão conseguindo fazer isso. Então Acaz diz assim: “Eu vou chamar os assírios para nos ajudar”. Os assírios são um povo pagão, que adora outros deuses.
E o profeta Isaías, então, entra em cena para recordar a Acaz que o nosso Deus não há de nos abandonar. Ainda que o nosso povo nos abandone, Deus jamais nos abandona! Devemos tomar muito cuidado, conforme abordava o profeta Isaías, a nos juntarmos com outros povos, sobretudo os povos pagãos, aqueles que vão trazer outras ideologias de vida para cada um de nós. E o que essa leitura nos ensina? Que muitas vezes, por causa do medo, mais uma vez recorremos a outros deuses, recorremos a outras religiões, recorremos a outras filosofias de vida. Diante dos medos que perpassam a nossa história, nós estamos firmes com Deus ou recorremos a deuses pagãos? Vamos atrás de outras religiões, outras filosofias de vida?
Onde está a convicção da nossa fé? A confiança neste Deus que ajudou o povo, como diz o Salmo 23: “Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra, o mundo inteiro com os seres que o povoam; porque Ele a tornou firme sobre os mares, e sobre as águas a mantém inabalável. Quem subirá até o monte do Senhor, quem ficará em sua santa habitação? Quem tem mãos puras e inocente o coração, quem não dirige sua mente para o crime. Sobre este desce a bênção do Senhor e a recompensa de seu Deus e Salvador. É assim a geração dos que O procuram, e do Deus de Israel buscam a face”. Este é um canto de ação de graças porque permanecemos firmes no caminho do Senhor.
Você tem permanecido firme no caminho de Deus ou tem abandonado o Senhor diante das dificuldades? Você tem ficado firme no seu matrimônio ou tem abandonado a sua casa e sua família diante das dificuldades? Você tem permanecido com seus pais, diante da velhice, da enfermidade, das dificuldades ou você os tem abandonado? Na nossa comunidade de fé, diante das situações difíceis, da convivência humana, nós temos enfrentado as nossas dificuldades ou temos abandonado a Igreja de Jesus Cristo e a vocação, a missão, o carisma, a qual Ele nos chama?
E por último, na Segunda Leitura de hoje, na Carta de São Paulo aos Romanos [Rm 1,1-7], Paulo está dizendo para o povo que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem porque muitos estão acreditando que Jesus ou é só Deus ou é apenas um humano. E por isso, São Paulo sela esta discussão dizendo que Jesus é 100% Deus e 100% homem: é o divino que se fez humano e o humano que se torna divino.
Portanto, para que fique claro para todos nós, Jesus não é um espirito evoluído. O católico não pode dizer isso. Jesus não é um simples grande profeta. Ele é Deus para nós. É o Filho de Deus 100% humano e 100% Deus, que se encarnou na história da Salvação para nos redimir dos pecados, para nos ensinar um amor incondicional e abrir as portas do paraíso para cada um de nós. E, para aqueles que acreditam em extraterrestres, Jesus não é, muito menos, um E.T. Não! Católico não pode dizer essas coisas.
Peçamos a Deus que, ao celebrarmos esta Liturgia, o Senhor tire do nosso coração todo e qualquer tipo de medo ou receio de enfrentarmos a missão a que somos chamados. Que o Senhor nos purifique de toda dificuldade que temos para enfrentar os problemas familiares, trabalhistas, sociais e de relacionamentos. E que o Espírito Santo de Deus toque nosso coração e a nossa razão para compreendermos que Deus se fez homem, falando para nossa Salvação. Ele é 100% Deus e 100% humano.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4º Domingo do Advento (Ano A) – 18/12/2016 (Domingo – Missa das 10h).

Com alegria, esperar o tempo de Deus
11/12/2016
Nós estamos celebrando o Domingo da Alegria! Alegria que deve tomar conta do nosso coração à medida que o Natal se aproxima. Com o nascimento de Jesus, a nossa vida deve ser transformada, e é por isso que no terceiro domingo do Advento nós celebramos o júbilo, a alegria – não mais com o roxo, mas com a cor rosa. No Tempo do Natal, a cor litúrgica será o branco, para celebrarmos intensamente este santo Natal do Senhor!
Ao acendermos a terceira vela, queremos, junto com Nossa Senhora, alegrarmo-nos com a proximidade da vinda do Filho de Deus sobre a história humana, para nos ajudar a viver o amor, a misericórdia, a justiça, a compaixão. Nesse sentido, a liturgia de hoje, na primeira leitura (Is 35, 1-6a. 10), nos fala de um cântico de alegria! Um cântico que, para o profeta Isaías, significa revitalizar, renovar, reforçar, incentivar a perseverança daqueles que estão exilados, que são escravos do exílio da Babilônia. Portanto, incentivar também a cada um de nós, que talvez estejamos presos, exilados, tristes, cabisbaixos.
Deus quer suscitar em nosso coração a alegria de perseverarmos na nossa caminhada de fé. Por isso o profeta diz: "Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores" (Is 35, 1). Nós devemos exaltar os louvores de Deus mesmo diante das dificuldades, porque Deus jamais nos abandona. Será que nós conseguimos confiar em Deus nos momentos difíceis da nossa vida? Que a nossa convicção de acreditar em Deus seja firme em todos os momentos da nossa história.
Deus é a razão da nossa alegria! E Deus há de fazer justiça a todos nós.
O povo, no exílio, estava sendo maltratado, não tinha liberdade; mas, mesmo assim, não perdeu a esperança. E nós, cristãos, também não podemos perder a esperança nunca, em hipótese alguma! Não podemos deixar que a sociedade, os meios de comunicação, as amizades, os lugares que frequentamos roubem a nossa esperança. Por isso diz o profeta: "Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados" (Is 35, 3). Quando estamos cansados, tristes, cabisbaixos, devemos tomar fôlego, retomar as nossas energias, mirar em nosso objetivo e continuar caminhando, porque se deixarmo-nos abater pelo medo, pela solidão, pelo cansaço, vamos deixando cada vez mais longe a vontade de realizar os planos de Deus.
O profeta diz ainda: "Criai ânimo, não tenhais medo!" [Is 35, 4]. Não é gostoso quando estamos com medo e chega alguém que nos fala: "Coragem! Você vai conseguir!"? Em minha vida, eu já precisei muitas vezes de palavras como essas, que me ajudaram a superar as dificuldades da minha história. Como profetas de um novo amanhecer, eu e você também devemos levar essas palavras a todas as pessoas: a quem perdeu um ente querido, a quem está enfrentando alguma enfermidade, a quem está com dificuldades no seu matrimônio – e, aliás, esta semana, na quinta-feira, tive uma surpresa tão agradável aqui! Chegou a mim uma família dizendo que, um dia, vieram trazer a filha nesta praça e pensaram: "nós nunca entramos nesta igreja". Então, resolveram entrar por esta bendita porta e, bem naquele dia, estávamos lendo um testemunho da comunidade. Esse testemunho comoveu e transformou o coração daquela família e, desde então, há seis meses, eles não deixam um domingo de ir à missa!
Às vezes, nem imaginamos como Deus age em nós e por meio de nós. Deus está constantemente agindo para que as pessoas criem ânimo, tomem coragem – como cantamos no Salmo 145, que diz: "Vinde, Senhor, para salvar o vosso povo! O Senhor é fiel para sempre". Ainda que os seres humanos nos abandonem, mintam para nós, queiram nos passar para trás... Deus é fiel! Ele "faz justiça aos que são oprimidos"! Se não tem justiça nos homens, haverá justiça divina! Deus irá alimentar os famintos; é Deus quem liberta os cativos; foi Deus quem libertou o povo da escravidão do Egito; foi Deus quem libertou o povo do exílio da Babilônia. E de quantas coisas Deus já nos libertou também?
Você já foi liberto de algo? Todos nós podemos ser libertos por Deus se nos deixarmos conduzir por Ele e não permitirmos, jamais, que nos roubem a esperança. Assim, devemos ser como os profetas e preparar os caminhos do Senhor, anunciando o amor, a justiça, a misericórdia – a exemplo de João Batista, que no Evangelho de hoje (Mt 11, 2-11) pede, da prisão, para seus discípulos irem ver se Jesus era, de fato, o Messias.
Não é porque nos dizem algo que devemos acreditar de primeira. É necessário checar, e aí o testemunho fala mais alto. Os discípulos perguntam: "Tu és o Messias?", e Jesus não diz nem que sim nem que não. O que Ele faz? Ele diz: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados" (Mt 11, 4s). Nas entrelinhas, Jesus está dizendo: "Será que sou o Messias?". Quando alguém lhe perguntar se você é santo, você não precisa dizer nem que sim nem que não, você deve demonstrar com suas atitudes. Quando alguém lhe questionar sobre alguma coisa, sobre testemunho, sobre postura, você não precisa dar muitas explicações, você simplesmente deve viver aquilo que acredita, porque o tempo vai mostrar a verdade sobre os fatos.
Nesta passagem, João está na prisão. E por que ele está na prisão? Porque ele sofre as consequências de assumir uma opção de vida. Será que nós, que somos batizados, profetas, assumimos a nossa condição de vida cristã? Assumimos a responsabilidade de sermos cristãos? Todos nós devemos assumir essa nossa responsabilidade, assumir as consequências de nossos atos, de nossas escolhas e nossa postura.
No Evangelho de hoje, vamos ver três verbos que são importantes: preparar, ver e ouvir.
PREPARAR os caminhos. Preparar a tua casa, a tua família, o teu coração para o nascimento de Cristo. Preparar o teu coração para quando, infelizmente, perdermos um ente querido, uma pessoa muito próxima. As mães, os pais: preparar o teu coração para quando teu filho não morar mais em casa, para quando ele tiver que sair pela primeira vez sozinho de ônibus... Enfim, devemos preparar a nossa santidade, os nossos corações e o coração das pessoas que amamos, para a vinda do Senhor, para o Natal do Senhor, para vermos os frutos da nossa prática evangélica. Você já preparou o presépio na tua casa? Você tem rezado?
Depois, VER. Este sábado, por exemplo, nós passamos a manhã inteira em Assembleia Paroquial, todos os coordenadores de nossa paróquia avaliando o que foi feito no ano de 2016. E quantos passos demos, graças a Deus! Erramos? Sim. Temos que melhorar? Temos. Mas quantas coisas positivas! Será que você viu os passos que tua família deu este ano? Na sua vida profissional, na sua vida amorosa, nos seus estudos... Você melhorou ou piorou? Como estão os frutos das nossas opções?
Depois, OUVIR. Termos capacidade de nos ouvirmos uns aos outros. Antes disso, ouvir primeiro Deus – quem não reza, não consegue ouvir Deus. Em segundo lugar, ouvir a voz do nosso coração, pois muitas vezes não conseguimos silenciar para ouvir o que nosso coração está nos dizendo. Ouvir, também, as pessoas que nós amamos, que convivem conosco e que, muitas vezes, querem falar com a gente e não prestamos atenção, porque estamos no celular, no computador, no tablet, em frente à televisão, jogando videogame, lendo um livro... Quantas vezes as pessoas estão falando conosco e não estamos prestando atenção?
Preparar, ver, ouvir. E, assim, permanecermos firmes, como nas palavras de São Tiago, na segunda leitura (Tg 5, 7-10), que está firme na vinda do Senhor. Tiago está totalmente preocupado, achando que Jesus já está voltando. Então, ele orienta a comunidade a como permanecer firme no Senhor. E fala: "Vede o agricultor:" - o homem do campo - "ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera" (Tg 5, 7). O agricultor não é como o homem da cidade, que pega seu tablet e consegue fazer tudo na hora que quer; pega o telefone, pede uma pizza e em 15 minutos a pizza está chegando. Não é assim. No campo, prepara-se a terra, cultiva-se a terra, espera-se que Deus envie a chuva; algumas plantações precisam ser podadas, precisam de algum tipo de remédio para tirar os bichos. Mas é no tempo certo que a plantação dá seus frutos.
Será que nós temos paciência de esperar os frutos ou queremos tudo para ontem? Será que estamos dando tempo para Deus agir em nós e através de nós? Não vamos nos preocupar se Deus vem amanhã, semana que vem ou daqui a dez anos! Preocupemo-nos com o hoje da nossa história e em deixar Deus agir. Que na alegria da proximidade do Natal, Jesus renasça em nossos corações, para que possamos, unidos como igreja e família, celebrar as festividades do nascimento do nosso Salvador!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3º Domingo do Advento (Ano A) – 10/12/2016 (Sábado – Missa das 16h).

Maria é nosso exemplo de bondade e liberdade
08/12/2016
Caríssimos irmãos e irmãs, estamos celebrando a Festa da Imaculada Conceição, uma festa que acontece no meio do Advento e que, de certa forma, rompe um pouco com esse tempo litúrgico para mostrar, para realçar esta importância de Maria no centro da Igreja e na vida de seu povo. Maria tem uma relevância significativa junto de Jesus, ela é mãe, aquela que carregou o Cristo por nove meses em seu ventre, aquela que O acompanhou aos pés da cruz, aquela que recebeu a anunciação do anjo dizendo que seria a mãe do Salvador da humanidade.
Por este dogma bem conhecido da Imaculada Conceição, afirmamos que o pecado não atingiu o ventre daquela que gerou o Salvador da humanidade; o pecado não atingiu o ventre nem corrompeu a essência de Maria como virgem, pura e santa, mesmo após o parto. E quantos são os dogmas marianos? Quatro: Imaculada Conceição, Virgindade de Maria, Mãe de Deus e Assunção. Maria é Imaculada, Virgem, Mãe de Deus e Assunta aos Céus.
Nesse aspecto todo, liturgicamente falando, como podemos compreender esta dimensão de que Maria engravida do Espírito Santo? De que, sem ter nenhuma conjunção carnal, ela fica grávida por obra e por ação do Espírito Santo? É claro que nós só podemos compreender à luz da fé. A razão, o entendimento humano jamais poderá compreender esta instância da gravidez de Maria, até porque não cabe aqui racionalidade para compreender esse aspecto teológico, no qual o pressuposto maior é a fé. A fé, aqui, é a base de sustentação de toda essa construção do projeto de Deus, criado no ventre de Maria por meio de Deus.
O anjo veio não a mando de si mesmo, mas alguém o enviou, e esse alguém foi Deus. E o anjo disse tudo o que Deus o mandou dizer a Maria: "Eis que darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus; ele será grande, o Filho do Altíssimo, e o seu Reino não terá fim" – Reino eterno, ad aeternum, não tem fim. Humanamente, Maria fica assustada, dizendo: "Como vai acontecer, se eu não tive nenhum contato com qualquer homem?". E o anjo fala que o filho que ela vai conceber é obra do Espírito Santo [ref. Lc 1, 31-35].
Como eu disse a vocês, não existe uma explicação racional deste envio do anjo à Nossa Senhora, da anunciação; é a fé que vai dizer que Maria ficou grávida pela ação do Espírito Santo e teve um filho, a quem chamamos de Jesus. Essa é a diferença: olhar simplesmente dentro da perspectiva da fé e mostrar que, para Deus, nada é impossível. "Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice, e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril" [ref. Lc 1, 36]. Então, não existe limite para o poder de Deus. Ele pode trazer novidades e fazer acontecer algo importante na vida de qualquer pessoa.
E Maria, para nós, é a segunda Eva. A primeira Eva errou, deixou-se ser seduzida pela serpente; ela joga todo o projeto de vida fora pela desobediência. E é importante nós destacarmos, na primeira leitura, do livro do Gênesis [Gn 3, 9-15. 20], a mulher seduzida pela serpente. O mais importante não foi tanto ter pego a fruta proibida; o imperativo categórico aqui é a serpente. A serpente significa a esperteza, ela é considerada um dos animais peçonhentos mais espertos, com mais astúcia. Dentro desse contexto, no qual a serpente induz a mulher e esta induz o homem a errar, a serpente significa a esperteza do homem de querer ser igual a Deus. Este é o centro da primeira leitura: a esperteza do homem de querer tomar o lugar de Deus. "Quem disse que você está nu? Quem te falou isso?" [ref. Gn 3, 11]. Deus questiona o homem, que adquire o conhecimento do bem e do mal, induzido pela serpente. Uma vez conhecendo o bem e o mal, ele quer ter o controle. Mas Deus abomina esta atitude do homem de querer ser igual a Ele, de conhecer tudo e todos, ter o controle da vida e da morte.
Então, a serpente é esta imagem da esperteza do homem de usurpar o lugar de Deus, tomar o lugar de Deus, ser um deus – minúsculo, não maiúsculo.
Mas, aqui, é importante frisar: o fundamento de toda a nossa vida cristã não se baseia dentro do aspecto da serpente, mas dentro da predestinação do homem diante de Deus. Toda sorte, toda bênção – como diz São Paulo na carta aos Efésios [Ef 1, 3-6. 11-12] – dá sentido ao significado da existência do homem, predestinado não para fazer o mal, mas para fazer o bem. Essa é a predestinação, a sorte do homem que encontrou a Deus.
Esta é uma coisa muito forte: nós não fomos criados para o mal, para sermos serpentes; nós fomos criados para sermos santos, irrepreensíveis. Essa é a vocação que Deus nos dá, uma vocação santa, uma vocação para sermos Seus eleitos, e não como a primeira leitura, da imagem da serpente. Essa é uma coisa bonita, forte. Toda a bênção, toda a predestinação do homem não é para o mal, é para o bem. O homem errou quando desobedeceu a Deus; foi para o mal, matou, roubou, fez muitas coisas ruins. Não era para o homem ser assim; o homem deve ser bom, porque Deus é bom.
E é nessa bondade – encontrada na pessoa de Maria – que Deus nos traz Jesus como a essência de toda bondade, como a essência de toda misericórdia.
Essa teoria da predestinação era muito discutida por Santo Agostinho, que dizia que todo homem tem uma predestinação para o bem ou para o mal, mas que existe algo dentro dele que o faz se decidir: o livre arbítrio. E o que é este livre arbítrio? É a nossa escolha.
E escolha é diferente de liberdade. Livre arbítrio significa a capacidade de escolher entre uma coisa e outra – dentro desse contexto da liturgia, entre o bem e o mal; é por meio da minha escolha que vai nascer a liberdade. A liberdade não é uma escolha, ela já é a escolha definida. A liberdade, dentro do contexto bíblico, cristão, é o caminho reto para o bem: só é livre quem faz o bem.
Então, a liberdade já é um caminho definido com Deus, já é uma escolha direcionada a Deus. A liberdade nada mais é do que um caminho escolhido para o bem. Quem escolhe o mal não tem liberdade; a sua liberdade já foi condenada, tolhida, comprometida. É livre quem segue a Deus, é livre quem faz o bem. Quem faz o mal é escravo. Enquanto nós não vivermos em Deus, nós seremos escravos, infelizes, insatisfeitos, limitados, incapazes. Só quem vive em Deus é uma pessoa livre - Teologia Paulina: a minha liberdade é Cristo, sem Ele sou escravo. E escravo de quem? Do mundo, do mal, do pecado. Cristo é o único que pode me libertar e me tornar livre, e isso é fantástico!
Assim, é interessante destacar que são duas coisas diferentes: livre arbítrio é a capacidade de escolha, liberdade já é a escolha definida para o bem. Maria só foi livre porque aceitou a proposta de Deus. Se ela não tivesse aceitado a proposta de Deus, ela seria escrava.
Jovens, tomem muito cuidado com o senso comum, que diz: "Eu tenho a minha liberdade, eu posso fazer o que eu quiser, eu sou livre". Livre para quê? Uma vez que você usufrui da sua liberdade para as coisas ruins, para o caminho do mal, você não tem mais liberdade. Pais, digam a seus filhos: liberdade é uma escolha feita para o bem, para as coisas boas; a partir do momento em que você deixa o bem, você não tem mais liberdade, você é escravo; escravo das suas paixões, escravo dos seus pecados, escravo do mundo. A única pessoa que pode lhe dar liberdade é Deus.
Liberdade não é fazer o que quer, mas é fazer o bem. Liberdade é servir a Deus. Adão e Eva tiveram liberdade? Não. Tiveram livre arbítrio? Sim. Maria teve livre arbítrio? Sim. Teve liberdade? Também! Ela é o protótipo de toda a liberdade cristã. No fim, ela diz: "Eis aqui a serva do Senhor, faça em mim segundo a Sua vontade" [ref. Lc 1, 38]. Ela aceitou. E é por isso que hoje nós a celebramos como exemplo de liberdade e como exemplo de bondade.
Homilia: Pe. Odair Bezerra – Solenidade da Imaculada Conceição de Maria (Ano A) - 08/12/2016 (2ª Quinta-feira do mês, 19h30, Missa das Famílias).

Em primeiro lugar, devemos viver o Evangelho pelo exemplo
04/12/2016
Queridos irmãos e irmãs: mais uma vez estamos reunidos, sobretudo com os nossos crismandos que estão caminhando para assumir como adultos o compromisso de seguir a Jesus Cristo, Nosso Senhor. Aos catequistas do Crisma, que se dedicam tanto à evangelização desses jovens, que Deus os abençoe!
Nós estamos celebrando o segundo domingo do Advento, o tempo de caminhada para o Natal. Neste segundo dia de preparação, a Igreja nos convida a não perdermos a esperança de que Deus pode habitar em nosso coração e nos ajudar a superar as fragilidades de nossa história. Para isso, é necessário converter o nosso coração com sinceridade, para que possamos vivenciar estes valores onde quer que estejamos: em casa, na escola, no trabalho, ou na igreja.
Na Primeira Leitura (Is 11, 1-10) Isaías nos fala do tronco de Jessé, onde há de nascer uma haste que vai produzir frutos em abundância. Quando Isaías fala deste tronco, o povo estava perdendo a esperança nos governadores, políticos e poderosos, e muitos já haviam perdido a esperança também em Deus. É justamente com a imagem deste tronco que pode estar morrendo, que surge uma pequena esperança de vida, representando Deus surgindo para nos salvar. Ele será tão forte, um líder tão bom e corajoso quanto Davi, um rei tão sábio quanto Salomão na administração do seu povo. Este Deus virá ao nosso encontro, com espírito de sabedoria e discernimento, conselho, fortaleza e temor de Deus. Este rei, juiz, este Senhor que virá em nome de Deus para nos ajudar a vivenciar os valores que Deus espera de nós.
Um dos principais pontos que a liturgia nos coloca hoje é que Ele não julgará pela aparência e nem decidirá somente por ouvir dizer. Nesta sociedade onde muitos - para não dizer a maioria - , estão vivendo de aparência, mais preocupados com o “ter” do que com o “ser”, essa liturgia nos deseja chamar a atenção para meditar sobre quais valores carregamos em nosso coração. Nós que somos cristãos, julgamos pelas aparências? Ou buscamos conhecer o coração, a vida e a histórias das pessoas? Os catequistas do Crisma conhecem a história dos seus crismandos? Já conhecem todos pelo nome, já sabem onde moram? É importante saber o que eles estão estudando, o que pretendem estudar, quais são seus anseios e esperanças para o futuro. Os coordenadores de nossa comunidade conhecem todos aqueles que estão trabalhando e servindo em sua pastoral? Conhecem o que esperam de Deus e da nossa comunidade de fé? Na medida em que os meios de comunicação vão entrando na nossa casa e no nosso ambiente, muitas vezes nós julgamos as pessoas sem ao menos saber de fato o que está acontecendo. Quantas vezes julgamos uns aos outros porque lemos uma manchete de jornal, vemos uma foto no facebook que pode ter sido alterada no Photoshop, ou porque fofocaram alguma coisa no nosso ouvido e já criamos um muro de separação com aquela pessoa?
Quando nós lutamos por um mundo de justiça, de amor e de Evangelho que seja vivenciado por todos, nós lutamos por um mundo de paz onde o lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-à ao lado do cabrito, como fala a Primeira Leitura. Para que possamos vivenciar essa paz tão esperada por Deus, a partir de seus filhos, é necessário que nosso coração esteja em paz. Que lutemos pela paz dentro de casa, no matrimônio, no relacionamento com os nossos filhos, na empresa onde trabalhamos, na escola onde estudamos, temos que viver a paz onde quer que estejamos. Você é capaz de dizer hoje que é promotor da paz? Ou você é aquele que fica fofocando, incentivando a discórdia, a desunião? Quando alguém faz alguma coisa contra você, você chama para conversar ou simplesmente exclui a pessoa da sua vida? Nós queremos rezar na esperança de que naquele dia, a raíz de Jessé se erguerá como sinal entre os povos, e essa raiz é o próprio Cristo Jesus, que nasceu há 2 mil anos atrás e há de nascer em nossos corações novamente neste Natal de 2016.
Para que as nações busquem a raíz de Jessé, o Cristo Jesus, o menino Deus, é necessário darmos em primeiro lugar, o exemplo, para depois anunciar este Deus que vem ao nosso encontro. Palavras que se colocaram em segundo plano na vida do profeta João Batista, ele que antes de falar, vivia em coerência com aquilo que pregava. Enquanto os sacerdotes, fariseus e mestres da lei ostentavam a sua inteligência, sabedoria e roupas, João Batista se vestia de modo muito simples, comia gafanhotos e mel silvestre, e é com essa simplicidade que ele sai anunciando a conversão dos pecadores. A figura de João nos mostra que é necessário pedir, escutar e incentivar a conversão dos pecados, pregarmos a conversão, mas antes de fazer isso é necessário que nosso coração se converta, e muitas vezes nos acostumamos com o pecado e com aquilo que falta ser transformado em nossa vida para vivenciarmos os valores que Deus espera de nós, portanto o exemplo é fundamental.
Você, que está presente hoje nesta Eucaristia, que exemplo está dando do Santo Evangelho? Deve se questionar: “está coerente com a minha fé que professo em Jesus Cristo e sua Igreja? João dizia: “esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!” (Mt 3, 1-12). Dizia a Palavra, que confessavam os seus pecados e João os batizava no Rio Jordão - o batismo é consequência de uma caminhada de conversão. João Batista dizia que “o machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo. Eu vós batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias”.
Como João Batista, não somos protagonistas, os principais personagens da história: somos coadjuvantes, apresentando Jesus Cristo nosso Salvador, como aquela estrela de Belém que guiou os magos em direção ao Salvador, também nós devemos guiar as pessoas em direção a Jesus Cristo. Quantas pessoas estão desviadas, tristes e abatidas, cansadas? Nossa missão é resgatar a sua esperança, é endireitar o seu caminho. Como São Paulo escreve à comunidade de Romanos (Rm, 15, 4-9) dizendo que “tudo que outrora foi escrito, foi escrito para nossa instrução”, nesse contexto a comunidade de Romanos está se separando, estão discutindo o porquê de acolher os pagãos e os judeus convertidos, a comunidade se transforma em guerra quando não consegue se entender.
Como São Paulo nos diz, para sermos um só coração e uma só voz, se queremos viver a unidade em Jesus Cristo Nosso Senhor, devemos falar a mesma linguagem, ou seja, sermos compreensíveis uns com os outros. A mensagem que eu prego é compreensiva? Às vezes achamos que nossos filhos, cônjuges e amigos estão nos compreendendo, e não estão! É importante termos certeza de que estamos falando a mesma linguagem e caminhando na mesma direção, para juntos, como Igreja e discípulos de Jesus, glorificar Jesus, seja entre os Cristãos, seja entre os pagãos, e podermos cantar os louvores do nome do nosso Salvador. Que esse tempo de Natal, de espera, toque nosso coração para as necessidades físicas e espirituais que mais precisamos, para que no Natal do Senhor possa renovar a nossa fé, nossa palavra, atitudes e nosso testemunho.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2º Domingo do Advento (Ano A) – 04/12/2016 – (Missa das 07h30).

Preparemos nossos corações para a chegada do Salvador!
27/11/2016
Queridos irmãos e irmãs, estamos vivendo o Tempo do Advento, que significa “aquele que há de vir”. E quem há de vir? Jesus, que é o nosso Salvador. E este Tempo é propício para nos prepararmos e buscarmos a conversão do nosso coração para que, no dia 25 de dezembro, Jesus nasça na manjedoura do nosso coração. Assim como as crianças da catequese prepararam 21 presépios, também nós queremos preparar o presépio do nosso coração para acolher Jesus. Tal qual estes adultos, que se prepararam durante 8 meses para sua Primeira Eucaristia, nós temos agora 4 semanas para preparar nosso coração, a nossa casa, a nossa família, e todas as pessoas que nós conhecemos para celebrar o verdadeiro sentido do Natal, que é o nascimento de Cristo. O foco não é no presente de Natal, mas sim em Jesus nascendo em nossas vidas.
Por isso é necessário que nosso interior traduza o nosso exterior e que este exterior ajude o nosso interior a se preparar devidamente para a chegada de Jesus. Você já montou o presépio na sua casa? Vemos que este ano, já temos mais pessoas que montaram com relação ao ano passado, mas ainda podemos melhorar. Digo isto pois, no primeiro domingo do advento, o presépio já deve estar preparado em nossa casa. É o que pede a liturgia, que nos ajuda a viver a religião. Nossa fé caminha junto com a liturgia e seus Tempos. E assim, ao preparar o presépio, nós queremos, todas as vezes que passarmos por ele, recordarmos que estamos em um tempo diferente. Um tempo no qual as pessoas ficam mais sorridentes, há mais luzes por aí, há confraternizações por todos os lados. Um tempo para ficarmos com o coração mais leve, mais aberto, para que possamos vivenciar os valores do Santo Evangelho. Por isso, é ideal que, na sua casa, o presépio esteja montado. Aqui, em nossa igreja, o presépio já está pronto. E quem quiser, pode vir vê-lo, tirar fotos, trazer as crianças. Ele é montado para nos ajudar a rezar.
E pensando nesta temática, de preparar o nosso exterior para que o nosso interior esteja pronto, lembro que esta semana tomei café com um amigo que falou uma coisa que nos cai como uma luva nesta liturgia. Ele trabalha por conta, em seu escritório, mas, algumas vezes, ele fica trabalhando de casa. Se ele ficar de bermuda e chinelo, ele nota que o trabalho não rende tanto. Então ele me contou que um dia ele levantou e disse: “vou me preparar como se eu fosse trabalhar”. Então ele colocou sua calça social, sua meia social, seus sapatos, sua camisa de manga longa. Preparou sua mesa, colocou o computador, o telefone, os papéis. Então, neste dia, seu trabalho rendeu muito! Por quê? Porque ele se preparou para aquilo. E a roupa influenciou bastante em seu trabalho. Efetivamente, a roupa deveria interferir em nosso trabalho? Não, mas ela exerce uma profunda influência. Do mesmo modo, o presépio não seria necessário, mas ele oferece para nós uma grande influência para vivenciarmos este tempo do advento, este tempo do natal. E é verdade pois, quando eu estudava, se eu ficasse em casa de qualquer jeito, eu estudava de um modo. Se eu me preparasse como se eu fosse para a faculdade, eu estudava muito mais.
Portanto, não deixemos de preparar o presépio em nossa casa porque ele vai renovando a nossa esperança. Esperança esta que o povo de Israel, na Primeira Leitura[Is 2, 1-5], estava perdendo. Porque o povo estava confiando muito nos poderosos, pensando que os políticos iam resolver os seus problemas. E começaram a perdê-la quando não viam melhorias. Então surge um profeta, que diz que Deus há de enviar um Príncipe da Paz e que devemos nos deixar guiar por sua luz. O profeta anuncia essa esperança de que, um dia, Deus virá ao nosso encontro. E quem Deus envia para nos salvar? O próprio Jesus. Ele é o Príncipe da Paz, que vai acalentar o nosso coração e nos ajudar a enfrentar as dificuldades do dia-a-dia. E é, justamente, nestas dificuldades que muitas vezes nós abandonamos a nossa caminhada de fé. E um cristão nunca pode abandonar a sua caminhada, sobretudo nos momentos de fragilidade. Devemos seguir a este Cristo, o nosso Salvador, mas não esperar muito tempo para isso. Porque há pessoas que esperam demais e não tomam atitude. E isto é um grande problema em nossas vidas.
Jesus nos fala, no Evangelho de hoje [Mt 24, 37-44], que o povo está extremamente ansioso pela vinda do Senhor, pelo fim dos tempos. Falava-se muito, no tempo de Jesus, que o mundo iria acabar. E aí Jesus recorda o tempo de Noé, no qual este começou a fazer a arca e muitos julgavam-no louco. O mesmo ocorre nos dias de hoje, no qual perguntam a você: “o que você vai fazer na Paróquia Santa Teresinha todo domingo de manhã? Por que você vai professar a fé em Jesus? Está ficando doido?” Quando Noé constrói a arca, ele coloca um casal de cada espécie de animal e fecha a porta dela. Os habitantes do local continuavam a julgá-lo como louco. E o que acontece depois que ele fecha a porta? Vem o dilúvio e somente quem se salva é Noé, sua família e aqueles animais. Às vezes nós também somos assim. Vemos alguém indo para a igreja, rezando, e dizemos: “você é louco”. Vemos alguém lutar pelo seu matrimônio e dizemos a mesma coisa. Vemos um pai lutar por seus filhos e dizemos: “porque não manda embora de casa?” Vemos nossos filhos passar por dificuldades mas não queremos abandoná-los e as pessoas estão, muitas vezes, dizendo que somos doidos.
Mas é justamente nessa loucura da cruz, nessa loucura do Evangelho, que está a nossa salvação. E Jesus disse que não podemos esperar o final dos tempos chegar. Devemos nos converter agora, devemos estar preparados. Pois se o proprietário de uma casa soubesse que ela está para ser arrombada, ele não se prepararia antes para isso? Depois que alguém é roubado, coloca alarme no carro, faz seguro, põe grade na casa. Por que nós esperamos tanto? Às vezes o matrimônio está se esvaindo, estamos nos separando e não fazemos nada. E quando chega o limite e já não há mais o que fazer, qual será nossa reação?
Portanto, esse tempo de advento é tempo de preparar nosso coração e nossa vida. A vida, aliás, é cheia de momentos de preparação: para a primeira eucaristia, para o crisma, para o matrimônio. A mulher e o esposo quando ficam “grávidos” também têm seu tempo de preparação para a criança nascer. Então é tempo de preparar também o nosso coração para o nascimento do nosso Salvador, ouvindo o que São Paulo nos fala quando escreve à comunidade de Romanos [Rm 13, 11-14a]: “já é hora de despertar”. Você que está dormindo, acorde! Você que está sonolento, desperte! Você que não está vendo as coisas acontecerem em sua vida, desperte para a graça de Deus. Despojemo-nos das ações das trevas e vistamo-nos com as armas da luz. Você que está com seu coração angustiado, que pensa muitas vezes de modo negativo sobre as coisas da sua vida, seu emprego, sua família, sobre o futuro dos seus filhos ou o futuro da igreja, abandone as trevas e revista-se de coisas boas que vem de Jesus. Pais que trouxerem seus filhos à igreja, deixem seus filhos revestir-se do amor de Deus pois uma criança que cresce na igreja, cresce completamente diferente.
Ao ouvir a confissão dos adultos essa semana, muitos disseram: “depois que comecei a frequentar a igreja, a minha vida mudou. O meu relacionamento em casa e com as pessoas foi transformado”. Isto ocorreu porque abandonaram as trevas e começaram a caminhada para revestirem-se da luz de Cristo, o que deve ser uma prática constante assim como passar protetor solar: um pouquinho por dia e com um pouquinho mais de intensidade quando venho para a missa.
Todos nós temos muitas coisas para aprender, e por isso precisamos, aos poucos, nos revestir dessa luz e do sentimento de Cristo. Que possamos, nessa Eucaristia, nos preparar, verdadeiramente, para que a manjedoura do nosso coração acolha a mensagem deste Natal, que é o nascimento de Jesus Cristo, Nosso Senhor. Que Jesus, ao nascer no nosso coração, possa nos trazer a alegria de irmos ao seu encontro. A mesma alegria em participar na casa do Senhor que vemos nestes adultos que hoje fazem primeira comunhão. Também a alegria que vimos nas crianças, na semana passada, quando tiveram a sua primeira eucaristia. Que a alegria da experiência que cada um de nós faz com o Salvador nos inspire como ao povo de Israel no Salmo 121, o qual cantamos: “Que alegria, quando me disseram: ‘vamos à casa do Senhor!’ ”.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 1º Domingo do Advento (Ano A) – 27/11/2016 (Domingo – Missa das Crianças e de Primeira Eucaristia de Adultos).

Jesus Cristo é o nosso Rei e o nosso único Salvador
20/11/2016
Estamos celebrando a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Após 34 semanas, hoje é o último domingo do Tempo Comum e, assim, nós coroamos este tempo litúrgico proclamando que Jesus é o Senhor da nossa vida e que fora Dele nós não encontraremos a Salvação. Ele é o nosso Salvador! Queremos também, com esta liturgia, agradecer por estas 63 crianças que hoje recebem a sua primeira comunhão. Que Deus as abençoe e que elas sejam fiéis a este Evangelho que hoje assumem querer seguir.
Devemos sempre colocar Jesus à frente de nossas vidas, este Cristo que deu a Sua vida para nos salvar. E hoje nós o coroamos, dizemos que Ele é o nosso Rei, o nosso único Salvador. Mas Jesus não é um rei como os que vemos nos filmes, nas histórias... Ele é um rei diferente, um rei que veio para nos ensinar a praticar a vontade de Deus. Vocês estão dispostos a praticar a vontade de Deus? Pois praticar a vontade de Deus não é fácil, é difícil; mas não devemos seguir só o que é fácil, mas o que é certo, o que é correto.
Por isso, na Primeira Leitura [2Sm 5, 1-3] a Igreja nos recorda que um homem, chamado Davi, tornou-se rei e conseguiu reunir as 12 tribos de Israel que estavam dispersas; e ele é este que vai nos ajudar nesta missão, nesta busca em sermos um único povo, uma única família caminhando na mesma direção. Antes de Davi, o povo só se reunia quando tinha alguma dificuldade. Quando alguém queria invadir a cidade, eles se juntavam, lutavam e venciam, e aí voltava cada um para o seu canto. Às vezes, nas nossas famílias também agimos assim, só diante de algum problema é que nos reunimos. Não, devemos nos reunir constantemente. E é Deus que nos ajuda a sermos um só povo.
Davi conseguiu esta unidade, mais do que com palavras, com o seu exemplo – exemplo que também devemos dar dentro de casa, na escola, com nossos amigos... Será que estamos dando o exemplo que nossas crianças merecem? Os filhos esperam que seus pais sejam o seu primeiro exemplo – nunca se esqueçam disso. Davi também era capaz de dialogar, de conversar, de resolver os problemas, e nós devemos aprender com ele a conversar para resolver os nossos problemas; temos que saber lidar com nossas emoções para, assim, dialogar e apresentar o caminho certo, o caminho correto.
O correto, muitas vezes, é difícil. Jesus, por escolher o caminho correto e não o mais fácil, foi crucificado lá no alto do Calvário; a coroa que Jesus recebeu não foi uma coroa de glória, mas uma coroa de sofrimento. E, mesmo assim, Ele fez o que era certo. E ao receber a primeira comunhão nós também estamos nos colocando à disposição de Deus, para procurar fazer o que é certo e não o que é mais fácil.
Ao fazer o certo, muitas vezes vão debochar de nós – como fizeram com Jesus quando Ele estava sendo crucificado: "Você não é o rei dos judeus? Salva-te a ti mesmo! Salve a nós!" [ref. Lc 23, 35; 37; 39]. Quando fazemos as coisas certas na escola, por exemplo, muitas vezes nossos amigos debocham de nós e nos incentivam a fazer a coisa errada; quando crescemos e entramos no mercado de trabalho, muitas vezes somos tachados de ingênuos quando seguimos o que é certo. Essas coisas vão entrando em nossos ouvidos, atingindo o nosso coração e, em vez de fazemos o que é certo, nos deixamos levar pelo que as pessoas falam... Jesus, no entanto, permaneceu firme em sua decisão. E vemos no Evangelho [Lc 23, 35-43] que sempre aparece alguém para nos defender. Até o ladrão defendeu Jesus! E, por isso, Jesus disse a ele: "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso" [ref. Lc 23, 43].
São Paulo diz, em uma de suas cartas, que aquele que é fiel vai receber a coroa da justiça [ref. 2Tm 4, 8], ou seja, a morada eterna. Para ir para o Céu é necessário fazer o certo, é necessário praticar tudo o que Jesus nos ensina. Ele é o nosso único e verdadeiro Salvador. E para não nos perdermos neste caminho de Salvação, a primeira coisa a se lembrar é isto: que Jesus Cristo é o nosso Salvador!
A segunda coisa que nos conduz à Salvação é a Igreja: Católica Apostólica Romana. Quando falarem mal da Igreja para vocês, procurem o padre ou, então, procurem os catequistas. Não deixem que falem mal da Igreja, porque tem muita gente falando mal daquilo que não conhece... E isso vai entrando no ouvido de vocês e afastando vocês do caminho da Salvação. Amem a Igreja! Respeitem a Igreja!
O terceiro ponto para caminharmos para a Salvação eterna é a vida em comunidade. Quando estamos sozinhos, nós nos tornamos frágeis; é muito fácil de quebrar, de trincar. Por isso a vida em comunidade se torna importante para nós, porque nos ajuda a não quebrar o nosso vínculo com Deus, para que, lá na frente, não venhamos a sofrer as dores desta quebra.
E, assim, proclamando Jesus como nosso único Salvador, amando e respeitando a Igreja e seguindo uma vida em comunidade, nós vamos crescendo e amadurecendo. Mas o essencial é sempre a Eucaristia! A primeira comunhão não deve ser a primeira e a única, mas a primeira de uma série de muitas. "Domingo sem missa, semana sem graça!", pois nos falta alguma coisa. Então, pais, motivem as crianças, tragam-nas para participar da Santa Missa. Vocês querem ver os filhos de vocês no bom caminho? Então, tragam as crianças para a igreja. Criança que cresce na igreja, cresce com valores diferentes daqueles que a sociedade nos apresenta. E a Igreja – Jesus Cristo, nosso Senhor – nos ajuda a discernir o certo do errado, para que quando não tivermos mais a nossa mãe, o nosso pai sempre ao nosso lado, nós saibamos fazer a escolha certa. Se você quer que seu filho faça a escolha certa quando você não estiver mais ao lado dele, traga-o na igreja, ensine e incentive-o no caminho de Jesus Cristo, nosso Senhor. A felicidade das crianças está em vossas mãos! A gente se dedica tanto para levá-las no inglês, na natação, no futsal, judô, dança, balé... Gastamos tempo, energia, dinheiro com tantas coisas... Quanto tempo nós gastamos apresentando Jesus para nossas crianças? Vocês querem ver as crianças felizes? Então, deixe que Jesus conduza a vida delas e, também, a vossa casa e a vossa família.
Que possamos, como diz São Paulo em sua carta na Segunda Leitura [Cl 1, 12-20], colocar a nossa vida nas mãos de Jesus, porque Ele é o princípio e o fim, Ele é o nosso verdadeiro Salvador. Que esta Eucaristia fortaleça as nossas crianças e a nossa comunidade, que se renova com cada uma delas, para que possamos continuar a praticar o Evangelho da Salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (Ano C) – 20/11/2016 (Domingo – Missa de Primeira Eucaristia)

A esperança no fim, que não é a morte, mas a Ressurreição
13/11/2016
Queridos irmãos e irmãos, povo santo de Deus! A liturgia de hoje vem nos preparar para o fim último da humanidade, que é o fim escatológico. Muitas vezes, daremos o fim escatológico como a destruição total do gênero humano, mas a liturgia de hoje vem nos mostrar que não é dessa forma que devemos encarar o fim dos tempos; devemos encarar com alegria e com a esperança de que, um dia, nos encontraremos face a face com Cristo.
Eu costumo dizer que se minhas homilias não provocarem o povo, elas não servem como homilia. Observem, então, o Evangelho de hoje. Hoje, se vocês repararem, todas as leituras estão voltadas para a destruição. Parece que Deus quer acabar com todo mundo no Evangelho. Mas fiquem atentos! Muitos virão em nome de Jesus Cristo dizendo ser Ele, dizendo para vocês que "o tempo está próximo". Cuidado para não caírem nas ciladas deles. País entrará em guerra com outro país; os pais vão brigar com os filhos, vão entregar os filhos; muitos sinais vocês vão ver nos céus, coisas pavorosas vocês vão encontrar [ref. Lc 21, 10s]. E já encontramos: guerras, terremotos, desastres... Mas não fiquem preocupados, isso ainda não é sinal do fim dos tempos. Antes de tudo isso acontecer, vocês ainda vão morrer por causa de Jesus! Vão ser entregues à prisão, à sinagoga, aos governadores, aos reis por causa do nome de Jesus [ref. 21, 12].
Jesus nos mostra, na liturgia de hoje, que seremos perseguidos sim. E esse fim escatológico, o que vem a ser para nós? É o fim último da humanidade. O fim último da humanidade não é a destruição, mas sim encontrar-se face a face com Cristo.
Mas por que as leituras nos dão uma característica de destruição? Porque aquele que não segue Jesus, aquele que não tem Jesus em sua vida, caminha para a destruição. Nós passaremos por todos os tormentos sim, mas encontraremos a fé. É como uma mãe quando entra em trabalho de parto. Dizem que a dor do parto é como a dor da morte, mas a mãe passa por essa dor. Pela esperança, pela fé, pelo amor e pela vontade de, depois, encontrar o seu filho em seus braços. Ela passa pela dificuldade, ela passa pela dor, porque sabe que o fim último é a felicidade – do filho e dela.
Então, nós passamos pelas dificuldades da vida porque acreditamos na Ressurreição, é este o fim último da humanidade. Agora, quem não quer seguir Jesus, caminha para a destruição.
Pelo Batismo, também somos chamados a anunciar o Cristo em nossas vidas. Mas por que batizar uma criança, se ela não tem pecado? Cuidado com os falsos, que virão em nome de Jesus Cristo dizer que vocês estão errados. Jesus também não tinha pecado, e Ele não foi batizado? O Batismo nos introduz à comunidade dos cristãos. Até o presente momento, somente os pais e os familiares sabem quem são essas crianças. Eu não as conheço, vocês não as conhecem. Mas é por meio do Sacramento do Batismo que elas são apresentadas publicamente a nós. Quando nós nascemos é da mesma forma, somente os pais nos reconhecem, mas a nação não reconhece; a nação só reconhece como filho adotivo ou filho biológico a partir do momento em que os pais registram a criança. E no Batismo também: essas crianças já são filhas de Deus – não são pagãs, porque elas não têm a idade da razão ainda para dizer se acreditam ou não –, mas é diante do Batismo que nós vamos apresentá-las publicamente como filhas de Deus, e por isso toda a comunidade já passa a conhecer.
E, assim como no Batismo, a atitude de receber o Cristo Eucarístico em nossas vidas e partilhar esse momento com a comunidade também inspira os nossos corações, anima a nossa fé e serve de exemplo para nos mostrar que quem tem Jesus Cristo em sua vida há de permanecer vivo; passará por todas as tribulações sim, mas nós almejamos - como já disse -, um dia, encontrar Jesus face a face.
A Liturgia de hoje nos mostra tanto o fim escatológico, como também a Parusia. E o que é a Parusia? É o retorno de Jesus Cristo. Aí se dará novamente o encontro de Jesus com a humanidade: a humanidade que caminha para encontrar Jesus e Jesus que caminha para encontrar a humanidade. Assim, poderemos - como diz o Evangelho – contemplar, face a face, com Cristo.
Homilia: Pe. André Rodrigues da Silva – 33º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 13/11/2016 (Domingo, missa das 10h).

Testemunhar a nossa fé mesmo diante dos contratempos
06/11/2016
Hoje a Igreja nos convida a celebrar a Solenidade de Todos os Santos. Sua tradição remonta aos primeiros cristãos que já rezavam por aqueles homens e mulheres que tinham fama de santidade, sobretudo os mártires, que deram a vida por sua fé em Jesus Cristo Nosso Senhor. Porém, foi no século VI depois de Cristo que o Panteão romano, templo pagão para vários deuses, foi cristianizado. Após a consagração daquele templo ao Deus único e verdadeiro, foram levadas a ele as relíquias dos mártires dos primeiros séculos, e ali se começou uma veneração mais púbica e organizada para estes homens e mulheres. Mas foi no século VIII que a Igreja instituiu o dia 1º de novembro como a Solenidade de Todos os Santos, e desde então celebramos todos os anos neste dia.
A Festa de Todos os Santos é tão importante que os bispos do Brasil resolveram transferi-la para o primeiro domingo após o dia 1º de novembro, para que todas as pessoas possam celebrar esta data e recordar a importância pela busca da santidade, pois nosso objetivo final é chegar à morada eterna, o céu. E para isso é necessário lutarmos para sermos santos como nosso Pai Celeste. Nessa busca como peregrinos para chegarmos ao céu, enfrentamos as dificuldades do dia a dia que a vida nos apresenta, e devemos testemunhar nossa fé mesmo diante dos contratempos e, sobretudo, das perseguições. Por isso a Igreja coloca o livro do Apocalipse [Ap 7, 2-4.9-14] para nos ajudar a refletir.
A Igreja no século I é perseguida por causa do Evangelho pregado e anunciado. Quem pregava a fé em Jesus Cristo sofria morte de cruz ou outras mortes violentas. São João ao escrever o livro do Apocalipse utiliza códigos e diversos símbolos, dos quais um deles é o dragão e o outro é o cordeiro. O imperador é representado pelo dragão, devorando os cordeiros que são os cristãos de pequenas comunidades, que buscavam vivenciar os valores do santo Evangelho. Segundo o evangelista, a comunidade que permanece fiel ao Evangelho, mesmo perseguida e assassinada pela fé, será lavada e alvejada no sangue do cordeiro, Jesus Cristo Nosso Senhor.
E ao vivenciar sua fé serão contemplados entre 144 mil eleitos para participar do banquete eterno. Vale lembrar que o livro do Apocalipse é cheio de sinais e simbologia. O número 144 mil significa 12 multiplicado por 12 mil, ou seja, as 12 tribos de Israel anunciando o Evangelho da salvação a todas as pessoas, das quais uma boa parte adere a esta mensagem de salvação. Mas isto não quer dizer que apenas 144 mil possuem um bilhete para entrar no céu, isso é uma linguagem simbólica. O amor de Deus é infinito, e todos que aceitarem a fé em Jesus Cristo participarão do banquete eterno. Mas, para isso, é necessário testemunhar sua fé, mesmo diante dos dragões.
Existem dragões no mundo que querem nos devorar, e eles estão na empresa, no ciclo de amizade, na sociedade, na televisão e na internet, tentando devorar a nossa fé e a nossa felicidade. Nós temos que enfrentá-los e não aderir à proposta destes dragões. Como anda a sua fé e a sua busca pela santidade? Existem dragões tentando derrubar o seu matrimônio e o relacionamento com seus filhos? Talvez haja dragões tentando te devorar e você esteja aderindo a estas propostas.
Devemos estar atentos para não cair nas ciladas do inimigo, pois a nossa missão, como cantamos no salmo 23, é ser uma geração que procura o Senhor. Você tem as mãos puras e inocente coração? Como está a sua consciência? Como está a sua vivência dos valores do santo Evangelho? Por isso a Igreja nos coloca hoje o Evangelho das bem aventuranças [Mt 5,1-12a], que é o testamento espiritual de Jesus para que possamos chegar à morada eterna felizes, pois santos serão aqueles que foram perseguidos por conta da justiça.
Quando nós vivenciamos os valores do Evangelho, em algum momento seremos perseguidos. Onde quer que a gente vá existem pessoas contrárias ao Evangelho da Salvação. Seja no grupo de amigos, no trabalho, na escola, na faculdade, quando você defende a sua fé, os seus valores, alguém vai se incomodar. Por causa de apenas um voto cristão na Câmara dos Deputados, o aborto não foi permitido em território nacional, os cristãos que estavam defendendo a vida neste momento, quase apanharam, quantos dragões estavam lá tentando devorá-los! Quando você ensina alguma coisa para o seu filho, que é da vontade de Deus, mas ele quer fazer diferente, você vai desistir? Não! Você deve insistir. Quando no seu matrimônio tem algo contrário ao projeto de Deus, você tem que bater o pé e fazer a vontade Dele. Quantos professores falando mal do Evangelho, e outros defendendo e quase apanhando dos alunos!
Queremos fazer parte dos 144 mil, devemos defender a nossa fé. O ingresso, nós já recebemos, o bilhete nós já temos de São João na segunda leitura [1Jo 3,1-3]. Fomos presenteados com o grande presente do amor, podemos ser chamados de filhos de Deus, e essa filiação deve ser vivenciada no cotidiano da nossa vida, colocando em prática os valores do santo Evangelho.
Que o Espírito Santo de Deus nos seja favorável para que possamos procurar verdadeiramente o Senhor, como cantamos no Salmo 23. Que possamos, com o auxilio dos santos e santas de Deus, sermos peregrinos nesta terra, para um dia, juntos, podermos contemplar o autor da nossa vida. É assim a geração dos que procuram o Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Solenidade de Todos os Santos (Ano C) - 06/11/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Restauremos o desejo de eternidade em nossos corações!
02/11/2016
Queridas irmãs e irmãos, mais uma vez sejam todos muitos bem-vindos. Sobretudo você que está vindo pela primeira vez ou está nos visitando. Deus abençoe a sua presença na Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus. Nosso carinho e oração por todos aqueles que rezam pelos seus entes queridos, nossos familiares, amigos e antepassados. Que eles possam ser acolhidos na morada eterna.
Reunidos para a missa dos fiéis defuntos, nós nos encontramos para celebrar a esperança na ressureição pois nós não somos uma religião dos mortos mas, sim, uma religião dos vivos: daqueles que estão junto a Deus Pai. A nossa missão, enquanto Igreja nesta terra em direção à Jerusalém Celeste, é unir a Igreja Peregrina com a Igreja Triunfante. Ou seja, reunir em oração esta Igreja em que eu e você fomos batizados, na qual caminhamos no decorrer da história, junto com a Igreja que já triunfou, isto é, aquela em que os nossos antepassados já estão junto de Deus. Que eles intercedam por nós e que também nós possamos rogar por aqueles que ainda não entraram na morada eterna. E, ao meditarmos sobre a vida em Cristo Jesus, podemos resgatar, fortalecer e lapidar o nosso desejo de eternidade, que deve existir em cada um de nós porque o nosso lugar, por último, será o céu. Este desejo de chegarmos à morada eterna passa pela nossa caminhada nesta vida terrena, onde nós fazemos as nossas escolhas. E é justamente recordando os bons exemplos que nós vamos buscando direcionar a nossa vida para aquilo que Deus espera de cada um de nós. Por isso, recordar os nossos antepassados é relembrar também todas as coisas boas que eles nos ensinaram: as suas palavras, as suas escolhas, o seu testemunho e até os puxões de orelha.
Vou citar o caso de minha vovó. Por um lado, ela era brava e queria nos corrigir. Por outro, ela era muito carinhosa. Como é gostoso lembrar da minha avó. Morei com ela uns 6 ou 7 anos, logo depois que eu nasci. E quando eu tinha 20 anos, ela partiu para a casa do Pai. Então todo dia 2 de novembro eu vou na casa dos meus pais almoçar e, depois, vamos ao cemitério. Eu gosto de recordar tudo aquilo que ela me ensinou, ao longo da vida, com o seu jeito simples de uma analfabeta mas com o coração enorme. E recordar o quanto eu ainda preciso modificar a minha vida para ter um coração como o de vovó. Outras pessoas passaram por minha vida como, por exemplo, amigos que morreram muito cedo. Alguns, por causa das drogas. Outros, por causa da violência. Tive amigos que morreram assassinados e outros porque não souberam se cuidar, como o Marquinhos, grande amigo meu. Querendo entrar no exército, foi praticar exercícios e, ao chegar em casa, depois de muitos quilômetros, entrou debaixo da água gelada e sofreu um choque térmico, segundo dizem os médicos. Veio a falecer com apenas 19 anos de idade. Mas eu me recordo muito dele na minha infância: o quanto nós caminhávamos juntos, o quanto nós aspirávamos alguns anseios juntos, quando aprendíamos a tocar violão, quando íamos jogar futebol. E aí você lembra do violão e dos outros amigos que hoje estão por aí sendo pais, professores e outros profissionais. Lembro também as pessoas da minha comunidade, da minha catequista. E uma coisa vai puxando a outra. Assim, vamos reencontrando a alegria da nossa existência, que passa pelo nosso contato pessoal uns com os outros, porque somos fruto das nossas experiências. E seguir as nossas experiências – sejam elas positivas ou negativas – cabe a cada um de nós e não a outra pessoa. Do mesmo modo, enfrentar as dificuldades que a vida nos apresenta cabe a nós e não ao outro. Como Jó, que enfrenta grandes dificuldades e, ainda assim, confia sua vida a Deus. Quando perdemos a esperança em Deus, perdemos tudo. Na primeira encíclica que o Papa Francisco escreveu, ele disse e repetiu por diversas vezes: não vos deixeis roubar a esperança. E é a esperança que move nossos corações.
Recordo-me quando eu morava com os meus pais, em um local de muita violência, muitas drogas, muitas dificuldades. Algumas pessoas diziam: “Este mundo não tem mais jeito! Este mundo está perdido! Estes jovens não têm salvação!” Quantos jovens foram resgatados pela esperança de promover um encontro para a juventude ou para seus pais, para que pudessem tratar de modo diferente os seus filhos. Tantas pessoas que iniciaram projetos sociais para resgatar estes jovens das drogas e da prostituição! Quantas pessoas foram salvas! Nós, muitas vezes, temos a memória muito curta. Não sei como era aqui na região de Santa Teresinha, mas em Mauá, onde eu cresci – no final da década de 80, início da década de 90 –, era um morto por dia. Era chacina, era gente presa, era gente sendo esquartejada. E a sociedade mudou. Não que não haja atualmente, mas sabemos que, pelo menos aqui no grande ABC, o quanto isso diminuiu graças aos esforços das políticas públicas, das religiões, das igrejas que oferecem os encontros de jovens e encontros de casais. E que assim este desejo de eternidade, de produzir coisas boas – pois o ser humano foi criado para isso: para propagar o amor – possa se estender aos outros corações. Mas é justamente diante das dificuldades da vida: de uma enfermidade, da falta de trabalho ou da perda de um ente querido que, muitas vezes, nós vamos perdendo a esperança. Essa esperança que Jó resgata nos nossos corações e sobre a qual diz São João [1Jo 3, 14-16]: “caríssimos, nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte”. O amor deve mover os nossos corações. E quem ama, nutre. Quem ama, recorda. Quem ama, vivencia os valores da pessoa amada no seu coração. Quando amamos, lutamos para colocar em prática estes sentimentos bonitos que temos dentro do nosso coração. Jesus nos amou tanto que deu a sua própria vida pela nossa salvação.
Quantos dos nossos bisavôs ou talvez avôs nos amaram tanto, sacrificaram-se tanto, para dar o melhor para nós? Quantos pais, que hoje estão diante de Deus, sacrificaram-se tanto para nos dar o melhor? Quantos filhos sacrificam-se para dar uma vida digna para seus pais? Quem ama, sacrifica-se. Quem ama, disponibiliza-se a trabalhar pela pessoa amada. E quando não amamos, diz São João, nós permanecemos na morte. Queremos recordar essas pessoas hoje. Coloquemos em prática os valores positivos que elas nos ensinaram. De quem você se recorda com maior carinho? De seu avô, sua avó, seu tio, pai, mãe, de um amigo. Quais são as coisas positivas que ele disse? Você consegue mensurar isso? Você consegue recordar estes valores? Pois é deste modo que você está mantendo viva, no seu coração, esta memória e este desejo de eternidade. Algum dia estaremos todos diante de Deus contemplando a face do Cristo Ressuscitado. Diz Jesus, no Evangelho de hoje [Jo 6, 37-40], que “esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Pois essa é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia.” Quando nós compreendemos que Cristo não deseja que nenhum dos filhos se perca, nós lutamos para que esta mensagem de vida, de liberdade, de cura e de salvação possa tocar o coração das pessoas. Por isso que, ao estar no cemitério ou no velório, quando falamos do ente querido, não devemos falar da tristeza. Devemos falar da esperança na ressurreição e das coisas positivas que estas pessoas nos deixaram, colocando ali uma sementinha da ressurreição no coração das pessoas. Pois devemos ser missionários do amor e da ressurreição. Disse Jesus que nenhum de seus filhos iria se perder e Ele deu exemplo para que nenhum de nós nos percamos. Mas agora, cabe a cada um de nós fazermos a nossa escolha. Porque pela liberdade, Deus nos dá a possibilidade, o direito de escolhermos a vida eterna ou uma vida distante do seu amor.
Que vida nós estamos escolhendo? Escolhemos uma vida de amor, de perdão, de lutas, de conquistas ou uma vida de choros, de lágrimas, de decepção, sem esperança? Uma vida onde a família não está bem e eu não faço nada para transformar? Um matrimônio no qual nada está bem e eu não mudo para transformá-lo? Os meus filhos crescendo, desviando-se, eu vendo estas situações mas não fazendo nada para transformar? Manter o desejo, a esperança da eternidade nos nossos corações é, todos os dias, plantarmos uma mudinha de esperança, de luta, de força, de perseverança, para transformar o nosso coração e o das pessoas que caminham conosco. Com a saudade no coração de todos aqueles que nos deixaram, nós queremos professar a nossa fé, no dia de hoje, restaurando nos nossos corações este desejo de eternidade, esta esperança de que, dia após dia, lutando por um mundo mais justo, mais fraterno, propagando o amor e a misericórdia de Deus, possamos antecipar o que um dia viveremos na eternidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Comemoração dos Fiéis Defuntos (Ano C) – 02/11/2016 (Quarta-feira, Missa às 10h).

Que saibamos ser missionários de Jesus Cristo
30/10/2016
Estamos celebrando o mês missionário e a Igreja convida a todos nós, batizados, a sermos portadores da misericórdia, do amor e da justiça de Deus. Neste mês missionário, a Liturgia conclui apresentando alguns conceitos do “ser” missionário: O missionário deve estar sempre pronto a aconselhar, a instruir aqueles que estão em dúvida ou estão perdidos. O missionário deve ser paciente para formar novos discípulos e missionários. Deve estar sempre disposto a perdoar, assim como Jesus nos perdoou e assim, nos confortar uns aos outros. Deve sempre rogar a Deus e se entregar nas mãos do Senhor!
Que esta liturgia de hoje nos ajude a compreender que todos nós somos missionários do amor de Deus.
Neste sentido a Igreja nos convida, através da Primeira Leitura [Sb 11,22-12,2], a reconhecer que Deus é misericordioso e cheio de compaixão. No séc. I A.C. as pessoas estavam se afastando da sua fé, estavam caindo em imoralidade e idolatria. Deste modo, os mais velhos, ou seja, os mais sábios se reúnem para recordar a ação de Deus na história da humanidade e os primeiros versículos dizem que todo aquele que se afastou do Caminho do Senhor sofreu consequências por este afastamento. Quando o povo se afastou de Deus foi escravizado no Egito! Quando se afastou de Deus, na caminhada do deserto em direção à terra prometida, foi picado por cobras e serpentes. Foi exilado no exílio da Babilônia... Uns chamam de “castigo de Deus”, outros de “correção fraterna”.
Deus está constantemente nos orientando e não nos castigando! E essa visão de que Deus nos castiga – já refletimos aqui inúmeras vezes – deve ser aniquilada, purificada do nosso coração. É por isso que o autor do livro nos diz: “de todos tens compaixão”. A sua correção é por amor. Portanto crianças, quando papai e mamãe os corrige é porque eles os amam e não porque não gostam de vocês.
Quem ama corrige! Os verdadeiros amigos corrigem uns aos outros! Deus é nosso verdadeiro amigo e por isso vai nos corrigindo ao longo da nossa história...
O autor diz: “É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.” Deus, por nos amar, nos corrige e é essa correção de Deus que devemos aceitar ao longo da nossa vida. Muitas vezes, Deus nos corrige através de pessoas próximas a nós: nossos pais, professores, padrinhos, o padre da paróquia... Enfim, Deus vai se utilizando daqueles que nos amam para corrigir os nossos pensamentos, palavras e atitudes. E quando nos deixamos moldar por este amor misericordioso de Deus, somos capazes de proclamar ao mundo, de bendizer ao Senhor o quanto somos felizes porque adoramos ao Deus único e verdadeiro. Em outras palavras é a expressão do salmista (Sl 144): “Bendirei eternamente vosso nome;/ para sempre, ó Senhor, o louvarei!”
Talvez, quem nasceu e cresceu dentro da Igreja não entenda o sentido da conversão, mas para quem estava abandonado, para quem estava afastado e se sente acolhido por Deus, se sente acolhido por uma comunidade e é transformado em sua vida, ele bendiz ao Senhor ao longo da sua história e é capaz de dizer: “Misericórdia e piedade é o Senhor,/ Ele é amor, é paciência, é compaixão./ O Senhor é muito bom para com todos,/ sua ternura abraça toda criatura.”
É um Deus carrasco que o salmista fala? Não! É um Deus cheio de amor, cheio de misericórdia, um Deus cheio de compaixão. Este Deus, que se encarna na história da humanidade e na pessoa de Jesus Cristo, no Evangelho de Lucas (Lc 19,1-10), é capaz de acolher um pecador público chamado Zaqueu. Ele é capaz de entrelaçar o Seu olhar com o olhar de um pecador público, um republicano, um cobrador de impostos.
Zaqueu, aonde chegava, ficava escondido porque as pessoas olhavam torto para ele, um olhar preconceituoso. Era sempre discriminado em qualquer lugar que estivesse. Entretanto, Jesus, mesmo diante de uma grande multidão é capaz de olhar nos olhos de Zaqueu e dizer: “... desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Jesus é aquele que acolhe os últimos, que acolhe a todos indistintamente, e nós, devemos aprender com o Nosso Salvador a não acolher apenas aqueles que vão nos trazer algum benefício, não fazer amizade apenas com aqueles que, de algum modo, vão nos trazer algum bem, mas fazermos amizade com todos. Acolhermos e abraçarmos a todos independentemente dos seus pecados, da sua história de vida.
Será que somos capazes de fazer isso? Se não somos, é necessário pedirmos a Deus que converta o nosso coração! Agimos como Jesus ou excluímos a pessoa da nossa vida e da nossa convivência? Devemos vivenciar o Evangelho e buscar superar os nossos preconceitos e as nossas atitudes contrárias ao Evangelho da Salvação. De outro lado, temos Zaqueu, que embora seja um pecador público, embora discriminado, não se acostumou com a sua condição de exclusão, mas foi ao encontro de Jesus.
Quantas pessoas hoje vão ao encontro do Senhor? Quantas pessoas entram por essa porta e muitas vezes se sentem excluídas, abandonadas? Quantas e quantas pessoas na sociedade, no mercado de trabalho, se sentem excluídas?
Quando a pessoa dá o seu passo, quando é capaz de subir a árvore da sua vida para ver Jesus... Muitas vezes acabamos ficando parados! E a nossa missão é acolhê-las! O que Jesus quer é entrelaçar o Seu olhar com o nosso, mas muitas vezes encontramos motivos para não irmos ao encontro do Senhor. Às vezes uma chuva, um jogo de futebol... Por que não dá pra vir à missa? Porque não é prioridade! E como fico feliz, pois tenho visto a paróquia crescer neste sentido. Louvado seja Deus! Estamos aprendendo o que é prioridade para nós e Jesus deve ser prioridade! Assim como Zaqueu, devemos enfrentar as nossas dificuldades, não nos limitar a nossa condição de baixeza, que no caso de Zaqueu pode ser encarada como estatura física mas segundo os padres, os teólogos pode ser também uma estatura espiritual... Por causa do preconceito, por causa da exclusão, Zaqueu vai se tornando pequeno diante das pessoas. E é por causa desta exclusão que Zaqueu tem que enfrentar os seus desafios e subir na árvore para ver Jesus, mas tem gente que tem medo de subir na árvore, tem gente que tem medo de superar as suas fragilidades e por isso fica sempre na sua condição de baixeza. Vamos nos valorizar! Deus nos ama! Deus deu a vida pela nossa Salvação! Enquanto aceitarmos a nossa situação de discriminação, de opressão ou de exclusão seremos sempre tratados como coitadinhos. Tenho certeza, que assim como aconteceu em minha vida, também já aconteceu na vida de muitos... Quando você chega num lugar para trabalhar ou estudar e todo mundo te olha torto - lembrei que a pior coisa da minha vida foi quando fui estudar fora, quando cheguei e falei que era do Brasil, até viraram a cara! Como se brasileiro não estudasse! Só tem futebol e carnaval no Brasil - O que temos que fazer é demonstrar por atitudes que também somos capazes de superar tudo aquilo que as pessoas têm preconceito. E quando superamos as nossas dificuldades somos capazes de olhar nos olhos de Jesus e ouvi-Lo dizer: “Hoje a salvação entrou na tua casa!” Jesus deseja entrar na casa de todos nós, deseja fazer morada em nosso coração, mas se não abrirmos a porta de casa, como Zaqueu, como Jesus trará a salvação? A salvação é pessoal, é individual, devemos dar a nossa resposta ao Senhor.
Você já abriu as portas do seu coração e da sua casa para Deus? Como está a sua vida de fé? Uma vez que Jesus entra e faz morada, iniciamos o nosso caminho de verdadeira conversão nesse Evangelho - caminho de salvação. Caminho de salvação, que muitas vezes, será dificultado por pessoas que caminham conosco e pelos murmurinhos que vão surgindo ao longo da nossa vida, como na Segunda Leitura de hoje da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses (2Ts 1,11-2,2).
Uma comunidade imatura na fé, que começa a se desviar dos seus objetivos porque alguém vem “buzinar” na orelha e dizer: “Jesus está voltando”, e o que eles fazem? Sentam e começam a esperar! Quem ia trabalhar, deixou de trabalhar. Alguns deixaram de rezar, outros abandonaram sua casa e família, e ficaram lá, esperando Jesus voltar. E aí São Paulo vai escrever esta carta com esse objetivo nos dizendo: “No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça”. Quantas vezes ficamos transtornados por coisas que nos falam? Depois, São Paulo nos diz: “nem vos alarmeis por causa de alguma revelação”. Já falei em outras ocasiões, que muitos dos primeiros cristãos queriam falar em nome de Deus e acabaram falando besteira. O tempo passou e as besteiras continuam! Muita gente pegando o microfone, falando bonito mas falando besteira, falando alucinações que não são revelações de Deus. Tomemos cuidado! Tiveram a ousadia, chegaram ao absurdo de escrever em nome de São Paulo, afirmando que a vinda do Senhor está próxima. Quantas pessoas, no ano de 2000, falavam que o mundo iria acabar? Os padres diziam: Quanta gente vindo se confessar! Todo ano poderia ser ano 2000 pra gente se arrepender dos pecados! Agora se o povo soubesse que o calendário está errado seis anos, o que iria fazer? Teria que ter se confessado em 1994 e não em 2000. Então, quando surgir esse boato novamente, tomemos cuidado!
Diz a palavra de Deus: “Não sabemos o dia, nem a hora que o Senhor voltará”, continuemos a trilhar o nosso caminho e na estrada da vida deixemo-nos conduzir por esse Deus que nos ama, e por nos amar nos corrige! Que saibamos ser missionários de Jesus Cristo, acolhendo a todos, sobretudo os que são excluídos e discriminados. E diante dos murmurinhos que vão aparecendo em nossa vida, tenhamos maturidade para saber o que é verdade e o que não é! O que é de Deus e o que não é de Deus! Que o Espirito Santo de Deus nos seja favorável e que a interseção de Santa Teresinha nos ajude a viver a missionariedade de nossa história!
Homilia: Pe.Tiago Silva – 31ª Semana do Tempo Comum (Ano C) – 31/10/2016 (Domingo, Missa das Crianças às 10h).

A justiça divina eleva os humildes e aqueles que guardam sua fé
23/10/2016
Queridas irmãs e irmãos, estamos celebrando o 30º Domingo do Tempo Comum. Durante este Tempo, temos refletido sobre a vida pública de Jesus, motivando a nossa esperança de termos um coração como o do Senhor. A Igreja nos convida, neste dia, a meditar sobre a nossa perseverança em alcançar a justiça de Deus, através do livro do Eclesiástico [Eclo 35, 15b-17.20-22a], na Primeira Leitura de hoje, que nos diz que Deus é um justo juiz que não abandona seus filhos. E nós falamos, na linguagem popular, que a justiça de Deus tarda mas não falha. Porém, devemos saber que a justiça de Deus acontece no tempo certo e não no nosso tempo. E é justamente o que cantamos na resposta à Primeira Leitura, no salmo 33: “o pobre clama a Deus e Ele escuta, o Senhor liberta a vida dos seus servos”.
Ao longo da história da Salvação, Deus sempre esteve ao lado dos necessitados, sobretudo ao lado das viúvas e dos órfãos, que eram as pessoas mais desprezadas. Mas, a todos os que apresentam uma necessidade especial, Deus direciona o seu olhar. E, na nossa perseverança, devemos rezar e refletirmos para aguardar a justiça de Deus, em Seu tempo. Você tem confiado em Deus ou você desiste de esperar a justiça divina do Senhor?
No Evangelho de hoje [Lc 18, 9-14], nós temos a figura de um fariseu e de um publicano. O fariseu é aquele que sabia a Torá - os primeiros 5 livros da bíblia - de cor e salteado, cuja família era composta de pessoas muito devotas. Rezava bastante e dava boas contribuições do templo. Ensinava a seus filhos a doutrina de um modo muito feliz e coerente. Muitos achavam que estavam salvos só pelo que já faziam. Mas, na verdade, não deixavam seu coração se converter. Jesus, diante deste cenário, conta a parábola de hoje: de um fariseu que entrou no templo e agradeceu a Deus porque não era um pecador igual ao publicano. Este, ao contrário, entrou no templo, batia no peito e entregava a sua vida a Deus, assumindo que era pecador. E, segundo Jesus, qual foi a oração que Deus gostou? A oração que acusa o outro ou aquela na qual se assume as suas próprias dificuldades, seus próprios pecados e se abandona nos braços de Deus? A oração feita pelo publicano pois, quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado. A nossa atitude deve ser a de ter uma oração persistente e perseverante - como vimos no domingo passado na história da viúva diante do juiz -, não super valorizando as nossas qualidades mas sim entregando a Deus a nossa vida. E, de fato, muitas vezes isto acaba acontecendo em nossas orações: nós simplesmente dizemos obrigado ao Senhor porque temos paz e amor, comida na mesa, porque podemos ir na missa, por ter filhos com saúde, mas acabamos não nos entregando verdadeiramente a Deus. Isto também ocorre, por vezes, quando alguém vem para se confessar.
A pessoa chega, fazemos o sinal da cruz, uma oração, dou a bênção e pergunto quanto tempo faz que ela não se confessa e do que ela está arrependida. E a pessoa diz: “então padre, eu sou trabalhador, respeito minha mulher, eu não deixo comida faltar em casa, eu ajudo as pessoas quando estão doentes...” Só fala coisas boas e não é capaz de dizer um só pecado. E eu reforço a pergunta: “qual o seu pecado”? Porque sem pecado e sem arrependimento o padre não pode dar a absolvição. E vocês acham que este tipo de situação ocorre raramente? Não. É muito frequente. Por causa dessa atitude de farisaísmo que nós temos no nosso coração, de acreditar que nós fazemos tudo certo e o outro faz tudo errado. Ou boa parte, pelo menos. A Igreja nos pede que nos confessemos ao menos uma vez por ano, por ocasião da Páscoa da Ressurreição. Mas também todas as vezes que sentirmos necessidade.
A Igreja teve que colocar a regra porque há pessoas que, mesmo passando um ano, acham que não pecaram. Também não pode ser ao contrário e vir aqui toda semana querendo se confessar. Temos que, acima de tudo, buscar a conversão do coração.
Devemos ser iguais ao publicano: entregar a Deus as nossas fragilidades, as nossas vontades e pedir ao Senhor que Ele purifique o nosso coração. Humilhar-se diante de Deus para que Ele nos exalte pois, quando dizemos as nossas dificuldades, assumimos que temos pontos a serem melhorados. Será que nós não temos nada a ser melhorado na nossa vida? Devemos pensar em nosso relacionamento com Deus, com nós mesmos, com nossa família, com nosso trabalho, com a comunidade de fé. Só neste ponto, há tantas coisas a serem transformadas! Por isso, a Igreja coloca a leitura da carta de São Paulo a Timóteo [2Tm 4, 6-8.16-18] como um alerta, um caminho a ser percorrido por todos nós para que nos deixemos configurar pelo amor de Deus e para que nos tornemos semelhantes a Cristo Jesus. Que possamos, como São Paulo, chegar ao final da vida e dizer: “combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé, agora eu mereço receber a coroa da justiça”. Se partirmos hoje, poderemos receber a coroa da justiça ou ainda há algo que deve ser transformado? São Paulo nos diz que, muitas vezes, ele ficou sozinho. Mas, mesmo na solidão, a sua fé não se apagou. Ele combateu o bom combate, ele defendeu a sua fé e levou até o último dia da sua história os valores colocados em seu coração pelo próprio Cristo Jesus.
Rezemos a Deus para que, mesmo com a correria e a pressa do dia-a-dia, saibamos esperar a justiça divina e o Seu tempo em nossas vidas. Que ao comungar na igreja, ao nos confessarmos e ao rezar, possamos conhecer as nossas virtudes – e podemos ter certeza de que todos nós temos muitas. Mas o que precisa ser transformado são as nossas dificuldades. E são, justamente, as nossas dificuldades e os nossos pecados que devemos colocar diante de Deus, como aquele publicano do Evangelho de hoje para que, dia após dia, oração após oração, possamos combater o bom combate, completar esta corrida, guardando a fé de que um dia poderemos, juntos, contemplar a face do Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 30ª Semana do Tempo Comum (Ano C) – 23/10/2016 (Domingo, Missa das 7h30).

Que possamos ensinar, argumentar e corrigir uns aos outros!
16/10/2016
Hoje, a Igreja nos convida a meditar sobre a oração e a perseverança. A oração que deve ser uma atitude de rezar e agir, e a perseverança que deve nos acompanhar nos momentos difíceis de nossa história quando não conseguimos alcançar rapidamente os objetivos que almejamos.
Na primeira leitura do Livro do Êxodo [Ex 17,8-13], o povo de Israel, após a escravidão do Egito, está caminhando em direção à Terra Prometida e encontra-se com um grupo de pessoas e começam a guerrear. Eis, então, que Moisés, Aarão e Ur, sobem ao topo da colina para rezar, enquanto Josué, mestre na arte da guerra, desce para guerrear com os povos estrangeiros. Durante todo o tempo em que Moisés está intercedendo com as mãos levantadas, o povo de Israel está vencendo, quando a mão começa a cansar, o povo começa a perder. E é assim que Aarão e Ur colocam Moisés para sentar-se e sustentam as suas mãos para que Josué possa continuar vencendo a batalha... E assim acontece!
Essa leitura nos ensina que alguns têm a arte da guerra e outros têm a arte da oração, da intercessão. O que eu quero dizer é que cada um de nós tem um dom para servir a Deus. Moisés não sabia guerrear, Josué sabia. Alguns são muito bons para falar no microfone, outros não. Algumas pessoas na comunidade sobem até no telhado para ver e arrumar, mas não conseguem dar uma catequese. Têm pessoas em nossa comunidade que são muito boas para organizar festas, mas não sabem conduzir um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento, ou seja, cada um de nós com os nossos dons devemos nos colocar à disposição de Deus.
Ensina-nos também sobre a intercessão de Moises para com Josué. Muitas vezes, temos dificuldade de rezar pelos outros e acabamos rezando somente por nós, pelas nossas próprias necessidades. E aqui nos fala da importância da oração de intercessão. Interceder uns pelos outros e não apenas rezar por nossas próprias necessidades.
Neste mundo individualista, estamos ficando cada vez mais isolados em nós mesmos e a oração não pode nos permitir viver de modo isolado! Você tem rezado pelas pessoas ou só por você? Você tem rezado pelas necessidades do nosso país ou somente por suas necessidades pessoais? Como está a sua oração?
Essa leitura ainda nos ensina a importância do suporte, da ajuda que devemos dar uns aos outros. Moisés, sem a ajuda de Aarão e Ur, sustentando os seus braços, não teria conseguido sozinho. Quantas pessoas acabam não conseguindo seus objetivos porque não encontram pessoas para sustentá-las em suas atividades, em seus trabalhos, em sua missão, em seus sonhos, em suas esperanças... Será que temos dado suporte uns aos outros? Você, esposa, tem sido um suporte na vida do seu marido ou um peso para ele? O esposo tem sido um suporte ou um peso na vida da sua esposa? Você, filho, tem sido um suporte para seus pais ou um peso para eles? Como estão as nossas atitudes de sustentarmos uns aos outros nesta caminhada de fé?
A vida de comunidade me ensina a ser suporte para o outro quando eu sou capaz de enfrentar os desafios de uma vida em comunidade, sendo capaz de aceitar e dialogar com o outro que pensa diferente de mim e chegarmos a um denominador comum aonde possamos dar as mãos e caminhar, um sabendo pregar um prego e outro sabendo pintar; um sabendo cantar e o outro sabendo limpar a Igreja. Mas todos nós, juntos, sendo suporte uns para os outros. Assim como nós esperamos que os padrinhos, que hoje aqui estão, sejam suporte na vida dos pais dessas crianças que serão batizadas para que elas também cheguem à Terra Prometida. Para isso se faz necessário à perseverança.
O que Jesus, no Evangelho de hoje [Lc 18,1-8], nos ensina através de uma viúva que precisava de justiça. Foi ao tribunal pedindo ao juiz que lhe fizesse justiça. O juiz não a atendeu, mas ela perseverou! Perseverou tanto que o Juiz disse: “Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum, mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!” E Jesus diz, se um juiz age desse jeito e ainda assim faz justiça, Deus há de fazer justiça para todos, todos nós!
Essa viúva nos ensina a perseverar e não desistir. Você tem perseverado nos seus objetivos ou você tem desistido? Se você colocar na balança ou fizer uma avaliação na sua vida, de quantas coisas você já desistiu? Muita gente começa as coisas e não termina, na primeira dificuldade quer abandonar.
E o cristão não é de desistir, é de enfrentar! O nosso maior exemplo é o nosso Salvador, Jesus Cristo. Que ao saber da sua morte, morte de Cruz, não desistiu! Enfrentou! Perseverou!
Jesus diz: “Que aquele que não renuncia a si mesmo, não toma a sua cruz e a carrega, não é digno de mim”. Quando nós não enfrentamos os desafios estamos abandonando as cruzes que vão se apresentando ao longo da nossa historia.
Portanto, eu vos deixo uma pergunta... Você tem insistido ou desistido daquilo que Deus te pede nos seus sonhos, nas suas esperanças nos seus projetos de vida? Por outro lado, devemos olhar a figura do Juiz e compreendermos que Cristo, ao colocar este juiz na parábola, quer dizer que Deus não é deste modo. Deus vem ao nosso encontro, olhando as nossas necessidades, mas se faz necessário que todos nós abramos o nosso coração e busquemos aquilo que colocamos diante do Altar de Deus.
E nesta busca de justiça, nesta busca de graças, nesta busca de alcançarmos os nossos objetivos devemos ser perseverantes e não desistir. E nos momentos de fraqueza, como Timóteo e a sua comunidade na Segunda Leitura de hoje [2Tm 3,14-4,2], devemos recordar quem nos ensinou o caminho da salvação. Por isso, Paulo nos diz: “Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste”.
Permanecer firme naquilo que aprendemos e aceitamos como verdade... De quem aprendemos? De Cristo Jesus! Estamos permanecendo firmes nos ensinamentos de Cristo ou estamos titubeando no testemunho que deve ser dado ao longo da nossa vida?
A Palavra de Deus, diz São Paulo, é aquela que vai orientar a nossa caminhada e as nossas decisões com a instituição da Igreja. A fé que professamos nos diz que as Sagradas Escrituras, o magistério da Igreja, as orientações e a sagrada tradição de dois mil anos é que orienta a nossa vida de fé!
O que é que tem orientado a sua vida? As Sagradas Escrituras? A orientação da Igreja? Os livros que você está lendo? Ou as novelas, os telejornais, as minisséries? O que é que orienta a sua vida e a sua caminhada? E nessa caminhada de fé, Paulo insiste para que possamos ensinar, argumentar e corrigir uns aos outros!
Sábado, foi o Dia dos Professores. Muitos reclamam dos professores, mas você que reclama do sistema de ensino, você tem ensinado e educado seus filhos? Você sabe corrigi-los? Você sabe argumentar com eles? Ensinar é uma arte e todos nós devemos aprender isso ao longo da vida!
Ainda ontem pela manhã, uma paroquiana que está para ganhar bebê, estava conversando duas jovens que estão pensando em ter filhos, mas estão com medo. Aí eu disse que no dia que vier elas irão aprender. E a jovem disse: “Padre, me disseram que quando nasce um bebê nasce uma mãe!”. E essa mãe e esse pai devem aprender a ensinar os seus filhos, devem aprender a corrigir os seus filhos, devem aprender a argumentar com os seus filhos. Portanto, cuidado com aquela história que Deus quis!
Os jovens de hoje têm muita informação na cabeça e talvez uma criança de 12 anos já tenha o dobro ou o triplo de informação que alguns de nós aqui. É importante aprendermos a argumentar sobre os valores da nossa fé, sobre os valores familiares, o porquê ensinamos isso, o porquê ensinamos aquilo, pois se você não souber dizer o porquê pode ser que ele não o siga simplesmente para te afrontar. E será que nós nos preparamos para responder os porquês da nossa fé, os porquês das nossas escolhas, os porquês dos nossos objetivos?
Então, antes de reclamarmos dos professores, em primeiro lugar, vamos nos colocar no lugar deles porque uma sala de aula é muito difícil. Assim como, criar os filhos nos dias de hoje não é uma tarefa fácil, mas a Palavra de Deus nos ensina através das Sagradas Escrituras, do magistério, e da tradição a sermos capazes de ensinar, corrigir e argumentar sobre os nossos valores.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 29ª Semana do Tempo Comum (Ano C) – 16/10/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Peça à Mãe que o Filho escuta!
12/10/2016
Nós estamos celebrando hoje a memória de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a Padroeira do Brasil. Ela que, em 1717, apareceu para os pescadores num momento de dificuldade que o Brasil estava vivenciando, um momento de escravidão, em que os pescadores, na sexta-feira (quando não se podia comer carne), tinham que encontrar peixe para se alimentar. Mas não para si, para seus patrões; se voltassem para casa sem os peixes, iriam sofrer algum tipo de penalidade. E, desse modo, já cansados no fim da tarde, jogam a rede e puxam uma imagem sem a cabeça; depois, jogam novamente e retiram a cabeça; e, na terceira vez que jogam, puxam a rede cheia de peixes! Ali começa, então, a devoção a Nossa Senhora Aparecida, que vai aumentando, aumentando, até ela se tornar a Padroeira do Brasil e nossa intercessora diante de Deus.
A liturgia de hoje nos convida a recordar que Deus age na história humana por meio de homens e mulheres. Na primeira leitura [Est 5, 1b-2; 7, 2b-3] nós temos Ester, que vem de um país estrangeiro e, por causa de sua beleza, é convidada a participar da realeza. O seu povo, porque professava uma outra fé e não queria obedecer às ordens do rei, estava para ser exterminado. E Ester, num momento de festa, faz algo que não deveria ter sido feito: aproxima-se do rei. Aproximar-se do rei era decretar a própria morte, mas por causa da sua beleza – como cantamos no Salmo 44 (45) – o rei se encanta com ela e diz: "Pede o que quiseres. Ainda que for a metade do meu reino, eu lhe darei". E Ester pede por sua vida e pela vida do seu povo. Ela poderia simplesmente ter dito "poupe a minha vida" e ficado lá, no palácio real, vivendo uma vida luxuosa, maravilhosa. Mas o que ela faz? Lembra-se do seu povo.
Maria, depois de assunta ao Céu, poderia ficar lá diante de Deus; mas, em 1717, ela olha a necessidade daqueles pescadores. Do mesmo modo, Maria também olha a necessidade do povo brasileiro que recorre ao Santuário Nacional pedindo por tantas e tantas necessidades. Quantas e quantas pessoas alcançaram graças... Quantos milagres, quantas bênçãos alcançadas – não por Maria, mas por intermédio de Maria; porque quem nos dá a graça é Deus, Jesus. E Maria, como intercessora, pede ao Pai por nossas necessidades, pede a seu filho Jesus que nos ajude.
Diz o ditado popular: "recorra à Mãe que ela recorre ao Filho". Quando sua mãe pede alguma coisa a você com jeitinho, você nega? Não, né? E é assim que Maria também vem ao nosso encontro; é assim que Maria pede ao seu filho Jesus por nossas necessidades. É deste modo que Maria, nas bodas de Caná (Jo 2, 1-11), intercede por aquele casal de noivos que estava na festa. Naquela época, a festa durava sete dias; uma hora o vinho acabou e Maria, como uma boa mãe observadora, vê que as pessoas estão ficando tristes, porque não tem mais vinho e a alegria daquele casamento está para terminar. É assim que ela pede ao seu Filho, que diz: "Mas a minha hora ainda não chegou!". Ela, sem responder nada, chama os empregados e fala: "Fazei o que Ele vos disser". E aí Jesus fica sem saída... Então, Ele pede para encher as talhas de água e realiza o Seu primeiro milagre – que João, o único evangelista, prefere chamar de "sinal", sinal da ação de Deus na história de seu povo.
Quantos e quantos não são os momentos que passamos em nossas vidas em que a tristeza está para habitar o nosso coração, como a separação de um ente querido que partiu para a casa do Pai, dificuldades familiares, dificuldades matrimoniais, dificuldades com os filhos, dificuldades financeiras, dificuldades psicológicas... Enfim, quantas e quantas situações não acontecem em nossa vida? E Maria está atenta a tudo isso. Mas será que nós pedimos a ela que interceda por nós? Nós devemos entregar a nossa vida a Maria, rogando a ela que interceda junto ao Pai por cada uma de nossas necessidades. Mas muitas vezes a nossa devoção a Maria é como um amuleto; outros colocam Maria como deusa, e já falamos em outras oportunidades: nós não somos idólatras; Maria é medianeira, intercessora, ela media a nossa relação com o Pai quando temos dificuldade de nos aproximar Dele – porque muitas pessoas têm dificuldade, sobretudo os mais antigos, que aprenderam sobre aquele Deus que castiga, o Deus que oprime, o Deus que nos condena por causa dos nossos pecados. Então, em vez de ir direto ao Pai, a gente vai à Mãe, para que ela interceda por nós.
Mas quando ela intercede, ela diz: fazei o que meu Filho vos disser. E quantos de nós queremos cumprir o que Jesus nos diz? Será que estamos seguindo o que Jesus Cristo, nosso Senhor, nos ensina, nos orienta? Quando meditamos a Sagrada Palavra de Deus, esta Palavra nos ajuda a transformar os nossos pensamentos, as nossas decisões? Eu que frequento a igreja há um mês, há um ano, há dez, há trinta... O quanto a minha vida é transformada por aquilo que Jesus nos diz? Ele é o nosso Salvador! E é Ele quem deve guiar a nossa vida. Maria é praticamente a mulher do silêncio – tem até uma devoção à Virgem do Silêncio. Muitas vezes as nossas palavras também não saem, mas entregar a nossa vida a Deus mesmo no silêncio é uma atitude de consagração.
Hoje, uma jovem irá se consagrar a Nossa Senhora pedindo um padrinho de consagração, e este padrinho de consagração deve orientá-la nos caminhos de Deus. Será que ele está pronto? Se ele não está, será que ele pede a Deus que o ajude na sua missão? A missão dos padrinhos é como a missão de Maria: interceder, orientar, apontar o caminho e não permitir que seus afilhados trilhem caminhos que não são de Deus. Mas quantas vezes nós desistimos ou nos esquecemos da nossa missão... Esta jovem, hoje, reconhece que sozinha ela tem dificuldade, e escolheu alguém para ser seu padrinho de consagração. Você também que tem dificuldade de caminhar, peça a Deus que lhe apresente um padrinho de consagração, para que, consagrando-se a Nossa Senhora, o seu caminho para trilhar a vontade do Senhor e alcançar a Jerusalém Celeste seja um pouco mais visível. Porque muitos de nós continuamos ainda perdidos nas nossas decisões, nas nossas atitudes, no nosso comportamento diante de Deus e diante dos homens.
Que Nossa Senhora, que intercedeu nas bodas de Caná, Nossa Senhora que intercedeu pelos pescadores em 1717, interceda por cada um de nós e pelo povo brasileiro, que passa por tantas dificuldades – políticas, econômicas e sociais. Que os nossos representantes possam deixar-se iluminar pela graça de Deus, como aqueles empregados daquele casamento; e que, ouvindo a voz de Jesus, possam encher as suas talhas de água, transformando as suas atitudes, o seu trabalho no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, no vinho que nos traz alegria, que nos traz prosperidade, que traz paz econômica e social para nossa casa, para nossa família e para todo o povo brasileiro.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e Abertura do Ano Mariano Nacional - 12/10/2016 (Quarta-feira, missa às 10h).

Que a gratidão e a vivência em comunidade nos aproximem do coração de Jesus
09/10/2016
A liturgia de hoje nos convida a celebrarmos a fé que brota em nosso coração, a sermos capazes de nos deixar transformar por Deus e a agradecermos ao Senhor por tudo o que Ele realiza em nossa história.
Na Primeira Leitura (2Rs 5, 14-17), nós estamos no século IX a.C. O profeta Eliseu é aquele homem que fala da Palavra do Senhor, mas fala também de uma experiência profunda com Deus. Um homem chamado Naamã, vindo da Síria, que professava a fé em outros deuses, é assolado por uma doença de pele que, na época, chamava-se lepra (na liturgia de hoje não tem esta parte, mas você pode conferir na Bíblia); ele gasta muito dinheiro, oferta muitas coisas a outros deuses e, mesmo assim, não consegue ser curado. Quando ouve falar de Eliseu, Naamã vai ao seu encontro e pede para que o profeta o cure de sua enfermidade. Eliseu, então, pede para que ele vá se banhar por sete vezes nas águas do Rio Jordão, mas Naamã se recusa a ir. O profeta diz que ele tem que ir e, de tanto insistir, chega uma hora que ele vai – "Já estou aqui mesmo, longe de casa... Vou fazer o que esse homem está mandando". Depois de mergulhar por sete vezes nas águas do Rio Jordão, ele sai com sua pele restaurada e, tomado de emoção, volta para agradecer a Eliseu. Naamã lhe dá presentes, mas o profeta diz: "Para mim não! Quem te curou não fui eu, foi Deus! É para Deus que você deve entregar estas ofertas". E, assim, Naamã faz uma oferta generosa ao Senhor, toma um punhado de terra para levar para sua casa – porque agora ele deseja adorar ao Deus verdadeiro também lá – e ainda pede licença a Eliseu, porque como ele era chefe de guarda, um soldado, às vezes precisaria estar em algumas situações que não mais gostaria; mas Eliseu, de modo muito tranquilo, diz: "Vai, mas não se esqueça do Deus verdadeiro!".
Esta leitura nos ensina, em primeiro lugar, a acolhermos todas as pessoas que vêm de perto ou de longe, cristãs ou não, que professam a mesma fé que nós ou não. Nós precisamos ser capazes de acolher, o primeiro passo é a acolhida – e tem muito católico que não sabe acolher... Se Eliseu não tivesse acolhido Naamã, aquele homem nunca teria feito a experiência do Deus verdadeiro.
Segundo: não somos nós que curamos, é Deus, sempre Deus! É Ele que age na vida das pessoas. Existem ainda muitos católicos procurando curandeiros, procurando cartomantes... Tome cuidado, somente Deus cura! Mesmo quando se busca os sacerdotes, cuidado para não colocá-los em um pedestal. Nós padres somos somente instrumentos. Quem se lembra do Evangelho de domingo passado [Lc 17, 5-10]? "Somos servos inúteis, fizemos apenas o que deveria ter sido feito". Todo batizado, inclusive nós sacerdotes, somos todos servos de Deus; estamos trabalhando em função do Reino, não estamos aqui para aparecer. Quantas pessoas dizem: "Padre, o senhor rezou e eu fiquei curado". Não! Quem te curou foi Deus! "Padre, obrigado por aquele dia em que o senhor conversou comigo. A minha vida foi transformada". Louvado seja Deus! Agora coloque o seu joelho no chão e agradeça, porque foi Deus quem te ajudou! Nós somos apenas instrumentos.
E, por último, esta leitura nos ensina a agradecer a Deus. Porque muitas pessoas, quando precisam, vão, pedem, fazem promessas, botam o joelho no chão, fazem jejum... E, quando conseguem a graça, somem, desaparecem. Com a proximidade da Festa de Nossa Senhora Aparecida, deve ter muita gente fazendo promessas, caminhando para Aparecida do Norte... Mas quantos destes voltarão para agradecer a Deus se receberem a graça que esperam?
É o que Jesus nos fala no Evangelho de hoje (Lc 17, 11-19). Tinha dez leprosos que foram ao encontro de Jesus e pediram-Lhe a cura. Mas Jesus não fez nada, apenas disse: "Vão se apresentar ao sacerdote" – colocando a instituição religiosa como caminho de Deus. Então eles foram e, ao se apresentarem para o sacerdote, ficaram curados. Quantos destes voltaram para agradecer a Jesus? Apenas um! E Jesus pergunta: "Onde estão os outros nove? Apenas um voltou para glorificar a Deus por sua cura?" E diz para esse um: "Vai, a tua fé te salvou!".
O Evangelho de Jesus nos ensina que a instituição religiosa é um caminho de Salvação. Muitos dizem que rezam em casa e só vão à missa quando tem algum batizado, casamento ou falecimento, sem frequentar a comunidade de fé. Seja Jesus no Evangelho de hoje, seja a Igreja nos seus documentos, eles nos falam que a Igreja Católica Apostólica Romana é o caminho da Salvação. Por isso a Igreja é importante, porque "aquilo que for ligado na terra será ligado no céu e aquilo que for desligado na terra será desligado no céu" [ref. Mt 18, 18]. Jesus, no Evangelho de hoje, dá mais uma prova de que a instituição da Igreja é caminho de Salvação. Muitos, em seu individualismo, querem viver uma fé isolada – "eu faço o que quero, crio uma imagem de Deus que eu desejo e só vou à igreja quando preciso de alguma coisa". Imagine se todos os batizados viessem à missa! Quinta-feira mesmo [na missa das 19h30], um casal de jovens que estão frequentando a paróquia há uns oito meses veio agradecer a Deus porque fazia quatro anos que os dois tinham sido batizados, feito Primeira Comunhão e Crisma. Perguntei: "Mas vocês se lembram disso?". E eles responderam: "Claro, padre, hoje é dia de festa para nós!". Olha que lindo! Vocês sabem o dia em que foram batizados? O dia da Primeira Comunhão? O dia da Crisma? Estes seriam dias de festa também para cada um de nós que renascemos para uma vida nova em Cristo Jesus – uma vida nova que não significa que não teremos problemas, porque todos nós, de um jeito ou de outro, ao longo da nossa história, vamos enfrentando dificuldades.
E é o que Paulo escreve na Segunda Leitura da liturgia de hoje (2Tm 2, 8-13), porque a comunidade estava desanimada devido às dificuldades que vinham enfrentando – questões financeiras, questões de fé, brigas dentro da comunidade... E São Paulo diz para nos associarmos a Cristo Jesus na alegria, no sofrimento, nas tristezas e em todos os momentos de nossa vida. A nossa missão, o nosso objetivo é configurar o nosso coração ao coração de Cristo Jesus!
Quão perto o meu, o seu coração está de Jesus? Estamos perto ou estamos longe Dele? Se estamos longe, vamos continuar caminhando; se estamos perto, não vamos desanimar, porque falta pouco para alcançarmos a santidade! Perto ou longe, essa é a missão de todos nós: configurar o nosso coração, os nossos pensamentos, os nossos sonhos e projetos ao coração de Cristo Jesus, o nosso único e verdadeiro Salvador!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 28º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 09/10/2016 (Domingo, Missa das 7h30).

A gratidão nos torna missionários
08/10/2016
Meus irmãos e minhas irmãs, em todos esses dias de missão na Região Pastoral Utinga nós caminhamos com a Palavra de Deus em nossos lábios, em nosso coração, em nossa intenção. Porque é a Palavra de Deus que nos impulsiona a sermos uma Igreja profética, que anuncia o Reino de Deus e não fica trancada no cenáculo; mas, na força do Espírito, vai ao encontro, sai para anunciar e leva a mensagem.
Esses foram dias em que nós fizemos sinalizar aquilo que Deus nos pede, que Jesus ensinou aos apóstolos e que o Concílio Vaticano II também resgatou: a Igreja é missionária por sua própria natureza. Nosso desejo é sermos uma Igreja de comunhão e missão. Comunhão porque é preciso estar unidos, é preciso celebrar a liturgia, celebrar os mistérios da nossa fé e viver a comunhão entre nós – que todos sejam um com o Pai. Mas, ao mesmo tempo, essa comunhão é em vista da missão. "Eu vim para que todos tenham vida" [ref. Jo 10, 10], e a vida deve ser anunciada, deve ser defendida; a vida deve ser comunicada e transmitida. Cristo nos deu a vida, e a Igreja, na continuidade da missão de Jesus, leva a vida.
A Palavra de Deus, hoje, ilustra para nós este "levar a vida", este "dar a vida" e este "ser resgatado pela vida". A Primeira Leitura (2Rs 5, 14-17) nos apresenta uma figura daquilo que acontece no Evangelho. Naamã, o ministro do rei mais poderoso da época, está leproso – e a lepra não tinha cura, a pessoa ia como que "se decompondo" em vida; era uma coisa triste de ver e de viver. Para agravar ainda mais a situação, a lepra, na mentalidade da época, era vista como um castigo divino: o leproso tinha que viver longe do convívio das pessoas, isolado, sozinho, para morrer. E este homem vai até Israel, porque sabe que lá tem um profeta do Deus Altíssimo, e pede a sua cura. O profeta diz a ele: "vá se banhar no rio". Naamã, a princípio, não queria, achou ruim, mas seu escravo o convenceu: "não custa nada, faça". Ele fez e, então, sarou. Diz o texto que sua pele ficou como a de uma criança – isso indica que ele não sarou só no corpo, mas também ficou purificado por dentro, adquirindo a inocência de uma criança. E ele vai, agradecido, fazer uma oferta ao profeta – que não aceita. Então, ele leva a terra de Israel para casa e diz: "Oferecerei a Deus o meu sacrifício de gratidão todos os dias, sobre esta terra onde encontrei o Deus verdadeiro". Ele sarou não só no corpo, mas também descobriu a bondade de Deus, esse Deus que se manifestou a Abraão e se manifestou àquele povo do qual o profeta fazia parte.
E no Evangelho (Lc 17, 11-19) aparece Jesus que cura dez leprosos. Jesus diz a eles: "vão se apresentar ao sacerdote" – que conferia se a cura era verdadeira ou não. Foram; um só voltou agradecido, reconhecendo em Jesus o Filho de Deus, o Messias, o Salvador. Jesus diz, diante da ingratidão dos outros: "Não foram todos curados? Somente este estrangeiro, samaritano..." – que era inimigo dos judeus, malvisto por eles como alguém que estava condenado à perdição – "Somente ele voltou para agradecer?". Ele voltou para agradecer porque foi curado não só fisicamente, mas também no seu interior, na sua alma, e encontrou Jesus como Salvador – Jesus que veio para comunicar uma vida plena, não só uma vida física. Infelizmente, quantas pessoas vão atrás de Jesus interessadas em favores, milagres, curas... Mas não querem nada mais do que isso? Como esses nove leprosos: curados, esqueceram-se de agradecer e talvez tenham esquecido até do próprio Jesus. Mas só este um foi curado totalmente, porque diante da graça recebida ele descobriu a gratidão, e o cristianismo vive da gratidão, da ação de graças, cujo Sacrifício Eucarístico, a Festa da Eucaristia é o sinal maior. A ação de graças, a Eucaristia, bendizer a Deus; porque isso não só cura o homem no seu físico, mas cura por dentro, capacitando-o para conviver com os outros.
De fato, o leproso era reintegrado à sociedade depois da cura. Ele passava a viver com os outros e saía da solidão; poderia praticar a Lei no seu relacionamento com os outros, não só com Deus, e nisto encontrar, por meio da caridade, a Salvação. Este Evangelho nos convida a nos aproximarmos de Jesus e pedirmos a Ele não só coisas materiais, físicas ou realizações de desejos que temos, mas que façamos a vontade de Deus; que, curados interiormente, possamos descobrir a gratidão como um modo de viver a fé.
Tudo é graça de Deus! E diante dessa graça, desse Deus que é fiel – como diz São Paulo na Segunda Leitura (2Tm 2, 8-13) –, nós devemos ser agradecidos. E a nossa gratidão deve ser revertida na vivência da própria fé. Quem descobre algo e é agradecido vai anunciar, torna-se missionário. Quem é agradecido a este Deus fiel e que não falha nunca conosco vai encontrar este Deus nos irmãos. Porque Deus não precisa de nada da gente, mas ele quer ser amado e servido nos irmãos, nos muitos e muitos "leprosos" caídos por aí neste mundo, esperando alguém que os toque para curá-los e revelar o poder de Deus que pode dar a vida plena, não só para o corpo, que acaba com a nossa morte; mas a vida plena que continua para sempre junto de Deus. Desse Deus que Paulo descobriu e foi também curado da "lepra" da sua revolta, do seu pecado, da sua amargura e decepção. Jesus o encontrou, o curou, e Paulo foi agradecido pelo resto da sua vida, tornando-se um missionário cheio de gratidão a este Deus que o fortificou na sua fraqueza e que lhe deu uma vida plena. Mas o agradecimento de Paulo não é acomodado, é um agradecimento ativo, que transforma essa gratidão em louvor a Deus, por meio da missão e das obras de caridade, tanto espirituais quanto corporais – que é também a nossa missão.
Que neste Ano da Misericórdia esse texto do Evangelho nos mova também a sermos uma Igreja misericordiosa, que não se preocupa só em curar o corpo, mas, mais ainda, em tocar, com a graça de Deus, a angustia do homem de hoje, cheio de depressão, de desencanto, de desespero, de desorientação.
Todos nós, neste Encerramento da Visita Pastoral Missionária, agradeçamos a Deus por tanta generosidade. Eu agradeço e louvo a Deus, em primeiro lugar, pelos padres que colaboraram, planejaram, trabalharam – orientados pelo Padre Tiago, que é o coordenador desta região pastoral –; e por todos os freis e todos que estão à frente das comunidades. Quanta generosidade, boa-vontade, empenho! Louvo a Deus por isso! Agradeço, também, aos leigos e leigas que se dispuseram a ser missionários, entrar nas casas, ir consolando e escutando. Quantas pessoas esperavam – e esperam – uma palavra para perceber esse Deus fiel por meio da nossa presença. Vamos continuar, não vamos deixar apagar a chama – porque, muitas vezes, somos como brasas incandescentes cobertas de cinzas e precisamos que alguém sopre essas cinzas para que apareçam as brasas vivas do amor de Deus que está no coração de cada um, tanto dos jovens, das crianças, dos adultos, dos enfermos.
Fico agradecido a Deus por ver que nossa Igreja é generosa, uma Igreja aberta, que espera e que chora quando encontra alguém para anunciar a Boa Nova do Evangelho, do amor de Deus, esse amor que pode tocar, curar e conduzir a uma vida plena no meio de uma cidade, de uma situação urbana cheia de conflitos e urgências. Não podemos deixar de lembrar que Deus habita nas cidades, e o rosto desse Deus é Jesus misericordioso, que toca e que cura.
Homilia: D. Pedro Carlos Cipollini – 27º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 09/10/2016 (Domingo, Missa de Encerramento da Visita Pastoral Missionária à Região Utinga no Santuário Senhor do Bonfim).

Como Santa Teresinha, esperar o tempo de Deus
01/10/2016
Estamos celebrando a Festa de nossa Padroeira e a liturgia do 27º Domingo do Tempo Comum. E ao celebrarmos a Festa de nossa Padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus, a Igreja nos convida, por meio da Sagrada Palavra de Deus, a sermos perseverante e esperarmos o tempo de Deus. E na nossa busca de santidade e felicidade, como nossa Padroeira, não queremos buscar privilégios, honras, glórias ou poder, porque honra, glória e poder somente a Jesus! Todos nós, no caminho da nossa vida, estamos em direção à Jerusalém Celeste, o Reino dos Céus; e para lá chegarmos, faz-se necessário trilharmos um caminho, o caminho que os discípulos estavam trilhando para Jerusalém, onde Jesus ia sofrer o seu sacrifício de cruz. E vamos buscar, junto com São Paulo, perseverarmos na nossa fé.
Na Primeira Leitura, do livro do profeta Habacuc [Hab 1, 2-3; 2, 2-4], no século VIII A.C., o povo estava sofrendo discriminação. O povo ia à igreja, rezava... Os profetas falavam contra os poderosos, os políticos, comerciantes... E nada acontecia. Então, o povo começou a se revoltar contra Deus. Mas eis que um homem chamado Habacuc, em vez de simplesmente se revoltar e abandonar a Igreja, colocou o joelho no chão e foi tomar satisfação com Deus: "O que está acontecendo que nosso povo sofre e o Senhor não faz nada?". Mas Deus não respondeu. O profeta Habacuc continuou rezando e, mesmo assim, Deus não respondeu. Depois de muitas tentativas, rezando, rezando e rezando, Deus se revela e diz que no Seu tempo as coisas vão se acertar.
Quantas vezes nós falamos, falamos... Reclamamos... Mas não rezamos? Tem gente reclamando do Brasil, mas nunca fez uma oração pelo governo brasileiro. Tem gente reclamando da política, mas nunca rezou uma Ave Maria pelo seu candidato. Tem gente reclamando das situações de pobreza e desemprego, mas nunca colocou seu joelho no chão para rezar e pedir ao Senhor que o ajudasse a enfrentar esse momento de dificuldade.
Se nós somos devotos de Santa Teresinha, ela nos ensina a colocar o joelho no chão e rezarmos. Está bom, está agradável? Reze e agradeça a Deus. Não está, está difícil? Coloque o joelho no chão, reze e peça: uma, duas, três, dez, trinta, cinquenta vezes! Uma hora Deus lhe responde, mas Deus também quer ver a nossa perseverança, como viu a perseverança do profeta Habacuc.
Você que está desistindo da sua fé, não desista. Você que está desistindo da sua família, não desista. Você que está desistindo de encontrar um emprego, não desista, persevere! Somente você pode mudar a trajetória da sua história.
A liturgia nos ensina, em primeiro lugar, a rezar; em segundo, a compreender que a reposta de Deus não é automática. Neste mundo, onde a gente manda uma mensagem e já fica ansioso esperando uma resposta, Deus não é o "Whatsapp"! As coisas acontecem no tempo certo. Existe um tempo para cada coisa, portanto é necessário encontrar aquela paz de espírito que tínhamos há alguns anos, quando não ficávamos desesperados pelas respostas e não éramos pessoas alucinadas. Deus age e não tarda, mas em Seu próprio tempo, não no nosso.
E com a graça do Senhor, que vai iluminando o nosso caminhar – porque sozinhos nós não somos nada, mas com a graça de Deus nós somos fortes. E como Igreja e como comunidade, somos mais fortes ainda! A nossa oração, quando sozinhos, pode parecer não chegar a Deus; mas a nossa oração unida, a oração da igreja – como Santa Teresinha nos ensinou: rezar com a Igreja, pela Igreja, junto com a Igreja – alcança o coração de Deus. Nos momentos da nossa caminhada, muitas vezes queremos ser aplaudidos, queremos ser ovacionados... Sexta-feira eu lia um trecho de um livro que dizia que, muitas vezes, nós não mudamos a nossa vida porque não queremos; porque vemos as situações difíceis de relacionamento dentro de casa, mas não fazemos nada para transformar. Ao chegar em casa, o filho às vezes nem cumprimenta os pais e já volta para o celular, para o computador, para o vídeo game. Às vezes a esposa está tão estressada por conta dos afazeres domésticos que nem percebe que o marido chegou em casa e só quer um abraço, um beijo. Ou o contrário: a esposa trabalhando fora o dia inteiro, o homem em casa ou trabalhando em um negócio próprio, a mulher chega cansada, o marido também está estressado, mas nenhum dos dois toma a iniciativa de dar um abraço, um beijo, perguntar como foi o seu dia... Estabelecer relação com o olhar, com um abraço... Mas se nós não dermos o primeiro passo, como podemos transformar a nossa vida? Nós não queremos ser ovacionados por tudo que fizemos dentro de casa – porque trocamos fralda das crianças, porque passamos a noite inteira no hospital com o filho, porque trabalhamos 12 horas por dia, fizemos hora extra... Não! Porque o Evangelho nos diz: somos servos inúteis, fizemos apenas o que deveria ter sido feito. Mas nós sim queremos um pouco de amor, um pouco de carinho. E aqui nós questionamos: será que nós temos dado amor dentro da nossa casa? Sobretudo você que cobra amor, atenção e carinho da pessoa amada: você tem dado o mesmo que cobra da pessoa que está ao seu lado?
Os discípulos do Evangelho de hoje estavam, de certo modo, cobrando Jesus, porque queriam lugar de privilégio, de destaque. E Jesus, na caminhada para Jerusalém, diz: "Somos servos inúteis, fizemos apenas o que deveria ter sido feito". Quando fazemos com amor e convicção, ainda que o outro não nos valorize, nós continuamos fazendo, porque sabemos que é a coisa correta. Você tem consciência e firmeza das suas atitudes? Se não tem, reze, coloque seu joelho no chão e peça a Deus: "Senhor, reaviva o dom de Deus que existe em meu coração" – como São Paulo escreve à comunidade de Timóteo, na Segunda Leitura de hoje, e diz: "reaviva a chama do dom de Deus". Você que está afastado do Senhor, aproxime-se de Deus, deixe-O transformar a sua vida! Você que nunca foi tocado, deixe-se tocar por Deus. No dia do seu Batismo, Deus colocou uma chama no seu coração, e essa chama não se apagou. E você pode reanima-la, reaviva-la, como Santa Teresinha tantas vezes fez diante do Sacrário, diante da cruz, da Palavra de Deus, diante do diário no qual escrevia a sua vida.
Encontre um caminho e restaure a sua fé, a sua caminhada, o seu matrimônio, a sua família. E vamos juntos, com Santa Teresinha do Menino Jesus, ser missionários do amor. De espinhos o mundo está cheio, mas rosas e flores o mundo ainda precisa de muitas. E que possamos levar aquelas rosas que caíram sobre Santa Teresinha e sobre cada um de nós àqueles que não creem, não amam e não esperaram. Seja em casa, no matrimônio, no trabalho, com nossos amigos... Iremos transformar o nosso mundo em um imenso jardim de rosas para o Senhor.
Que Santa Teresinha do Menino Jesus nos ajude a suportarmos os espinhos que muitas vezes nos afligem, nos magoam e nos tiram o ânimo. Mas que olhando e mirando Jesus Cristo, nosso Senhor, possamos juntos anunciar o amor e, assim, exalar um perfume de rosas para que a graça de Deus possa ser derramada em todos os corações, pela intercessão de nossa Padroeiro e pelo nosso testemunho de amor a Jesus Cristo, nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 27º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 01/10/2016 (Sábado, Festa da Padroeira).

Especial Tríduo de Santa Teresinha - Que tenhamos uma velhice distante do abandono familiar
30/09/2016
Caríssimos irmãos e irmãs, essa noite tivemos contato com a Palavra de Deus e essa palavra vai tomar conta do nosso ser, vai nos invadir como a água consegue invadir muitos cantos que a força bruta não consegue. Ela tem fluído e quando a gente menos percebe já fomos inundados por ela. Mas para isso, ajuda muito, se abrirmos um pouquinho as portas, se abrirmos as comportas da nossa vida para que essa palavra tenha um efeito cada vez mais eficaz.
E como abrimos essa porta para a Palavra de Deus? Primeiro com os ouvidos! Ouvir é o primeiro passo. São Paulo, diz que a fé vem a nós pelos ouvidos. Mas, também cabe a nós, nos deixar penetrar por essa mesma palavra e fazer com que ela cresça dentro de nós. Se fôssemos pegar uma parábola, pegaríamos as parábolas dos terrenos aonde as sementes vão caindo... Então, essa palavra vem pelos nossos ouvidos e vai penetrando se encontrar um terreno bom em nosso coração. Se encontrar campo para frutificar no meio de nós.
É justamente esse campo de frutificação que hoje nós estamos meditando: sobre o nosso “ser adulto”! Como ser um adulto que vive a partir da misericórdia, possuindo depois uma velhice repleta de alegrias e distante do abandono familiar? Quando eu recebi o convite para vir aqui e li que esse era o tema, eu pensei: Meu Deus do céu! Mas podemos ver que tudo isso é decorrência um do outro, um vai atrás do outro. Nós não estamos aqui para meditar somente esse sinal da palavra que acabamos de ouvir, mas também estamos aqui pelo dia de hoje, pelo Tríduo de Santa Teresinha! E eu queria perguntar a vocês: quem sabe o nome dos pais de Santa Teresinha? E se eu disser pra vocês que eles também são Santos, quem saberia? Eles foram canonizados há poucos anos... Mas tudo isso é para dizer, que você não pode querer somente por conta própria alcançar todos os méritos. Muitos dos méritos que temos em nossa vida foram alcançados a nós por outros, ou pelo menos, incentivados. Se alguém tem um filho e cobre seus estudos, “pegue no pé” dos seus horários, ajude a dar disciplina... Depois, essa pessoa se torna uma pessoa excelente, altamente disciplinada, comportada, regrada, com todos os méritos possíveis. O mérito é só da pessoa ou dos pais também? Não foi diferente com Santa Teresinha! Luiz e Zélia, seus pais, colaboraram muito para que seus filhos tivessem uma educação exemplar. Até mesmo porque, eles próprios queriam ter sido religiosos. Ele tentou entrar para a Ordem de Santo Agostinho e a mãe tentou entrar de outro lado do Convento.
Com a graça de Deus - os caminhos de Deus a gente nunca conhece -, não deu certo para nenhum deles! Eles nem imaginavam se conhecer! Mas não deu certo porque Deus tinha preparado outro caminho para eles. Se eles tivessem entrado para uma vida religiosa estariam fazendo a vontade deles. Mas Deus já tinha proposto outro projeto de vida para eles, já tinha pensado e entendido que a felicidade deles seria melhor alcançada se seguissem por outro caminho. Ele e ela eram filhos de militares. Preciso dizer alguma coisa? Imagina como foi à educação recebida dos pais! Mas nenhum dos dois quis ser militar. Ele se tornou relojoeiro. Ela, rendeira! Os dois tinham negócios e se conheceram numa ponte e desde o primeiro contato já sabiam que havia surgido o amor! Tiveram nove filhos dos quais, quatro faleceram prematuramente. Para ver que mesmo fazendo a vontade de Deus, mesmo tendo uma disciplina com Deus, não é só o bem que acontece em nossa vida! Muitos males se abatem na vida de pessoas que seguem a Deus, pessoas que querem ser totalmente de Deus. Às vezes, a gente acha que tudo o que não presta acontece com a gente. Mas vamos vendo que ao longo da nossa vida, nós lidamos com alegrias e tristezas em nossa experiência de fé.
A mãe de Santa Teresinha teve um tumor no seio e essa foi à causa de seu falecimento, ela pouco viu as suas cinco filhas e então, vemos como Deus encarna nas coisas quando tudo parece perdido. Imagine o pai, cuidando daquele monte de menina sozinho! Mas eles tinham criado um caminho bom para elas e no Tempo de Deus a coisa frutificou. As irmãs de Santa Teresinha também tinham muitos méritos, não era apenas Santa Teresinha que era boa! Muitas das irmãs foram religiosas exemplares, mas Teresinha também sofreu muitos nãos. Ela era novinha e quis entrar muito cedo no Carmelo, como sua vontade era muito grande ela foi pedir autorização ao Papa por ser tão jovem. Mas, se fôssemos pensar: Você deixaria a sua filha de 8, 10, 12 anos entrar num convento? O pai de Santa Teresinha tinha confiança em Deus e sabia que se aquilo estava acontecendo é porque havia algo que ultrapassava a sua força! E o que o Papa respondeu a Santa Teresinha? Ele respondeu: Não! E, olha que com uma idade dessas, receber um não do Papa é uma coisa muito forte. Mas com 15 anos ela foi aceita no Carmelo. As coisas acontecem na vida da gente e, às vezes, o que a gente quer pode até ser justo para nós, mas pode ser que não seja o tempo, o momento. E Santa Teresinha experimentou isso, embora fosse nova, tinha uma maturidade muito grande. Ela soube acolher que aquilo era a vontade de Deus, mas que não era o momento da vontade de Deus acontecer em sua vida. E com o caminhar da vida, depois de um tempo, ela também perdeu o seu pai. Ele teve uma enfermidade que o foi deixando paralisado e morreu num sanatório! É forte isso, porque a gente imagina - olhando esse sorriso, esse olhar de Santa Teresinha -, que sua vida só foi maravilhosa. Mas ela passou muito apuro. Apuro, que muitas vezes, nós passamos quando lidamos com alguém enfermo, quando nos sentimos impotentes diante da necessidade de alguém que a gente queria tanto ajudar e não consegue! Mas saber acolher o não de Deus é um sinal de maturidade de fé, saber acolher o momento de Deus, saber acolher aquilo que a gente não pode mudar é um sinal de maturidade de fé!
A gente percebe se uma pessoa tem maturidade na vida e na fé se ela colhe bem as negativas por qual ela passa, os nãos que ela recebe, sejam os nãos de Deus, sejam os nãos do mundo. Porque talvez não tenha dado certo aquela entrevista de emprego que você tanto queria que tivesse dado. Porque não deu certo aquele relacionamento que você queria. Porque não deu certo, para aquela pessoa pela qual você estava rezando para que tivesse saúde, que ela se curasse.
Temos que acolher isso! Nós demonstramos maturidade, se soubermos acolher o sim de Deus, mas, sobretudo o não. E foi isso que nós ouvimos na primeira leitura de hoje. Essa leitura parece um pouco confusa, mas Jó começa a receber a resposta de Deus.
Já sabemos um pouco da história de Jó, não é verdade? Era um homem que tinha muitas coisas, muitas posses, muitos amigos e vai perdendo tudo aquilo. E normalmente a gente associa Jó à paciência – “Paciência de Jó” – Mas quem realmente lê de fato o relato bíblico de Jó vê que em alguns momentos ele fica bravo. Ele fala algumas coisas, ele tem esperança em Deus, mas também é muito sincero. Na nossa vida também é assim, quem é verdadeiro amigo de Deus, é sincero com Deus. Porque nem tudo que Deus coloca no nosso caminho a gente entende, não é? Você entende tudo o que Deus coloca no seu caminho? Nem tudo conseguimos entender!
E é nesse momento, depois de ter perdido tudo, de ter esbravejado algumas vezes, que Deus disse a ele: “Fui eu quem criou o céu, fui eu quem criou o mar, sou eu quem conduz as coisas, eu que sou capaz de prefigurar tudo”. Qual a sua responsabilidade diante do mundo? O que você fez para que as coisas fossem melhores? Qual o teu mérito diante de toda criação? Eu sou responsável por tudo, eu sei a dor de cada um! Eu sei o apuro que cada um passa e sou eu quem cria e faz renascer todas as coisas. E a partir desse relato que nós ouvimos hoje na primeira leitura, Jó vai recuperando tudo aquilo que tinha, porque apesar dele ter sido muito sincero com Deus, ele não perdeu a esperança no Senhor, ele não abandonou a esperança em Deus.
Deus não implica se a gente ficar bravo com ele, Deus implica se deixarmos de acredita nele, se deixarmos de ter esperança nele. Quem aqui nunca brigou com o pai? Quem aqui nunca teve uma discussão com a mãe? O que Deus não consegue entender no seu amor é que nós o abandonemos, porque no fundo, no fundo, Ele sempre quer o melhor para nós, Ele sempre propõe o melhor para nós ainda que exista uma nuvem de mistério. Dizer que Deus sempre quer o melhor para nós não significa dizer que sempre entenderemos o caminho. Mas as oportunidades são dadas, as chances são oferecidas. Então, acolhendo os nãos de Deus, vivendo essa realidade com Deus devemos aproveitar as oportunidades... Aproveitar as oportunidades que Deus nos dá!
E no evangelho de hoje que nós ouvimos, está dizendo: - “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!” -Cidades que eram prestigiadas socialmente, mas que tinham perdido uma grande chance de ser de Deus.
Em nossa vida também tem coisas que a gente não entende porque acontecem, mas tem coisas que entendemos muito bem. E são “burradas” que fazemos, são coisas que provocamos. Têm coisas que não vamos entender e não temos responsabilidade sobre, mas tem “burradas” que buscamos! Às vezes é por causa de um vicio que adquirimos, e vício não só no sentido material. Às vezes somos teimosos feito uma porta, às vezes somos mal educado igual um cavalo, são vícios que temos. Maus comportamentos que vão fazer parte da nossa vida e trazem consequências! E o padre é o primeiro que fala, mas pode ser o primeiro que pode ter essas atitudes.
Se tem coisas que não podemos mudar e acabamos aceitando, que a gente mude aqueles comportamentos que estão sobre nossas responsabilidades. Neles residem o nosso compromisso para que a gente não seja como essas cidades que vêem os milagres acontecendo, vêem a graça de Deus penetrar na vida delas, mas não mudam não se alteram. Deixam justamente aquela água que falávamos no começo, cair, ser desperdiçada.
Ou será que até hoje Deus nunca deu coisa boa pra gente? Será que Ele nunca deu coisa boa para nossa família? Deus nunca ofereceu coisa boa no lugar aonde a gente trabalha? Deus nunca ofereceu coisa boa aonde a gente estuda. Então, é a partir do bom que Deus nos ofereceu que agimos com a vontade de Deus. Não quer dizer que todos os males não serão afastados... Não foram de Santa Teresinha, também não serão de nós... Mas a gente diminui a chance de algumas coisas ruins acontecerem, não é verdade? Por isso, oramos e vemos que Santa Teresinha não quis comunicar isso ao outro, a pequena via que ela propõe é justamente essa, acolher o não de Deus, fazer o bem diante daquilo que a gente pode e ser perseverante na via de fé que Deus nos promove. No fim, a vida de Santa Teresinha é isso que ouvimos na Palavra de Deus, está intimamente ligado. A via para caminhar com Deus é pequena, mas tem rosas no caminho, muitas rosas e a gente não pode ficar preso no espinho dessa rosa.
Que Deus nos ajude a plantar, a semear rosas por onde passarmos, saber enfrentar as dores e espinhos que vão se abater sobre nós, mas sentir esse perfume das rosas e exalar o perfume delas Saber que Deus quer que no final encontremos o Seu grande jardim, mas que nossa vida também tenha sido um jardim para os outros. Que a gente também possa ajudar os outros a verem o jardim na vida, dispensando nosso pessimismo, dispensando todas essas realidades que queremos promover do mal e trazendo a beleza das rosas. Assim uma velhice é saudável, não é verdade?
Assim, no fim da vida podemos dizer: “Eu plantei rosas, plantei belezas! Plantei coisa boa, plantei misericórdia!” Então olhamos para trás e vemos aquele grande jardim deixado, e olhando pra frente, no fim da vida poderemos ver um grande jardim, mais bonito ainda, mais florido ainda. Mas se semearmos somente coisa ruim, se apenas jogarmos pedra no caminho, estamos recusando aquele jardim...
Portanto, plantar rosas nos dias de hoje é ter a certeza de colher o grande jardim de Deus no futuro. Santa Teresinha, com certeza está no jardim de Deus. Os pais dela, com certeza estão no jardim de Deus, porque souberam receber os espinhos, mas não ficaram parados neles. Superar os espinhos através do cheiro das rosas e do seu perfume é a grande beleza!
Encerrando este Tríduo, revivendo amanhã esse grande momento com ela, pedimos que sejamos mais rosas e menos espinhos nesse mundo!
Homilia: Pe. Guilherme Melo Sanches – 3° Dia do Tríduo de Santa Teresinha – 30/09/2016 (Sexta-feira, missa às 19h30).

Especial Tríduo de Santa Teresinha – Que a juventude seja virtuosa e aspire à misericórdia e ao amor fraternal
29/09/2016
Queridos irmãos e irmãs, hoje é uma noite de muita festa. Celebramos o dia dos santos arcanjos. E nesta liturgia, o grande tema que nós ouvimos, tanto no livro de Daniel quanto no Evangelho, é a presença dos anjos – aquele espírito que serve a Deus, que sobe e desce até o Filho do Homem. A história dos três arcanjos são bem conhecidas. Miguel, do hebraico, significa feito como Deus. Entendemos isto melhor a partir do contexto no qual Satanás quis usurpar o espaço de Deus, querendo ser igual a Deus. Mas, igual a Deus, só aqueles a quem Deus concede. Por isso, Miguel é feito como Deus. E combate: é o grande combatente do mal que busca tentar se elevar para chegar ao povo de Deus.
Gabriel é a força de Deus. Em outro sentido, também significa “Deus é a minha proteção”. A história de Gabriel nós também conhecemos. É aquele que anuncia a chegada de João Batista e que também é responsável pelo maior evento que a comunidade pôde conhecer: a anunciação à Nossa Senhora. E o arcanjo Rafael – Deus se curou, em hebraico – possui o sentido da cura e a presença de Deus na vida de Tobias. Aquele que transforma as trevas da cegueira em nova luz. Deus, que cura a humanidade da cegueira das trevas, da escuridão e de tudo aquilo que afasta da luz divina, é também quem ilumina o caminho que trilhamos.
E hoje, a temática desta segunda noite envolve de forma direta todos nós: a juventude. “Ajudai-me a ser um jovem misericordioso oferecendo-me uma juventude livre de abusos e repleta de felicidade”. O primeiro ponto a ser abordado deve ser para todos nós mesmos. Precisamos ter em nossa Igreja um espírito jovem! Por isso repeti o boa noite: porque o primeiro estava muito “deprê”. Não tem nada pior na Igreja do que a “deprê” das pessoas que estão lá. Como queremos atrair mais gente, envolver outras pessoas, se rezamos sem ânimo?
Nós precisamos mostrar que gostamos de participar, de nos envolver, assim como um jovem em uma "balada" Ninguém vai a uma "balada" para segurar as paredes. Vai para se divertir, se movimentar. Precisamos viver assim também na Igreja: no espírito de alegria, de envolvimento. Este tema é muito importante para nós e ajuda a marcar alguns pontos. Nós, a partir do batismo, somos convidados a testemunhar justamente este Evangelho do Senhor. E precisamos deixar-nos seduzir. Costumamos dizer na Igreja, que precisamos deixar-nos apaixonar por este Deus. Quando nós trazemos a sedução para o nosso contexto social, é preciso haver um bom discernimento. Porque esta sedução pode nos conduzir também para o lado dos abusos, que é daquilo que pedimos estar livres. Quando nos deixamos seduzir no contexto social, corremos o perigo de cair em abuso da sociedade, que vão destruindo a nossa vida. E, infelizmente, estamos vivendo este perigo em ritmo acelerado, em uma geração descartável. Hoje, quando não se age em um ritmo que gere efeito, que gere lucro, nós vamos descartando. O consumismo e a fama são os grandes perigos do dia-a-dia, atualmente. Quando esses perdem o brilho, perde-se também a motivação e muitas vezes acabamos perdendo o sentido da vida. Quantas pessoas tropeçam dentro do caminho da fama e acabam se perdendo em situações piores como o mundo das drogas e do álcool? Quantas pessoas famosas não perderam o sentido da vida quando a lâmpada do sucesso se apagou? Hoje, para o mundo do mercado, não há mais segredo. Eles descobriram como atrair a atenção das pessoas. Vivemos esta era do descartável e acabamos abusando do comércio de mercadorias e, por muitas vezes, não sabemos nem o que fazer com estas coisas. Tudo pelo simples prazer de conquistar. Realizamo-nos e nos satisfazemos em comprar coisas, alimentando ainda mais este mundo. Hoje, infelizmente, a moda é querer ser rico. Parece que a felicidade é sinônimo de ter dinheiro e acabamos criando um novo deus para nós, que é o deus-dinheiro. Acabamos associando o sucesso na vida com a quantidade de dinheiro que conseguimos acumular. E muitos dizem: “aquela pessoa é bem-sucedida porque possui muitos bens, carro chique, casa bonita”. E nós, como cristãos, devemos questionar se estes conseguem ser felizes vendo tantas pessoas sofrendo.
Irmãos e irmãs, este tema dos arcanjos, que ouvimos, tem tudo a ver com Santa Teresinha. Celebramos os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael. Não quem eles eram, mas o que fizeram. Anjo significa isso: um ofício, uma profissão, uma tarefa. Aqueles que anunciam acontecimentos normais, nós conhecemos por anjos. Os que levam maiores notícias, nós conhecemos por arcanjos, como estes três que hoje celebramos. Ser anjo significa, justamente, o que se faz e não aquilo que se é. Por isto, muitas vezes em nosso cotidiano, nós acabamos dizendo: “essa pessoa foi um anjo pra fulano”- em função daquilo que ela faz.
Queridos jovens, o Papa Francisco convocou este ano toda a Igreja para o Jubileu da Misericórdia. E nós pedimos hoje: “ajudai-me a ser um jovem misericordioso”. Mas também uma criança, um adulto, um idoso misericordioso. Algumas sugestões práticas nos foram oferecidas neste ano jubilar: realizar peregrinações, não julgar, não condenar, perdoar – o que não é muito fácil –, ficar afastado de fofocas e das palavras de ciúme e de inveja para que possamos nos tornar instrumentos de paz. A partir desta proposta de vida do Santo Padre, precisamos nos questionar algumas coisas. Quantas situações de precariedade e sofrimento podemos perceber no mundo atual? Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos? Vejam a situação do Mediterrâneo, que está se tornando um cemitério. Milhares de pessoas morrendo afogadas buscando liberdade e vida. E, em nosso contexto, não precisamos ir muito longe, nestes dias que antecedem as eleições: gente sendo morta, candidatos morrendo. Isto não é política. Será que eu preciso matar alguém para chegar a alguma posição? Isto, de fato, não é política! E o ano da misericórdia nos apresenta algo de forma muito concreta.
No Evangelho de São Mateus [Mt 25, 31-45], Jesus nos apresenta o que nós conhecemos como o texto do julgamento final. Ele está muito de acordo com o decálogo, os dez mandamentos do antigo testamento, e com aquilo que Jesus disse uma vez ao jovem como o que é preciso para entrar no reino de Deus: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Neste
Evangelho, Jesus retoma esta questão do amor a Deus acima de tudo e ao próximo, dizendo: “Quando o Filho do Homem voltar na sua glória, se assentará e separará os homens. À sua direita, como ovelhas. E os cabritos, colocará ao seu lado esquerdo. E dirá aos que estiverem à sua direita: ‘vinde benditos de meu Pai, pois quando estava com fome me destes de comer e quando estava com sede, me destes de beber. Quando eu era estrangeiro, vocês me acolheram. Quando eu estava na prisão, vocês me visitaram. Quando eu estava nu, vocês me vestiram.’ E dirá aos que estiverem do lado esquerdo: ‘afastem-se de mim, malditos, pois quando eu estava com fome, vocês não me deram de comer. Quando eu estava com sede, não me deram de beber. Eu era estrangeiro e vocês não me acolheram. Eu estava com frio e vocês não me vestiram. Eu estava na prisão e vocês não me visitaram’. E ambos questionarão: ‘Senhor, mas quando foi isto?’ Todas as vezes que vocês fizerem isto a um de meus pequeninos, é a mim que o fizeram. Todas as vezes que vocês não fizeram isto a um dos pequeninos, foi a mim que não fizeram.” Ser anjo é justamente fazer o que os do lado direito fizeram: amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Hoje, somos convidados a considerar a nossa alma como o fez Santa Teresinha, que tem uma das histórias mais bonitas. A partir do momento da primeira comunhão, quando começou a se preparar, com seis anos e meio de idade, ela já almejava servir a Deus, consagrando a sua vida. Mas ela teve que esperar. Somente aos quinze anos, com a autorização do Papa – pois nesta idade, ainda era muito jovem –, ela pôde, então, dar o seu primeiro passo. E ela, ao se tornar doutora da Igreja pelas belíssimas mensagens que escreveu, carrega também um ensinamento de sua irmã, que convida Teresinha a considerar sua alma como um jardim de delícias, no qual é preciso cultivar as flores de virtudes que Jesus virá colher em sua primeira vinda.
Que possa, nesse sentido, cara comunidade, a nossa vida ser como este jardim. Que a nossa virtude possa ser a ação como de anjos que agem em prol dos menos favorecidos. Que sejamos esta Igreja vibrante, com espírito jovem. Que possamos, como fez Santa Teresinha, colocar no centro de nossa vida o amor para que nossas ações não sejam sem sentido, mas sim ações de caridade, de pessoas que amam em nome de Deus. Este foi o espírito que movimentou tantos santos e mártires da Igreja. Que possamos deixar-nos envolver por esse espírito do amor fraterno, daqueles que, verdadeiramente, fazem da sua vida o caminho em busca da felicidade e que não necessitam de riqueza material, pois encontram a verdadeira riqueza na prática do amor entre irmãos.
Santa Teresinha do Menino Jesus, Rogai por nós!
Homilia: Pe. Rafael Toillier – 2º Dia do Tríduo de Santa Teresinha – 29.09.2016 (Quinta-feira, missa às 19h30).

Especial Tríduo de Santa Teresinha - Devemos ensinar e inspirar as crianças a serem misericordiosas
28/09/2016
Com alegria estou aqui celebrando com vocês essa missa dedicada à Santa Teresinha do Menino Jesus. Uma grande santa, gigante de santidade. Sabemos que teve uma vida curta, faleceu com 24 anos de idade, muito nova, mas mesmo assim deu grandíssimos passos na santidade.
O tema de hoje é a misericórdia e as crianças. O Papa Francisco pediu encarecidamente para dedicar esse ano à misericórdia, que é uma virtude, uma força divina. Apesar de ser o Todo Poderoso Criador, a principal e fundamental característica de Deus é a misericórdia. Ele perdoa sempre. O Papa Francisco disse: "Deus não cansa de perdoar", a Sua misericórdia é infinita, está a todo o momento perto de nós.
No passado, nós fomos educados com um estilo pedagógico baseado no medo, seja da família ou da escola. No passado, quem acompanhava a família era sempre a mãe, a mulher; o homem ficava fora trabalhando, e quando os filhos aprontavam, as mães contavam aos pais e eles não precisavam dizer nada: só aquele olhar que penetrava no coração dos filhos era o suficiente para colocar medo nas crianças. É difícil de acreditar que um pai de família era tão severo assim, mas a Deus, que é o Criador, devemos dizer: “Pai Nosso”, e lembrar que Ele não é um carrasco que fica à espreita esperando a pessoa pecar para mandá-la para o Inferno.
Jesus disse: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" (ref. Jo 10,10), e foi Jesus quem nos revelou que Deus é Pai. Antes da vinda de Jesus não sabíamos que Deus era pai. No Antigo Testamento, Deus é o chefe dos exércitos, o Todo Poderoso, e isso dava um pouco de medo. Mas Deus, nas palavras de Jesus, é Pai, e a característica do pai é o amor. Além de transmitir a vida, o pai cuida da sua família, dos seus filhos, da sua esposa, e é por isso que um pai de verdade é algo maravilhoso, pois dedica toda a sua existência à sua família. E Deus é assim, está perto de nós.
Explicar para as crianças o que é misericórdia e perdão é muito complicado, sobretudo nos dias de hoje, pois as famílias mudaram muito. As famílias de 40, 50 anos atrás tinham mais filhos, e hoje só têm um filho no máximo. Como é que você vai ensinar a um filho único como viver em sociedade ou renunciar a algum privilégio? Filho único geralmente tem todo o apoio da família, pois é único. E aí se cria, sem querer, uma pessoa egoísta. Para passar ao filho único a capacidade de abrir o coração aos outros, ter compreensão, bondade e misericórdia, é difícil. Um exemplo típico é quando, no Natal, os pais dão um presente ao filho único e dizem que não é para ele emprestar o brinquedo para outras crianças, pois irão quebrá-lo. Assim, estão educando para o egoísmo. Em uma pequena briga na escola, que é normal entre as crianças, o filho único chega em casa chorando e a mãe vai na escola brigar com a diretora, em vez de dizer para o filho que vai ver direito o que aconteceu. Nos dias atuais as crianças têm o máximo de direitos e o mínimo de deveres. E é mais difícil ainda, quando o casal se divide, se o pai fala mal da mãe e vice-versa. A criança fica confusa, acaba abandonada e é mais difícil entender o amor e a misericórdia.
A situação difícil pela qual o Brasil está passando é devida à falta de Deus, tanto na família quanto na sociedade. Deus não é a referência dos nosso senadores e deputados – vocês já viram um político rezar um Pai-Nosso antes das sessões na Câmara? Tiraram até os crucifixos das salas públicas... O ser humano está ficando igual a Adão e Eva com o pecado original, ou seja, acha que não precisa de Deus, basta-se sozinho. Assim, nossa sociedade fracassa em todos os sentidos, inclusive moralmente, por conta da falta de Deus. E se Deus não conta em uma família, se os pais não têm o hábito de ler a Bíblia, como podem educar um filho?
Mas diante de Deus nada é impossível, e queremos dizer às crianças que o mundo pode ser bonito! O futuro da Igreja, da família e da sociedade são os jovens e as crianças, e se eles não fizerem parte da comunidade, a Igreja vai sofrer. Por isso rezamos pelas crianças, que se preparem para a vida, estudem, mas não abandonem a parte espiritual, pois esta é muito importante.
Na família, é muito importante que os filhos notem que os pais se amam e se respeitam. Assim, o ambiente fica sereno e tranquilo. Quando tem briga, agressividade, falta de misericórdia e perdão, a criança cresce em um ambiente negativo e isso é muito ruim.
Santa Teresinha, uma vez, foi com os pais à praia; foi a primeira vez que ela viu o mar e ficou abismada. Ficou admirando e correndo em volta dos pais. Um casal a viu e fez um comentário sobre sua simpatia e beleza, mas o pai de Santa Teresinha sinalizou que não queria que a filha ouvisse muitos elogios, para que não ficasse muito orgulhosa. Santa Teresinha, desde criança, foi educada para não ser egoísta, para pensar no próximo. Sentiu o chamado de Deus muito cedo e foi para o Carmelo com 15 anos, após autorização do Papa Leão XIII e do Bispo de sua cidade.
A caminhada de Santa Teresinha no Carmelo foi extraordinária e marcada pela simplicidade. Ela se questionava sobre o que poderia fazer para Deus e para a Igreja, já que era mulher e não tinha estudo. Mas inspirada por Deus, fazia tudo o que tinha para fazer com muito amor e carinho, e decidiu rezar pela Igreja inteira. Por essa razão, o Papa Pio XI a declarou solenemente a "Padroeira das Missões", pois não é só quem viaja para longe que é missionário, também é missionário quem vive o Evangelho integralmente, como Santa Teresinha.
A santidade não é feita de grandes coisas, não podemos nunca desprezar as pequenas coisas. Quem ama e respeita as pequenas coisas pode fazer coisas grandes, e Santa Teresinha foi assim, simples e despercebida. Fazia de tudo para chegar perto de Jesus. Por exemplo, mesmo sendo a filha mais querida de seu pai e, por isso, tendo alguns hábitos quando morava com sua família, procurou se adaptar aos hábitos do Carmelo, sem nunca reclamar. Como não gostava de sopa, desenvolveu uma técnica para comer a sopa do convento: a primeira colherada, ela dedicava a Nossa Senhora; a segunda colherada, a São José; a terceira à Santa Teresa de Ávila; a quarta, a quinta a São João da Cruz e outros santos. E, de repente, olhava no prato e não tinha mais nada. A gente dá risada, parece coisa de criança, mas não é não. Era por amor a Deus e às irmãs da cozinha que ela comia.
Outro exemplo: as irmãs, durante a semana, tinham um dia dedicado a lavar a roupa do convento e da igreja. Tinham aquelas pias grandes e, uma perto da outra, lavavam. A vizinha de Teresinha tinha uma mania de bater as roupas quando lavava, o que espirrava água no rosto de Teresinha. Imaginem no inverno da França, com a neve, 10 a 15ºC abaixo de zero, respingar água no rosto... E ela nunca se queixou. Isso é santidade. Você achava que santidade era só fazer coisas extraordinárias?
Outra coisa interessante: a Teresinha também foi encarregada da portaria, ajudante da mestra das noviças e sacristã, coisa que ela gostava muito. Ela, quando ia preparar as coisas para a missa, pegava a hóstia e beijava, dizendo: "quando Jesus se tornar Corpo e Sangue ele vai receber o meu beijo por primeiro". E ela preparava muito bem a igreja com flores. Só que tinha uma irmã com muitas doenças que dizia ter problemas com o pólen das flores, que a faziam desmaiar. Então, a superiora chamou Teresinha e disse que não era mais para colocar flores no altar. Demorou dois, três meses, e Santa Teresinha preparou flores de papel muito bonitas, junto com as noviças. E no dia de uma grande festa ela colocou todas essas flores de papel no altar. Aquela freira, quando entrou na igreja para a missa e viu as flores, desmaiou! A superiora chamou Teresinha e deu um castigo muito severo a ela, mas algumas irmãs disseram que o problema não eram as flores, pois as flores eram de papel. Mesmo assim, a superiora não pediu desculpas...
Finalizando, Santa Teresinha tinha tuberculose, uma doença dos pulmões. Como naquela época não tinha antibiótico, ela começou a cuspir sangue, um sinal de que estava perto da morte, de que o problema já estava muito sério. A superiora via que Teresinha estava muito mal, mas dizia que aquilo era mania típica de uma menina que foi mimada pelo pai desde criança. E Teresinha sabia que ia morrer... 24 anos... Nunca se queixou. É aqui que está a santidade: fazer bem, todo dia, com grande amor, o que precisa ser feito.
Os pais, os filhos e as pessoas na sociedade que ocupam algum cargo devem ver no próximo a imagem de Jesus que sofre, e não se aproveitar do cargo que têm para ficar mais rico, roubar e assim por diante. Não. Realizar com amor as tarefas do dia a dia chama-se "o pequeno caminho de Santa Teresinha", que é pequeno na palavra, mas grandíssimo na santidade. Porque a santidade se constrói sobre as pequenas coisas do dia a dia, não recriminando, julgando, sendo inflexíveis, não tendo misericórdia. Ao contrário, fazer sempre bem aquilo que estou fazendo, com amor e com fidelidade.
Uma boa festa para vocês!
Homilia: Frei Frei Bruno Manzoni – 1º Dia do Tríduo de Santa Teresinha – 28.09.2016 (Quarta-feira, missa às 19h30).

Anunciar o amor e denunciar as injustiças
25/09/2016
Minhas irmãs e irmãos, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos em nossa comunidade. A você que participou da Carreata, que bom que esteve presente junto conosco! Você que não pôde estar, no próximo ano não perca, venha participar conosco! Com ou sem carro, vamos sair às ruas e demonstrar publicamente a nossa fé.
Nós estamos celebrando o 26º domingo do Tempo Comum, nesta abertura da festividade de nossa Padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus. E a Igreja nos convida, por meio da Sagrada Palavra de Deus, a sermos profetas; anunciarmos o amor, denunciarmos as injustiças, não nos acostumarmos com as coisas erradas, buscarmos converter o nosso coração – hoje de modo particular para com nosso compromisso, nossa partilha, nossa solidariedade ou compaixão para com os pobres, os necessitados – e sermos capazes de, como Santa Teresinha do Menino Jesus, combatermos o bom combate, buscando purificar o nosso coração para alcançarmos, todos nós, a santidade.
Na Primeira Leitura, no livro do profeta Amós, capítulo 6 (Am 6, 1a. 4-7), nós estamos no século VIII a. C. Como falamos na semana passada, o povo vivia um momento de muita prosperidade – prosperidade econômica, comercial, até mesmo a "prosperidade" religiosa. O povo estava contente, estava feliz. Mas aqueles que tinham o dinheiro, aqueles que detinham o poder do comércio, começaram a usurpar os direitos dos trabalhadores. E, desse modo, os ricos começaram a ficar mais ricos e os pobres, mais pobres. Mas hoje, como ontem, continua acontecendo a mesma coisa: os ricos vão ficando cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, porque se quer ganhar mais do que se tem necessidade.
É diante desse contexto que Deus inspira no coração de um homem chamado Amós a profecia – que eu e você conquistamos no dia do nosso Batismo – para nos tornarmos porta-vozes de Deus, anunciando o amor e denunciando as injustiças. Você tem anunciado o amor de Deus? Ou da sua boca só sai coisa negativa? Você tem denunciado as injustiças? Ou você se acostuma às coisas erradas? Você só reclama, mas não propõe soluções para situações contrárias ao projeto de Deus?
Por isso o profeta Amós vai dizer: "Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas da Samaria!". Hoje, talvez, ele diria: "Ai dos que vivem despreocupadamente em suas casas, só porque têm suas grades acham que estão seguros... Ai dos que vivem nos apartamentos e não se lembram dos pobres... Ai dos que vivem nos condomínios, só saem e entram de carro e nunca enxergam a realidade do outro que está sofrendo... Ai de você que vê as situações erradas na sua empresa e não faz nada; ai de você que reclama da política, mas não tem a maturidade de ter um voto consciente e comprometido; ai de você que abandonou o seu matrimônio, abandonou a sua família – mesmo vivendo no mesmo teto, mesmo dormindo na mesma cama, você desistiu das pessoas que ama".
O que será que o profeta diria para nós hoje? O que é que você precisa converter em seu coração? De pessoas reclamando o mundo está cheio; mas pessoas que propõem soluções são raras. Por isso, mais do que reclamar, se eu não sei o que fazer, eu me lembro de Santa Teresinha e rezo. Rezo, porque a nossa primeira vocação é rezar. A nossa vocação não é amaldiçoar as pessoas, a nossa vocação não é sermos negativos, a nossa vocação não é sermos desesperançosos. Mas a nossa vocação é anunciar o amor, como nossa Padroeira; a nossa vocação é interceder pelos que passam necessidade; a nossa vocação é colocar os joelhos no chão e, quando não sabemos o que fazer, dizer: "Senhor, eu entrego a minha vida em Tuas mãos; eu entrego o meu futuro em Tuas mãos".
Portanto, sejamos mais positivos, sejamos mais esperançosos, sejamos mais protagonistas de um anúncio do Evangelho que possa transformar as realidades de modo maduro, claro, consciente, compromissado. Porque quando abrimos mão da nossa vocação, nós acabamos trilhando um caminho que não nos levará ao Reino de Deus; um caminho que um rico, no Evangelho de hoje – de Lucas, capítulo 16 (Lc 16, 19-31) – foi trilhando, até parar no inferno. É uma parábola, que Jesus conta aos fariseus que estão questionando Suas palavras – Ele, que está indo para Jerusalém, onde vai sofrer a sua morte, e morte de cruz, pela nossa Salvação. E Jesus conta uma parábola: que tinha um homem rico, que oferecia banquetes, e um pobre, de nome Lázaro, que ficava esperando, ao redor da mesa, as migalhas caírem para saciar a sua fome. O rico e o pobre morrem; o rico vai para o inferno, o pobre vai para o céu. E, lá, o rico, que tinha tudo, passa a não ter mais nada e começa a pedir uma gotinha de água para matar a sua sede. Não tendo a possibilidade disso acontecer, pede para que o pai Abraão interceda por seus irmãos; e Abraão diz que isso não é possível. E Jesus acrescenta: "se eles não foram capazes de ouvir Abraão e os profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não vão ouvir".
Uma pessoa de coração duro, uma pessoa de coração fechado, nem que alguém ressuscite na frente dela, nem que Jesus apareça para ela, não muda a sua vida. Aliás, essa é uma das teologias da Escatologia, que é a teologia da Jerusalém Celeste, do Reino dos Céus. Diz a teologia que, diante de Deus, o maior pecador pode se converter no último segundo, mas aquele que tem o coração duro, talvez mesmo diante do Senhor, vendo as portas do Céu à sua frente, corre o risco de dizer "não", "não quero". E quantas pessoas dizem "não" ao projeto de Deus... Quantas pessoas dizem "não" ao amor... Quantas pessoas dizem "não" à esperança que transforma...
Nós não sabemos por que, mas Lucas, que escreve o Evangelho de hoje, é o evangelista que mais adverte os ricos. E aí vocês vão dizer: "Padre, temos que vender os nossos bens então? Jesus diz para vendermos tudo e ficarmos pobres?". Não. Jesus não diz isso, Lucas não diz isso. Mas seja Lucas, seja Jesus que fala, se os nossos bens não forem partilhados com quem tem necessidade, nós vamos para o inferno. Isso é um fato. Porque a fé não é individualista, a fé é comunitária; a fé estende a mão para quem passa necessidade.
E hoje fazemos uma pergunta: você tem ajudado os pobres? Você tem ajudado os necessitados? Ou você está acomodado na sua casa, com o seu carro, com a sua aposentadoria, o seu trabalho estável? Como você se coloca diante dos pobres, dos necessitados?
Ao preparar a homilia, eu me dei conta de algo que nunca tinha prestado atenção: o rico do Evangelho não tem nome. E é engraçado, porque os ricos a gente sempre conhece, não é mesmo? Aquele apresentador do SBT se chama... Silvio Santos. A "Rainha dos Baixinhos" se chama... Xuxa Meneghel. O maior jogador da atualidade no futebol brasileiro se chama... Neymar. Estão vendo como a gente conhece? Desses a gente sabe o nome. Agora eu faço uma pergunta: você sabe o nome daquela pessoa que foi à sua casa, tocou a campainha e lhe pediu um quilo de arroz? Quando você estava na padaria e alguém entrou e disse: "Moço... Dona... Compra um lanche para mim? Eu estou com fome", você comprou o lanche, mas você olhou nos olhos do pobre, você perguntou o nome dele? A gente dá o dinheiro, às vezes, para ajudar, mas não estabelece relação. E é isso o que Lucas nos faz questionar: por que o pobre do Evangelho tem nome e o rico não tem? Porque os pobres, na teologia de Lucas, são os privilegiados no Reino dos Céus.
Portanto, vamos abrir o nosso coração às pessoas que passam necessidade. Vamos estabelecer uma relação, buscando resgatar essas pessoas da sua falta de dignidade. Vamos combater o nosso egoísmo, o nosso individualismo, combatendo o bom combate da fé – como diz São Paulo à comunidade de Timóteo, no capítulo 6 (1Tm 6, 11-16): "Homem de Deus, foge das coisas perversas. Mulher de Deus, foge das coisas perversas". Você que vem à missa sempre, você que reza todos os dias ao acordar e antes de dormir... Você se considera uma pessoa de Deus? Se sim, "foge das coisas perversas"! Ou você tem se acostumado com o que está errado? Ou você tem aqueles "pecadinhos" de estimação? Ou você tem aquele seu jeito que você sabe que não é certo, que ninguém gosta, mas que você não busca mudar e ser transformado segundo a vontade de Deus?
Você tem fugido das coisas perversas? Santa Teresinha, nossa Padroeira, fugiu das coisas perversas e foi agraciada com as portas abertas para o Reino dos Céus. Diz Paulo (ou quem escreveu essa leitura): "Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna". Quem acha que o Céu é fácil de alcançar está completamente enganado... É necessário fazer uma opção consciente e radical de vida. Combater o bom combate significa combater os meus preconceitos, combater aquelas posturas que eu tenho que não são de Deus, combater pensamentos, atitudes, palavras que não são de Deus, para conquistar a vida eterna.
Peçamos à nossa Padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus, que possamos sair do comodismo em que nos encontramos e anunciar o amor de Deus; denunciar as injustiças, sermos capazes de partilhar o que temos e somos com os pobres, com os necessitados; estabelecer uma relação com aqueles que passam mais necessidade; combater o bom combate, para que, alcançando a vida eterna, estejamos, com nossa Padroeira, com os santos e com os anjos, festejando a alegria da eternidade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 26º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 25/09/2016 (Domingo, missa das 18h30).

Que sejamos bons administradores daquilo que Deus nos concede
18/09/2016
Estamos celebrando o 25º Domingo do Tempo Comum e a liturgia nos convida, irmãs e irmãos, a refletirmos sobre o nosso profetismo, o nosso compromisso em falar em nome de Deus e denunciar as injustiças. A Palavra do Senhor convida todos nós a sermos bons administradores daquilo que Deus nos concede. E, por último, convida-nos a sermos capazes de rezar uma oração que não seja individualista, intimista, mas uma oração que nos faça comprometermo-nos verdadeiramente com os valores do Reino.
Na Primeira Leitura, do Profeta Amós [Am 8, 4-7], estamos no século VIII a.C. e o povo vivia um momento de extrema felicidade. A religião estava maravilhosa, o comércio estava acontecendo de modo como nunca antes o povo tinha visto, os jovens estavam de volta à sua fé verdadeira. Mas como não é o Céu ainda, sempre tem gente querendo estragar a felicidade do outro... E aqueles que tinham mais, aqueles que eram governadores, líderes, aqueles que eram comerciantes, começaram a usurpar o direito dos pobres. E, então, onde era para existir uma sociedade maravilhosa, por causa de alguns, os pobres começaram a sofrer. Diante dessa realidade é que Deus chama o profeta Amós para sair da sua terra, ir para outra cidade e denunciar as injustiças que estão acontecendo.
Ontem, como hoje, Deus chama novos profetas para denunciar as injustiças que acontecem ao nosso redor, e a pergunta que nos fazemos é: será que eu tenho denunciado as coisas erradas? Porque falar, muita gente fala; reclamar, muitos reclamam; mas e falar algo que possa transformar verdadeiramente a realidade? Será que eu faço ou permaneço no meu comodismo? Permaneço em uma sociedade sem nome, sem rosto, sem identificação, apenas reclamando das coisas que acontecem?
Muitas vezes, dentro de casa existem injustiças e eu não consigo falar do amor de Deus, não consigo falar das situações erradas que acontecem dentro da minha própria casa. Em grupos de amigos, muitas vezes para me sentir o "queridinho", o "envolvido" no meio das pessoas - sobretudo vocês, jovens, cuidado! -, nós acabamos aceitando muitas coisas que não são da nossa fé, não são os valores que nos foram ensinados e, muito menos, os valores que nós professamos; mas para não ser "o chato" no meio da turma, eu vou aceitando... Aceito valores que são contrários à família, aceito valores que são contrários à fé, aceito valores que são contrários ao moral, aceito valores que são contrários à ética. E, assim, depois a gente se questiona: por que o mundo está corrompido? Porque faltam novos profetas! Falta o nosso protagonismo de sairmos da nossa individualidade e podermos ser capazes - sem gritar - de falar das coisas que devem ser mudadas, coisas que devem ser transformadas. Porque de gente reclamando o mundo está cheio! Pessoas que pensem, que proponham situações concretas para transformar a realidade, estes são poucos.
Esta semana duas pessoas vieram conversar comigo - achei muito bonito! Vieram conversar sobre duas situações pontuais em algumas das pastorais de nossa paróquia.
E elas vieram e falaram: "Padre, existe essa dificuldade". E a minha pergunta foi a mesma para as duas pessoas: "O que você nos propõe?".
- "Padre, eu proponho isso!".
- "Que bom, vamos fazer a experiência?".
Em uma das pastorais eu já comecei e parece que deu certo; a outra estamos prestes a começar. Será que vai dar certo? Não sei! Mas o bonito é ver uma pessoa que levanta do banco e vem conversar com o pároco para dizer: "Padre existe uma dificuldade, vamos tentar consertar? As minhas propostas são estas...".
E para quem estuda administração, gerenciamento de projetos... Você sabe que não se pode reclamar sem apresentar soluções. Quer falar alguma coisa? Fale! Mas proponha sempre soluções. Tem gente reclamando muito da vida, da Igreja, da sociedade, da política... Mas poucos apresentam caminhos de solução. Isso é sermos capazes de administrar os bens que Deus nos concedeu. Um deles é a inteligência, dom que todos nós temos. E no Evangelho de hoje, Jesus, depois de passar pelos povoados, pelas aldeias, está voltado para Jerusalém para dar a sua vida pela nossa Salvação. E, ao ser questionado, diz a parábola do administrador infiel - em que o patrão delega a uma pessoa cuidar dos seus bens, do seu negócio, e depois descobre que aquele administrador era infiel e diz: "Presta conta da tua administração, porque vai perdê-la". O administrador, mais do que depressa, abaixa os valores dos produtos que eram comercializados, dizendo: "Quanto deves ao meu patrão?"; "Cem barris de óleo" - mas escreve cinquenta.
Qual o contexto desse Evangelho (que é bem confuso)? Jesus elogia o administrador e depois o critica? Jesus elogia a atitude rápida daquele administrador - que, sem pensar, abaixa o seu lucro (porque ele vendia algo e, como todos os vendedores, tem direito de receber por aquilo, mas ele não precisa receber muito, exageradamente; vocês imaginam: se ele recebia 50 reais, ele lucrava 100 reais - o dobro do que ele devia! Não é justo, ele estava roubando o seu patrão!). Jesus elogia sua atitude.
Quando nós deixamos de lado o egoísmo, a soberba para arrecadarmos dinheiro de forma ilícita, de forma desesperada, todos saem ganhando. Se todos os comerciantes não quisessem tanto dinheiro... Sobretudo as montadoras de veículo, a venda de carros ia ser maior! Se o nosso governo brasileiro não cobrasse tantos impostos, a venda seria muito maior. Basta olharmos, anos atrás, quando o governo, com uma atitude muito sábia, enquanto o mundo inteiro estava em crise, abaixou o seu lucro com as empresas; diminuiu os impostos da venda de veículos e eletrodomésticos. O que aconteceu? As vendas dispararam e a economia do Brasil continuou a girar e a crescer. Enquanto outros países estavam em crise, o Brasil estava subindo, e o governo começou a ganhar mais. Mas aí veio um problema: quando se ganha de forma ilícita é uma tentação. Ganha-se dez, vai para cem, para mil, para um milhão... E nunca se para! O grande problema é que, um dia, Jesus irá nos pedir conta da nossa administração...
E aqui nós questionamos: o que eu devo administrar? Eu tenho administrado a minha vida de forma coerente com a minha fé? Eu tenho administrado o meu tempo para com Deus? Eu tenho administrado o meu tempo para estar com a minha família? Ou o
trabalho, o computador, o Whatsapp... Atrapalham-me em estar com as pessoas que amo?
A figura do ABC Litúrgico deste domingo é uma figura bem pedagógica: quatro ou cinco pessoas ajoelhadas, em uma postura de adoração a um veículo, um computador e uma televisão. Quanta gente frustrada diante do seu veículo... Quanta gente frustrada diante do seu smartphone... Quanta gente frustrada em adoração diante da televisão, do computador, consegue administrar o tempo com a sua família? Não consegue!
Você que exerce algum cargo de liderança na sua empresa ou aqui na comunidade: você tem administrado bem o que Deus lhe concedeu? Você que é pai, você que é mãe: você tem administrado bem a educação dos seus filhos? Você que é esposo ou esposa: tem administrado bem o amor para com a pessoa que você prometeu amor e fidelidade por toda a vida? Jesus diz: "Quem é fiel nas pequenas coisas, será fiel também nas grandes". Você é fiel no pouco? No seminário nós recebíamos uma ajuda de custo para podermos nos manter durante o mês, e era bem pouquinho. E nossos formadores diziam: "Olha, se vocês não souberem viver com um pouquinho, vocês nunca saberão viver com muito". E é um fato! Quanto desperdício... Quantas coisas os nossos jovens e as nossas crianças têm... Precisamos ensiná-los a administrar bem aquilo que têm. Pais, peço para vocês: não dêem de mão beijada as coisas para seus filhos, façam-nos merecer! Porque somente desse jeito eles vão valorizar o pouco ou o muito que tiverem, pois quem não sabe administrar o pouco, Jesus é claro: não saberá administrar o muito! E eu conheço muita, muita gente que, quando tinha pouco, não sabia administrar, e hoje que tem muito, também não sabe. Portanto, sejamos bons administrador da graça de Deus; administração que vai ser cada vez mais clara, cada vez mais visível em nossa vida quando aprendermos a orar, a rezar de modo compromissado com os valores do Evangelho.
A Segunda Leitura nos fala da comunidade de Timóteo [1Tm 2,1-8] rogando que sua oração seja uma oração comprometida, não uma oração intimista e individualista, mas uma oração que possa gerar frutos na sua vida pessoal, na sua vida comunitária e na sua vida social. Por isso, hoje vocês não vão reclamar que o padre fala de politica, porque é a própria Palavra de Deus que está dizendo: "Caríssimo, antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos os que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade".
Você tem rezado pelos políticos? A Palavra de Deus nos pede para rezarmos por nossos políticos. A nossa primeira arma é a oração, mas muitos estão com ódio no coração e não conseguem rezar. Antes de você e eu chegarmos, o Espírito Santo está à frente! Você tem rezado pelo dono da empresa em que você trabalha? Você tem rezado por aqueles que estão acima de você, orientando seus trabalhos? Pois reze, Deus nos pede isso, para rezarmos por aqueles que estão nos cargos políticos e nos cargos públicos. Para que aqueles que exercem uma função de liderança cheguem ao conhecimento da verdade. É a verdade que deve nos libertar! Não o meu conceito, o seu conceito, a sua vontade, a minha vontade... Mas a vontade e a verdade de Deus!
Por isso, reze, coloque em oração o nosso país, os nossos governantes, os poderes executivo e legislativo... Reze por todos os poderes de nossa sociedade!
Você sabe quais são os valores do Evangelho para que você faça uma boa votação? Produzimos 160 mil exemplares de uma apostila, rogando a Deus que os católicos levem para casa, leiam e compreendam. Porque depois que passarem as eleições, só daqui a quatro anos... E aí fica muita gente reclamando da vida... A hora de transformar é agora! Converse na sua casa, com seus amigos, com a sua família, para que a nossa oração possa, de fato, comprometer-se com as vaidades que nos interpelam no dia de hoje.
Que ao celebramos esta Eucaristia, Deus nos permita sair do nosso comodismo, nos permita sentir e sermos chamados pelo nome - como o profeta Amós -, para anunciar o amor de Deus e denunciar as injustiças. Que saibamos administrar tudo o que Deus nos concedeu, para que, no dia em que formos prestar contas diante do Senhor, sejamos de fato bons administradores, no pouco ou no muito, no muito ou no pouco, e que a nossa oração seja uma oração mais comprometida com os valores da fé que nós professamos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 25º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 18/09/2016 (Domingo, missa das 10h).

A misericórdia e a acolhida devem estar sempre presentes em nossa caminhada cristã
11/09/2016
Nós estamos celebrando o 24º Domingo do Tempo Comum e a Palavra de Deus nos convida a sermos misericordiosos, a termos um coração como o de Deus. Porque nossa missão é buscarmos sempre nos aproximarmos do coração de Jesus, termos os mesmos sentimentos do Senhor em nossas vidas. O grande problema é que, muitas vezes, somos pessoas de memória curta e acabamos esquecendo que nós também somos pecadores. Porque olhar o pecado do outro é mais fácil do que reconhecer nossos próprios erros. E Jesus diz em um dos Evangelhos: “Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.
Todos nós somos pecadores e nessa caminhada de fé, de irmãos e de família nós não podemos deixar ninguém para trás. Na Palavra de Deus, no Livro do Êxodo[Ex 32, 7-11.13-14], na Primeira Leitura de hoje, nós temos um povo que começa a reclamar da sua situação e esquece-se de que foi o próprio Deus que o libertou. O povo estava na escravidão do Egito e clamava por liberdade. Deus, então, os liberta desta situação. Porém, porque na travessia do deserto que estavam enfrentando não havia água e nem pão com fartura, eles começam a se revoltar contra Deus. Na primeira saída do líder Moisés para subir até o Monte das Alianças, o povo fica sozinho e faz um bezerro de ouro para ser adorado, abandonando, assim, a fé naquele Deus que os tirara da escravidão do Egito. Muitas vezes, este povo somos nós ainda hoje que, quando precisamos de Deus, vamos à Igreja e fazemos novena, promessas ou buscamos missa de cura e libertação. E quando conseguimos a graça, vamos embora, sumimos. O que aconteceu com aquela pessoa tão devota que estava na Igreja - aquela pessoa que chegava, rezava, abria os braços, cantava, clamava? Foi embora porque não precisava mais.
Outros, quando precisam, se colocam de joelho uma, duas, três missas. Se não obtiveram solução, vão procurar outras igrejas. Se mesmo assim, não foi resolvido, procuram novas religiões. Ir atrás de outras religiões é construir um bezerro de ouro para ser adorado e se esquecer de tudo que Deus tem realizado em sua vida, em sua história. Mas Deus te ama, mesmo com as tuas fragilidades. Ele pode até ficar bravo, assim como ficou na Primeira Leitura de hoje. Mas Moisés diz: “Senhor não faz isso com o povo; é um povo de cabeça dura mas é um povo bom”. E Deus reconhece os filhos bons. Deus reconhece que temos um potencial dentro de nós porque fomos criados para o bem, para o amor e para buscar a verdade que cura, liberta e edifica. Mas é real também que, no caminho da nossa história, acabamos corrompendo o nosso coração, nos desviando do caminho e fazendo bezerros de metal, como diz a Primeira Leitura de hoje. Você que tem um coração corrompido, um coração desviado, hoje a Igreja o chama a voltar para o caminho do Senhor. Se a sua família está corrompida, volte para o seu ponto de origem. Se a sua fé está desviada, volte para o Senhor. Não deixe que os bezerros de metal o afastem do caminho de Deus. Cuidado com as promessas de uma religião sem compromisso porque elas te levarão a um coração raso. Será uma fé que não te ajudará a superar as dificuldades da sua história.
Quando nós não compreendemos este coração de Deus, que deseja de nós a conversão sincera do nosso coração, nós nos tornamos como o povo de Israel, reclamando do que nós tínhamos no passado e nos esquecendo de agradecer tudo que conquistamos. Ou deixamos de ter um coração aberto às novas pessoas que chegam em nossa caminhada de fé. Porque aqueles que aqui já estão, nós abraçamos, beijamos, nos confraternizamos. Mas aqueles outros que estão chegando, será que nós abraçamos do mesmo modo? Por exemplo, vamos supor que uma pessoa foi condenada porque matou o pai e a mãe. E quando sai da prisão, ela vem direto para a missa de Santa Teresinha. Ela vem e entra por aquela porta e senta-se aqui. O que nós faremos? Levantamos e saímos? Mandamos ela embora? Pois isto é justamente o que Jesus está dizendo para não fazermos, no Evangelho de hoje [Lc 15, 1-10]. Jesus acolhe os pecadores.
Jesus está contando esta parábola do Evangelho de hoje porque o povo estava reclamando que os publicanos e pecadores estavam à mesa com Ele. E Jesus contou estas duas parábolas do Evangelho. Na primeira delas, Jesus diz que um pastor tem 100 ovelhas e quando uma se perde, ele deixa as 99 no redil para ir atrás daquela ovelha perdida. Quando a encontra, ele a traz para casa e faz festa porque aquela ovelha estava perdida e foi encontrada. Qualquer ovelha que esteja perdida e é reencontrada, que busca conversão, eu e você devemos fazer festa por esta ovelha que estava desgarrada.
Nós temos o mau hábito de julgar muito as pessoas. O passado das pessoas não pode condená-las para o resto da vida. E quem de nós aqui nunca pecou? Quem de nós aqui está em condição de julgar o que é mais ou menos pecado? Qual de nós aqui está em condição de se colocar como juiz da história e das pessoas? Se nós buscamos o cristianismo como fonte, caminho de vida e de Salvação, a nossa missão é ser como Jesus: fazer festa para todas as pessoas que buscam o caminho da conversão.
Se entrasse por aquela porta uma pessoa reconhecidamente pecadora e ela se sentasse ao seu lado, o que você faria? Deixaria somente o padre e ela celebrando a missa? Onde está o compromisso com a sua fé? Ter uma fé que balança a mão é muito fácil. Ter uma fé que, quando o padre fala bonito, te faz chorar, é fácil. Mas, e quando a tua fé te faz questionar os teus valores e tuas opções de vida, será que você está disposto a mudar o rumo da sua história, mudar os valores do seu coração para se configurar ao coração de Jesus Cristo, Nosso Senhor? Se não está, é o momento de você começar a pensar quando você vai iniciar o seu processo de conversão.
Jesus, na segunda parábola, diz que uma mulher tinha 10 moedas e, quando perdeu uma, acendeu a luz e varreu a casa até encontrar aquela moeda. Quando encontrou, chamou as amigas, as vizinhas e fez festa porque encontrou aquela moeda. Para toda pessoa que é encontrada para Deus, nós devemos fazer festa. A Palavra de Deus ilumina os nossos pensamentos, conceitos e valores. E quais são os valores, conceitos e pensamentos que trazemos em nossos corações? A mulher varreu a casa. E varrer significa limpar, tirar a poeira. Será que estamos varrendo a poeira do nosso coração para sermos purificados? A Palavra de Deus nos questiona, diretamente, sobre as nossas escolhas e nossos valores. Questiona as lideranças desta paróquia de Santa Teresinha quando não querem acolher uma pessoa nova que chega nesta comunidade de fé. Fazem muro e cara feia, não sabendo acolher quem está chegando. Portanto, a Palavra de Deus nos pede para sermos misericordiosos e, como Paulo, aprendermos a parar de reclamar da vida. E agradecer a Deus tudo que Ele trouxe na nossa história. Você mais agradece ou mais reclama da sua vida? Não precisa responder, apenas pense. Porque a sociedade está muito negativa. E nós, cristãos, devemos ir na contramão desta negatividade, agradecendo a Deus. Quando você acorda, você agradece a Deus o dom da tua vida? Você agradece pelo teu esposo, esposa, filhos e pais? Quando você vai comer, você agradece a Deus aquele alimento? Ao dormir, você agradece ao Senhor pelo dia que passou? Você agradece a Deus pela sua caminhada de fé? Você que começou a frequentar a Igreja há pouco mais de um ano, tem agradecido a Deus o tanto que Ele tem transformado a sua vida? Você que está restaurando o seu matrimônio ou o seu relacionamento com o seu filho, você que se aproximou do seu pai ou da sua mãe, você tem agradecido tudo o que Ele tem feito em sua história?
São Paulo escrevendo a Timóteo [Tm 1, 12-17] nos diz: “Caríssimo, agradeço Àquele que me deu força, Cristo Jesus, Nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia”. Paulo agradece a Deus porque ele antes era um perdido. Paulo agradece a Deus porque antes ele tinha outros valores. Mas foi Cristo que o encontrou, o abraçou e transformou o seu coração.
Ao celebrarmos esta Eucaristia, peçamos ao Senhor que os valores do Evangelho encontrem um espaço maior no nosso coração, nas nossas escolhas e na nossa postura de cristãos para acolhermos aqueles que buscam uma vida renovada em Cristo Jesus. Que possamos acender a luz do Espírito Santo que habita em nós para ajudar a discernir os valores que conduzem a nossa caminhada cristã. Que possamos varrer o nosso coração para encontrarmos o caminho da fé e para estarmos de braços abertos a acolher aqueles que buscam uma vida nova em Jesus Cristo, Nosso Senhor!
Homilia: Pe. Tiago Silva - 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C) - 11/09/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Que saibamos colocar a Palavra de Deus em lugar de destaque em nossa vida
04/09/2016
Nós estamos celebrando o mês de setembro, dedicado às Sagradas Escrituras. E a Igreja nos convida a meditar sobre qual lugar a Palavra de Deus ocupa em nossa história. Por isso, queremos em primeiro lugar agradecer a equipe de liturgia que há cerca de um mês foi formada para nos ajudar, durante as missas, a refletir sobre os principais sinais de nossa fé. E este mês, de modo particular, os dez mandamentos.
Os mandamentos de Deus orientaram o povo de Israel durante a travessia do deserto em direção à Terra Prometida. Este Deus que nos ensina, nos dá Leis, caminhos e ensinamentos para que possamos atravessar o deserto da nossa história e chegarmos juntos como Igreja e como família à Jerusalém celeste, ao Reino dos Céus.
Você está se deixando conduzir pela Palavra e pelos mandamentos de Deus? Ou você se deixa orientar somente pelas leis humanas? Que lugar a Palavra de Deus ocupa na sua vida, nas suas decisões e nos conceitos que você forma? Os pais vão ensinando aos seus filhos qual local a Palavra de Deus ocupa em nossa história? Na sua casa, a Palavra de Deus ocupa algum lugar? Quanto tempo faz que você não vira a página da sua bíblia, que fica aberta sempre no mesmo salmo? A Palavra de Deus, mais do que enfeitar o ambiente de nossa casa, deve ser lida, meditada, rezada, ruminada e compreendida, para que ela encontre espaço em nossa história. Além de ter a bíblia no seu smartphone, você deve se lembrar de abrir o aplicativo, na mesma proporção que se lembra de abrir outros aplicativos, como o whatsapp. A Palavra de Deus deve ocupar um local em nossa vida. Devemos nos deixar ser formados pelos ensinamentos de Deus, uma sabedoria que desde a história da criação humana vem orientando a humanidade e também pode nos orientar nos dias de hoje, se assim permitirmos.
Na primeira leitura do Livro da Sabedoria (Sb 9, 13-18b) nós estamos no século I antes de Cristo, o povo de Israel estava sendo influenciado por idolatrias, imoralidades e doutrinas contrárias à fé verdadeira de Israel. Os sábios, ou seja, os mais velhos, se reuniram e começaram a recordar os ensinamentos e a ação de Deus ao longo da história, e assim escreveram o Livro da Sabedoria, que na leitura de hoje nos pede para não deixar que a sabedoria dos homens ocupe o lugar da sabedoria de Deus. Influenciados pela filosofia grega, o povo estava se perdendo do caminho do Senhor, e se há 21 séculos já estavam se perdendo, imagina hoje, com a evolução da filosofia, da tecnologia, com a globalização e tantas outras coisas. Como está o nosso povo? Como está o seu coração? Será que você se deixa conduzir pela sabedoria de Deus ou somente pela sabedoria dos homens?
Nas universidades está na moda dizer que alguém é agnóstico - que é uma filosofia que diz que não se pode provar ou negar a existência de Deus, é quase um Relativismo, pois para não dizer que é ateu, usa-se uma palavra mais branda, “agnóstico”, e ainda dizem que quem tem fé, não tem inteligência. Peço aos professores que ajudem os alunos a refletir e compreender a importância da sabedoria. Jesus diz no Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A Igreja não é contra a ciência, a razão e a sabedoria. A Igreja é contra a hipocrisia de algumas pessoas, que acabam colocando ideologias e filosofias que não correspondem à verdade dos fatos. Mas não podemos cair no outro Extremismo, Fundamentalismo ou no Fideísmo, que é outra corrente filosófica e religiosa que diz que a fé responde a tudo.
Devemos caminhar com a fé e a razão juntas. A fé dando respostas que a razão e a ciência não são capazes de dar, e a ciência ajudando a dar respostas que a fé não é capaz de dar. Assim, caminhando fé e razão como duas asas, como dizia São João Paulo II, nós chegaremos ao conhecimento da verdade. Por isso, peço aos professores aqui presentes que quando forem ensinar uma doutrina, uma filosofia ou um conceito, que apresente-o totalmente, e não apenas uma parte, uma visão unilateral como alguns fazem, principalmente sobre a história cristã ocidental. Peço aos alunos que possam contrariar e responder quando falarem mal da nossa fé, questionem os professores e suas doutrinas, pergunte sobre a origem e fonte daquelas ideias. O professor tem a obrigação moral de responder, pois a ideia não é dele, ele está repassando ideias que não lhe pertencem, é seu direito como aluno saber a verdade.
Verdade que nos possibilita compreender que, se não formos capazes de abandonar algumas coisas, não poderemos seguir verdadeiramente Jesus Cristo Nosso Senhor. No Evangelho de hoje (Lc 14, 25-33) nós temos uma multidão que acompanhava Jesus. O evangelista não diz que O seguiam ou que se comprometiam com Ele. Jesus olha para aquela multidão e diz que quem não for capaz de deixar pai e mãe para segui-Lo; quem não for capaz de renunciar a si mesmo e assumir sua cruz; quem não for capaz de renunciar aos seus bens, não é digno Dele. Jesus não quer que abandonemos nossa família e nossos bens e sim que devemos renunciar aquilo que nos impede de segui-Lo livremente. Se os seus bens, casa e carro são mais importantes que Jesus na sua vida, renuncie a isto. Se a sua saúde e bem-estar são mais importantes do que viver o Evangelho da Salvação, renuncie a isto. Se seu telefone e conta no facebook são mais importantes, renuncie a eles. Na história temos exemplos de homens e mulheres que só conseguiram alcançar a liberdade, e alguns a santidade, quando se desfizeram daquilo que lhes atrapalhava. São Francisco é o mais conhecido deles, enquanto ele não abdicou da sua herança ele não alcançou a sua liberdade espiritual. O que precisamos abandonar, hoje, para alcançar a liberdade espiritual e viver o projeto de Deus? Todos nós temos algo que deve ser abandonado e renunciado para podermos seguir Jesus Cristo verdadeiramente, sejam pessoas, sejam bens, filosofias ou ideologias.
Assim devemos compreender como Paulo, que na segunda leitura de hoje (Fm 9b-10.12-17) roga por um escravo, e Paulo mesmo de dentro da prisão não se limita, ele continua anunciando a Palavra do Senhor a um escravo, e assim gera um novo cristão. O que podemos nos perguntar é: em nossa vida temos gerado alguém para Cristo? Você gerou os seus filhos para Cristo? O seu matrimônio é gerado para Cristo? Você tem gerado os seus amigos para Cristo? Temos que nos perguntar quantas pessoas geramos para Cristo, porque a nossa missão é evangelizar, e Paulo escreve uma carta repleta de sentimento e amor a um escravo, se colocando em pé de igualdade com este, enviando esta carta após sua liberdade, e pedindo que o dono possa acolher este escravo como se fosse o próprio Paulo, ou seja, considerando-o como um irmão, e assim acolhendo o próprio Cristo Jesus. Quantas vezes nós desistimos de gerar pessoas para Cristo Jesus. Desistimos de pessoas de nossa família que abandonaram a fé, pessoas que conhecemos ao longo de nossa vida e que não tem fé. Não somos capazes de pronunciar palavras que encantem o coração dessas pessoas, pela fé que professamos. Pessoas escravas, abandonadas, sozinhas e que muitas vezes não damos carinho e atenção porque não nos sentimos igual a elas, nos sentimos superiores.
Que a Palavra de Deus, hoje, nos ajude a compreender que o Senhor é o nosso refúgio (Salmo Responsorial / 89(90)), Ele é o nosso sustento, é Ele que nos orienta, nos ampara, Ele que nos guia, Ele que é a sabedoria verdadeira. Que possamos deixar a nossa consciência e nossa inteligência serem formadas pela Palavra de Deus em nossa história. Que possamos renunciar e abandonar tudo que nos impede de seguir Jesus livremente, para que na liberdade de filhos de Deus possamos nos comprometer com os valores do Santo Evangelho. Nas idas e vindas de nossa história, que sejamos capazes de anunciar e testemunhar o amor que Deus tem por nós, a exemplo de Paulo. Que na liberdade que nos encontramos, porque nenhum de nós está preso, possamos anunciar o amor, a misericórdia e a justiça e assim, resgatarmos a dignidade humana e espiritual, física e social dos nossos irmãos e irmãs. Que Santa Teresinha, nossa padroeira, que sempre buscou refúgio no Senhor, nos ensine o caminho da verdade, do amor e da salvação.
Homilia Pe. Tiago Silva – 23º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 04/09/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Sejamos humildes e não nos influenciemos por aquilo que não é de Deus!
28/08/2016
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos. Especialmente aqueles que serão batizados e também as nossas crianças da catequese, junto com os seus pais. Deus abençoe vocês, papais e mamães, que vieram acompanhar os seus filhos nesta Santa Eucaristia.
Nós estamos celebrando o mês de agosto, o mês dedicado às vocações. Na primeira semana, falamos das vocações ordenadas: dos diáconos, padres e bispos. Na segunda, falamos sobre a vocação familiar, que é a vocação matrimonial. Na semana passada, na Assunção de Nossa Senhora, falamos sobre a vocação religiosa, de homens e mulheres que se consagram a Deus através do carisma. E hoje, falamos sobre as vocações leigas: todos os homens e mulheres que se comprometem com o Evangelho da Salvação, se envolvem em uma comunidade de fé e dão rosto, nome e história a esta Igreja que frequentam. Por isso, queremos agradecer a todos os leigos que se envolveram em nossa paróquia de Santa Teresinha. A todos os homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos que estão envolvidos nas pastorais, procurando construir e edificar o Reino de Deus nesta paróquia de Santa Teresinha. Uma atenção carinhosa para os catequistas que, na Igreja do Brasil, há algum tempo já são recordados, neste dia. Mas hoje não é só o dia dos catequistas. É também o dia de todos os batizados envolvidos na comunidade de fé. Contudo, fica aqui o nosso carinho e agradecimento aos catequistas do batismo, que ensinam e apresentam o sacramento aos pais e aos padrinhos. Aos catequistas da pré-catequese, da Primeira Eucaristia, do Crisma, da catequese de adultos. Deus abençoe todos os catequistas de nossa comunidade!
A Palavra de Deus nos convida a meditar sobre a nossa humildade e a enfrentar os desafios que a história nos apresenta à luz daquilo que a nossa religião nos prega e do que nossos pais e avós nos ensinam, das tradições que trazemos de casa. E a sermos humildes para podermos entrar no banquete do Reino. Através desta humildade e do fato de praticar aquilo que a religião nos ensina, poderemos enfrentar todos os desafios que cada momento vai nos apresentar, ao longo da vida. Com estas virtudes, iremos superar tudo isso.
Falemos sobre a Primeira Leitura, do livro do Eclesiástico [Eclo 3, 19-21. 30-31], também conhecido como o livro de Ben Sirá. Nós estamos no século II a.C. e o povo daquela época via os jovens se desviando do caminho de Deus, influenciados pelas filosofias gregas helenísticas e por muitas tradições religiosas e culturais que não eram de suas famílias nem de seus antepassados. Então, um jovem chamado Jesus Ben Sirá vai se tornar uma espécie de profeta – não como Jeremias, Zacarias ou Isaías, mas um profeta mais tranquilo – que vai alertar o povo para que ele não desvie de sua fé. Sabe o que motiva Jesus Ben Sirá a escrever este livro? Que os jovens estavam fazendo coisas que não eram de Deus. Inclusive os filhos dos sacerdotes e dos escribas. Então o jovem fica escandalizado e escreve a leitura de hoje, onde ele diz: “Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso”.
Aqui, Jesus Ben Sirá está dizendo para o jovem realizar os seus trabalhos com tranquilidade. Não adianta chorar, se revoltar contra o pai e a mãe, contra a religião, porque no final nós seremos recompensados por Deus. Todos nós, por vezes, já nos revoltamos em situações do dia-a-dia. Sendo assim, a leitura de hoje é muito atual: devemos executar aquilo que os demais nos pedem com mansidão, com tranquilidade. E continua: “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade e assim encontrarás graça diante do Senhor”. Ou seja, conforme vamos crescendo, devemos também crescer em humildade. E não é o que acontece frequentemente, porque muitos vão crescendo e perdendo a humildade. Vão deixando de respeitar pai e mãe e de ser mais humildes. Acham que sabem tudo e que têm a resposta para todas as questões do universo. Portanto, não se tornem iguais a alguns adultos que acham que podem saber tudo ou resolver todos os problemas, que se sentem os melhores da história. É na vida de comunidade, na partilha do que temos e somos que nós descobrimos o caminho para superar as nossas dificuldades. Queremos ser grandes diante das pessoas? Queremos ser importantes? Pratiquemos a humildade e a obediência. E, como Jesus Ben Sirá nos diz: “não abandonemos a religião dos nossos pais”. Nunca tenham medo de professar que sua religião é a Católica e seu Salvador é Jesus Cristo!
A humildade vai ser importante para entendermos melhor o Evangelho de hoje, de Lucas [Lc 14, 1.7-14], que se passa quando Jesus está voltando para Jerusalém para sofrer o sacrifício de cruz. Como Jesus já havia se tornado famoso, um chefe dos fariseus o chamou para almoçar, para fazer um grande banquete. E este chefe dos fariseus, para tornar o evento ainda mais importante, chama seus principais amigos, pessoas de influência, para este banquete. E quando estas pessoas chegam, o que fazem? Vão procurar os primeiros lugares para sentarem-se. Para quê? Para se aparecerem para Jesus e para se aparecerem uns para os outros. Então Jesus vai dizer que é melhor que você se sente no último banco para que você seja convidado a sentar nos primeiros do que alguém dizer para você “desculpe, mas este lugar está ocupado e você não pode sentar-se aí”. Senão, a gente corre o risco de passar vergonha e então a humildade do nosso coração vai desaparecendo.
É claro que isto não serve para a missa. Semana que vem não quero todo mundo sentado lá no fundo! Para a missa, quanto mais perto do altar, melhor. Mas o contexto aqui é sobre as pessoas que querem aparecer, que se utilizam de alguns momentos para se aparecerem para os demais. Agora, que faz uma semana que começaram as corridas para as eleições, há pessoas que estão querendo aparecer em todas as fotos. Há alguns políticos que não possuíam nenhuma relação com a religião e, de repente, se converteram e começam a tirar fotos com os padres, com o bispo, a participarem de algumas missas. É a mesma coisa: a pessoa está se aproveitando de alguns momentos para se aparecer para os demais. Inclusive, nas próximas semanas eu falarei um pouco sobre a nossa consciência política. Teremos um mês para refletir sobre isso.
Não podemos ir aos lugares para se aparecer. Nós devemos ir para ser. Levar nossa fé, nossos valores, o que temos e o que somos e nunca nos esquecermos dos pobres, dos doentes, dos indefesos, que é o que Jesus vai dizer no Evangelho de hoje. Porque, para entrar no Reino dos Céus, nós devemos ser humildes como Jesus. Há uma oração na Igreja que rezamos sempre: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei do nosso coração semelhante ao vosso”. Buscar um coração humilde e semelhante ao de Cristo. Não fiquem com o coração arrogante, não sejam adultos chatos. Porque é na humildade e na mansidão que iremos compreender a Segunda Leitura de hoje [Hb 12,18-19.22-24a], na qual São Paulo escreve à comunidade de Hebreus, que havia acabado de se converter. Porém, passados 1 ou 2 anos a comunidade cai em marasmo e começam a pensar assim: “a gente vai lá no domingo, reflete a palavra de Deus, partilha os alimentos, partilha da Santa Eucaristia, e está tudo certo, tudo muito bom”. Hoje, há católicos que se converteram e vêm apenas na missa de domingo e acham que está tudo muito bom. Porém, não notam que sua vida cristã está em marasmo. Há casais que se casaram, alguns há pouco tempo e outros há mais tempo, e acham que tudo está muito bom pois estão empregados, jantam à noite, saem e vão à missa no final de semana. Mas a família está entrando em marasmo. Sempre a mesma coisa. Não existe renovação. E quando nós não nos renovamos, nós vamos nos desanimando e acreditando que tudo está muito, muito bom. Daí nas primeiras dificuldades, nós abandonamos a nossa fé, a nossa família e as nossas responsabilidades.
Por isso, São Paulo vai dizer assim: “Irmãos, não vos aproximastes de uma realidade palpável: fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, som da trombeta e voz poderosa”. E o que ele quer dizer com isto? Que os cristãos vão sofrer perseguições e dificuldades. Um pouco mais para frente, alguns anos depois, eles vão sofrer o assassinato de cruz, como Jesus, por causa do Evangelho. Portanto, São Paulo já alerta: se eles não forem fieis a sua fé, se eles não provarem constantemente a sua fé, no momento de dificuldade irão abandonar o barco. E quantas pessoas abandonam a sua fé nas dificuldades! Quantas pessoas abandonam a sua família nas dificuldades! Quantas pessoas pulam do barco antes dele afundar, desistindo da sua missão! Portanto, devemos renovar sempre, constantemente, a nossa missão, a nossa fé, o nosso compromisso com o Evangelho. Assim como vocês devem renovar sempre as obrigações dentro de casa. Devem renovar sempre o empenho de ir para a escola, de se preparar para o mundo, para o mercado de trabalho. Também renovar sempre o carinho e o amor para com os pais.
Peçamos a Deus, nesta celebração Eucarística, que possamos resgatar as nossas tradições religiosas e não nos deixemos influenciar por aquilo que não é de Deus. Peçamos a Deus que tenhamos um coração humilde e, renovando sempre a nossa fé, possamos superar todos os desafios da nossa vida.
Homilia: Pe. Tiago Silva - 22º Domingo do Tempo Comum (Ano C) - 28/08/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Senhor, dai-me um coração semelhante ao coração de Maria!
21/08/2016
Nós estamos celebrando a festa da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. O Círio aceso e o turíbulo (que é aquilo que solta uma fumacinha) simbolizam a Solenidade que estamos celebrando. O incenso é nossa prece que sobe ao coração de Deus e é usado em uma celebração ainda mais especial do que a que estamos acostumados todos os domingos. Porque a festa da Assunção de Nossa Senhora é muito antiga, que deriva da devoção dos primeiros cristãos em colocar Maria Santíssima como modelo dos cristãos, modelo de serviço, modelo de disponibilidade. Hoje celebramos, também, a vocação religiosa, lembrando de todos os homens e mulheres que se consagram a Deus com o carisma específico de ajudar as crianças, os doentes, os imigrantes; de ajudar na educação, nos meios de comunicação, nas escolas. Quantos religiosos e religiosas se consagram a Deus para transformar a humanidade segundo a imagem de Deus, nosso Pai...
Assim, lembramos também o Padre Jorge, nos seus 50 anos de vida sacerdotal, dos quais dedicou 14 anos a esta paróquia de Santa Teresinha. Louvamos e agradecemos a Deus pelos 50 anos de vida dedicados à Igreja! E não podemos deixar que a sua memória se perca. Eu e você, todos nós, somos responsáveis por manter viva, manter acesa a chama da memória deste homem que dedicou 14 anos da sua vida a esta igreja e a todos os paroquianos que aqui frequentam esta comunidade. Ali [no altar], nós temos a imagem de Nossa Senhora que é padroeira da Polônia e o Padre Jorge era muito devoto, é a "Nossa Senhora Aparecida" da Polônia. E colocamos a imagem ali, em destaque, pela Assunção de Nossa Senhora e para recordar o nosso querido Padre Jorge.
Sobre a festa da Assunção, que deriva dos primeiros cristãos, a tradição diz que Nossa Senhora dormiu e foi elevada pelos anjos até Deus, por isso era conhecida como a festa da Dormição de Nossa Senhora. Mas no dia 1º de novembro de 1950, a Igreja proclamou o 5º dogma sobre Maria, o dogma da Assunção de Nossa Senhora, no qual nós acreditamos que ela foi elevada, assunta aos céus para a direita de Deus - como cantamos no Salmo Responsorial de hoje, o Salmo 44 -, coroada como rainha da humanidade e modelo para todos nós, cristãos. A festa por excelência de Nossa Senhora da Assunção é no dia 15 de agosto, mas por ser uma festa tão importante os bispos do Brasil resolveram colocá-la em um domingo depois do dia 15, para que todos os cristãos católicos pudessem participar desta festa, pois, para nós, a devoção à Nossa Senhora não é opcional. Não pode ter um católico que não tenha devoção à Nossa Senhora - aí você professa sua fé em outra religião, não na Igreja Católica -, mas também não pode virar excesso. Não é "adoração" à Nossa Senhora, quem salva é Jesus. Nossa Senhora apenas aponta o caminho, é uma medianeira, intercessora; ela, diante de Deus, apresenta as nossa necessidades.
E é desde os primeiros cristãos que se vê, na figura de Maria, esse modelo de disponibilidade, de amor e serviço; ela, que com cerca de 13 ou 14 anos se colocou à disposição de Deus - "Faça-se em mim segundo a tua palavra" [Lc 1, 38]. Será que nós rezamos deste modo: "Faça, Senhor, segundo a Vossa Palavra, segundo a Vossa vontade"? Porque, muitas vezes, rezamos, mas para que seja feita a nossa vontade, não a vontade de Deus, e é importante lembrarmos disso. A vontade de Deus foi que Nossa Senhora fosse a mãe do Salvador, e mesmo sendo a mãe do Salvador, recebendo a mensagem do anjo, ela parte apressadamente a uma região montanhosa, caminhando mais de 100 km para ajudar sua prima Isabel, que estava grávida em idade avançada. Ela se coloca a ajudar quem necessita, e nós, que muitas vezes temos um cargo ou uma situação financeira um pouco melhor, não temos coragem de ajudar quem passa necessidade. Maria é modelo de disponibilidade, porque não ficou se questionando o que fazer ou não fazer: a prima precisou e ela foi ajudar. Às vezes temos vizinhos passando necessidade - e não digo financeira, mas necessidade de carinho, de um abraço, de um olhar, de um pouco de atenção - e nós não fazemos nada. Temos pessoas, muitas vezes na nossa família, passando carências e nós não nos colocamos, como Maria, a serviço, disponíveis para ajudar e praticar o Evangelho da Salvação.
Você que é devoto de Nossa Senhora - e rogo a Deus que todos o sejam - já rezou sobre o quanto você se parece com Maria? Se colocarmos Nossa Senhora e você, em que você se assemelha à ela? Você, que reza a Ave Maria todos os dias, já pediu a Deus para ter um coração parecido com o coração de Maria? Você, que reza cinco rosários por dia, já meditou nesses cinco rosários o que você precisa converter em seu coração e, a cada meditação, pediu "Senhor, dai-me um coração semelhante ao Vosso, dai-me um coração semelhante ao coração de Maria"?
Os primeiros cristãos viram, na leitura do livro do Apocalipse, a figura de Maria; ela, que é o primeiro Tabernáculo, a primeira cristã, que carregou primeiro Jesus em seu colo, em seu ventre. E diz a Palavra de Deus: "Abriu-se o Templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a arca da Aliança" [Ap 11,19a; 12,1.3-6a. 10ab]. Maria é comparada à arca da Aliança, onde estavam os dez mandamentos, que caminhavam com o povo no deserto em busca da Terra prometida. Maria carrega em seu ventre Jesus, que nos leva à Jerusalém Celeste; Jesus, que abre as portas do céu. O que é que nós trazemos no nosso coração? Maria trazia o seu filho Jesus e a vontade de servir a Deus; o que é que nós trazemos?
Não bastava a boa vontade, era necessário lutar contra as forças do mal, e o autor do livro do Apocalipse [São João] diz que um dragão estava à espreita para devorar a criança que deveria nascer de uma mulher. Essa mulher é identificada pelos primeiros cristãos como Maria; essa criança, como Jesus, que Maria e José defenderam com a sua vida, com a sua fé, com as suas atitudes. E também nós devemos lutar contra os novos dragões que desejam devorar as nossas crianças pelas ideologias e conceitos que vão tirando a pureza, a simplicidade e o amor das nossas criancinhas. Cuidado com os novos dragões! Você que deixa a televisão ligada em qualquer canal para os seus filhos: cuidado com os dragões que ali estão, moldando e configurando o pensamento das nossas crianças! Mas também não vai proibir... Não seja fundamentalista, coloque em um canal que a criança possa assistir - e hoje têm tantas coisas que se pode assistir. E o computador? Tem pai e mãe que deixa lá a criança sozinha; dali a pouco, vai ver e a criança está vendo o que não deve... São os demônios devorando as nossas crianças! Na escola, onde tem gente parada na porta oferecendo drogas, são os demônios tirando os nossos jovens do caminho da salvação. Você, casado, que na sua empresa falam-se tantas coisas... Uma das coisas que mais se falam é sobre a vida desregrada dos casais, em que se ouvem tantas coisas, como traições etc. São os dragões tentando devorar o seu matrimônio, tome cuidado com isso! Lute como Maria, lute como José!
Nós temos muitos perigos em nossa vida para vencer. São Paulo diz que "o último inimigo a ser destruído é a morte" [1Cor 15, 20-27a]. Até chegarmos ao último, temos muitos inimigos para serem vencidos. Quantos inimigos nós temos? Quantas situações difíceis em nossa vida? Mas não podemos desistir, porque, ao final, como Maria, queremos receber a coroa da justiça. Os primeiros cristãos identificam em Jesus o novo Adão: se por um homem o pecado entrou no mundo e desviou a humanidade do seu caminho de salvação, foi por um homem, Jesus Cristo, nosso Senhor, no qual todos nós professamos a nossa fé, que fomos libertos do pecado, libertos da corrupção, e por isso devemos lutar contra todo e qualquer tipo de pensamento e atitude que não correspondam à vida de um fiel, de um crente e um devoto de Nossa Senhora. É a mesma comunidade que identifica em Maria a nova Eva: se por uma mulher o pecado entrou no mundo, também é por uma mulher que a salvação alcança a humanidade.
Maria, o Tabernáculo vivo da história, traz ao mundo Jesus Cristo, o nosso Deus e nosso Salvador, e é pelo seu sangue derramado do alto do calvário que eu e você fomos salvos. Não podemos nos deixar ser devorados pelos demônios pós-modernos, os pensamentos e atitudes que nos afastam de Deus. Ao celebrarmos essa Eucaristia, peçamos ao Senhor que possamos sempre nos colocar à disposição de Deus. Faça-se em mim, Senhor, segundo a Vossa vontade; faça-se em mim, Senhor, no meu matrimônio, na minha família, no meu trabalho, no meu futuro, nos meus sonhos, nas minhas esperanças... Faz do meu coração, Senhor, um Tabernáculo vivo, para portar os ensinamentos do Seu filho Jesus Cristo, Nosso Senhor. Ajudai-me, Senhor, como ajudastes Maria, a superar todos os obstáculos da minha vida, para que o último inimigo, a morte, ao ser vencido, possa nos levar diretamente à Jerusalém celeste!
Homilia: Pe. Tiago Silva - Assunção de Nossa Senhora (Ano C) - 21/08/2016 (Domingo, missa das 10h).

Com os olhos fixos no Senhor, denunciar as injustiças e purificar o nosso coração
14/08/2016
Nós estamos celebrando o Mês Vocacional, celebrando hoje o domingo dedicado às famílias, no qual a Sagrada Família de Nazaré é o nosso modelo. Na Liturgia de hoje, a Igreja nos convida a sermos perseverantes na missão que Deus nos concede; convida-nos a purificar o nosso coração e a mantermos os olhos fixos em Jesus Cristo, nosso Senhor, mesmo diante das situações mais inusitadas e difíceis da nossa história.
Na primeira leitura – no livro do profeta Jeremias, capítulo 38 [Jr 38, 4-6. 8-10] –, nós estamos no séc. IV a. C. Não muito diferente do tempo presente, no tempo passado um certo rei, de nome Sedecias, que já continuou a bagunça de seu pai [Josias], começou a se utilizar do seu poder para manipular as pessoas e, até mesmo, a religião. Diante dessa situação, contrária à vontade de Deus, surge o profeta Jeremias, que começa a denunciar as coisas erradas. E aí, como costumam fazer ainda hoje com quem denuncia as coisas erradas, pegaram Jeremias, jogaram-no num poço e ele ficou até o pescoço com lama; e foi jogado ali para morrer. Mas eis que Deus, mediante a oração do profeta, envia um eunuco (um escravo) para salvá-lo. Aqui vale a pena entendermos a resposta do Salmo 39, quando cantamos "Socorrei-me, ó Senhor, vinde logo em meu auxílio". Normalmente (nem sempre, mas normalmente), o Salmo é uma resposta à primeira leitura, e o salmista, assim como Jeremias, compreende que Deus é o nosso socorro e o nosso refúgio.
Desse modo, nós compreendemos, no tempo de hoje, que, diante das situações erradas que nós vemos, nós não podemos nos calar. Diante das situações contrárias ao projeto de Deus, nós devemos falar a favor daquilo que é certo, mesmo que por isso nós sejamos recriminados. Um pai não pode ver a sua família fazendo coisas erradas e ficar quieto, tampouco a mãe; ao contrário, devem falar o que está acontecendo.
Diante das situações difíceis da nossa vida, Deus envia anjos para nos ajudar. Na minha vida, quantos anjos já não passaram, ajudando-me a superar os momentos de dificuldade, de pecado, de queda... Nos momentos em que eu estava lá no fundo do poço, apareceram anjos enviados por Deus. Nosso socorro, meus irmãos e minhas irmãs, é Jesus! É Deus o nosso Salvador! Quando você passa por momentos de dificuldade, quando você está na lama, a quem você recorre: a Deus ou ao bar, ao álcool? Quando você está com problemas, você recorre a Deus ou ao tarô, às cartas? Como se elas fossem mágicas... Católico não acredita nisso. Quem é o nosso Salvador? Jesus é o nosso Salvador! É a Ele que nós devemos recorrer! É Nele que nós devemos buscar refúgio! É Nele que nós temos que encontrar a nossa fortaleza! E, constantemente, Deus está a enviar anjos para nos ajudar, para nos retirar da lama.
Nós, filhos, quantas vezes os nossos pais não nos tiraram da lama? Quantas vezes os nossos pais não nos livraram de problemas? E, muitas vezes, nós somos mal agradecidos... Para os casais, quantas vezes a tua esposa te tirou da lama? E você talvez nem agradeceu a ela... Quantas vezes o teu esposo te tirou da lama e você não agradeceu a ele? Ele é um anjo na tua vida! Portanto, valorize a tua família; coloque como prioridade, depois de Deus, a tua família. A família deve ser nossos verdadeiros anjos, guardiões, protetores, mensageiros de Deus dentro de nossa casa.
Você que se sente na lama, você que se sente sozinho, peça a Deus que envie anjos sobre você. Deus envia! Como enviou na minha e na vida de tantas pessoas aqui presentes, Ele está enviando seus anjos constantemente. Mas é necessário que você estenda as mãos. Porque quando Jeremias estava lá no fundo daquele poço, se não tivesse estendido suas mãos ele não poderia ter sido retirado. Quantas pessoas estão no fundo do poço, no meio da lama, mas não estendem a sua mão... Quantas pessoas querendo sair da dependência, dos problemas familiares, dos problemas financeiros, mas não são capazes de estender a mão e deixar Deus ou os seus anjos ajudarem. Deixe a sua autossuficiência de lado! Estenda suas mãos e deixe o Senhor lhe resgatar do fundo do poço! E caso você não esteja hoje nesse fundo, no dia em que estiver não se esqueça: Deus é o nosso Salvador! Quando Ele se apresentar, estenda suas mãos, agarre forte nas mãos do Senhor e deixe-O ajudar a purificar a sua vida, todas as suas necessidades físicas, espirituais e temporais.
Assim nós entendemos o Evangelho de hoje – de Lucas, capítulo 12 (Lc 12, 49-53) –, onde há um dos trechos mais difíceis de serem explicados. Porque o padre fica o ano inteiro dizendo: "Jesus é amoroso; Jesus é compassivo; Jesus perdoa", aí vem Jesus hoje e diz: "Eu vim lançar fogo sobre a Terra; eu vim causar a divisão; na família de cinco, três ficarão contra dois e dois contra três; o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a nora contra a sogra e a sogra contra a nora". O que o padre vai falar agora? O que o padre vai dizer...? O único jeito de explicar é entendendo o contexto.
Jesus vai para Jerusalém e prega a Palavra de Deus. Depois, retira-se com seus discípulos nas cidades, aldeias e povoados, e vai fazendo o giro. Agora, Jesus está voltando para Jerusalém, onde vai dar a vida para a nossa salvação. E é justamente ao se aproximar de Jerusalém que Jesus diz essas palavras de hoje, porque Ele sabe que, ao entrar em Jerusalém, vai causar divisão. Aquele povo que disse "Hosana ao Filho de Davi!" será o mesmo povo que, depois, vai dizer "Crucifica-o! Crucifica-o!" e que, ao ser perguntado: "Querem soltar Jesus ou Barrabás?", responderá: "Barrabás!", quando o pecado vai causar a divisão e haverá um grande tumulto na cidade de Jerusalém. E aí Jesus diz que vem lançar o fogo. Por quê? Porque o fogo purifica; porque o fogo, na linguagem bíblica, é aquilo que retira as impurezas do nosso coração, dos nossos pensamentos e das nossas atitudes. E quantas pessoas precisam do fogo de Jesus... Quantas famílias precisam do fogo purificador de nosso Senhor Jesus Cristo... Quantos corações empedrados precisam desse fogo purificador. Quantos casais, no seu matrimônio, precisam desse fogo purificador para reencontrar a alegria do casamento. Quantos filhos que abandonaram seus pais precisam desse fogo purificador para restaurar a sua família, restaurar o seu relacionamento com Deus, restaurar o seu relacionamento com o seu pai, com a sua mãe. É esta a linguagem bíblica, na qual o fogo de nosso Senhor deseja purificar a nossa vida.
Você está se deixando purificar pelo fogo do Senhor? No seu matrimônio, você tem pedido a Deus que purifique os seus sentimentos – você que está magoado com a pessoa amada? Na sua família, onde nós temos tantas dificuldades, muitas vezes de relacionamento, sobretudo de perdão e de diálogo, você pede a Deus que purifique o seu coração? É o fogo de Jesus que deseja nos purificar, nos trazer a felicidade e nos direcionar à salvação eterna.
E nesse caminho de salvação eterna, às vezes nos encontraremos sozinhos, às vezes nos encontraremos perdidos, às vezes nos encontraremos com medo. Mas o autor da carta aos Hebreus – da segunda leitura de hoje (Hb 12,1-4) – nos pede para mantermos os olhos fixos em Jesus Cristo, nosso Senhor. Estamos no contexto do primeiro século depois da ressurreição de Cristo, onde os cristãos que professavam a sua fé eram jogados aos leões para entreter a plateia que esperava os gladiadores nas arenas romanas. Estamos no contexto quando, antes dos gladiadores lutarem, ficavam assassinando os cristãos por causa da sua fé; botavam fogo nos cristãos porque acreditavam em nosso Senhor Jesus Cristo. E, por isso, o autor nos pede nessa leitura: "Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé"; manter os olhos fixos em Jesus e permanecer com perseverança.
Hoje, muitos ainda se sentem sozinhos; sozinhos dentro de casa, sozinhos dentro do seu relacionamento matrimonial, sozinhos, talvez, dentro do mercado de trabalho. Sozinhos e perdidos nesta sociedade em que nos encontramos, em que, muitas vezes, somos chacota para as pessoas. E, diante da nossa solitude, para quem nós devemos olhar? Para Jesus! Devemos manter os nossos olhos fixos no Senhor, porque com Ele nós combateremos o bom combate, com Ele nós completaremos a corrida, com Ele nós receberemos a coroa da justiça. Você que se sente sozinho, você não está sozinho: Deus está com você! Olhe para Ele. Por mais que a situação pareça difícil, o Senhor está ao seu lado! Por isso, não desista do Senhor. Não desista da sua família. Não desista dos seus filhos. Não desista do seu matrimônio. Não desista nunca, jamais, de transformar esta realidade em que nós vivemos.
Que o Espírito Santo de Deus nos ajude, nesta Eucaristia, a reconhecermos nossa missão profética de denunciarmos as injustiças, seja no matrimônio, seja na nossa família, no trabalho ou na sociedade. Que possamos nos deixar ser purificados pelo fogo de nosso Senhor Jesus Cristo, para que as divisões que existem possam ser aniquiladas e purificadas pelo amor do Senhor. E que, diante da nossa solitude, possamos olhar para o Senhor e nos sentirmos abraçados, amparados, guardados e protegidos.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 20º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 14/08/2016 (Domingo de Dia dos Pais, missa das 10h).

Nossa vida deve ser direcionada para Deus!
06/08/2016
Estamos celebrando o 19° domingo do Tempo Comum. No Brasil, temos alguns meses temáticos na Igreja católica, por exemplo: Junho é o mês dedicado ao Dízimo, ao Sagrado Coração de Jesus e ao Sagrado Coração de Maria. Julho é o mês dedicado ao Sangue Precioso de Jesus Cristo e Agosto dedicado às vocações. Em cada domingo do mês temos uma vocação para refletir e rezar.
No primeiro domingo rezamos sobre a Vocação Ordenada, mais conhecida no Brasil como: domingo do Padre. A vocação ordenada é tão importante quanto às demais! Alguns dizem: “Nossa, a Vocação Sacerdotal é a mais importante que tem!” E, não é verdade! A vocação sacerdotal só existe por causa das outras vocações, para o padre se colocar a serviço da comunidade de fé. Por isso que não pode existir um padre sem comunidade, sem prestar um serviço para a paróquia. Por outro lado é verdade... Porque sem o padre não temos a Eucaristia... E a Eucaristia é a coisa mais importante, para nós católicos, porque ali está o corpo e o sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo e, ao comungar deste corpo e deste sangue estamos comungando da nossa salvação.
Mas os padres não fazem somente a consagração e não celebram apenas a missa. Existem outros sacramentos que precisam administrar. Começando pelo Batismo que é a nossa entrada na vida cristã – celebrado pelo padre ou diácono. Depois, a Primeira Eucaristia, também é o padre quem celebra a missa. A Crisma que neste caso é celebrada pelo Bispo - o padre só pode realizá-la se for delegado pelo bispo. Tem também a Unção dos Enfermos, quando alguém está doente deve pedir a presença do padre para que ele dê a Unção – é um óleo que o padre passa na testa e nas mãos de quem está doente. Temos a Confissão, que é o Sacramento da reconciliação, para pedir o perdão dos nossos pecados e o padre está ali para administrar, para oferecer o perdão de Deus. Portanto, o padre age em nome de Deus. Mas, além disso, os padres também vão a hospitais, vão ao cemitério, precisam cuidar das pastorais da paróquia. Então, ser padre é primeiramente se colocar a serviço, deve ser um homem de fé, um homem de oração, um homem que larga tudo para seguir Jesus Cristo Nosso Senhor.
A Liturgia de hoje nos fala de fé, perseverança e vigilância. Devemos ter fé para sermos perseverantes e estarmos sempre vigilantes para ouvir o que Deus tem a nos dizer e assim praticar a sua vontade. Na primeira leitura do livro da Sabedoria [Sb 18, 6-9] - escrito 100 anos antes do nascimento de Jesus - diz a Palavra de Deus que na noite da libertação Deus salvou os justos. É uma referência ao povo que estava escravizado no Egito, a sua libertação foi numa noite em que saíram e foram em direção à terra prometida, atravessando o Mar Vermelho. As tochas acesas, nas mãos daquele povo, são a representação do Deus que ilumina a nossa vida. E são, justamente, essas luzes que a Palavra de Deus no Evangelho de Lucas [Lc 12, 32-48] nos diz que devemos estar sempre com as lâmpadas acesas porque não sabemos o dia e nem a hora que Jesus irá voltar ou que nós iremos partir desse mundo.
Por isso tudo em nossas vidas deve ser direcionado para Deus e hoje a Palavra do Senhor nos diz: “Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Onde está o seu coração? No Pokémon Go? Nas olimpíadas? Nas novelas? Jogar não é pecado, a igreja não diz que jogar é pecado! Pecado é colocar o jogo à frente das obrigações. O que nos diz o Primeiro Mandamento? O primeiro mandamento é “amar a Deus sobre todas as coisas”. O segundo é “amar o próximo como a nós mesmos”. Portanto, quem coloca o jogo à frente de Deus, dos pais, da escola está errado! Eu sei que, quando chegarem em casa, os pais irão usar essa frase... Usem mesmo! Deus em primeiro lugar, depois nossos pais e depois as outras coisas. Onde está o vosso coração? Pais e mães aqui presentes, onde está o seu coração? Está no acúmulo de bens, na sua casa, no seu carro, nas roupas, no salão de beleza ou está em Deus? Pais e mães vocês são os primeiros catequistas! Obrigado por nos deixar fazer parte da sua família, mas a primeira responsabilidade não é nossa, é de vocês! Pais educam mais com as escolhas e com o testemunho do que com palavras. Cuidado você que está viciado na televisão, na internet, no facebook, no whatsapp e seu filho tentando falar contigo e você não dá atenção. Cuidado você que está viciado no trabalho! Chega em casa cansado, seu filho quer te dar um abraço, um beijo, mostrar o dever da escola e você não dá a mínima atenção a ele! Significa dizer que seu coração não está devotamente direcionado para aquilo que é importante. Cuidado com as coisas passageiras é o que a liturgia de hoje quer nos apresentar. São Paulo, semana passada, nos dizia que devemos buscar as coisas do alto! Mas tem gente que se olhar para o alto quebra a nuca, porque está tão viciado no celular que não consegue olhar pra cima!
A segunda leitura de hoje – Leitura da Carta aos Hebreus [Hb 11, 1-2.8-19] -, nos diz para sermos modelos de fé como Abraão e Sarah foram capazes de confiar no amor, na palavra e nos ensinamentos de Deus e por isso tiveram uma grande multiplicação de herdeiros, uma grande multiplicação de testemunho! Você quer ser lembrado pelo quê? Pelos bens que você vai deixar para os seus filhos? Ou pelo amor, pelo carinho, pela dedicação que você ofereceu a eles? Escolha qual é a herança que você quer deixar para os seus filhos! Encontre refúgio no Senhor, venha participar da paróquia de Santa Teresinha e vamos juntos como uma só família educar as crianças no caminho de Deus e juntos construirmos um reino de amor de paz e felicidade.
Homilia - Pe. Tiago Silva – 19º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 06/08/16 (Sábado, Missa das Crianças às 16h).

A vida do homem não consiste na abundância dos seus bens
31/07/2016
Estamos celebrando o 18º domingo do Tempo Comum, e a Palavra de Deus nos ajuda, irmãos e irmãs, a pensar sobre o nosso trabalho, sobre o acúmulo de bens, e até que ponto a vaidade é positiva ou negativa em nossa vida.
E a palavra de Deus, na primeira leitura, no Livro do Eclesiastes [Ecl. 1,2; 2, 21-23], é uma discussão muito difícil entre os biblistas, porque alguns dizem que em nossa vida tudo não passa de vaidade, já outros, dizem que o livro valoriza o trabalho humano. Mas, de todas as explicações que eu já li sobre este livro a que eu mais gosto diz que ele é um incentivo, uma catequese, para que nós saibamos aproveitar a nossa vida. Que não podemos nos deixar levar somente pela vaidade! Porém até certo limite, ela é positiva para nós e para aqueles que nos rodeiam.
“Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”, diz o Livro do Eclesiastes no primeiro versículo. Então, você lê o livro todo, e no último versículo está escrito de novo: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.” O que é que uma parte dos teólogos biblistas diz a respeito dessa Palavra de Deus? Que todo trabalhador, todo aquele que dia após dia, com o fruto do seu trabalho, fruto do seu suor, traz o alimento para dentro de casa, tem direito a um pouco de vaidade. E, até certo limite, essa vaidade é positiva, porque uma pessoa sem vaidade fica relaxada, a pessoa sem um pouco de vaidade vai deixando de pentear os cabelos, de escovar os dentes, passar desodorante, cortar as unhas... Portanto, um pouco de vaidade é bom para a nossa autoestima, e também para os outros que estão ao nosso lado, mas não pode ser exagerada: viver em função da vaidade. A busca pelo narcisismo, estar sempre belo, elegante, gastar 2/3 do salário no salão de beleza; fazer dívidas no cartão de crédito com cosméticos; comprar roupas de marca simplesmente para aparecer para as pessoas; comprar propriedades sem ter como pagar, apenas para ter um status; relógios caros; computadores; o celular, que “sou obrigado”, com a ditadura do modernismo a trocar todos os anos... Pessoas que vivem em função de demonstrar algo para alguém nunca vão encontrar a verdadeira felicidade.
Isto não é uma vaidade positiva, e esta vaidade vai corrompendo nosso relacionamento com nós mesmos, nosso relacionamento com Deus, com a nossa família. O Brasil é um país que tem um dos maiores impostos do mundo, ainda esta semana, ouvi uma reportagem na CBN que dizia: “O Brasil consegue se superar de novo”. Eu pensei: Ô que coisa boa, coisa positiva, mas... Não! São os juros do cartão de crédito e do cheque especial, faz 22 anos que o Brasil não eleva tanto a taxa. Meu Deus do céu, mas todo mês está dizendo que a taxa está se elevando... Então eu entendi... Fazia 22 anos que os juros do cheque especial não cresciam tanto, 315%! E com isso a inadimplência vai crescendo. Por quê? Porque compramos coisas que não podemos pagar! Muitas das vezes para aparecer para os outros. Queremos dar um “status” à nossa família que não é permitido diante da nossa circunstância financeira. E isso vai atrapalhando a nossa convivência familiar, a nossa convivência com as pessoas.
Quantas famílias já foram destruídas porque se comprou algo e depois não se pôde pagar. Quantas famílias, quantos matrimônios corrompidos porque o homem ou a mulher preocupam-se demais em trabalhar, mas não dedicam tempo à sua esposa/marido, aos seus filhos, não dedicam tempo a Deus!
E a vida passa muito rápido, diz o salmista no salmo 89 da liturgia de hoje. Ele que reconhece que Deus é o nosso refúgio: “Pois, mil anos para vós são como ontem,/ qual vigília de uma noite que passou”. A vida passa muito rápido, e às vezes olhamos para trás e dizemos: Meu Deus, já passou tanto tempo assim? E se não aproveitarmos este momento, depois não podemos voltar atrás. Temos que lembrar daquilo que nos é importante e deixarmos de tentar transparecer para as pessoas algo que não somos, e muito menos, algo que não temos em nossa vida.
“Eles passam como o sono da manhã,/ são iguais a erva verde pelos campos: /de manhã ela floresce verdejante,/ mas à tarde é cortada e logo seca”, diz o salmista... Ele usa a expressão “sono da manhã”. E assim é a vida, como queríamos aproveitar esse tempo maior, que as crianças estão conosco, ficar juntinhos, assim como está o casal aqui... Porque depois que se perde não é mais possível ficar juntinhos. Mas quando temos tempo, na maioria dos casos, não o aproveitamos. E por quê? Por causa de vaidade, por causa da nossa arrogância...
E Jesus vai muito além ainda, ele vai dizer no Evangelho de Lucas [Lc 12,13-21], que o acúmulo de bens vai nos afastar de Deus, e de certo modo nos afasta das pessoas que amamos. O contexto da liturgia do Evangelho é que um jovem, muito espertinho, quer que Jesus se faça de juiz da divisão dos bens da herança. Mas veja que contexto engraçado... Não era como hoje, que você tem 5 filhos, os pais partem e a divisão é feita igualmente entre os filhos... Não! No tempo de Jesus, quando os pais faleciam, o primogênito - aquele que nasceu primeiro -, ficava com 2/3 da herança. Os pais tinham 3 casas, o filho mais velho ficava com duas e o mais novo com uma. Então, o mais jovem chegou até Jesus e disse: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”, e Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?”, e ainda acrescentou: “Tomai cuidado contra todo o tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. A vida do homem não consiste na abundância de seus bens!!!
Vemos constantemente pessoas que queriam ficar famosas, e ao conseguirem, pensam: “Meu Deus, como eu era feliz e não sabia, porque hoje eu não posso andar no parque tranquilo, não posso andar com meus filhos”. E começam a cair em depressão... Quantas pessoas já se suicidaram por causa da fama? Quantas e quantas pessoas que tem muitas e muitas propriedades, mas não são felizes. De outro lado pessoas que não têm nada, quase não têm o que comer dentro de casa, e são plenamente felizes e realizadas. Repito: quantas e quantas famílias estão se desestruturando por só se pensar em trabalho, trabalho, trabalho, ter, ter, ter e não se pensa em ser, não se pensa em aproveitar, não se pensa em gozar de cada momento da vida, no momento presente que estamos vivendo com Deus, com a nossa família, com a nossa comunidade, com os nossos filhos. Portanto, repito: a vida do homem não consiste na abundância de seus bens. Por isso, na segunda leitura de hoje - Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses [Cl 3,1-5.9-11] - já é a quarta semana que estamos lendo essa carta -, vai dizer que devemos voltar o nosso olhar para as coisas do alto.
Semana passada São Paulo dizia que devemos morrer com Jesus Cristo para o pecado, e ressurgir com Cristo para uma vida nova. Sepultando o pecado que existe em nosso coração. Ao ressuscitarmos com Cristo devemos olhar, almejar as coisas do alto, onde nada nem ninguém podem retirá-las de nós. Por isso ele vai dizer: “Irmãos, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto”.
Você que pensa demais no trabalho, no acúmulo de bens, você que é muito vaidoso e pensa demais em seu “status” social, ouça as palavras do apóstolo: “Aspirai às coisas celestes e não as coisas terrestres. Fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria”.
Que ao celebrarmos esta Eucaristia, Deus coloque em nosso coração a vaidade serena, capaz de nos tornar pessoas melhores para nós e para as que convivem conosco. Que a avareza se despeça definitivamente do nosso coração para que não depositemos nossa confiança nas coisas terrestres, mas nas coisas celestes, onde os homens não podem retirá-las de nós. E ainda que percamos todos os nossos bens materiais, os nossos bens espirituais permaneçam firmes em nosso coração e em nossa vida!
Homilia - Pe. Tiago Silva – 18º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 31/07/16 (Domingo, missa das 10h).

O cristão deve orar de forma persistente e não-individualista
31/07/2016
Estamos celebrando o 17º domingo do Tempo Comum, meditando sobre a vida pública de Jesus Cristo, Nosso Senhor. E a Igreja nos convida a meditar sobre a nossa oração, sobre a nossa persistência e morte para o pecado, para ressurgirmos com Cristo para uma vida nova. A Primeira Leitura de hoje, do livro do Gênesis [Gn 18, 20-32], que é continuação da Primeira Leitura de domingo passado, onde três homens iam até a tenda de Abraão e ele, junto com sua esposa Sara, lhes deram de comer e de beber, fazendo um grande banquete para que estes homens prosseguissem a viagem. Abraão os acompanha até a cidade de Sodoma, uma cidade que não é bem conhecida pela sua índole e por algumas práticas não muito virtuosas que ali ocorriam. Um detalhe importante é sabermos que as cidades de Sodoma e Gomorra não têm uma explicação racional ou científica. Não se sabe se elas existiram de fato ou se foi uma tradição passada de pai para filho. Especula-se isso porque, na região onde supostamente deveriam estar Sodoma e Gomorra, está o Mar Morto, que se localiza abaixo do nível dos oceanos e que não possui vida nenhuma pela quantidade de sal que ali existe. As pessoas do século X antes de Cristo, olhando aquele mundaréu de água e, ao seu redor, somente areia e mais nada, não conseguiam entender aquela situação e em algum momento surgiu aquela tradição que ali estavam as cidades de Sodoma e Gomorra. Falo isso para recordar o que eu já disse em outras missas: a Bíblia não é um livro histórico, muito menos jornalístico, mas sim teológico. Portanto, é necessário entender o que os catequistas que escreveram a Palavra de Deus queriam dizer com isso.
E, na Palavra de Deus de hoje, nós queremos aprender a oração dialogada com Deus. Porque Abraão se coloca a rezar e faz um diálogo intercedendo não por si, mas por uma cidade que ele nem mesmo conhecia. Muitas vezes nós, católicos, rezamos bastante mas fazemos um monólogo. Porém, nós ouvimos o que Deus tem a nos dizer? A oração não é monólogo, é diálogo! Portanto, eu falo mas depois eu escuto. Você tem ouvido a Deus? É algo difícil. É necessário parar, silenciar e ter uma intimidade com Deus. Tem católico que diz: “Padre, eu rezo 5 terços por dia”. Que maravilha! Mas... o que ficou destes 5 terços na sua vida? Tem católico que reza mas não é capaz de dar um prato de comida para quem está passando necessidade. Do que isto adianta?
“Padre, eu vou na missa todo dia”. Louvado seja Deus! O que a Palavra de Deus daquele dia encontrou de espaço em seu coração? Portanto, não é a quantidade, é a qualidade. Louvado seja Deus você que consegue rezar o terço 5 vezes por dia ou ir na missa todos os dias. Mas Louvado Seja o Senhor, sobretudo, se estas ações conseguem encontrar espaço no seu coração, para que estas orações sejam frutificadas. A oração de Abraão é uma oração de intercessão, de pedido, de súplica pelas cidades de Sodoma e Gomorra, que Deus disse que iria destruir. E Abraão se coloca a interceder por aquelas cidades. “Senhor se houver 50 justos, você os salvará?” Deus responde: “Salvo”. E repetiu sua afirmativa para 45, 30, 15 ou 10 justos.
O que a Palavra de Deus está querendo dizer com isso? Que a ideia de um Deus carrasco ou opressor não é verdadeira. Nós acreditamos em um Deus misericordioso e que crê na conversão do coração humano. E você? Acredita nisto também? Ou você já jogou a todos no inferno? Vamos melhorar a situação: você tem rezado por alguém ou só por você? Porque o individualismo entrou na Igreja Católica e com os movimentos neopentecostais do final da década de 70 para cá, a situação piorou. Trouxeram muita gente para a Igreja mas, por outro lado, as pessoas parecem estar dentro de uma caixa pois as elas não conseguem ver ao seu redor. Pessoas que rezam apenas por si e não oram pela sua família, pelos seus filhos, pelo matrimônio. Não rezam talvez pela sociedade. Aliás, neste momento difícil que a sociedade brasileira está passando, você tem orado pelos nossos políticos? Quando a gente não tem o que fazer, não temos como agir na situação, a gente reza.
Você tem rezado pelo presidente interino do Brasil? Querendo ou não, ele é o nosso representante oficial. O que você pode fazer? Rezar. E nós rezamos, irmãos e irmãs. Nós devemos rezar continuamente. Nosso país está passando uma situação tão difícil e, em vez de reclamar, use as suas palavras para rezar, para dialogar com Deus, para pedir. Você tem rezado pela sua família? Tem marido que desistiu da esposa, tem esposa que desistiu do marido. Há pais que desistiram dos filhos! Imagine que Abraão estava rezando por pessoas que ele nem conhecia e você talvez não reze pela sua casa, pelo seu matrimônio, pelas pessoas que você ama. Você tem orado pelo seu pároco? Você querendo ou não, eu estou aqui. Não tem jeito, só se o bispo mudar. Até lá, tem que rezar para que Deus converta o meu coração naquilo que ainda falta. Portanto, a oração é a condição fundamental para um Filho de Deus. Como cantamos muito bem no Salmo 137: “Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó Senhor”. Você grita por tanta coisa. Talvez um grito silencioso mas, ainda assim, você grita. Mas você tem gritado a Deus? Você tem rezado, tem pedido, suplicado? No Evangelho de Lucas [Lc 11, 1-13], os discípulos pedem a Jesus para que Ele os ensine a rezar e Ele nos ensina a oração do Pai Nosso. E continua com a oração de petição. Na oração do Pai Nosso existem 7 petições. E nessa parábola que Jesus conta, Ele diz que uma pessoa chegou na porta do amigo e ficou batendo, insistentemente. Jesus disse que, quando a pessoa é persistente, mesmo que você não queira levantar à noite, você a atende por conta da persistência. E a nossa oração deve ser assim: persistente.
Você tem persistido por aquilo que você reza? Você tem persistido pelos seus ideais? Você tem persistido no seu matrimônio, na educação dos seus filhos? Você tem persistido para mudar a sociedade brasileira? Ou você desistiu? Se você desistiu, você não é digno de ser chamado de cristão porque o cristão é sempre persistente.
Sabe aquelas coisas que você faz mas só vai entender lá na frente? É assim que nós devemos ser: persistentes. Jesus vai mais além e diz: “se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, imagine o que Deus não pode nos dar; Ele que é bondoso e misericordioso”. Nos dará coisas maravilhosas! Portanto batei e vos será aberto, pedi e recebereis. Assim, botemos nossos joelhos no chão e rezemos. Não uma oração individualista, mas sim uma oração dialogada com Deus. Ele é nosso amigo e está com os ouvidos e coração abertos para ouvir as nossas súplicas.
Mas Deus também quer ver a nossa persistência. E só seremos persistentes o suficiente quando morrermos, como diz São Paulo, escrevendo à comunidade de Colossos [Cl 2, 12-14]. Ali, Paulo fala que devemos morrer com Jesus Cristo para o pecado, a fim de renascermos para uma vida nova. Toda vez que celebro a Eucaristia e professo a fé, estou sepultando minha vida para o pecado e ressurgindo com Cristo para uma vida nova. Que o nosso individualismo e nossa dificuldade em sermos persistentes possam ser enterradas com o nosso pecado para que, ressurgindo com Cristo para uma vida nova, saibamos rezar não apenas por nós, mas pela sociedade, pela Igreja e pelas pessoas que nós amamos, sendo persistentes em nossas orações e em nossas atitudes.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 17º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 24/07/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Como Abraão, sermos mais acolhedores!
17/07/2016
Estamos celebrando o 16° domingo do tempo comum. E a igreja, através da leitura do livro dos Gênesis (Gn 18,1-10a), nos convida a sermos mais acolhedores. Sermos capazes de configurar o nosso trabalho e a nossa oração, com o evangelho de Lucas, cap. 10. E continuando a leitura de Paulo na comunidade de Colossos da semana passada - capitulo primeiro de sua carta -, colocarmos Jesus como centro da nossa vida para que possamos morar na casa do Senhor, como nos diz o Salmo 14 da liturgia de hoje: “Senhor, quem morará em vossa casa?”.
Aqui estamos porque queremos habitar o Santuário do Senhor, queremos participar da Jerusalém Celeste e para isso é necessário convertermos o nosso coração, e o salmo de hoje, nos dá dicas preciosas para este caminho de salvação. “É aquele que caminha sem pecado...” Abandonar o pecado e não ficar cultivando-o, sobretudo aqueles pecadinhos de estimação que muitos vão levando para cima e para baixo, aqui e acolá. Não! Abandonar o pecado deixando-o definitivamente, praticar a justiça fielmente, sermos justos em todos os momentos da nossa vida e não somente quando tem alguém nos observando! “Quem pensa a verdade em seu íntimo”, buscar a verdade que cura, que liberta, que santifica, que edifica, que converte, que constrói, que orienta o nosso coração para a salvação “e não solta em calúnias sua língua”, falando mal dos outros para cima e para baixo. No tempo do salmo eram as línguas, hoje, são os dedos... No Whatsapp, no Facebook, falando mal dos outros. Temos que tomar cuidado com isso! “Que em nada prejudica seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho”. Aqueles que moram em prédio, condomínio, casa geminada, moram com a nora, com a sogra... Cuidado com as brigas que existem em nossos lares, com os vizinhos! E quantas e quantas discussões existem! “Que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honram os que respeitam o Senhor”. Estes, jamais vacilarão, porque vivem segundo a palavra de Deus! Este é um salmo para meditar!
E nessa busca de alcançarmos a santidade e buscarmos a morada eterna junto a Deus, a palavra de Deus revelada em Genesis, cap. 18, nos ensina a sermos acolhedores, um livro escrito no século X a.C., provavelmente no exílio da Babilônia, por catequistas javistas que olharam na história da salvação e reconheceram a acolhida do nosso pai na fé, Abraão, que num local muito quente, provavelmente ao meio-dia, encontra-se com três homens estrangeiros e em vez de fechar a porta acolhe-os. Dá-lhes água porque estavam com sede. Dá-lhes água para lavarem os pés, um costume da sua época. Não contente vai até sua casa e diz para Sara: “Prepara três punhados de farinha fina, para fazer pão para estes homens recuperarem as suas forças.” Não satisfeito manda matar um vitelo gordo para fazer festa com aqueles estrangeiros para que depois possam continuar a sua caminhada. A igreja deseja nos ajudar a refletir: Como nós somos acolhedores? Será que temos acolhido as pessoas indistintamente ou só quando elas podem nos trazer algum tipo de benefício ou status? Qual foi a última vez que você ajudou alguém? Você se lembra? Se você lembra qual foi à última vez, você se lembra do rosto desta pessoa? Porque às vezes ajudamos, mas nem sequer lembramo-nos do rosto. Se você se lembra do rosto você perguntou o nome desta pessoa?
Saber a história dessa pessoa, porque muitos precisam do pão, mas quantas pessoas, mais do que o pão material, precisam do pão do carinho, da atenção, de um abraço, do pão da solidariedade... Recordo-me que no período de estudos, estava em um país e me levaram para visitar um santuário. Estávamos eu, dois padres e um leigo. E uma pessoa estrangeira, refugiada do Norte da África, pediu-nos ajuda. Dois deram dinheiro, quando a pessoa chegou perto de mim, eu perguntei seu nome, não porque eu seja melhor, mas porque naquele período o papa Francisco tinha acabado de ser eleito e em uma das suas primeiras homilias disse: “Você que ajuda as pessoas e ajuda com generosidade, você já perguntou o nome dela alguma vez?” E aquela voz do papa ficou buzinando no meu ouvido e foi aí que perguntei: Qual o seu nome? Ele se assustou e disse o seu nome. Em seguida, perguntei: De onde você veio? E foi aí que começou a contar a sua história... Que seu país estava em guerra, sua família passando fome e ele estava à procura de uma nova oportunidade de vida. Ele tinha deixado a sua mulher e as três filhas em seu país. Estava desesperado procurando emprego e não tinha nem mesmo o que comer! Se eu, somente tivesse lhe dado dinheiro, não saberia da sua história. Poderia até rezar por ele, mas rezar pelo quê?
A partir daquele momento, em minha oração, eu poderia colocar: ele, a sua esposa e as três filhas, o seu país e todos os outros refugiados que eu não conhecia, portanto, muitas vezes, irmãos e irmãs, nós que nos dizemos cristãos, ajudamos, porém não participamos da vida daqueles que são ajudados. Muitas vezes batem em nossa porta, nós pegamos os alimentos, entregamos e batemos a porta, nem sequer olhamos nos olhos da pessoa que foi ajudada com a nossa solidariedade. É necessário humanizar também a nossa partilha. Abraão e Sara partilham a sua história. Em cada missa, no altar do Santo Sacrifício partilhamos o pão, partilhamos a palavra, mas partilhamos também a nossa vida. E é esta mesa, que comungamos no altar do Santo Sacrifício, que deve ser levada para fora, para dentro dos nossos lares, para os nossos relacionamentos de amizade, para o nosso trabalho. É deste modo que iremos construir um mundo segundo a vontade de Deus. E neste desafio de construir o mundo à imagem e semelhança de Deus - segundo a vontade do nosso Senhor -, a igreja nos convida a tomar cuidado em conjugar a oração e as nossas atividades. No evangelho de Lucas (Lc 10, 38-42) nós temos a figura de Marta e Maria que acolhem Jesus em sua casa. Duas mulheres que tem atitudes diferentes diante de Jesus, uma senta aos pés do mestre e escuta a sua palavra, a outra vai para a cozinha, não se sabe se está lavando louça, arrumando a bagunça, fazendo comida, mas esta, Marta, que vai para a cozinha fica nervosa com a sua irmã. "Senhor manda que ela venha me ajudar!"
Quantas vezes somos tão ativistas que perdemos o momento da graça de Deus em nossa história! Esta leitura pode nos ajudar em diversos modos, como por exemplo: Nós, que colocamos os nossos trabalhos a frente da nossa oração, ou colocamos a oração e não somos capazes de estender a mão e ajudar nossos irmãos, ou trabalhar na construção do reino... Disse Jesus, que Maria ficou com a melhor parte! Os padres, os biblistas, os espiritualistas, os pastoralistas falam 3 milhões de coisas desse evangelho, eu poderia falar de diversos assuntos porque os padres são criativos em achar tanto assunto pra falar desse evangelho, mas o que mais me agrada é que nós, a exemplo de Marta e Maria, devemos aprender a conjugar a nossa oração com o nosso trabalho. Muitas vezes, estamos com a graça diante dos nossos olhos e deixamo-la passar porque estamos preocupados com outras coisas. Quantas vezes estamos à mesa, preocupados com o que está passando na televisão. Quantas vezes estamos num grupo de amigos mexendo no celular... Estou falando com quem não está presente e deixando quem está presente, ausente da minha da minha presença! Quantas e quantas vezes os pais não percebem os seus filhos crescerem porque estão preocupados em trabalhar, preocupados em construir a casa, preocupados com isso ou com aquilo. Quantas e quantas coisas vão nos afastando de Deus, nos afastando das pessoas que amamos. Nessa vida corrida, ainda ontem, quando eu preparava a homilia estava lendo um texto de um padre que dizia assim: "Nós estamos tão preocupados, tão acelerados, que na cidade grande nós desviamos de 5 carros para avançarmos 10 metros e ficamos estressados". Eu falei: Meu Deus, este sou eu, será que ele me viu fazendo isso? Eu e muitos aqui também né? Porque muitas vezes estamos muito estressados, queremos fazer tantas coisas que a nossa vida fica muito agitada e não encontramos tempo para rezar!
Esta semana você encontrou tempo para rezar? Você dedicou tempo para sentar-se aos pés do mestre e ouvir o que ele tem a te dizer? Aqueles que têm algum trabalho pastoral em nossa comunidade, que estão em 2, 3, 5, 10 pastorais, vocês tem rezado antes de iniciar seus trabalhos?
Coroinhas, cerimoniários e pré-cerimoniários, ministros, músicos... Vocês têm rezado? Pastoral da Acolhida, antes de colocarem seus coletes, vocês colocaram o joelho no chão e rezaram para ouvir o que Deus tem a dizer? Você casal, antes de sair de casa, abençoou seus filhos? Você que chegou estressado do trabalho tem procurado se acalmar diante da palavra de Deus? Nós não podemos rezar demais e esquecermo-nos de trabalhar, mas também não podemos trabalhar demais e esquecermo-nos de rezar! É necessário encontrar o justo equilíbrio que nos coloca no foco daquilo que é essencial em nossa vida, e é justamente isso que São Paulo, escrevendo a comunidade de Colossos, entre o ano 61 e 63 d.C, vai nos alertar já na segunda semana seguida! Que nós estamos perdendo o foco naquilo que é essencial em nossa história! A comunidade de Colossos estava se deixando influenciar por doutrinas contrárias ao cristianismo. Estava ficando legalista: Isso pode, isso não pode! Vá por aqui, vá por ali! Se não for assim, vá embora! E o que mais escandalizou: Os anjos estavam tomando o lugar de Jesus! Estavam mais preocupados com a presença dos anjos do que com Jesus, o nosso Salvador!
O tempo passou, mas muitos ainda hoje, perderam o foco do essencial, que é Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Salvador. Muitos são legalistas aos extremos levando tudo a ferro e fogo. E muitos se deixam levar por doutrinas contrárias ao cristianismo e ao catolicismo deixando com que falsos mestres doutrinem e configurem o nosso coração. Por isso, nessa celebração dominical peçamos ao Senhor que sejamos acolhedores como Abraão e possamos partilhar na mesa tudo que temos e somos, sabendo configurar e conjugar a oração com o trabalho, tendo como foco Jesus Cristo, nosso Senhor, aquele que é nosso único e verdadeiro Salvador.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 16º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 17/07/2016 (Domingo, Missa das 18h30).

Jesus como centro de nossa vida
10/07/2016
Nós estamos celebrando o 15º domingo do Tempo Comum, e a Igreja nos convida, por meio da história da Salvação, a meditarmos sobre o nosso gesto concreto da prática do Evangelho, a não ficarmos arrumando desculpas para converter a nossa vida e, como Paulo à comunidade de Colossenses, colocar Jesus Cristo como centro, não permitindo que doutrinas e ideias contrárias às palavras de Jesus tomem conta do nosso coração.
Na primeira leitura do livro Deuteronômio, cap. 30, nós temos uma espécie de testamento espiritual de Moisés – que retira o povo da escravidão do Egito e leva até a terra prometida. Provavelmente essas palavras não foram ditas por Moisés; segundo os biblistas, essas palavras foram escritas pelos catequistas no período em que o povo estava exilado na Babilônia, enfrentando muitas dificuldades para manter viva a sua fé. E, diante das dificuldades, muitos arrumavam desculpas para não viver o projeto de Deus.
Passou o tempo, mas as desculpas continuam as mesmas. Um pouco mais criativas de vez em quando... Mas as desculpas permanecem. Por isso, este texto é muito original e atual para cada um de nós quando Moisés (ou os catequistas) diz: "Converte-te para o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma" (Dt 30, 10b). Um adorador de Deus não pode nunca perder a esperança de buscar a conversão do seu coração, porque a nossa missão é chegarmos ao céu, à Jerusalém celeste.
A nossa missão é buscarmos ser perfeitos, como nosso Pai Celeste é perfeito. E, muitas vezes, colocamos empecilhos no nosso coração dizendo que não podemos nos converter, não podemos alcançar a santidade; colocamos empecilhos, muitas vezes, para participar da comunidade; diante das dificuldades do mercado de trabalho, nós colocamos empecilhos e não buscamos aprimorar-nos, atualizar-nos para recolocarmo-nos no mercado de trabalho; diante das dificuldades do casamento, quantas e quantas vezes arrumamos desculpas para não solucionar os problemas da vida matrimonial, dos filhos... Nós vamos postergando, ou seja, adiando uma conversa franca e direta, que deve acontecer nos relacionamentos de namoro e de amizade também. Enfim, quantas e quantas vezes nós vamos adiando conversas ou atitudes que devemos ter.
Buscar a conversão é buscar o momento certo para tomarmos atitudes. Por isso, diz a Palavra de Deus: "Na verdade, este mandamento que hoje te dou não é difícil demais, nem está fora do seu alcance" (Dt 30, 11). Quantas pessoas dizem: "Ah, padre, é tão difícil ser santo...". Sim, é difícil, mas não está fora do seu alcance. Se você lutar, você pode alcançar! Quem já realizou um sonho na vida? Quando começou, parecia fácil? Quantas graças Deus realizou na minha vida, quantas graças Deus realizou na sua vida que, com certeza, exigiram muito esforço, muita dedicação? E a vida de fé também requer esforço da nossa parte, requer dedicação, assim como a vida social, a vida familiar, a nossa vida de amizade, a vida de comunidade.
Mas essa palavra, meu irmão e minha irmã, está bem ao seu alcance; está em tua boca e em teu coração, para que possas cumprir. A Palavra de Deus deve ser colocada em prática! Você tem colocado os mandamentos de Deus em prática na sua vida? Nas suas escolhas? No seu matrimônio? No seu trabalho? No seu lazer? E na sua vida de comunidade? Se não tem, é necessário meditar sobre suas escolhas, porque palavras são boas, mas os testemunhos são melhores ainda! Muitas vezes, pelas palavras, não alcançamos, mas pelo testemunho nós alcançamos aquilo que desejamos para com as pessoas amadas.
O amor, mais do que poesia abstrata, deve ser traduzido em gestos concretos, para que possamos alcançar o Reino dos Céus. E é justamente isso, no Evangelho de hoje – de Lucas, cap. 10 –, que nós temos no questionamento de um mestre da Lei querendo pôr Jesus à prova. Diz a Palavra de Deus: "Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?" (Lc 10, 25b). O que é que nós precisamos fazer? "Ama teu Deus de todo o teu coração... E ao teu próximo como a ti mesmo!" (ref. Lc 10, 27).
Catequese de Primeira Eucaristia, primeiro e segundo mandamentos: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos". Em outras palavras: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração!". Você ama a Deus de todo o teu coração ou somente com uma parte dele? O quanto Deus preenche o seu coração? Será que tudo ou só uma parte? A Palavra de Deus nos pede para amá-Lo de todo o nosso coração. Não somente aos domingos, no horário da missa, mas sempre na nossa vida. "Com toda a tua alma", ou seja, com todo o teu ser, com todos os teus pensamentos e atitudes, com toda a tua força, com toda a tua inteligência.
Não devemos agir só com o nosso coração, mas também com a nossa inteligência. Quantos católicos deixam a Igreja porque não conhecem a fé que professam. Gastamos tanto tempo na internet, na televisão... Será que a gente procura ler um pouquinho sobre a doutrina da Igreja, sobre os ensinamentos bíblicos, sobre a liturgia, sobre as Gotas de Catequese? Devemos formar o nosso coração, devemos compreender a fé que nós professamos. Tantas pessoas leem tantos livros, mas será que nós lemos algum livro que explique a nossa fé, a nossa doutrina, por que professar a fé em Deus, por que professar a fé na Igreja, por que ir à missa aos domingos?
Enfim, "Faze isso [ame o teu próximo como a ti mesmo] e viverás" (Lc 10, 28b). Será que eu amo o meu próximo como eu amo a mim mesmo? Será que eu sou capaz de dedicar tempo ao outro como eu dedico a mim? Será que consigo perdoar o outro como eu perdoo as minhas falhas? O mestre da Lei compreendia muito bem os 613 mandamentos, a história da Salvação, mas tinha dificuldade em compreender que ele deveria colocar estas atitudes na sua vida. E é por isso que Jesus conta a parábola de hoje (ref. Lc 10, 33-37): um homem foi assaltado e espancado e ficou pela beira do caminho. Descia um sacerdote – que, se estava descendo, provavelmente já tinha exercido as funções no templo. Nesta descida, ele vê o homem machucado, abatido pela rua. E o que ele faz? Atravessa para o outro lado e vai embora. Aí vem o levita – que não é como o sacerdote, mas também exerce algumas funções... Não é o padre, mas faz leitura, faz animação, canta na missa. E o que ele faz? Atravessa para o outro lado e vai embora também.
Mas aí vem um samaritano – que, 731 anos antes de Cristo, tinha discutido com os judeus. Por quê? Os assírios invadiram a Samaria e seus habitantes foram deportados, mas 4% da população permaneceu na terra. Com esses 4%, os assírios começaram a se casar e, assim, trazer novas doutrinas. Os judeus, habitantes de Jerusalém, ficaram bravos, porque não admitiam se misturar com os pagãos, não podia! E, por oito séculos, e ainda hoje, discutem por causa disso.
Aí o sacerdote e o levita não gostavam dos samaritanos. Mas eis que o samaritano vê a pessoa caída, machucada, e o que ele faz? Cuida dessa pessoa. Qual deles fez o certo? O samaritano, que era rejeitado por aqueles que se consideravam santos! Como se você, que vem à missa todo fim de semana, que reza cinco terços por dia, visse uma pessoa passando necessidade e atravessasse para o outro lado da rua, mas uma pessoa que nunca veio à igreja visse a pessoa necessitada, parasse e ajudasse. Quem estaria certo? Quem ajudou! É o que diz a Palavra de Deus.
Portanto, é necessário traduzir o amor e a nossa fé em gestos concretos, porque quando colocamos Cristo como centro da nossa vida nada nos tira o foco. E quantas pessoas perderam o foco do que é praticar o Evangelho, acreditando que a fé não ultrapassa o limite da oração individual – para não dizer individualista... Quantas pessoas ainda não perceberam que o Evangelho deve ser traduzido em gestos concretos.
É contra isso que Paulo, entre os anos 61 e 63 depois de Cristo, escrevendo à comunidade de Colossenses, no primeiro capítulo, na segunda leitura de hoje, nos diz que Cristo deve ser o centro da nossa vida. Não a namorada; não a Quermesse; não os estudos; não a novela; não o celular; não o seu carro; não as parcelas do seu imóvel. Mas Jesus! Jesus é o centro da nossa vida, dos nossos pensamentos, das nossas atitudes, das nossas escolhas, dos nossos sonhos, dos nossos projetos. Jesus é o nosso Salvador! Se não colocarmos Jesus como centro da nossa vida, nunca vamos mudar a nossa mentalidade.
Peçamos a Deus que, ao celebrarmos esta Eucaristia, por mais devotos que sejamos, por mais assíduos que sejamos na Santa Missa e nas orações devocionais, possamos saber conjugar os nossos sentimentos com a prática do Evangelho na igreja, na sociedade e em nossa casa.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 15º domingo do Tempo Comum (Ano C) – 10/07/2016 (Domingo, missa das 10h).

São Pedro e São Paulo: as colunas da Igreja!
03/07/2016
Hoje celebramos a festa de São Pedro e São Paulo, considerados “colunas da igreja”. Esta festa se dá no dia 29 de junho, mas por ser uma festa tão importante – quando não cai no domingo - os bispos do Brasil optaram por transferi-la para o domingo posterior, para que a comunidade reunida no dia do Senhor, possa meditar sobre a importância destes dois homens para nossa vida de fé.
Pedro, um simples pescador é chamado para ser o representante dos apóstolos, o chefe da igreja, o representante do colégio apostólico. Paulo, perseguidor dos cristãos, após sua experiência pessoal com Jesus Cristo se torna um missionário anunciando a Palavra de Deus além-fronteiras, limites que muitos judeus tinham medo de ultrapassar.
A festa de hoje quer simbolizar para nós a importância destes dois grandes homens, manter a nossa fé e ultrapassar os nossos muros para anunciar a Palavra de Deus! Mas para reconhecer esta missão dada aos apóstolos - que também é uma missão dada a cada um de nós - é necessário sabermos responder a pergunta de Jesus no evangelho de hoje [Mt 16, 13-19]: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Falamos desse evangelho há dois domingos). E os discípulos dizem: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Tudo bem, isso é o que o povo está dizendo! (Assim como, nos dias de hoje, falam sobre a igreja católica... Não vão à igreja, mas querem cuidar da vida do Papa, dos padres, do sacramento da igreja. Esse é o povo de fora dizendo!). “E vocês que estão caminhando comigo há três anos, quem dizeis que eu sou?”, diz Jesus.
Então, aquele simples pescador, diante dos outros apóstolos, toma a voz e diz: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. E é diante dessa confissão de fé que Jesus diz: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la”.
E para nós? Quem é Jesus para nós? Você que está na igreja há um ano, dez, quinze, trinta, sessenta anos... Quem é Jesus para você? Ele é o nosso SALVADOR! Precisamos encher a boca ao dizer isso, sem medo! Não podemos ter vergonha de assumir Jesus como nosso Salvador!
Nós somos a instituição mais velha do mundo, os católicos estão firmes em sua caminhada há dois mil anos! Com dificuldades, barreiras, sombras, pecados... Nós, homens, somos pecadores, mas a igreja fundada por Jesus, esta é santa e os documentos da igreja nos últimos 50 anos afirmam que muitos caminhos podem levar a Deus... PODEM! Mas, existe um caminho que é certo... É o caminho da igreja: Una, Santa, Católica e Apostólica.
Una, porque vivemos na unidade, embora sendo milhões de pessoas diferentes, buscamos a unidade respeitando uns aos outros. Católica, porque o termo católico significa universal, a palavra de Deus deve chegar a todas as pessoas do mundo! Santa, porque embora os homens sejam pecadores, há uma busca pelo amadurecimento espiritual, não somos livres do pecado, porque como homens, somos frágeis, mas Jesus fundou Sua igreja para continuarmos a Sua obra, seguirmos os Seus caminhos.
Apostólica, porque tendo Jesus instituído os 12 apóstolos, esta sucessão jamais foi interrompida. E hoje, o nosso bispo Dom Pedro Carlos Cipollini é sucessor do apóstolo Pedro... Temos mais de 4.000 mil bispos, e cada qual em sua Diocese, procura ser esta coluna, estes missionários, conduzindo os seus padres, que por suas vezes, conduzem os seus leigos a também serem sustento da igreja. Sustento da fé na sua casa, no seu matrimônio, sustento da fé para os seus afilhados, para os seus amigos. Sendo missionários e levando a Palavra de Deus para aqueles que não crêem, não amam e não esperam em Jesus Cristo. Una, Santa, Católica e Apostólica chamam-se as quatro notas da igreja católica!
É diante desta realidade que buscamos ser exemplo para aqueles que nos seguem, assim como Pedro e Paulo. Na primeira leitura de hoje em Atos dos Apóstolos [At 12, 1-11]. Nós estamos no ano 41 a 44 d.C. Os cristãos estão crescendo, multiplicando-se em uma velocidade muito grande, os governadores, os representantes do Império Romano estão com medo dos cristãos e começam a dizer que aquela religião é considerada uma seita, e como fizeram com Jesus, fizeram com Pedro... Pegaram os chefes da igreja e jogaram na prisão. E Pedro, como qualquer pessoa, sentiu medo, mas sabia que Deus não iria desampará-lo e é este Deus que envia um anjo para libertá-lo. É na fé, na esperança e na oração que Pedro continua - mesmo dentro da prisão - assumindo a sua responsabilidade de chefe na igreja. No Oriente Médio, não passa uma semana, que não tenha um cristão sendo assassinado, igrejas queimadas, casas de cristãos saqueadas, igrejas blasfemadas.
Hoje, no Brasil, não somos perseguidos como os cristãos do Oriente Médio, mas a nossa fé está sendo sempre perseguida... Não é uma perseguição direta, mas velada... No trabalho, muitas vezes na escola com tantos professores falando mal da religião... Inclusive, há três semanas entraram numa igreja, em Rio Grande da Serra, e blasfemaram! Não levaram absolutamente nada, mas abriram o Sacrário, jogaram as hóstias pelo chão, quebraram as imagens. O bispo esteve lá na semana passada, rezando uma missa em desagravo. E a Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF.88), nos dá o direito! DIREITO, não estamos pedindo um favor, mas é o direito de qualquer cidadão brasileiro escolher e professar a sua fé, seja ela qual for!
Muitas vezes, nos sentimos aprisionados, porque dentro de casa não conseguimos falar da nossa fé. Em nosso trabalho não falamos da nossa fé. Com nossos amigos não falamos da nossa fé. Como haverá novos discípulos se não falarmos da nossa fé? Deixe que o anjo do Senhor também tire as suas correntes, sobretudo as correntes das línguas! Liberte-nos para falar do amor de Deus, da misericórdia, da justiça, da compaixão, procurarmos vivenciar o valor do evangelho em todos os momentos na nossa vida. Para que ao final da nossa história possamos dizer - como Paulo escreve ao seu amigo Timóteo na Segunda Carta [2Tm 4,6-8. 17-18]: “Completei a corrida, guardei a fé, combati o bom combate e hoje eu posso receber a coroa da justiça”.
Se você partisse hoje para a casa do Pai, você poderia dizer como Paulo? Completei a corrida, guardei a fé, combati o bom combate e hoje eu posso receber a coroa da justiça, sou um Santo! Se você não pode dizer isso significa que você ainda precisa buscar a santidade. Santidade que na igreja católica também virou um tabu porque muitos acreditam que não podem chegar à santidade e na medida em que eu não acredito que não posso chegar à santidade, eu não vou me esforçar porque já perdi a esperança!
E este Paulo, que viajou sete, oito vezes em viagens missionárias, este Paulo que foi além-fronteiras, que enfrentou diversos desafios por causa do evangelho nos dá testemunho no dia de hoje. Na prisão, em Roma, prestes a sofrer um martírio por causa da fé ele escreve esta última carta, confiante de que ele completou a sua corrida com êxito, confiante que combateu o bom combate e que pode receber a coroa da justiça.
Por isso, nesta liturgia das colunas da igreja, peçamos ao Senhor que dê força aos nossos bispos que enfrentam tantas dificuldades, dê força aos cristãos- católico de todo o mundo para que não percam a sua identidade para que possam viver a unidade, catolicidade, apostolicidade, a comunhão fraterna em nossa igreja, sendo discípulos e missionários de Jesus Cristo, como Pedro e Paulo.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de São Pedro e São Paulo (Ano C) – 03/07/16 (Domingo, Missa das 7h30).

Ser profeta: levar a Palavra de Deus e denunciar as injustiças
26/06/2016
Nós estamos celebrando o 13º Domingo do Tempo Comum, refletindo sobre a vida pública do Senhor. E a Igreja nos convida a meditar sobre o nosso profetismo. O que é um profeta? É aquele que leva a Palavra de Deus e denuncia as injustiças. Ele leva uma mensagem que não é dele, mas sim de Deus. Não é um carteiro que apenas entrega a mensagem. Ele a entrega e se compromete com a mensagem que transmite.
Deste modo, na Primeira Leitura [1 Rs 19, 16b.19-21], nós temos dois profetas: Elias e Eliseu. A passagem é datada do século IX antes de Cristo. Ali, os reinos estavam divididos. O povo de Israel passava necessidade porque o comércio havia se fechado naquela região. Não havia roupas, os alimentos tinham dificuldade de chegar e os poucos produtos que estavam disponíveis eram caros.
Então, o rei da época – que havia se casado com uma estrangeira, vinda da Fenícia –, sob influência da esposa, permite que no seu reino sejam criados altares para deuses estrangeiros. Com isso, ele ganha o povo que vem de fora e o comércio começa, de novo, a entrar na região. Porém, com essa medida, o povo começa a se afastar de Deus. Neste momento, o profeta Elias tem o papel primordial de falar que nós só podemos adorar um Deus. Um só Deus.
E então, surge este novo profeta, Eliseu, que é um jovem retirado do meio do campo – pois trabalhava na colheita, na lavoura – para se tornar também um profeta. Assim como nós esperamos que vocês tornem-se profetas e levem a mensagem de Deus. Este é o único registro histórico que nós temos da consagração de um profeta na história, nesta leitura de hoje, do Antigo Testamento. Eliseu deixa sua família, podendo despedir-se de seus pais mas sendo alertado para que voltasse logo pois a Palavra de Deus – ou seja, a missão que lhe é designada – não poderia esperar. Assim ocorre quando há alguém passando necessidade: não se espera para ajudar. Ajuda-se logo, na hora, naquele momento.
Vamos entender melhor esta passagem no Evangelho de hoje [Lc 9, 51-62]. Jesus está caminhando pela Galiléia. E diz a Palavra de Deus que Jesus toma a firme decisão de ir para Jerusalém. E o que acontece em Jerusalém? Ele é crucificado pela nossa salvação, por ser um profeta, por falar a verdade, por viver o amor e a justiça.
Jesus tomou esta firme decisão. E vocês, já tomaram a firme decisão de seguir Jesus? Além de falarmos que sim, temos que caminhar em direção a Jerusalém, onde corremos o risco de sofrer o sacrifício da cruz. E, deste jeito, mantemos nossa firme decisão de seguir a Cristo? A Igreja resgata este Evangelho porque muitas pessoas acabam seguindo Jesus por puro sentimentalismo, por emoção. Mas, na hora do aperto, fogem.
Há pessoas que chegam na Igreja e dizem: “Padre, quero ajudar nesta pastoral, na outra, na catequese...”. E temos que acalmá-la no meio desta euforia.
Passam-se quinze dias e onde estão estas pessoas? Sumiram e, muitas vezes, nem deram satisfação. Nos últimos meses, isto já aconteceu umas três ou quatro vezes. As pessoas que chegaram, entraram nas pastorais e depois desapareceram. Qual é o compromisso? É o que Jesus questiona, no primeiro ponto a salientar do Evangelho, quando aquele jovem diz: “Senhor, eu te seguirei para onde quer que fores”. Tem muita gente dizendo da boca pra fora que está com Jesus. E onde está o compromisso? Esses dias frios, vocês sabiam que diminuiu o número de pessoas na igreja? Quer dizer que quando está frio ou garoando eu não vou ao encontro de Cristo? É assim que funciona? Inclusive nas férias eu também devo segui-lo.
Seguir Jesus não é só sentimentalismo, mas sim uma decisão pessoal. Porque quando você toma uma decisão pessoal, nós o seguimos e levamos os outros também a seguir Jesus conosco.
Lembro de um testemunho muito bonito, do ano passado, no qual uma família começou a frequentar a igreja porque uma criança ouviu de outra, na escola, que iria começar a catequese. Esta se interessou e a mãe desta criança veio acompanhá-la nas missas e trouxe a irmã mais nova. Então, na terceira semana, a filha pequena foi acordar os pais para que fossem na missa.
Há um segundo questionamento que foi feito: “Deixe-me primeiro eu ir enterrar o meu pai”. Tem gente que quer seguir Jesus mas, primeiro, tem que resolver algumas coisas na vida. Estava preparando a homilia e vi um escritor que disse: “Imagine se todos os padres e religiosos esperassem os pais morrerem para depois seguir Jesus”. Só iria ter padre de bengala. Entraria no seminário, teria dez anos de estudo e depois começaria a ser padre.
Há pessoas que ficam esperando alguma coisa acontecer para depois seguir Jesus. E a decisão tem que ser hoje e não amanhã. A família também não pode ser empecilho para seguir Jesus. “Mas padre, o meu bebezinho está tão pequenino, não vou na missa”. Por quê? “Mas padre, meu marido não quis vir na missa.” Por que você está colocando a culpa no outro? Uma criança pequena eu entendo que não queira vir. Mas dizer que por conta do esposo você não pôde vir na missa, é complicado. Pare de se enganar e enganar a Deus. Tem gente que arruma desculpa para adiar o seu seguimento a Jesus. Pare de adiar o seu seguimento a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Em um terceiro ponto do Evangelho, um jovem diz: “Senhor, eu te seguirei, mas deixe-me primeiro eu me despedir de meus familiares”. Aqui, nós lembramos das coisas que muitas vezes nos aprisionam e não nos permitem seguir Jesus, sejam família, bens materiais ou lugares. Quantas vezes já ouvi jovens dizendo que perderam a hora por estarem jogando videogame! Não fui à missa porque tinha um jogo de futebol. Tem missa sábado, domingo 7h30, 10h e 18h30.
Quanta gente arruma desculpa e fica olhando para trás para seguir o Senhor! Se vamos pensar naquilo que abandonamos, nós nunca vamos seguir o Senhor. Nós temos que pensar naquilo que nós ganhamos no seguimento de Jesus. E aí Jesus diz: “Aquele que quer me seguir, põe a mão no arado e olha para trás, não é digno de me seguir”. Não sou do campo, nasci na cidade, mas entendo que Jesus se utiliza desta imagem para dizer que aquele que olha para trás, se desvia do caminho, assim como quando empunhamos o arado e olhamos para trás o mesmo se desvia de sua trajetória no trabalho com a terra.
E quanta gente olhando para trás! Com a mão no arado, na bíblia, nas promessas, mas olha para trás e não consegue seguir Jesus. Quanta gente casada com saudade do tempo de solteiro! Quanta gente adulta com saudade da juventude, de um tempo que não volta mais! Quanta gente saudosista do tempo que a Igreja estava cheia! Ótimo! Lute para que a Igreja fique cheia hoje! “Padre, tenho saudade do tempo em que a gente era jovem, saia e se divertia”. Saia hoje, divirta-se! O que o impede? Olhar para trás muitas vezes não nos torna dignos de seguir Jesus. Por isso que São Paulo, na Segunda Leitura, da carta aos Gálatas [Gl 5, 1.13-18], diz para assumirmos a nossa liberdade. Cristo nos salvou em Jerusalém para nossa liberdade, mas uma liberdade não para os prazeres da carne.
Porque há pessoas que tentam utilizar a Palavra de Deus para justificar os seus erros. E São Paulo, atento a isso, diz: “não para os prazeres da carne” para evitar que as pessoas façam as coisas erradas e ainda coloquem a culpa em Deus. A liberdade é para viver no amor, para sermos profetas, para partilhar. A liberdade é para vivermos uma igreja comunitária.
Por isso, nesta liturgia, peçamos ao Senhor que sejamos profetas de um novo amanhecer, anunciando o amor de Deus e denunciando todas as injustiças. Que não olhemos para trás com saudosismo. Mas, que aprendendo com o passado, com nossa história, possamos olhar para frente e seguir Jesus até Jerusalém, até a nossa Salvação, na liberdade comprada pelo Sangue de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 13º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 26/06/2016 – (Domingo, missa das 10h).

Quem é Jesus para nós?
19/06/2016
Queridos irmãos e irmãs, estamos celebrando o 12º domingo do Tempo Comum, estamos falando sobre a vida pública de Jesus. E, a igreja nos convida a meditar sobre quem é Jesus para nós. O que significa: abandonar a si mesmo, tomar a nossa cruz de cada dia e seguir o nosso Salvador! Convida-nos a meditar sobre o nosso profetismo, que devemos sempre falar a verdade, em qualquer circunstância, e o nosso compromisso com a nossa vida de fé com a nossa comunidade.
Na primeira leitura do profeta Zacarias [Zc 12,10-11; 13,1], nós estamos em um contexto do século VI a.C. - por volta do ano 520 - quando o templo de Jerusalém está sendo reconstruído. Após uma invasão de povos estrangeiros o templo é destruído e depois da libertação do exílio, o povo começa essa reconstrução do templo de pedra. Mas o profeta Zacarias sente que o povo está mais preocupado com o exterior do que com o interior. O tempo passou, mas talvez as coisas não mudaram tanto assim… Ainda hoje, muitos estão mais preocupados com o que vestir, com o carro que tem, com o celular, do que com aquilo que sentem! Muitos se preocupam mais com os amigos, de parecer bem para os outros do que com o matrimônio, com seus filhos, com a sua família. Portanto, essa Palavra de Deus, também é direcionada a cada um de nós, que precisamos reconstruir e manter o nosso templo espiritual, reconstruir a nossa adoração a Deus, reconstruir a nossa disposição em servirmos ao Senhor! Temos paróquias e igrejas católicas preocupadíssimas em construir o seu templo de pedra, mas esquecem-se que antes do templo físico é necessário construir ou reconstruir o seu templo espiritual.
Como na paróquia Santa Teresinha… Em que muitas pessoas continuam trabalhando em nossa tradicional quermesse, mas se recusam a vir à Santa Missa. Há 15 dias, quando fui convidar a todos para vir à missa, uma pessoa me disse: “Padre, eu durmo com minha consciência tranquila, deito e durmo porque estou trabalhando para o Senhor!”. Não entendeu nada até agora! É se preocupar mais com o exterior do que com o interior. Não pode haver uma comunidade que se preocupe mais em construir seu templo de pedra do que construir o seu templo de carne! Não pode existir uma família que se preocupe mais com os de fora, em vez de se preocupar com os de dentro! Não pode existir! A ordem das coisas está equivocada, completamente equivocada!
E é por isso que o profeta Zacarias surge para alertar o povo, e peçamos a Deus que continue suscitando profetas para alertar os homens e mulheres quando estão colocando suas esperanças nas coisas materiais, nas coisas de pedra, quando não compreendem a importância do templo espiritual. Com o que você está preocupado, meu irmão e minha irmã, com seu exterior ou com o seu interior? Aquilo que parece para os outros ou aquilo que edifica seus pensamentos, seus sonhos, seus projetos? É justamente essa pergunta, de um modo diferente, que Jesus faz aos seus discípulos no Evangelho de Lucas [Lc 9,18-24].
Jesus está na Galileia, percorrendo cidades e povoados distantes de Jerusalém. Os discípulos estão caminhando com Ele, e segundo a Palavra de Deus, uma grande multidão o segue. Jesus se retira para rezar com seus discípulos e vem ao seu coração um questionamento, que também deve ser o nosso questionamento. E pergunta aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?”– Lembrando que os discípulos estavam com Jesus há quase três anos, ouvindo-o diariamente.
Jesus pergunta para os discípulos e eles dizem: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. E ai Jesus diz: “E vós, que me seguem, quem dizeis que eu sou?”
Quem é Jesus para você? Jesus é o nosso Salvador! Nas palavras de Pedro Ele é o Messias, que significa: Salvador! Este ano nós direcionamos a nossa catequese de crianças, jovens e adultos para três pontos essenciais.
O primeiro deles é que o catequizando não pode terminar a catequese e não saber pronunciar que Jesus é o seu Salvador. Os evangélicos dizem: “Jesus é meu Salvador”; escrevem nos carros em letras garrafais: “Jesus é meu Salvador”; andam com a camiseta dizendo: “Jesus é meu Salvador!” E parece que os católicos não conseguem dizer isso! Por vergonha? Por medo? Por não saber? Não sei, mas o fato é: Jesus é nosso Messias, portando, Ele é o nosso Salvador!
Segundo ponto da catequese: a igreja é fundamental para o cristão católico, porque temos uma doutrina, um caminho que nos leva a Salvação!
E terceiro ponto: a vida de comunidade! Porque não pode existir um cristão que não se comprometa com sua comunidade de fé. Nesta sociedade onde, cada vez mais, o individualismo está tomando conta, o individualismo também está entrando na igreja. Com o advento de algumas espiritualidades modernas, com o advento das missas de cura e de libertação, com o advento dos padres “midiáticos”, cantores, escritores, poetas, artistas… Muitos estão supervalorizando alguns padres e se esquecendo da sua comunidade e do seu pastor que o segue constantemente. Esses padres têm grande importância na evangelização, porque muitos voltaram para a igreja por causa deles, mas não são o nosso Salvador e muito menos são os nossos pastores, porque muitos deles têm a semana inteira para pensar o que vão falar no programa de televisão, tem horas e horas para escrever o seu livro, tem horas e horas para pensar o que vão dizer no programa de rádio. Enquanto o padre de uma igreja, de uma paróquia está acompanhando - como aqui, as nossas vinte e cinco pastorais -, está acompanhando a economia da paróquia, vai visitar doente, vai ao hospital, vai ao cemitério, vai aqui, vai acolá e muitas vezes, nós menosprezamos nosso pároco e nossa comunidade!
Muitos católicos só querem ir às igrejas quando estão abarrotadas de pessoas e de um sentimentalismo que muitas vezes, não nos qualifica para seguirmos o Senhor e acabamos por nos tornar uma igreja sem rosto, sem nome e sem endereço. Eu entro e saio de determinadas igrejas e ninguém sequer me conhece. Nem mesmo o padre consegue me conhecer pela quantidade de pessoas ou pelo ciclo de pessoas que vem e vai, constantemente. Não permitindo que o pároco daquela paróquia possa estabelecer algum tipo de relação.
Chega de cristão sem rosto, sem nome, sem endereço! Precisamos de uma comunidade de fé! Louvado seja Deus, os que vão nessas missas e se convertem. Aqui, também, nós temos - talvez, não com grande intensidade, como em outras paróquias, mas também temos - Mas a questão é que um cristão não pode frequentar três, cinco, dez, trinta anos e não se identificar com nenhuma igreja. Não é supermercado! Não é cinema que eu escolho aonde vou, pra ver o filme no melhor horário. Não! É minha comunidade de fé! É o que Jesus disse no final do evangelho: "Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga". Mas quantos estão dispostos a seguir verdadeiramente o Senhor? Enquanto eu estiver preocupado com o exterior ou enquanto eu estiver naquela grande multidão que seguia Jesus por puro sentimentalismo, buscando um Jesus mágico e não um Jesus Salvador, a minha fé nunca haverá de amadurecer. Aí corremos um grande risco de virarmos fundamentalistas.
Como São Paulo escreve à comunidade de Gálatas, já no terceiro domingo seguido [Gl 3, 26-29], falando novamente contra os judaizantes, que queriam voltar algumas doutrinas e leis abolidas por Jesus Cristo. Queriam voltar com a circuncisão e outras coisas mais, dizendo que a lei é mais importante do que a fé. E São Paulo afirma que a fé é mais importante do que a lei, o que não significa dizer que a lei não tem importância! Mas ela não pode estar acima da nossa fé! É pela fé que nos convertemos, é pela fé que aceitamos o nome de Jesus como nosso Deus e o nosso Salvador. É pela fé que somos batizados, é pela fé que somos revestidos de Cristo e sendo revestidos de Cristo é que alcançamos a liberdade e a igualdade. Diante de Deus, todos nós, diz São Paulo, judeu ou grego, homem ou mulher, escravo ou livre... Somos todos iguais e alcançamos a liberdade de escolha! Quando eu não compreendo a liberdade e que somos todos iguais, eu caio no fundamentalismo. O fundamentalismo que leva alguns cristãos e outras religiões a cometer assassinatos em nome da fé que professam, como temos visto em alguns noticiários. Quando não conseguem lidar com o diferente, de uma religião diferente, de uma opção sexual diferente, de um mundo diferente... A nossa missão é evangelizar através da palavra e do testemunho, não do assassinato.
Peçamos a Deus, que ao celebrar essa eucaristia, meus irmãos e minhas irmãs, saibamos dar valor a reconstrução do nosso templo espiritual, ao nosso matrimônio, nossa casa, nossa família. Que não falemos apenas aquilo que as pessoas querem ouvir porque nós somos profetas e devemos falar a verdade, ainda que estejamos sozinhos como o profeta Zacarias. E que como Paulo, tenhamos a coragem de contrariar todas as doutrinas e ideologias contrárias ao projeto da Salvação, para que na igualdade, de filhos e filhas de Deus, possamos construir uma geração mais justa, fraterna e solidária!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 19/06/16 (Domingo, Missa das 7h30).

Perdoar antes de condenar
12/06/2016
A Palavra de Deus, neste 11º domingo do Tempo Comum, ajuda-nos a refletir, irmãos e irmãs, sobre a Lei e sobre a misericórdia; sobre a acolhida e sobre o perdão. Muitas vezes, nós vivemos a Lei pela Lei; nós apontamos o dedo, mas temos dificuldades de acolher aqueles que erram.
No segundo livro de Samuel, capítulo 12, nós temos a figura do Rei Davi. Davi, que começa a sua caminhada de devoto a Deus e de grande rei muito jovem. Estamos no séc. X a.C. (século 10 antes de Jesus) e Davi consegue algo que nenhum rei havia conseguido até o momento: unificar as 12 tribos de Israel. Eles só se reuniam quando precisavam guerrear contra alguém, para que as aldeias, as tribos, não se desfizessem; mas Davi consegue unir as 12 tribos na mesma fé, mas, sobretudo, no mesmo reinado.
Davi é coroado rei. Como um grande rei, ele ajuda o povo, conquista outras terras, leva a adoração ao Deus único a outros povos. Mas o pecado levou Davi a corromper o seu coração... Eis que Davi, o grande rei, um grande guerreiro, um grande governador, um grande administrador, se apaixona por uma mulher casada. E aí... A casa caiu! O que ele fez? Pediu para Urias ir a uma batalha que tinha certeza que ele iria perder; colocou Urias, que era marido desta mulher por quem Davi se apaixonou, na linha de frente, para que ele morresse e Davi ficasse com a sua viúva.
Passado algum tempo, eis que o profeta Natã vai ao encontro de Davi e coloca, diante de seus olhos, o seu pecado; e pede a Davi a conversão do seu coração. Na mentalidade hebraica, na época, talvez se pensasse que Deus iria condenar Davi, que Deus iria castigar Davi; no entanto, diante da confissão do pecado de Davi, diante do seu arrependimento, Deus o perdoa. Porque não é a Lei pela Lei, mas o amor de Deus deve estar acima da Lei; o perdão deve estar acima da Lei. É o que nós cantamos no Salmo 31: "Eu confessei, afinal, o meu pecado, e perdoastes, Senhor, a minha falta". E Jesus, lá na frente, ainda vai dizer: "Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra".
A confissão de Davi, o arrependimento de Davi permite a ele um novo recomeço. Diante dos nossos erros, nós confessamos as nossas faltas? Nós confessamos os nossos erros? Nós nos arrependemos das nossas transgressões? Outra coisa: diante do pecado do outro, do erro do outro, eu aponto o dedo; condeno; castigo? Ou eu sou capaz de ter um olhar misericordioso, como Deus teve para com Davi? Diante dessa sociedade cada vez mais corrupta, levada pela ganância do poder e do dinheiro, nós deixamos o julgamento para Deus ou estamos constantemente apontando o dedo e julgando uns aos outros?
No Evangelho de hoje (Lc 7,36 – 8,3), nós temos Jesus que está andando pela Galileia e se encontra com um fariseu – alguém que conhece muito da história, da tradição, dos mandamentos –, que convida Jesus para almoçar na sua casa. Jesus, escandalizando uma boa parte de seus discípulos, vai até a casa do fariseu (digamos que eu fui almoçar na casa de uma prostituta... "O que o padre foi fazer naquela casa???" – seria mais ou menos essa a reação; alguém assassinou alguém aqui pelo bairro e o padre foi lá na casa dele... "O que o padre está fazendo lá???" – foi mais ou menos assim a reação dos discípulos).
O fariseu acolhe Jesus, mas acolhe Jesus de modo frio; acolhe de modo muito, muito frio. Mas eis que uma pecadora pública, sabendo que Jesus estava na casa do fariseu, vai ao seu encontro, lava os seus pés com a lágrima dos olhos, enxuga seus pés com os cabelos e unge a cabeça de Jesus com um óleo perfumado. O fariseu, muito conhecedor das tradições, das leis e tudo o mais, questiona: "Se ele é profeta, de fato, saberia que essa mulher é uma pecadora". E aí Jesus conta uma parábola do perdão: "Quem valoriza mais o perdão: aquele a quem eu pouco perdoei ou aquele a quem eu muito perdoei? Aquele ao qual eu muito perdoei". Quanto mais nós perdoamos, muito mais o outro agradece. E eis, então, que Jesus vai direto e reto naquele fariseu: "Você não me ofereceu água para lavar os meus pés" – o que era uma tradição e educação da época – "Ela, no entanto, lavou os meus pés com as lágrimas de seus olhos. Tu não me ofereceste nada para enxugar os meus pés; ela, no entanto, enxuga os meus pés com seus cabelos. Tu não me destes o ósculo, o beijo de acolhida" – o que também era uma tradição – "Ela, no entanto, beija os meus pés. Tu não me ofereceste óleo para ungir minha cabeça; ela, no entanto, unge minha cabeça com seu perfume" – que era, na época, muito, muito, muito, muito caro. Aquele a quem mais precisava, Jesus acolheu. Não foi a Lei pela Lei, mas a necessidade de acolher, de perdoar e de amar.
Como é que está a nossa vida de fé, meu irmão e minha irmã? Nós estamos acolhendo; perdoando; orientando? Ou estamos condenando uns aos outros? Nós acolhemos ou apontamos o dedo, condenando aquele que errou? Eu sei que a traição nos machuca; eu sei que esperar algo de alguém e essa pessoa não fazer corrói o nosso coração. Mas o coração do cristão deve sempre estar aberto para a misericórdia e para o perdão.
É o que nos diz São Paulo no segundo capítulo da carta aos Gálatas – e já é o terceiro domingo que estamos falando dela. Porque os judaizantes pregavam a Lei de Moisés, a Lei pela Lei, e São Paulo vai dizer que a Lei não salva, o que salva é a fé em Jesus Cristo, nosso Senhor. Por isso ele diz: "Morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Com Cristo fui pregado na cruz. Eu vivo, mas não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim".
Será que estamos deixando Deus viver no nosso coração? Será que, com Cristo, fomos pregados na cruz e abandonamos o nosso pecado, as nossas transgressões, o nosso modo equivocado de vivenciarmos o Evangelho da Salvação? Estamos abrindo o nosso coração ao arrependimento? Estamos acolhendo as pessoas necessitadas e oferecendo o perdão misericordioso de Deus? Ou somos como os fariseus, que pregam a Lei pela Lei, não colocando em prática este perdão que corrige, este perdão que cura as feridas, este perdão que forma os discípulos em missionários de Jesus Cristo?
Que possamos morrer para as leis que nos oprimem, para as leis que nos fecham, para as leis que não nos permitem sermos agradáveis aos olhos de Deus, e que o Cristo Jesus, a Sua Palavra e o Seu exemplo nos ajudem a sermos misericordiosos como nosso Salvador. Que o Espírito Santo de Deus nos ajude a apontar menos o dedo e abrir mais os braços para acolhermos os pecadores.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 11º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 12/06/16 (Domingo, Missa das 7h30).

Resgatar a compaixão, o sentimento cristão, as atitudes que promovem a vida, a dignidade, a justiça e o bem comum!
05/06/2016
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos! A Palavra de Deus no 10º domingo do tempo comum convida-nos a meditar sobre a compaixão! Lembrando que estamos acompanhando Jesus em sua vida pública. Jesus não está em Jerusalém, está caminhando nas aldeias, nas pequenas cidades ao redor de Jerusalém. E a igreja, na pessoa de Jesus e do apóstolo Elias, convida-nos a praticar a compaixão!
O que é a compaixão? Compaixão é sentir com o outro, é sentir as mesmas dores, as mesmas angústias, as mesmas frustrações que o outro! Portanto, é chorar com quem chora, é sofrer com quem sofre... É ir até o fundo de onde o outro está para resgatá-lo de todas as suas necessidades físicas, espirituais e temporais. Não pode existir um cristão que proclame Jesus como seu Salvador que não busque ter o coração compassivo como o coração do nosso mestre, Jesus!
Na primeira leitura [1Rs 17, 17-24], nós temos Elias, que significa: o Senhor é meu Deus. Elias é um profeta solitário, diferente de muitos profetas, que muitos, seguem seus ensinamentos, a sua voz, as suas orientações. Elias está constantemente sozinho, mas constantemente responde a voz de Deus. Muitas vezes moramos com tanta gente, mas nos sentimos solitários. Trabalhamos numa grande empresa, mas nos sentimos isolados. Frequentamos a igreja, mas nos sentimos sozinhos... Em nossa solitude, em nossa solidão de peregrinos nesse mundo... Será que respondemos ao chamado do Senhor, com a mesma intensidade de Elias? Ele que vai para uma cidade distante, chamada Sarepta - na Fenícia. Uma cidade pagã que adora outros deuses. Elias está passando necessidade, quase morrendo de cansaço, de fome e de sede, eis que uma viúva, que não tinha o que comer em casa, nem pra ela, nem para seu único filho, acolhe-o em sua casa. Elias recupera sua saúde, recupera suas energias, fala do Deus da vida para essa mulher, mas uma doença acomete seu filho e ele acaba morrendo. Na cabeça daquela mulher, naquele período, naquela cultura, ficar viúva e sem filho, já estava pagando seus pecados! Deus a estava condenando. E Elias, comovido, cheio de compaixão para com aquela viúva que perdeu seu filho, que ficaria relegada a sociedade e poderia sofrer qualquer tipo de maus-tratos, Elias, clama ao Deus da vida, que recupere a saúde do seu único filho. E ao recuperar a saúde de seu filho, aquela mulher pagã, passa a professar a fé no Deus único, no Deus verdadeiro, no Deus que resgata, até mesmo, os mortos.
Será que somos uma presença de Deus para as pessoas que estão nos lutos de suas vidas? Será que conseguimos ser uma presença de Deus com os pagãos que nos encontramos? Conseguimos apresentar esse Deus da vida, do amor, da misericórdia, da compaixão? Ou não temos a mesma coragem e ousadia do profeta Elias?
No evangelho de hoje, em tempos diferentes, a história mais ou menos se repete! Estamos em Lucas [Lc 7, 11-17], e uma viúva da cidade de Naim, a 10km de Jerusalém, havia perdido o marido e agora, o filho. Estão num cortejo fúnebre, diz a palavra de Deus que uma multidão segue aquele cortejo. Do outro lado vem outro cortejo, o cortejo de Jesus com seus discípulos e a multidão. O cortejo da vida e o cortejo da morte se encontram! Para a cultura da época, encontrar-se com um cortejo fúnebre, você deveria parar a sua peregrinação e acompanhar aquele cortejo até o seu enterro. Jesus, respeitando a cultura da época, se junta aquele cortejo. E diz a palavra de Deus, que Jesus sentiu dó? Não! Jesus sentiu compaixão! Sentiu a dor daquela mãe que perdeu seu filho, sentiu a dor daquela mulher que havia perdido o seu marido. Jesus sentiu o desespero daquela mulher que ficaria relegada a sociedade a partir do enterro de seu filho. E é esse Cristo que vai resgatar a vida daquele jovem! Resgatando também, a dignidade daquela mulher, resgatando a sua esperança, os seus valores - que provavelmente estava perdendo enquanto sepultava o seu filho! É Jesus que sente as dores, as necessidades, a angústia daquela mulher! Como nós, ao longo de nossa vida, devemos sentir compaixão daqueles que estão em luto, daqueles que estão tristes. Sentir compaixão dos pobres, dos abandonados. Mas será que sentimos compaixão quando vemos um morador de rua? Quando vemos um pai ou uma mãe chorando porque seu filho que foi assassinado pelo tráfico de drogas, por um assalto? Sofremos e sentimos compaixão quando vemos um pai ou uma mãe de família chorando porque não tem dinheiro para levar alimento para sua casa? Quais são as nossas atitudes? Nós que nos dizemos cristãos e professamos a fé neste Deus da misericórdia! É necessário resgatar a compaixão, o sentimento cristão, as atitudes que promovam a vida, a dignidade, a justiça e o bem comum e não nos deixarmos ser induzidos por valores que nos afastem do Evangelho da Salvação. É o que escreve São Paulo à comunidade de Gálatas [Gl 1, 1-19], na segunda leitura de hoje.
Domingo passado falamos que a comunidade de Gálatas estava sendo influenciada pelos judaizantes que queriam trazer de volta algumas doutrinas, alguns hábitos abolidos por Jesus Cristo. Estavam promovendo a discórdia, estavam tirando a autoridade de São Paulo apóstolo. São Paulo escreve à comunidade de Gálatas orientando-os a não se deixar influenciar pelos judaizantes. Escreve àquela comunidade, dizendo que se coloca como serviçal do Senhor, como apóstolo de Cristo, transmitindo aquilo que ele mesmo recebeu. Ele não está inventando o que transmite. E São Paulo escreve para dar testemunho de que está em comunhão com a igreja de Jerusalém, como o apóstolo que é a cabeça da igreja naquele período, São Pedro.
Essa leitura ensina-nos a não nos deixar influenciar pelas doutrinas que vão nos afastando do Evangelho da Salvação. A tomarmos cuidado com os novos judaizantes, alguns amigos, lugares que frequentamos, religiões, filosofias, e outras coisas que vão nos afastando do caminho da salvação. São Paulo nos ensina a sermos fiel àquilo que recebemos. Nós transmitimos a nossa fé fielmente conforme recebemos? São Paulo diz que não hesitou em percorrer milhares de quilômetros para chegar a Jerusalém e estar com Pedro, é a unidade da igreja! Muitos frequentam a igreja, mas não estão em unidade com ela. Muitos criticam o papa, os bispos, o padre da paróquia que frequentam! Não existe a doutrina do Tiago, da Magali, do Carlos, da Carol... Existe a doutrina de Jesus Cristo e a doutrina da igreja, que se unem para apresentar uma unidade de fé! Portanto, não nos deixemos influenciar pelos novos judaizantes que vão entrando de mansinho em nosso coração, em nossa mente e afastando-nos do Evangelho da verdade e da Salvação.
Que o Espírito Santo de Deus e a intercessão de Santa Teresinha, ajude-nos a sermos mais compassivos com os que sofrem e passam necessidade. E que a exemplo de Paulo e Teresinha não nos deixemos influenciar por doutrinas contrárias ao Evangelho da Salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 10º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 05/06/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Como Jesus, acolhermos a todos indistintamente!
29/05/2016
Estamos rezando o nono domingo do Tempo Comum, após as festas da Páscoa, as grandes festividades que celebramos nos últimos dias, retomamos a caminhada com Jesus que paramos lá há uns três ou quatro meses, na sétima semana do Tempo Comum. Agora continuamos com Jesus, com o evangelho de Lucas na sua vida pública, e neste período Jesus está evangelizando ao longo do lago de Tiberíades. A igreja, no dia de hoje, deseja nos convidar a refletir sobre a oração e a nossa disponibilidade de rezarmos por todos, sem fazermos distinção de raça, cor ou credo, e assim como Jesus, acolhermos a todos indistintamente!
Por isso a igreja identifica na história da salvação a figura de Salomão no Primeiro Livro dos Reis [1Rs 8, 41-43]. Salomão, ao ver a necessidade de um povo ou nação que sofre é capaz de colocar-se diante de Deus para rezar. Ele que é rei de Israel, e naquele período da história faz algumas funções sacerdotais, utiliza-se de uma festa do templo, ou seja, da dedicação do Templo de Jerusalém. (Toda igreja, quando é terminada a sua construção, deve ser dedicada a Deus, e uma vez dedicada, não se pode mais mexer, e aí existem diversas regras que devemos seguir, mas somente com a autorização do Bispo e do conselho de presbíteros pode-se modificá-la. Por exemplo: A igreja de Santa Teresinha ainda não é dedicada porque não terminamos a sua construção. Estamos com 76 anos de história, se continuarmos trabalhando com esta dedicação, este amor, acredito que consigamos dedica-la antes de completarmos 100 anos de história).
Voltando a primeira leitura do Livro dos Reis, Salomão se utiliza da festa de dedicação do templo para rezar por um povo estrangeiro, ainda que houvesse travado batalhas, guerras contra este povo, Salomão sabe que este povo não está sendo ouvido por seus deuses então, se coloca de joelhos diante do Templo e reza por seus inimigos.
Quantas vezes temos coragem de rezar por aqueles que nos fazem mal? Será que rezamos somente por aqueles que nos fazem bem? Você tem rezado pelas pessoas que você tem algum tipo de antipatia? Porque quando vai bem, maravilhoso! Aliás, alguns nem rezam por aqueles que fazem bem, é uma oração individualista. E, a nossa oração não pode se restringir somente as nossas necessidades. Refletíamos nos últimos domingos que Jesus não deseja ninguém individualista e muito menos fundamentalista, mas deseja que abramos o nosso coração para acolhermos a todos indistintamente. Que abramos o nosso coração para que a palavra de Deus aja em nós e por meio de nós, configurando as nossas atitudes, os nossos pensamentos, os nossos projetos à ação de Deus realizada em nós e por meio de nós.
Por isso a primeira leitura de hoje nos ajuda a compreender o Salmo 116 desta mesma liturgia. “Proclamai o Evangelho a toda criatura”, ou seja, proclamai a boa notícia a todos os homens e mulheres indistintamente. Será que temos feito isso ou temos nos fechado em nós mesmos? Temos rezado somente pela nossa família? Pela nossa pastoral, pelo nosso grupo, pelo nosso movimento? Temos rezado somente pela igreja de Santa Teresinha ou temos rezado por todas as necessidades do mundo? Basta ligar o rádio, a televisão, a internet ou qualquer noticiário, que vemos quantas coisas acontecem ao redor do mundo e quantas necessidades o mundo tem. E por que não nos unirmos em oração por todas essas necessidades?
No evangelho de Lucas [Lc 7 1-10], vemos Jesus que não se fecha ao povo Judeu, mas acolhe a oração de um alto oficial romano, e este oficial por sua vez dá um grande testemunho: Não rezar simplesmente por si, mas rezar por um subalterno seu. Ele vê um soldado que está sobre o seu comando passando necessidades, enfermidades, não sabe mais o que fazer e recorre a Jesus Cristo Nosso Senhor. Recorre não simplesmente como um milagreiro, mas recorre a Jesus como um Salvador, recorre a Jesus como aquele que tem certeza que não vai abandonar aqueles que pedem ajuda, a tal ponto de mandar seus empregados ao encontro de Jesus e depois pensar: “Meu Deus, eu não sou digno de que o Senhor entre em minha casa, eu vou ao seu encontro!” E indo ao encontro de Jesus que estava com uma grande multidão, como vimos no evangelho, diz ele: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.
A igreja utiliza-se deste testemunho do oficial romano para colocar estas palavras na liturgia que nós professamos, e é bonito ver no evangelho de hoje, Jesus dizendo que em Israel não encontrou tamanha fé. Eu procurei a explicação dessa leitura em quatro teólogos, mas nenhum deles sabe dizer o que Jesus viu naquele soldado romano que foi capaz de dizer que não havia encontrado tamanha fé em Israel. Todos chegam à mesma conclusão de que é a atitude de abertura à ação da graça de Deus, algo que nós também devemos ter em nossa vida, estarmos sempre abertos à ação de Deus. Não nos fecharmos, sobretudo para aqueles que buscam a salvação em Jesus Cristo e na sua igreja. E depois termos convicção da nossa fé, das nossas atitudes, dos ensinamentos de Jesus e da sua igreja... É o que São Paulo nos ensina na Carta aos Gálatas [Gl 1 1-2.6-10]
São Paulo que se coloca como guardião da fé, algo que nós – Eu, os coroinhas, os cerimoniários, os ministros, os agentes de pastoral – Todos nós devemos ser! Porque os judaizantes estavam querendo influenciar os novos cristãos. Os judaizantes são os judeus convertidos ao cristianismo, que queriam colocar no cristianismo diversas tradições judaicas que Jesus havia abolido, como a circuncisão, as 613 Leis de Israel e muitas outras coisas, e São Paulo vai escrever a Carta aos Gálatas alertando-os para tomar cuidado com os judaizantes, aqueles que querem desvirtuar a nossa fé! E quantos judaizantes nós temos hoje... Nas novelas, nos livros, nos meios de comunicação, na internet, algumas amizades, lugares que frequentamos, pessoas que também querem desvirtuar a nossa fé. E a exemplo de Paulo devemos ter a convicção que não podemos abandonar o evangelho da salvação para agradar aos homens. Temos que ser firmes na fé que professamos.
Que nesta liturgia de hoje meus irmãos e minhas irmãs, possamos juntos, acolher a Palavra de Deus que procura morada em nosso coração. Estarmos sempre abertos às necessidades daqueles que clamam pela misericórdia e pela graça de Deus. Ainda que não sejam nossos amigos, ainda que em algum momento tenham feito mal a cada um de nós, o Evangelho deve ser proclamado a toda a criatura.
Que o exemplo de Jesus de acolher o oficial romano nos inspire a irmos ao encontro daqueles que não creem, não amam e não esperam. Que o testemunho do soldado romano de humildade e simplicidade nos inspire a abrirmos sempre o nosso coração à ação de Jesus em nossa vida, e com São Paulo apóstolo sejamos guardiões da fé, sejamos promotores do evangelho do amor, da justiça e da salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 9º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 29/05/16 (Domingo, Missa das 7h30).

Que os paradigmas sejam quebrados em nome do Senhor Jesus
26/05/2016
Que bom que você veio a esta Santa Missa, dia de preceito, dia de participarmos da comunhão eucarística, participarmos da igreja, desta família de irmãos e irmãs que buscam o mesmo caminho da santidade, da felicidade, caminho da salvação. Nos encontramos celebrando essa festa do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, nosso Senhor. Uma festa, em primeiro lugar, de compreensão de que Cristo se faz presente na Santíssima Eucaristia: não parece o Corpo, é o Corpo de Cristo; não parece o Sangue, é o Sangue de Cristo.
A Festa de Corpus Christi tem origem no século XIII, quando o povo, influenciado por diversas correntes filosóficas, diversos termos que são contrários à nossa fé e por outras doutrinas, vão se afastando de Jesus e deixando de compreender a Sua presença real no Corpo e no Sangue de Cristo. Deus, se utilizando de uma freira, vai fazer com que essa festa do Corpo e do Sangue de Cristo comece em uma pequena cidade e se estenda para uma diocese; esse bispo depois se torna papa e, assim, estende essa festa para toda a Igreja universal, chegando até nós, onde cada país, cada cultura tem a sua própria tradição.
E queremos agradecer e louvar a Deus nesse ano de 2016, quando a Paróquia Santa Teresinha resgata uma das suas tradições de fazer o tapete de Corpus Christi! Foram 10 tapetes confeccionados pelas nossas pastorais. E mais importante do que a beleza deste maravilhoso tapete é a beleza de estarmos juntos, a beleza de sermos uma única igreja, a beleza de aprendermos a trabalhar juntos, decidirmos as coisas juntos, ceder à vontade do outro, colocar as minhas opiniões. Porque tudo, somado, se transforma nessa bela obra de arte! Que isto que temos diante dos nossos olhos nos incentive, sempre mais, a trabalharmos juntos, e nunca, jamais, em hipótese alguma nos contentarmos com aquilo que já temos. Vamos sempre fazer mais para Jesus!
É a quebra de paradigma que faz com que a primeira leitura se torne importante para cada um de nós, quando em Gênesis, capítulo 14, Melquisedec, diferente dos outros sacerdotes, dos outros reis que oferecem sacrifícios de carne e de sangue, vai oferecer um sacrifício de pão e de vinho para o Senhor. É esta tradição que Jesus resgata para transformar o pão e o vinho no Seu Corpo e no Seu Sangue, Corpo e Sangue que nos alimentam, que nutrem, que nos satisfazem, que impulsionam a nossa caminhada de Igreja. Nesta ocasião, temos a quebra de paradigma de Abraão, quando, diferente de muitos que ofereciam apenas aquilo que lhes sobrava, ele toma a décima parte de tudo aquilo que havia colhido e apresenta ao Senhor. É desta tradição que nós resgatamos o dízimo, hoje não falando mais sobre a décima parte, mas colocando sempre aquilo que a nossa coresponsabilidade oferece diante da igreja – que não é do padre, é de vocês!
É essa quebra de paradigma, meus irmãos e minhas irmãs, que torna essa leitura tão importante para cada um de nós, ensinando-nos que não devemos oferecer sacrifícios ao Senhor, mas devemos oferecer a nossa vida, a nossa oração, o nosso tempo para confeccionar coisas belas para o Senhor. Devemos oferecer ao Senhor aquilo que nos compromete com a nossa comunidade: a oração, o nosso tempo, o nosso compromisso e um pouco do nosso dinheiro, sim, porque também precisamos dele.
Isso se torna possível quando nós quebramos os nossos paradigmas e quando os paradigmas são quebrados na nossa casa, na nossa família – nós, que temos dificuldade de conversar, de dialogar; dificuldade de sair com nossa esposa, com nosso esposo; dificuldade de ter tempo para aqueles que nós amamos. Quais são os paradigmas que você deve quebrar na sua casa? Na Paróquia Santa Teresinha, ontem foi um exemplo onde quebramos diversos paradigmas. E se na comunidade de fé, onde tem tanta gente diferente, é possível, na sua casa, na sua família, no seu trabalho também é possível!
Paradigma que Jesus também quebra no Evangelho de hoje, de Lucas, capítulo 9, quando Ele, diante da multidão, vê a necessidade das pessoas que buscavam cura, que buscavam libertação, que buscavam uma vida diferente daquela que haviam deixado para trás. Jesus curava aquelas pessoas. Não sabemos o quê nem de que modo, mas Jesus também quer nos curar; curar fisicamente, curar psicologicamente, curar mentalmente de tantos paradigmas que devem ser quebrados. Como com os 12 apóstolos: "Senhor, vamos mandá-los embora, já é tarde! Como vamos dar de comer?". E aí nós temos uma frase que cantamos todo terceiro domingo do mês, quando trazemos os alimentos: "Dai-lhes vós mesmos de comer". Mais importante: se Jesus fez o milagre da multiplicação dos cinco pães e dois peixes, foi porque a multidão, vendo que era muito pouco, diante do exemplo de Jesus, foi capaz de partilhar aquilo que trazia nas suas bolsas, nas suas sacolas. Se aprendermos a partilhar, ninguém mais vai passar necessidade. Se o mundo aprendesse a partilhar, as pessoas não passariam fome e não teria tanta riqueza na mão de poucos.
Semana passada o Papa Francisco disse que ele não quer que os ricos sejam pobres, ele não deseja isso, mas deseja que os ricos aprendam a partilhar, como Jesus ensinou a partilhar, como os discípulos aprenderam a partilhar. Porque, afinal de contas, o que celebramos no Corpo e no Sangue de Cristo é a Sua missão. Ao comungarmos o Corpo e o Sangue de Cristo, comungamos das palavras de Jesus, comungamos dos Seus ensinamentos, comungamos das Suas atitudes. E é isso que a Festa de Corpus Christi deseja nos trazer, comungarmos e praticarmos as palavras, os gestos e as atitudes de Jesus Cristo, nosso Salvador, este Cristo que se dá no Seu Corpo e no Seu Sangue, como escreve Paulo na primeira carta aos Coríntios, capítulo 11: "Isto é o meu Corpo; isto é o meu Sangue; esta é uma nova aliança para fazermos memória". Todas as vezes que comemos o Corpo e o Sangue de Cristo, não estamos fazendo teatro, estamos retornando à última ceia de Jesus Cristo, nosso Senhor. E nós nos tornamos os seus discípulos quando Jesus disse: "Dai-lhes vós mesmos de comer".
Portanto, tenhamos adoração à Santíssima Eucaristia, tenhamos veneração à Santíssima Eucaristia. Nunca cumprimente os santos antes de cumprimentar Jesus! Os santos são indicação para a nossa Salvação, mas Ele é o nosso Salvador. Adore ao Deus verdadeiro, não seja idólatra! Adore Jesus Cristo Eucarístico, Ele é o nosso Deus, Ele se dá no Pão Vivo, no Corpo Eucarístico; é Ele quem nos convida a renovarmos a nossa aliança com Deus.
Qual é a sua aliança com Jesus? Você que foi batizado, você que foi crismado, você que professa a sua fé constantemente em Jesus e na Sua Igreja; você renovou a sua aliança com o Senhor? Você que é casado, você tem renovado a sua aliança com o seu esposo, com a sua esposa? Se o seu relacionamento está frio, é porque você não renova. O seu relacionamento está frio com Jesus? É porque você não renova. Renove, é tempo! Deixe-se tocar por Jesus, deixe-se tocar pela sua esposa, deixe-se tocar pelo seu esposo, deixe-se tocar pelos seus filhos, deixe-se tocar por esta paróquia de Santa Teresinha, que te convida a vir fazer parte desta nova e eterna aliança.
Que o Espírito Santo de Deus, meus irmãos e minhas irmãs, nos ajude a quebrarmos os nossos paradigmas. Paradigmas que nos aprisionam, paradigmas que nos isolam, paradigmas que nos deixam parados, estáticos, enquanto as pessoas que nós amamos se afastam de nós, enquanto o Evangelho da Salvação se esfria nos nossos corações. Que os paradigmas sejam quebrados em nome do Senhor Jesus, este Cristo que se deu no Seu Corpo e no Seu Sangue como último e eterno sacrifício de amor. Que saibamos também fazer, eu e você, os nossos pequenos sacrifícios, para que o sacrifício somado possa alcançar o coração de Deus e Ele nos ajude para que possamos, pela Santa Eucaristia, ser um só corpo, uma só família e um só coração.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Corpus Christi (Ano C) – 26/05/2016 (Quinta-feira, Missa às 9h).

Santíssima Trindade: a unidade na diversidade
22/05/2016
Hoje nos encontramos para celebrar a festa da Santíssima Trindade, que é a festa da comunhão, da unidade e da diversidade. São três pessoas que formam um único Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Embora sendo diferentes, formam um só coração e uma só alma.
Embora tenha estudado três semestres de Teologia da Santíssima Trindade, não me atrevo a querer dar aula desta Teologia aqui. Um assunto muito complexo, o qual é difícil de ser entendido. Porque o mistério da Santíssima Trindade, mais do que ser aprendido, deve ser vivenciado. Mais importante é compreender este Amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo e que, na diversidade das três pessoas, formam esta única pessoa que nos abençoa, nos guarda e nos protege. E, deste modo, sendo diversos, também nós devemos formar um só coração e uma só alma.
A Igreja nos ajuda, neste dia, a meditar sobre as três pessoas através das Sagradas Escrituras. No livro dos Provérbios [Pr 8, 22-31], nós vemos que o autor coloca Deus como um grande arquiteto, aquele que pensa no universo que é feito para depois servir ao homem, que é a sua imagem e semelhança. O autor coloca a Sabedoria como uma pessoa. Ela, que é necessária para sabermos tomar as nossas decisões e que caracteriza Deus Pai – que se coloca sobre o alto da montanha para observar, para guardar e para orientar os seus filhos. Esta mesma Sabedoria é identificada, no final da leitura, como uma criança, significando que todos nós devemos estar com o coração aberto para amar uns aos outros, indistintamente.
Esta Sabedoria de Deus nos ajuda a compreender que, antes de fazermos qualquer coisa nesta vida, devemos parar, pensar, meditar, planejar para depois executar. E nesta vida, onde tudo é para ontem, nós vamos perdendo o hábito de parar, pensar, observar, planejar e executar. Quantas famílias acabam enfrentando dificuldades porque não decidiram nada juntos ou porque não pensaram para tomar as decisões! Quantos matrimônios estão se perdendo porque nos três primeiros segundos de raiva, é despejado sobre a pessoa tudo aquilo que está guardado no nosso coração! Portanto, a Sabedoria de Deus nos ajuda a compreender que devemos estar sempre observando para aprender. Devemos estar sempre pensando nas consequências dos nossos atos e das nossas escolhas.
A Palavra de Deus, em Romanos [Rm 5, 1-5], na segunda leitura de hoje, nos apresenta São Paulo colocando Jesus Cristo como o cabeça da Nossa Igreja. São Paulo está no final de sua terceira viagem missionária, voltando para Jerusalém para depois ir para Roma onde ficará até a sua morte, ao entregar a sua vida por causa do Santo Evangelho. Chega aos ouvidos de Paulo que a comunidade de Romanos, embora seja muito fervorosa, está dividida porque os judeus que se converteram ao cristianismo não queriam acolher os pagãos recém-convertidos. Havia divisões internas entre a comunidade porque uns achavam que os dons e carismas dos outros eram mais importantes. E um começava a querer sobressair-se ao outro. Este mesmo Paulo nos ensina que, embora sejamos muitos membros, formamos um só corpo cuja cabeça é Jesus Cristo, o Nosso Senhor. Jesus é o justificador. Jesus é Aquele que perdoa os nossos pecados. Jesus é Aquele que nos ama como nós somos. Portanto, a comunidade de Romanos deve deixar Jesus conduzir a Igreja. Embora sejam judeus, gregos, pagãos ou cristãos, todos devem formar uma única família, indistintamente, em Jesus Cristo, Nosso Senhor.
O Evangelho de João [Jo 16, 12-15], vai nos apresentar Jesus antes de partir para junto de Deus, nos dizendo que não nos deixará sozinhos: nos deixará o Espírito Santo da Verdade. Este Espírito que impulsiona, aquece e dá discernimento à Igreja para chegarmos a um conhecimento da verdade. O mesmo João [Jo 10, 32] nos diz: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Portanto, deixar-se conduzir pela verdade é uma condição necessária para sermos felizes e alcançarmos a Santidade de Deus. Portanto, em toda a Sagrada Escritura, nós temos a pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que nos ajuda a vivenciarmos os valores do Santo Evangelho.
A Santíssima Trindade nos ensina que, embora sejam três pessoas distintas, formam uma só pessoa. Assim como as famílias: embora seres distintos, devem formar um só coração e uma só alma. Embora sejam de diferentes idades, diferentes culturas, diferentes interpretações do mundo e da história, todos nós formamos um só coração. Portanto, é a unidade que nos torna filhos de Deus e não o individualismo. O que nos diferencia de muitas religiões e de algumas doutrinas cristãs é que nós buscamos viver a unidade na diversidade. Portanto, não pode existir uniformidade, jamais, porque senão o Espírito Santo deixa de soprar. Não somos iguais. Graças a Deus que somos diferentes! Todos nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus mas com algo diferente, o que nos torna únicos na história e em todo o universo. E nesta diversidade, devemos aprender com a Santíssima Trindade a acolher aquele que é diferente de mim. Como Jesus, devo amar a todos, indistintamente. Como São Paulo nos ensina, não podemos nos deixar conduzir pelos preconceitos que corrompem o nosso coração. Jamais deve haver uniformidade na Igreja, mas a diversidade. É a unidade da diversidade. E na diversidade de pessoas, de dons e de carismas, formamos um só corpo cuja cabeça é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Este Cristo, que instituiu a Igreja, que é o caminho certo de salvação para nós, que professamos a fé em Jesus Cristo e na sua Igreja Católica Apostólica e Romana.
Esta fé fez com que a nossa querida Santa Rita de Cássia pudesse colocar-se desde a sua adolescência à disposição de Deus, sabendo obedecer aos seus pais e à vontade do Criador. Soube, assim, vivenciar os desafios e a missão da sua vida, em cada momento da sua história. Querendo ser freira, não pôde, porque seu pai já lhe havia prometido em casamento a uma pessoa. Em obediência, ela aceita este casamento e permanece firme com este marido, embora este cidadão fosse uma pessoa de uma índole incorreta, fazendo coisas contra o seu matrimônio, a sua família e a sociedade. Tiveram dois filhos, que se chamavam Tiago e João e os educou no caminho de Deus.
Por conta de desavenças, este marido é assassinado. Os seus filhos quiseram, após isto, vingar a morte do seu pai. E Santa Rita diz que, se fosse para eles derramarem sangue, que eles partissem para junto de Deus. E assim acontece. Os filhos, antes que cometessem o assassinato, pegam uma doença e ali partem para a casa do Pai. Santa Rita de Cássia, então, se coloca em oração, perguntando a Deus qual é Sua vontade para a sua vida. E Deus resgata no seu coração aquele desejo de se consagrar. E, assim, Santa Rita vai a um convento. Tentou inúmeras vezes porém as freiras, de coração fechado, não deixavam Santa Rita entrar.
Até que, um dia, Santa Rita consegue adentrar o convento e ali começa a fazer parte da vida comunitária. Já havia sofrido no casamento e na educação dos filhos e, agora, sofre com as freiras que a colocam para limpar todo o convento. E ela fazia tudo com alegria, com amor, com satisfação. Não contente, a superior dela entrega uma roseira que estava morta para Santa Rita cuidar. Em obediência, ela começa a zelar por esta roseira, que volta a florescer. Existe até hoje, lá naquele convento, esta roseira que vai ser o sinal visível para a Santa Rita continuar a sua dedicação a Deus. Depois, ela pega uma doença muito forte e tem que ficar de cama. E é nesta doença que Santa Rita começa a ter a sua maior intimidade com Deus. Ali, no leito, reza constantemente. Embora não tivesse mais forças físicas, a sua força espiritual crescia dia após dia. Até o momento em que ela entrega a sua vida para Deus e passa a fazer parte do coro celeste.
Ela que, para nós, tornou-se padroeira das causas impossíveis. Mas, mais do que toda a história que gira em torno da vida de Santa Rita, o que é importante para nós é a fé desta mulher, a perseverança que ela tem em cuidar de sua família e responder ao chamado de Deus. É, também, a obediência. Embora seja incompreendida por seu pai, pelo seu esposo e pela superior do convento, está constantemente de coração humilde, a obedecer àqueles que lhe pedem algo. Nos ensina que, também nós, devemos aprender a obediência, o diálogo e a superar as dificuldades que assolam a nossa vida. Os jovens, com toda a vida que têm pela frente: com os estudos, com os relacionamentos e com o mercado de trabalho. As famílias, superando as dificuldades por meio do diálogo e da compreensão de que o outro é diferente de mim. E com a Santíssima Trindade, aprender que devo amar o outro embora ele seja diferente. Amar do jeito que ele é. E procurar resgatar, como Jesus, aquilo que de melhor nós temos no nosso coração.
Que o Espírito Santo de Deus nos dê a força, a fé, a esperança e a perseverança de Santa Rita de Cássia para que, na diversidade da nossa Igreja, possamos nos colocar como uma verdadeira unidade, uma verdadeira família, para construirmos o Reino dos Céus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade da Santíssima Trindade (Ano C) – 22/05/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Deixemos restabelecer a ordem da criação que existe em cada um de nós
15/05/2016
Queridos irmãos e irmãs, sejam todos muito bem-vindos! Estamos celebrando a festa que encerra o Tempo Pascal, a festa de Pentecostes. É a festa do Espírito Santo, da comunhão, da comunidade, é a festa do amor! Celebramos essa festa para recordar e a reavivar em nós a chama do amor de Deus. O Cristo como celebramos domingo passado, que sobe junto de Deus, mas não nos deixa órfãos, nos deixa o seu Espírito Santo. O Espírito Santo que quer inflamar, orientar, dar discernimento a sua igreja, a cada um de nós batizados, que professamos a fé em Jesus Cristo Nosso Senhor.
No evangelho de João [Jo 20, 19-23], vemos o Cristo Jesus que vai ao encontro dos discípulos que estavam reunidos no primeiro dia da semana, um domingo, com as portas fechadas com medo dos judeus. E ouvimos este evangelho no segundo domingo da Páscoa e ali recordamos que o Cristo Jesus quer nos ajudar a superar os nossos medos, quer nos tirar das nossas prisões, quer nos tornar uma igreja missionária, que saia das quatro paredes e enfrente a realidade do mundo e da história. Por isso, esse Cristo, antes de enviar os discípulos em missão diz: “A paz esteja convosco“. Porque quem não está com o seu coração em paz, não consegue falar das coisas de Deus, tem dificuldade em viver o projeto de salvação. Todos nós, quando estamos agitados temos dificuldades em falar das coisas de Deus, com amor, com carinho, com discernimento. É esse Cristo, que aparecendo à comunidade reunida, sopra sobre eles e envia cada um em missão. São João, quando escreve este trecho do evangelho quer nos recordar a origem do universo, quando fomos criados a imagem e semelhança de Deus! Deus sopra sobre o barro e ali dá a vida ao ser humano, o ser humano foi criado por Deus para o amor, para viver os seus valores e mandamentos, o evangelho apresentado por Jesus Cristo Nosso Senhor... O ser humano que é criado para vivenciar também a justiça, a fraternidade, a solidariedade, a compaixão, mas o pecado acaba desvirtuando-o do caminho de Deus. É o pecado que leva Adão e Eva a serem expulsos do paraíso, é o pecado que leva o povo de Israel a se tornar prisioneiro no Egito, é o pecado que torna o povo de Israel exilado na Babilônia, é o pecado que nos faz viver momentos de infelicidade, de discórdia dentro da nossa casa, da nossa sociedade. Por isso, ao soprar sobre os discípulos e quando o Espírito Santo quer soprar em nosso coração é para restabelecer a ordem da criação, Deus quer restabelecer os sentimentos mais puros que temos em cada um de nós, mas que por diversos motivos, diversas experiências que temos ao longo da vida vamos nos tornando pessoas com ausência de Deus em nosso coração, em nossas palavras e em nossas atitudes. Por isso, deixemos restabelecer a ordem da criação que existe em cada um de nós, deixemos que os valores mais puros retomem, encontrem espaço em nosso coração, por mais que tenhamos medo, Cristo nos diz: “A paz esteja convosco“.
Por mais que estejamos agitados, aflitos, angustiados, é Jesus quem sopra sobre cada um de nós mandando o seu espírito de amor, como soprou sobre os discípulos nos Atos dos Apóstolos [At 2 1-11], da liturgia de hoje, e reunidos na festa de Pentecostes, recebem o Espírito Santo, sobre o barulho, como línguas de fogo. Mas antes de falarmos sobre o barulho e sobre as línguas de fogo é importante recordar que a festa de Pentecostes é uma festa da colheita quando o povo alcança a terra prometida. Como refletimos na Quaresma, aos primeiros frutos da terra, o povo começa a fazer festa. Hoje, muitas vezes nem agradecemos o pão de cada dia que temos em nossa mesa. Comemos, às vezes, tão rápido que nem percebemos, nem saboreamos aquele alimento que temos em nossa casa! Mais tarde, essa festa de Pentecostes, que é a festa da colheita, dará lugar também à festa da aliança, em que Deus estabelece com Moisés e com seu povo a aliança de amor, dando os 10 mandamentos. Portanto, os discípulos estavam reunidos para celebrar as suas tradições e é justamente neste momento que o Espírito Santo de Deus vem como um barulho estrondoso e como línguas de fogo. Mas não vamos imaginar que é o fim do mundo, porque quando Lucas escreveu estava baseado no testemunho dos discípulos, ele não estava fazendo uma reportagem jornalística, mas escrevendo um texto teológico com significado espiritual, por isso é importante compreender o livro do Apocalipse que é cheio de sinais... Em que Deus se revela na teofania, ou seja, na manifestação de Deus, nas situações naturais da nossa vida, e aquele povo reunido, vindo de diversas partes, começam a falar a mesma língua, começam a compreender uns aos outros, começam a trilhar o mesmo caminho, algo que nós acabamos perdendo! Quando falamos do pecado recordamos da Torre de Babel em que o homem querendo alcançar a Deus, querendo talvez, ser maior do que Deus constrói aquela grande torre e ao caírem cada um para um lado, sem se entender mais, começam a falar línguas diferentes.
A festa do Espírito Santo, a festa de Pentecostes, é a festa que restabelece a comunicação na igreja, é a festa que restabelece a nossa caminhada enquanto família, enquanto igreja. Muitas vezes gritamos, ficamos nervosos, mas não estabelecemos a nossa comunhão, a nossa comunicação. É preciso saber conversar e sermos compreendidos naquilo que falamos. Portanto, embora falando diferentes línguas, diz São Lucas, começaram a compreender uns aos outros. Será que nós, que professamos a fé em Jesus Cristo e na ação do Espírito Santo nos compreendemos? Existe comunicação na sua casa? Existe comunhão na sua casa? Existe solidariedade, compreensão, o amor na convivência familiar e fraterna?
Ouvimos a carta de São Paulo a comunidade de Coríntios, a sua segunda carta, onde a comunidade de Coríntios é uma comunidade fervorosa, que faz muito barulho, mas tem dificuldade em viver os valores do evangelho. E é justamente nessa comunidade que Paulo vai dar algumas orientações, algumas admoestações, alguns ensinamentos para que possamos viver a comunhão proposta pelo Espírito Santo de Deus na festa de Pentecostes. Embora sendo diferentes, embora tendo dons, carismas e idades diferentes, cada um morando num lugar, vivemos um único corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo Nosso Senhor. Alguns da comunidade de Coríntios sentiam-se superiores porque falavam línguas, porque tinham profecias, porque curavam... Faziam isso e aquilo, e a comunidade começou a supervalorizar esses talentos, e os valores do Santo Evangelho estavam se perdendo. E assim Paulo diz: “Embora tendo diferentes dons, diferentes carismas, vivemos um só corpo, adoramos um só Deus, seguimos um só Espírito Santo, para sermos essa família de amor tão sonhada por Deus nosso Pai“.
Que nessa celebração de hoje possamos superar os medos que nos aprisionam dentro das quatro paredes ou em nossas prisões sem grades. Que o Espírito Santo de Deus venha acalmar e acalentar o nosso coração que tantas vezes está angustiado por diversas situações de nossas vidas. Que embora sendo diferentes, cada um com um dom, um carisma diverso, possamos viver como uma única família e um só pastor. E por mais que nosso coração queira se deixar influenciar pelos dons e carismas que Deus nos dá, que tenhamos a humildade necessária para reconhecer, que tudo o que temos e somos, deve ser colocado à disposição de Deus, para que seu reino cresça em nós e por meio de nós. Peçamos como a comunidade reunida do salmo 103, que o Senhor envie o seu Espírito Santo sobre cada um de nós, que o Espírito Santo de Deus nos dê aquilo que é necessário para que Deus aja em nós e por meio de nós. “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai“.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Solenidade de Pentecostes (Ano C) – 15/05/16 – (Domingo, Missa das 10h).

Anunciar o Evangelho até que Ele venha
08/05/2016
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos bem-vindos, de modo carinhoso as nossas queridas mamães! Mamães presentes, aquelas que nós deixamos em casa, aquelas que estão distantes de nós, aquelas que partiram para junto de Deus... Lembramos as nossas queridas mamães no dia de hoje, pedindo a Deus que possa abençoar, guardar, proteger e incentivar na missão e na vocação à qual foram chamadas pelo próprio Deus.
Nós estamos concluindo o período Pascal entre esta semana e a próxima, com a festa da Ascensão do Senhor, quando Jesus, após 40 dias, sobe para junto de Deus Pai, todo poderoso, para sentar “à Sua direita“ - como rezamos na profissão de fé. E na semana que vem celebraremos a festa de Pentecostes: a festa do Espírito Santo! O Espírito Santo que nos motiva, nos ilumina, nos direciona, nos dá o discernimento; o Espírito Santo que movimenta a Igreja para que a Igreja não pare, para que a graça de Deus possa continuar acontecendo em nós e por meio de nós.
No Evangelho de hoje [Lc 24, 46-53], nós temos, na concepção de Lucas, que a Páscoa de Jesus e a Sua Ascensão se dão no mesmo dia. Teologicamente, seria o caminho mais correto para compreendermos, mas nós vemos que o próprio Lucas, quando vai escrever o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, após 40 anos (porque foi na década de 80 depois do nascimento de Jesus), já coloca numa perspectiva diferente - “40 dias após“, porque é justamente nesses 40 dias que Jesus vai aparecer aos discípulos.
Como vimos ao longo desse Tempo Pascal, Jesus ressuscita dos mortos ao terceiro dia, abre as portas do paraíso para cada um de nós e não deixa que o nosso desânimo, a nossa dor, a nossa angústia pela sua paixão e morte na cruz pare por ali. Jesus vem restaurar o nosso coração, por isso aparece às mulheres que vão ao túmulo no domingo de manhã, acreditando que haviam roubado o corpo de Jesus; Ele se revela a essas mulheres, que vão correndo avisar a comunidade de fé. Jesus vai ao encontro dos discípulos de Emaús, que estão voltando para casa tristes, desanimados porque o seu Salvador havia morrido na cruz. Jesus vai aparecer aos apóstolos, reunidos com as portas fechadas, com medo dos judeus, para incentivar e fortalecer a caminhada da Igreja - e aqui nos lembramos de alguém que não estava na missa no dia de domingo... Quem era? Quem se lembra dessa homilia? Quem é que disse: “Se eu não puder tocar; se não puser o dedo na marca dos pregos; se não puser o dedo nas feridas eu não acreditarei“? Tomé!
Lembramos aqui que a ausência da vida de igreja não nos permite fazer parte da ressurreição de Cristo. Quem não está na igreja, não está com Jesus, não faz a experiência da Sua ressurreição. E é justamente na participação da ressurreição de Cristo que nós nos tornamos, como diz Jesus no Evangelho de hoje: “testemunhas de tudo o que vimos e de tudo o que está acontecendo“ [ref. Lc 24, 48].
Jesus ressuscita da mansão dos mortos, e a cada profissão de fé verdadeira do nosso coração, reunidos como Igreja e como comunidade, Jesus continua a ressuscitar na nossa vida, continua a ressuscitar nas nossas atitudes, continua a ressuscitar no nosso anúncio do Evangelho, que se traduz na prática destes valores em casa com a nossa família, no nosso trabalho, na vida de Igreja, na vida de comunidade.
É nesta vida de comunidade que Lucas vai escrever os Atos dos Apóstolos, que é escrito, sobretudo, na medida em que os homens e as mulheres vão desanimando, porque esperavam a segunda vinda de Jesus Cristo, nosso Senhor. Passou-se cerca de 40 ou 50 anos e nada de Jesus voltar, e aí a comunidade começa a se questionar: “Como é esta segunda vinda de Cristo?“. Então, nós nos recordamos das palavras de Jesus: “Não cabe a nós saber o dia e a hora em que o Senhor retornará“ [ref. Mt 24, 36]; a nossa missão é anunciar a mensagem do Evangelho até que Ele venha da segunda vez - que seria a “Parusia“, uma palavra grega que significa “a segunda vinda de Cristo“.
Mas enquanto Jesus não vem, o que a gente faz? Fica parado, olhando, esperando o tempo passar? Não! Nós nos tornamos missionários, nós nos tornamos propagadores deste Evangelho da Salvação. Continuamos a celebrar a Eucaristia, continuamos a viver a nossa vida de Igreja, a nossa vida de comunidade; vida de Igreja e de comunidade pautadas no Evangelho, que nos leva a antecipar a construção do Reino Celestial já neste mundo. Por isso que o Evangelho não se limita a dentro da igreja, mas deve nos levar para fora, onde há aqueles que não creem, não amam, não esperam, ainda não converteram o seu coração; deve nos levar às estruturas da sociedade, para transformar as realidades segundo a vontade de Deus.
Será que estamos como as primeiras comunidades: tristes, desanimados, desiludidos? Ou estamos fervorosos neste anúncio da Palavra de Deus? Temos, aqui na missa, quatro adultos que estão se preparando para a Eucaristia; será que nós somos modelo para eles? Se dependesse do teu testemunho e da tua fé para motivar estes quatro adultos, será que eles estariam aqui, firmes e fortes, como estão todos os sábados participando da Catequese e todo domingo da Santa Eucaristia?
É aí que nós entendemos muito bem os Atos dos Apóstolos, capítulo primeiro, da liturgia de hoje. No Evangelho, Jesus vai ao encontro dos discípulos, os abençoa e sobe para junto de Deus. Nos Atos dos Apóstolos, eles vão para uma alta montanha e veem Jesus partindo para junto do Pai, e aí aparecem dois homens vestidos de branco - que a tradição da Igreja identifica como anjos - e dizem: “Homens da Galileia (homens e mulheres da Paróquia Santa Teresinha), por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu“ [At 1,11]. Aqui nós entendemos que “olhar para o céu“ é necessário, mas não podemos ficar parados, olhando somente para o céu, e esquecermos as realidades que nos questionam, as realidades que nos interpelam. Precisamos olhar também para a cruz de Cristo, que nos lembra que devemos estar horizontalmente olhando para Deus, mas verticalmente olhando para os nossos irmãos e irmãs, que são os protagonistas desta mensagem de salvação.
Muita gente só fica assim, olhando para o céu. Ergue os braços, louva a Deus, chora, lamenta, glorifica, mas não é capaz de olhar para as pessoas; não é capaz de olhar para dentro da própria casa e ver as dificuldades que a família possa estar passando; não é capaz de olhar nos olhos da esposa, do esposo e resolver as dificuldades da vida familiar; não é capaz de reservar um tempo para conversar com a família, para conversar com os pais; não é capaz de olhar essa sociedade que está cada vez mais afastada de Deus e se comprometer com a causa do Santo Evangelho.
Quando olhamos somente para o céu, nos tornamos fanáticos, e a Igreja e Jesus não precisam de pessoas fanáticas, precisam de pessoas comprometidas com a causa do Evangelho, este Evangelho que deve ser vivenciado, deve ser protagonizado: em primeiro lugar, buscando a conversão do nosso coração; depois, a santificação da nossa casa e família e a construção do Reino da Igreja e da sociedade, para que a esperança que Paulo nos fala na sua Carta aos Efésios, da segunda leitura de hoje - quando Paulo estava preso e as comunidades da Ásia desanimadas com o anúncio do Evangelho [ref. Ef 1, 17-23] -, possa nos incentivar a não perdermos o foco, a não nos deixarmos levar por sentimentalismos individualistas; mas para que, convertidos na causa do Reino, a nossa fé e o nosso testemunho possam ressuscitar com Cristo Jesus no dia de hoje, na prática do Evangelho e nas escolhas que fazemos cotidianamente.
Homilia: Pe. Tiago Silva - Ascensão do Senhor (Ano C) - 08/05/2016 (Domingo, Missa das 7h30).

Quando fazemos a vontade de Deus, jamais erramos
01/05/2016
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos e acolhidos em nossa Paróquia de Santa Teresinha. Eu estava com saudade de vocês! Uma semana longe daqui e o meu coração ficou apertado! Estive em Aparecida durante uma semana num encontro formativo de representantes dos padres do Brasil, foi uma semana intensa de muito trabalho, oração, diálogo... E tenho a certeza de que quem mais ganhou foi a nossa paróquia.
Este encontro nos ajudou a refletir sobre a alegria do evangelho, do ministério sacerdotal, do nosso testemunho de bons pastores, sempre encontrar a alegria no nosso trabalho, que nem sempre é fácil... Refletindo sobre essa alegria foram colocadas diversas situações sobre o ministério sacerdotal, como por exemplo, o cansaço do padre... Que se dedica tanto à sua comunidade e esquece-se de si mesmo... Esquece-se de comer, fazer exercícios, não tem tempo para descansar, não tem tempo para estar com sua família, não tem tempo para os amigos... E com isso muitos e muitos padres acabam entrando em depressão! Neste encontro falou-se muito sobre a humanidade do padre e eu gostaria de pedir que você reze pelos padres do Brasil, pelos padres da nossa Diocese para que sejam perseverantes e para que Deus envie sempre mais operários para que não percamos essa alegria e este entusiasmo em servirmos a comunidade, a igreja, com verdadeiro amor, discernimento e maturidade, sabendo gerenciar tudo aquilo que requer do padre. Quantos padres passando dificuldades, com depressão! Quantos padres deixando o ministério sacerdotal pela pressão, pelo cansaço, pela falta de oração... Porque trabalham, trabalham, trabalham e não encontram tempo para rezar!
No dia de hoje fazemos memória a São José Operário e a Santa Teresinha que buscaram a santidade na alegria também de servir a Deus. Fazendo memória a São José Operário, lembramo-nos de todos os trabalhadores, de todos os pais de família, que buscam, cotidianamente, trazer o pão de cada dia para os seus lares. Procurando viver a santidade na vida matrimonial, familiar! Fazendo memória a São José no dia do trabalhador, queremos pedir pelo nosso país que vive esse momento de fragilidade histórica, aonde nossos representantes brigando entre si, muitas vezes se esquecem de nós, pobres mortais, que não ganhamos salários milionários, mas que precisamos do mínimo para sobreviver! Coloquemos no altar de Deus, os mais de 10 milhões de brasileiros desempregados. Que a nossa oração alcance o coração de Deus, a intercessão de São José que viveu a sua busca de santidade procurando ser obediente a Deus e como diz o evangelho de hoje, João - Cap.14 - “procurando guardar as palavras de Deus“. Jesus, diz no evangelho: “Quem ama procura guardar a minha palavra“. E buscar a santidade, seja de São José, seja de Santa Teresinha, que também fazemos memória, é procuramos guardar as palavras de Deus. Guardar a palavra de Deus significa vivenciar esta palavra no cotidiano da nossa vida e da nossa história!
E a primeira pergunta que nos fazemos é: Será que estou guardando a palavra? Estou praticando esta palavra dentro de casa? Eu pratico essa palavra no meu trabalho? Na educação dos meus filhos, no matrimonio, na minha vida de comunidade? Diz Jesus: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração“. Quantas vezes a paz foge de nossos corações! Quantas vezes estamos perturbados, agitados pelas situações que a vida nos apresenta e por não guardarmos a palavra, acabamos muitas vezes tendo atitudes contrárias ao evangelho da salvação, portanto, procuremos nos momentos de dificuldade de nossa vida, quando estamos agitados, lembrarmo-nos de guardar a palavra de Deus. Não deixemos perturbar o nosso coração, encontremos alento, repouso, conforto, em Jesus o Nosso Salvador. E à medida que busco todos os dias da minha vida, guardar essa palavra, quando os ventos baterem forte sobre a minha história com certeza o primeiro refúgio será o próprio Deus! Este Deus que confortou o coração de São José nos diversos momentos da sua vida, São José que soube acreditar nos sinais e no sonho de Deus, soube acreditar nas palavras da sua esposa, São José que soube educar o seu filho, que soube trabalhar e fazer do seu trabalho uma oração, São José que ensinou a sua família frequentar a igreja, a sinagoga. Que também nós, na busca da nossa santidade, saibamos guardar a palavra de Deus, não nos deixemos perturbar o coração, mas acreditando no sonho e nos sinais de Deus coloquemos em prática este evangelho da salvação. Evangelho que nos impulsiona, nos motiva a ultrapassar as barreiras e pregar este evangelho, como fizeram os primeiros cristãos da cidade de Antioquia, saindo de Jerusalém e indo além-mar para pregar essa palavra. Para pregar os seus valores, mas que muitas vezes por não estar guardando verdadeiramente a palavra de Deus acabaram sendo fardos pesados naqueles que aceitavam Jesus Cristo como seu Senhor e seu Salvador. Muitas vezes, nós, no desejo, na ânsia de pregarmos a palavra ou de fazermos algo muito bem feito colocamos fardos pesados sobre aqueles que estão conosco. Em Atos dos Apóstolos – Cap.15 – fala justamente desse fardo pesado em que a comunidade decide juntamente com os mais velhos a não colocar fardos pesados, mas recordar que Deus nos ama desde a criação do mundo. Os discípulos, ao criarem as comunidades começam a pedir que o povo possa se circuncidar para participar da comunidade de fé. Quer ser salvo? Tem que ser circuncidado! Quantas vezes a gente acaba pregando a palavra de Deus e colocando fardos pesados no coração das pessoas. Quantas vezes queremos salvar nossa família e colocamos fardos pesados sobre a esposa, esposo, filhos... Os filhos, que muitas vezes sofrem com a educação dos pais, a educação social, civil, a educação religiosa também! Apresentando um Deus opressor, um Deus carrasco, apresentando um Deus que castiga! Aqueles que tem algum trabalho com pessoas que seguem as suas orientações, muitas vezes nos esquecemos de que essas pessoas tem uma vida, tem suas dificuldades e colocamos fardos pesados sobre elas! Aqueles que chegam à igreja e em vez de acolhermos, curarmos as suas feridas, como bons samaritanos, muitas vezes colocamos fardos pesados! Enfim, quantas famílias e quantas comunidades acabam se desfazendo por causa desses fardos! Rogamos a Deus que envie outros Paulos e Barnabés para identificar esses fardos. Paulo e Barnabé identificam esses fardos na comunidade e voltam para Jerusalém para ouvir o que a comunidade tem a dizer e aqui aprendemos a não tomar nossas decisões sozinhos, compreendemos que não temos resposta pra tudo, compreendemos que não somos super poderosos. É na vida de comunidade, é na partilha do que temos e somos que encontramos a verdade e a salvação. Paulo e Barnabé poderiam fazer o que quisessem com aquela comunidade, mas voltam para Jerusalém, para estar com Pedro e com os demais apóstolos. Pedro, que como um grande pai, vai agregar aquelas pessoas que discutiam o legalismo da fé, o legalismo de todas as práticas do evangelho e aí temos alguém que entra... (Porque de vez em quando precisamos de alguém para nos dizer a verdade nua e crua!) E em Atos dos Apóstolos – Cap.15 – a figura de Tiago, que sem muito rodeio vai dizer que é tudo muito bom o que estão dizendo, mas não vamos nos esquecer antes de tudo isso, que temos um Deus que nos amou por primeiro! Desde a criação do mundo, portanto vamos viver o amor, não vamos colocar fardos pesados sobre aqueles que estão chegando! Em outras palavras, vamos acolher, vamos formar, vamos buscar juntos essa santidade! E é deste modo que enviam em nome da igreja, outros discípulos, para que apresentassem em comunidade aquilo que é necessário para viver os valores do evangelho.
E assim, aprendemos que não devemos tomar as nossas decisões sozinhos. Aprendemos sobretudo os casais, a conversar sobre os problemas, porque a maioria dos problemas familiares acontece porque o casal não consegue conversar, não conseguem olhar um no olho do outro e resolver os seus problemas... Problemas de ideologia, na educação dos filhos, problemas financeiros, de sexualidade e tantas outras coisas! Falamos de Deus e o mundo, mas não conseguimos olhar, olho no olho, da pessoa amada e resolver nossos problemas! Saia do seu individualismo, desça desse pedestal, seja um pouco mais humilde! Olhe no olho da pessoa amada, converse! Os filhos que passam por problemas, chamem seus pais para conversar, abra o seu coração! Não estou dizendo que é fácil pra quem nunca fez, mas eu garanto que é o melhor caminho! Enquanto não aprendermos a sair do nosso individualismo, não conseguiremos guardar verdadeiramente a palavra de Deus!
E que o final da leitura de hoje toque o coração das famílias, sobretudo dos casais, porque decidimos, o Espirito Santo e nós, não nos impor nenhum fardo. Chame o Espírito Santo para fazer parte do seu matrimônio, da sua família, chame o Espírito Santo para conduzir as suas decisões porque quando fazemos a vontade de Deus, jamais erramos! Que o Espírito Santo do Senhor, a intercessão de São José e Santa Teresinha nos ajude a guardar a palavra do Senhor, a sairmos do individualismo e deixarmos a graça de Deus conduzir a nossa história.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 6° Domingo de Páscoa (Ano C) – 01/05/2016 (Domingo, Missa das 10h).

Amai-vos uns aos outros
24/04/2016
Irmãos queridos, sejam todos bem-vindos! Na segunda leitura de hoje, do Apocalipse de São João, está escrito que Deus enxugará todas as vossas lágrimas [ref. Ap 21, 4]. Então, antes da Homilia, vamos pedir que Deus olhe para cada um de nós; olhe para a sua casa, sua família, para as pessoas e por tudo o que está à sua volta. Você que está cansado, chateado e nervoso; pela semana que você passou... Coloquemos tudo nas mãos de Deus: os nossos sofrimentos, as nossas tristezas, as nossas dores. E que peçamos saúde e paz.
Hoje, junto com vocês, gostaria de meditar sobre a Palavra de Deus, sobre o Evangelho [ref. Jo 13, 31-33a.34-35]. Cristo nos pediu que nos amássemos uns aos outros, como Ele nos amou. Contudo, quando formos pregar o amor, a fraternidade, o serviço, não imaginemos que é uma tarefa fácil. É difícil, é complicado amar o próximo. Por quê? Porque somos diferentes. Temos as nossas condições diferentes, a nossa reação é diferente, não é igual à de todo mundo; nós não somos catalogados para fazer as mesmas coisas. Mas sim, é diante do próximo que Jesus nos pede - e, de fato, é possível - que o amor, a bondade e a amizade estejam presentes.
Quando nós éramos mais jovens, não tínhamos que conjugar os verbos na escola? ”Eu amo, tu amas, ele ama; nós amamos, vós amais, eles amam". No presente do subjuntivo: ”Que eu ame, que tu ames, que ele ame; que nós amemos, que vós ameis, que eles amem". E no pretérito imperfeito: ”Se eu amasse, se tu amasses, se ele amasse; se nós amássemos...". Porém, muitas pessoas devem confundir o acento do verbo: ”que nos 'amassêmos'" [risos]. Jesus não nos pediu ”que nos amassemos", mas ”que nos amássemos uns aos outros". Quem ama vai ao encontro das pessoas; quem ama está sempre perto das pessoas.
Por exemplo, tenho duas pequenas histórias para contar:
Em uma bela praça, existia uma paróquia toda de tijolos vermelhos. Certo dia, houve um desastre: vários veículos bateram e começou aquela gritaria enorme. Porém, ninguém chegou para socorrer as pessoas. Diz a lenda que naquela igreja havia um crucifixo muito grande no altar e que, de repente, Jesus, lá na cruz, percebendo que ninguém foi ajudar aqueles que tiveram ferimentos, se desvencilhou dos pregos, desceu da cruz e foi andando da igreja até a praça. Chegando perto das pessoas que estavam sofrendo, socorreu cada uma delas.
Todo mundo, então, ficou estarrecido. Vendo-o, começaram a dizer: ”É Jesus! É um milagre! É um milagre!". Mas Jesus, na mesma hora, respondeu: ”O grande milagre é o amor. Milagre é aquele que vai ao encontro das pessoas. Saber amar: isso sim é um milagre". E, depois de dizer isso, Jesus voltou lentamente à igreja, subiu na cruz e se colocou novamente em sua posição normal.
Isso é uma lenda, mas nos ensina que aquele que ama vai ao encontro das pessoas; aquele que ama vai socorrer, vai respeitar; sobretudo, aquele que ama é capaz de perdoar.
A segunda história é a seguinte:
Havia dois irmãos que moravam em pequenas chácaras, um perto do outro, separados apenas pelo rio. Mas, por causa de uma briga, os irmãos não se viam, nem se falavam. Um dia, apareceu uma pessoa procurando emprego; ele levava uma caixa de ferramentas nas mãos e chegou pedindo trabalho. O irmão mais velho disse: ”Eu tenho um trabalho para você: está vendo aquele monte de madeira? Quero que você feche a beira do rio com uma cerca, para que eu não possa ver a casa do meu irmão". Depois disso, foi até a cidade para fazer suas compras.
Quando voltou, a surpresa: em vez de construir uma cerca, aquela pessoa tinha construído uma ponte! De repente, quando já ia brigar com o trabalhador, ele viu seu irmão mais novo de braços abertos. Por causa da ponte, enxergando-a como um gesto de reconciliação, o irmão que tanto odiava veio correndo para abraçá-lo!
Nossa tarefa é construir pontes, e não cercas. Sermos mais construtores de pontes do que de cercas: isso é amar uns aos outros!
Homilia: Pe. Geraldo Vicente Votolini - 5º Domingo da Páscoa (Ano C) - 24/04/2016 (Domingo, missa das 10h).

Eu dou a vida pelas minhas ovelhas!
17/04/2016
Estamos celebrando o quarto domingo da Páscoa, e na igreja católica este é o Domingo de rezarmos pelas vocações! As vocações sacerdotais, religiosas, matrimoniais, missionárias... Hoje, todas as igrejas, e mais de um bilhão de católicos reúnem-se para rezar pelas vocações. A igreja não é apenas o Papa, os Cardeais, os Bispos, os Padres e os Diáconos… Ela é ministerial, a igreja somos todos nós! Porque todos eles só existem por causa de vocês! Sem o povo de Deus na igreja, o Papado, o Episcopado, o Presbiterado e o Diácono, não teriam significado nenhum, pois todos nós estamos a serviço do povo de Deus.
Mas como faltam operários para a messe, faltam muitos operários para trabalhar na construção do reino do Senhor... Não encontramos mais padres suficientes para suprir as nossas necessidades. Como também não encontramos mais agente de pastoral! Estamos indo para a 23ª Pastoral em nossa paróquia e o padre está tendo que “segurar o freio“ porque estão faltando operários para trabalhar em nossas pastorais. Precisamos de pessoas engajadas em nossas pastorais, em nossos movimentos, para podermos continuar seguindo nesse reino de Deus. Não basta só a vontade do padre, se não tiver quem ajude, encontraremos dificuldades. Precisamos urgentemente de pessoas para nos ajudar! A igreja necessita de vocações, a igreja necessita de pessoas comprometidas com a causa do reino.
Por isso, o Papa Francisco, unido aos bispos e padres, no dia de hoje, colocam-se de joelhos pedindo a Deus que envie operários para a sua messe. Não apenas padres, mas todo o povo de Deus, para que possam comprometer-se com os valores do evangelho na comunidade da qual participam.
Este passo de compromisso é dado, à medida que entendemos o evangelho de João - Cap. 10 -, na liturgia de hoje. Jesus é o nosso Bom Pastor e como bom pastor está a cuidar e zelar por cada um de nós, as suas ovelhas , mas é necessário que saibamos ouvi-lo, reconhecer a voz de Deus e seguirmos os seus passos nessa construção do reino de amor. Neste mundo de tantos barulhos, tantas dificuldades, tantos holofotes, tanta gritaria, tanta buzina na cidade grande. Neste mundo de tanto trabalho e tantas atividades, estamos reconhecendo a voz de Deus? Temos condições de reconhecer, em meio a tanto barulho e agitação, esta voz do bom pastor que está a nos chamar? Será que reconhecemos quando o Senhor está perto de nós? O Senhor está a nos falar em todos os momentos de nossa vida... Quando Deus vai agindo no cotidiano da nossa história, será que estamos conseguindo reconhecer esta voz? E após reconhecer é preciso interpretar o que Deus nos pede!
Ontem uma família pediu para trabalhar na comunidade e depois de identificarmos qual seria a melhor pastoral, reconhecemos, que na semana que eles chegaram à igreja um casal que estava em uma pastoral foi chamado para outra. E deixando aquela pastoral, deixaram também um buraco e foi justamente naquele buraco que Deus enviou aquela família para suprir as nossas necessidades. E o casal disse: “Não temos a menor dúvida de que foi Deus que nos enviou para ajudar a paróquia!“ E não é um casal distante, é um casal que já frequentava a paróquia, mas por motivos diversos tinha se afastado e retornaram a igreja para ajudar nesta caminhada de evangelização.
Portanto, é necessário ouvir a voz de Deus, reconhecê-la e seguir os seus ensinamentos. Outro passo que encontramos grandes dificuldades... Porque ouvimos, sentimos, talvez rezemos frequentemente, mas e o passo de responder a este chamado de Deus? Colocando em prática estes valores do evangelho em nossa vida, em casa, no trabalho, com os amigos, na paróquia Santa Teresinha, será que conseguimos sair desse comodismo que nos encontramos, desta falta de responsabilidades com as diversas situações da nossa vida?
Neste final de semana, em que é votado o processo pelo prosseguimento ou não do impeachment da presidente da República, nos escandalizamos com a falta de competência dos nossos representantes! Alguns levam o futuro do nosso país na brincadeira, outros não tem condições de concluir uma frase com começo, meio e fim. E outros que não estão se importando comigo e com você, mas simplesmente com o seu bolso, se importando apenas em manter a sua situação política no Congresso Nacional. Graças a Deus não são todos! A esperança nunca deve abandonar o nosso coração. A sociedade civil aonde a igreja deve estar inserida, necessita também de homens e mulheres comprometidos com a causa do reino, como Paulo e Barnabé que não se fecharam em quatro paredes no templo judaico, mas saíram para pregar esta palavra.
Em Atos Apóstolos - Cap. 13 -, vemos Paulo e Barnabé que não se contentam em pregar a palavra de Deus em Jerusalém e vão para Antioquia, uma cidade distante de Jerusalém onde havia tanto Judeus de nascença como outros convertidos, e vão ali para pregar a palavra do Senhor, encontram todas as dificuldades de um missionário, mas não desanimam! Deixam aqueles que não querem ouvir, “sacodem a poeira dos pés“ - como pede o evangelho - e vão pregar a palavra de Deus aos pagãos. Os judeus convertidos ficam com inveja porque Paulo e Barnabé ao pregar a palavra de Deus começam a juntar uma multidão de fiéis que não estavam contentes com a pregação dos judeus, sobretudo aqueles que pregavam, mas não praticavam aquilo que diziam.
Neste mundo de “Meu Deus“ sempre tem alguém querendo ouvir a palavra de Deus, mas é necessário haver aqueles que pregam, aqueles que anunciam essa palavra que não é responsabilidade apenas do Papa, dos Bispos ou dos Padres, mas é responsabilidade de todos os batizados.
A pergunta que devemos nos fazer é: - Eu tenho pregado essa palavra de Deus com a mesma convicção que os discípulos? Paulo e Barnabé vão nos lembrar que Deus nos diz: “Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra“. Quantas e quantas pessoas nas trevas dos erros, nas trevas da ausência de Deus, nas trevas do seu preconceito, nas trevas do seu comodismo, enfim, quantas e quantas trevas podemos iluminar com a ação de Deus, com a voz do bom pastor que ressoa em nossos corações.
Por isso, com Paulo e Barnabé vamos ter esta coragem e esta ousadia de irmos ao mundo e pregarmos o evangelho da salvação. Porque a multidão que se reúne em torno ao Cordeiro, o Bom Pastor, o Imolado pela nossa Salvação, será almejada e purificada no sangue do Cordeiro. Como diz no livro do Apocalipse, no seu Cap. 7: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro“.
Que ao ouvirmos a voz do grande pastor possamos identificar qual é a sua vontade, seguirmos os seus mandamentos, sermos anunciadores da palavra, do amor e da justiça e nos deixarmos lavar e purificar por este sangue do cordeiro que lava, cura, purifica e santifica os nossos corações.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 4° Domingo de Páscoa (Ano C) – 17/04/2016 (Domingo, Missa das 7h30).

Para levar a Palavra de Deus é necessário superar nossos medos e o pecado, que insistem em fazer morada no nosso coração!
10/04/2016
Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez sejam todos muito bem-vindos! Sobretudo você que vem pela primeira vez em nossa comunidade e ao grupo de música vindo de outra paróquia, que nos auxilia neste dia devido ao evento de formação de nossos músicos. Deus abençoe os músicos assim como o trabalho que eles fazem em nossa comunidade! Que bom vê-los participando desta formação, que se iniciou onde tudo deve se iniciar: na Santa Eucaristia. A Igreja diz que tudo começa na Eucaristia e termina na Santíssima Eucaristia. Portanto, nunca deixem de participar dela. Estou muito feliz porque foi decidido o dia da formação, o modo como ela poderia acontecer, os temas... E que hoje eles iniciaram o dia com a celebração da missa, próximos da Palavra de Deus e do Seu Corpo e do Seu Sangue.
Estamos celebrando o Terceiro Domingo da Páscoa, a Ressurreição de Jesus. E com esta Páscoa, queremos celebrar também a nossa passagem do homem velho para o homem novo, da mulher velha para a mulher nova. Renascidos da Graça, do Amor, da Bondade, da Misericórdia e da Compaixão de Deus que, na sua Ressurreição, resgata o gênero humano do seu pecado.
No Evangelho de hoje – de João, capítulo 21 –, temos a terceira aparição do Senhor. Provavelmente, este Evangelho não foi escrito pelo Evangelista João, mas sim por seus discípulos, que concluíram o Evangelho e depois o organizaram de uma forma lógica. A comunidade reunida – como nós aqui estamos, celebrando a Palavra e a Eucaristia – olhou a sua história e viu o Senhor Ressuscitado, que não desampara a Igreja nascente, representada por Pedro e pelos outros seis discípulos, dado que o sete, na linguagem bíblica, significa a totalidade. Estes sete discípulos devem levar a Palavra de Deus a todos os homens e mulheres da terra, devem continuar a missão do Senhor – como cada um de nós batizados, crismados, católicos devemos levar a Palavra do Senhor a todas as pessoas –, cada um ao seu modo. Mas, todos nós levando a Palavra de Deus! Os músicos que aqui estão em formação levam a palavra de Deus através da música. Os ministros, através da Sagrada Comunhão, da visita aos doentes... Os coroinhas, pré-cerimoniários e cerimoniários, ajudando na celebração eucarística. Os nossos catequistas, a Pastoral São José – que ajuda na manutenção da Igreja –, os nossos dizimistas, a Mãe Rainha, os grupos de rua, a comissão de festas e todos aqueles que compõem os 22 grupos de nossa paróquia, devemos naquilo que praticamos, levar a Palavra de Deus. Mas, para levar a Palavra de Deus é necessário que superemos o nosso medo e o pecado, que insistem em fazer morada no nosso coração.
Os discípulos estavam com medo. Eles foram ao lago de Tiberíades para pescar. Passaram a noite inteira tentando pescar e nada conseguiram. Mas, pela manhã ao voltarem para a margem, aparece um homem que pergunta: “Tem alguma coisa para comer?“. Eles estavam com fome, não tinham o que comer, e dizem: “Não, não temos“. E aquele homem diz: “Lançai as redes à direita da barca“. Na voz e no modo de falar daquele homem, o discípulo amado – que nós não sabemos quem é – reconhece o Salvador. Ao ouvir a voz do Salvador, eles lançam as redes e trazem para fora 153 grandes peixes.
Devemos reconhecer, em primeiro lugar, que Jesus aparece para nós nem sempre revestido de glória e de poder mas, às vezes, como este homem no Lago de Tiberíades: um pedinte, que estava passando fome. Muitas vezes, Jesus aparece para nós como aparece aos discípulos de Emaús: como andarilho, andando pelas ruas e falando das coisas de Deus. Às vezes, fazemos uma imagem de um Jesus Cristo muito “Hollywoodiano“: bonito, loiro, de olhos azuis, com uma voz forte e eloquente. Mas Jesus, na maioria das vezes, nos aparece em forma de pessoas necessitadas, sobretudo daquelas que nós, no nosso preconceito, acabamos excluindo.
O discípulo amado reconhece a voz de Jesus porque o amava. E quem ama, supera as barreiras do preconceito. Quem ama, supera as barreiras da indiferença. E, como discípulos de Jesus, devemos superar as barreiras dos nossos preconceitos, das nossas diferenças. Seja com aqueles que não conhecemos, seja com os pobres ou com os doentes. Devemos superar tudo aquilo que nos impede de seguirmos o Senhor. Devemos superar também o nosso pecado.
Quando o discípulo amado grita: “É o Senhor!“, Pedro pula na água porque estava nu e sentiu vergonha. Lembramos do livro do Gênesis quando Adão e Eva, por causa do pecado, sentem vergonha um do outro e sentem vergonha de estarem na presença de Deus. O nosso pecado nos faz ter vergonha. Quantas vezes temos vergonha de olhar no espelho porque sabemos que algo é errado e mesmo assim continuamos a fazer?! Pior ainda quando descobrem aquilo que estamos fazendo – e que estamos fazendo de modo velado. A vergonha toma conta de cada um de nós.
Esta água em que Pedro pula é a mesma água que vai purificar o coração de Pedro. Jesus vai ter o seguinte diálogo com Pedro, aquele que o havia negado por 3 vezes: “Pedro, tu Me amas?“. "Sim, Senhor, eu Te amo!“. “Pedro, tu Me amas?“. “Sim, Senhor, eu Te amo!“. “Mas Pedro, você Me ama?“. “Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu Te amo!“ . O amor, diferente daquele das novelas, deve ser traduzido em gestos concretos, deve ser traduzido em palavras também. E é por isso que Jesus insiste que Pedro diga, proclame, testemunhe o seu amor pelo Salvador. Porque é este amor que levará Pedro a proclamar a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor para a comunidade que nascia e para outras cidades que não conheciam o nome de Jesus.
Na linguagem bíblica, 153, segundo São Jerônimo, é o número de cidades conhecidas na época. Portanto, a Palavra de Deus deve ser levada a todos os homens e mulheres, onde quer que estejamos. Por onde quer que nós andemos, devemos levar esta Palavra que, muitas vezes, vai nos questionar sobre as nossas atitudes, nosso testemunho e aquilo que professamos. Como na primeira leitura de hoje, do Ato dos Apóstolos, Capítulo 5, quando Pedro e os discípulos são presos pela segunda vez. Foram presos uma vez e açoitados e o Anjo os soltou. Continuaram anunciando a palavra de Deus e foram presos uma segunda vez. Então, vão dizer para eles: “Nós tínhamos proibido expressamente que vós ensinásseis em nome de Jesus“. Então, Pedro diz: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens“.
Será que nós estamos vivenciando o Evangelho da Salvação no cotidiano da nossa história? Será que, de fato, levamos esta Palavra de Deus não tendo medo das consequências de levar essa Palavra do Senhor para o nosso trabalho, para a escola, para os nossos amigos, nos nossos momentos de lazer? Será que temos vergonha da Palavra que nos congrega, que nos salva?
“É preciso obedecer a Deus antes que aos homens“. Quem nós estamos obedecendo? É uma pergunta que deveríamos nos fazer todos os dias da nossa vida. É preciso obedecer a Deus sempre, em primeiro lugar. Muitas vezes teimosos, Deus está nos indicando o caminho correto, mas insistimos em fazer a outra opção. Os discípulos do Evangelho lançaram as redes a noite inteira. Quando Jesus pede para lançarem de um modo diferente – do outro lado do barco –, eles ouvem, lançam a rede e retiram 153 grandes peixes. Aqueles que se lançam nos braços do Senhor não estarão isentos de dificuldades mas, com certeza, colherão os frutos de sua fé depositada no Salvador. Porque o livro do Apocalipse, também no Capítulo 5, diz: “que toda honra e toda glória seja dada ao Cordeiro de Deus“. Que a minha honra e a sua honra sejam dadas sempre. Não em nosso nome, mas em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor, o Cordeiro imolado que deu a vida pela nossa salvação.
A missão do batizado, do cristão, dos músicos e de todos nós é proclamar o querigma cristão. Ou seja, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Como nos diz o Salmo 29, “exaltemos o Senhor sempre em nossa vida porque é ele que nos sustenta, ele que nos ampara, ele que nos fortalece. Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade“. E continua: “sede, Senhor, o meu abrigo protetor. Transformastes o meu pranto em uma festa. Senhor, meu Deus, eternamente hei de louvar-Vos“.
Que possamos, com a mesma fé dos discípulos e do salmista, louvarmos e glorificarmos a Deus todos os dias da nossa vida e, assim, exaltarmos o nome do Senhor, que merece honra, glória e poder, no céu e na terra, pelos séculos dos séculos! Amém!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 3° Domingo de Páscoa (Ano C) – 10/04/2016 (Domingo, missa das 7h30).

A experiência de fé está na vida de comunidade, na vida de Igreja!
03/04/2016
Queridos irmãos e irmãs sejam todos muito bem-vindos e acolhidos neste dia em que celebramos a Páscoa de Cristo, celebramos a Festa da Divina Misericórdia e a alegria do retorno da catequese do Crisma em nossa comunidade paroquial! Nesta festa da Divina Misericórdia e da Páscoa do Senhor, a igreja nos propõe meditarmos sobre a nossa credulidade, sobre a nossa participação na comunidade, sobre o nosso testemunho de fé e o quanto estamos ouvindo a voz de Deus.
No Evangelho de hoje - João cap. 20 - lemos no primeiro versículo: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana...”. A noite para o evangelista é sempre momento de turbulência, momento de nos encontrarmos conosco e assumirmos os nossos medos. E os discípulos estavam com medo dos Judeus, estavam com medo de sofrer o mesmo destino de Jesus, ou seja, sofrer a morte e morte de cruz! Esse versículo diz que era o primeiro dia da semana - o domingo! E o domingo é o dia do Senhor para cada um de nós, porque Jesus ressuscita e aparece aos discípulos no domingo. É o dia de nos reunirmos como igreja, como família para ouvirmos a palavra e partilharmos o pão - Domingo sem missa, semana sem graça - A minha prioridade é louvar ao Senhor, participar da Santa Missa, frequentar a minha comunidade de fé porque é na comunidade que Jesus aparece aos discípulos no primeiro dia da semana.
Porém, neste evangelho, tinha alguém que não estava com a comunidade... E esse alguém era Tomé! A comunidade fez a experiência da graça e saíram eufóricos, felizes e alegres. Encontraram-se com Tomé e ele disse não acreditar em nada, e completou: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
Passados oito dias, o incrédulo, aquele que não veio na procissão do Ressuscitado volta para comunidade... Quem sabe Jesus aparece, não é? – E é justamente na comunidade em que Jesus aparece a Tomé.
Quando Jesus diz a Tomé: “E não sejas incrédulo, mas fiel!” É aí que Tomé faz a sua profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” e Jesus diz pra ele: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”.
Portanto, eu e você somos bem-aventurados, porque acreditamos sem termos visto. Não precisamos colocar as mãos nas chagas de Jesus porque a nossa fé não é simplesmente física, palpável, mas é uma fé de sentir, de compreender com a nossa razão, e pelo evangelho que acabamos de ouvir, esta razão nos diz que não se pode fazer experiência de Cristo fora da comunidade de fé.
Este evangelho sempre me lembra daquelas frases de quem não frequenta a igreja, sobretudo os que se autodenominam católicos não-praticantes, que dizem: “Eu rezo em casa!”, “Eu faço minhas orações todos os dias!”, ”Estou sempre em contato com Deus!”, ”Sempre assisto a missa na TV pelas manhãs!”. Louvado seja Deus, mas ali não está a experiência de fé! A experiência de fé está na vida em comunidade, na vida de igreja! Ou você é católico ou você não é! Eu abomino tal denominação.
Viver em comunidade é o fato de nos conhecermos, de nos encontrarmos para celebrar a eucaristia, de vivermos as nossas alegrias e as nossas tristezas juntos, e não separados. E é na vida em comunidade que Cristo Ressuscitado aparece aos seus discípulos.
Não existe missa sem povo, oficialmente não se pode celebrar missa sozinho. A vida de comunidade é tão importante que no Missal (o livro vermelho) tem as orações da missa. Em minha vida celebrei a missa, sozinho, duas vezes. A primeira, eu estava estudando, estudava de domingo a domingo. Cheguei em casa, depois de um trabalho da universidade… Na época eu morava com vários padres e fui procurar alguém para celebrar a eucaristia comigo, mas todos já haviam celebrado. Deu 21h15 e eu não achava ninguém, então peguei minha túnica, minha estola e fui para a capela e celebrei a eucaristia. Mas naquele dia a ausência do povo corroeu meu coração. A sensação é que eu não estava junto com a igreja de Jesus. A segunda vez foi mais triste, eu estava estudando - dia 22 de novembro - fui pra faculdade, tive trabalhos e cheguei em casa já por volta das 21h. Lá fui eu, telefonei para todos os quartos da casa onde morávamos e, mais uma vez todos os padres já haviam celebrado! Então, peguei minha túnica, estola, imprimi a homilia do Bispo - Que eu leio todos os anos no dia da minha ordenação - e fui para a capela e aí as lágrimas começaram a descer... Porque celebrar a eucaristia, no dia da minha ordenação, sozinho… Doeu! Ali a gente sente a ausência da nossa comunidade de fé e quem faz a experiência de igreja verdadeiramente não fica mais em casa sozinho, rezando. Sabe da importância da comunidade, sabe da importância de estar inserido na vida de fé de nossa comunidade de Santa Teresinha. E é esta vida de fé, ouvindo a palavra e partilhando o corpo eucarístico que nos dá força e coragem para irmos ao mundo e testemunharmos a fé que professamos.
É o que acontece com Pedro em Atos dos Apóstolos, na primeira leitura de hoje, cap. 5. Em que dizem que muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos e o número de pessoas que aderiam ao Senhor pela fé crescia sempre mais. Aderiam à fé por causa do testemunho dos apóstolos, por causa da coragem que eles tinham de após celebrar a eucaristia, mesmo sendo perseguidos, irem até as praças e falar no nome de Jesus. Hoje não somos perseguidos, hoje temos liberdade. Mas quantos de nós temos coragem de falar da fé que professamos dentro de casa, no trabalho, com os nossos amigos? É necessário falarmos desta experiência, é necessário falarmos da importância da vida de comunidade, indo a todos os lugares testemunhando este amor de Deus e mesmo na solidão, reconhecermos que Deus está a falar ao nosso coração.
Como João que por causa da perseguição foge e vai pra ilha de Patmos. E ali na sua experiência pessoal com Deus, na ausência da comunidade, não porque ele não queria, mas porque ele não tinha uma comunidade, coloca-se intimamente ligado a Deus e é aonde ele escreve o livro do Apocalipse. Permanece dias e dias numa gruta minúscula, no alto de uma montanha, em oração, para escrever o livro do Apocalipse. Este livro que nos diz que por causa da palavra de Deus e do testemunho que João dava, ele foi à ilha de Patmos, “No dia do Senhor, fui arrebatado pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, como de trombeta, a qual dizia...” e aqui temos a revelação de Deus e no finalzinho ele diz que mesmo com medo é a mão de Deus que o toca e diz: “Não tenhas medo!”.
Para nossa insegurança, para nossos medos, o Senhor está nos abençoando, nos guardando, nos protegendo, está dizendo a cada um de nós: “Não tenhas medo!”. Como naquela ocasião que eu celebrei a missa sozinho e que até hoje foi a missa mais difícil da minha vida! Era Deus tocando no meu coração e dizendo: “Vai, força, coragem!“. Quantas vezes em nossa vida nos sentimos sozinhos, tristes, abatidos? E é este Deus que deseja tocar com a sua mão poderosa e nos dizer: “Vai, não tenhas medo!”.
Que ao celebrarmos a eucaristia de Jesus Cristo Nosso Senhor, possamos reconhecer a importância do dia do domingo, possamos reconhecer a importância da vida em comunidade, deixarmos a nossa incredulidade de lado e praticarmos o evangelho da salvação, partilhando a palavra e o nosso testemunho e deixando-nos tocar, sentir, por experiência de Deus a exemplo de São João.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 2° Domingo de Páscoa (Ano C) – 03/04/2016 (Domingo, missa das 7h30).

O túmulo está vazio, o corpo de um homem pregado na cruz não está mais lá; Jesus ressuscitou para nos salvar!
27/03/2016
Cristo ressuscitou, aleluia! Queridas irmãs, queridos irmãos, que alegria nos encontrarmos para celebrar a passagem de Cristo sobre o pecado e a morte; a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.
Meus irmãos e minhas irmãs, “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!“ [Sl 117 (118)]. Aleluia! Hoje a Terra celebra o evento mais importante – de hoje, de ontem e de sempre: a ressurreição de Cristo Jesus. Não devemos nos limitar; limitar a nossa fé carregando um andor com um Jesus inerte, seja o Cristo morto, seja Jesus ressuscitado... Um Jesus que nada questiona. O que precisamos fazer é remover a pedra do sepulcro e enxergar o Cristo luminoso e ressuscitado, que superou a morte e anunciou a vida eterna, uma vida em Deus. Nós não adoramos as imagens, nós adoramos o Cristo Vivo, o Cristo Ressuscitado. As imagens são para nos lembrar, para facilitar a nossa visão (que aquece o coração) do Cristo Jesus, que sofreu a Paixão, a Sua morte e ressuscitou para a vida eterna.
A ressurreição deve ser entendida como ponto crucial da nossa fé cristã; é a ressurreição no Cristo o ponto fundamental da nossa fé – fundamental no sentido estrito da palavra: é fundamento sobre o qual se levantou e se levanta o edifício de nossa fé, uma fé que é católica, ou seja, universal; uma fé que é apostólica, desde os primeiros cristãos, desde os apóstolos. Tirado esse fundamento, todo o edifício se ruiria. A nossa fé está fundamentada na ressurreição de Cristo e nessa fé apostólica, passada de geração em geração. Um cristianismo que não fosse construído sobre a ressurreição de Jesus Cristo, nosso Senhor, seria impossível. A ressurreição é o único milagre que garante a divindade de Jesus de Nazaré; a ressurreição de Cristo é o ponto fundamental da nossa fé em Cristo Jesus, é a única prova indestrutível da Sua messianidade redentora. Jesus é o nosso Salvador, não existe outro! Foi Ele quem te fez levantar às 5h da manhã [para a Procissão de Cristo Ressuscitado], foi Ele quem te trouxe aqui hoje; é Ele quem te faz ter essa fé, essa ousadia de sair pelas ruas às 6h da manhã, professando que Ele é o nosso Salvador.
Hoje é Páscoa, que significa passagem. Para nós, a passagem do pecado para uma vida de graça, passagem da morte eterna para uma vida em Deus, para uma vida plena. Hoje é o dia da nossa passagem, de passarmos para uma vida completa em Jesus Cristo, nosso Senhor. O túmulo está vazio, o corpo de um homem pregado na cruz não está mais lá: Jesus ressuscitou para nos salvar! Aqueles que procuravam Jesus entre os mortos não O encontraram. Por quê? Porque Cristo ressuscitou dos mortos! Vamos encontrar o Cristo Ressuscitado falando com os apóstolos incrédulos, ouviremos nos próximos 50 dias muitas incredulidades dos primeiros discípulos – e rogamos a Deus para que eu e você não nos encontremos entre os incrédulos. Jesus é encontrado comendo com os apóstolos, mostrando-lhes as mãos e os pés perfurados pelos cravos, como vemos na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo; ali está um dos sinais da Sua ressurreição: é o Cristo que foi sepultado que ressuscita dos mortos. Encontramos o Senhor consolando Maria Madalena, angustiada desde o Calvário; podemos encontrar o Senhor também consolando o nosso coração, coração que pode estar angustiado por diversas situações de nossa história. Encontramos Jesus ressuscitado explicando aos discípulos entristecidos de Emaús, os discípulos que voltam para casa porque acreditavam no Cristo que iria triunfar, que iria depor os poderosos; voltaram para casa entristecidos porque não tinham ainda entendido a proposta de Cristo Jesus, não haviam entendido o significado das profecias e de Suas palavras. Nós devemos acreditar no Senhor, nas profecias e nas Suas palavras, não voltarmos para casa entristecidos. Se você sair daqui hoje cabisbaixo, triste, não diga que você é católico; agora, se você sair daqui feliz, alegre, contente, aí sim: diga para todo mundo que você é cristão católico! Não leve o Cristo morto com você, leve o Cristo Ressuscitado! Leve o Cristo Ressuscitado para dentro da sua casa, para o seu trabalho, para o cotidiano da sua história.
Caros irmãos e irmãs, nos Atos dos Apóstolos (que é a Primeira Leitura de hoje), São Lucas nos propõe o testemunho, a Catequese de São Pedro em Cesaréia, na casa do centurião chamado Cornélio. Convocado pelo Espírito Santo, Pedro entra na casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé cristã e batiza o centurião, bem como toda a sua família. Quantas pessoas convertidas em nossa comunidade... Só neste último ano, quantas pessoas se converteram a Cristo Jesus, quantas pessoas retornaram para o caminho da Igreja, para o caminho de Jesus Cristo, nosso Senhor! Eu e você devemos ser Pedro, levando essa palavra àqueles que não creem; eu e você devemos ser Pedro, levando essa palavra àqueles que estão entristecidos. E para os cristãos novos que estão chegando à nossa comunidade, ou para aqueles que estão retornando: sejam bem-vindos! Sejam acolhidos nessa paróquia de Santa Teresinha! O episódio de Cornélio é importante porque ele foi o primeiro pagão a ser 100% admitido ao cristianismo pelos 12 apóstolos. Se os apóstolos admitiram os pagãos, por que eu e você não vamos admitir? Por que eu e você não vamos admitir as pessoas novas que chegam nesta comunidade de fé? Vamos acolher, vamos catequizar, vamos incentivar a vivermos juntos esta fé que nós congregamos.
Meus irmãos e minhas irmãs, na Segunda Leitura, São Paulo apresenta, como ponto de partida, a base da vida cristã: a união com Cristo, o Ressuscitado, no qual o cristão é introduzido pelo Batismo. Ao ser batizado, o fiel católico morre para o pecado e renasce para uma vida nova, que terá sua manifestação gloriosa quando ultrapassarmos, pela morte, as fronteiras das nossas limitações humanas e existenciais. Esta vida é uma passagem; como nós estamos passando a nossa vida? Quais são as nossas escolhas? Jesus, o Ressuscitado, está pautando as nossas decisões, enquanto caminhamos ao encontro deste objetivo último: a ressurreição, a vida nova em Cristo? Em concreto, isso implica despojarmo-nos do homem velho, da mulher velha, por uma conversão que nunca acaba, e nos revestirmos, cada dia mais, profundamente, da imagem, das palavras, dos sentimentos de Jesus Cristo, nosso Senhor. Despojemo-nos do homem velho, despojemo-nos da mulher velha e deixemos o Cristo adentrar no nosso coração e nos nossos sentimentos.
Meus irmãos e minhas irmãs, a Páscoa é festa também da libertação. Desde os tempos de Moisés, na Páscoa Mosaica, celebrava-se a passagem do povo da escravidão para a liberdade e sua caminhada para a terra prometida. Agora, Jesus veio reescrever esta história – a velha aliança –, nos dando uma nova e eterna aliança. É a passagem do pecado para a graça, que eu e você somos convidados a fazer; a passagem da morte para a vida eterna. Jesus arrancou, com Sua morte, a maldade dos homens e nos transformou em criaturas novas. Assim, todos nós, eu e você, somos convidados a fazer essa passagem, relembrando o que disse Santo Agostinho, no século IV, após se converter a Cristo Jesus: “Passar é preciso“. Precisamos passar! O cristão não vive parado, a vida é uma passagem e devemos passar do pecado para a vida em Cristo Jesus. Passar para onde? Como? Devemos passar de onde estamos, talvez envoltos em trevas, para a luz da ressurreição: o Círio Pascal, que vai iluminar os 50 dias deste período intenso da Igreja. Devemos passar de onde estamos, amarrados pelo egoísmo, para o amor partilhado. De onde estamos, cercados de erros que dividem, para o campo da verdade, que acolhe e unifica; deixemos o erro de lado e passemos para a verdade em Cristo Jesus. Passar da ganância, talvez armados de medo, para a pureza do desapego e da fraternidade. Devemos passar de onde estamos, abrindo fossos de autoproteção, para as pontes de paz, pontes de justiça, pontes de amor, que facilitam o encontro entre Deus e nós, que somos cristãos à imagem e semelhança de Deus. Devemos passar de onde estamos, marcados pelo pecado, para a graça, que é a marca dos filhos de Deus.
A memória de Jesus, na Palavra e na Eucaristia, nos ensina, a cada um de nós, a vivermos com Ele. Jesus é o centro da nossa vida, temos que relacionar tudo com Ele; toda a nossa vida deve estar relacionada com Cristo. Devemos enxergar tudo à luz de Cristo. Esta luz do ressuscitado deve iluminar a nossa vida, isto é, vivenciar a ressurreição de Cristo na nossa própria vida, deixar a luz de Cristo iluminar a nossa história. Peçamos a Deus, nesta passagem, nesta Festa da Páscoa, que possamos viver com intensidade o discipulado a Jesus Cristo, nosso Senhor. Porque Ele venceu o pecado e a morte. Ele está vivo! Nos abençoando, de braços abertos para nos acolher. Porque Cristo ressuscitou! Aleluia, aleluia!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Páscoa (Ano C) – 27/03/2016 (Procissão seguida de Missa às 6h).

Cristo ressuscitou, aleluia! Cristo venceu a morte, aleluia! O nosso Salvador ressuscitou, aleluia!
26/03/2016
Queridos irmãos e irmãs, que alegria nos encontrarmos para a conclusão deste Tríduo Pascal da celebração da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Por venerável e antiguíssima tradição da Santa Igreja Católica, esta é “A noite de vigília em honra ao Senhor“, como nossos irmãos Hebreus em Êxodo cap. 12, cada um de nós, fiéis, trazendo nas mãos - segundo nos ensina o Evangelho de Lucas, cap.12 - as velas acesas, nos assemelhamos aos que esperam ao Senhor, os que esperam a volta do nosso Salvador Cristo Jesus, para que quando ele chegar possamos estar vigilantes e ele, o Senhor, nos encontre com as velas nas mãos e assim, possamos acolher o seu chamado de sentarmos todos como igreja e como família à mesma mesa do Senhor.
Comemoramos nesta venturosa noite a ressurreição de Cristo Jesus. - CRISTO RESSUSCITOU! ALELUIA, ALELUIA! - Esta liturgia de hoje deve falar por si mesma, não deve haver tantas explicações... O mistério da nova luz, do Círio pascal, a Luz de Cristo Jesus que surge nas trevas! Ele que vence o pecado e a morte, a luz que ressurgiu das trevas simboliza para nós a salvação, a vitória sobre o pecado e sobre a morte. Nesta luz, que um dia foram acessas as velas do nosso Batismo, cada um de nós, nos encontramos na travessia da nossa história em direção à terra prometida, a Jerusalém Celeste.
Abraão nosso pai na fé, teve que decidir entre a fidelidade a Deus e entre os seus interesses pessoais. Abraão escolheu a fidelidade, mesmo diante do absurdo de sacrificar seu único filho. A leitura de Abraão, obediente a Deus faz-nos lembrar o dia em que Jesus parou à beira do poço de Jacó e disse aos Apóstolos: “O meu alimento é fazer a vontade do Pai“. E essa também deve ser a nossa resposta, o nosso alimento também deve ser fazermos a vontade do Pai! Será que estamos praticando a vontade do Pai ou será que estamos praticando a nossa própria vontade?
A vontade do Pai para com Jesus foi duríssima - Que morresse na Cruz pela Salvação da humanidade. Cristo morreu pela nossa Salvação e nenhum sacrifício é maior do que este! Portanto, devemos ouvir o chamado que Deus nos faz para assumirmos a nossa cruz de cada dia, sermos dignos de sermos chamados de cristãos para um dia ressuscitarmos com ele para a vida eterna. Jesus foi obediente até a morte e morte de cruz! Como está a nossa obediência a Deus?
A liturgia de hoje nos fala da escravidão, nos fala da maldade. Dois dilemas da humanidade: Escravidão e maldade. Retomamos a passagem do mar vermelho e a saída dos Hebreus da escravidão Egípcia. A leitura do Êxodo nos relata que o mar se abriu e os israelitas passaram a pés enxutos, ou seja, foram mais fortes que os demônios. Os israelitas foram mais fortes que a maldade e assim puderam atravessar seguros, vencendo todas as dificuldades físicas e espirituais, rumo à terra prometida. Também nós, eu e você, devemos ser mais fortes que o demônio e a maldade! A caminhada é difícil, sair da nossa zona de conforto é difícil, requer coragem e fé em Deus. E esta coluna luminosa – referência ao Círio Pascal -, que iluminou a nossa entrada na igreja hoje, que iluminou o povo de Deus no deserto, é esta luz que deseja ser o nosso guia, aquele que nos direciona no caminho da nossa história. Deixemo-nos guiar pelo Cristo Jesus, o Ressuscitado! Vamos vencer juntos, a escravidão e a maldade! Vamos ser fieis a Deus! O homem criado a imagem e semelhança de Deus às vezes na fidelidade e muitas vezes na sua infidelidade era incapaz de superar sozinho a condição de criatura pecadora e manchada pelo pecado original. Foi então, que Deus, aquele que criara o ser humano por amor e no amor, novamente por meio de seu filho Jesus Cristo em nosso socorro nos trouxe o caminho, a verdade e a vida! Cristo é o caminho, a verdade e a vida!
Vamos juntos, nessa Páscoa do Senhor, viver em Cristo Jesus como homens e mulheres da luz eterna, a luz da salvação. Renovemos nosso compromisso de Cristãos batizados e anunciemos a ressurreição a todos os povos que são clamados e conclamados para a missão, pois todos nós queremos, nesta noite, proclamar Jesus Cristo Nosso Senhor como nosso caminho, a nossa verdade e a nossa vida! Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Vamos repetir: Jesus é o caminho, a verdade e a vida!
Concluindo com as palavras do Papa emérito Bento XVI – compreendamos o que a liturgia de hoje simboliza para cada um de nós – “Este é o júbilo da Vigília Pascal: nós somos livres. Mediante a ressurreição de Jesus o amor revelou-se mais forte do que a morte, mais forte do que o mal. O amor o fez descer e, ao mesmo tempo, é a força pela qual Ele se eleva. A força através da qual nos leva consigo para a ressurreição. Unidos ao seu amor, levados sobre as asas do amor, como pessoas que amam descemos juntos com Ele nas trevas do mundo, sabendo que precisamente assim também nos elevaremos com Ele. Rezemos, portanto, nesta noite: Senhor, mostra hoje também que o amor é mais forte do que o ódio. Que é mais forte do que a morte. Desce também nas noites e na mansão dos mortos deste nosso tempo moderno e segura pela mão aqueles que esperam. Leva-os para a luz! Permanece também comigo nas minhas noites escuras e leva-me para fora! Ajuda-me, ajuda-nos a descer contigo na escuridão daqueles que estão à espera, que das profundezas gritam por ti! Ajuda-nos a levar-lhes a tua luz! Ajuda-nos a chegar ao SIM do amor incondicional que nos faz descer e por isso mesmo elevarmo-nos juntamente contigo para a glória eterna. Amém“
Que Cristo Jesus, o Ressuscitado dentre os mortos, ilumine as trevas do nosso coração. Dissipe tudo aquilo que nos impede de vivermos na liberdade de filhos e filhas de Deus, para que possamos proclamar ao mundo o Cristo que nos ama, o Cristo que se encarnou na história, o Cristo que morreu na Cruz, o Cristo que ressuscitou dos mortos para a nossa salvação. CRISTO RESSUSCITOU, ALELUIA!
Homilia: Pe. Tiago Silva – Missa com Bênção do Fogo e da Água e Renovação das Promessas do Batismo – 26/03/2016 (Sábado, missa às 19h).

25/03/2016
Caros irmãos e irmãs, estamos celebrando o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo Nosso Senhor. Estamos percorrendo este caminho que nos leva à ressurreição e à vida. E não existe ressurreição sem a morte. Não existe discípulo verdadeiro do Senhor que não assuma sua cruz de cada dia e siga confiante no Trono da Graça, como diz São Paulo escrevendo à comunidade de Hebreus.
Vemos no Evangelho de hoje - da narração da Paixão -, Jesus Cristo Nosso Senhor, que cumpre a sua missão Profética de levar a verdade: “Eu vim a este mundo para dar testemunho da Verdade. Falei nas sinagogas, falei onde os judeus estavam reunidos. Nada falei às escondidas.“ O Cristão do mundo moderno deve recordar as palavras do Senhor, para deixarmos de dizer as coisas às escondidas e termos coragem de proclamar a palavra da Salvação, em qualquer lugar que estejamos: no privado do nosso quarto, com a nossa família, no trabalho com os nossos amigos, nas redes sociais. Onde quer que nós estejamos, nós devemos dar o testemunho da verdade. Não existe profeta que não fale a verdade. Não existe profeta que não denuncie as injustiças.
No capítulo 52 do livro do profeta Isaías, na primeira leitura de hoje, nós temos o Quarto Cântico do Servo Sofredor. Ouvimos, em domingos passados, a leitura do Terceiro Cântico. Durante as semanas, ouvimos o Primeiro e Segundo Cânticos do Servo Sofredor, falando da missão do Profeta. Hoje, a Igreja nos recorda o Quarto Cântico, que é o ato consumado, o ato de assumir a sua missão profética: ser incompreendido por aqueles que o ouvem, ser flagelado, ser torturado. Sobretudo por aqueles que estão no poder e que não querem ouvir o testemunho da Verdade. “Tão desfigurado estava“ - diz a palavra de Deus - “que não parecia ter aspecto humano“. Não é conveniente olharmos a cruz de Cristo apenas pelo lado do sofrimento. É necessário também recordarmos este Cristo que deu a vida pela nossa salvação embora tenha sido torturado e flagelado. Para não sucumbir a sua missão de responder ao chamado de Deus, Ele coloca em prática este Quarto Cântico do Servo Sofredor, para o qual as primeiras comunidades cristãs identificaram na pessoa de Jesus Cristo - o Nosso Salvador - o cumpridor, por excelência, desta profecia. Nós também não podemos sucumbir à ambição daqueles que estão nas trevas, daqueles que estão no erro. Por isso faz-se necessário falarmos a verdade. Por isso, faz-se necessário levar a luz para aqueles que estão nas trevas.
Nós temos um sumo e eterno sacerdote, diz São Paulo escrevendo à comunidade de Hebreus: “aquele que se compadeceu das nossas fraquezas pois ele mesmo foi provado em tudo, como nós, exceto no pecado“. Existindo em condição Divina, não fez do seu ser uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo. Conversávamos no domingo de Ramos: teve o seu esvaziamento, assumindo a condição humana, exceto o pecado, como ouvimos a palavra de Deus no dia de hoje e, por causa dos nossos pecados, sofreu a morte e morte de Cruz. Uma morte triste e dolorosa. Uma morte difícil, mas que foi a chave para entrarmos no Reino dos Céus.
Com a morte de Cristo e a Sua ressurreição, o céu se abre para acolher o Filho do Salvador e todos os homens e mulheres de boa vontade. Nós não adoramos um Deus morto. Adoramos um Deus Vivo, um Deus Ressuscitado. Mas é o meu e o seu testemunho, que vão levar aqueles que não amam, não creem e não esperam a um Deus morto ou a um Deus vivo. Que Deus você está levando consigo ao sair da igreja? Que Deus você prega na sua casa, no seu trabalho, no seu grupo de amigos? Um Deus que morreu na cruz e parou por ali, ou um Deus que ressuscitou dos Mortos? Um Deus que abriu as portas do paraíso e que nos convida a um caminho de liberdade, felicidade e salvação? Ao assumirmos a nossa missão de discípulos, faz-se necessário recordarmos de todos aqueles que vivem no mundo das trevas, do erro, das tentações, do pecado e de todos aqueles que são crucificados neste mundo pós-moderno.
Temos que estar atentos, devemos vigiar, e orar sem cessar, para não cairmos em tentação. Que tentação, irmãs e irmãos? Na tentação de querer aderir aos sistemas injustos, que oprimem, flagelam e matam o nosso Rei Jesus. Sistemas injustos, que oprimem e flagelam os Cristos pós-modernos. Quais são esses Cristos? Simbolizados, sobretudo, nos nossos irmãos excluídos pela pobreza, pela indiferença, pela classe social, pela sua cor ou por sua religião; nos nascituros indefesos, com as leis que permitem o aborto, com as leis que não valorizam a vida, desde o seu nascimento, até o término natural; naqueles que são flagelados, nos nossos irmãos idosos, mal-assistidos, abandonados nas clínicas de repouso ou no fundo dos nossos lares; nos nossos irmãos indígenas, explorados pelos que querem as suas terras, as suas riquezas; nos crucificados neste mundo moderno, como as vítimas do tráfico de drogas, dos reféns da violência urbana, da violência rural, de tantos corpos de crianças e jovens, explorados pelo comércio e pelo turismo sexual. O planeta é crucificado, ao ser devastado pela ganância inescrupulosa dos sumos sacerdotes da idolatria ao dinheiro, à ganância e ao poder. Pela covardia de governantes que usam os seus jogos sujos de poder, riqueza e prestígio pessoal. Esses são apenas alguns exemplos dos novos crucificados de hoje. Neles encontramos Jesus, que continua sendo flagelado, crucificado e morto diversas vezes, inúmeras vezes, pelo nosso silêncio, nosso comodismo e nossa falta de compromisso com o Evangelho da Salvação.
Que a celebração de hoje nos ajude a redescobrir - ou descobrir - qual é a nossa missão: vivermos o nosso discipulado de profetas, anunciadores da justiça, da verdade e da salvação; e pregarmos um Cristo, não morto, mas um Cristo Vivo e Ressuscitado nos nossos corações e em meio a nós.
A celebração da Adoração da Santa Cruz nos ajuda a refletirmos sobre o beijo que daremos na cruz de Cristo. O beijo, que é um gesto significativo, presente em outras passagens do Santo Evangelho. O beijo do pai, que reencontra o filho perdido, na parábola de Lucas - Lc 15, 20 -, conhecida como a parábola do filho pródigo ou do pai misericordioso. Em Lucas, capítulo 7, lembramos a mulher que beija e lava os pés do Senhor com lágrimas, enxugando-as com seus cabelos. O primeiro beijo, do pai no seu filho, demonstra o afeto do pai que reencontra o filho que estava morto e voltou a viver. Também nós, podemos voltar a viver o nosso discipulado ao beijarmos a cruz de Cristo. O segundo beijo, da mulher que lava os pés de Jesus, é um beijo de quem muito amou e por isso foi perdoado. Quem ama, perdoa. Quem ama, consola. E quem ama, não é abandonado por Cristo.
Esses dois trechos nos ajudam a entender o que fazemos diante da cruz do Senhor. Ao adorá-la e beijá-la, expressamos, com este mesmo rito, a secreta alegria deste dia, quando nosso olhar é orientado para a ressurreição. Pois repito: não adoramos um Deus morto, adoramos um Deus Vivo e Ressuscitado. Nosso beijo, como aquele do pai misericordioso da parábola diante do filho despojado, confessa a ressurreição que o sofrimento e a paixão escondem. Cobrimos de beijo aquele que, por sua morte e ressurreição, torna ao seio do Pai. Confessando que estava morto mas tornou a viver, Cristo desce à mansão dos mortos, mas ressuscita para a vida eterna, quando reencontramos o caminho da nossa salvação. Também estávamos perdidos, estávamos mortos e reencontramos o caminho de casa, o caminho da verdade, o caminho da salvação.
O beijo demonstra o amor da pecadora que, alcançando o perdão, recupera igualmente a vida. É necessário assumirmos os nossos erros, as nossas fragilidades, para alcançarmos a vida. É o beijo que não só se dá, mas que desfruta do amor divino, que foi derramado no Alto da Cruz, como perfume sobre a nossa humanidade. A humanidade foi banhada com perfume da salvação, da liberdade e da felicidade. Mas é necessário que nós anunciemos ao mundo este Cristo que deu a vida pela nossa salvação. Como diz o Cântico dos Cânticos - Ct 8, 6 -, “o amor é mais forte do que a morte“.
Que o nosso amor seja mais forte do que o nosso pecado. Que o amor seja mais forte do que a indiferença. Que o amor seja mais forte do que o individualismo. Que o amor seja mais forte do que aqueles que não creem, não amam e não esperam. Que o amor abra os nossos ouvidos para ouvirmos o que o apóstolo Paulo tem a nos dizer.
Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do Trono da Graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Celebração da Paixão e Morte do Senhor e Adoração à Cruz – 25/03/2016 (Sexta-feira Santa, celebração às 15h).

Que o Senhor possa purificar o nosso coração naquilo que nos falta para sermos verdadeiros discípulos
24/03/2016
Irmãos e irmãs, estamos celebrando hoje, o início do Tríduo Pascal, é a passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade. Após caminharmos 40 dias buscando a conversão do nosso coração por meio da oração, da penitência e da caridade. Hoje é o momento da nossa passagem, da nossa libertação! Por isso é necessário encarnarmos a palavra de Deus em nossa vida e sermos capazes de colocar em prática o que o Senhor nos convida por meio da sua ação na história e em nossa vida.
A igreja nos convida a meditar sobre o capítulo 12 do livro do Êxodo, que é a passagem de Deus pelo Egito como sinal de libertação daqueles que estavam na escravidão. Deus está sempre atento às nossas necessidades, sobretudo as necessidades de escravidão, isolamento, perseguição, de maus tratos... Deus está sempre conosco, porém é necessário, como o povo de Israel, esperarmos o momento certo para que Deus aja em nossa vida, mas quando Deus agir é necessário estarmos prontos! Quantas vezes deixamos a graça de Deus passar em nossa vida? Quantas vezes Deus passa por nós e junto com a sua passagem deixamos a nossa libertação passar? É necessário estarmos prontos e para isso nos preparamos durante 40 dias. Será que nos preparamos de fato? Será que meditamos sobre esses 40 dias, sobre a ação de Deus na história do seu povo e o quanto Deus pode agir em nossa vida? Será que fizemos a penitência? Quando fazemos a nossa promessa de penitência a Deus é necessário cumpri-la até o final. Enfim, nestes 40 dias, essa preparação deve nos levar AO DIA DE HOJE para estarmos prontos para recebermos a passagem de Deus por nossa vida. É necessário estarmos com os nossos rins cingidos, com as sandálias nos pés e não só com a marca do Senhor nas portas de nossas casas, mas também na porta do nosso coração!
Nesta libertação, nesta passagem para uma vida nova com o Senhor, quais são os sinais de Deus que você carrega consigo? A sua bíblia? O seu terço? A sua cruz? Um santinho na carteira? O que você leva junto a si que te faça lembrar a todo instante que você é cristão, que você é filho de Deus, que o Senhor está contigo em todos os momentos da sua vida? Assim como esteve com o povo de Israel e o levou até a terra prometida. A nossa terra prometida é a Jerusalém Celeste, é o céu, mas para isso é necessário professarmos a nossa fé em Jesus Cristo que dá a vida pela nossa salvação.
E neste primeiro dia do Tríduo Pascal recordar da Instituição da Eucaristia onde o Senhor diz: “Isto é o meu corpo“. São Paulo que é o primeiro a escrever o relato da última ceia do Senhor nos diz claramente: “Este É o meu corpo“, Isso não é, como dizem alguns evangélicos, um memorial da salvação. Isso não parece, mas É o corpo de Cristo, que na transubstanciação, na transformação, que se dá no altar do santo sacrifício, nós atualizamos a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, ou seja, é pra dizer que a cada celebração da Santa Missa, ali na pessoa do padre, que age na pessoa de Cristo, Jesus celebra a sua última ceia, portanto a cada eucaristia que participamos não estamos fazendo memória e sim, celebrando com Jesus a sua última ceia!
Hoje, a comunidade representada por essas 12 pessoas que aqui estão (faz referência a 12 fieis que estão no altar para lembrar os 12 apóstolos que estavam com Jesus), devemos nos encontrar na pessoa de cada um deles para sentir a presença do Senhor que se dá no seu corpo e no seu sangue pela nossa salvação. A pergunta que devemos nos fazer no dia da Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio é: Como eu trato a eucaristia? Eu tenho profunda adoração por Jesus Cristo Eucarístico? A adoração à eucaristia começou na igreja entre os séculos VI e VII, antes se fazia apenas uma reserva eucarística para os doentes e só depois começou todo um trabalho de aproximação dos fieis para com a eucaristia, que muitas vezes cai no sentimentalismo que nos faz chorar, nos faz alegrar, mas não nos faz colocar no caminho do discipulado de Jesus Cristo Nosso Senhor. Eu acredito que cada um tenha um tempo em sua vida, um tempo de amadurecer a sua experiência, a sua proximidade com o Senhor e essa aproximação é necessária! Normalmente essa aproximação se dá pelo sentimento, o que não é ruim, mas muitos parecem não ter sentimento por Jesus! Ao entrar na igreja eu cumprimento primeiro o dono da casa, Jesus, que está ali no tabernáculo! Alguns entram e cumprimentam primeiro todos os santos para depois ir falar com Jesus! E depois quando nos chamam de idólatras, reclamamos, achamos ruim! A presença real de Jesus não está nos santos, está no tabernáculo! Onde devemos cumprimenta-lo, rezar, adorar o Senhor. O Senhor da nossa vida, o Senhor da nossa salvação. E depois sim, rezar para os santos que são modelos de discipulado, modelos de caminhada para cada um de nós! Mas como eu me porto com a eucaristia quando o padre está celebrando a oração eucarística, por exemplo? Será que eu presto atenção ou estou com a cabeça em outro lugar? No Brasil, a única igreja do mundo onde a oração eucarística é dialogada, o padre fala e a comunidade responde, ou melhor, Jesus fala e a comunidade responde! É o único lugar do mundo e nós não aproveitamos isso, essa liturgia dialogada!
Quero começar o quanto antes uma catequese sobre a missa, para entendermos essa nossa proximidade. O que é essa celebração do memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor! Quando levanto do banco para comungar do Corpo e do Sangue de Cristo, como me coloco diante do Senhor? Vou rezando ou prestando atenção a detalhes que não me dizem respeito? Como eu recebo o Corpo e o Sangue de Cristo? É o próprio corpo do Senhor, portanto devo pegá-lo com dignidade, com respeito, com amor! Após esta aproximação sentimental, espiritual, que em minha opinião, se faz necessária para todos como um primeiro passo, deve vir a nossa razão e o nosso discipulado, que não estão dissociados um do outro, porque senão viramos fanáticos! E a igreja não precisa de fanáticos! Jesus não precisa de fanáticos, Jesus precisa de discípulos! No fanatismo, muitas vezes, incompreendemos a mensagem do Senhor, no fanatismo podemos cair em heresia, no fanatismo a nossa fé não se enraíza e qualquer vento nos distancia da verdade, do caminho e da pessoa da nossa salvação, Jesus Cristo Nosso Senhor.
Por isso o evangelho de hoje, João cap. 3, se torna fundamental para cada um de nós! Porque na última ceia Jesus se coloca como servo de seus amigos, mesmo conhecendo o coração de cada um deles, os seus pecados, as suas dores, alegrias, tristezas, decepções, mesmo assim Jesus coloca o avental e lava os seus pés. Diz o evangelho, que mesmo sabendo que o diabo já havia colocado a traição no coração de Judas, Jesus lava os pés daquele que haveria de trai-lo. Será que nós temos essa coragem? Será que nossa fé se amadureceu a tal ponto de nos colocarmos a disposição de Jesus Cristo e ouvirmos as suas palavras do final do evangelho de hoje – “Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz“ - por muito menos falamos mal, agredimos, cortamos relacionamento, imagine lavar os pés! No tempo de Jesus lavar os pés era função dos escravos, eram eles que lavavam os pés dos seus senhores. Quando Jesus começa a lavar os pés de seus discípulos, chega à vez de Pedro e este o interroga: “Senhor, vai me lavar os pés? Não!". E Jesus responde: “Se eu não te lavar os pés não terás parte comigo“. Quando compreendemos o que o Senhor nos pede, nós não questionamos, nós nos colocamos a disposição do Senhor! Jesus diz: “Se eu que sou mestre e Senhor vos lavei os pés, façais também o que eu vos fiz“. Ser discípulo de Jesus Cristo é caminhar nas mesmas pegadas do Senhor, é procurar seguir as mesmas atitudes do nosso Salvador, portanto é necessário lavarmos os pés uns dos outros, é necessário aprendermos a perdoar antes de julgar, é necessário nos inclinar e lavar os pés, mesmo daqueles que vão nos trair, porque ao final no evangelho da justiça seremos mais que vencedores, mas para chegarmos a essa salvação é necessário esta passagem, é necessário colocarmos a sandália nos pés, cingirmos nossos rins, prepararmos o nosso coração para a passagem do Senhor, comungarmos do seu corpo e do seu sangue, não simplesmente como uma memoria, mas celebrarmos a última ceia intensamente com o Senhor. E, todas as vezes que eu comungo, além de comungar do Corpo e do Sangue do Senhor eu comungo de um projeto de salvação.
A pergunta que devemos nos fazer hoje é: Que projeto de salvação eu estou comungando? Do meu individualismo, do meu egocentrismo, da minha falta de perdão, das injustiças, do pecado, da maldade? Ou de todos os antônimos que podemos colocar na pessoa do nosso Salvador? Amor, misericórdia, justiça, compaixão, perdão a solidariedade... E como Jesus nos ensina no evangelho de hoje, o serviço. Para nos colocarmos como servidores uns dos outros! Devemos ser exemplo! Será que eu estou sendo um verdadeiro exemplo? Que o Senhor possa purificar o nosso coração naquilo que nos falta para sermos um verdadeiro discípulo! Que essa frase possa tocar o nosso coração também, se eu e você estamos sendo verdadeiros discípulos de Nosso Senhor para que as pessoas possam seguir, não apenas as nossas palavras, mas, sobretudo o nosso exemplo. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Santa Ceia do Senhor e Lava-Pés – 24/03/2016 (Quinta-feira Santa, Missa às 20h).

Coloquemos no Senhor a esperança em nossa glória definitiva
20/03/2016
Irmãs e irmãos, celebramos hoje o início da Semana Santa, que para nós cristãos católico é a principal semana da nossa fé! Com a paixão, morte e ressureição do Senhor, a Semana Santa é mais importante porque nosso Salvador deu a vida pela nossa Salvação, abriu as portas do Paraíso para cada um de nós. O nosso Salvador morreu a morte de cruz para pagar os nossos pecados! Esta é a essência da nossa fé! O filho de Deus que se encarna na história da humanidade e dá a vida pela nossa salvação. Muitos evangélicos falam “a torto e a direito“ e, nós católicos, temos dificuldades em dizer com palavras audíveis que Jesus é o nosso Salvador, então vamos dizer juntos - JESUS É O NOSSO SALVADOR! – Que esta palavra que está perto do seu ouvido abençoe também o seu coração, para que você possa acompanhar Jesus nesta Semana Santa, na sua paixão, na sua morte e na sua ressurreição. Não vamos fazer como muitos católicos que só sepultam Jesus, mas não caminham com Cristo ressuscitando para uma vida nova.
Neste ano a igreja nos ajuda a refletir sobre a leitura do Profeta Isaías cap. 50 a leitura do livro do servo sofredor. O servo sofredor é aquele que faz a vontade de Deus e mesmo sofrendo as consequências do seu discipulado, da sua profecia, do seu testemunho, permanece fiel até o fim, não desanimando em sua caminhada! Este Deus que pelo batismo nos faz profetas de Jesus Cristo e da sua palavra deseja que cada um de nós seja profeta neste terceiro milênio, com a nossa palavra, mas, sobretudo com o nosso testemunho, devemos colocar em prática e fazer com que as pessoas vejam em nós esse testemunho do servo sofredor. O servo sofredor que diz que Deus nos deu uma língua adestrada, ou seja, o adorador de Deus deve falar de Deus, deve denunciar as injustiças, falar do amor, da misericórdia, da compaixão, deve falar da justiça! “O Senhor Deus desperta cada manhã e me incita o ouvido para prestar atenção como discípulo“, estejamos atentos àquilo que Deus nos diz a cada manhã! Nesta vida corrida será que estamos encontrando tempo para Deus? Nessa vida corrida de tantos afazeres, tantas mensagens a serem respondidas... Eu tenho encontrado tempo para ouvir o que Deus tem a me dizer? E ao ouvir o chamado do Senhor, colocando-me a disposição, dando testemunho diante das dificuldades que vão se apresentando diante da minha vida, será que eu desisto ou permaneço fiel a este Deus da justiça? “O Senhor Deus é meu auxiliador“, diz o profeta Isaías, “Por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado“. Aos olhos do mundo podemos parecer estar sendo humilhados, mas aos olhos de Deus somos glorificados. Porém, para assumir o chamado que Deus nos faz é necessário um esvaziamento de si mesmo, que São Paulo vai escrever para a comunidade de Filipos no cap.2 da sua Carta, que ouvimos na Segunda Leitura de hoje e a igreja e os biblistas vão dar o nome difícil de Kenosis, vão dizer do esvaziamento! Esvaziar-se de si mesmo e deixar Deus tomar conta do nosso coração. Esvaziarmo-nos dos nossos preconceitos, do nosso comodismo, da nossa má compreensão daquilo que Deus espera de cada um de nós. Ele esvaziou a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Na humanidade de Cristo, eu e você, nos encontramos, para que nesta humanidade possamos nos esvaziar, colocarmo-nos a serviço de Deus, uns dos outros, para que o evangelho da Salvação se encarne em nosso testemunho, em nossas escolhas, em nosso caminhar, em nossa vida de discípulos. Jesus fez-se obediente até a morte e morte de cruz! É necessário sempre assumirmos a nossa missão, não termos medo daqueles que nos afrontam, daqueles que desejam nos tirar do caminho do Senhor. Neste mundo tão influenciado pelos meios de comunicação, pelos modismos de cada época... Será que a cruz de Cristo, o caminho do discipulado, o caminho da profecia é claro para mim? Ou a cada dia estou mudando constantemente a minha opinião que pode estar me afastando do caminho do Senhor?
A igreja nos convida a meditar sobre o evangelho de Lucas... Jesus entra na cidade de Jerusalém aclamado pelo povo, como seu Salvador. Para poucos era como o Messias, o filho de Deus, porque para a grande massa da população era simplesmente o Jesus Rei que vinha para depor os poderosos e instaurar o seu medo e não haviam compreendido a missão e as palavras do nosso Salvador. Que é o Rei que se coloca a serviço, é o Rei que prega o amor, a paixão e a misericórdia, que é o Rei que prega a justiça, mas sempre baseada no amor, na caridade e na misericórdia. Aquele povo que aclamou Jesus, como nós, no início dessa missa, é o mesmo povo que dias mais tarde vai gritar: “CRUCIFICA-O! CRUCIFICA-O!“ Isso nos faz pensar que a sociedade de ontem e a sociedade de hoje pode mudar rapidamente o seu pensamento sobre alguém. Quando é para a verdade vir à tona, tudo bem, mas e quando somos manipulados pela massa? Pela quantidade, pelos meios de comunicação ou pelos poderosos? Será que eu mantenho as minhas convicções?
Neste momento onde o Brasil passa por essa situação difícil nos poderes públicos, na presidência da república com os seus auxiliares, no judiciário do nosso país... Eu tenho rezado pelo meu país e por aqueles que me representam? Ou tenho incitado o ódio, a raiva, a violência? Porque tem muito cristão católico incitando a violência! No telefone, nas conversas e, principalmente, nas redes sociais. Se quisermos mudar o nosso país, se quisermos mudar a convicção das pessoas é necessário primeiro mudar o nosso coração. É necessário em primeiro lugar darmos o nosso testemunho e conhecermos a verdade, não nos deixando manipular, porque à medida que somos manipulados, nós somos aquele povo que está constantemente gritando “CRUCIFICA-O! CRUCIFICA-O!".
Para aqueles que estudaram ou estudam comunicação uma coisa é fato, não existe notícia que consiga dar a verdade por completo, ela sempre apresenta um lado da história. E por aquilo que tenho visto, ouvido e lido... A verdade não está toda nos meios de comunicação. Sobretudo quando alguns jornais começam a editar as falas de algumas pessoas e incitar em nosso coração o ódio, a raiva... Incitar em nosso coração o preconceito! Não estou defendo a presidente da república, não estou defendo o ex-presidente, não estou defendendo o juiz Sérgio Moro. Mas estou pedindo a vocês que não se deixem manipular, porque como vimos num passado não muito distante, a população brasileira é suscetível a muitas manipulações. E pela manipulação a verdade e a justiça vão ficando cada vez mais longe da nossa sociedade. Podemos olhar o cotidiano da nossa vida, neste país que ama o futebol, por exemplo: Quando um jogador faz um gol, nós o aplaudimos! Uma semana depois a bola passa por debaixo de sua perna e a gente acaba com a vida dele!
Devemos ter os pés no chão e maturidade para não sermos manipulados! Este Jesus que entra na Jerusalém aclamado pelo povo, é o mesmo Cristo que depois, açoitado, ouvirá a palavra “CRUCIFICA-O! CRUCIFICA-O!“ E este Cristo por viver o evangelho da salvação morre pelos nossos pecados. E as suas palavras no final são simplesmente: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem“.
Que em nosso coração ao longo dessa semana possamos meditar sobre as nossas atitudes. A atitude do evangelho da salvação que nos convida a sermos profetas, colocarmos em prática o evangelho da salvação mesmo que por isso sejamos açoitados e flagelados. Que possamos aprender a nos esvaziar, esvaziarmo-nos de nós mesmos, para que a palavra de Cristo e seus sentimentos encontre espaço no nosso coração.
E neste caminho do Calvário se cairmos como Jesus, que caiu três vezes, possamos no levantar e continuar a nossa caminhada porque depois da cruz vem a nossa salvação. E para aqueles que estão com a sua cruz pesada, sejamos como Simão o Cirineu estendendo a mão e ajudando uns aos outros a carregar a sua cruz. Que Santa Teresinha, a nossa padroeira, nos ajude ao longo dessa semana a não nos deixarmos ser manipulados, a não nos deixarmos abater pelo comodismo de sepultar Jesus e não caminharmos com Cristo para uma vida nova na sua ressurreição.
Homilia: Pe. Tiago Silva – Domingo de Ramos – 20/03/2016 (Domingo, missa às 9h30).

Sejamos tocados pela misericórdia de Jesus
13/03/2016
Estamos celebrando o quinto domingo da Quaresma é o último domingo da nossa caminhada quaresmal antes da Semana Santa. E desde já lembrando... Que a Semana Santa, deve ser Santa! Então, para aqueles que irão viajar, Deus abençoe! Que Nossa Senhora da Boa Viagem e São Cristóvão os leve e os traga em segurança, mas aonde quer que você esteja não se esqueça de ir à igreja, não se esqueça de cumprir com o seu preceito, a sua fé, que é celebrar a paixão, morte e ressurreição do Senhor. A principal data da fé Cristã Católica não é o Natal, mas sim a Páscoa! Temos uma caminhada para chegar até a Páscoa - a Quaresma – e depois vem o Tríduo Pascal - quinta, sexta, sábado e domingo, dias de preceito para irmos à igreja. Não se pode ir à igreja somente no domingo de Páscoa, ou no domingo de Ramos, ou como grande parte da sociedade, na procissão da sexta-feira Santa. Não! Nós fazemos uma caminhada com Jesus Cristo Nosso Senhor!
Nesse quinto domingo da Quaresma, a igreja nos convida a não esquecermos o quanto Deus agiu em nossa vida e o quanto ele pode agir em nossa história nos libertando das escravidões que estamos aprisionados. A igreja nos convida a não nos deixarmos levar pelo legalismo - a lei pela lei - porque a maior lei do Senhor é o amor, é a misericórdia. E depois corrermos, sempre, ao encontro do Senhor, não nos deixando abater pelo cansaço, mas sermos como atletas, indo ao encontro de Jesus Cristo Nosso Salvador.
Por isso na primeira leitura do livro de Isaías cap. 43, temos o profeta recordando o seu povo que está preso, escravizado no Exílio da Babilônia. Estamos VI séculos antes de Jesus Cristo Nosso Senhor e o Deus que libertou nossos pais lá na escravidão do Egito também irá libertá-los deste momento de escravidão, e de fato alguns anos depois isso acontece, o povo de Deus é libertado e pode voltar para a terra prometida e ali o templo está destruído, os jovens já perderam sua verdadeira adoração a Deus. A fé será reconstruída, porém essa fé que é reconstruída acaba caindo no legalismo, os mandamentos pelos mandamentos. É mais fácil apontar o dedo, acusar, condenar, crucificar como fizeram com Jesus Cristo do que amar, perdoar, agir com compaixão e misericórdia.
E no evangelho de hoje João cap. 8, temos Jesus que em primeiro lugar sobe ao Monte das Oliveiras para rezar, algo que todos nós deveríamos fazer diariamente, rezarmos constantemente e estarmos em comunhão com Deus. E, ao descer, se coloca a ensinar aos seus discípulos, algo que nós também devemos fazer! Ensinarmos uns aos outros a vontade de Deus que parte do exemplo, da oração e das palavras. E neste momento que Jesus está ensinando os seus discípulos, os Mestres das Leis e os Fariseus que viviam o legalismo religioso, trazem uma mulher pega em flagrante de adultério. E segundo a Lei de Moisés, aquele que fosse pego deste modo deveria ser apedrejado. Então colocam Jesus numa situação difícil, praticamente sem saída... O que fazer? Se Jesus diz que a mulher deve ser perdoada vai contra a Lei de Moisés, mas se diz que ela deve ser apedrejada, vai contra as suas próprias palavras de perdão, de amor, de misericórdia, de compaixão. Então, é ai que Jesus nos ensina mais uma coisa! O que ele faz? Ele não sai gritando e nem apontando o dedo, mas se inclina e começa a escrever no chão, tendo tempo para pensar... Quando não sabemos o que fazer, devemos ficar parados! E vendo que eles insistiam em perguntar, Jesus se levanta e diz: “Aquele que não tiver pegado que atire a primeira pedra!” E assim aquela acusação contra a mulher passa a ser uma acusação agora voltada contra a nós mesmos! Temos muita facilidade em criticar, acusar, condenar, mas muita dificuldade em avaliar as nossas próprias atitudes. Avaliar o nosso próprio comportamento diante da fé que professamos com nossos lábios e é deste modo que a multidão começa a se retirar, a começar pelos mais velhos. E aqui podemos fazer reflexões: Quanto mais velhos ficamos, mais difícil se torna mudar o nosso comportamento, as nossas convicções, a nossa visão de mundo. Alguns se tornam mais carrancudos e mais rabugentos. Por outro lado podemos pensar que os mais velhos com sua experiência de vida, compreenderam primeiro o que Jesus havia dito! Queira Deus que os mais velhos possam compreender antes dos mais jovens! Que a misericórdia, o amor e a compaixão venham antes da condenação. O nosso modo de julgar é termos o olhar, o sentimento de Jesus Cristo Nosso Senhor, que antes de condenar diz: “Mulher ninguém te condenou, eu também não te condeno vá e não voltes a pecar”, porque a condição fraterna deve existir a qualquer momento da nossa vida.
Reconhecer nossos erros nos ajuda a olhar para o outro e compreender que ele não é perfeito, mas em nossas imperfeições nos somamos para construir o reino de Deus. O Reino de Deus que requer o nosso testemunho, a nossa palavra e o nosso perdão misericordioso. Testemunho que São Paulo nos dá na segunda leitura de hoje ao escrever a comunidade de Filipos, no cap. 3 da sua Carta. No texto em que São Paulo havia fundado a comunidade de fé, havia feito um grupo de pessoas se converterem a Jesus Cristo Nosso Senhor e saindo em missão deixa aquela comunidade fundada então vem aquele povo que fala bonito, mas não vive o evangelho (já refletimos sobre isso em várias missas) e começam a desvirtuar a comunidade do caminho de Jesus Cristo. A comunidade recebe a notícia de que Paulo estava preso porque anunciava Jesus Cristo como Salvador da sua vida. E envia para Paulo duas coisas: A primeira, uma pessoa de nome Epafrodito, para cuidar de Paulo na prisão. Segundo, envia dinheiro, para que ele possa manter os seus trabalhos de evangelização nas diversas comunidades que havia fundado. E nesta atitude da comunidade de Filipos recordamos que ao estarmos unidos em nome de Cristo não podemos nos esquecer daqueles que passam necessidade, daqueles que passam tribulações. Como nesta semana, mais de 20 pessoas faleceram com as tempestades que deram na região Metropolitana de São Paulo. Em nossas orações não podemos nos esquecer dessas pessoas que perderam casa, família, bens materiais e imateriais. A nossa fé não pode se esquecer do nosso país que passa por esta crise politica e outras situações que tornam nossa sociedade cada vez mais insustentável, não deixando com que os investimentos estrangeiros entrem em nosso país. Por isso que a comunidade de Filipos nos ensina a não sermos uma comunidade alienada às situações que acontecem em nossa casa, em nossa família, com a igreja e com a sociedade. São Paulo, mesmo na prisão escreve uma carta alertando a comunidade para que continue firme na sua caminhada, na busca da santidade e da salvação. Porque uma vez que eu aceito Jesus Cristo na minha vida, tudo eu considero pequeno, comparado à salvação que vem de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Para isso devo colocar sempre Jesus como prioridade na minha vida e correr como um atleta, correr ao encontro da minha salvação. Não deixando com que nada nem ninguém, mesmo aqueles que falam bonito, me afastem do caminho do meu único e verdadeiro Salvador. Que o Espirito Santo de Deus, irmãos e irmãs, nos seja favorável para que a experiência do salmista, no salmo 125, possa nos ajudar a recordar que Deus fez maravilhas no passado, faz maravilhas no presente, e há de fazer maravilhas no futuro da nossa história. Se não formos legalistas, mas agirmos com amor misericordioso e com testemunho que possa qualificar a nossa fé congregada na igreja de Jesus Cristo Nosso Senhor. Cantemos juntos mais uma vez: “MARAVILHAS FEZ CONOSCO O SENHOR, EXULTEMOS DE ALEGRIA!”.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 13/03/2016 – Missa das 7h30 (Domingo).

Sejamos misericordiosos como o Pai é misericordioso
06/03/2016
Estamos celebrando o quarto domingo da Quaresma, o chamado domingo Laetare, domingo da Alegria em latim, porque no hemisfério norte as rosas começam a desabrochar, as flores começam a dar sinal de vida, de beleza, de perfume e com isso a proximidade da Páscoa do Senhor. Assim, a igreja nos convida também a nos alegrarmos com a natureza, porque o nosso coração está próximo para celebrar a nossa Páscoa, a nossa passagem de uma vida longe de Deus para uma vida próxima a Deus, de uma vida de pecado para uma vida sem pecado, enfim procurarmos vivenciar com a natureza este tempo forte, para nós cristãos católico, que é tempo de conversão!
Por isso, na primeira leitura de hoje – livro de Josué cap.V - a igreja nos convida a meditar sobre a chegada à terra prometida. O povo foi liberto da escravidão do Egito e passou quarenta anos caminhando no deserto, enfrentou muita dificuldade, mas finalmente chegou à terra prometida. O povo se alegra! Está feliz porque experimenta pela primeira vez o fruto daquela terra onde deverá permanecer por muito tempo, mas para que essa chegada seja completa é necessário que o povo esteja em comunhão e então por questões religiosas, politicas, culturais e de saúde, faz um rito coletivo que é o rito da circuncisão, que os judeus fazem até hoje, é um rito de comunhão, de unidade, de pertença (como as crianças que são batizadas... é um rito de pertença a comunidade de fé).
E deste modo, neste quarto domingo da Quaresma, com a proximidade da Páscoa do Senhor, somos convidados a nos questionar o que precisamos circuncidar em nossa vida! O que precisa ser cortado do nosso coração, do nosso sentimento, das nossas atitudes? Quantas coisas devem ser cortadas do nosso coração e da nossa vida para que possamos estar mais próximos a Deus! E na sua vida o que você precisa cortar? Será que você tem coragem de se afastar daquilo que está te afastando de Deus, te afastando da tua fé? Muitas vezes te afastando da tua família e da tua caminhada de felicidade... Porque tem pecados que são de estimação, sabemos que ele está ali, que precisamos cortar, mas não conseguimos! E o pecado vai crescendo e tomando conta do nosso sentimento e da nossa vida. Como sentimentos contrários aos projetos de Deus que se não forem cortados logo no início, também vão tomando conta do nosso coração e tornando-o fechado, amargurado, rancoroso como o dos fariseus no evangelho de hoje - Lucas cap.XV - que fala que Jesus estava comendo com os publicanos e os pecadores, então é questionado pelos fariseus, pois ele está à mesa com aqueles que são considerados a escória da sociedade. Lembrando que Jesus faz uma opção preferencial pelos pobres, pelos necessitados, por aqueles que precisam de acolhida! Porém os fariseus, homens que conhecem a lei, conhecem a história, vão ao templo todo sábado, fazem todas as orações religiosas... São os primeiros a apontar o dedo e criticar Jesus Cristo Nosso Senhor. Como muitos católicos que vão à missa, ajoelham, rezam o terço, fazem penitência, caridade, estudam teologia, mas na hora de praticar o evangelho tem dificuldade. Não podemos ser como aqueles que criticam, devemos ser como aqueles que acolhem porque como cristãos devemos fazer uma opção preferencial por aqueles que mais precisam da nossa acolhida. Por isso, Jesus conta a parábola conhecida popularmente como a Parábola do Filho Pródigo ou menos conhecida, mas com o título mais feliz, o Pai Misericordioso.
A parábola nos diz que um pai tinha dois filhos... O filho mais novo pede à parte que lhe pertence da herança. Segundo a regra o pai deveria dar-lhe 1/3, mas muito generoso dá ao filho metade da herança, este por sua vez, pega o que é seu e sai pelo mundo afora e assim, como muitos jovens que não sabem administrar seu dinheiro, gasta sua fortuna em festas, viagens, com prostitutas como nos diz o evangelho, uma vida de farra, desenfreada. Em determinado momento, como dinheiro não brota da terra, o dinheiro acaba e para ajudar uma forte crise assola aquela região naquela ocasião, então ele não tem o que comer, precisa procurar trabalho, e o único trabalho que consegue é cuidar dos porcos - para os judeus o porco é um animal impuro, ele não poderia nem ao menos se aproximar - e não podia sequer se alimentar de sua ração, nem isso ele podia! E é assim que quando está no fundo do poço o juízo vai voltar ou a barriga vai começar a roncar e bate saudade daquela cama arrumada, da comida feita, do pai que lhe dava carinho e ele cai em si e diz: “Na casa do meu pai eu tinha pão com fartura!” Quantos jovens, quantos filhos não valorizam o pão que têm em casa! Não valorizam a água quente que cai do chuveiro! Não valorizam a roupa passada no guarda-roupa! Mas quando não tem, quando vão viver sozinhos é que começam a prestar atenção!
Este jovem, num primeiro momento, não sente todo amor do mundo pelo pai... O que ele vai sentir é a necessidade! E diante daquela primeira necessidade física é que ele vai recordar do quanto seu pai o amava! Muitas vezes é necessário chegarmos ao fundo do poço para acordarmos! Mas será que precisamos? Não! Não precisamos! Que parte você está? Você está sobre o poço? No meio do poço? Ou no fundo do poço? Onde quer que você esteja tem um pai te esperando para te acolher, como o pai da parábola de hoje! O pai que fica olhando para ver se o filho voltar e ao avistá-lo sai correndo ao seu encontro, lhe abraça e lhe cobre de beijos, diz a palavra de Deus! Não como alguns pais que quando seus filhos erram, sua primeira atitude é brigar... A pessoa já está destruída porque fez coisa errada e ao invés de acolher, curar as feridas, ajudar, para depois puxar a orelha... Sim, porque tem que puxar! Fazem o inverso! E depois a correção não funciona porque não soubemos acolher. Este pai da parábola simboliza Deus, é o pai misericordioso que está a nossa espera, esperando o nosso regresso para nos cobrir de beijos, curar as nossas feridas e para dar uma festa porque estávamos perdidos e fomos encontrados, estávamos mortos e voltamos a viver.
Será que estamos dispostos a voltar para a casa do Pai? Voltar para a casa significa também entrar na linha, o que muito não querem! Do outro lado temos o filho mais velho, o filho que sempre trabalhou pelo pai, que sempre cuidou das propriedades, que nunca abandonou o pai, mas que ao ouvir aquele barulho de dança e de música volta correndo e pergunta o que está acontecendo e o empregado diz que o pai está dando uma festa porque o filho mais novo voltou e o mais velho se revolta! “Como pode esse teu filho que saiu esbanjando teus bens por aí, gastando com prostitutas! E matas um novilho! Dá uma festa!” Ele se enche de ciúme, um ciúme que parte do legalismo que muitas vezes nós também estamos absorvidos! Quanto mais eu trabalho, quanto mais eu sou certinho, mais eu mereço a minha recompensa! E então nos lembramos do início do evangelho que Jesus veio para os doentes e não para os sãos, Jesus fez uma opção preferencial pelos mais necessitados. Portanto, não exclui quem faz as coisas certas, mas quem está necessitado precisa ser acolhido. Quantas discussões nós temos em casa porque não sabemos lidar com aquele que é o filho pródigo, aquele que de vez em quando faz coisas erradas, de vez em quando volta pra casa arrependido e não sabemos acolher.
Este evangelho de hoje, irmãs e irmãos, deve nos ajudar a meditar se estamos sendo misericordiosos, uns para com os outros. Porque a misericórdia e a compaixão são condições necessárias para quem deseja viver a vida em Cristo Jesus e como diz São Paulo, na liturgia de hoje, escrevendo sua segunda carta à comunidade de Coríntios, somos embaixadores de Cristo! Somos representantes do Senhor! Como é que eu e você estamos representando esse Deus do amor? É o Deus do amor ou é o Deus da falta de perdão? Que Deus você está pregando na sua casa? Que Deus você é para sua família? Que Deus, você, pai e mãe, ensina para os seus filhos? Por isso São Paulo, insistindo com a comunidade de Coríntios, que se havia deixado levar por pregações contrárias aos projetos de Deus nos anos LVI e LVII D.C, diz: “Reconciliai-vos com Deus”.
Tornamo-nos criaturas novas na medida em que nos reconciliamos com o Senhor! Será que já nos reconciliamos com Deus? Será que já nos reconciliamos uns com os outros? Que Santa Teresinha, nossa padroeira, seja nossa intercessora para que vivendo os projetos do Senhor, circuncidemos o pecado que ainda pode estar nos afastando de Deus. Que possamos acolher os pobres, os pecadores, os necessitados, com o mesmo carinho e o mesmo amor de Jesus e daquele pai misericordioso. Que ao nos reconciliarmos com Deus e com nossos irmãos e irmãs sejamos de fato representantes deste Cristo do amor, da vida, da misericórdia e da justiça.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 06/03/2016 – Missa das 10h (Domingo).

Deus deseja que possamos dar muitos frutos, Ele não quer que sejamos estéreis
28/02/2016
Estamos celebrando o tempo quaresmal, esse tempo forte que a igreja nos propõe a conversão do nosso coração e, por isso, a igreja se utiliza de alguns textos bíblicos mais fortes para nos tirar do nosso comodismo, nos dar um choque para que acordemos para a nossa fé. Fé que muitas vezes vai sendo morta, deixando com que as situações da vida nos afastem da nossa missão de cristãos.
Em primeiro lugar a igreja vê toda a vocação de Moisés, o chamamento de Moisés, na primeira leitura de hoje, no livro do Êxodo cap.III. Moisés responde a um chamado de Deus, mas antes disso, vemos Moisés, que diante de uma situação de opressão comete um grande pecado, um assassinato. Após ver um hebreu sendo torturado, açoitado, Moisés se irrita com o soldado egípcio e acaba matando-o. Moisés se retira, foge para não ser morto e no deserto antes de encontrar um local para fazer morada, medita muito sobre a sua vida, sobre o que Deus espera dele e então quando encontra uma família e faz ali sua morada, encontra sua esposa e têm seus filhos, Moisés se acomoda naquela vida! Vida de pai, de esposo, de pastor... Até que Deus o chama: “Moisés! Moisés!” E ele responde: "Aqui estou”.
Esta também deve ser a nossa resposta, sobretudo, para aqueles que estão acomodados na sua vidinha... É Deus que está a nos chamar porque Ele sempre tem uma missão para nós. Você que talvez esteja aposentado, que já trabalhou tanto, aqueles que já criaram seus filhos, aqueles que já trabalharam tanto na paróquia... Louvado seja Deus por tudo o que você fez! Mas você acha que acabou? Não! Não acabou! Porque Deus está constantemente a nos chamar para algo novo, porque a sociedade e o mundo sempre precisam de pessoas dispostas a libertar aqueles que estão na escravidão. Moisés precisa voltar para o Egito para libertar aquele povo que estava sofrendo, o povo precisava de um líder que pudesse conduzi-lo na libertação e na travessia do deserto. Nessa sociedade individualista onde a doença do momento é a depressão, aonde as pessoas vão se isolando, criando cada vez mais o seu mundo, olhando somente para o seu umbigo, nós precisamos de pessoas dispostas a dizer: Senhor estou aqui! E ajudar a enfrentar as novas prisões que a sociedade nos impõe, a nova escravidão dessa prisão sem grades que nos encontramos... A escravidão do pensamento, das ideologias, do comodismo, a escravidão de um mundo e de uma vida sem os valores de Deus. Este mundo que prega tanto a liberdade está cada vez mais aprisionado, viciado em valores contrários à própria liberdade que pregam, uma contradição da sociedade moderna. E, é este Deus que chamou Moisés, que chama a cada um de nós e, neste chamado, para responder aquilo que Deus nos pede, a conversão é algo fundamental! Você já converteu o seu coração? Se queremos chegar ao céu, se queremos buscar a santidade como nos pede Jesus e sermos perfeitos como nosso Pai Celeste a conversão é uma condição fundamental para a nossa liberdade!
No evangelho de hoje, Jesus conta uma parábola sobre o dono de uma vinha que tinha uma figueira plantada em meio as suas videiras, ele foi procurar figo, mas não encontrou... Então questiona ao vinhateiro, onde estão os frutos daquela árvore? E diz ainda: “Se não estiver dando frutos, corte-a porque está inutilizando a terra”. E ele respondeu que o deixa-se cuidar dela por mais um ano, podando-a, adubando-a e, se em um ano ela não desse frutos eles a cortaria. Jesus conta esta parábola porque está há três anos falando com seus discípulos e eles ainda não haviam entendido qual era a sua missão. Há quanto tempo você frequenta a igreja? Há quanto tempo você é católico? Será que você já entendeu qual é a sua missão? Se você não entendeu, essa parábola é para você! Porque é necessário produzirmos frutos, é necessário apresentarmos ao Senhor atitudes concretas da fé que professamos e da fé que nos congrega. Essa parábola pode nos ajudar a pensar nas situações de cansaço que nos encontramos... No matrimônio, na nossa saúde, nos relacionamentos familiares que muitas vezes falta o cuidado... falta colocar o adubo, falta podar alguns ramos que estão atrapalhando. Quantas e quantas vezes vamos deixando passar, acreditando que com o tempo vai melhorar! Quantas famílias e quantos matrimônios com problema, porque não sabemos colocar adubo, não sabemos colocar um pouquinho mais de água, não sabemos podar aqueles ramos que estão atrapalhando a nossa vida amorosa, nossa vida familiar, relacionamento entre pais e filhos... E quantas outras coisas poderíamos citar neste evangelho de hoje!
São Paulo escrevendo a comunidade de Coríntios - Cap. X - nos fala dos exemplos e das histórias, porque o exemplo arrasta multidões, palavras tocam o povo, mas os exemplos sejam eles bons ou maus, arrastam multidões. Como está o nosso exemplo de cristãos? Dentro de casa, no trabalho, com nossos amigos, no telefone, redes sociais, escola... A comunidade de Coríntios frequentava a igreja constantemente, se diziam uma comunidade fervorosa, mas assim mesmo começaram a se revoltar contra Deus. Tem gente que vai a igreja todos os domingos, mas na primeira oportunidade fica bravo com Deus, se revolta contra o Senhor e, São Paulo nos recorda, que nós cristãos fomos batizados no mesmo batismo de Moisés, que nós cristãos fomos escravos do pecado um dia e que Deus nos tomou pela mão para nos libertar e nos dar a graça e a escolha, por isso a historia deve nos ensinar também a não errarmos como aqueles que nos precederam. O povo hebreu era escravo e quando liberto, a primeira dificuldade que enfrentam no deserto foi a falta d’água, óbvio! E se revoltaram contra Deus! Quando têm dificuldade de alimento se revoltaram contra o Senhor... E o que eles fizeram? Fizeram um bezerro de ouro e começaram a adora-lo! Quantas pessoas não fazem bezerros de ouro, hoje? Se revoltando contra Deus, murmurando contra o Senhor, buscando outras religiões, outras filosofias e, cada vez mais se afastam de Deus! Cada vez que eu murmuro contra o Senhor, estou construindo bezerros de ouro modernos, por isso São Paulo vai dizer: “Aquele que está de pé, cuidado para não cair”. Você que está em pé, meu irmão e minha irmã, tome cuidado com as suas escolhas! Por mais que você tenha trabalhado, que reze, que tenha criado os seus filhos, que já tenha mudado alguma coisa na sua vida... A sua vida ainda não acabou, portanto cuidado! Deus está a te chamar! A resposta de Moisés é: “Aqui estou!”. E qual é a tua resposta? Na videira que o Senhor nos concedeu cuidar e zelar, temos que dar frutos ao Senhor e, nas escolhas que fazemos e seguimos temos nos deixado levar por maus exemplos e, sobretudo, temos dado maus exemplos para as novas gerações?
Que Deus nosso pai envie o Seu Espírito Santo para nos guiar no deserto de nossa história para que possamos com amor e convicção respondermos ao chamado do Senhor, cuidarmos da nossa videira e apresentarmos ao Senhor os frutos. Deixarmos de murmurar, de adorar falsos deuses e adorarmos o Deus único e verdadeiro, Jesus Cristo Nosso Senhor, que a deu a vida pela nossa salvação e abriu as portas da liberdade para cada um de nós.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 28/02/2016 – Missa das 18h30 (Domingo).

Nós, porém, somos cidadãos do céu; de lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo
21/02/2016
Celebrando o tempo Quaresmal, neste segundo domingo da Quaresma a igreja nos convida a meditarmos sobre as promessas de Deus, o chamamento do Senhor, sobre a nossa responsabilidade na missão e sobre a conversão do nosso coração. Condição fundamental para sermos discípulos de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Na primeira leitura do livro do Gênesis, cap. 15, temos a história, a vocação de Abraão, que é chamado da terra de Ur, uma terra onde o Deus verdadeiro não era adorado, não era ouvido. Ele é tirado do meio dos pagãos para construir, edificar, ampliar este reino do Senhor e, na vocação de Abraão muitos de nós devemos nos encontrar, na medida em que Deus chama a cada um de nós para criarmos uma descendência para o Senhor. Deus tem uma promessa para Abraão, uma promessa de uma grande descendência que para os antigos era sinônimo de riqueza, de benção de Deus. É nesta benção de Deus que Abraão confia para realizar a sua vontade. Uma vontade que não vem sem sacrifícios, porque deve deixar a sua terra; os seus costumes; a sua família e, seguir a direção apontada por Deus.
Nessa direção apontada pelo Senhor, Abraão há de enfrentar dificuldades no caminho, assim como, enfrentamos dificuldades no deserto da nossa vida. Nesta passagem que a Quaresma nos convida, é tempo de meditarmos também, que dificuldades aparecem, mas nos colocando diante de Deus, confiando na sua graça, iremos como Abraão, superar essas dificuldades apresentadas no caminhar da nossa história.
Deus realiza a primeira aliança com Abraão, uma aliança que faz de nós descendentes do Nosso Pai na terra, Abraão. Para realizar esta aliança, Deus pede para Abraão partir alguns animais e, ali, passa como uma bola de fogo selando esta aliança. Esta mesma bola de fogo que os Hebreus, na saída do Egito, acompanharam como sinal de Deus que os direciona para a terra prometida. Esta aliança que, para os antigos, repartir os animais ao meio e fazer com que as duas partes que estavam contraindo aliança passassem ao meio, significava dizer que quem rompesse com a aliança sofreria o mesmo destino daqueles animais. Mas Deus em sua misericórdia passa pelo meio dos animais e não pede para que Abraão passe, porque sabe das nossas fragilidades, esse Deus que mesmo sabendo o quanto somos frágeis, sela essa aliança com Abraão e o pede fidelidade!
Devemos nos perguntar e rezar sobre as nossas promessas feitas a Deus e feitas uns aos outros. Estamos sendo fiéis às promessas que fizemos a Deus? Promessas do batismo, da primeira eucaristia, crisma, promessas matrimoniais para os casados. Para você, pai e mãe, que prometeu educar seus filhos, sua família nas leis de Deus, nos mandamentos do Senhor, você tem sido fiel a estas promessas? Os coordenadores de nossa paróquia são fiéis à promessa que fizeram a Deus? São fiéis coordenando a pastoral, o movimento, o grupo em nossa paróquia? Você que ao se confessar pediu perdão a Deus buscando uma vida nova e fez uma promessa, ainda que interior, diante desse Deus misericordioso, você tem buscado se afastar do pecado? Você tem buscado se afastar das coisas contrárias a Deus? Porque quando não buscamos a conversão do nosso coração, corremos o grande risco que a comunidade Filipenses corria no tempo do apóstolo Paulo, que ouvimos na segunda leitura de hoje, criar um Deus conforme nosso estômago, ou seja, criarmos um Deus segundo as nossas necessidades e não seguirmos um Deus que zela pelo bem comum. Neste mundo que prega o individualismo, a soberba, a ganância, muitas vezes a corrupção... Como está o meu coração diante das promessas de Deus e da minha busca incessante, incansável de conversão do meu coração?
São Paulo está preso e chega aos seus ouvidos que a comunidade Filipenses está sendo desvirtuada dos caminhos de Jesus Cristo. Os judeus convertidos ao cristianismo e, os gregos com sua filosofia e sabedoria estão procurando levar os cristãos para um caminho que não é o proposto por Jesus. Fora estes dois grupos, tem aquelas pessoas individuais que estão pregando um Cristo simplesmente para satisfazer as necessidades de cada um, mas não o Cristo morto, crucificado e ressuscitado pela nossa salvação. E assim, muitos cristãos em Filipos estão criando um Deus conforme a sua necessidade individual.
Será que eu e você estamos acreditando no Deus verdadeiro ou estamos criando um Deus segundo as nossas necessidades individuais? Deus nos salva da nossa individualidade, mas essa salvação perpassa a salvação comunitária, quando eu sigo a vontade de Deus, que não é simplesmente pra mim, mas pra toda a humanidade, partilhando o alimento, zelando pela política, justiça e pelo direito estou zelando pela salvação comunitária. Como os Bispos do Brasil neste ano de 2016, juntos com mais cinco igrejas evangélicas se colocam a meditar sobre a ecologia, o saneamento básico, a água potável, sobre a nossa Casa Comum - que o Papa Francisco chama - estamos zelando pela salvação comunitária, mas quando vivencio um Deus simplesmente pelas minhas necessidades individuais, estou criando e adorando este Deus conforme o meu estômago. Se estou nessa segunda opção, significa dizer que preciso subir ao monte com Jesus Cristo, no monte da transfiguração do evangelho de hoje - Lucas cap. 09. Quando Jesus, antes de qualquer missão nos ensina a rezar... O monte é sempre local de oração e de encontro com Deus, sair de casa e vir à igreja é subir ao monte para rezarmos e nos encontrarmos com o Senhor! Por isso não vamos à missa simplesmente por obrigação. Mas porque é o local onde nos encontramos com Deus, é o local da salvação comunitária, local onde ouço a voz de Deus. Por isso, é importante ouvir a palavra de Deus, é importante prestar atenção na homilia que explica a palavra do Senhor para o cotidiano de nossa vida.
E nesse monte Jesus não sobe sozinho, no evangelho de hoje, chama consigo: Pedro, Tiago e João. Uma leitura simplista pode nos levar a pensar que os três foram chamados porque eram mais especiais. Mas se olharmos o panorama do evangelho, veremos que Pedro rejeita Jesus três vezes, se olharmos para Tiago e João veremos que estavam seguindo Jesus simplesmente por “status” e não por discipulado. O que São Paulo, 68 anos depois, vai chamar de Deus no estômago e por isso Jesus chama os três para subir ao monte da transfiguração. E lá, no local de se encontrarem com Deus, caem no sono. Muitas vezes diante de Deus nós adormecemos, ao invés de aproveitarmos aquele tempo com o Senhor, nos distraímos. Quantas vezes adormecemos enquanto Deus está a nos falar! Quantas vezes nos distraímos quando estamos rezando! Quantas vezes Deus está falando conosco através dos nossos filhos, esposas, esposos, dos nossos pais e, nos distraímos. Estamos no mundo da lua! E Deus tentando falar ao nosso coração!
É neste monte da transfiguração que os discípulos caem ainda em tentação. E Pedro, para não fugir a regra, diz: “Senhor, fazei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias“. Estavam ali louvando, momento feliz, sem problemas... Vamos ficar no monte onde não existem problemas! Mas a nossa fé não é intimista, não é simplesmente sentimental, é necessário fazermos a experiência de Deus no monte, descermos da montanha e enfrentarmos as dificuldades do anúncio do evangelho da salvação, do mesmo modo que devemos ir à igreja, que é o nosso monte, rezar, nos abastecer e descer a montanha e evangelizar a casa, a família, o mercado de trabalho, a sociedade. Pois, cada vez que eu permaneço no monte sem querer descer, para enfrentar as dificuldades que a vida me apresenta e os desafios de sermos missionários, estou ainda, como diz São Paulo, criando esse Deus no estômago.
Que nesta Quaresma, possamos buscar a conversão do nosso coração, ouvirmos o chamado que Deus fez a Abraão e faz a cada um de nós para criarmos uma descendência que adore, respeite e siga o Deus único e verdadeiro. Tomarmos cuidado com os pregadores que querem fazer da palavra de Deus um instrumento de opressão ou individualismo. E, que ao subirmos o monte, possamos sempre fazer a experiência do Senhor de converter o nosso coração e descermos onde a missão de sermos anunciadores e portadores da mensagem da salvação nos espera.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 21/02/2016 – Missa das 7h30 (Domingo).

Portanto, não importa a diferença entre judeu e grego; todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam
Estamos celebrando o primeiro domingo da Quaresma que iniciou na Quarta-feira de Cinzas. Você que veio a missa na Quarta-feira de Cinzas... Dia de preceito, dia de participarmos da Santa Missa… Louvado seja Deus!
Durante quarenta dias buscaremos de modo intenso aquilo que buscamos todos os dias do ano: A conversão do nosso coração! E, respondermos ao chamado que Deus nos faz, para vivermos uma vida de santidade, uma vida de missionário do amor de Cristo Jesus. Durante a Quaresma utilizaremos a cor roxa que é a cor da penitência, que todos nós somos convidados a fazer neste tempo de Quaresma. Abstermo-nos de alguma coisa, colocarmo-nos em penitência diante de Deus, buscando a conversão do nosso coração. Não apenas intelectualmente, não apenas com nossos sentimentos, mas também com o nosso corpo. Na Quaresma somos convidados a rezar de um modo mais intenso, nos colocar em atitude maior de oração diante de Deus. A igreja coloca como obrigação, para o Cristão Católico, o jejum, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão - Sexta-feira Santa. Se você ainda não fez o seu jejum, faça-o nesses dias que seguem apresentando-o ao Senhor como forma de busca da conversão do seu coração. Que durante esses quarenta dias a liturgia ajude-nos, também, a mudarmos um pouco o hábito da nossa vida. São quarenta dias em busca da nossa conversão, libertação e salvação. Aquilo que o povo de Deus vivenciou e alcançou na terra prometida.
Na primeira leitura de hoje (Deuteronômio cap. 26, versículo de 4-10), temos, o chamado testamento de Moisés. Moisés que não entrou na terra prometida, mas deixou este lindo testamento para vivenciarmos... E, aqui estamos, diante de um contexto onde o povo de Deus atinge uma terra onde se tinha o hábito, sobretudo por parte dos Cananeus, de apresentar os primeiros frutos da colheita ao deus Baal, que é um deus contrário ao Deus Yahweh e, Moisés vai dizer ao povo para entrar nessa terra, mas não se deixar influenciar pelos deuses estrangeiros. Então, o povo começa a apresentar a Deus, assim como o povo Cananeu, os primeiros frutos da terra, mas apresentando-os ao Deus Yahweh. O Deus que libertou os nossos pais lá na escravidão do Egito há quarenta anos. Quarenta na bíblia é sempre um número de transformação, de conversão. Por isso, nesses quarenta dias da Quaresma buscaremos converter o nosso coração, transformarmos a nossa mentalidade e as nossas atitudes e deixarmos de oferecer sacrifícios a deuses estranhos. O deus estranho pode ser sua televisão, internet, rede social, seu celular, alguns lugares que você frequenta, pessoas que você idolatra... Amar a Deus única e, exclusivamente! Amar a Deus sobre todas as coisas e, oferecer o fruto do nosso trabalho, o fruto das nossas colheitas ao Deus verdadeiro, assim como, fazemos com o dízimo, que é o fruto do nosso trabalho... A nossa corresponsabilidade com a igreja; a igreja que tem seus custos, suas contas a pagar… folhetos, hóstias, luz, funcionários, objetos para a evangelização... Enfim, isso é apresentar ao Senhor o fruto do nosso trabalho.
Por isso, diz na leitura “Conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra, onde corre leite e mel. Por isso, agora trago os primeiros frutos da terra que tu me deste, Senhor” - que Deus abençoe todos aqueles que se comprometem com a nossa comunidade de fé, apresentando ao Senhor os frutos do seu trabalho.
E o salmo 90 da liturgia de hoje, nos diz: “Em minhas dores, ó Senhor, permanecei junto de mim!” Através deste salmo a igreja nos convida a recordar que Deus, que acompanhou nossos antepassados na travessia do deserto, também acompanha cada um de nós, que sofremos as dificuldades de uma vida no deserto. Muitas vezes afligidos pelo desânimo, cansaço, fadiga, por questão financeira, falta de trabalho, dificuldades familiares, outras vezes ainda, por dificuldades físicas com as nossas enfermidades. Mas Deus jamais nos abandona como diz São Paulo, “quando nos sentimos fracos, é que nós devemos ser fortes”! E, Jesus nos ensina no evangelho de hoje (Lucas cap. 4, versículo de 1-13) a sermos perseverantes nas nossas escolhas. Rezemos e coloquemo-nos diante do Senhor que ele irá apresentar a saída para as dificuldades que estamos enfrentando!
Diante do deserto da nossa vida sempre aparecem às tentações, e com Jesus não foi diferente! Ele que foi tentado pelo diabo... Jesus que é convidado a se jogar num local bem alto porque os anjos, segundo as escrituras, iriam ampará-lo. E, Jesus diz: “Não tentarás o Senhor teu Deus”.
E quantas outras tentações Jesus sofreu em Sua vida! Tentações que todos sofremos, mas que devemos recusá-las constantemente. Você tem recusado as tentações? Se você não tem, coloque-se diante de Deus nessa Quaresma e, tome cuidado com aqueles que falam em nome de Deus.
Vemos no evangelho de hoje que o diabo conhecia a escritura do começo ao fim. Tem gente por aí, falando de Deus, que conhece a escritura muito mais do que eu e você, mas não vive nada do que está escrito. Outros, buscando fiéis para sua religião ou igreja, prometem mundos e fundos… O tentador, também tentou Jesus com poder, com ganância. Não deixemos nos iludir por tentadores modernos que falam bonito, se vestem bonito, carregam bíblias debaixo dos braços, falam as sagradas escrituras do início ao fim, mas não seguem aquilo que professam. Muito cuidado! Ainda diz a escritura no final do evangelho que: “Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno.” Não é porque rejeitamos o diabo 1, 2, 3 vezes que ele não irá voltar. Cuidado, que no tempo oportuno ele voltará e tentará te tirar do caminho, te tirar das escrituras, te falar de uma vida fácil, de uma vida de poder, de luxo… Cuidado com o tentador! Devemos ter cuidado em nossa vida quando professamos nossa fé em Jesus Cristo e nos Seus ensinamentos.
A Segunda Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos cap. 10, versículo 8-13 nos dirá: “Irmãos: O que diz a Escritura? A palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração”. A palavra está sempre perto de nós, mas devemos saber fazer as nossas escolhas. “Todo aquele que Nele crer não ficará confundido”. Coloque-se diante de Deus em oração, abra seu coração para Deus e para aquilo que a igreja, caminho de salvação, nos orienta. Porque diante desta palavra, que está defronte dos nossos olhos, em nosso coração e em nossa vida, ninguém, nem mesmo o tentador a de nos afastar dos caminhos do Senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 13/02/2016 – Missa das 16h (Sábado).

Jesus, porém, disse a Simão: "Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens"
07/02/2016
Estamos celebrando o 5º Domingo do Tempo Comum, a vida pública de Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador. A liturgia de hoje proposta pela igreja nos convida a meditar sobre a nossa vocação. Vocação de profetas, vocação de evangelizadores, vocação de homens e mulheres que anunciam um mundo novo a partir da palavra e do exemplo de Jesus Cristo Nosso Deus e Nosso Salvador.
Na primeira leitura de hoje, no livro do profeta Isaías – cap.VI – nós vemos a vocação do profeta. Estamos no século VIII A.C., o profeta Isaías está numa crise profunda com a sua vocação, com apenas 20 anos, não sabe o que fazer e recorre ao Senhor. Diferente de muitos, que diante das crises, medos e incertezas, vão beber, vão à cartomante, vão ler o horóscopo do dia... Isaías vai rezar! E a primeira coisa que a liturgia nos diz é que diante das nossas dificuldades, nós rezamos, recorremos a Deus, sempre, em qualquer circunstância da nossa vida, o primeiro lugar, o primeiro refúgio é o Senhor. Isaías vai buscar refúgio no Senhor, mas provavelmente estava numa depressão muito profunda porque encontrar-se com o Senhor, na linguagem bíblica, sobretudo no tempo do profeta Isaías é acabar com a própria vida, porque aquele que se encontrava com Deus, Deus eliminaria a sua existência da face da terra. E, aqui vemos um Deus, que ao invés de eliminar aquele jovem confuso, com medo, conforta o seu coração. A primeira coisa que Ele faz é acolher aquele jovem que está perdido nas suas escolhas, diante dessa acolhida de Deus, Isaías reconhece o seu pecado, reconhece a sua fragilidade.
Assim como Isaías, todos nós somos pecadores e assim, diz o profeta: “Ai de mim estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros”. Então, o Senhor envia o seu anjo para pegar uma brasa no templo e coloca-la na língua do profeta Isaías, perdoando os seus pecados. Deus está constantemente querendo purificar a nossa língua, o nosso olhar e os nossos sentimentos. O Senhor está constantemente buscando purificar o nosso coração para que possamos servi-Lo de corpo e alma e uma vez purificados por Deus estamos limpos para nos tornarmos profetas, anunciarmos a palavra de Deus, sem medo e com ousadia naquilo que Deus nos chama, por isso a voz do profeta deve ser também a nossa voz quando Deus nos chama.
É Deus quem nos chama, mas será que respondemos como o profeta? “Aqui estou! Envia-me”. Quantas vezes, Deus nos chama para alguma missão, nos conduz por alguns caminhos, mas nós recusamos o chamado do Senhor em nossa vida, talvez porque nos sintamos pecadores e, aqui tem o sacramento da reconciliação, o sacramento da confissão para purificar os nossos pecados e as nossas fragilidades, talvez não nos sintamos dignos ou informados para sermos portadores da palavra de Deus, então recordamos uma frase muito antiga da igreja: “Deus não escolhe os capacitados, Ele capacita os escolhidos”. O mesmo que acontece no Evangelho de hoje (Lc 5,1-11), quando temos o chamado de Simão Pedro, que após passar a noite inteira na barca, nada pesca... Então, Jesus pede a ele que mais uma vez lance as redes. O contexto não é mais aquele dos últimos três domingos em que Jesus está na Sinagoga falando sobre a sua missão profética, agora Jesus sai da Igreja e vai anunciar a palavra para as pessoas que estão fora, assim como nós devemos fazer, irmos ao encontro dos afastados! E, os afastados se encantam com a palavra de Cristo e começam a segui-lo, a tal ponto de Jesus não conseguir mais falar perto da multidão, sendo necessário adentrar numa barca, se afastar dessa multidão para que pudesse pregar a palavra de Deus. E, depois de pregar, Jesus olha para aqueles homens que haviam trabalhado a noite inteira, desanimados, cansados, abatidos e, pede para eles avançarem para águas mais profundas e lançarem as redes mais uma vez.
Este evangelho nos lembra de que muitas vezes, estamos cansados, abatidos, porque trabalhamos a noite toda, a semana inteira, talvez nos últimos 10 anos... Buscando a conversão dos filhos, marido, esposa, pais, buscando a transformação no nosso trabalho... Alguns de nós quando a água bate no calcanhar, dão um passo para trás, se a água chegou à canela, dão um pulo, porque tem medo de se afogar, imagine então se a água chega à cintura! Normalmente temos medo das ondas que vão bater sobre nós e, é o Senhor que nos diz: “Avance para águas mais profundas”. Mesmo que estejamos cansados, que tenhamos medo do mar... Porque o mar na linguagem bíblica é aquele lugar onde não conhecemos, o perigo está iminente, tudo podemos sofrer, mas se fizermos como Pedro, alcançaremos o que Deus espera de nós. “Senhor, nós lançamos as redes a noite toda e nada pescamos” e, esta deve ser a nossa frase: “Mas em atenção a tua palavra vou lançar as redes!” E, ao lançar as redes pegam tamanha quantidade de peixes que as redes começam a se romper a tal ponto que precisam chamar outras barcas para ajudar. Quando confiamos nas palavras de Cristo alcançamos o objetivo que almejamos e quando nos colocamos diante de tamanha graça de Cristo, reconhecemos a nossa fragilidade.
Pedro reconhece as suas fragilidades, como todos nós devemos reconhecer que somos fracos, que somos pecadores e recordamos aquela frase de Jesus Cristo Nosso Senhor: “Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Deus não olha para o nosso pecado Ele olha para o pecador que deseja se deixar transformar, lapidar por Jesus Cristo Nosso Senhor, Ele que deseja nos capacitar para que sejamos pescadores de homens, como disse a Pedro: “De hoje em diante serás pescador de homens!” É Deus quem nos chama a uma missão, a missão de sermos anunciadores da palavra, anunciadores de um novo amanhecer, defensores da nossa fé, a exemplo de São Paulo apóstolo na segunda leitura de hoje (1Cor 15, 1-11), quando Paulo com muita coragem prega a palavra de Deus aos gregos que eram influenciados por uma filosofia dualista sobre o corpo e alma, onde alguns defendiam que a alma deveria se salvar e o corpo perecer, outros, o contrário. Paulo recorda o essencial de nossa fé, que nós fomos salvos por um preço muito alto a paixão de Jesus Cristo Nosso Senhor. Muitas vezes falamos de tudo e de todos, falamos de coisas difíceis sobre a teologia católica, sobre o magistério da igreja, sobre as sagradas escrituras e nos esquecemos do essencial, nós fomos salvos pela paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Paulo recorda a comunidade de Coríntios e, a igreja deseja recordar a cada um de nós que Jesus, o filho de Deus, morreu conforme as escrituras e que ressuscitou conforme as escrituras. Falemos de tudo, mas nunca nos esqueçamos do essencial, da nossa fé! E quando sentirmos que não temos a graça que Deus espera de nós lembremo-nos da frase de Paulo: “Me considero um abortivo, por causa de Jesus Cristo Nosso Senhor”, mas em comparação com os apóstolos, Paulo bate no peito e tem coragem de dizer que entre todos é aquele que mais trabalha por causa do evangelho. Fato é que se não fosse Paulo, o evangelho de Nosso Senhor não teria sequer saído da região de Jerusalém e, talvez se não for por nós, o evangelho não sairá desta igreja, portanto por mais que nos sintamos inferiores diante de algumas pessoas, somos superiores em Jesus Cristo Nosso Senhor, este Cristo que nos capacita, que nos forma, que com seu Espírito Santo nos envia para sermos anunciadores da Sua palavra e quem sabe assumindo esse compromisso possamos fazer como o salmista no Salmo 137: “Eu agradeço vosso amor, vossa verdade,/ porque fizestes muito mais que prometestes” .
Quanto Deus tem feito por cada um de nós? Muitos de nós já gritamos, choramos e lamentamos e Deus escutou as nossas preces e as nossas necessidades, renovando a nossa fé e o nosso entusiasmo! “Completai em mim a vossa obra começada”, diz o salmista. Todos nós somos como barro nas mãos do oleiro, neste Cristo que deseja purificar e lapidar nosso coração.
Que possamos como Pedro, Isaías e Paulo, nos prostrarmos diante de Cristo e deixar que Ele conduza a nossa vida!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 07/02/2016 – Missa das 18h30 (Domingo).

Buscar forças na graça e no amor de Deus
31/01/2016
Hoje, ao nos encontrarmos para celebrar a Santa Eucaristia a igreja nos convida a renovar a nossa missão de profetas, vivenciarmos os valores do nosso batismo, sermos sacerdotes para sermos uma benção nas vidas das pessoas, sermos pastores para cuidarmos uns dos outros e sermos profetas para denunciarmos as injustiças, falarmos a verdade, falarmos do amor, falarmos tudo aquilo que Deus pede a cada um de nós.
Na primeira leitura do livro do Profeta Jeremias, estamos no contexto do último século antes de Jesus Cristo Nosso Senhor. Estão reconstruindo o templo de Jerusalém e o Rei Josias inicia o tríduo de purificação da Fé de Israel, da fé de Judá. Porque o Rei anterior havia aberto a cidade para o comércio e para que outros povos viessem habitar em Jerusalém e, com isso também vieram outras culturas, outras ideologias e outros Deuses. Com esta mistura, o povo, sobretudo os jovens, estavam perdendo sua fé, estavam perdendo sua raiz religiosa. E, Josias inicia esse processo de purificação... Assim como, o padre na paróquia, não pode fazer nada sozinho, Josias conta com o Profeta Jeremias. Um jovem de 20 anos que assume o chamado de Deus para falar em Seu nome. Mas como todos nós, que às vezes nos encontramos abatidos, cansados, sem esperança, porque falamos de coisas boas e às vezes somos mal interpretados, você tenta ajudar e em troca recebe ofensas...
O profeta Jeremias não é diferente de nós e, se encontra em um momento cansado, entristecido, querendo desistir da missão que Deus lhe chamara, para falar das verdades de Deus, denunciar as injustiças! E, com isso, Josias, após rezar, restaura esta esperança, esta missão e, Jeremias lhe diz: “Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações. Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo”. Josias que é um instrumento de Deus na vida de Jeremias será um instrumento na vida do povo de Judá, dizendo que mesmo que esteja cansado naquele momento, Deus está com ele para lhe ajudar. Deus conhece as nossas fraquezas, mas conhece também todas as nossas potencialidades. Deus conhece e sabe que muitas vezes estamos cansados, mas se buscarmos forças na Sua graça e no Seu amor podemos restabelecer as nossas convicções e o nosso ardente desejo de praticarmos a vontade de Deus, por isso diz: “Levanta-te, ponha-te de pé e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer. Não tenhas medo.” Essa linguagem serve para nós, que muitas vezes estamos cansados, que desistimos de lutar pela nossa família, pelos jovens, por uma sociedade mais justa mais fraterna e mais igualitária! Não perca a esperança! Mesmo que você esteja cansado no seu matrimonio, com os seus pais, você que está com alguma enfermidade, ponha-te de pé e continue a caminhar. É Deus quem nos dá força! E, ele diz ao Profeta Jeremias: “Com efeito, Eu te transformarei, hoje, numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze contra todo o mundo”. Quando nos sentimos cansados, abatidos, essa palavra deve fortalecer o nosso coração! É Deus quem fortifica o nosso coração como uma cidade. É Deus quem faz de nós uma coluna de ferro para sustentar a nossa família, as tradições religiosas da nossa casa, sustentar aqueles que estão cansados e abatidos. É Deus que faz de nós um muro de bronze para enfrentar todas as batalhas do dia-a-dia. Por isso, é necessário ouvirmos essa voz de Deus e nos colocarmos na caminhada, como Jesus Cristo Nosso Senhor, no evangelho de Marcos cap. IV da liturgia de hoje o faz...
Jesus que não sabia que era filho de Deus (quando tinha 2, 3 meses de idade), à medida que foi santificado pelos Seus pais, participando da vida de comunidade e rezando, foi descobrindo no Seu coração qual era o Seu chamado. E, após assumir o Seu chamado na vida publica, Jesus diz que ele é o profeta que a comunidade Judaica estava esperando, quando a graça há de se cumprir nele, uma leitura que fizemos há dois domingos, no Santo Evangelho. “Jesus que vem para proclamar o ano da graça, libertar os cativos, curar os cegos, restabelecer a saúde física e espiritual de todos aqueles que adoravam o espírito e a liberdade”.
Este Cristo ao proclamar essa leitura do Profeta Isaias é questionado pela comunidade, como muitas vezes os nossos filhos, os jovens ou até os mais experientes nos questionam. Como diz o evangelho de hoje, os mais velhos se achavam os sabedores de tudo e queriam jogar Jesus no precipício. Quando não estamos abertos à palavra de Deus, à graça do Senhor, somos nós, que muitas vezes tentamos jogar as pessoas no precipício. É necessário ouvirmos o que diz a Palavra!
A comunidade ao fazer a experiência de fé, descobre os dons, os carismas que devem ser colocados a serviço de Deus e da comunidade. Mas começam a se vangloriar por causa dos dons, porque um fala em língua estranha, um profetiza, um tem dom o do milagre e tantos outros dons. E aqueles, cujos dons, causam mais alvoroço, o ego vai subindo e, então se sentem superiores na comunidade de fé. E, São Paulo, na liturgia de domingo passado, dizia que todos os dons e carismas estão a serviço de Cristo e da Sua comunidade. Todos os carismas formam um só corpo cuja cabeça é Cristo Jesus, não existe um carisma melhor que o outro.
Por isso Ele vai dizer no inicio da segunda leitura de hoje... Irmãos aspirai aos dons mais elevados. Não parem isso! Não se pode parar uma caminhada de fé! Entre todos os dons e carismas o maior é a caridade. Que algumas traduções da bíblia traduzem como AMOR. Este amor que tudo suporta, tudo crê, tudo espera e tudo desculpa!
Desse modo, ao fazer a experiência de Cristo como profetas, como portadores de uma palavra de esperança e salvação, devemos aprender a suportar tudo em Cristo Jesus. Não desanimarmos diante dos obstáculos da nossa vida. Devemos crer em tudo, em todos, jamais devemos perder a esperança que o coração não possa se converter. Jamais perder a esperança na família, em nossos jovens, em nossa igreja que é caminho de salvação.
Este amor que nos faz esperar tudo... Não devemos ter pressa, mas sim, colocarmos nas mãos e na misericórdia de Deus esse amor que tudo desculpa. Fazer a experiência de Cristo é aprender a ter um coração misericordioso como Jesus, o bom pastor. Por isso São Paulo termina sua leitura de hoje dizendo: “Atualmente, permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade”, ou seja, o AMOR.
Que possamos nessa oração eucarística irmãos e irmãs, fazermos a experiência do amor incondicional de Jesus Cristo Nosso Senhor. Diante do chamado que Deus faz a cada um de nós, sermos capazes de profetizar em nome do Senhor. Reconhecendo, denunciando as injustiças, não nos calando diante da nossa família, dos nossos amigos ou da sociedade. E, que assumindo nossa missão de Cristãos, possamos assumir a nossa Cruz de caridade, vivermos juntos este amor incondicional para que a experiência da comunidade Judaica seja também a nossa experiência como nos disseram no Salmo 70: “Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,/ em vós confio desde a minha juventude!/ Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,/ desde o seio maternal, o meu amparo”. Que o Deus de misericórdia nos ampare em nossas necessidades físicas, temporais e espirituais para que possamos anunciar, todos os dias, as graças incontáveis do senhor.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 31/01/2016 – Missa das 10h (Domingo).

Deixar-se transformar pela Palavra de Deus
24/01/2016
Estamos celebrando o terceiro domingo do Tempo Comum. A igreja nos convida a meditar sobre a nossa responsabilidade, sobre a nossa missão, como cristãos e, qual lugar ocupa a palavra de Deus em nossa vida e, em nossa história. No evangelho de hoje vemos Jesus que vem para cumprir a vontade do Senhor, para cumprir a palavra de Deus. Nós também somos chamados a cumprir a vontade do Senhor e cumprir a palavra de Deus. Jesus vem para libertar os pobres, curar os cegos, restaurar os corações que estão desviados dos caminhos de Deus.
Do mesmo modo, somos convidados a levar a palavra do Senhor àqueles que estão presos, aqueles que são cegos, aqueles que estão doentes... E, quantas pessoas, hoje, cegas diante das realidades que nos interpelam para vivenciarmos e testemunharmos o evangelho da salvação! Quantas pessoas doentes, física e espiritualmente? Quantas pessoas presas em seu mundo, em sua prisão, seu preconceito, seu individualismo... em nosso modo de ser, que simplesmente vai nos afastando de Deus e nos afastando das pessoas que amamos? Quantas pessoas que já perderam a sua esperança na transformação da sua vida, na transformação do matrimônio, na transformação da nossa sociedade! É esta falta de esperança que levou Jesus a proclamar a palavra da salvação. É esta falta de esperança que leva Esdras e Neemias, na primeira leitura de hoje, a resgatar o lugar da Palavra de Deus na vida em comunidade. Porque a Palavra de Deus que iluminou a vida de Jesus Cristo; é a palavra de Deus que iluminou o povo de Israel, é a palavra de Deus que deve iluminar a nossa vida! Ouvimos muitas pessoas, assistimos a muitos filmes e programas televisivos, lemos muitos livros... Mas que lugar ocupa a palavra de Deus em nossa vida?
O povo de Israel havia saído do exílio e voltado para Jerusalém, estavam reconstruindo o templo, mas ainda faltava o muro que servia de proteção para a Cidade Santa. O povo estava cansado, voltou a ficar abatido diante das diversas realidades, que estavam fazendo o povo se afastar das coisas sagradas. É então que Esdras começa a ler a palavra de Deus, desde manhã até o meio-dia. Esdras era funcionário de um cargo público e se utilizou da sua função para resgatar esta palavra de Deus, a centralidade da palavra de Deus na vida da comunidade. E, Neemias vem atrás de Esdras para levar o povo a esta experiência de esperança em Deus que não nos abandona e ele diz ao final da primeira leitura “Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força”. Quando estamos abatidos é a palavra de Deus e a vida em comunidade que nos ajuda a superar as nossas dificuldades. E a palavra de Deus, seja ela, lida e meditada em casa; seja ela, lida e meditada na igreja, deve transformar a nossa vida! A palavra de Deus deve provocar uma verdadeira transformação em nossos pensamentos e em nossas atitudes!
Você já se deixou transformar pela palavra de Deus? A cada missa que você frequenta, a cada leitura da palavra de Deus que você faz na sua casa... Você deixa a palavra de Deus transformar a sua vida?
O Salmo de hoje nos diz, “Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida” é essa palavra de Deus que vai reaquecendo, iluminando, fortalecendo a nossa vida e a nossa caminhada!
É necessário seguirmos uma doutrina, não se pode servir a dois Senhores. Se não colocarmos a palavra de Deus que nos ilumina, que nos orienta, se não colocarmos a doutrina da igreja que frequentamos, como caminho de felicidade, de libertação, como caminho de salvação, com certeza, corremos o grande risco de nos perdermos nos caminhos que nos levam a felicidade e a salvação. É o que acontece com a comunidade de Coríntios, fundada e evangelizada pelo apóstolo São Paulo, em que vão surgindo os dons, os carismas nessa comunidade... E, depois de começar um círculo fanático, porque algumas pessoas da comunidade não compreendiam o que o Espirito Santo suscitava no coração de cada pessoa e da comunidade reunida, Paulo escreve a segunda leitura de domingo passado que lemos sobre os dons...
A cada um é dado um dom, a cada um é dado um carisma... O Espirito Santo suscita no coração de cada ser humano com um carisma específico. Mas este carisma não é em benefício próprio é sempre a serviço de Deus, da comunidade reunida e da transformação da realidade na qual vivemos. O povo por não compreender faz com que Paulo escreva na segunda leitura de hoje (continuação da segunda leitura de domingo passado), que os carismas não são em benefício próprio, são sempre a serviço da nossa comunidade, sempre a serviço de Deus, a serviço de uma transformação da realidade na qual vivemos. Por isso, São Paulo vai usar aquela metáfora grega muito antiga, que embora sendo um único corpo, temos muitos membros e os membros devem caminhar juntos!
E a igreja é o corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. O matrimonio, a família são a igreja doméstica. Por isso, a família deve caminhar junta, o casal deve decidir as coisas juntos! Sendo um só coração e uma só alma! E colocando a disposição de Deus tudo aquilo que Ele nos acaricia com a Sua graça e com o Seu Espirito Santo.
Peçamos ao Senhor que a comunidade, assim como, a comunidade de Israel, possa compreender o lugar da palavra do seu centro, na sua essência. Que possamos deixar a palavra de Deus fecundar em nosso coração e transformar os nossos sonhos, os nossos anseios, as nossas esperanças e como o povo de Israel que canta alegremente o Salmo 18, possamos dizer: “Vossos palavras, Senhor, são espírito e vida”.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 24/01/2016 – Missa das 7h30 (Domingo).

Deixar Jesus conduzir a nossa vida
17/01/2016
Estamos celebrando o 2° Domingo do Tempo Comum, que se iniciou com a festa do batismo de Jesus Cristo. Iniciando esse Tempo Comum, recordamos sempre que é um tempo de meditarmos sobre a vida pública de Jesus Cristo Nosso Senhor. Cuja cor verde, nos recorda a esperança Cristã. E o Cristão, nunca, em hipótese alguma, mesmo diante das dificuldades, não pode perder a esperança! A esperança que muitas vezes falta ao nosso coração. Este Deus que nos ama incondicionalmente, sendo crianças ou idosos, intelectuais ou analfabetos, chegando à igreja hoje ou há cinquenta anos. Deus ama a todos do mesmo modo!
E, é o que nos diz a segunda leitura da Carta de São Paulo aos Coríntios, quando vai nos dizer que Deus nos cumula de dons, de carismas. Deus dá a cada um uma missão... Alguns falarem línguas, a outros interpretar, o dom da profecia, o dom de fazer milagres. Mas, diz a palavras de Deus “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos”. Essa leitura pode ser refletida de diversos modos. E um dos modos de refletirmos espiritualmente essas palavras do Senhor é que Deus ama a todos indistintamente, que Deus cumula-nos de dons e carismas para construirmos um reino de amor, de paz, um reino de justiça.
Você tem colocado seus dons a disposição de Deus? Você tem colocado os seus carismas a disposição do Senhor?
A igreja, diz todos os documentos, é ministerial, ou seja, a junção de todos os ministérios do povo de Deus formam a igreja peregrinante nesta terra. E, na medida em que colocarmos nossos dons a disposição de Deus, Deus agirá em nós e por meio de nós.
É o que ouvimos na primeira leitura no capitulo 62, Profeta Isaias: “Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e, não se acender nela, como uma tocha, a salvação”. Nós muitas vezes desistimos de Deus, desistimos da nossa fé, desistimos de compreender a qual chamado Deus está constantemente nos convocando. Muitas vezes desistimos da nossa família, do casamento, muitas vezes desistimos dos nossos pais, dos nossos filhos, dos trabalhos pastorais na nossa comunidade. Mas Deus, aquele que chegou ao ponto de entregar seu filho na cruz por amor a cada um, não desiste de nós! “NÃO ME CALAREI, NÃO DESCANSAREI!” disse o Senhor!
Você tem se calado diante de algumas situações da sua vida? Você tem desistido diante de algumas situações da sua história? Se você está cansado, abatido, triste, é Deus que te chama para o Seu Espírito Santo te conduzir para uma vida nova no Seu amor. Uma vida nova de alegria, de paz, de justiça, uma vida nova de compaixão. A vida que deve ser vivida na sua intensidade como vemos no Evangelho João, cap. 2.
É importante sabermos que o Evangelho de João tem uma reflexão teológica um pouco mais rebuscada, um pouco mais profunda que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Porque João tem a capacidade de olhar o mesmo elenco sobre uma ótica de graça. É a arte de saber olhar as mesmas coisas com o olhar diferente, o que também somos convidados a fazer.
Olhar nossa vida, olhar a nossa igreja, a nossa família, o nosso trabalho, sempre com olhar diferente. Um olhar profundo, um olhar teológico, ou seja, um olhar de Deus para as coisas da nossa vida. E, nas bodas de Caná, João relata um casamento... Casamento que tem festa, uma festa em que Jesus está presente, em que divertimo-nos, alegramo-nos. É importante para nossa vida, não é pecado! Devemos viver a festa da vida, como Jesus que vai para o casamento, que vai para festas, que se encontra para festejar ao redor da mesa com seus amigos, com seus discípulos. Em diversas situações, vemos Jesus se divertindo! Também nós, devemos nos divertir na festa da vida, nesta festa que de vez em quando nos falta vinho, ou seja, falta a alegria. E, Maria Santíssima nesse evangelho tem um papel preponderante, um papel fundamental porque como uma boa mãe, ela observa!
Maria vê que naquela festa acabou o vinho, ela então chama Jesus para ajudar aquele casal, para ajudar naquele momento importante daquela família. Jesus que diz a sua mãe que sua hora ainda não teria chegado. E Maria não discute com Jesus, apenas vira para os funcionários e diz: “Fazei o que ele vos disser!”. E ali tem a transformação da água em vinho.
Naquela festa faltou vinho... Muitas vezes em nosso coração falta o perdão, falta compaixão. Dentro dos nossos lares muitas vezes falta o diálogo, falta o carinho. Muitas vezes em nossa vida faltam coisas simples. Simplicidade essa que nos traz a alegria de viver. Muitas vezes perdemos a nossa fé, perdemos o nosso entusiasmo de participarmos das coisas sagradas... É a voz de Nossa Senhora nos dizendo: “Fazei tudo o que ele vos disser!”.
Se direcionarmos nosso olhar para Jesus e deixarmos com que ele conduza nossa vida, Ele é capaz de preencher as nossas falhas, o nosso coração, preencher a nossa vida, porque Deus nunca desistiu e nunca desistirá de cada um de nós, mas é necessário ouvirmos o que Jesus tem a nos dizer e realizarmos tudo aquilo que Ele nos pede.
O que falta em sua vida? Em seu matrimônio? Em sua família? O que falta na sua caminhada de fé, na sua caminhada de igreja?
Coloque-se a disposição do Senhor ouça a Sua voz e faça tudo que o Senhor te pedir. Com certeza, você será capaz de festejar a festa da sua vida com maior alegria e maior entusiasmo.
Que o Espirito Santo de Deus nos seja favorável para que nós também não desistamos da nossa vida de fé e tenhamos os olhos fixos em Jesus para compreendermos quais são os nossos carismas, os nossos dons, os nossos ministérios...E que o Senhor preencha o nosso coração com aquilo que nos falta para trilharmos o caminho da nossa história vivendo a festa da vida.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 17/01/2016 – Missa das 7h30 (Domingo).

Eis a voz do Senhor majestosa!
10/01/2016
“Eis a voz do Senhor sobre as águas, sua voz sobre as águas imensas! Eis a voz do Senhor com poder! Eis a voz do Senhor majestosa!” Salmo 28.
A água é um dos elementos essenciais da natureza. Na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento a água é lembrada, por exemplo, na criação, quando Deus faz Céu e Terra, separou a luz das trevas... A terra se faz e, enche-se de água, criam-se os mares e lagos. No diluvio, com Noé, na Arca de Noé, nesta água que parece um Tsunami, que destrói... Mas Deus reina sobre os dilúvios. Também é no meio do dilúvio que Noé tem a inspiração, a ideia de soltar uma pomba. Se a pomba voltasse com alguma folhagem no bico é porque teria encontrado terra e, no meio desse diluvio a pomba vai e volta como sinal de paz.
E a mesma pomba desce sobre Jesus representando depois da voz do Pai, no filho, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, a pomba vem como o Espírito Santo que repousa sobre a cabeça de Jesus e aqui nós temos a Trindade, a Santíssima Trindade.
Depois do dilúvio de Noé, temos o Mar Vermelho... No tempo certo o Senhor reinou sobre o povo de Israel, o mar se abriu e assim o povo israelita atravessou o Mar Vermelho, em seguida, o mar se fechou e cobriu faraós e egípcios. E ali mais uma vez estava a água, e mais uma vez parecia uma grande desgraça, mas a benção de Deus veio, o orvalho cresceu, e o maná, que é o pão celestial, alimentou o povo. E quem é o pão descido do céu? Jesus Cristo! O mesmo Senhor das águas é o Senhor que dá o alimento, que é o pão. E, na Santa Missa vivemos essas duas realidades, somos batizados e por isso alimentamo-nos do pão eucarístico.
No Evangelho de hoje, João nos diz: “Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias, porque Ele é o Messias, o Senhor, Ele é mais forte do que eu. Eu os batizo com água, meu batismo é de remissão dos pecados. Jesus não precisa de batismo, de água, de conversão”! E Jesus diz: “João, é necessário que a Sagrada Escritura se cumpra, eu devo ser batizado, descer na água”. Era necessário que Jesus descesse na água, e Jesus desce na água do Jordão para santificá-la e a partir dali o batismo começa, pelos apóstolos, discípulos de Jesus, e Pedro vai entender que ele estava fazendo diferença, o povo de Israel não estava sendo evangelizado, batizado. Já na segunda leitura, Pedro se recorda do começo: “De fato estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas”.
João Batista os lembrou: “Ele os batiza com o Espírito Santo e o fogo, e eu com água!” E vejam que interessante... o fogo e a água estão dentro da ação que nos toca para entendermos o poder de Deus, o que é o poder do batismo! Todos nós, precisamos refletir sobre o nosso batismo. Porque tudo isso é um presente de Deus! Será que você tem usado o teu presente? Podemos passar a vida inteira e não abrirmos o nosso presente! É muito importante e maravilhoso! Precisa querer! Use o teu presente! Somos batizados e recebemos de graça esse presente de Deus, que é o dom de Deus! Se não tomarmos cuidado, podemos desprezar aquilo que é ação espiritual do criador, através do teu Santo Espírito.
Ser batizado é efetivamente receber a graça da filiação de sermos filhos de Deus! Filhos adotivos de Deus! Olha de onde vem a graça do batismo! Olha o presente! E não precisa ser cristão porque Deus se fez pai, mãe e criação a todos! Mas é necessário entender que precisamos ser batizados, porque é no batismo que nós mergulhamos e morremos para o pecado, e renascemos para a vida!
Homilia: Pe. Rogério Romão Bueno – 10/01/2016 – Missa das 10h (Domingo).

Fazer a vontade do Pai
07/01/2016
Iniciamos, domingo, a celebração da Epifania do Senhor, a extensão da festa da Epifania que é a manifestação de Deus na história da humanidade e, seguiremos até sábado, celebrando essa importante festa na vida dos cristãos e na história da humanidade.
Celebrar essa festa só tem razão quando compreendemos o nosso propósito, que é fazermos a vontade do Pai. Jesus Cristo Nosso Senhor se encarna na história da humanidade desde a sua permutação, desde o tempo de Sua mãe, Maria Santíssima. Jesus passa por situações difíceis em sua história, mas está sempre com os olhos fixos em Deus e, todos nós, devemos também estar com os olhos fixos em Deus! Onde está direcionado o seu olhar? Para Deus? Para situações passageiras desta vida? Para os momentos de felicidade que vão se perdendo ao longo da nossa vida? Ou de uma felicidade perene, que vai sendo construída a partir das nossas escolhas de vida?
Jesus escolhe fazer a vontade do Pai. Jesus que entra na sinagoga, num sábado, como era de costume; pega a palavra de Deus para ler, como também era de costume; proclama a palavra de Isaías, que fala de uma libertação; dos cegos, dos cativos, dos oprimidos; que fala de um ano de graça, de liberdade, de abundância, um ano de bênçãos, e diz que ali se cumpre a Escritura Sagrada aguardada por tantos e tantos anos e, de fato a história se cumpre com Jesus Cristo Nosso Senhor.
Aprendemos a olhar Deus pelos olhos fixos de Jesus; aprendemos a frequentar a igreja, assim como Jesus, e aprendemos a compreender a palavra que o Senhor nos dirige. Qual é a palavra que Deus dirige a você? Você tem o hábito de ler a bíblia? Você tem o hábito de ouvir coisas sobre Deus? Você tem o hábito de procurar entender qual é a vontade de Deus na sua vida?
Jesus, que após dizer isso é olhado por aquela assembleia... Uma assembleia que como diz a palavra de Deus mantinha os olhos fixos em Jesus, e Jesus mantinha os olhos fixos em Deus!
Será que você tem autoridade na sua casa? No seu trabalho? Você tem autoridade no seu matrimonio? Para que as pessoas tenham os olhos fixos em você! Ou nem mesmo você tem confiança no que diz?
Onde estão as nossas convicções? Ter a convicção daquilo que dizemos é o que falta muito em nossa sociedade! É o que falta na família, no nosso matrimônio... Que nas escolhas da nossa vida possamos pautar a nossa história no evangelho da salvação, esse evangelho que não nos desampara, esse evangelho que é capaz de suportar as nossas dores, a saudade dos nossos entes queridos que partiram para junto do Senhor. Uma convicção que será traduzida nas nossas atitudes; dentro do nosso matrimonio; com os nossos pais; na educação dos nossos filhos; destes jovens, hoje, que muitos, já não respeitam mais pai e mãe, porque muitas vezes os pais não dão testemunho da verdade, a exemplo de Jesus Cristo Nosso Senhor. Por isso, São João, na primeira carta-Cap.4, da primeira leitura de hoje, vai nos recordar que o amor não é algo ilusório, o amor é algo muito palpável em nossa vida e, todo aquele que ama deve traduzir o seu amor em linguagens concretas como nos diz a palavra do Senhor. Essa palavra que nos diz: “Quem diz amar a Deus, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso! Pois, quem não ama seu irmão, a quem vê; não poderá amar a Deus, a quem não vê”.
E é este mandamento, que Dele recebemos! Aquele que ama a Deus, ama também o seu irmão!
É necessário traduzir as palavras, em ações para o cotidiano, pois não adianta dizer: Meu amor eu te amo; mas não colocar em prática esse amor! Não adianta prometer fidelidade e amor pra vida toda; se alguns dias você se esquece disso! É necessário colocar em prática a linguagem do amor, essa linguagem do amor preservado por Jesus Cristo, que transformou o coração dos apóstolos, transformou o coração dos discípulos, que se tornaram missionários e transformaram a história da humanidade. Rogamos a Deus, que ao celebrar essa eucaristia possamos ser capazes de levar esse amor de Deus aqueles que não amam, não creem e não esperam.
Homilia: Pe. Tiago – 07/01/2016 – Missa das 19h30 (Quinta-feira).

A Epifania do Senhor
03/01/2016
Estamos celebrando a Epifania do Senhor que é uma festa antiga da igreja e nos leva a meditar sobre a manifestação de Deus na história da humanidade. Um Deus que não se revela simplesmente a um grupo de pessoas, mas a toda humanidade. Como dirá São Paulo a Carta aos Efésios, cap. III - “Deus traz sua graça a todos os homens e mulheres, inclusive para os pagãos”. Veremos que os magos que não acreditavam em Deus vão ao encontro de um sinal e ali convertem o seu coração.
A liturgia de hoje deve nos levar a meditar sobre essa manifestação de Deus na história da humanidade e que Deus deseja se manifestar em nosso coração, em nossos sentimentos e em nossas atitudes. Este Deus que está de braços abertos para nos acolher.
Após alguns séculos da ressurreição de Jesus Cristo Nosso Senhor, praticamente os cinco continentes já haviam ouvido falar no nome de Jesus. Este nome que transformou a história da humanidade, a partir de homens e mulheres que proclamaram a salvação em Cristo Jesus.
Na primeira leitura de hoje no livro do Profeta Isaías, cap. 60 - vemos a palavra de Deus, que nos diz, que o templo de Jerusalém será a casa de acolhida de todos os povos. Estamos alguns séculos antes do nascimento de Jesus. Os teólogos chamam de Trito-Isaías para dizer que provavelmente não foi o profeta Isaías que escreveu, mas sim os seus discípulos, que ao verem o templo de Jerusalém reconstruído após o Exílio da Babilônia, se encantam com a beleza daquele monumento feito a Deus.
Com pedras especiais, ao amanhecer do dia, o templo reluzia. Convidando a todos, que o viam de muito distante, a ingressar neste templo que é a casa de Deus.
Para nós a igreja se tornou esta nova Jerusalém. Uma igreja que deve acolher a todos! Independente da classe social, religião, cor ou da cultura. Uma igreja que deve estar de braços abertos para acolher a todos... como ouvimos na primeira Leitura: “Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti”.
Hoje, reunidos nesta comunidade de fé, somos a nova Jerusalém reunida no templo para proclamar Jesus Cristo que se manifesta em nossa vida, em nosso coração, em nossa família e, levar este amor de Deus àqueles que não creem, não amam, não esperam. Mas é necessário, primeiramente, fazer a experiência do Cristo ressuscitado. Este Cristo que se manifesta a todos os povos, independente da sua religião, do seu conhecimento, independente do seu credo. Deus se manifesta a todos! E no evangelho de hoje, Mateus cap.II - se revela aos magos. Homens vindos do Ocidente, veem através da ciência, dos mapas, da astrologia, que um rei deveria nascer em Jerusalém. E impulsionados pela fé na ciência, mas não em Deus, se encontram com Jesus Cristo na manjedoura. Muitas coisas podem nos levar a Deus... A fé, a esperança, o desespero, mas também a inteligência humana, a ciência.
Quantas pessoas já converteram o seu coração? Pessoas sem estudo, analfabetas, mas também intelectuais, matemáticos, físicos, historiadores, filósofos, antropólogos... Pessoas que através da ciência converteram o seu coração! Por isso, nunca podemos dizer: Aquele ali nunca irá se converter! Porque de algum modo, Deus age na vida das pessoas e, para aqueles que dizem que religiões são para as pessoas analfabetas é bom compreender que a histórias das religiões é muito antiga e, por exemplo, o Cristianismo tem dois mil anos de conhecimento, de estudo, de discussões. Discussões estas, que levaram e ainda levam, homens e mulheres a converterem-se em nome de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Estamos em que momento das nossas vidas? Será que já nos convertemos? De onde será que viemos para adorar ao Senhor? O que nos motiva? O que nos impulsiona? O que nos faz mergulhar nesta graça de Deus e naquilo que transforma a nossa fé em um contexto histórico, religioso, social? É necessário conhecermos também a fé que professamos! Ao longo desse ano, a partir do templo comum, começarei a explicar um pouco da celebração da missa, para compreendermos, aos poucos, o que estamos celebrando. Porque nos reunimos aos domingos? Porque celebramos a palavra? Porque celebramos o Corpo e Sangue de Jesus Cristo Nosso Senhor e Nosso Salvador?
Voltando aos magos… Por muito tempo a igreja acreditou que de fato fossem magos, mas na verdade eram homens, que através da ciência, buscaram uma explicação lógica para escritos antigos, para astrologia e para tantas outras coisas...Mas é através dessa busca de conhecimento que vão a Jerusalém e, em Jerusalém, Herodes os direciona a Belém, que é onde Jesus deveria nascer. Belém significa Casa do Pão e, Jesus é o pão da vida, aquele que se dá em alimento para cada um de nós!
E os magos vão ao encontro deste menino Deus. Iluminados, amparados, direcionados, conduzidos pela estrela de Belém. A estrela os conduziu até Jesus! Hoje, o que nos conduz até Jesus? Quais são os sinais que Deus apresenta em nossa vida para que possamos ir ao Seu encontro? Neste mundo ofuscado pelas luzes, pelo som, pela televisão, pela internet, pelo smartphone... Neste mundo ofuscado por tantas coisas, onde encontramos um sinal que nos guie até Jesus? Lembrando que Deus se manifesta de muitos modos! Em um filme, uma palavra, uma atitude, em uma criança, em uma flor, em uma música... Deus vai se revelando! Como se revelou aos magos através da ciência! Como ele se revela a você? E de que modo Deus conduz o seu coração e a sua vida?
É necessário estarmos abertos à graça do Senhor, para que possamos compreender, ou pelo menos, identificar, quais são estes sinais que nos levam a Jesus. E, ao nos encontrarmos com o Salvador, fazermos como os magos, nos inclinarmos e adorarmos a Jesus Cristo Nosso Senhor.
Você já adorou verdadeiramente a Cristo? Ou você vem à igreja por tradição? Você adora o Senhor verdadeiramente? Ou você vem porque sua avó te ensinou, seu pai te ensinou? Você já converteu o seu coração? Você é capaz de comungar da palavra de Deus acreditando que ali está a revelação do Senhor? Você comunga da santa eucaristia com verdadeira adoração? Se não faz, é necessário que seu coração se converta! E como os magos, se inclinem verdadeiramente para adorar ao Senhor.
Os magos apresentaram a Jesus: Ouro, incenso e mirra. Além dos bens materiais, o que você tem para apresentar a Deus? A sua inteligência, a sua mão de obra? A sua voz, como os músicos? O seu tocar? O seu limpar a igreja? O seu participar das pastorais, dos movimentos de nossa comunidade? Os seus sonhos, a sua esperança, a sua família? O que você pode apresentar ao Senhor?
Porque muitas vezes dizemos nos entregar a Deus, mas o fazemos apenas pela metade, para não dizer 1/3... Vamos, mas não vamos; acreditamos, mas não acreditamos.
E os magos ainda acreditam no sonho de Deus, em um sinal que se revela não mais através da ciência, mas de algo sentimental, e nestes sonhos retornam por outro caminho para sua terra, para proteger o menino Jesus. Você tem acreditado nos sonhos de Deus? No que Deus fala ao seu coração?
Porque às vezes Deus nos fala para irmos por um caminho e vamos por outro. Deus nos pede para tomarmos algumas atitudes e tomamos outras, que são contrárias aos projetos de Deus. Os magos trilharam outro caminho... Você está disposto a trilhar outro caminho para encontrar a liberdade, a felicidade e a salvação?
Diz a palavra de Deus em Efésios cap. III - “Se ao menos compreendesses a graça de Deus. Irmão! Se ao menos soubesses da Graça que Deus concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito. Se ao menos soubesse o tamanho da graça de Deus, que nos permite a liberdade, e trilharmos o caminho da salvação não esperaríamos mais para trilhar os caminhos do Senhor”.
E por fim, nós, que muitas vezes nos sentimos arrogantes, intransigentes, a palavra de Deus é direta e reta. Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, ou seja, da mesma fé, da mesma igreja. São associados à mesma promessa de Jesus Cristo, por meio do evangelho.
Muitas vezes, julgamos demais, julgamos aqueles que não têm a mesma fé, que não têm a mesma inteligência, que estão há menos tempo na igreja, aqueles que rezam menos do que nós.
O nosso caminho, o nosso objetivo é o mesmo! Alcançarmos a santidade e salvação, independente se chegamos na igreja hoje ou há cinquenta anos; se falamos o ABC, ou nem isso sabemos, porque somos analfabetos; se falamos cinco línguas, fizemos 10 faculdades... A fé é a mesma para todos! O que interessa é proclamar Jesus Cristo como Senhor da nossa vida e buscarmos na medida da nossa capacidade, conhecê-lo, amadurecer, e assim termos os mesmos sentimentos de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Que a igreja de Santa Teresinha se torne para nós e por meio de nós a Nova Jerusalém, onde os povos possam vir e sentirem-se acolhidos nesta igreja e nesta fé. Que saibamos acolher a todos, independente da raça, cor, religião, da classe social. Que saibamos ser uma igreja e uma família acolhedora para que todos venham e sintam-se acolhidos por Jesus Cristo Nosso Senhor.
Homilia: Pe. Tiago – 03/01/2016 – Missa das 10h (Domingo).

Que 2016 seja um ano de graça, de amor e de salvação para nós!
31/12/2015
Estamos celebrando a última Missa do Ano, já na solenidade de Maria, Mãe de Deus, e o dia Mundial da Paz. Esta celebração coloca Nossa Senhora como instrumento para que o menino Jesus pudesse nascer na história da humanidade. Maria é Mãe de Jesus e se Jesus é Deus, Maria se torna Mãe de Deus, e como Mãe de Deus ocupa um lugar especial no céu! E é este lugar no céu que nós também queremos um dia alcançar, a partir da liberdade de escolha e da profissão de fé do filho da Virgem Maria, Jesus Cristo nosso Senhor e Nosso Salvador.
O Papa Paulo VI, instituiu em 1968, na Igreja, o dia 1º de Janeiro como o dia Mundial da Paz. O dia em que todos nós rezamos para que haja a paz! E, quanta paz o mundo precisa! Nossas famílias, nossos jovens, os trabalhadores, as diversas religiões na humanidade... Quantos precisam de paz? O quanto nosso coração precisa de paz para enfrentar as dificuldade que a vida nos apresenta? Dificuldades em casa, no trabalho, nos estudos... Por isso, a última missa do ano, é tempo, também, de avaliarmos as nossas escolhas. Tempo de fazermos um exame de consciência sobre quais foram as nossas opções ao longo deste ano. Quantas graças e bênçãos alcançamos? O quanto fomos desleixados com algumas coisas que dizemos ser importante?
Celebrar essa última missa, é também pedir a Deus, que no ano de 2016 possamos ser fortes em tudo aquilo que fomos frágeis no ano de 2015. Que 2016 seja o ano da paz, o ano da graça, o ano de renovarmos as nossas esperanças, de continuarmos lutando pela santificação das famílias, o ano que possamos continuar cuidando pela comunhão da nossa paróquia, pela multiplicação das pastorais.
Quando fazemos uma avaliação percebemos o quanto trabalhamos e o quanto lutamos por essa paróquia. Na sua casa, na sua família você pode fazer este exame de consciência, identificar o quanto você lutou pela felicidade da sua família. Os estudantes podem avaliar o quanto se esforçaram nos estudos ao longo desse ano. Os trabalhadores; o quanto se esforçaram no mercado de trabalho. O quanto você se aperfeiçoou para enfrentar esse momento de desemprego em nosso país!
A palavra de Deus nos ajuda a meditar sobre a presença e bênçãos de Deus.
Em primeiro lugar é Deus que se manifesta em nossa vida. Um Deus que não nos abandona! Por mais que pensemos que estamos sozinhos, Deus jamais nos abandona. Deus está conosco, constantemente, mesmo diante dos nossos pecados e das nossas fragilidades. O povo que se irrita quando Deus os libertou da escravidão do Egito; o povo que murmura; é a esse mesmo povo que Deus envia sua bênção! Portanto, se você adorou outros deuses, se você murmurou, se ficou chateado com Deus em algum momento, o Senhor te perdoa! Mas é necessário que você também perdoe o seu coração e aceite Deus como o Senhor da sua vida e da sua história.
Ao longo do ano de 2015 algumas famílias em nossa paróquia colocaram Deus à frente. E, com a graça de Deus e intercessão de Nossa Senhora, rogamos para que essas famílias, que não foram poucas, continuem a colocar Deus como prioridade em sua vida. Deixemos que a bênção de Deus aja em nós e por meio de nós!
Aarão dá a bênção ao povo para que o povo abençoe a sua casa, a sua família. Neste mundo que está se tornando um mundo banalizado, algo tem nos faltado, que é sermos uma bênção na vida uns dos outros. Porque muitas vezes somos instrumentos de guerra, opressão, pecado, trevas… e não instrumentos da bênção de Deus.
Você tem levado a bênção de Deus para sua casa? Para o seu matrimônio? Para os seus filhos, seus netos, seus sobrinhos, para os seus amigos? Nos lugares que você frequenta? No seu trabalho?
Para darmos a bênção para alguém, é necessário pedir para Deus, que sejamos sempre uma bênção na vida daquelas pessoas. Você foi uma bênção no ano de 2015? Faça um exame de consciência... Se ficou mais pra lá do que pra cá... É necessário converter-se!
Deus nos dá sempre a bênção! Ao final de cada missa o padre abençoa - Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor! - e nos envia a missão para sermos uma bênção na vida das pessoas. Se não tomarmos posse dessa bênção, se não formos promotores dessa paz, desse amor e dessa justiça, como o mundo poderá chegar a paz, ao amor e a justiça?
Quando ouvimos falar de Deus, quando ouvimos falar das coisas sagradas, mesmo com a nossa pequenez, mesmo com as nossas dificuldades intelectuais, físicas, talvez morais, por causa dos nossos pecados... Nós somos convidados a sermos bons pastores! Ir às pressas ao encontro de Jesus! Muitas vezes, Deus não ocupa o centro da nossa vida, ele ocupa talvez a penúltima ou até a última posição do nosso tempo. Faça um exame de consciência... Quanto tempo você gastou na oração, indo à igreja, e quanto tempo você gastou nas redes sociais? Com as novelas? Com os livros que não são de Deus? Quanto tempo você gastou com coisas que não são sagradas? As coisas sagradas você foi deixando, deixando, deixando...não colocando como prioridade em sua vida. Faça você mesmo esta avaliação!
Os pastores eram uma das classes sociais mais desprezadas da sociedade, da periferia. Muitas vezes você se sente pequeno, sozinho, abandonado e Deus vai ao seu encontro, assim como foi ao encontro dos pastores. Através dos sinais é que Deus fala conosco, constantemente. O quanto Deus falou com você nesse ano de 2015? Você prestou atenção? Quantas vezes você acorda correndo e se esquece de rezar? Quantas vezes nos preocupamos mais com as coisas de fora do que com as coisas de dentro? Quantas vezes damos mais valores para aqueles que conhecemos ontem?
Quando ouvir Deus falando ao seu coração faça como os pastores, vá às pressas ao encontro do Senhor! Deus tem uma mensagem para você, e essa mensagem é pessoal e intransferível, só você pode compreendê-la. Neste ano de 2016 não deixe a graça de Deus passar. E ao fazer a experiência de Deus volte para casa, glorificando à ele como os pastores. Você glorifica a Deus mais do que você reclama da vida?
Quando aprendermos a agradecer mais do que reclamar, olharemos a nossa vida com os olhos de Deus. E este é um processo de conversão que todos nós somos chamados a percorrer, um processo que não se dá em uma novena, não se dá em uma bênção do Santíssimo, não se dá em uma formação... Mas, se dá no percurso da nossa história.
Não podemos nos acostumar com aquilo que está errado, diante das realidades que não compreendemos. Façamos como Maria... Maria meditava em seu coração! Quando não tivermos o que falar, rezemos! Guarde as coisas em silêncio, que Deus, no momento certo vai falar ao seu coração.
Muitas vezes moramos com pessoas e não as valorizamos. Não declaramos o nosso amor, e muitas vezes essa falta de mensagem é o que vai agredindo o nosso coração. Por isso, São Paulo vai nos dizer na segunda leitura de hoje - “que Deus nos dê a liberdade de escolha”!
Quando fizer algo deixe de culpar as pessoas, você é o único responsável por suas atitudes, pelas suas palavras, pela sua postura e o seu testemunho. Nós temos o mal hábito de sempre culpar alguém. Diz a carta de São Paulo aos Gálatas, que Jesus se encarnou na história da humanidade para nos dar a liberdade e pagou um preço alto por essa liberdade, que é a cruz, o sacrifício do Calvário. Nós podemos fazer as nossas escolhas!
Por isso, deixo algumas perguntas para reflexão…. Quais escolhas você fará? Escolherá a Deus? Valorizará a sua família, a sua igreja? O seu tempo com o Senhor? O perdão e o amor? E o que mais falta no seu coração?
Que o Espirito Santo de Deus nos seja favorável para que a nossa devoção a Santíssima, a Nossa Senhora, possa converter o nosso coração e nos dar aquilo que precisamos para que o ano de 2016 seja um ano de graça, de amor, e um ano de salvação para nós, para nossa casa, família, para a igreja e sociedade.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 31/12/2015 – Missa às 20h (Quinta-feira - Ano Novo).

Felizes os que temem o Senhor e trilham os Seus caminhos
27/12/2015
Estamos celebrando a festa da Sagrada Família, uma família que seguiu os caminhos do Senhor e trilhou a vontade de Deus. No primeiro domingo, após o Natal do Senhor, nas igrejas do Brasil, celebramos sempre a festa da Sagrada Família, porque a família é a célula vital da igreja e da sociedade, a família é a nossa igreja doméstica, e toda família é convidada a colocar em pratica a sua fé, tendo como modelo a Sagrada Família de Nazaré – Jesus, Maria e José.
Não existe família perfeita! O que existe são famílias que colocando Deus à frente são capazes de trilhar os caminhos da história com maior coragem, com maior convicção, maior ousadia para enfrentar todos os obstáculos que a vida apresenta. E a igreja coloca a Sagrada Família de Nazaré como modelo para nós, porque na humanidade de Maria, de Jesus e José, souberam viver o projeto de Deus, o que também somos convidados a viver, mesmo com todas as dificuldades do passado, presente e futuro.
Maria fica grávida, e ao invés de repousar, caminha 150 km pra visitar sua prima Isabel, fica lá por alguns mês, e em sua volta é decretado um recenseamento, então com nove meses de gestação, Maria parte com seu esposo José, em cima de um burro por 10 km até Belém. Chegando lá, não tem onde seu filho nascer e vai parar em uma estrebaria, num lugar onde ninguém queria estar, mas é ali que nasce o menino Deus, é ali, nas dificuldades, que Maria e José estão juntos, um fiel ao outro. José é um trabalhador, como os pais normais, trabalhava dia após dia, sol após sol, para levar o pão de cada dia para o seu lar e são nas coisas normais da vida que Maria e José, ensinaram Jesus a seguir o caminho religioso, ensinaram Jesus desde a sua infância a respeitar o dia de sábado - para os judeus o sábado é dia de preceito, dia de ir a sinagoga rezar.
Mesmo nas suas imperfeições, Maria e José, ensinam a Jesus a respeitar e amar a Deus sobre todas as coisas, como no evangelho de hoje, que vão cumprir com um preceito judaico de ir três vezes a Jerusalém, na festa da Páscoa, na festa de Pentecostes e na festa das Tendas, e nessas três festas participam das cerimonias religiosas. Ensinam a sua família a vivenciar o projeto de Deus que se realiza em uma religião histórica, num dia concreto. O que os pais também devem ensinar aos filhos, a respeitar os dias do Senhor, a respeitar as festas de preceito.
Quantas famílias celebraram o Natal sem ir à missa! Sem ir à igreja! Quantas e quantas famílias não foram! E onde está o preceito? Onde está a encarnação da nossa vivência de fé? Será que nossos filhos irão no futuro? Não irão! Se nós não ensinarmos, se nós não dermos o exemplo! Mesmo sabendo que não somos perfeitos, que somos pecadores... mas darmos o exemplo de oração, de devoção, de prática na comunidade que nos congrega, de respeitar e amar a Deus sobre todas as coisas.
A palavra de Deus, hoje, nos fala para honrarmos os nossos pais, honrarmos a nossa família, honrarmos os nossos filhos! Diz a palavra de Deus no Eclesiástico-cap.3, que Deus honra o pai e os filhos e confirma sobre eles autoridade, quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados. Quantas vezes não honramos os nossos pais? Reclamamos, esbravejamos, gritamos... Quantos filhos agridem os seus pais, física e verbalmente também!
Devemos dar valor a nossa família! Desfrutar do tempo que temos para vivenciar os valores familiares! Valorize a tua família enquanto você tem, valorize o teu pai e a tua mãe enquanto você tem, valorize os teus filhos enquanto eles estão com você, não deixe o tempo passar... Coloque Deus em primeiro lugar e depois a tua família! Não dê mais valor para os de fora do que para os de dentro.
Diz a palavra de Deus para vivermos o perdão, o perdão que é fundamental na vida familiar, se não perdoamos não conseguimos conviver, e por isso, diz São Paulo, ao escrever a comunidade Colossenses: “por isso revesti-vos de sincera misericórdia”. Sabendo perdoar a todos, sobretudo os nossos familiares, revesti-vos de bondade, de humildade, de mansidão, paciência. Paciência que, muitas vezes, falta dentro dos nossos lares e começam as gritarias, as discussões e todas as realidades que enfrentamos dentro de nossas casas. No evangelho de hoje, nos chama atenção que Maria e José ao perderem Jesus, e reencontra-lo depois de três dias tiveram a experiência de morte e ressurreição.
Se você sente que está perdendo a tua família, ressuscite com Jesus neste Natal. Faça a experiência da ressurreição ao reencontrar, perdoar, dialogar, conviver, respeitar o teu pai e a tua mãe, respeitar o teu matrimônio, os teus filhos, dizer as palavrinhas mágicas – Eu te amo – quantas vezes vem a nossa boca para dizermos, mas temos vergonha, ou estamos magoados, chagados pelas dificuldades familiares e as palavras não saem de nossos lábios. Por isso dirá São Paulo “que o amor é o vínculo da perfeição”, quem ama alcança a perfeição e Jesus nos ensina o amor incondicional, amar sem medida, e se necessário for, morrermos por aqueles que amamos.
Que a palavra de Cristo, com toda sua riqueza habite em nós, que a palavra de Deus ocupe espaço em nosso coração para vivenciarmos os valores do evangelho. Tudo o que fizermos em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor, mesmo com a sua família imperfeita, ame-a, por Jesus Cristo Nosso Senhor. Leve o perdão para dentro de sua casa em nome de Jesus Cristo! Viva o amor, por mais que seus familiares não mereçam, em nome de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Eu concluo com uma música do Padre Zezinho (Utopia) que faz uma reflexão muito bela sobre os valores familiares que talvez estejamos perdendo que é viver uma família na santidade de Jesus Cristo Nosso Senhor.
“Faltava tudo/ Mas a gente nem ligava/ O importante não faltava/ Seu sorriso, seu olhar... E há tantos filhos/ Que bem mais do que um palácio/ Gostariam de um abraço/ E do carinho entre seus pais...".
Homilia: Pe. Tiago Silva – 27/12/2015 – Missa das 10h (Domingo).

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
25/12/2015
Queridos irmãos e irmãs, nos encontramos nesse dia santo do Natal para celebrarmos o nascimento de Deus que se encarna na história da humanidade. Celebrando esta eucaristia colocamos Jesus no centro deste dia, no centro das comemorações, dos nossos familiares, nos lugares que frequentamos ontem ou que iremos no dia de hoje.
Celebrar o Natal de Jesus Cristo é celebrar a festa deste Deus que se encarna em nossa história para nos salvar, para cumprir com a promessa dos profetas, para cumprir com a palavra de Deus, que jamais nos abandonaria em qualquer circunstância. Deus envia seu filho ao mundo para nossa salvação! Ele que é o príncipe da Paz, Ele que promove a paz nos corações, e celebrando o Natal do Senhor, somos convidados, eu e você, a também sermos promotores da Paz.
Diz o profeta Isaías no capitulo 52: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: “Reina teu Deus!”
Ao celebrarmos o Natal do menino Deus somos convidados a sermos estes promotores da paz e da salvação que vem de Deus. Não do prestígio, não do dinheiro, não do materialismo, não das guerras... Mas da paz e do amor! Pregar a salvação que vem de Deus! Portanto, em qualquer lugar que estejamos, seja no trabalho, em casa, na escola, nas confraternizações, não deixemos que Jesus perca o centro deste dia.
E como fazemos isso?
Colocando o verdadeiro significado desta festa!
Muitos se esquecem do por que as famílias se encontram, se confraternizam no dia de hoje... E é necessário colocar Jesus sempre no centro dessa festa natalícia, pregando a paz e a salvação. Procurando de modo adequado colocar a palavra de Deus, de tal modo, que ela gere a paz, a harmonia e o amor. E diante de toda possibilidade que se apresenta para nós, dizermos, que é o nosso Salvador! E fora de Jesus Cristo, não há salvação. Esta deve ser a nossa postura ao celebrarmos o Natal do Senhor porque é por meio da pregação que o salmo de hoje se torna realidade, “Os confins do universo contemplarão a salvação do nosso Deus” - foi pela pregação de homens e mulheres, como eu e você, que a palavra de Deus chegou aos confins da terra. E hoje, com tantos meios de comunicação, com tanta facilidade de locomoção, muitos não pregam a palavra de Deus!
Sejamos promotores desta paz, deste amor e desta salvação. Recordemos que Deus envia o seu filho unigênito para nos salvar, e como diz João Batista, no evangelho de hoje, nós somos convidados a sermos testemunhas. A palavra que mais aparece no evangelho de hoje é: testemunho. Porque João vem preparar os corações para receber o filho de Deus, e nós também, no cotidiano de nossa vida, devemos dar testemunho daquele que nos congrega, dar testemunho daquele que nos salva, preparar os corações para adorar o verdadeiro e único Deus, Jesus Cristo Nosso Senhor.
Como rezamos no domingo passado, não existem mais ritos vazios, o rito agora é celebrar intensamente a paixão, morte e ressurreição do Senhor. O Natal é o primeiro passo daquele que vai se dar por amor a cada um de nós no alto do calvário.
E a medida que eu prego a palavra de Deus, Cristo vai habitando no meu coração e preenchendo todos os vazios que possam existir em nossa vida, nossa casa e em nossa família.
Diz São Paulo, escrevendo à comunidade de Hebreus, que Aquele que nasceu de uma vez por todas, definitivamente, possa preencher o nosso coração, a nossa casa e nossa família daquilo que mais precisamos.
Que todas as famílias que se encontram, hoje, ao redor do mundo, para festejar, celebrar, cear, se confraternizar, não se esqueçam do verdadeiro protagonista desse verdadeiro dia Santo, que é o Emanuel, o Deus Conosco, que habita em nossa história pela nossa salvação, para nos ensinar que nós seres humanos, temos a capacidade, e tudo aquilo que é necessário para vivermos a plenitude do amor.
Que o Espirito Santo de Deus, a interseção de Nossa Padroeira, Santa Teresinha do menino Jesus, nos ajudem em casa, no trabalho, na escola, com nossos familiares e amigos, a sermos promotores da paz e da salvação que vem do nosso Deus.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 25/12/2015 – Missa às 10h (Sexta-feira - Natal).

Que o Senhor ressuscite em nosso coração o ardente desejo de realizarmos a vontade de Deus
19/12/2015
Irmãos e irmãs estamos no quarto domingo do Advento e já a alguns dias do Natal do Senhor e nesta caminhada que fizemos de quatro semanas, a igreja nos propõe, como último passo, meditarmos sobre a encarnação que houve em nossa história, do filho de Deus, o Emanuel, o “Deus Conosco” e meditarmos sobre nossa atitude de missionários, a exemplo de Maria Santíssima, que vai visitar sua prima Isabel.
Na primeira leitura de Miquéias, vemos Miquéias falando da cidade de Belém, que há de surgir um grande Deus. Belém significa “Casa do Pão”. Jesus é aquele que sendo filho de Deus, se encarna na história da humanidade e depois vai se dar, em amor a nós, em sacrifício cuentro e incruento. Cuento quer dizer com seu sacrifício de sangue, na cruz do calvário e incruento, quando ele se dá na Eucaristia. Portanto, ao comungarmos na Eucaristia, comungamos deste pão que é Jesus Cristo, nosso Senhor.
O Cristo que nasce numa manjedoura em meio os pobres, para os pobres e para os necessitados é um Deus que nos ensina um amor incondicional, um amor sem limites e o amor que não exclui ninguém. Portanto, neste tempo do Natal, é tempo de meditarmos o quanto nosso coração possa estar afastado das pessoas necessitadas. O quanto neste Natal o nosso coração possa estar fechado à ação de Deus. Ele que nos ensina a não sermos excludentes, e por muitas vezes, eu e você, acabamos excluindo pessoas de nossas vidas, seja pela classe social, seja porque usa drogas, seja porque já fez alguma coisa errada na vida, seja porque em algum momento pisou em nosso calcanhar, e ainda que não doa mais, aquela magoa não foi curada ainda.
Tempo de Natal em que as famílias se reúnem, e já presenciei, famílias na mesma casa, sem conversar umas com as outras. Portanto, nosso amor a Jesus, deve nos levar ao amor incondicional, um amor que passa, também, o perdão. É necessário celebrarmos o Natal com o coração purificado. Muitas vezes nos acomodamos com aqueles pecadinhos de estimação. Temos dificuldades com alguém, mas não lutamos para superar. E o fato de não lutar para superar, significa dizer que não estou procurando vivenciar essa palavra de Deus que eu comungo toda vez na santa missa, o corpo e o sangue de nosso senhor Jesus Cristo.
Diz a carta dos Hebreus, segunda leitura de hoje, que Jesus veio para fazer a vontade do Pai e realiza o sacrifício. Não agora segundo a tradução, não mais pela lei, mas para realizar a vontade de Deus e nos salvar. Portanto, ao participarmos desse santo sacrifício, o nosso desejo deve ser, também, salvar todos aqueles que possam estar perdidos, desviados, transviados do caminho do Senhor.
A exemplo de Maria, devemos procurar fazer a vontade do Pai. Ela que diz “Faça-se em mim, Senhor, segundo Sua vontade” – Quem reza o terço? Não basta rezar senão meditar sobre aquilo que reza. Quem reza o Pai-Nosso todo dia? Se você não reza, reze! Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria, o mínimo que um cristão católico deve fazer.
E nesta oração cotidiana, e não semanal, nós dizemos que seja feita, a Vossa vontade, assim na terra, como no céu. Portanto, a vontade de Deus se realiza em nossa história, na medida em que abrimos nosso coração à ação de Deus. Temos conseguido abrir a ação de Deus em nossa vida? Senão, também não podemos nos acomodar. É necessário estarmos abertos como Maria, que ao receber a missão de ser mãe do Salvador, coloca-se em missão. Vai ao encontro de sua prima, Isabel, em uma região montanhosa, uma pessoa de idade avançada que estava grávida, e a região montanhosa significa que Deus, também, age nas regiões mais difíceis e mais afastadas. As montanhas sempre é o lugar onde Deus se manifesta.
Moisés recebeu as travas da lei em uma montanha; Jesus escolheu os doze apóstolos após rezar em uma montanha; O mais velho discurso de Jesus, segundo os teólogos, O Sermão das bem-aventuranças, Jesus faz em uma montanha. Por isso, a montanha é um lugar de encontro com Deus, onde Deus se revela em nossa história. Maria vai ao encontro de Isabel, em uma região montanhosa. Primeiro lugar, diz o Evangélico, que ela vai apressadamente.
Diante das pessoas necessitadas, a gente não espera, a gente vai logo. Quantas vezes larguei tudo que estava fazendo e fui ajudar?
Maria é esse exemplo, que vai ao encontro, de sua prima Isabel, apressadamente, em uma região montanhosa, que celebramos essa Eucarística, neste quarto domingo do advento.
Que o Senhor ressuscite em nosso coração o ardente desejo de realizarmos a vontade de Deus, onde quer que ela esteja, em qualquer circunstância, que possamos ir apressadamente ajudar os mais necessitados, para que Deus realize sua vontade em nós e por meio de nós. E que ao partilharmos o pão eucarístico, possamos compreender que partilharmos aquele que nasce em Belém, com sua vida, com suas palavras, com seus projetos. Não, simplesmente, um ritmo, seco, vazio, mas o próprio Deus que se encarna em nossa história e se dá em detrimento pela nossa salvação. Que o espirito Santo de Deus, pela interseção da Virgem Maria e Santa Isabel, nos ajude a vivenciar o projeto do Salvador.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 19/12/2015 – Missa das 16h (Sábado).

É necessário glorificar ao Senhor e consagrar a nossa vida a Ele!
17/12/2015
Encontramo-nos, hoje, para celebrarmos nesta Eucaristia a terceira semana do Advento. O evangelho de Mateus inicia, no primeiro versículo, procurando encarnar a palavra de Deus e a ação de Deus na história da humanidade.
Deus se encarna na historia a partir de uma linhagem de seu pai adotivo José, que inicia com Abraão, vai até Davi e depois José... são 36 gerações!
Jesus se encarna num tempo histórico, com realidades históricas concretas de que Deus vem ao nosso encontro como ser humano para nos mostrar a essência do amor humano e divino - divino e humano, e assim também, devemos nos encarnar na história em que vivemos sem esquecermo-nos dos nossos antepassados, da nossa tradição, mas compreendendo os desafios que nos circundam ou que nos interpelam nos dias de hoje.
Tem quem viva no século XXI querendo viver como se estivesse no século X, tem gente vivendo no século XXI achando que está no século XXXIII e não está certo! Haverá conflito de geração, conflito de compreensões... Conflito de compreensão, até mesmo da fé que nos reúne, daquilo que a igreja nos fala, e hoje, a igreja sofre uma grande dificuldade interna com algumas pessoas que estudam, mas estudam até certo período da história onde a teologia ainda não havia evoluído como evoluiu até hoje, e o mesmo vai acontecer daqui a 20 séculos se quiserem falar da teologia do século XXI, mas Deus vai agindo na história e nós amadurecemos nossa compreensão de fé junto com a igreja. Por outro lado, tem alguns, que querem avançar demais com as compreensões da fé causando divisão dentro da igreja, e é justamente por isso que precisamos compreender a realidade que nos circundam, até mesmo dentro de casa. Utilizando um exemplo mais fácil... Os pais com os filhos! Fomos educados de um modo, a escola era de outro, não tínhamos internet e outras modernidades.
A geração de hoje cresce numa sociedade diferente, num modo diferente, portanto, a essência do evangelho ao ser pregado é a mesma, mas o modo de pregar deve ser diferente, de acordo com o tempo e com a história, de acordo com as realidades que nos interpelam a cada um de nós, sejam com os filhos pequenos, adolescentes, adultos, problemas familiares, no trabalho, escola, faculdade, lugares que frequentamos...
Os dons que DEUS nos dá para pregarmos a palavra de Deus... tem quem saiba pintar muito bem, mas não sabe tocar violão, tem gente que tem um dom maravilhoso com criança, mas colocou um adulto ou idoso na frente.... complicou! Tem que ter dom! Tem que ter carisma! Nossos irmãos da Casa de Assis de São José dos Campos, aqui presentes, que cuidam dos moradores de rua... Têm que se encarnar na história desses homens e mulheres para poderem ser um evangelho encarnado na vida dessas pessoas! E assim também nós, dentro de casa, precisamos compreender as dificuldades que temos para a partir dessas dificuldades pregarmos o evangelho da salvação, e na medida em que eu deixo Jesus renascer neste Natal em meu coração, Jesus vai crescendo, vai moldando meu coração de acordo com as realidades que são necessárias para que preguemos e pratiquemos o evangelho da salvação.
Neste peregrinar de nossa história somos convidados, juntos com Jacó, a glorificarmos a Deus por tudo o que temos e somos, e ainda, aquilo que alcançaremos. Embora o futuro seja uma incógnita, Jacó diz que Deus não abandona os seus filhos, e nós como cristãos, também devemos proclamar que Deus, nunca, jamais, nos abandona! Ele se silencia, mas nunca nos abandona! Como vimos, em 36 gerações, Deus foi conduzindo o seu povo com o cetro de ferro, com sua mão de misericórdia, de vez em quando puxando firme o povo, porque estavam se perdendo no caminho da salvação e é neste povo que Deus envia o Seu filho para nos salvar, e é da nossa geração, e das futuras gerações que nascerão a partir de nós, que Deus continuará agindo na história.
Você tem glorificado a Deus pela sua família? Pelo seu matrimonio? Por seus pais, filhos, irmãos? Pela sua comunidade de fé?
É necessário glorificar ao Senhor e consagrar a nossa vida a Ele para que Ele conduza nossa estrada e assim poderemos cantar como cantamos no Salmo 71 “nos seus dias a justiça florirá e paz e abundância para sempre”. A esperança é uma condição fundamental para aqueles que professam a fé em Jesus Cristo Nosso Senhor. Quando perdemos a esperança, perdemos tudo, inclusive a nossa fé, uma fé que nasce da esperança de que o amanhã será diferente e que a justiça de Deus há de florescer. Que a esperança retome espaço em nossos corações e glorificando a Deus por tudo que temos e somos, saibamos encarnar o evangelho que professamos no cotidiano da nossa história.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 17/12/2015 – Missa das 19h30(Quinta-feira).

"Alegrai-vos no Senhor. Eu repito, alegrai-vos no Senhor"
13/12/2015
"Exultai cantando alegres, habitantes de Sião / porque é grande, em vosso meio, o Deus Santo de Israel!".
A liturgia de hoje, irmãos e irmãs, é essa alegria que deve invadir o nosso coração, pela proximidade do Natal do Senhor e pelas muitas alegrias que nós temos em nossa comunidade. Temos muitas alegrias! Nossa comunidade se envolve, nossa comunidade se une, nossa comunidade enfrenta os desafios que lhe são apresentados. É o mesmo que acontece na primeira leitura do profeta Sofonias.
Sofonias é chamado um dos profetas menores, que caminha com o povo em direção a Jerusalém, depois do Exílio na Babilônia. Falamos domingo passado que este povo encontra uma Jerusalém com seu templo destruído!
Muitos Jovens, muitas famílias, perderam a noção de fé, e agora Sofonias encoraja este povo pela alegria do Senhor, porque como havíamos dito na semana passada: “Deus tarda, mas não falha!”. Deus prometeu a liberdade e o povo de Israel alcança essa liberdade, por isso, deve alegrar-se ao Senhor, deve exultar-se no Senhor porque agora é livre.
É a mesma coisa que Paulo vai escrever à comunidade Filipense na segunda leitura de hoje. A comunidade Filipense é uma comunidade fundada diante de um regime pagão e sofre as consequências desse regime, sofre as consequências até mesmo dos Judeus que não acreditavam em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Mas Paulo diz a eles: “Alegrai-vos no Senhor”, e no mesmo versículo ele disse: “Eu repito, alegrai-vos no Senhor”.
A igreja nos convida a acreditar, mesmo diante das dificuldades da nossa vida; da nossa história; da nossa família; da nossa sociedade Brasileira; devemos nos alegrar porque somos livres para fazer as nossas escolhas, e ainda que o templo espiritual esteja destruído e talvez a fé esteja abalada, nós podemos reconstruir!
Hoje faz um ano que eu assumi a Paróquia de Santa Teresinha e quantas alegrias já tivemos! Quantas pessoas retornando a comunidade de fé, quantas famílias participando da eucaristia, quantos pais e mães trazendo seus filhos à comunidade... Situações que nós não víamos antes! Portanto, por mais que tenhamos dificuldades existem sinais da esperança de Deus e é nesta esperança, que eu e você, devemos nos alegrar. E ao celebrar o Natal de Jesus Cristo, esta esperança deve renascer constantemente, dia após dia, em nossos corações.
Esta esperança deve se transformar em uma atitude de conversão, porque se não nos convertemos a alegria será temporária, a alegria será passageira.
Sempre digo em nossa comunidade... A conversão não é algo mágico, não é do dia para a noite, a conversão leva tempo e requer paciência para trilharmos os caminhos corretos do Senhor. A conversão é uma condição fundamental do profeta Sofonias na primeira leitura. João Batista, no evangelho de Lucas que ouvimos hoje, nos fala para convertermos o nosso coração em Deus.
E o seu coração, ainda precisa se converter? Você já pensou sobre isso? Você já meditou quais são os aspectos da sua vida que deve se converter?
Se você não pensou, ou não deve estar dando importância para sua fé, ou você já se acha pronto e acabado! E essas duas noções estão erradas, porque a nossa vida é um constante peregrinar em busca dessa santidade. Não existe perfeição, existe a busca desta perfeição, que eu e você, amparados pela palavra de Deus, amparados pela força da eucaristia, trilhamos, dia após dia. Nessa busca de conversão, necessitamos de verdadeiras testemunhas, mais do que homens e mulheres que falem, precisamos de homens e mulheres que testemunhem. E o evangelho de hoje é claro ao dizer isso...
A multidão vai ao encontro de João Batista em Jerusalém e ali tinham Sacerdotes, Escribas, Fariseus, ou seja, muitos sabiam de religião, muitos sabiam dos projetos de Deus, mas não tinha alguém que vivesse verdadeiramente este projeto, e essa multidão ao invés de ir atrás daquelas pessoas que falavam, mas não praticavam, vão atrás de João Batista, na cidade de Jerusalém, porque João testemunha aquilo que prega.
E você, tem testemunhado aquilo que você prega? Você tem testemunhado aquilo que você reza? Você tem testemunhado aquilo que ensina às crianças? Essas crianças que esperam em nós verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, nosso Senhor!
Aquela multidão sedenta de uma palavra verdadeira, pergunta a João Batista: “O que devemos fazer?” e ele responde: “Se você tem duas túnicas, dê uma a quem não tem, se você vê alguém passando necessidade, partilhe o alimento!” Depois nós vemos suplicantes, aqueles que cobravam os impostos e também perguntam a João Batista: “O que devemos fazer?” e ele diz para não roubarem! Não se deve enriquecer de modo ilícito, não se deve roubar nem nas pequenas e nem nas grandes coisas. E ainda há um terceiro grupo, que são os soldados, eles vão ao encontro de João Batista e perguntam: “O que devemos fazer?” e João Batista orienta: “Sejam promotores da paz!”.
Aqui, nos faz lembrar de todos os policiais, delegados, soldados, exército, marinha, aeronáutica, investigadores, todos aqueles que deveriam nos defender, e alguns deles, infelizmente, enriquecem de modo ilícito. Alguns acabam fazendo de sua profissão um meio para subir na vida! Mas não podemos generalizar, existem também muitas pessoas que vivem os projetos de Deus em sua profissão. Seja qual for a profissão, todos nós devemos promover a paz, dentro e fora de casa!
Portanto nessa eucaristia, irmãos e irmãs, peçamos a Deus que celebrando a alegria da nossa liberdade de celebrarmos o Natal do Senhor, possamos buscar a conversão sincera do nosso coração, partilhar com os pobres e com os necessitados, não enriquecermos de forma ilícita e sermos promotores da Paz, em casa, no trabalho e em nossa igreja!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 13/12/2015 – Missa às 18h30 (3° Domingo do Advento).

Celebrando a Esperança
10/12/2015
Celebrando a missa pela família na segunda semana do Advento, celebramos também a esperança que deverá sempre renascer, todos os dias, em nosso coração. Se não celebrarmos a esperança em nossa família, desanimaremos diante das situações difíceis, e todos nós, de um modo ou de outro, passamos ao longo de nossa vida familiar. Portanto, celebrar esperança é uma condição fundamental para vivermos os projetos de Deus. Essa esperança que com certeza motivou Joao Batista a preparar os corações para a chegada do Messias e nós, sobretudo, pais e mães devemos preparar nossa família para a chegada do menino Jesus. Se queremos estar no Reino dos Céus é necessário sermos profeta como João Batista, e profeta denuncia a injustiça, profeta fala a verdade. Você, em sua casa, tem denunciado as injustiças?
Muitas pessoas vivendo sob o mesmo teto, não conversam. João Batista não apenas rezou, mas profetizou! Você fala em sua casa? Quem não fala não é compreendido.
Nós somos convidados a sermos profetas dentro de casa, aqueles que preparam os corações. Deus está sempre ao nosso lado, como esteve ao lado de João Batista. Deus nos toma pela mão, diz a Palavra. “Eu sou o Senhor teu Deus que te tomo pela mão e te digo: Não temas, eu te ajudarei. Não tenhas medo Jacó, não tenhas medo homens de Israel eu vos ajudarei.”
Você que está aflito na tua casa, com seu matrimônio, com seus filhos, com seu pai... essa palavra de Deus é pra você! Deus te toma pela mão e te ajuda a superar a tua dificuldade, mas é necessário que você estenda as tuas mãos pra Deus. Você tem estendido as mãos pra Deus? Você tem deixado Deus conduzir os seus pensamentos, as suas decisões, as suas palavras? Porque se você não tem, é necessário deixar-se guiar por Deus e pelo seu Espirito Santo. O Espirito sopra onde quer, mas é necessário abrirmos nosso coração, pois o Espirito Santo não consegue agir em um coração fechado. Somos e sempre seremos como uma criança que necessita de uma mão de um adulto para atravessar a rua e constantemente estamos atravessando diversas avenidas de nossa história. É necessário que Deus nos dê a mão para que não nos percamos no trânsito da vida.
Toda vez que Israel se afastou de Deus, faltou água e pão. Toda vez que uma família se afasta de Deus falta água e pão. Não simplesmente o pão material, mas o pão do amor, o pão do diálogo.
Família que tem Deus no centro com certeza enfrentará dificuldade, mas vão superar com facilidade. Deus está no centro do seu coração? Do seu matrimônio? Da educação dos seus filhos? Dos seus projetos? Se não está é porque você está como o povo de Israel, se afastando do Senhor e algum dia faltará pão e água, mas Deus é tão misericordioso que o Salmo de hoje nos diz: “Misericórdia e piedade ao senhor, ele é amor é paciência, é compaixão” e nós devemos ser a sua imagem e semelhança.
Portanto, em casa será que eu sou misericordioso? Será que sei perdoar? Família que não se perdoa não consegue viver junto é preciso, assim como Jesus, amar cada ser humano na sua plenitude. Nós muitas vezes amamos só um pedacinho, muitas vezes amamos as pessoas mais por aquilo que ela representa pra nós, do que aquilo que ela é efetivamente, por isso é necessário um olhar de Jesus, um olhar de misericórdia, um olhar de compaixão, um olhar de acolhida que muitas vezes falta dentro dos nossos lares.
Que possamos aprender a ser profetas em nossos lares e sendo abraçados por Deus, nos deixando conduzir por sua mão de amor, que ele nos conduza pela estrada salutar de sua providência.”
Homilia: Pe. Tiago Silva – 10/12/2015 – Missa da Família às 19h30 (Quinta-feira).

Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!
06/12/2015
Nesse segundo domingo do Advento, que aqui nos encontramos, e continuamos a nossa caminhada, glorifiquemos ao Senhor, em busca de prepararmos o nosso coração para vivermos os projetos do Senhor, prepararmos o nosso coração para celebrarmos intensamente o Natal de Jesus Cristo, o Emanuel, o “Deus conosco”. Muitas vezes colocamos tantas coisas como prioridade, e não colocamos o próprio menino Jesus que é o centro da nossa festa de Natal. A pergunta que devemos nos fazer é: Estamos preparando o nosso coração, a nossa casa, a nossa familia?
Não deixe que o Natal passe despercebido, coloque símbolos cristãos em sua casa, ensine seus filhos e a sua familia, que o centro do Natal não é o Papai Noel... O centro do Natal é Jesus Cristo!
A três semanas do natal de Jesus Cristo, qual a sua referência? Qual a sua referência quando está cansado, abatido, desaminado e sem esperança?
Deus Age na sua justiça, no seu tempo! Como dizia o profeta Jeremias: “Não deixemos o povo perder a sua esperança” porque um cristão sem esperança não é cristão. Na primeira leitura de hoje, o profeta Baruc, é uma espécie de secretário, uma espécie de discípulo do profeta Jeremias, que vai dizer, em outras palavras, que Deus tarda, mas não falha. Que Deus é a nossa salvação! Ele é a justiça e a Sua justiça não falha!
A ação de Deus acontece em nossa vida, não no momento em que achamos certo, mas no momento em que Deus vai se utilizando de pessoas e situações para nos colocar no caminho correto. É necessário reconstruirmos a nossa fé. É necessário nos reaproximarmos de Deus. Diante das situações dificeis da nossa vida, devemos manter o fervor da fé que professamos.
Sejamos como o profeta Isaías, que Lucas recorda no evangelho de hoje: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas”.
Talvez, em sua casa, você seja o único que reze, que frequente a Igreja e, por isso, deve ser como João Batista, pregando a palavra de Deus... Ainda que se veja sozinho, como Isaías que gritou pelo deserto, não podes desanimar!
Sejamos como João Batista: firmes, fervorosos e atenciosos! E sejamos, sobretudo, cuidadosos com aquele que não tem a mesma maturidade de fé que nós acreditamos. O evangelista Lucas faz questão de situar o tempo da história e diz:“No império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia...”.
Lucas faz questão de encarnar o evangelho de Jesus Cristo no tempo da história para nos recordar que independente das situações difíceis, independente dos governantes, que tenhamos a nossa fé e não nos baseemos neles.
Nesse momento em que o Brasil passa por um possível impeachment de nossa presidente, é momento de rezarmos para que a justiça seja feita, e não para que a satisfação do ego de algumas pessoas seja realizada.
Por isso, peçamos a Deus, neste segundo domingo do Advento, que possamos preparar nosso coração para o Natal do Senhor. Que possamos, a exemplo do profeta Baruc, proclamar uma esperança de que podemos reconstruir a nossa caminhada de fé. Que como João Batista, tenhamos condições de proclamar este batismo para a conversão dos nossos corações e junto com a comunidade Filipense, sermos capazes de compreender que a igreja é maior do que aquilo que acreditamos. E, que o Espirito Santo de Deus, esteja sempre em nossa frente, nos guiando e nos orientando!
Homilia: Pe. Tiago Silva – 06/12/2015 – Missa das 18h30 (2° Domingo do Advento).

Bendito é aquele que vem em nome do Senhor!
03/12/2015
A palavra de Deus mais que professada, deve ser praticada. E o evangelho de hoje, nos diz: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus”.
Muitos rezam, mas quantos praticam a palavra de Deus?
Sempre é tempo de conversão. E, o tempo do Advento é tempo de prepararmos nosso coração para deixarmos que o menino Deus faça morada. Este Deus, que nos diz no evangelho de hoje, que devemos construir a nossa casa sobre a rocha firme. Se não construirmos a nossa fé em rocha firme qualquer vento que der, ela poderá cair... Desmoronar!
A nossa casa, a nossa família, também devem ser construídas sobre rochas firmes porque por mais que fechemos a janela, os ventos sopram... E tem dias que eles sopram muito forte, nas mais variadas situações possíveis!
Por isso é necessário, mais do que dizer “eu te amo”, praticar aquilo que se diz!
Que nesta liturgia, Deus nos dê a graça de entrar na cidade fortificada, que o profeta Isaías nos fala na primeira leitura de hoje. Ela tem um grande muro, é cercada ainda, por antemuro, porque aqueles que o senhor permite entrar, ali estarão seguros de todas as dificuldades que a vida pode apresentar.
Que a oração, a palavra de Deus e a Santa Eucaristia sejam este refúgio para cada um de nós que trilhamos o caminho da felicidade, do amor e da salvação.
Homilia: Pe. Tiago Silva – 03/12/2015 – Missa das 19h30 (Quinta-feira).
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